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Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” Questões 1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? Explique. Na definição de Kelsen1, o direito pode ser definido como “um sistema de normas coativas permeado por uma lógica interna de validade que legitima, a partir de uma norma fundamental, todas as outras normas que lhe integram”. Parafraseando Reale2, Direito pode ser entendido perante aos olhos do homem comum como a lei e ordem, ou seja, como um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Dito isso, entendo que o Direito possui um sentido amplo, sendo uma missão complexa definir em poucas palavras o que é. Entendo que direito é o conjunto de normas criadas por um Estado com o objetivo de regular as mais diversas condutas sociais, dividido em vários ramos, como o direito civil, penal, tributário, ambiental, consumidor, entre outros. Com essas normas, espera-se que as condutas “desejadas” sejam reguladas, e em caso de descrumprimento dessas diretrizes, o direito por meio das normas, estabelece uma sanção, que poderá ser pecuniária, restritiva de direitos e até mesmo da liberdade, como no caso da prisão (ultima ratio). Cumpre mencionar que a sociedade também pode criar normas, não sendo para mim uma função exclusiva do Estado. Um exemplo disso são os costumes, que também são utilizados como fonte do direito. Ademais, percebo que o Direito está diretamente ligado à justiça, sendo utilizado como instrumento para regular o bem estar de uma sociedade. Isso porque em caso de uma lide, o direito é aplicado para a resolução do conflito, sendo utilizado pelo Magistrado uma ponderação entre as normas e princípios do direito para então “dizer o direito”, ou seja, estabelecer uma resolução para o mérito da causa com base nas normas estabelecidas pelo Estado. 2 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 22ª ed. São Paulo. Saraiva. 1995. 1 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito, p. 57 Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” Em relação à diferença entre o direito positivo e a Ciência do Direito, nos ensina Carvalho3 que: [...] o direito positivo é o complexo de normas jurídicas válidas num dado país, sendo vertido numa linguagem, que é seu modo de expressão. À Ciência do Direito cabe descrever esse enredo normativo, ordenando-o, declarando sua hierarquia, exibindo as formas lógicas que governam o entrelaçamento das várias unidades do sistema e oferecendo seus conteúdos de significação. Referente à Ciência do Direito, para Nader4, ao cientista do Direito, cabe aceitar o ordenamento jurídico (direito positivo) como um "dado". Daí então elabora, com vistas à sistematização da aplicação das normas, sua interpretação e aplicabilidade, contudo, não lhe compete alterar seu conteúdo, resultando em uma admissão de indiscutível imperatividade. Daí a denominação de Dogmática Jurídica atribuída à Ciência do Direito. Em contrapartida, para Carvalho5 a Ciência do Direito é uma sobrelinguagem ou linguagem de sobrenível. Está acima da linguagem do direito positivo, pois discorre sobre ela, transmitindo notícias de sua compostura como sistema empírico. Para mim, o direito positivo se apresenta como uma uma linguagem prescritiva, voltado para disciplinar o comportamento humano nas mais diversas relações, tendo em vista que prescreve comportamentos e a solução para eles (proposições normativas), enquanto a Ciência do Direito é um discurso descritivo, pois atua na interpretação das normas jurídicas, tendo em vista que ao cientista do direito cabe a função de observar, investigar, interpretar e descrever sua aplicação em face das condutas intersubjetivas da sociedade. 2. Que é tributo (vide anexo I)? Com base na sua definição de tributo, quais dessas hipóteses são consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas 5 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 7. 4 NADER, Paulo - Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro, Editora Forense, 24a. edição, 2004. 3 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 6. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda (anexo II); (ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/17) (anexo III); (iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); (iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo. Para Amaro6, "O tributo, portanto, resulta de uma exigência do Estado, que, nos primórdios da história fiscal, decorria da vontade do soberano, então identificada com a lei, e hoje se funda na lei, como expressão da vontade coletiva" Nessa medida, "o tributo é uma prestação que deve ser exigida nos termos previamente definidos pela lei, contribuindo dessa forma os indivíduos para o custeio das despesas coletivas". Da leitura do anexo I do presente seminário, é possível definir o conceito de tributo conforme o entendimento do STF, como a constituição de uma obrigação que a lei impõe às pessoas, de entrega de uma certa importância em dinheiro ao Estado. A Suprema Corte se preocupou em definir tributo como gênero, elencando de forma esquematizada as suas respectivas espécies, quais sejam: As diversas espécies tributárias, determinadas pela hipótese de incidência ou pelo fato gerador da respectiva obrigação (CTN, art. 4º), são a) os impostos (CF, art. 145, I, arts. 153, 154, 155 e 156); b) as taxas (CF, art. 145, II); c) as contribuições, que são: c.l) de melhoria (CF, art. 145, III); c.2) sociais (CF, art. 149), que, por sua vez, podem ser: c.2.1) de seguridade social (CF, art. 195, CF, 195, § 4º); e c.2.2) salário educação (CF, art. 212, § 5º); c.3) especiais: 6 AMARO, Luciano Direito tributário brasileiro, 14 ed. p. 16 e 17. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” c.3.1.) de intervenção no domínio econômico (CF, art. 149); e c.3.2) de interesse de categorias profissionais ou econômicas (CF, art. 149). Constituem, ainda, espécie tributária; d) os empréstimos compulsórios (CF, art. 148). Seguindo nesse raciocínio, cumpre mencionar que o conceito de tributo está definido no art. 3º do CTN, qual seja: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Sendo assim, quanto ao conceito de “tributo”, é possível subdividir a redação do art. 3º do CTN em 5 partes. São elas: 1. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória. Para Carvalho7, prestação pecuniária compulsória pode ser entendida como uma espécie de comportamento obrigatório de uma prestação pelo sujeito passivo, em dinheiro, afastando-se, de plano, qualquer cogitação inerente às prestações voluntárias (que receberiam o influxo de outro modal — o “permitido”). Isso porque tal prestação independe da vontade do indivíduo que figura na relação jurídica-tributária, tendo em vista que deverá assim efetivá-la, mesmo que contra a sua vontade. Tal afirmação pode ser claramente entendida tendo em vista os meios coercitivos que dispõe o Fisco para a cobrança tributária. Nesse sentido, conforme Sabbag8, não há que se falar em opção pelo pagamento do tributo, restando somente a ela se submeter, por parte do sujeito passivo, tendo em vista a natureza compulsória por ele instituída. Cumpre mencionar também que o legislador ao definir tributo como prestação pecuniária, preocupou-se em restringir a prestação como "pecúnia", que é representada como moeda corrente nacional. Sendo assim, não há quese falar em 8 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 336. 7 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 28. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” outras formas de recolhimento de tributo, como o in natura (bens móveis)9 ou in labore (trabalhos/serviços). 2. em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir; Como mencionado no item anterior, o recolhimento do tributo deverá ser feito em moeda, que é representada pela moeda corrente nacional. Importante mencionar que a Lei Complementar nº 104/2001 inseriu o inciso XI no art. 156 do CTN, inovando o ordenamento jurídico e permitindo a extinção do crédito tributário pela a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Nesse caso, o sujeito passivo pode extinguir um crédito tributário oferecendo bens imóveis ao fisco. Importante mencionar que a referida hipótese não vai de encontro ao art. 3º do CTN, tendo em vista que este afirma que a quitação do tributo pode ser feita por algo que possa ser expresso em moeda. 3. que não constitua sanção de ato ilícito; Depreende-se da leitura do art. 3º do CTN que tributo não pode ser utilizado pelo Estado como mecanismo para sanção de ato ilícito. Um tributo não é uma penalidade e não poderá ser exigido em razão de algum ilícito cometido pelo contribuinte. Diante disso, como deve ser tratada a aplicação de multa no direito tributário? Para esclarecer esse questionamento, é importante mencionar que a multa no direito tributário não pode existir isoladamente, isso porque são inconfundíveis os institutos do tributo e da multa. De acordo com o art. 113, § 3º do CTN, a obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária. Isso posto, entendo que multas são penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas. Para que 9 Vide art. 156, XI do CTN que permite a extinção do crédito tributário por meio da dação em pagamento em bem imóveis. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” exista a multa, é imprescindível que haja primeiramente a relação jurídico tributária. Em caso de descumprimento da obrigação principal, ou dos deveres instrumentais, o sujeito ativo se utiliza da aplicação da multa como mecanismo punitivo, devendo ser respeitado o princípio da legalidade, conforme previsto no art. 97 do CTN. 4. instituída em lei; e De acordo com o art. 5º, II da CF/88, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Esse mandamento constitucional pode ser traduzido como o princípio da legalidade. No mesmo sentido, o art. 9º. I do CTN disciplina ser vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir ou majorar tributos sem que a lei o estabeleça. Como se não bastasse, o art. 97, I e II do CTN estabelece que somente a lei pode instituir, extinguir ou majorar tributos. Nos ensina Sabbag10 que tributo é uma prestação instituída por meio de lei, sendo, portanto, obrigação ex lege. Seu nascimento se dá pela simples realização do fato descrito na hipótese de incidência prevista em lei, sendo a vontade das partes de todo irrelevante (ver art. 123 do CTN). Dito isso, para que seja legal a instituição, extinção ou majoração de tributos, deverá ser respeitado o princípio da legalidade, corroborando assim o trecho do art. 3º do CTN que determina que tributo deverá ser instituído em lei. 5. cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Quando se fala em atividade administrativa plenamente vinculada, quer dizer que o sujeito ativo não dispõe de autonomia para decidir se cobrará ou não o tributo e, sem autorização em lei (em sentido estrito), não pode dispensar o seu pagamento, conforme previsto no art. 142 do CTN. É o que ensina Sabbag11: O lançamento é ato vinculado, logo, não discricionário. De fato, o lançamento é balizado ou regrado na lei, vedando-se ao administrador tributário, na ação estatal de exigir tributos, a utilização de critérios de oportunidade ou conveniência (discricionariedade). O 11 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 338. 10 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 337. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” tributo deve ser carreado aos cofres públicos, uma vez que a estes se mantém afetado, sob pena de responsabilização do agente público, caso tome caminho dessemelhante (ver art. 142, parágrafo único, CTN). Quando se fala em atividade vinculada da Administração, quer dizer que não estamos diante de uma situação de discricionariedade, isto é, situação em que a Administração possui autonomia para decidir. Quando isso ocorre, é possível dizer que não estamos tratando de um tributo. Sendo assim, é possível afirmar que o tributo só pode ser cobrado por intermédio de procedimento específico, qual seja, o procedimento administrativo plenamente vinculado pela autoridade competente. Diante do que foi explanado até aqui, cabe determinar quais dessas hipóteses são consideradas tributos de forma fundamentada. Sendo assim, vamos prosseguir. I - valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda (anexo II); Da leitura do anexo II do presente seminário, entendo que a cobrança pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda se amolda perfeitamente ao conceito de tributo, na espécie taxa. É sabido que a taxa é uma espécie tributária cuja cobrança é vinculada a uma atuação estatal. Prevista no art. 145, II, da CF/88, o tributo em estudo caracteriza-se por sua natureza vinculada e pela referibilidade que a atuação estatal deve guardar com o contribuinte. Necessário observar que o art. 28, §§ 2º. e 3º (revogado) da Lei 11.488/07, impôs ao estabelecimento industrial o dever de ressarcir (entregar dinheiro) a Casa da Moeda do Brasil por possibilitar o funcionamento do SICOBE. Cumpre mencionar que a cobrança do ressarcimento se enquadra no conceito legal de tributo, na espécie taxa, nos termos do art. 3º. do CTN. Contudo, faz-se necessário ressaltar que a maneira com que a taxa foi instituída não merece prosperar, tendo em vista não ter sido observado pelo Sujeito Ativo o princípio da legalidade, conforme art. 5º, II da CF c/c art. 97, IV do CTN, “somente a lei pode estabelecer a fixação de alíquota e da base de cálculo dos tributos”. Isso porque a cobrança da taxa foi estabelecida pelo Ato Declaratório do Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” Executivo RFB 61/08, ferindo assim o princípio da legalidade e, por conseguinte, tornando a referida cobrança questionada no STJ. II - Contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/17) (anexo III); Em relação à contribuição sindical, primeiramente é importante ressaltar que, conforme demonstrado na parte inicial da presente questão, as contribuições são espécies tributárias, que são: de melhoria (CF, art. 145, III); sociais (CF, art. 149), que, por sua vez, podem ser: de seguridade social (CF, art. 195, CF, 195, § 4º); e salário educação (CF, art. 212, § 5º); especiais: de intervenção no domínio econômico (CF, art. 149); e de interesse de categorias profissionais ou econômicas (CF, art. 149). Dito isso, é possível inferir inicialmente que a contribuição sindical é uma espécie tributária na modalidade contribuição social/de interesse de categoria profissional. Contudo, com o advento da lei nº 13.467/17, art. 578, 579 e 582, é possível verificar que a contribuição sindical de cada trabalhador deverá ser recolhida pelo empregador/fontepagadora somente em caso de autorização prévia e expressa dos empregados em favor dos respectivos sindicatos. Sendo assim, não há que se falar em natureza tributária, tendo em vista a ausência da compulsoriedade, prevista no art. 3º do CTN. Para ratificar essa afirmação, recorremos aos ensinamentos de Sabbag12, ao lecionar que não há que se falar em opção pelo pagamento do tributo, restando somente a ela se submeter, por parte do sujeito passivo, tendo em vista a natureza compulsória por ele instituída. No mesmo sentido, conforme Carvalho13 a prestação pecuniária compulsória pode ser entendida como uma espécie de comportamento obrigatório de uma prestação pelo sujeito passivo, em dinheiro, afastando-se, de plano, qualquer cogitação inerente às prestações voluntárias (que receberiam o influxo de outro modal — o “permitido”). Isso porque tal prestação independe da vontade do 13 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 28. 12 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 336 Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” indivíduo que figura na relação jurídica-tributária, tendo em vista que deverá assim efetivá-la, mesmo que contra a sua vontade. Da leitura do anexo III14 do presente seminário, é possível extrair a ideia de facultatividade da contribuição sindical, não contemplando o critério de compulsionaridade do tributo, reconhecendo a supressão de natureza tributária da referida contribuição: A Lei nº 13.467/2017 emprega critério homogêneo e igualitário ao exigir prévia e expressa anuência de todo e qualquer trabalhador para o desconto da contribuição sindical, ao mesmo tempo em que suprime a natureza tributária da contribuição, seja em relação aos sindicalizados, seja quanto aos demais, motivos pelos quais não há qualquer violação ao princípio da isonomia tributária (art. 150, II, da Constituição), até porque não há que se invocar uma limitação ao poder de tributar para prejudicar o contribuinte, expandindo o alcance do tributo, como suporte à pretensão de que os empregados não-sindicalizados sejam obrigados a pagar a contribuição sindical. Diante de todo o exposto, não há como reconhecer a contribuição sindical como tributo, tendo em vista a ausência do critério “compulsório”, previsto no art. 3º do CTN. III - Tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); Em relação ao tributo instituído por meio de decreto, estamos diante de uma inconstitucionalidade. Isso porque, conforme art. 3º do CTN, uma das características do tributo é a de ser instituído em lei. Um tributo instituído por decreto é inconstitucional desde sua gênese, não merecendo prosperar. Isso porque, conforme o disposto no art. 5º, II da CF/88, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Esse mandamento constitucional pode ser traduzido como o princípio da legalidade. No mesmo sentido, o art. 9º. I do CTN disciplina ser vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir ou majorar tributos sem que a lei o estabeleça. Como se não bastasse, o art. 97, I e II do CTN estabelece que somente a lei pode instituir, extinguir ou majorar tributos. 14 Anexo III, ADI 5794, DJe 23/04/2019, disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=749631162 Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” A definição dada para esse instituto no anexo IV do presente seminário foi a de prestação pecuniária exigida por lei inconstitucional não é tributo, mas um indébito genérico contra a Fazenda Pública. Dito isso, no caso em tela não estamos diante de um tributo, haja vista a ofensa ao princípio da legalidade, conforme art. 5º, II da CF/88 c/c art. 3º e 9º. I e II do CTN. IV - O tributo inserido na base de cálculo de outro tributo. Inicialmente, quando falamos de tributo inserido na base de cálculo de outro tributo, a primeira coisa que associamos é ao instituto da bi-tributação em relação aos impostos residuais. Isso porque, de acordo com o art. 154, I da CF/88, é permitido à União instituir outros impostos concorrentes, mediante lei complementar, desde que sejam não cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios de outros impostos já discriminados constitucionalmente. Em relação aos impostos já existentes, não podemos deixar de comentar sobre a famosa “tese do século”, que analisa a controvérsia sobre a exclusão do ICMS da base de cálculo da contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). No caso da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/COFINS, por exemplo, argumentou-se que o valor do ICMS não é abrangido pelo conceito de faturamento sobre o qual incide o PIS/COFINS. Seis votos foram proferidos nesse sentido, estando RE nº 240.785-MG, sobrestado em função da propositura da ADECON nº 18-5 pela União, batendo-se pela tese oposta, ou seja, constitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo da COFINS. Diante disso, entendo que tributo inserido na base de cálculo de outro tributo não está contemplado na hipótese de “definição de tributo”, objeto desta questão, mas sim, como uma sistemática de cálculo atualmente existente, como no caso do ICMS (por dentro) figurar na grandeza “faturamento”, base de cálculo dos impostos PIS e Cofins. Dito isso, penso estarmos diante de um caso de bi-tributação, devendo ser revista essa sistemática de apuração dos referidos impostos, tendo em vista que a exclusão do valor do tributo da base de cálculo de outro tributo, na hipótese de configuração de fato gerador de ambos ou mais tributos, configura um imperativo de justiça fiscal. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” 3. Que é norma jurídica? E norma jurídica completa? Há que se falar em norma jurídica sem sanção? Justifique. Conforme lições de Carvalho15, “a norma jurídica é a significação que obtemos a partir da leitura dos textos do direito positivo”. Pode ser traduzido como a interpretação e a aplicabilidade dos textos que compõem o direito positivo. Diante disso, entendo que a norma jurídica pode ser considerada como o texto responsável pela regulação de condutas dos indivíduos inseridos em uma sociedade, com o escopo de fixar os enunciados que versem sobre a organização da sociedade e do Estado, com a missão de impor sanções para aqueles que a infringem. Dito isso, as penalidades prescritas tem o condão de regular o bem estar da sociedade em prol da busca do bem maior, qual seja o Direito, e, por conseguinte, a Justiça. Sobre a norma jurídica completa, leciona Carvalho16 que: As duas entidades que, juntas, formam a norma completa, expressam a mensagem deôntica-jurídica na sua integridade constitutiva, significando a orientação da conduta, juntamente com a providência coercitiva que o ordenamento prevê para seu descumprimento. Sendo assim, em relação a norma jurídica completa, podemos definir como regras de efeito dúplice: a primeira, considerada como norma primária, a qual prescreve um comportamento esperado – obrigatório, fazer ou não fazer – uma hipótese de comportamento possível, enquanto a segunda, considerada como norma secundária, prescreve uma providência de caráter sancionatório, que deverá ser aplicada em caso de descumprimento da norma primária, devendo ser pena aplicada pelo Estado, por meio da figura do Juiz, respeitando os princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e devido processo legal. Dito isso, entendo por norma jurídica completa aquela que contempla a junção das duas normas (primária e secundária), ao prescrever uma hipótese (comportamento possível/hipótese) e por conseguinte uma sanção pelo 16 CARVALHO, Paulo de Barros. Para uma teoria da norma jurídica. Disponível em: https://www.ibet.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Paulo-de-Barros-Carvalho-Para-uma-teoria-da-norma.pdf, acessado em 06/03/2023. 15 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 11. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” descumprimento do comportamento previsto na norma primária. Em caso de norma jurídica que prevê um comportamento e, por conseguinte, não disciplina sobre uma sanção pelo seu descumprimento, não há que se falar em norma jurídica sem as normas sancionatórias. Sendo assim, concluo que não é possível a existência de uma norma jurídica sem a devida sanção, sendo considerada como mera proposição imperfeita. Para ratificar tal conclusão, recorreremos aos ensinamentos de Kelsen17: a norma jurídica perfeita há de ter, necessariamente, a coação, nela representada pela sanção como seu elemento fundamental, essencial. Entendem eles que os preceitos que não fixem uma sanção para a hipótese de violação da norma jurídica, não podem ser consideradas como tal, mas sim proposições incompletas, imperfeitas ou meros preceitos auxiliares (leges imperfectae). 4. Há diferença entre documento normativo, enunciado prescritivo, proposição e norma jurídica? Explique estabelecendo a diferença entre o conceito de norma em sentido amplo e norma em sentido estrito. Sim. Documento normativo pode ser definido como a forma em que as normas são positivadas no nosso sistema jurídico. Na prática, podem ser definidos como os diplomas normativos que são realizados pelos respectivos agentes credenciados do nosso ordenamento jurídico pátrio, resultando assim no direito positivo. Podem se apresentar na forma de leis, decretos, portarias, instruções normativas, sentenças judiciais/administrativas, permissões, alvarás de funcionamento, entre outros. Por fim, podemos dizer que o documento normativo é a maneira com que a linguagem do agente legislador é verbalizada. O enunciado prescritivo pode ser entendido como o conteúdo do documento normativo, sua organização e disposição, levando em consideração uma metodologia que compõe o corpo físico do direito positivo. Em outras palavras, são os signos positivados em documentos normativos de maneira organizada, como por exemplo no código tributário. Os enunciados prescritivos aparecem por todo o texto, formatado e introduzido em nosso ordenamento jurídico e organizado por artigos, parágrafos, incisos, alíneas, e assim por diante. 17 KELSEN, Hans – Teoria geral das normas – Porto Alegre: Fabris, 1986. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” Para corroborar tal afirmação, disciplina Moussallem18: “Os enunciados prescritivos compõem o corpo físico (corpus) do sistema do direito positivo. É o dado único e exclusivo do cientista do direito.”. Para Kelsen19, a proposição jurídica ocorre quando determinado enunciado pertencente à ciência do direito prescreve de forma organizada o conteúdo de uma norma. Isso ocorre quando em uma única sentença é descrito determinado comportortamente (hipótese) e por conseguinte a referida sanção, como por exemplo: "No Direito brasileiro, é proibido o assassinato, sob pena de prisão". Como já dito anteriormente, a norma jurídica pode ser de caráter primário, quando prescreve uma hipótese de comportamento, e secundária, quando determina uma sanção pelo descumprimento da norma primária. Isso posto, entendo que a proposição jurídica é uma sentença que prevê tanto a conduta primária (hipótese) quanto a secundária (sanção) na mesma sentença. Norma jurídica, como já definida anteriormente no presente seminário, pode ser definida como o texto responsável pela regulação de condutas dos indivíduos inseridos em uma sociedade, com o escopo de fixar os enunciados que versem sobre a organização da sociedade e do Estado, com a missão de impor sanções para aqueles que a infringem. Dito isso, as penalidades prescritas tem o condão de regular o bem estar da sociedade em prol da busca do bem maior, qual seja o Direito, e, por conseguinte, a Justiça. Quanto à diferença entre o conceito de norma em sentido amplo e norma em sentido estrito, entendo que a norma em sentido estrito é aquela que carrega a mensagem deôntica completa, podendo ser exemplificada como a veiculadora da regra matriz de incidência tributária, composta por um esquema que apresenta tanto o antecedente – hipótese: critérios material, espacial e temporal – quanto o consequente – critérios pessoal e base de cálculo. Para corroborar tal entendimento, nos ensina Carvalho20 que a normas jurídicas em sentido estrito 20 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: O Constructivismo Lógico-Semântico. 2009. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Filosofia do Direito, Puc/Sp, São Paulo, 2009, p. 215. 19 KELSEN, Hans: Proposição Jurídica e Norma Jurídica. disponível em: http://aquitemfilosofiasim.blogspot.com/2017/03/kelsen-proposicao-juridica-e-norma.html#:~:text=Um a%20norma%20jur%C3%ADdica%20pode%20ser,conte%C3%BAdo%20de%20uma%20norma%20j ur%C3%ADdica. acessado em 07/03/2023. 18 MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Fontes do Direito Tributário, 2001, p. 135. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” “denotam a mensagem deôntica completa, isto é, são significações construídas a partir dos enunciados postos pelo legislador, estruturadas na forma hipotético-condicional.”. Noutro giro, a norma em sentido amplo pode ser definida como aquela que estabelece as demais regras do direito tributário, também chamadas de funcionais ou operativas, como critérios de fiscalização, recolhimento, prescrição, decadência e lançamento. Para reforçar tal afirmação, leciona Carvalho21 que “normas jurídicas em sentido amplo denotam unidades do sistema do direito positivo, ainda que não expressem uma mensagem deôntica completa.” 5. Com base em sua resposta dada na questão 2, responda: a) O desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram em infrações de trânsito é uma utilização do tributo como “sanção de ato ilícito”? Conforme explanado na questão 2, da leitura do art. 3º do CTN verifica-se que tributo não pode ser utilizado pelo Estado como mecanismo para sanção de ato ilícito. Um tributo não é uma penalidade e não poderá ser exigido em razão de algum ilícito cometido pelo contribuinte. Sendo assim, analisando o caso em tela, entendo que não é possível relacionar o desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram em infrações de trânsito com o estatuto da sanção, tendo em vista que não estamos diante de sanção, mas sim, de um benefício. A redação do art. 3º é clara ao estabelecer que tributo não pode ser utilizado como sanção de ato ilícito. O desconto concedido no IPVA para os proprietários que não incorreram em infração de trânsito é utilizado pelo Estado como uma maneira de incentivar e recompensar o sujeito passivo que cumpre os requisitos da legislação de trânsito, exercendo assim uma função extrafiscal, ou seja, quando o tributo é utilizado com outras finalidades que vão além da arrecadação. 21 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: O Constructivismo Lógico-Semântico. 2009. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Filosofia do Direito, Puc/Sp, São Paulo, 2009, p. 215. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” Por outro lado, entendo que seria ilegal o contrário: aumento da alíquota do IPVA para contribuintes que incorrem em infração de trânsito. Nesse caso, estaríamos claramente diante do uso do tributo como sanção de ato ilícito, contrariando a redação do art. 3º do CTN. b) E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade? Responda fundamentadamente e considere para sua resposta as seguintes afirmações do autor Fernando Favacho: “a definição conotativa do art. 3º do CTN conflita com a definição denotativa do art. 182 da CF. Em suma, a Constituição traz um tributo (IPTU sancionatório progressivo) que, parao CTN, não é tributo”1 e “o IPTU sancionatório progressivo é tributo, a par do mandamento do CTN”2. Em relação à progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade, entendo que não estamos diante de sanção de ato ilícito, estando esse mandamento plenamente alinhado com o propósito do art. 3º do CTN. De acordo com o art. 156, § 1º, I e II c/c art. 182, § 4º, inciso II, ambos da CF/88, prevê que as alíquotas do IPTU poderão ser progressivas em razão do valor do imóvel e ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel. No mesmo sentido, o art. 153, § 4º da CF/88, o ITR será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas, buscando com isso o efetivo cumprimento da função social da propriedade rural. Nesse contexto, estamos diante da extrafiscalidade, que ocorre quando o tributo é utilizado com outras finalidades que vão além da arrecadação. Em ambos os casos, não estamos diante de sanção de ato ilícito. Até porque o direito à propriedade é uma garantia constitucional, cabendo ao proprietário decidir sobre a utilização de sua propriedade. Caso a propriedade não esteja cumprindo a função social, a progressividade das alíquotas dos dois tributos, para mim, não pode ser consideradas como sanção de ato ilícito, mas sim, como um mecanismo utilizado pelo Estado para que o proprietário efetivamente utilize a propriedade de maneira racional e Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” benéfica, fazendo cumprir a funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes, conforme mandamento constitucional previsto no art. 182. Quanto à afirmação de Fernando Favacho, com a máxima vênia, venho divergir. Conforme já dito anteriormente, a progressividade das alíquotas do IPTU/ITR – sancionatório progressivo segundo ele – não tem o condão de sancionar o sujeito passivo, como maneira de utilizar imposto como sanção de ato ilícito, mas sim, de desestimular desestimular a manutenção de propriedades improdutivas. 6. Que é direito tributário? Sob as luzes da matéria estudada, efetuar crítica à seguinte sentença: “Direito tributário é o ramo do Direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre o Fisco e os contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”, e propor definição para “direito tributário”. Para Carvalho22, “direito tributário é o ramo didaticamente autônomo do direito, integrado pelo conjunto das proposições jurídico-normativas que correspondam, direta ou indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”. Conforme Sabbag23 pode ser conceituado como a representação positivada da ciência jurídica que engloba o conjunto dos princípios jurídicos e das normas, que regulam as relações jurídico tributárias, contemplando as partes (sujeito ativo e sujeito passivo) como elementos e o vínculo jurídico entre eles. Parafraseando Rodrigues24, compreende o conjunto sistemático de princípios e regras de caráter público que disciplinam as relações jurídicas entre os sujeitos titulares do direito subjetivo e do dever jurídico de pagar tributo e seus consectários. 24 RODRIGUES, Deusmar José. Direito Tributário. 4. ed. São Paulo: J. H. Mizuno, 2015, p. 47. 23 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 3. 22 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 18. Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” Diante do exposto, entendo que o direito tributário é um ramo específico do direito, carregado de princípios específicos e das normas legais, com a finalidade de regulamentar as relações jurídico tributárias entre o fisco e o contribuinte, na ocasião da ocorrência da hipótese de incidência e do consequente, resultando assim na instituição, arrecadação e fiscalização de tributos. Sendo assim, entendo como “direito tributário” o ramo específico do direito que tem por objetivo regular os assuntos em sentido amplo concernentes à matéria tributária como gênero e todos os seus desdobramentos como espécie, alcançando assim a finalidade arrecadatória do Estado para que este possa desempenhar sua função típica, qual seja o funcionamento da máquina pública em prol do cumprimento das garantias constitucionais e do Estado democrático de direito. 7. Dada a seguinte lei (exemplo fictício): Estado de Minas Gerais, Lei Estadual nº 2.017, de 10/10/2017 A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Decretou e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º Esta Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador o exercício do poder de polícia do Estado sobre estas atividades. Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização de mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos. Art. 3o. A alíquota é de 3%. Art. 4º Contribuinte é Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a finalidade de exploração ou aproveitamento econômico. Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” da exploração ou do aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido. Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte,a autoridade fiscal competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50% sobre o valor da taxa devida. Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e consumo destinados à atividade agropecuária (...) Pergunta-se: a) Quantas normas há nessa lei? Identifique-as. Entendo que sete normas compõem a referida lei, quais sejam: 1 - Introdução da Norma: Assembleia do Estado de Minas - enunciativa; 2 - Norma instituidora do tributo: art. 1º ao 5º que apresentam a regra matriz de incidência tributária, sendo: - Critério Material: Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos (art. 1º); - Critério Espacial: Estado de Minas Gerais (art. 1º); - Critério Temporal: mensalmente (art. 5º). Consequente - Sujeito Ativo: Estado de Minas Gerais (art. 1º); - Sujeito Passivo: A Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a finalidade de exploração ou aproveitamento econômico (art. 4º). - Critério Quantitativo: Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” - Base de Cálculo: receita bruta obtida com a comercialização de mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos (art. 2º); - Alíquota: 3% (art. 3º). 3 - Norma sancionadora de multa pelo não recolhimento da taxa: pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido (art. 5º); 4 - Norma acessória: disciplina quanto a forma de recolhimento da exação (art. 5º); 5 - norma que estabelece a forma e o prazo para o recolhimento: a taxa deverá ser recolhida mediante preenchimento da guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do aproveitamento do recurso hídrico (art. 5º); 6 - Norma de critérios de isenção: É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e consumo destinados à atividade agropecuária (art. 7º); e 7 - Norma sancionadora de multa pelo descumprimento dos deveres instrumentais: Na ausência de apuração e recolhimento, a autoridade fiscal deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50% sobre o valor da taxa devida (art. 6º). b) Qual dessas normas institui tributo? Entendo como normas instituidoras do tributo os art. 1º ao 5º, tendo em vista que apresentam a regra matriz deincidência tributária, estabelece o antecedente e o consequente da RMIT. c) Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? Justificar. Todas, haja vista o conceito de Ciência do Direito comentado na questão nº 1 e o conceito de Direito Tributário comentado na questão nº 6. Como já mencionado, a Ciência do Direito é um discurso descritivo, pois atua na interpretação das normas jurídicas, tendo em vista que ao cientista do direito Módulo Tributo e Segurança Jurídica Seminário I - Direito Tributário e Conceito de “Tributo” cabe a função de observar, investigar, interpretar e descrever sua aplicação em face das condutas intersubjetivas da sociedade. Por conseguinte, o direito tributário é um ramo específico do direito, carregado de princípios específicos e das normas legais, com a finalidade de regulamentar as relações jurídico tributárias entre o fisco e o contribuinte, na ocasião da ocorrência da hipótese de incidência e do consequente, resultando assim na instituição, arrecadação e fiscalização de tributos. d) O texto legal, acima transcrito, é Ciência do Direito? Justificar. Conforme já debatido sobre os conceitos de direito positivo e Ciência do Direito, entendo que o texto legal do caso em tela é direito positivo. Parafraseando Carvalho25, o direito positivo é o complexo de normas jurídicas válidas num dado país. É materializado numa linguagem e positivado na forma de norma (lei, decreto, portaria, instrução normativa, entre outros), que é seu modo de expressão. Enquanto Ciência do Direito26 é uma sobrelinguagem ou linguagem de sobrenível. Está acima da linguagem do direito positivo, pois discorre sobre ela, transmitindo notícias de sua compostura como sistema empírico. Dito isso, não é possível classificar o texto legal como Ciência do Direito. Estamos claramente diante do direito positivo, por ter como escopo a regulação e normatização da relação jurídica tributária entre o sujeito ativo e passivo. 26 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 7. 25 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 6
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