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Objetivos Módulo 1 Legislação sobre áreas degradadas Reconhecer a legislação e os princípios relacionados à recuperação de áreas degradadas. Acessar módulo Módulo 2 O estudo para recuperação de áreas degradadas Restauração, recuperação e reabilitação de áreas degradadas Profª. Juliana da Silva Leal Descrição A construção de estudos de recuperação de áreas degradadas e planejamento ambiental. Propósito Entender sobre os processos de recuperação de áreas degradadas é imprescindível ao profissional da área ambiental, pois, atualmente, são raros os ambientes que ainda se encontram inalterados. d Descrever as etapas de um estudo para a recuperação de áreas degradadas. Acessar módulo Módulo 3 O planejamento ambiental em áreas degradadas Identificar as etapas de um estudo de planejamento ambiental. Acessar módulo 1 Como sabemos, a nossa espécie tem alterado a Terra de diversas formas. Atualmente, os cientistas já afirmaram que, praticamente, todos os ecossistemas do planeta foram alterados em algum grau pelas atividades humanas. Em muitos casos, o grau de alteração sofrida pelo ecossistema é tão alto que ele se torna incapaz de se recuperar naturalmente, tornando-se um ecossistema degradado. Podemos, como veremos a seguir, observar várias formas de degradação ambiental, que abrangem desde os solos até as águas. Frente a esses problemas, como devemos proceder? Como a legislação brasileira pode guiar a nossa tomada de decisão nesses casos? É possível fazer com que esse ecossistema retorne ao seu estado natural? Essas são algumas questões que seremos capazes de responder ao final deste conteúdo. Introdução d O que são áreas degradadas? A degradação de uma área pode ocorrer tanto de forma natural quanto pela interferência humana, mas, raramente, esse termo tem sido usado para relatar as alterações que ocorrem de maneira natural no ambiente. Por isso, neste módulo — bem como no contexto da legislação que será abordada aqui — uma área degradada é aquela que sofre com os efeitos negativos das atividades ou intervenções humanas. Grande área degradada pela mineração. Além disso, as áreas degradadas diferem das áreas perturbadas ou alteradas quanto à sua capacidade de regeneração: enquanto a área degradada não é capaz de retornar ao seu estado original, isto é, de se Legislação sobre Áreas Degradadas Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a legislação e os princípios relacionados à recuperação de áreas degradadas. d regenerar naturalmente, as áreas perturbadas ou alteradas ainda possuem capacidade de se regenerar naturalmente. Algumas formas de degradação ambiental Contaminação química A utilização de produtos químicos, como remédios, pesticidas e metais pesados, pode alcançar a água, o solo e o ar, comprometendo a qualidade desses ambientes bem como a nossa saúde. Os produtos químicos podem envenenar diretamente os organismos, podem se acumular no ambiente físico e, muitas vezes, serem passados ao longo da cadeia alimentar. Um bom exemplo é o Lago Novosibirsk, na Rússia, que, apesar da aparente beleza, sofre contaminação química e, ainda assim, os turistas se aventuram em suas águas para tirar fotos. Lago Novosibirsk, Rússia: aparente beleza, porém contaminada por elementos químicos. Alteração dos ciclos biogeoquímicos Todos os elementos químicos que compõem os seres vivos são ciclados nos ecossistemas, nos chamados ciclos biogeoquímicos. As atividades humanas têm alterado os ciclos biogeoquímicos, principalmente, por meio de mudanças na quantidade do elemento químico a ser ciclado. A adição excessiva de nutrientes nos solos, sob a forma de fertilizante, o despejo de esgoto em ambientes aquáticos e a queima de combustíveis fósseis têm aumentado (e muito!) a quantidade de nitrogênio disponível na superfície terrestre. Riacho eutrofizado. d Em decorrência do enriquecimento em nutrientes, tem-se observado a poluição do ar e das águas subterrâneas, a eutrofização dos ecossistemas aquáticos — acompanhada do esgotamento de oxigênio nesses ambientes —, a perda de biodiversidade e qualidade das águas. Degradação da água A degradação da água está associada, principalmente: • À contaminação e à poluição dos ecossistemas aquáticos; • À transposição da água de bacias hidrográficas bem como à sua utilização para a irrigação, de modo a causar o esgotamento das reservas hídricas superficiais e subterrâneas; • À modificação do volume do fluxo nos rios e o tempo de residência da água nesses ambientes, gerada por meio da construção de reservatórios e barragens. Crianças brincando às margens de um lago poluído em Jaipur, na Índia. Degradação do solo Uma das grandes causas da degradação ambiental é o uso intensivo do solo, no qual se produz uma enorme quantidade de um único cultivar, ou seja, as monoculturas. O uso intensivo do solo leva à degradação de seu conteúdo de matéria orgânica, compactando-o, devido à utilização de maquinário pesado. Por sua vez, quando o solo se esgota em matéria orgânica, ele se torna menos permeável à água e ao ar e, consequentemente, sua capacidade de suportar o estabelecimento de plantas e microrganismos fica limitada. d Uso intensivo do solo por grandes monoculturas na Argentina. Além disso, a irrigação é um outro fator que, sabidamente, agrava a degradação ambiental. Uso de fertilizantes misturados à água. Os fertilizantes, além de contribuírem para a degradação desses ambientes aquáticos, podem atuar diretamente na degradação do solo. Apesar de proporcionar a fertilização do solo em curto prazo, o uso intensivo e inadequado dos fertilizantes pode comprometer a fertilização do solo em longo prazo. Outro fator extremamente relevante para a degradação dos solos é a remoção de sua cobertura vegetal, que está comumente associada às atividades de mineração, à agricultura e ao processo de urbanização. Com a remoção da vegetação nativa dos solos, as camadas superiores desse substrato são erodidas pela ação do vento e da água, de modo que estas são perdidas, sendo transportadas para outros locais, em uma taxa mais rápida do que aquela de renovação natural do solo. Mas como a irrigação pode agravar a degradação? d Erosão do solo em monocultura de trigo, pelo escoamento da água da chuva sobre o solo exposto. Histórico da degradação ambiental no Brasil Infelizmente, a degradação ambiental de áreas do território brasileiro remonta a toda a história do nosso país. Um estudo recente (PIPERNO et al., 2021), publicado em um grande periódico científico (PNAS), mostrou que a população indígena, que vivia na Amazônia, utilizava a floresta de forma sustentável, sem causar perdas de espécies ou distúrbios por milênios. Por outro lado, a nossa colonização parece ter alterado bastante esse cenário. Exploração de pau-brasil por colonizadores, usando indígenas escravizados. Por termos sido uma colônia de exploração, o objetivo primário de Portugal era explorar os recursos naturais que estavam disponíveis, iniciando o processo de degradação ambiental. Desde então, a economia do nosso país se baseou em atividades estritamente d associadas à degradação ambiental. Em ilustração do período colonial, André Thevet, em 1575, retratou indígenas escravizados pelos colonizadores explorando o pau-brasil (Caesalpinia echinata). Quando o ouro foi encontrado, passamos por outra grande fase de degradação ambiental. Nas proximidades das áreas de garimpo, que ficavam em meio à mata, foram se desenvolvendo cidades. Além disso, as minas construídas para explorar esse minério formavam buracos no solo que, quando a produção cessava, logo eram abandonados. Mais tarde, a agricultura baseada em monoculturas se fortaleceu, fazendo com que o solo fosse explorado ao seu máximo. Já no momento da primeira industrialização brasileira, o meio ambiente era tido como um obstáculo ao desenvolvimento econômico do país, pensando-se na industrialização a qualquer custo.Contudo, começou-se a notar, no Brasil, que a primeira industrialização, promovida pelos governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, não gerou os retornos econômicos esperados. Por outro lado, os danos ambientais dessa industrialização foram observados. Estima-se que, em 2012, cerca de 140 milhões de hectares eram considerados áreas degradadas no Brasil, distribuídas por todos os biomas e regiões do país. Para você ter ideia do que isso representa, essa área é equivalente a mais do dobro de toda a França. Caso fôssemos capazes de recuperar toda essa enorme área degradada, não seria mais preciso derrubar florestas para o desenvolvimento de quaisquer atividades agropecuárias. Comentário O fato é que a política ambiental executada em um país é reflexo da sua visão sobre a utilização dos recursos naturais e sobre a relação de custo-benefício entre o ganho econômico e o desenvolvimento de atividades potencialmente danosas ao meio ambiente e, infelizmente, as sociedades menos favorecidas tendem a negligenciar os problemas ambientais em prol do acesso aos bens materiais — e foi assim que chegamos até aqui. d Área degradada por erosão no município de Piracicaba, São Paulo. Legislação e a necessidade de recuperar áreas degradadas Qual a diferença entre uma reserva legal e uma área de preservação permanente? Neste vídeo, a especialista comenta sobre a diferença conceitual entre as reservas legais e áreas de preservação permanente, apresentando as características de cada uma delas. No Brasil, as primeiras leis que abordam a obrigatoriedade de se recuperar as áreas degradadas são relativamente recentes, remontando aos anos de 1980. Mas, apesar desse relativo atraso, temos avançado de forma consistente, lançando novos aparatos para assegurar a obrigação legal de se recuperar áreas degradadas. d Conheceremos, resumidamente, a seguir, as principais leis e resoluções que tratam das questões ambientais: Atenção! É importante que, antes de atuar diretamente na recuperação de áreas degradadas, o profissional reconheça a legislação ambiental aplicada a essa área do conhecimento, pois há normas para a apresentação de projetos, bem como critérios mínimos que devem ser atendidos por eles. Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 Esta é a lei que institui a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), a primeira que, de fato, iniciou a organização da política de meio ambiente e da estrutura do governo (em níveis federal, estadual e municipal) para executá-la. A partir da PNMA, o Decreto nº 88.351, de 1 de junho de 1986, criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e definiu a degradação ambiental como “a alteração adversa das características do meio ambiente” (BRASIL, 1981). d Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985 Esta lei representou um marco da participação popular em ações do meio ambiente, prevendo a ação civil pública. Além disso, foram criados instrumentos para a proteção jurídica do meio ambiente e para viabilizar a recuperação de áreas degradadas. Para a recuperação de áreas degradadas, foi criado um fundo para a contratação de empresas para executar tal propósito. Resolução CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1986 Esta resolução estabelece que, para a instalação de certos empreendimentos, deve-se exigir a realização prévia de um estudo de impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental (RIMA), nos quais deve-se realizar um diagnóstico dos potenciais impactos do empreendimento bem como o planejamento de ações para minimizá-los. Artigo 225 da Constituição Federal de 1988 De acordo com este artigo, a exploração do meio ambiente deve ser feita de forma a assegurar a sua preservação e passa a considerar a Mata Atlântica como um patrimônio nacional. Os instrumentos que já existiam são consolidados e, com a Carta, são criados institutos voltados para a proteção do meio ambiente. Ainda, no parágrafo terceiro deste artigo, destaca-se a necessidade de reparação dos danos ambientais. Decreto-Lei nº 97.632, de 10 de abril de 1989 No contexto do nosso estudo, esta é uma das leis mais relevantes. Neste Decreto-Lei, a Lei nº 6.938/1981 é regulamentada, de modo que passa a ser obrigatória a recuperação de áreas degradadas no Relatório de Impacto Ambiental. Ainda, é instituído o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). Declara-se que o PRAD deve ser empregado como uma prevenção ou correção para as áreas degradadas, sendo obrigatoriamente elaborado por atividades mineradoras. É importante destacar que nenhum estado possui uma legislação dedicada exclusivamente à recuperação de áreas degradadas, que deveria complementar a legislação federal. Tendo isso em vista, uma alternativa viável seria a ampliação da obrigatoriedade do PRAD t ti id d t i l t d d d d PRAD para outras atividades potencialmente degradadoras, não só a mineradora. Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 Esta lei compreende a Lei dos Crimes Ambientais. Nela, são apresentadas, principalmente, sanções penais e administrativas para condutas e atividades danosas ao meio ambiente. Em seu artigo 23 II, é apresentada a obrigação do infrator em recompor o ambiente degradado. A partir desta lei, também foi criado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), um acordo que permite, por exemplo, a conversão de até 90% dos valores de multas ambientais aplicadas em ações de recuperação de áreas degradadas. Decreto nº 3.420, de 20 de abril de 2000 Este decreto institui a criação do Programa Nacional de Florestas, que objetiva conciliar o uso e a conservação de florestas brasileiras. Nesse programa é incentivada a “recomposição e restauração de florestas de preservação permanente, de reserva legal e áreas alteradas”. Resolução CONAMA nº 387, de 27 de dezembro de 2006 Esta lei aborda a obrigatoriedade do licenciamento dos assentamentos rurais. São previstas ações para a recuperação de áreas degradadas, programando-se a recuperação de áreas de reserva legal e de preservação permanente, por meio da elaboração do Plano de Recuperação do Assentamento. d O Novo Código Florestal - Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012 Nesta lei são previstas tanto a recomposição das áreas de reserva legal como a recuperação de áreas de preservação permanente que não Lei Federal nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006 Esta lei foca a utilização e a proteção da vegetação nativa da Mata Atlântica, sendo conhecida como Lei Federal da Mata Atlântica. Nela, determina-se que, no caso de supressão de vegetação secundária em estágio avançado e médio de regeneração, a recuperação deve se dar em área equivalente à área do empreendimento, com as mesmas características ecológicas — até mesmo quanto à localização que, preferencialmente, deve ser na mesma microbacia ou bacia hidrográfica e, sempre que possível, na mesma microbacia hidrográfica. Decreto nº 6.660, de 21 de novembro de 2008 Este decreto regulamenta os dispositivos da Lei Federal da Mata Atlântica e admite que seja feito o plantio ou reflorestamento (seja com finalidade econômica ou para a recuperação ambiental), com espécies nativas, sem a autorização do órgão ambiental competente. No que tange à recuperação ambiental, o decreto prevê que esse plantio ou reflorestamento seja feito por um profissional devidamente capacitado e aprovado pelo órgão ambiental competente, seguindo-se as diretrizes do projeto técnico, cuja metodologia deve garantir o restabelecimento da diversidade da flora de forma compatível com o seu estado de regeneração. Instrução normativa nº 4, de 13 de abril de 2011 Esta instrução normativa orienta a elaboração do projeto de recuperação de área degradada (PRAD) ou alterada para apresentação aos órgãos federais. Para este fim, são apresentados, em seus anexos, os Termos de Referência, nos quais são apresentados dois tipos de PRAD: o PRAD e o PRAD simplificado— que devem ser aplicados conforme a situação especificada na instrução normativa. d possuem as suas respectivas vegetações originais — e, portanto, seriam caracterizadas como áreas degradadas. O artigo primeiro do código florestal estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, juntamente com a sociedade civil, têm responsabilidade na criação de políticas para a preservação e a restauração da vegetação nativa bem como de funções ecológicas e sociais, sejam estas localizadas nas áreas urbanas ou rurais. Essa responsabilidade ainda se estende à inovação para uso sustentável, recuperação, criação e mobilização de incentivos jurídicos e econômicos para subsidiar a preservação e a recuperação da vegetação nativa. Especificamente sobre a recomposição das áreas das reservas legais, o artigo 17 do novo Código Florestal declara que esta deve ter ocorrido em 2 anos contados a partir da publicação da lei, mas o prazo para concluí-la deve ser aquele estabelecido no Programa de Regularização Ambiental (PRA). No artigo 66, parágrafo segundo, afirma-se ainda que a recomposição da área de reserva legal deverá ser concluída em 20 anos, e a velocidade em que deve acontecer deve ser de, no mínimo, um décimo da área recomposta a cada 2 anos. No caso da recomposição abordada no novo Código Florestal, ela se refere à recomposição da mata nativa, que pode se dar de três formas: Regeneração natural das espécies nativas. Plantio de espécies nativas. Plantio de espécies nativas simultâneo à condução da regeneração natural de espécies nativas. Um exemplo é a recuperação natural de uma área da Serra da Cantareira, em São Paulo, após desmatamento, como pode ser visto nas imagens. d Parque Estadual da Cantareira em 2007, no início da regeneração florestal. O mesmo local em 2010, após o fim do processo de regeneração. A fim de incentivar a recuperação de áreas degradadas pelos seus proprietários, no capítulo X do novo Código Florestal, estabelece-se um programa de apoio e incentivo à preservação e recuperação do meio ambiente, com a disponibilização de linhas de financiamento para que tais objetivos sejam alcançados, a isenção de impostos, a utilização de fundos públicos e apoio técnico. Tais medidas são de extrema importância para a conservação dos biomas brasileiros — especialmente, para a Mata Atlântica. Atualmente, a Mata Atlântica tem apenas 12,4% de sua área original e mais de 70% dessas áreas remanescentes se encontram em propriedades particulares. Por isso, a criação de mecanismos que incentivem a recuperação de áreas degradadas é fundamental para mantermos a viabilidade desse bioma e das espécies que ele abriga. d Redução na área do bioma Mata Atlântica desde 1500 até 2019. Recuperar, reabilitar ou restaurar? Se lermos, na íntegra, a legislação pertinente à recuperação de áreas degradadas — e inclusive em outras literaturas da área —, veremos que as palavras “recuperação”, “reabilitação” e “restauração”, muitas vezes, são utilizadas como sinônimos e, em outros momentos, com significados diferentes. Para exemplificar, no artigo 3 do Decreto-Lei 97.632/1989, é mencionado que o objetivo da recuperação é o “retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente”. No entanto, a Instrução Normativa nº 4, de 13 de abril de 2011, define recuperação como a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original”. Mas, afinal, qual é o termo correto a ser usado? Recuperação Deve ser entendida como a reparação dos recursos ambientais de forma suficiente para que a composição de espécies e a sua frequência nas comunidades sejam restabelecidas, como na condição original do local. Reabilitação É o retorno da área degradada a um estado biológico adequado que não está, necessariamente, associado ao estado original da área, mas não pode ser um estado relacionado ao uso da área para fins econômicos. Restauração d Seria um processo mais complexo, que visa, necessariamente, Com o “retorno da área ao seu estado original”, entende-se que vários aspectos daquele ambiente voltarão a ser como eram, desde a topografia, a flora, a fauna, o solo, as interações ecológicas etc. Quanto à pergunta que fizemos no título deste tópico (recuperar, reabilitar ou restaurar?), a resposta dependerá do objetivo do projeto a ser executado, pois cada um desses conceitos está associado a um processo diferente. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Lei Federal nº 12.651/12 Módulo 1 - Vem que eu te explico! Recuperar, reabilitar ou restaurar? Dica No que tange à legislação brasileira, de forma geral, o foco é a recuperação — mas há especialistas que recomendam: sempre que possível, deve-se preferir restaurar uma área do que recuperar. d Questão 1 As áreas degradadas são definidas como Vamos praticar alguns conceitos? Falta pouco para atingir seus objetivos. A aquelas que sofrem com os efeitos negativos das atividades ou intervenções humanas e são incapazes de retornar ao seu estado original. B aquelas que não sofreram perturbações em sua integridade física, química ou biológica. C aquelas que sofrem com os efeitos negativos de fenômenos naturais ou das atividades/ intervenções humanas. D aquelas que sofrem com os efeitos negativos das atividades ou intervenções humanas e são capazes de retornar ao seu estado original. d Questão 2 A Lei Federal nº 12.651/2012, conhecida como novo Código Florestal, institui três formas de recomposição da mata nativa. Qual(is) seria(m) a(s) forma(s) mais adequada(s) à recomposição de uma área totalmente degradada? 2 E aquelas que não sofreram perturbações em sua integridade física, química ou biológica e são incapazes de retornar ao seu estado original. Responder A Regeneração natural das espécies nativas. B Plantio de espécies nativas. C Plantio de espécies exóticas simultâneo à condução da regeneração natural de espécies nativas. D Plantio de espécies nativas e exóticas. E Plantio de espécies nativas simultâneo à condução da regeneração natural de espécies nativas. Responder d Etapas da recuperação de áreas degradadas O Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) é um documento no qual é apresentado um conjunto de medidas capazes de restabelecer novo equilíbrio (como um solo apto para uso futuro ou uma paisagem esteticamente harmoniosa) em áreas degradadas. Esse documento é solicitado pelos órgãos ambientais competentes tanto no processo de licenciamento de empreendimentos, ou atividades com potencial de degradação, ou modificação do meio ambiente, ou quando um empreendimento é punido por ter causado algum tipo de degradação ambiental. As etapas da recuperação das áreas degradadas devem ser apresentadas no PRAD, baseando-se no levantamento de informações e na realização de estudos na área a ser recuperada. Seguindo-se essas etapas corretamente, tem-se a avaliação adequada da área degradada (ou alterada) — o que, por sua vez, reflete-se na escolha mais apropriada para a recuperação da área em questão. A seguir, vamos aprender quais são essas etapas e compreender como devem ser executadas. O Estudo Para Recuperação de Áreas Degradadas Ao final deste módulo, você será capaz de descrever as etapas de um estudo para a recuperação de áreas degradadas. d Processo de replantio em área degradada. Diagnóstico para a recuperação de áreas degradadas A etapa do diagnóstico compreende o conhecimento do histórico das perturbações sofridas pela área degradada a ser estudada bem como o seu atual estado de degradação, a fim de ajudar no delineamento das estratégias que serão utilizadas pararecuperá-la — e, por isso, deve ser a primeira etapa da recuperação de áreas degradadas. Para tal, o profissional pode se utilizar de diversas ferramentas, como levantamentos históricos e bibliográficos, entrevistas com vizinhos e visitas à localidade e às áreas do entorno. A seguir, vamos conhecer as principais formas de diagnóstico, dos meios abiótico e biótico, para a recuperação das áreas degradadas. Diagnóstico do meio abiótico Clima O diagnóstico dos aspectos climáticos se refere a informações sobre o regime das chuvas, por exemplo, o volume das chuvas e suas respectivas distribuições ao longo do ano; a ocorrência de déficit hídrico, isto é, quando o volume de precipitação é menor do que aquele perdido pela evapotranspiração das plantas; as temperaturas mínimas e máximas e a umidade relativa do ar. Atualmente, é possível acessar os dados registrados por diferentes estações meteorológicas distribuídas por todo Brasil, facilitando a aquisição dessas informações. Solo O diagnóstico dos solos deve ser feito com a delimitação dos diferentes tipos de solo encontrados na área degradada em estudo e com a sua amostragem para caracterização de parâmetros físico-químicos, como os teores de nutrientes, acidez e capacidade de água disponível. Para a delimitação dos tipos de solo na área, é necessária uma referência cartográfica, que pode ser uma fotografia aérea da área ou uma planta da propriedade, na qual as áreas ocupadas pelos diferentes tipos de solo serão demarcadas. Mas por que esse tipo de informação é relevante? d Exemplos de tipos de solos que podem ser encontrados em uma área. As informações geradas por essas técnicas de diagnósticos do estado de degradação dos solos subsidiarão possíveis ações de recuperação relacionadas à seleção de espécies vegetais adequadas para plantio no solo estudado, à necessidade de adubação, à calagem (correção do pH do solo), à aração etc. Relevo Área degradada em uma pedreira abandonada, observando-se a modificação do relevo. O diagnóstico do relevo é imprescindível quando a recuperação das áreas degradadas envolve a contenção de encostas, cujos processos requerem o conhecimento prévio sobre o relevo e as características do solo. Dependendo do tamanho da área a ser recuperada, pode ser necessária a confecção de uma planta planialtimétrica, descrevendo as áreas de declividade e inclinação do terreno com precisão. Recursos hídricos O diagnóstico dos recursos hídricos necessita da avaliação da ocorrência de erosão e assoreamento na área, dos usos da água desse ecossistema, das características da bacia hidrográfica bem como do seu grau de conservação e das características da mata ciliar. Por exemplo, nas proximidades da cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, a degradação da mata ciliar do rio Uruguai é perceptível. d Degradação da mata ciliar do rio Uruguai, em Uruguaiana, RS. Fatores limitantes O fator limitante é aquele cujo excesso ou cuja falta afeta o desempenho de indivíduos de uma espécie, seja ela vegetal ou animal. No caso da vegetação, sabe-se que os seus fatores limitantes podem ser a disponibilidade de água, luz solar, nutrientes no solo (principalmente, nitrogênio, fósforo e potássio) e a temperatura do ambiente. Em um país tropical como o nosso, costuma haver um bom volume de chuvas ao longo do ano e altas temperaturas e, por isso, estes não costumam ser fatores limitantes — mesmo em áreas degradadas. Qual o principal fator limitante para o desenvolvimento da vegetação? Solo degradado em Santa Rosa da Serra, MG. Na realidade das áreas degradadas brasileiras, a maior parte dos fatores limitantes para o desenvolvimento da vegetação nativa costuma ser produto da degradação dos solos, como ausência de matéria orgânica e alterações em suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Ainda, devemos considerar que os solos tropicais tendem a possuir baixos teores de nitrogênio e fósforo — que, por sua vez, podem representar fatores limitantes ao desenvolvimento da vegetação. De qualquer modo, sejam os fatores limitantes gerados pela degradação do solo ou aqueles naturais, como a disponibilidade de nitrogênio e fósforo, o fato é que, para a recuperação de áreas nessas condições, é necessária a intervenção humana para corrigi-las. Diagnóstico do meio biótico d Estudos �orísticos e �tossociológicos Primeiramente, vamos iniciar este tópico definindo os estudos florísticos e fitossociológicos. Ambas as formas de estudar a flora podem ser chamadas de inventário florístico ou fitossociológico, mas há algumas diferenças entre elas. Estudos �orísticos Objetivam somente a produção de uma lista de espécies da flora presentes na área de estudo. Estudos �tossociológicos Avaliam a comunidade vegetal da área de estudo e todos os fenômenos e processos que a ela se relacionam, como as características do solo e a disponibilidade hídrica. Os estudos florísticos e fitossociológicos são utilizados nos trabalhos de recuperação ou restauração que objetivam recompor a flora de uma área o mais próximo possível do estado original, pois seus resultados fornecem o embasamento necessário para tal. Biólogo especialista em botânica fazendo anotações sobre uma espécie vegetal coletada. No entanto, como a abundância e a composição de espécies de uma comunidade vegetal variam com o seu estado sucessional, é importante que esses estudos sejam realizados em vários estágios sucessionais da mata nativa presente em áreas preservadas, na vizinhança da área degradada. d Dessa forma, é possível que o profissional trace “um caminho a ser percorrido” ao longo do processo de recomposição, prevendo quais espécies devem estar presentes em um devido estágio sucessional. Contudo, há alguns desafios a serem encontrados: será que na vizinhança da área degradada haverá áreas preservadas que possam servir como referência para o seu estado original? E se não houver? Se não houver áreas preservadas na vizinhança da área degradada, é preciso recorrer a estudos pretéritos, que foram conduzidos naquela localidade. Nesse sentido, é importante que seja estimulada a realização de estudos de ciência de base — aquela que foca responder questões úteis para o avanço da ciência, sem uma aplicação prática evidente —, como aqueles que objetivam determinar a composição florística e fitossociológica de determinado local. Levantamentos faunísticos Os levantamentos faunísticos devem seguir o mesmo princípio dos estudos florísticos e fitossociológicos, isto é, tentar remontar a comunidade animal que estaria presente na área degradada, considerando aquelas que são comumente associadas a cada estágio sucessional da vegetação nativa. Ave (Pycnonotus finlaysoni) se alimentando de semente. A relação entre a recomposição da vegetação e da fauna é muito estreita, afinal, há animais que atuam como polinizadores e dispersores de sementes, enquanto as plantas lhes fornecem alimento. Portanto, a recuperação ou restauração da vegetação envolve a recuperação ou restauração da fauna, e vice-versa. Você conhece o projeto REFAUNA? Neste vídeo, a especialista apresentará o projeto REFAUNA, que visa restaurar as interações ecológicas, em remanescentes de Mata Atlântica, a partir da reintrodução de espécies de animais. d Planejamento da recuperação de áreas degradadas Uma vez realizado o diagnóstico da área degradada, tem-se a dimensão dos problemas socioeconômicos e ambientais que estarão envolvidos no processo de recuperação da área degradada, embasando os próximos passos a serem tomados. Tendo em mente que o processo de recuperação ambiental de uma área é complexo, demorado e oneroso, o profissional precisa confeccionar um roteiro para que a solução mais rápida e eficiente seja alcançada e, para isso, é necessário um planejamento, que fornecerá a perspectiva, em longo prazo, do problema em estudo. Esse procedimento é fundamental para o gerenciamento dos recursos financeiros disponíveisà execução do projeto de recuperação e das atividades propostas para efetivá-lo. O planejamento é uma etapa fundamental para a efetiva recuperação das áreas degradadas. Por mais que existam metodologias para a recuperação de áreas degradadas — como aquelas que aprenderemos na próxima seção —, cada caso possui as suas especificidades e, por isso, o profissional deve se dedicar a buscar a melhor alternativa para cada um deles — e não seguir uma “receita de bolo”, cujo caminho para alcançar o objetivo desejado é sempre o mesmo. Por esse motivo, aqui vamos focar os procedimentos básicos necessários ao planejamento para a recuperação de áreas degradadas. Para a elaboração do planejamento, deve-se apresentar, inicialmente, quais são os processos de degradação diagnosticados na área, pois para cada processo de degradação, será necessária a apresentação de uma metodologia de recuperação. d Metodologias de recuperação de áreas degradadas Uma metodologia extremamente importante para a recuperação de áreas degradadas é aquela relacionada à recuperação da vegetação nativa e, por isso, este será o nosso enfoque. Para a recuperação da vegetação nativa, há algumas metodologias, baseadas em princípios de restauração ecológica, que podem ser utilizadas em diferentes áreas degradadas. Antes de estudar as metodologias em si, precisamos recapitular um processo ecológico fundamental, que permeia os princípios de vários métodos e técnicas de recuperação florestal em áreas degradadas: a sucessão ecológica. A sucessão ecológica é a mudança que ocorre na estrutura das comunidades ao longo do tempo, de forma direcional e previsível. Essa mudança é extremamente estudada em comunidades vegetais e, de maneira geral, inicia-se com as plantas pioneiras, capazes de crescerem rapidamente e se estabelecerem em solo pobre em nutrientes e de tolerarem uma grande incidência luminosa. Conforme essas plantas cumprem os seus ciclos de vida, isto é, morrem, a matéria orgânica que as formam passa a se acumular no solo, decompondo-se. Com a decomposição desse material, são adicionados ao solo nutrientes, enriquecendo-o. Ao mesmo tempo, a matéria orgânica morta sobre o solo evita a evaporação de água, fazendo com que este retenha uma maior umidade. Todo esse processo faz com que as espécies pioneiras preparem o ambiente para que outras espécies, mais exigentes, chamadas de espécies tardias e espécies de clímax, possam se estabelecer. Ilustração da sucessão ecológica. Exemplo As metodologias de recuperação podem envolver a correção da fertilidade do solo, a realização de obras de engenharia para a contenção de deslizamentos de encostas, o reflorestamento etc. d Apesar das variações metodológicas que veremos a seguir, de maneira geral, quanto mais degradada é uma área, maior a densidade de espécies pioneiras que deve ser utilizada na metodologia. No entanto, é importante considerar que ambientes diferentes podem ter diferentes espécies pioneiras — por exemplo, uma espécie pioneira de um brejo pode não ser a mesma de uma floresta tropical — e estas diferenças devem ser consideradas durante a escolha das espécies. A seguir, vamos conhecer essas metodologias que, em alguns casos, pode-se fazer a combinação de algumas delas para melhor atender ao objetivo da recuperação. Monitoramento da recuperação de áreas degradadas Uma vez determinadas as metodologias a serem implementadas, devem ser apresentados os seus custos financeiros, o cronograma para as suas respectivas execuções, bem como o estabelecimento de um sistema para monitorá-las e avaliá-las. O monitoramento da recuperação de áreas degradadas consiste no acompanhamento contínuo do desempenho da estratégia de recuperação sugerida pela equipe técnica. Assim, é possível que os profissionais verifiquem se, de fato, as medidas utilizadas foram aquelas mais acertadas para alcançar os objetivos previamente estabelecidos para a recuperação da área degradada — e caso não sejam, traçar alternativas viáveis para prosseguir com o projeto de recuperação. A questão é: como saber se as medidas de recuperação adotadas estão sendo adequadas? Regeneração natural Plantio de mudas Plantio de espécies pioneiras Chuva de sementes ou semeadura aérea Plantio inicial de mudas e posterior semeio Plantio de estacas diretamente no campo Muvuca Hidrossemeadura Plantio adensado ou adensamento Plantio de leguminosas d Como você deve se lembrar, na etapa do diagnóstico, nós comentamos sobre a utilização de áreas preservadas, situadas no entorno das áreas degradadas, como referência do estado original da área de estudo, isto é, antes de sua degradação. No monitoramento, os profissionais verificarão se a trajetória que está sendo percorrida pela área degradada está a conduzindo (ou não) para um estado mais similar à área de referência e o quanto esse estado difere das condições originais da área degradada. Para que essa verificação seja feita, são utilizadas variáveis físico-químicas e biológicas. Variáveis físico-químicas No ambiente terrestre, costuma-se verificar variáveis físico-químicas relativas ao solo, como estrutura, densidade, capacidade de retenção de água e profundidade média do sistema radicular das espécies de maior presença, pH em água, teores de carbono orgânico total e de P e K disponíveis, entre outras. Já no ambiente aquático, podem ser medidos a concentração de oxigênio dissolvido, a turbidez da água, as concentrações de nitrito e fosfato e o pH. No entanto, essas análises representam somente algumas daquelas mais utilizadas nos monitoramentos, de modo que outras análises específicas podem ser utilizadas. Coleta de amostras de solo para determinação de variáveis físico-químicas. d Determinação de variáveis físico-químicas da água com auxílio de uma sonda. Variáveis biológicas Na vegetação, é importante avaliar parâmetros que estejam diretamente relacionados ao seu desenvolvimento, podendo-se medir a evolução da sucessão ecológica, avaliando, por exemplo, quais espécies estão presentes, a densidade e a riqueza de plantas, o total de biomassa acima do solo e a altura e o diâmetro das espécies. Determinação das espécies presentes em uma área degradada em processo de recuperação. Já em relação aos animais (terrestres ou aquáticos), pode-se avaliar a composição de espécies e suas respectivas abundâncias ou densidades bem como verificar a presença de grupos bioindicadores. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! Metodologias de recuperação de áreas degradadas d Módulo 2 - Vem que eu te explico! Monitoramento da recuperação de áreas degradadas Questão 1 A primeira etapa para a recuperação de áreas degradadas se chama Vamos praticar alguns conceitos? Falta pouco para atingir seus objetivos. A planejamento. B diagnóstico. d Questão 2 Muitas das metodologias relacionadas à recuperação florestal das áreas degradadas se baseiam em um processo ecológico chamado 3 C PRAD. D monitoramento. E aplicação de metodologias. Responder A introdução de espécies exóticas. B desmatamento. C extinção de espécies. D invasão biológica. E sucessão ecológica. Responder d O que é o planejamento ambiental? O planejamento costuma estar presente no nosso cotidiano, afinal, conciliar os estudos com os cuidados com a casa, com os filhos e com o trabalho não é uma tarefa fácil, não é mesmo?! Com base nessas experiências, podemos, intuitivamente, definir o planejamento como uma ordenação ou sistematização prévia de ações ou tarefas para que determinado objetivo seja alcançado. Assim como há o planejamento pessoal, referente às atividades do nosso dia a dia e aos nossos objetivos pessoais, há também o planejamento urbano, o ambiental, o territorial... Enfim, há várias formas de planejamento. Geralmente, os diferentes tiposde planejamento são caracterizados por um processo metódico, no qual são analisadas informações, tomadas decisões e ações e, inclusive, gerados conflitos de interesses. O Planejamento Ambiental em Áreas Degradadas Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as etapas de um estudo de planejamento ambiental. d Quando saímos da esfera pessoal e passamos a incluir instituições públicas e/ou privadas no processo de planejamento, devemos ter em mente que ele deve conduzir para a melhor execução possível das tarefas previstas e, consequentemente, para que todos os objetivos traçados inicialmente sejam atingidos. Para que isso seja possível, devemos pensar no planejamento como uma contínua organização e avaliação de tarefas e informações, visando a um objetivo específico — ou, em outras palavras, um plano de ação. Mas, afinal, o que o planejamento ambiental tem de especial? O objetivo do planejamento ambiental é, de fato, planejar o ambiente que nos cerca, tentando prever as consequências das decisões tomadas hoje e aprimorar as ações que não tiveram os resultados desejados. O planejamento ambiental é fundamental para o planejamento de cidades e de regiões como um todo, pois sem ele a população humana (inclusive a fauna e a flora) estariam à mercê dos riscos ambientais mais diversos. O planejamento ambiental representa uma forma de contribuição para a conservação ambiental, buscando alternativas para a exploração de recursos naturais, por exemplo. No entanto, devemos ressaltar que o planejamento ambiental não compreende somente os aspectos relacionados à natureza. O planejamento ambiental é centrado na integração e interação dos diferentes componentes do ambiente e, por isso, envolve também os seus componentes culturais, políticos e socioeconômicos. Portanto, realizar um planejamento ambiental é muito mais do que planejar ações relativas ao meio natural. d Breve histórico do planejamento ambiental no Brasil Em 1960, os debates sobre a degradação ambiental se iniciaram, motivados pelas várias evidências, principalmente, dos efeitos negativos do processo de industrialização sobre diferentes aspectos do meio ambiente. A pressão social foi uma das grandes motivadoras das políticas mundiais em relação ao meio ambiente. Já em 1970, esses debates foram intensificados, culminando com a realização de conferências dedicadas a discuti-los. Os movimentos ambientalistas mundiais, da década de 1970, motivaram avanços na área ambiental, como a criação da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). A PNMA foi um marco para o planejamento ambiental no Brasil e foi a primeira vez em que ela foi proposta, sob a forma de orientação de ordenamento territorial. Contudo, os pesquisadores ressaltam que não é possível estabelecer uma data exata de quando o planejamento ambiental surgiu no nosso país, tendo em vista que isso se deu como um processo ao longo do tempo. Ao final do século XX, os pesquisadores afirmam que houve a consolidação do planejamento ambiental, basicamente, devido ao crescente cenário de competição por terras, à exploração dos recursos naturais e às ameaças à biodiversidade. Nessas circunstâncias, fez-se necessário um planejamento ambiental mais integrado, que abrangesse os diferentes impactos negativos, gerados pelas atividades humanas, sobre os diversos componentes do meio ambiente. Principais instrumentos do planejamento ambiental no Brasil Zoneamento Ambiental O Zoneamento Ambiental, também chamado de Zoneamento Ecológico- Econômico, foi instituído pela PNMA, visando conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação do meio ambiente. No Zoneamento Ambiental, são delimitadas zonas ambientais às quais são atribuídos usos e atividades compatíveis com as suas d características, objetivando sempre o menor grau de impacto ambiental possível. Sendo assim, o Zoneamento Ambiental é considerado um instrumento do planejamento e ordenamento territorial. Mapa do Zoneamento Ambiental dos Estados da Amazônia Legal. Plano de Manejo O Plano de Manejo é um estudo técnico que informa os objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, estabelecendo o seu zoneamento bem como as condições e as restrições para o uso da área e o manejo de seus recursos naturais. Sendo assim, o Plano de Manejo é o principal instrumento de planejamento da Unidade de Conservação, visando à sustentabilidade dessa área em longo prazo. Zoneamento Ambiental em Unidades de Conservação Neste vídeo, a especialista apresentará as zonas de uma Unidade de Conservação, definidas em seu Zoneamento Ambiental, que são apresentadas no Plano de Manejo. d Plano Diretor O Plano Diretor é um estudo relacionado ao desenvolvimento de um município, objetivando a garantia do uso sustentável dos recursos naturais aliada à existência de uma cidade que fornece aos seus moradores condições dignas para viverem, com acesso à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer. Estudo de Impacto Ambiental O estudo de impacto ambiental é um relatório técnico que foca o planejamento das atividades humanas, pois descreve os potenciais danos ambientais que podem ocorrer, por exemplo, frente à instalação de um empreendimento ou de uma atividade, e quais são as medidas alternativas que podem ser adotadas para que esses danos sejam evitados ou minimizados. Plano de Recursos Hídricos O plano de recursos hídricos é um documento que avalia as demandas, a disponibilidade e os usos desses recursos, objetivando maximizar, em longo prazo, os seus benefícios socioeconômicos. Para isso, o plano de recursos hídricos atua no gerenciamento da água e da bacia hidrográfica que promove o abastecimento da população. A escala de realização do plano de recursos hídricos pode variar, podendo ser de abrangência nacional, estadual, municipal e de bacias hidrográficas — apesar de a escala de bacia hidrográfica ser fortemente aconselhada. Comentário d Etapas para a implementação do planejamento ambiental Há procedimentos mínimos que são recomendados para a execução do planejamento ambiental. Esses procedimentos devem ser seguidos como etapas necessárias à boa prática do planejamento ambiental. A seguir, vamos conhecer quais etapas compreendem o processo do planejamento ambiental. Objetivos e metas O estabelecimento dos objetivos e metas do planejamento ambiental constitui uma etapa central de seu desenvolvimento, capaz de influenciar todas as etapas seguintes. Os objetivos, como consideramos no nosso dia a dia, são onde queremos estar no futuro e, sendo assim, são o que se pretende no planejamento ambiental. Uma vez estabelecido “aonde se quer chegar”, é importante considerarmos quais podem ser as situações ideais que devem ocorrer ao longo do processo e, nesse caso, têm-se as metas. As Em muitos trabalhos técnicos, e até mesmo na literatura, é muito comum encontramos as palavras planejamento ambiental e gestão ambiental como se fossem sinônimos. Contudo, os especialistas no assunto apontam que cada uma delas remete a diferentes momentos no tempo. Enquanto o planejamento se refere ao futuro, a gestão remete ao presente. d metas são condições ou situações ideais a serem buscadas para que o objetivo do planejamento ambiental seja atingido. Levantamento de informações e diagnóstico O diagnóstico é a etapa responsável por caracterizar e interpretar o ambiente a ser planejado. Para tal, é preciso que tenhamos em mãos informações suficientes e, portanto, essa etapa está totalmente atrelada ao levantamento de informações ou à obtenção de dados. No levantamento de informações ou obtenção de dados, podem ser utilizados dados primários ou secundários. ` Dados primários São aqueles levantados de uma fonte original, por exemplo, dados referentes aos parâmetros físico-químicos do solo de uma região, medidos com a finalidade de ser utilizados na etapa do diagnósticodo planejamento ambiental. Dados secundários São aqueles que não são originais, coletados por terceiros e disponibilizados por meio de relatórios, artigos científicos e reportagens, por exemplo. Um ponto extremamente importante que devemos destacar é que o profissional envolvido na execução de um planejamento ambiental deve estar atento à relevância das informações levantadas. Quando muitas informações com baixa ou nenhuma relevância são levantadas e consideradas importantes para a etapa do diagnóstico, corre-se o risco de se perder muito tempo e recursos financeiros nesse processo — o que pode gerar atrasos na execução do planejamento ambiental. Dica d Por meio da avaliação das informações levantadas, é possível identificar as condições atuais do ambiente e quais seriam as situações ideais e desejáveis para ele. Nesse processo, pode-se compreender, por exemplo, o histórico do uso do solo na área de estudo, a existência de conflitos de terra, o grau de degradação ambiental etc. O papel do diagnóstico é justamente subsidiar, com base nos seus resultados, um planejamento ambiental com soluções para problemas diagnosticados, que estejam relacionados aos objetivos previamente estabelecidos. O diagnóstico gerado pode ser apresentado de muitas formas, como mapas, gráficos, tabelas ou como um texto descritivo e analítico. Gráfico para ilustrar o clima diagnosticado em determinado local Prognóstico Uma vez levantadas as informações sobre o passado e o presente, deve- se olhar para o futuro, verificando possíveis tendências, cenários e alternativas futuros — isto é, esse é o momento em que o profissional envolvido no processo do planejamento ambiental deve se perguntar: Considerando todas essas informações e problemas identificados, o que podemos fazer para solucioná-los ou quais alternativas devemos propor para que o objetivo seja alcançado? Portanto, o prognóstico consiste na etapa em que devemos pensar nas soluções e nos possíveis rumos a serem tomados para que se chegue ao objetivo previamente determinado. Decisões e diretrizes A tomada de decisão e a formulação de diretrizes constituem a etapa na qual, dentre as alternativas propostas no prognóstico, as melhores delas são escolhidas. Dentre os critérios considerados na avaliação das Delimitar os tipos de informações que devem ser levantados com base nos objetivos do planejamento. Visto que, no caso da coleta de dados primários, os gastos de tempo e dinheiro se tornam ainda mais pronunciados, pois, muitas vezes, são necessários mais dias em campo para coletar todas as informações julgadas necessárias, e, ainda, algumas amostras requerem o processamento em laboratório — o que costuma ter um custo mais elevado e requerer tempo. d alternativas propostas, é fundamental que o profissional envolvido no planejamento ambiental verifique se elas realmente são capazes de conduzir aos objetivos previamente determinados. Somente com a escolha das melhores alternativas para serem seguidas é que são elaboradas as estratégias e diretrizes para que o plano seja implantado. O ambiente está em constante mudança e, por isso, o planejamento ambiental não pode ser feito a partir de uma perspectiva estática do ambiente. A forma como a sociedade ou um empreendimento se utiliza dos recursos naturais, as relações sociais, o desenvolvimento humano e várias outras características ou componentes do ambiente podem mudar ao longo tempo. Por isso, o profissional atuante no planejamento ambiental deve estar ciente de que mudanças nos objetivos do plano bem como alternativas para alcançá-los são possíveis. Portanto, o planejamento ambiental deve ser um processo contínuo, sendo constantemente reavaliado. Implantação e monitoramento Essa é a etapa em que se coloca em prática o que foi verificado nas etapas anteriores. Nesse momento, todas as etapas devem ser apresentadas sob a forma de documentos, registrando todo o processo do planejamento ambiental para que, caso necessário, seja possível provar e justificar as decisões tomadas com base nas evidências e informações levantadas. Simultaneamente à implantação do plano, deve-se conduzir um monitoramento ambiental. O monitoramento ambiental consiste no acompanhamento contínuo das variáveis ambientais, que podem ser biológicas, físico-químicas e socioeconômicas — já que estamos utilizando uma abordagem holística para o estudo do ambiente. Com o monitoramento ambiental, ocorre a coleta de dados que, como vimos, é fundamental à etapa de levantamento de informações e diagnóstico. d Sendo assim, o monitoramento ambiental permite que o planejamento ambiental seja um processo permanente, pois constantemente é preciso retornar à etapa de levantamento de informações e diagnóstico — ou até mesmo aos objetivos e às metas, caso, por exemplo, os anseios da sociedade mudem — para avaliar se as decisões e diretrizes determinadas ainda são pertinentes àquele ambiente. A determinação de quais variáveis devem ser monitoradas está estritamente relacionada aos objetivos do planejamento ambiental e, aqui, serão chamados de indicadores ambientais. Os indicadores ambientais são variáveis ambientais que podem descrever o estado ou a resposta do ambiente frente à ocorrência de um fenômeno. Os indicadores podem ser medidos em campo, no laboratório ou no escritório — afinal, o local onde eles serão medidos dependerá da identidade do indicador. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! O que é o planejamento ambiental? Módulo 3 - Vem que eu te explico! Implantação e monitoramento Exemplo Após o desastre ambiental que ocorreu na cidade de Brumadinho (MG), os pesquisadores observaram que a turbidez da água do rio onde a lama estava presente era extremamente alta em relação aos locais que não foram atingidos pelo rompimento da barragem. Então, a turbidez da água do rio representa um indicador da presença da lama e, consequentemente, do impacto ambiental naquela região. d Questão 1 O planejamento ambiental se desenvolve no Brasil em função da(o) Vamos praticar alguns conceitos? Falta pouco para atingir seus objetivos. A implantação de uma política baseada no desenvolvimento sustentável. B exploração consciente dos recursos naturais. C preservação dos recursos naturais e da biodiversidade. d Questão 2 Podemos considerar como principal característica do processo do planejamento ambiental a seguinte alternativa: Considerações �nais D exploração dos recursos naturais e ameaças à biodiversidade. E desenvolvimento econômico centrado na preservação ambiental. Responder A Replicável B Contínuo C Imutável D Temporário E Predeterminado Responder d Neste tema, vimos que a degradação ambiental tem sido um problema enfrentado por diversos ecossistemas ao redor do mundo e que, infelizmente, tem estado presente na história do nosso país desde o período colonial. Por outro lado, aprendemos que esse problema tem solução, pois podemos recorrer a técnicas específicas para solucioná-lo, fazendo com que os ecossistemas se regenerem em maior ou menor grau. Além das metodologias de recuperação, conhecemos mecanismos legais para evitar ou solucionar casos de degradação ambiental e de outros tipos de impactos ambientais. Dentre esses mecanismos, podemos citar os instrumentos do planejamento ambiental, que visam contribuir para a conservação do meio ambiente. Podcast No que consiste a Década da Restauração de Ecossistemas, anunciada pela ONU para o período de 2021 a 2030, bem como seus princípios e ações promovidas? Com a palavra, a especialista. 00:00 11:16 1x Referências ALMEIDA, D. S. Recuperação ambiental da mata atlântica. 3. ed. Ilhéus: Editus, 2016. ARZOLLA, F. A. R. D. P. et al. Regeneração natural de clareiras de origem antrópica na Serra da Cantareira, SP. Revista do InstitutoFlorestal. v. 22, n. 1, p. 155-169, 2010. BENTO, S. C. et al. As novas diretrizes e a importância do planejamento urbano para o desenvolvimento de cidades sustentáveis. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade: GeAS, v. 7, n. 3, p. 469-488, 2018. BOAVENTURA, K. J. et al. Recuperação de áreas degradadas no Brasil: conceito, história e perspectivas. Tecnia, v. 4, n. 1, p. 124-145, 2019. BRANQUINHO, P. M. F. Estudo de impacto ambiental como instrumento de proteção do meio ambiente. Âmbito jurídico, XIV, n. 92, 2011. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. 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Modos de restaurar as florestas, do canal do YouTube da Pesquisa Fapesp, no qual os cientistas falam sobre uma metodologia bem- sucedida na restauração de floresta tropical que se baseia na diversidade das espécies nativas. Processo de elaboração do plano de manejo - Curso EAD em Plano de Manejo ICMBio, do canal de Felipe Cruz Mendonça no Youtube, que fala sobre o processo de elaboração do Plano de Manejo de uma Unidade de Conservação. Baixar conteúdo d javascript:CriaPDF()
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