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Felipe Vivian Goulart

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Prévia do material em texto

1 
 
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 
Centro de Comunicação e Letras 
Programa de Pós-Graduação em Letras 
 
 
 
A REALIZAÇÃO DO SUJEITO EU NO PORTUGUÊS BRASILEIRO 
INFORMAL: UM ESTUDO NO GÊNERO VIDEOLOG 
 
 
 
 
 
Felipe Vivian Goulart 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Profª. Drª. Maria Helena de Moura Neves 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2015 
 
2 
 
FELIPE VIVIAN GOULART 
 
 
 
 
 
A REALIZAÇÃO DO SUJEITO EU NO PORTUGUÊS BRASILEIRO INFORMAL: 
UM ESTUDO NO GÊNERO VIDEOLOG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de mestrado apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana 
Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de 
Mestre em Letras. 
 
 
 
 
Orientadora: Profª. Drª. Maria Helena de Moura Neves 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2015 
 
3 
 
FELIPE VIVIAN GOULART 
 
 
 
A REALIZAÇÃO DO SUJEITO EU NO PORTUGUÊS BRASILEIRO INFORMAL: 
UM ESTUDO NO GÊNERO VIDEOLOG 
 
 
 
 
Dissertação de mestrado apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana 
Mackenzie como requisito parcial para a obtenção do título de 
Mestre em Letras. 
 
Aprovada em 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Profª. Drª. Maria Helena de Moura Neves (Orientadora) 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
 
 
 
Prof. Dr. José Gaston Hilgert (Examinador interno) 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
 
 
 
Profª. Drª. Marli Quadros Leite (Examinadora externa) 
Universidade de São Paulo 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
G694r Goulart, Felipe Vivian 
A realização do sujeito \”eu\” no português brasileiro 
informal : um estudo no gênero videolog. / Felipe Vivian 
Goulart – 2015. 
148 f. : il. ; 30 cm. 
 
Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade 
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015. 
Referências bibliográficas: f. 145-148. 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À família e aos amigos, pela compreensão; a 
Mariana Kishimoto, por tudo; aos animais, 
em especial ao Mikuim e ao Fofão, por me 
manterem são. 
 
 
 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Ao Fundo Mackenzie de Pesquisa, pela bolsa concedida. 
A minha orientadora, pela paciência e dedicação. 
A Thaís Verdolini e a Ronaldo Batista, por todo o incentivo. 
A John Lachlan Mackenzie, pelas sugestões que deram origem ao capítulo sobre 
priming. 
A André Coneglian, por todo o auxílio. 
 
7 
 
RESUMO 
 
Por ser o português uma língua cujo paradigma conjugacional tradicional traz 
desinências específicas para cada pessoa verbal, também com formas distintas para 
o singular e o plural, seria de esperar que fosse canônico nesse idioma o 
apagamento do sujeito pronominal. Esse não parece, no entanto, ser o caso no 
português brasileiro, variedade em que o preenchimento do sujeito pode ocorrer 
mesmo quando, à primeira vista, não se verifica a presença de qualquer fator que 
atue na necessidade de tal explicitação, sobretudo na oralidade informal. O objetivo 
deste trabalho é, portanto, apontar os fatores condicionantes da escolha entre 
sujeito expresso e sujeito zero no português brasileiro informal, sendo a investigação 
restrita à 1ª pessoa do singular. Embora a base teórica do trabalho seja 
primariamente funcional, também se recorre ao suporte sociolinguístico, 
especialmente quanto à variação diafásica e ao monitoramento. Diante da 
necessidade de um material de análise que refletisse a realidade da linguagem em 
sua forma mais espontânea, não marcada por autocensura ou preocupação com a 
forma, elegeu-se como corpus o gênero novo dos videologs, constituído 
prototipicamente por vídeos amadores e não roteirizados publicados na Internet. A 
análise revela que a explicitação do sujeito é motivada por diversas outras 
necessidades além da garantia de que o ouvinte será capaz de identificar o sujeito 
pretendido pelo falante. 
 
Palavras-chave: Realização do sujeito. Elipse. Primeira pessoa do singular. 
Informalidade. Videologs. 
 
 
8 
 
ABSTRACT 
 
Inasmuch as the Portuguese conjugational paradigm includes specific inflections for 
each person, as well as distinctions between singular and plural, it would make 
sense to expect pronominal subject omission to be the norm in this language. This 
does not, however, seem to be the case in Brazilian Portuguese, a variety in which 
subject expression may occur even when, at first sight, there are no factors making 
such explicitness necessary, especially in informal spoken language. The aim of this 
paper is, thus, to determine the conditioning factors of the choice between overt 
subject and zero subject in informal Brazilian Portuguese, with a scope limited to the 
first person singular. Although the theoretical framework of this paper is primarily 
functional, some sociolinguistic support was also deemed necessary, especially 
regarding diaphasic variation and self-monitoring. Due to the need for a body of data 
which reflected the reality of language in its most spontaneous form, unmarked by 
self-censorship or concern for form, it seemed appropriate to elect as the corpus for 
this analysis the new genre of videologs, prototypically consisting of homemade, 
unscripted, online-published videos. The analysis reveals that subject expression is 
motivated by many other necessities besides the guarantee that the listener will be 
able to identify the subject intended by the speaker. 
 
Keywords: Subject realization. Ellipsis. First person singular. Informality. Videlogs. 
 
9 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - A realização do sujeito eu no português brasileiro informal ............. 48 
Quadro 2 - Relação entre região do Brasil e realização do sujeito eu ............... 50 
Quadro 3 - A realização do sujeito eu no português europeu informal .............. 56 
Quadro 4 - A realização do sujeito eu no português brasileiro formal ................ 60 
Quadro 5 - Relação entre realização do sujeito eu e exclusividade desinencial 64 
Quadro 6 - Relação entre região do Brasil e realização do sujeito eu com e 
sem desinências exclusivas ................................................................................ 64 
Quadro 7 - Relação entre realização do sujeito eu e polaridade ....................... 77 
Quadro 8 - Relação entre região do Brasil e realização do sujeito eu com 
polaridade positiva e negativa ............................................................................. 78 
Quadro 9 - Relação entre realização do sujeito eu e operadores de negação... 79 
Quadro 10 - Relação entre realização do sujeito eu e intervenções entre o 
sujeito e o verbo........................................................................................ ........... 84 
Quadro 11 - Relação entre região do Brasil e realização do sujeito eu com e 
sem intervenções entre sujeito e verbo................................................................ 86 
Quadro 12 - Relação entre realização do sujeito eu e contexto de oração 
relativa.................................................................................................................. 95 
Quadro 13 - Relação entre região do Brasil e a realização do sujeito eu em 
orações relativas.................................................................................................. 96 
Quadro 14 - Relação entre realização do sujeito eu e coordenação (com 
manutenção da 1ª pessoa do singular; sem orações intervenientes).................. 110 
Quadro 15 - Relação entre realização do sujeito eu dentro e fora de 
coordenadas (com manutenção da 1ª pessoa do singular; sem orações 
intervenientes) e região do Brasil......................................................................... 110 
Quadro 16 - Relação entre realização do sujeito eu e coordenação (com 
manutenção da 1ª pessoa do singular; sem orações intervenientes; sempausas ou cortes entre as coordenadas)............................................................. 112 
Quadro 17 - Escolhas de sujeito (expresso ou zero) motivadas por priming...... 124 
Quadro 18 - Forma do sujeito e motivação por priming...................................... 125 
Quadro 19 - Relação entre região do Brasil e priming........................................ 126 
 
10 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Imagem alvo........................................................................................ 120 
 
11 
 
LISTA DE ABREVIAÇÕES 
 
CORPUS PRIMÁRIO – PORTUGUÊS BRASILEIRO INFORMAL 
Abreviação Vlogueiro/Canal Região Título do videolog 
AL-1 
Aldair Santos Norte 
Andar de Van 
AL-2 Comportamento Escolar 
AL-3 Tecno Melody 
BV-1 
Bruna Vieira Sudeste 
50 fatos sobre mim 
BV-2 O que tem na minha bolsa 
BZ-1 
Thiago Buzzy Sul 
BuzzyCast 01# 
BZ-2 BuzzyCast 02# 
CN-1 
Curinotizando Centro-Oeste 
Desafio da Canela 
CN-2 Preconceito 
DF-1 
Dâniel Fraga Sudeste 
Nancy Andrighi por que não 
censura seu cu? 
DF-2 Ser ateu no Brasil 
DF-3 
Porque eu não voto em 
Geraldo Alckmin 
FM-1 
Flávia Melissa Sudeste 
Como lidar com críticas 
negativas e-ou maldosas? 
FM-2 
Resistências, frequência 
energética e Ego 
 
 
12 
 
 
CORPUS PRIMÁRIO – PORTUGUÊS BRASILEIRO INFORMAL (CONTINUAÇÃO) 
Abreviação Vlogueiro/Canal Região Título do videolog 
GS-1 
Gota Serena Nordeste 
O DIA QUE ARRANQUEI 3 
DENTES 
GS-2 PAQUERA 
LL-1 
Lido Lendo Centro-Oeste 
Como eu Leio 
LL-2 
LIDO nas Férias + O que 
estou LENDO 
PC-1 
PC Siqueira Sudeste 
Sonhos, Medo de Escuro e 
Deus no Twitter 
PC-2 
Crianças Feias, Poesia de 
Twitter e Skyrim 
PC-3 
Afrodisíacos, Frio e Trapacear 
a Vida 
PC-4 
Justin Bieber Maconheiro, 
Caça as Bruxas e Stop 
PT-1 
Arthur Petry Sul 
E AE #2 
PT-2 É TUDO MERDA 
RC-1 
Por Rachel Norte 
Como Usar Seu Corpo Ao Seu 
Favor 
RC-2 
Meninas Que Jogam Video 
Game 
SD-1 
Sidinho Pop Centro-Oeste 
1º semestre Faculdade de 
Jornalismo 
SD-2 33 fatos sobre mim 
WN-1 
Whindersson Nunes Nordeste 
MULHER CAGA 
WN-2 
Namoro, relacionamentos, 
amor e bla bla 
 
 
13 
 
 
CORPUS DE CONTROLE – PORTUGUÊS EUROPEU INFORMAL 
Abreviação Vlogueiro/Canal Título do videolog 
AC-1 
Anny Is Candy 
A socialização 
AC-2 2014 
FR-1 
Feromonas 
A Xbox One + Fera 
FR-2 Mio 
NB-1 
Nurb 
Diferenças e semelhanças dos festivais a que eu 
fui 
NB-2 A tua mãe é tão gorda que dá leite de morsa 
SL-1 
Segundas-Feiras com o 
Luz 
Flappy Bird, Estádio da Luz e Dia dos Namorados 
SL-2 Selfies e Oscars 
 
 
CORPUS DE CONTROLE – PORTUGUÊS BRASILEIRO FORMAL 
Abreviação Informante/Expositor Evento 
FS Fernando Sardinha Videoaula: “Biotipos 
MB Marcelo Bonecker Palestra: “Por um futuro sem cárie” 
MS Márcia Cristina Souza Palestra: “Ética no ambiente de trabalho” 
RS Rachel Sheherazade Discurso na Câmara de João Pessoa 
 
14 
 
Índice 
Introdução .............................................................................................................. 16 
2 - Metodologia ....................................................................................................... 23 
2.1 – O material de análise ........................................................................ 23 
2.2 – Seleção ............................................................................................. 24 
2. 3 – Coleta dos dados ............................................................................. 25 
2.4 – Análise de ocorrências ...................................................................... 28 
3 – O direcionamento teórico da análise .............................................................. 30 
3.1 – Conceitos gerais ............................................................................... 30 
3.2 – A aplicação da teoria em uma investigação da realização do sujeito 32 
4 – O gênero discursivo em análise ..................................................................... 37 
5 – A marcação verbal do sujeito de 1ª pessoa do singular ............................... 43 
6 – Análise dos dados ........................................................................................... 48 
6.1 – Resultados da análise do preenchimento do sujeito de 1ª pessoa do 
singular no português brasileiro informal ................................................... 48 
6.1.1 – Apresentação e comparação dos dados ..................................... 48 
6.1.2 – Distribuição regional ................................................................... 50 
6.1.3 – Marcação .................................................................................... 51 
6.1.4 – Casos atípicos ............................................................................ 53 
6.2 – Resultados da análise do preenchimento do sujeito de 1ª pessoa do 
singular nos corpora de controle................................................................ 55 
6.2.1 – Português europeu informal ........................................................ 56 
6.2.2 – Português brasileiro formal ......................................................... 59 
6.3 – Resultados da análise de potenciais fatores atuantes no 
preenchimento do sujeito de 1ª pessoa do singular ................................... 63 
6.3.1 – O suposto fator decisivo: a exclusividade desinencial ................. 63 
6.3.1.1 – Resultados quantitativos ...................................................... 63 
6.3.1.2 – Análise dos dados ................................................................ 65 
15 
 
6.3.1.2.1 – Sujeito expresso com desinência exclusiva ................... 65 
6.3.1.2.2 – Sujeito expresso com desinência não exclusiva ............ 66 
6.3.1.2.3 – Sujeito zero com desinência exclusiva ........................... 71 
6.3.1.2.4 – Sujeito zero com desinência não exclusiva .................... 72 
6.3.2 – Um fator pouco óbvio para o fenômeno em questão: a polaridade 
dos enunciados ..................................................................................... 75 
6.3.2.1 – Resultados quantitativos ...................................................... 77 
6.3.2.2 - Análise dos resultados .......................................................... 79 
6.3.2.2.1 - A hipótese da motivação prosódica ................................ 80 
6.3.2.2.2 - A hipótese da pressuposição .......................................... 87 
6.3.3 – Um fator não previsto, mas altamente influente: a natureza 
adjetiva da oração em análise (oração relativa) .................................... 93 
6.3.3.1 – Resultados quantitativos ...................................................... 95 
6.3.3.2 - Análise dos resultados .......................................................... 96 
6.3.3.2.1 - A hipótese do candidato favorecido ................................ 96 
6.3.4 – Um fator de determinação textual: a reiteração de predicações em 
1ª pessoa do singular .......................................................................... 102 
6.3.4.1 - Resultados quantitativos ..................................................... 109 
6.3.4.2 – Análise dos resultados ....................................................... 113 
6.3.5 – Um fator instanciado na ausência de motivações prevalentes: o 
priming ................................................................................................ 118 
6.3.5.1 - Resultados quantitativos ..................................................... 124 
6.3.5.2 – Análise dos resultados ....................................................... 126 
7 – Conclusões ..................................................................................................... 131 
Referências bibliográficas ................................................................................... 145 
 
 
16 
 
INTRODUÇÃO 
 
Por ser o português uma língua cujo paradigma conjugacional traz, tradicionalmente,desinências específicas para cada pessoa verbal, também com formas distintas para 
o singular e o plural, seria de esperar que fosse canônico nesse idioma o 
apagamento do sujeito pronominal. No entanto, esse comportamento não parece ser 
consagrado no português brasileiro, variedade em que o preenchimento do sujeito 
pode ocorrer mesmo quando, à primeira vista, não se verifica nenhuma circunstância 
que torne tal explicitação funcionalmente necessária, sobretudo na oralidade 
informal. O apagamento do sujeito, se muito frequente em uma produção, 
normalmente resulta em uma sensação de artificialidade, mesmo quando não causa 
problema de interpretação. 
Diante desse cenário, parece pertinente averiguar o que há por trás da 
escolha entre explicitar ou apagar o pronome-sujeito no português brasileiro. O 
principal fenômeno de interesse neste trabalho será, portanto, a realização do 
sujeito. No entanto, esse fenômeno não será explorado em toda a sua dimensão, e 
sim com duas restrições altamente determinantes do rumo da investigação. A 
primeira restrição diz respeito à pessoa e ao número gramaticais: a investigação 
será limitada à 1ª pessoa do singular. A segunda diz respeito ao registro: a 
investigação será limitada à língua informal. Fica definido, assim, o objetivo geral 
deste trabalho: identificar e descrever os fatores que condicionam a escolha entre 
preenchimento ou omissão do sujeito eu no português brasileiro informal 
(obviamente com uma delimitação do objeto de análise). 
O estabelecimento da 1ª pessoa como alvo da investigação implica um 
afastamento da referenciação interna ao texto (endofórica), associada ao uso da 3ª 
pessoa, e leva a uma concentração no mecanismo da referenciação que vai para 
fora do texto (exofórica), relacionada à autoinserção do falante em sua própria 
construção. Em outras palavras, o que está em foco aqui não é a referenciação que 
engloba a introdução e a ligação das entidades que fazem parte do texto – e, por 
isso, é altamente coesiva (Halliday e Hasan, 1976; Halliday, 1994) –, e sim a 
referenciação que vai ao elemento primeiro da situação do discurso, o enunciador 
(Benveniste, 2005; Flores, 2005), cuja autoinserção no texto não é dependente de 
menções prévias. 
17 
 
Esta pesquisa tem seu embasamento primário nas teorias funcionalistas, que, 
embora diferentes entre si, estão de comum acordo quanto à indicação da 
competência comunicativa como principal objeto de investigação. Em outras 
palavras, interessa a uma pesquisa funcionalista entender o que garante a eficiência 
da comunicação. Às expressões linguísticas, que são o principal meio de que o 
usuário dispõe para comunicar-se, ficam atribuídas diversas funções. Decorre disso 
que, teoricamente, se o usuário pode escolher entre apresentar o que em princípio 
seria o mesmo conteúdo por meio de duas (ou mais) expressões linguísticas 
diferentes, cada opção terá um efeito diferente na comunicação. E o falante “sabe” 
disso, o que é evidenciado pelo fato de que, em princípio, ele usa uma forma com 
determinado efeito quando este está alinhado com seus propósitos interativos. 
Como exemplifica Furtado da Cunha (2010, p. 157), serão as motivações 
pragmáticas do usuário em uma dada situação que determinarão se ele dirá Você é 
desonesto ou Desonesto é você. O mesmo, aqui se supõe, deve ocorrer com a 
escolha entre sujeito preenchido e sujeito zero. 
Com essas considerações, chega-se aos objetivos específicos deste trabalho, 
que acompanharão o objetivo geral de determinar os fatores condicionantes da 
realização do sujeito eu: 
1 - buscar a relação de frequência entre sujeito expresso e sujeito zero em 
uma amostra do português brasileiro informal – e, em seguida, contrastá-la com a 
frequência encontrada em dois corpora de controle; 
2 - determinar os fatores motivadores do preenchimento e da omissão do 
sujeito de 1ª pessoa do singular de modo que se possa ter alguma previsibilidade 
sobre a escolha do falante entre eu e zero em uma dada situação; alternativamente, 
concluir que a escolha entre eu e zero ocorre de forma aleatória; 
3 - descrever os efeitos produzidos por cada uma das duas opções na 
comunicação, isto é, a “diferença” entre usar eu e usar zero; alternativamente, 
concluir que é falsa a pressuposição de que essas opções produzem efeitos 
diferentes. 
Resta, ainda, descrever duas metas que são mais adequadamente 
apresentadas como verificações paralelas de interesse do que como objetivos gerais 
ou específicos. A primeira diz respeito à busca por uma explicação objetiva para a 
estranheza (mais perceptível na oralidade do que na escrita) que é causada pela 
omissão sistemática do sujeito eu. Interessa a este trabalho explicar por que, mesmo 
18 
 
quando não traz prejuízo à compreensão, a omissão do pronome eu em todas as 
instâncias da 1ª pessoa do singular resulta em uma construção de aparência artificial 
ou endurecida. Isso fica ilustrado quando, em correlação com uma passagem do 
corpus como 
(1) de madrugada eu também desenvolvo uma espécie de medo do escuro... eu não 
sei por que de madrugada eu fico com:: medo das coisas que nem criança... que nem 
quando eu vou pegar um copo d‟água na cozinha... e tá escuro e eu tenho medo de 
atravessar a:: a sala. (PC-1) 
imagina-se uma construção como a que segue, com todos os sujeitos de 1ª 
pessoa apagados: 
(1a) de madrugada ø também desenvolvo uma espécie de medo do escuro... ø não 
sei por que de madrugada ø fico com:: medo das coisas que nem criança... que nem quando 
ø vou pegar um copo d‟água na cozinha... e tá escuro e ø tenho medo de atravessar a:: a 
sala. 
O fato de alguns sujeitos elípticos (como o último, ligado à forma tenho) 
contribuírem mais do que outros para a impressão de artificialidade constitui um 
ponto de especial interesse investigativo. Espera-se que a identificação dos 
contextos que favorecem (e desfavorecem) a explicitação do eu torne possível 
apontar de forma mais criteriosa os casos em que a omissão desse pronome parece 
mais ou menos forçada. 
A segunda verificação paralela está relacionada à exploração do português 
brasileiro informal. Interessa a este trabalho descrever, mesmo que em uma simples 
parcela, características desse registro, que com tanta frequência é indevidamente 
associado à modalidade oral. O indivíduo que se aventura a buscar material teórico 
relacionado à língua informal é quase invariavelmente direcionado a estudos da 
língua falada, apresentados como o material teórico mais próximo disponível. 
Entretanto, entendendo-se que língua falada e língua informal não são a mesma 
coisa, busca-se aqui empreender uma descrição do português brasileiro informal 
como um campo fértil e independente a ser explorado, e não como um apêndice 
levado em conta por acaso em outra área de estudo mais consolidada. É certo que, 
em um trabalho concentrado em um único fenômeno gramatical (no caso, na 
realização do sujeito eu), uma descrição do português brasileiro informal em toda a 
sua dimensão, isto é, a elaboração de uma “gramática do português brasileiro 
19 
 
informal”, é uma tarefa inexequível. Ainda assim, espera-se que a investigação 
desse fenômeno propicie ao menos algumas descobertas relacionadas à variedade 
linguística em que ele é investigado. 
Ter o Funcionalismo como base também dirige a escolha do material de 
análise, levando à eleição de uma amostra representativa da linguagem viva. 
Embora o analista possa utilizar-se de construções inventadas em algumas 
situações, essas simulações têm papel bastante limitado. Somente a produção real 
permite uma análise verdadeiramente frutífera, uma vez que somente nela estará 
em jogo todo o processamento de “cognição e comunicação, processamento mental, 
interação social e cultura, mudança e variação, aquisição e evolução”1 (Givón, 1995, 
p. xv) que o uso da língua envolve, e que roteiros de obras de ficção ou campanhas 
publicitáriasgeralmente não reproduzem com fidelidade. Com isso em mente, 
buscou-se um material que representasse a linguagem em seu uso efetivo, o que, 
finalmente, levou à eleição do gênero dos videologs como corpus principal desta 
pesquisa. Mais especificamente, o corpus é composto por videologs informais de 
falantes do português brasileiro, de modo a possibilitar uma análise da língua real 
em uma modalidade não roteirizada e marcada pelo registro de interesse deste 
trabalho. 
Parte-se desta etapa inicial com a hipótese de que a escolha entre eu e zero 
é primariamente condicionada por um fator pragmático. Nessa hipótese, o sujeito 
seria categoricamente explícito nas situações em que o falante o apresenta como 
um elemento contrastivo: por exemplo, quando for de seu interesse especificar que, 
enquanto outros indivíduos não executaram uma dada ação, ele (o falante) a 
executou. Isso não significa, no entanto, que o sujeito expresso ocorra 
exclusivamente nessas situações: a hipótese não exclui a possibilidade de o sujeito 
ser explicitado sem que tal necessidade pragmática se verifique; propõe-se apenas 
que, quando presente, ela deve garantir a explicitação. O motivo principal seria o 
fato de a desinência verbal, por si só, não ser capaz de comportar a tonicidade que é 
característica do foco contrastivo, sendo necessário, portanto, um pronome reto, que 
pode ser tônico. 
Naturalmente, não se espera que a necessidade de contraste seja a única 
força em operação no fenômeno da realização do sujeito: o corpus escolhido será 
 
1
 Tradução de Neves (1997, p. 3). 
20 
 
analisado em função de diversos fatores, com o intuito de distinguir os que se 
mostram determinantes na escolha entre sujeito preenchido e sujeito zero. Esta 
etapa introdutória prevê, ainda, como possível resultado, a classificação da variação 
como livre, caso nenhum dos fatores analisados demonstre condicionar a escolha 
em questão de forma consistente. 
Encerra-se esta seção com um delineamento do trajeto investigativo 
desenvolvido. O capítulo inicial é voltado para a apresentação da metodologia do 
trabalho. Primeiramente, é oferecida uma breve explicação do gênero dos textos que 
serviram como corpus primário. Em seguida, são descritos os procedimentos de 
seleção de exemplares desse gênero, da coleta dos dados desses exemplares e, 
finalmente, da análise desses dados. 
No capítulo seguinte, são expostos os principais conceitos teóricos que 
norteiam a investigação. Conforme declarado, este trabalho tem seu embasamento 
primário nas teorias funcionalistas; no entanto, dada a importância aqui atribuída a 
questões como registros e níveis de monitoramento, pareceu pertinente recorrer 
também à sociolinguística, entendendo-se que aportes desse campo da Linguística 
tornariam as análises mais proveitosas. 
Expostos os procedimentos de pesquisa e a base teórica, a seguir se oferece 
uma descrição mais detalhada do gênero videolog. Alguns tópicos de discussão são 
os métodos de produção comuns aos videologs, os propósitos com que um videolog 
normalmente é criado e os motivos que estão por trás da escolha desse gênero 
como material de análise. 
Antes de passar à análise dos dados encontrados, o trabalho traz uma 
incursão pelo fenômeno da mudança do quadro pronominal do português brasileiro, 
processo intimamente ligado à perda do princípio pro-drop apontada por Duarte 
(1995) nessa variedade do idioma. Essa etapa tem como meta uma apresentação 
dos paradigmas de conjugação realmente usados pelo falante do português 
contemporâneo – isto é, paradigmas diferentes daqueles tradicionalmente 
associados ao idioma –, de modo a tornar claros os pontos onde há e onde não há 
exclusividade desinencial para a 1ª pessoa do singular. 
A análise tem início com a apresentação e discussão de um quadro 
quantitativo geral da realização do sujeito eu no português brasileiro informal, obtido 
a partir do levantamento das ocorrências do corpus primário. A apresentação desses 
dados deve permitir a sinalização de casos atípicos, isto é, de casos em que a taxa 
21 
 
de preenchimento do sujeito é anormalmente alta ou baixa. Espera-se que esses 
casos tragam pistas relacionadas às circunstâncias que influenciam 
significativamente o fenômeno em análise. 
Durante as apresentações dos dados quantitativos, um espaço é reservado 
para a breve exploração dos dados encontrados em dois corpora de controle: um 
representativo do português europeu informal e outro representativo do português 
brasileiro formal. 
O interesse por trás da inclusão do português europeu como corpus de 
controle não é apenas o de comparar os resultados dessa variedade aos da 
variedade representada no corpus primário. Interessa, também, comparar os 
resultados encontrados nesta pesquisa com os resultados já apresentados em um 
importante trabalho realizado na área. Ao investigar a realização do sujeito no 
português europeu, Duarte (1995) chegou à conclusão de que o sujeito zero é a 
opção favorita nessa variedade do idioma, em todas as pessoas do discurso. 
Embora a autora já tenha utilizado em sua pesquisa um corpus de natureza 
coloquial, interessa aqui descobrir se o português europeu mantém a configuração 
por ela encontrada – isto é, a preferência pelo apagamento do sujeito – mesmo em 
uma situação comunicativa tão informal quanto a de um videolog. Vale apontar 
desde já que, embora o português europeu tenha revelado inclinação ao sujeito nulo 
na pesquisa de Duarte (1995), a 1ª pessoa do discurso foi a que apresentou maior 
tendência a ter seu pronome-sujeito explicitado. 
O português brasileiro formal, por sua vez, foi escolhido como corpus de 
controle com o objetivo de confirmar o poder atribuído à informalidade de favorecer a 
explicitação do sujeito. Em outras palavras, por motivos que serão explicados mais à 
frente, este trabalho está, de certa forma, embasado na hipótese de que um nível 
baixo de formalidade deve favorecer uma alta frequência de preenchimento do 
sujeito. Uma comparação entre os dados encontrados na língua informal e os 
encontrados na língua formal pode servir como meio de confirmar (ou descartar) 
essa hipótese. 
A análise que se apresenta nos capítulos seguintes, passando por potenciais 
fatores condicionantes de natureza diversa (sintática, prosódica, pragmática), deve 
sinalizar os contextos em que os falantes, em geral, são mais inclinados à expressão 
e ao apagamento do eu. Espera-se que essas descobertas favoreçam uma melhor 
22 
 
compreensão do fenômeno da realização do sujeito, bem como de seus efeitos na 
interação e de sua relação com a informalidade. 
 
23 
 
2 - METODOLOGIA 
 
2.1 – O MATERIAL DE ANÁLISE 
 
Na busca por um corpus que refletisse a realidade da linguagem em sua forma mais 
espontânea, não marcada por autocensura ou preocupação com a forma, 
certamente o ideal seria uma gravação secreta de indivíduos em uma situação de 
conversação cotidiana. Somente um trabalho baseado em produções linguísticas 
cujos autores não tenham ciência de estar sendo documentados pode pressupor a 
ausência de monitoramento da parte dos falantes. Até mesmo esses casos, na 
verdade, podem não ser completamente livres de monitoramento: são tantas e tão 
subjetivas as variáveis envolvidas que nunca é possível, diante de um enunciado, 
afirmar com certeza que sua estruturação não foi calculada. 
Tendo em vista que nem a omissão nem a explicitação do sujeito constituem 
desvio à norma padrão prescrita, o fato gramatical aqui analisado certamente não 
recebe tanta atenção do falante em situações formais quanto, por exemplo, a 
concordância, a regência, a pronúncia (na oralidade) ou a escolha vocabular – 
pontos em que o cuidado do falante pode fazer a diferença entre um uso de prestígio 
e um uso estigmatizado. Ainda assim, julgou-se importante para este trabalho o 
exame de um material emque o monitoramento fosse mínimo ou nulo, com base na 
hipótese de que, mesmo sem estigma, um nível elevado de autopoliciamento 
poderia afetar a realização do sujeito: parece lógico supor que, em certos contextos, 
principalmente quando a desinência já indica a 1ª pessoa do singular, o falante 
preocupado e consciente tenderia a omitir o pronome-sujeito. Um exemplo desses 
contextos seriam as construções formadas por vários verbos em 1ª pessoa do 
singular seguidos. Sendo a não repetição excessiva de palavras um dos cuidados 
característicos da produção monitorada (em circunstâncias em que não há 
justificativa pragmática para a explicitação constante), o falante que se monitora 
normalmente não repetiria um pronome eu para cada um dos verbos da construção 
– diferentemente do que muitas vezes ocorre na fala mais relaxada, como ficará 
evidente mais à frente. Assim, a este trabalho interessa compreender os 
mecanismos de produção linguística dos falantes em uma forma tão livre de tensões 
sociais quanto isso é possível. Os motivos pelos quais o gênero dos videologs foi 
24 
 
escolhido para esse fim estão expostos de forma detalhada no capítulo 4, em que 
esse gênero é caracterizado. 
 
2.2 – SELEÇÃO 
 
Embora os videologs, em geral, possam ser considerados produções amadoras e 
informais, chega a surpreender a quantidade de exemplares do gênero que trazem 
um discurso nitidamente pré-formulado ou mesmo roteirizado. Tornou-se claro que 
não bastaria simplesmente reunir videologs de forma indiscriminada para compor um 
corpus adequado a esta pesquisa, visto que nem todo videolog reúne as qualidades 
de informalidade e espontaneidade aqui buscadas. Iniciou-se, assim, uma procura 
por videologs que apresentassem as características de uma produção desinibida – 
hesitações, truncamentos, reformulações, repetições, palavras-tabus, transgressões 
à norma padrão e, eventualmente, “construções anômalas” (ver capítulo 4). Esses 
sinais guiaram a seleção dos exemplares apropriados para esta pesquisa. 
Outra preocupação que permeou esta etapa foi a de encontrar videologs em 
que houvesse uma ocorrência consistente de discurso na 1ª pessoa do singular. 
Visto que a maioria dos videologs não ultrapassa dez minutos de duração, não é 
muito difícil encontrar exemplares do gênero que transmitam toda a sua mensagem 
com menos de meia dúzia de ocorrências de 1ª pessoa do singular, tornando 
inviável qualquer estudo percentual dos fatores que levam à explicitação e à 
omissão do sujeito eu. Videologs com essa característica foram preteridos. 
Por fim, buscou-se, nesta fase, reunir um material que fosse, minimamente, 
representativo do português brasileiro como um todo, com o intuito de tornar 
adequada a inclusão do nome dessa variedade no título do trabalho. O corpus conta 
com pelo menos dois vlogueiros para cada uma das cinco regiões do país, embora o 
Sudeste seja a região predominante tanto no número de vlogueiros escolhidos 
quanto no volume de material coletado. O Sudeste acabou compondo uma parte 
maior do material de análise por ser mais fácil o acesso aos videologs dessa região, 
que provavelmente são mais numerosos – e certamente são mais divulgados e 
visualizados – que o das outras quatro. Ainda, o site em que todos os videologs 
selecionados estão hospedados não apresenta nenhuma opção de filtragem dos 
vídeos por seu local de origem, o que dificultou consideravelmente a descoberta de 
vlogueiros pertencentes a outras regiões (especialmente à região Nordeste). Por 
25 
 
esse motivo, foi necessário realizar uma extensa pesquisa para encontrar aparentes 
representantes de cada uma delas e, em seguida, investigar os vídeos publicados 
ou a biografia do vlogueiro para confirmar essa origem2. Além disso, dos videologs 
das regiões Norte e Nordeste encontrados, muitos não se enquadravam nos moldes 
necessários a esta pesquisa: em vez da produção espontânea e informal que aqui 
se buscava, esses videologs apresentavam espécies de documentários ou 
“teatrinhos”, tornando-se candidatos inelegíveis para o corpus. 
 
2. 3 – COLETA DOS DADOS 
 
Estando definidos os videologs que serviriam à investigação pretendida, a fase 
seguinte consistiu em registrar as ocorrências de interesse neles contidas, ou seja, 
listar os momentos em que o falante efetua a sua opção entre sujeito preenchido e 
sujeito zero na 1ª pessoa do singular. Para esse fim, foram feitas transcrições das 
gravações, seguindo as normas do Projeto NURC (Preti; Urbano, 1990, p. 7-8). 
Seguir essas normas significa, entre várias outras instruções, indicar a 
incompreensão de palavras ou segmentos com parênteses vazios, restringir as 
iniciais maiúsculas a nomes próprios e a sílabas proferidas com ênfase, pontuar 
qualquer pausa com reticências e sinalizar comentários descritivos do transcritor 
com parênteses duplos. As únicas alterações que esta pesquisa traz em relação ao 
código proposto pelo Projeto NURC são a sinalização das ocorrências de interesse 
(eu ou ø) em negrito e a utilização do sinal “(?)”, também em negrito, para indicar 
ocasiões em que, em razão de audição insatisfatória de trecho que precede verbo 
na 1ª pessoa do singular, não foi possível afirmar com segurança se o eu foi ou não 
explicitado, sendo necessário desconsiderar a ocorrência. É o que pode ser visto 
abaixo: 
(2) em certo momento... durante a viagem... os vidros começaram a ficar todos... 
embaçados... e (?) comecei a limpar:: a janela... (BZ-1) 
Outra razão para desconsideração de ocorrências deriva das edições que 
permeiam o gênero do videolog. A versão bruta de uma gravação de videolog pode 
ser bastante longa. Os autores, para evitar que seus vídeos fiquem longos e 
 
2
 Esse problema se repetiu durante a seleção do corpus de controle composto por videolog 
portugueses. 
26 
 
tediosos (ou simplesmente para evitar que ultrapassem a duração permitida pelo site 
que os hospeda), costumam cortar os trechos que consideram irrelevantes. Esses 
cortes podem, eventualmente, ocorrer imediatamente antes de um verbo na 1ª 
pessoa do singular, tornando impossível para o transcritor afirmar se antes desse 
verbo houve ou não explicitação do pronome eu. Veja-se abaixo: 
(3) foi na oitava série... ((corte na gravação)) tinha nove anos... (WN-2) 
Os critérios que determinam a validez de cada ocorrência não se limitam à 
qualidade auditiva dos segundos que precedem cada verbo na 1ª pessoa do 
singular. Há situações em que a fala está perfeitamente audível, mas acaba 
apresentando alguma sorte de truncamento ou reformulação precisamente no 
momento em que o falante faz sua escolha entre preenchimento e omissão. Em uma 
ocasião em que o falante, já tendo explicitado o eu em uma oração, hesita e 
reconstrói essa oração sem repetir o pronome, é impossível para o transcritor, sem 
recorrer a adivinhações, determinar se o falante apenas completou a construção que 
já havia iniciado, em que o eu já estava expresso, ou se ele a recomeçou, desta vez 
com sujeito zero. Essas ocorrências, portanto, também são descartadas, não 
recebendo o destaque do negrito. É o que se verifica nas passagens seguintes: 
(4) e assim gente eu... eh num sou dona da verdade (...) (FM-1) 
(5) então esse é o motivo... do qual eu não per/ num tô perguntando de verdade 
como é que as pessoas tão... (PC-1) 
Também pareceu apropriado excluir da análise os verbos no infinitivo pessoal. 
A justificativa está no fato de não haver distinção formal entre o infinitivo pessoal e o 
infinitivo impessoal quando o verbo está na 1ª pessoa do singular. Um verbo como 
cortar, se conjugado na 2ª pessoa do singular ou em qualquer pessoa do plural do 
infinitivo pessoal, apresentará formas distintivas como cortares, cortarmos, cortardes 
e cortarem; no entanto, esse mesmo verbo conjugado na 1ª pessoa do singular do 
infinitivo pessoal continuará apresentando sua forma base,cortar. Decorre disso 
que, embora seja sempre possível, diante de um verbo no infinitivo precedido por um 
eu, saber que se trata do infinitivo pessoal, quando se vê um verbo no infinitivo sem 
sujeito expresso nem sempre se pode afirmar com certeza se o verbo é pessoal ou 
impessoal. Para ilustrar a questão, veja-se que nos segmentos abaixo, em que o 
sujeito é explícito, o infinitivo é inequivocamente pessoal: 
27 
 
(6) aí eu procurei no meu Kindle lá o que que tinha lá de uma coisa mais leve pra eu 
ler... (LL-2) 
(7) aliás:: tão falando pra eu cortar a minha barba (...) (PC-2) 
Porém, quando o verbo não vem acompanhado de um pronome-sujeito, 
torna-se necessário recorrer a deduções e análises contextuais para determinar se o 
infinitivo é pessoal (e associado à 1ª pessoa) ou não: 
(8) então PAra de pedir pra qui/ clicar em joinha porque isso enche o saco... (PC-3) 
(9) mas é bom... eu curto... agora é só tomar o meu suquinho de revólver... (e) eu 
vou desbloquear essa conquista... da fase adulta (PC-3) 
(10) e antes de começar eu queria agradecer a todos vocês... (RC-2) 
Assim, a desconsideração dos verbos no infinitivo pessoal serve como uma 
forma de evitar um favorecimento indevido da explicitação sobre a omissão. Afinal, 
se esses verbos fossem considerados, cada ocorrência de [eu + infinitivo] seria 
rapidamente encaminhada ao grupo da explicitação, elevando o seu número, 
enquanto cada ocorrência de [ø + infinitivo] seria causa de dúvida quanto à intenção 
do falante. Visto que só acabariam sendo incluídas as ocorrências em que o 
contexto tornasse incontestável a natureza pessoal do verbo, muitas ocorrências 
que o falante também pretendia como de 1ª pessoa do singular, por não evidenciar 
sua pessoalidade, não seriam encaminhadas para somar aos números da omissão. 
De qualquer forma, essa medida pode não ser suficiente para evitar 
totalmente o favorecimento da explicitação do sujeito nos resultados, em razão de 
questões práticas da transcrição. Tome-se como exemplo o primeiro fator 
desqualificador de ocorrência mencionado, ou seja, a necessidade de uma 
qualidade auditiva mínima da fala do autor no momento da ocorrência. A palavra eu 
pode ser proferida com mais ou menos força, de forma mais ou menos clara. 
Enquanto as ocorrências em que ela aparece em tom alto e claro são rapidamente 
aceitas na contagem, é possível que, em muitas ocorrências em que o falante não a 
profere, o transcritor não saiba se ela de fato não foi proferida ou se ela apenas foi 
proferida com menos força e clareza, não tendo opção senão descartá-la. Algo 
semelhante acontece com as exclusões devidas a cortes na gravação próximos ao 
momento da ocorrência: quando a gravação é retomada já no instante do 
proferimento de um verbo, como acontece em (3), torna-se necessário excluir a 
ocorrência por não ser possível determinar se houve ou não um eu imediatamente 
28 
 
antes da retomada. Isso pode levar à exclusão de várias ocorrências em que o 
falante, simplesmente, iniciou sua fala com um sujeito zero – mesmo porque é 
improvável que o falante, ao editar a gravação bruta, tenha voluntariamente cortado 
a primeira palavra de um segmento que julgou adequado para integração no vídeo 
final, transformando um eu tinha nove anos em tinha nove anos. 
Contudo, vale apontar que, por dois motivos, é bastante provável que 
diversas instâncias em que o sujeito era preenchido também tenham sido 
descartadas. Primeiro: é presumível que os critérios de descarte acima descritos, 
embora apresentem maior probabilidade de excluir ocorrências de sujeito zero, 
também tenham eliminado algumas de sujeito preenchido. Segundo e mais 
importante: durante a transcrição, foram classificadas como de sujeito zero as 
ocorrências em que não se verificou uma explicitação sonora do pronome eu; no 
entanto, é possível estimar que o que se tem em alguns desses casos nada mais é 
do que uma supressão fonética. Em outras palavras, haveria casos em que o 
pronome eu, apesar de fazer parte do texto que o falante pretendia proferir, 
simplesmente não teve força suficiente para emergir na fala. Isso remete à natureza 
fisiológica e sonora da fala, bem como ao fato de que, quando se trabalha com a 
língua realizada, trabalha-se com um produto final, com um reflexo da intenção 
original do falante e não com essa intenção em si. 
Espera-se, idealmente, que qualquer desequilíbrio causado pelos critérios de 
desclassificação de ocorrências se tenha anulado ao fim da coleta. Caso um dos 
lados tenha de fato sido favorecido, espera-se que essa imprecisão seja desprezível, 
não alterando de forma significativa a representatividade dos dados coletados em 
relação ao material de que foram retirados. 
 
2.4 – ANÁLISE DE OCORRÊNCIAS 
 
A análise desenvolvida no decorrer do trabalho consiste no isolamento de traços 
considerados como potenciais fatores condicionantes do preenchimento do sujeito 
eu. As ocorrências de 1ª pessoa do corpus são divididas em dois grupos: um grupo 
das ocorrências em que o traço está presente, outro das ocorrências em que o traço 
está ausente. Dentro de cada um desses grupos, faz-se uma divisão entre 
ocorrências de sujeito expresso e ocorrências de sujeito zero. O propósito desse 
procedimento é fornecer uma noção de quais situações favorecem (e de quais 
29 
 
desfavorecem) o preenchimento do sujeito eu. Por exemplo, se dentro do grupo em 
que o traço X está presente há 60% de preenchimento do sujeito, e dentro do grupo 
em que o traço X está ausente a taxa de preenchimento é de 80%, é possível 
concluir que a ausência do traço X contribui para a explicitação do sujeito, ao menos 
quantitativamente. Pretende-se, a partir das tendências numéricas reveladas, partir 
para análises qualitativas. 
 
30 
 
3 – O DIRECIONAMENTO TEÓRICO DA ANÁLISE 
 
3.1 – CONCEITOS GERAIS 
 
Como foi apontado na Introdução, o trabalho tem sua base teórica projetada dentro 
da teoria funcionalista, em especial em suas propostas mais convergentes (Halliday, 
2004; Dik, 1997; Givón, 1993; 1995; Coseriu, 1992; Hengeveld e Mackenzie, 2008). 
Como explicita Neves (2013, p. 16), um trabalho embasado no Funcionalismo traz 
como assunções básicas: a impossibilidade de descrever a língua e, por 
consequência, a gramática como um sistema autônomo (Givón, 1995); a 
compreensão das formas da língua não como um fim em si mesmas, mas como 
meios para um fim (Halliday, 2004); a integração, na gramática, dos componentes 
sintático, semântico e pragmático (Dik, 1997; Givón, 2001); a susceptibilidade da 
gramática às pressões do uso (Givón, 1993); e, de especial relevância para esta 
investigação, a necessidade do falante de fazer escolhas simultâneas dentre opções 
oferecidas pela gramática (Halliday, 2004). 
Ainda segundo Neves (2013, p. 17), são pontos centrais de investigação 
dentro desse aparato de uma teoria funcionalista da linguagem: as relações entre 
discurso e gramática; a liberdade do falante de, dentro de certas restrições, 
organizar suas construções de acordo com suas motivações pragmáticas; a 
distribuição da informação no texto e a importância que o falante atribui a cada bloco 
informacional; o fluxo de informação e o fluxo de atenção, ou seja, a maneira como 
os blocos informacionais surgem no texto e são direcionados pelo falante para a 
absorção do ouvinte. Nesse sentido, têm papel fundamental neste trabalho tanto a 
classificação de blocos informacionais (como dados, acessíveis ou novos) quanto a 
noção de contrastividade, conforme propostas por Chafe (1994) em sua discussão 
sobre o custo de ativação da informação. 
Como pesquisa relacionada a formalidade e informalidade em linguagem, 
este trabalho também deve, naturalmente, buscar sustentação na corrente que 
entende a língua como um organismo composto por diversas variedades que se 
alternam, e não como um organismo unidimensional, isto é, ele deve buscar apoio 
na sociolinguística.É de pacífica aceitação a ideia de que, em qualquer comunidade 
linguística desenvolvida, existem situações em que os falantes sentem a 
necessidade de formular suas expressões linguísticas com mais cuidado, 
31 
 
encaixando-as em certos padrões sociais, e outras situações em que esses mesmos 
falantes se sentem à vontade para expressar-se da maneira que lhes parece mais 
conveniente ou confortável. A seguinte passagem, relacionada à tensão que um 
falante sente ao ter sua fala analisada, reflete essa concepção: 
Qualquer observação sistemática de um falante define um contexto formal 
em que ele confere à fala mais do que o mínimo de atenção. No corpo 
principal de uma entrevista, onde se pede e se dá informação, não se deve 
esperar encontrar o vernáculo em uso. Por mais que o falante nos pareça 
informal ou à vontade, podemos sempre supor que ele tem uma fala mais 
informal, outro estilo no qual se diverte com os amigos e discute com a 
mulher. (Labov, 2008, p. 244, grifos do autor) 
Essa tensão costuma estar intimamente ligada a uma sensação de culpa da 
parte do falante com relação a sua fala. Joos (1967, p. 4), em discussão sobre os 
falantes anglófonos (igualmente aplicável aos lusófonos), aponta que o trabalho dos 
linguistas pouco fez para atenuar essas sensações no falante comum, que se 
repreende quando percebe que sua produção linguística não corresponde àquilo que 
lhe foi ensinado como a única forma “certa” de falar. Joos (1967) afirma que, embora 
a população geral tenha há muito tempo chegado ao consenso de que o clima mais 
proveitoso é aquele que varia, essa população ainda não alcançou a mesma 
conclusão no que diz respeito à língua. O autor declara, no entanto, que esses 
mesmos falantes, tendo ou não consciência disso, são capazes de alternar 
habilidosamente entre as variedades do idioma de acordo com as exigências de 
cada situação. É claro, por outro lado, que, como sugere Labov (2008, p. 251) o grau 
dessa habilidade varia de falante para falante. 
Embora o próprio Joos (1967) sugira que existe uma relação escalar entre 
formalidade e informalidade, isto é, que há vários níveis de formalidade na língua, 
para os propósitos desta pesquisa basta uma distinção binária entre situações em 
que o usuário sente que deve prestar atenção à forma como fala e situações em que 
o usuário fala de forma mais relaxada. Desses dois tipos de produção linguística 
diferentes surgem, obviamente, opções fonológicas, morfológicas, sintáticas e 
mesmo textuais diferentes; desses dois conjuntos de opções, então, surgem duas 
variedades – embora sem uma fronteira rígida que as distinga. No presente caso, 
trata-se do português brasileiro formal e do português brasileiro informal. A 
diferenciação das duas variedades e, sobretudo, a caracterização desta última, é 
tarefa raramente executada sem uma aparente absorção do eixo formal-informal 
pelo eixo falado-escrito, ficando, em termos gerais, a formalidade associada à língua 
32 
 
escrita e a informalidade associada à língua falada. Este trabalho toma como base a 
existência de uma clara distinção entre esses dois eixos, o que, naturalmente, tem 
duas implicações: a de que a língua falada pode ser formal e a de que a língua 
escrita pode ser informal. 
 
3.2 – A APLICAÇÃO DA TEORIA EM UMA INVESTIGAÇÃO DA REALIZAÇÃO DO 
SUJEITO 
 
A realização do sujeito da 1ª pessoa do singular – isto é, a inserção ou não inserção 
do pronome eu na sentença – é, antes de tudo, uma questão sintática. Disso seria 
possível inferir que uma investigação restrita à sintaxe bastaria para explorar esse 
tópico. Como mencionado acima, porém, um dos princípios do Funcionalismo é a 
relação íntima entre sintaxe, semântica e pragmática. Essa visão leva o analista 
apoiado na teoria a incluir todos esses componentes em seu universo de análise, 
com o objetivo de determinar o que está por trás de um fenômeno que, na verdade, 
não é puramente sintático. 
Givón (2001, p. 19) ilustra essa interpendência dos componentes da língua 
com a possibilidade de, a partir de uma “oração neutra” – she cut the meat with a 
knife –, criar um sujeito formado por oração relativa. O autor apresenta estes três 
possíveis resultados: 
a) The knife with which she cut the meat ø (was dull). 
b) *The knife she cut the meat ø (was dull). 
c) The knife she cut the meat with ø (was dull). 
Como uma das motivações por trás da construção relativa é o desejo de 
evitar repetições desnecessárias, e o instrumento da oração neutra é correferente 
com o núcleo ancorador da oração relativa (the knife), esse instrumento acaba 
sendo codificado como zero (ø). Por outro lado, esse zero precisa ser compensado 
de alguma forma para que o valor semântico do referente seja mantido, razão pela 
qual b) não é aceitável. Essa necessidade semântica tem impacto sintático: resulta 
no surgimento de with which no início da oração relativa em a), e no surgimento de 
apenas with ao fim da construção mais informal c). Segundo o autor, essas 
estratégias tornam possível a reconstrução do papel semântico do sintagma omitido. 
33 
 
Assim como a semântica, a pragmática também exerce influência na 
apresentação formal da expressão linguística (Givón, 2001, p. 19): a própria 
formulação de uma construção como a) ou b) normalmente estará associada a uma 
necessidade de topicalizar o instrumento the knife, que resulta no mencionado 
desejo de evitar repetições e, consequentemente, no zero. Referindo-se a essas 
duas construções, Givón (2001, p. 19) sintetiza assim a questão: 
E a estrutura sintática geral de [a), b)] tem alguns traços motivados pela 
necessidade de codificar a semântica proposicional das orações („with‟), 
alguns motivados pela necessidade de codificar seu contexto discursivo-
pragmático (zero), e alguns motivados por uma combinação de ambas.
3
 
Dik (1997, p. 7-8) apresenta a pragmática como o domínio englobador da 
semântica e da sintaxe, sendo a semântica instrumental em relação à pragmática e 
a sintaxe instrumental em relação à semântica. Uma vez que, para o Funcionalismo, 
uma língua natural é um instrumento de interação social (Dik, 1997, p. 5), o objetivo 
primário nessa linha de pesquisa é descobrir a quais propósitos esse instrumento 
serve. Isso faz da pragmática o campo primário do uso da língua. Dentro da 
pragmática, a sintaxe permite ao usuário formar expressões complexas para 
transmitir conteúdos semânticos complexos, e esses conteúdos semânticos 
permitem ao usuário comunicar-se de formas sutis e diferenciadas (Dik, 1997, p. 8), 
atingindo assim seus propósitos na interação. Estes podem ir desde uma mudança 
na informação pragmática do receptor – ou seja, em seu estoque de conhecimentos, 
crenças, pressuposições, opiniões e sentimentos – até uma ação física desse 
mesmo receptor, como, por exemplo, acender a luz. 
Para Dik (1997, p. 8), portanto, dentro dessa visão da relação entre os 
componentes da língua, “não há espaço para algo como uma sintaxe „autônoma‟”4. 
Essa sintaxe autônoma a que se refere o autor é o sistema historicamente atribuído 
à língua pelo formalismo – corrente de tradição de certo modo complementar à do 
funcionalismo. Na teoria formalista, o sistema linguístico é entendido como 
independente em relação a todos os fatores externos à própria língua, como a 
intenção do falante, o nível de intimidade entre ele e o ouvinte, e a informação que 
 
3
 Segue o original: And the overall syntax of [a), b)] has some features prompted by the need to code 
the clauses‟ propositional-semantics („with‟), some prompted by the need to code its discourse-
pragmatic context (zero), and some prompted by a combination of both. 
 
4
 Todas as traduções presentes neste trabalho são de nossa autoria, salvo quando explicitado o 
contrário. 
34 
 
ambos compartilham, para citar apenas alguns exemplos. Isso torna a relação entre 
as formas e as estruturasda língua um domínio completamente autônomo em 
relação aos fatores ligados ao seu uso efetivo. Aceitar essa sintaxe autônoma 
implicaria a possibilidade de analisar um fato gramatical como o focalizado neste 
trabalho – a realização do sujeito de uma das pessoas do discurso – sem recorrer às 
condições de produção da construção que o veiculou. Ainda, mesmo dentro do 
campo das formas linguísticas, uma análise formalista tende a não investigar além 
da construção de interesse, ou seja, a não averiguar como a construção em foco 
relaciona-se com o texto de que faz parte. 
A análise funcionalista, além de buscar um mapeamento da gramática do 
texto (e não apenas da frase ou da oração), inclui os fatores externos à sintaxe, 
que, acredita-se, moldam tanto o uso da língua quanto a língua em si (Givón, 1995, 
p. 26; Halliday, 2004, p. 31). Longe de fazer parte de um sistema fechado em si 
mesmo e dissociado das necessidades de seus usuários, as formas linguísticas não 
são, para o funcionalista, elementos arbitrários que começam e terminam em si; são, 
na verdade, meios para um fim. Cabe lembrar a proposta de Halliday (2004, p. 29-
30), segundo a qual a língua tem três metafunções: representar as experiências dos 
usuários (ideacional), modificar as relações entre esses usuários (interpessoal), e 
construir as sequências de discurso coesivas e contínuas que possibilitam tanto 
essa representação de experiências quanto essa interação entre usuários (textual). 
Sendo assim, somente a investigação das situações de uso efetivo da língua 
possibilitaria descobrir o que determina a escolha por uma ou outra forma (sujeito 
expresso/sujeito zero). Foi isso que motivou, neste trabalho, a busca de ocorrências 
reais vindas de falantes do português brasileiro. 
Uma volta a Halliday (2004, p. 23-24) mostra ainda que “um texto é o produto 
de uma seleção contínua em uma rede muito ampla de sistemas”. No caso da 
realização do sujeito da 1ª pessoa do singular, tem-se uma escolha paradigmática 
entre eu e ø. Obviamente, não se trata de uma escolha consciente; na verdade, o 
falante automaticamente faz escolhas significativas voltadas à construção do 
significado pretendido. Assim, pode ser iluminador indagar por que uma opção do 
eixo paradigmático não foi a selecionada. Por exemplo, em uma situação em que o 
falante optou pelo preenchimento do sujeito, o entendimento da razão pela qual o 
sujeito nulo foi preterido pode revelar aspectos importantes desse mecanismo de 
escolhas. 
35 
 
Quando se questiona por que um falante, em dada situação, optou por 
explicitar o sujeito em vez de omiti-lo, ou vice-versa, quase sempre é necessário 
voltar a atenção ao estatuto informacional do sujeito de 1ª pessoa do singular na 
enunciação. Chafe (1994, p. 71-81) explica essa propriedade dos blocos de 
informação segundo o seu custo de ativação, isto é, segundo o esforço necessário 
para, em determinado ponto da interação, tornar uma ideia mentalmente ativa. Uma 
ideia que já estava ativa nesse ponto exige menos esforço para se manter ativa e, 
portanto, constitui informação dada. Por sua vez, uma ideia que estava semiativa 
nesse ponto exige esforço intermediário para se converter em ativa e, 
consequentemente, constitui informação acessível. Finalmente, uma ideia que 
estava inativa nesse ponto requer esforço maior para se converter em ativa e, assim, 
constitui informação nova. Na língua falada, a regra geral é informações novas (e 
acessíveis) surgirem com força na superfície textual, sob a forma de um sintagma 
nominal enfatizado, enquanto informações dadas são expressas como pronomes 
atenuados, quando não simplesmente apagadas da superfície por meio de elipses 
(Chafe, 1994, p. 75). 
O que até aqui se expôs sobre estatuto informacional pode levar à 
pressuposição de que o sujeito pronominal eu seria sempre expresso como um 
elemento átono, quando não apagado. Afinal, visto que esse é o destino das 
informações dadas no que diz respeito à forma, e que a ideia do enunciador do 
discurso nunca pode ser considerada inteiramente nova, faz sentido esperar que o 
sujeito eu receba esse mesmo tratamento. Essa expectativa se desfaz quando se 
acrescenta à equação o fenômeno da contrastividade. Segundo Chafe (1994, p. 76-
7), as situações de contraste são uma circunstância clara em que informações 
dadas podem receber ênfase igual ou mesmo superior àquela normalmente 
associada a informações novas, o que o autor exemplifica com a seguinte 
transcrição5: 
a(A) ... Have the .. ánimals, 
b(A) .. ever attacked anyone ín a car? 
c(B) ... Well I 
d(B) well Í hèard of an élephant, 
 
5
 A passagem é oferecida aqui conforme apresentada pelo autor, com sinais de transcrição diferentes 
dos utilizados na coleta do corpus deste trabaho. 
36 
 
e(B) .. that sát dówn on a VẂ one time. 
Embora a ideia do falante B já estivesse bem estabelecida no discurso, esse 
falante carrega o pronome pessoal I de tonicidade ao construir sua resposta na linha 
d. Isso é devido ao fato de haver outros indivíduos presentes durante a interação, 
que poderiam ter respondido à pergunta em seu lugar e também poderiam ter 
oferecido uma resposta diferente da sua. O exemplo de Chafe, que por acaso 
envolve justamente a explicitação do sujeito da 1ª pessoa do singular, demonstra 
que os falantes, ao selecionar um candidato em detrimento de outro(s), tendem a 
enfatizar aquele que foi selecionado (mesmo quando se trata de um referente 
exofórico). 
Finalmente, no que diz respeito às escolhas dos falantes entre formas 
diferentes que expressam conteúdos semelhantes, cabe ressaltar o papel histórico 
que a sociolinguística teve no início da análise da variação entre enunciados 
antigamente considerados “iguais”. Anteriormente desconsiderados pelos 
estruturalistas, os fatores condicionantes dessas escolhas – em que se enquadra 
precisamente a escolha entre sujeito pleno e sujeito nulo – passaram a constituir 
objeto de estudo dos sociolinguistas, como aponta Labov (2008, p. 14, grifos do 
autor): 
O postulado básico da linguística (Bloomfield 1933: 76) declarava que 
alguns enunciados eram o mesmo. Por conseguinte, eles estavam em 
variação livre, e se considerava lingüisticamente insignificante saber se um 
ou outro ocorria num momento particular. Relações de mais ou menos, 
portanto, eram descartadas do raciocínio lingüístico: uma forma ou regra só 
podia ocorrer sempre, opcionalmente ou nunca. A estrutura interna da 
variação ficava, portanto, removida dos estudos lingüísticos e, com ela, o 
estudo da mudança em progresso. 
Assim, com a variação entre enunciados “iguais” em foco, resta lembrar a 
postulação de Tarallo (2007, p. 5) de que, embora a língua falada possa a princípio 
parecer completamente desordenada, é possível encontrar ordem no “caos 
linguístico”. Por trás de escolhas aparentemente aleatórias, é possível descobrir um 
sistema “devidamente estruturado” (Tarallo, 2007, p. 81), em que ficam claros os 
fatores que direcionam os falantes em uma ou em outra direção. É isso que se 
busca empreender nesta pesquisa, sendo o objeto a escolha entre eu e zero. 
37 
 
4 – O GÊNERO DISCURSIVO EM ANÁLISE 
 
Pode não ser óbvio, em um primeiro momento, o motivo de os videologs terem sido 
escolhidos como um material de análise adequado para esta pesquisa. Com o intuito 
de eliminar essa e outras possíveis dúvidas, este capítulo busca proporcionar um 
melhor entendimento da natureza desse gênero. O videolog ou vlog é 
uma forma predominante do vídeo “amador” no Youtube, tipicamente 
estruturada sobre o conceito do monólogo feito diretamente para a câmera, 
cujos vídeos são caracteristicamente produzidos com pouco mais que uma 
webcam e pouca habilidade em edição. Os assuntos abordados vão de 
debates políticos racionais a arroubos exacerbados sobre o próprio Youtube 
e detalhes triviais da vida cotidiana. (Burgess e Green2009 apud Montanha, 
2011, p. 154) 
Trata-se, pois, de uma mistura do gênero da conversação com o do diário – 
combinação bastante conveniente a esta pesquisa, já que ambos os tipos de 
produção costumam ser informais. Quase tudo nos videologs, aliás, costuma 
propiciar a informalidade: o cenário, normalmente, é a casa – ou, mais 
especificamente, o quarto – do autor (ambiente pessoal, privado); a complexidade 
da produção do vídeo é mínima, tipicamente limitada a edições feitas pelo próprio 
autor, quando tanto; ainda, a ferramenta que hospeda os vídeos permite que os 
espectadores respondam ao autor por meio de comentários escritos, aos quais ele 
pode reagir em vídeos posteriores. Esse último fator caracteriza o autor como um 
indivíduo acessível e próximo a seus ouvintes, distanciando o gênero do videolog do 
gênero do jornal televisivo, por exemplo, em que, como aponta Montanha (2011, p. 
163), “a abertura à interação é limitada e pautada pelo modelo tradicional de 
comunicação (emissor-mensagem-receptor)”. 
A única variável que parece ter o potencial de reverter a informalidade do 
videolog (bem como o de intensificá-la de vez) é o assunto discutido. Canais 
dedicados à criação de videologs com posicionamentos relacionados a temas 
polêmicos, como política, religião, laicidade, feminismo e vegetarianismo, tendem a 
exibir comportamentos linguísticos mais formais, justamente por carregarem uma 
carga de debate, associada a uma busca por adesão e respeitabilidade. Esses 
videologs menos pessoais e mais argumentativos podem, mesmo, trazer amostras 
de edição mais sofisticada, intercalando o discurso do autor com, por exemplo, 
trechos de entrevistas ou documentários que fundamentem a posição tomada. Uma 
vez que, assim como em um debate, a exposição de argumentos-chaves 
38 
 
preestabelecidos é essencial ao sucesso desses vídeos, eles costumam ser 
marcados por produções linguísticas nitidamente menos espontâneas, podendo o 
nível de planejamento prévio à gravação variar desde a anotação de pontos 
principais até a aparente memorização completa de um roteiro. É por esse motivo 
que esses vídeos foram, em geral, descartados durante a coleta do corpus deste 
trabalho. Vale frisar, por outro lado, que certos videologs mantêm suas 
características de informalidade e espontaneidade mesmo ao lidar com questões 
polêmicas, o que permitiu que alguns vídeos desse grupo (embora não muitos) 
fossem selecionados. 
Esta investigação dá prioridade, assim, àqueles vídeos que trazem as 
qualidades aqui tidas como prototípicas dos videologs: linguagem espontânea e 
informal; planejamento de fala limitado à anotação de pontos-chaves; produção 
simples e de natureza ou aparência amadora. Vídeos desse tipo constituirão a parte 
mais substancial do material de análise, isto é, o corpus primário, e qualquer outra 
sorte de material eventualmente analisada neste trabalho terá um papel 
primariamente contrastivo. 
Resta, então, conhecer melhor esses videologs considerados modelares do 
gênero, no que interessa a este trabalho. Suas gravações costumam ser iniciadas 
com um propósito específico: a exploração de um tópico que pode variar desde 
eventos coletivos, como os protestos de junho de 2013, até experiências 
particulares. Porém, bem aos moldes da conversação, raramente os videologs se 
mantêm do começo ao fim restritos ao assunto que inicialmente os impulsionou, 
sendo habitual que uma produção, ao término de seu curso, tenha passado por dois 
ou três temas relativamente independentes. 
Tal ausência de planejamento estende-se ao plano linguístico. A fala é 
marcada por correções e hesitações. O vocabulário é simples e o falante não parece 
censurar o uso de palavras-tabus, o que, de um ponto de vista sociolinguístico, 
funciona como mais uma forte evidência da ausência de automonitoramento. No que 
diz respeito à construção, a informalidade do meio em que se produz esse gênero 
costuma propiciar uma despreocupação em relação ao seguimento da norma 
padrão. Interessa notar, ainda, a possibilidade da ocorrência de construções 
“anômalas”, que não parecem enquadrar-se em nenhum caso de opção entre 
variante padrão e variante não padrão (como a escolha entre ir à padaria – variante 
padrão – e ir na padaria – variante não padrão). Esses casos parecem constituir 
39 
 
verdadeiros acidentes linguísticos, frutos da complicada tarefa de pensar 
simultaneamente em o que dizer e em como dizer, inerente à oralidade (Hilgert, 
2011). A primeira ocorrência adiante traz uma concordância de número gramatical 
que não segue nem a norma padrão nem o molde diastrático estigmatizado (que 
seria nos meu(s) sonho), e a segunda ocorrência traz uma opção de regência 
bastante incomum para o verbo discorrer: 
(11) por algum motivo no meus sonhos eu não consigo a/atirar... (PC-1) 
(12) e como geralmente pessoas não estão bem se elas falassem assim “não:: eu 
não tô bem na verdade” e começasse a discorrer pelo assunto que ela não tá bem... eu não 
ia ter muito como ajudar e ia me arREPENder de ter perguntado como ela tava... (PC-1) 
Não se deve, no entanto, tomar a ausência de planejamento e monitoramento 
como absoluta: trata-se da gravação de um falante que não apenas sabe que está 
sendo gravado, mas produz seu texto especificamente para ser gravado. Esse 
falante, em princípio, preocupa-se com a imagem que passará de si. Também é ele 
quem determina, na etapa final do processo, se o videolog será disponibilizado ao 
público ou não. Ao assistir à própria gravação, está em seu poder decidir se sua fala 
está adequada para a publicação e, se lhe parecer necessário, cancelar ou refazer o 
vídeo – recurso obviamente inexistente na conversação. Nesse ponto, portanto, o 
videolog aproxima-se da escrita, já que o papel e o lápis, unidos ao tempo, permitem 
ao escritor formular e reformular uma produção quantas vezes isso lhe parecer 
necessário. Na discussão dessa faceta dos videologs, não se pode deixar de 
mencionar a ferramenta da edição, que, embora sutil, elimina diversos momentos de 
preparação entre cada fala do autor, na tentativa de tornar o vídeo mais dinâmico. 
Esses cortes, porém, podem fazer a diferença entre haver ou não acesso aos 
instantes em que mais fica evidente o fato de que a produção acontece em tempo 
real, com suas formulações, silêncios e truncamentos. Assim, a ciência (e intenção) 
por parte do autor de estar sendo gravado, bem como a filtragem a que seu trabalho 
é submetido antes de ser publicado, novamente nos leva à seguinte conclusão: o 
corpus ideal para a análise dos recursos linguísticos em sua forma mais espontânea 
seria composto por gravações de falantes que não tinham ciência de estarem sendo 
gravados. Este trabalho, no entanto, parte do pressuposto de que os videologs – ao 
menos os selecionados – são permeados por uma atmosfera suficientemente 
40 
 
informal e relaxada para que a análise se desenvolva de forma satisfatória, 
especialmente quanto ao objeto em investigação. 
Como discutido no capítulo 2, há uma disparidade significativa entre os 
videologs no que diz respeito à ocorrência de discurso na 1ª pessoa do singular. Em 
geral, o surgimento desse tipo de discurso está diretamente vinculado ao grau de 
subjetividade do tema tratado, como evidencia a diferença entre certos vídeos do 
corpus: enquanto um videolog em que o autor discorre sobre as ações 
supostamente condenáveis de uma ministra traz apenas 15 ocorrências de 1ª 
pessoa do singular em sete minutos de gravação, um videolog em que outro autor 
discorre sobre seus gostos e hábitos pessoais traz nada menos que 74 ocorrências 
em cinco minutos. É importante ter em mente, no entanto, que, mesmo nos vídeos 
em que o autor não está falando de si, as ocorrências de 1ª pessoa do singular não 
são inexistentes; como demonstra a comparação que se acaba de fazer, elas 
diminuem, mas não desaparecem por completo. As causas do surgimentoda 1ª 
pessoa do singular nessas produções menos subjetivas, em que o tema é pouco 
ligado à pessoa do autor, são inúmeras e imprevisíveis, mas abaixo estão algumas 
que são frequentes o suficiente para merecer menção. 
a) a expressão de opinião: 
(13) eu acho que todo mundo é assim (...) (FM-1) 
b) a indicação de (des)conhecimento: 
(14) eh:: eu não sei:: o QUE tá acontecendo eh:: nos últimos tempos (...) (FM-1) 
c) e a indicação de fonte: 
(15) eu/ ontem eu vi uma notícia... [DF-2]) 
Finalmente, cabe oferecer um exemplo de um produtor de videologs, isto é, 
de um vlogueiro. Em razão de um cumprimento amplamente satisfatório dos 
requisitos da seleção, boa parte do material eleito para a investigação é proveniente 
do mesmo autor: o vlogueiro PC Siqueira, que se tornou famoso no meio com seu 
canal, chamado “Mas Poxa Vida”. Quase sempre ultrapassando o marco das 
duzentas mil visualizações, seus vídeos refletem o molde anteriormente descrito: os 
temas variam entre os problemas sociais e o mundano; as edições são limitadas a 
cortes e efeitos relativamente simples (por exemplo, preto e branco em momentos 
específicos); a linguagem é informal, não planejada e não monitorada, sem 
41 
 
restrições quanto ao emprego de palavras-tabus. A ausência de roteiro fica 
confirmada no seguinte trecho de entrevista concedida por PC Siqueira (Jesus, 
2011, p. 12-13): 
Sai naturalmente. Não planejo. Só às vezes quando tem um assunto muito 
em voga e acho pertinente comentar, aí eu penso um pouco antes. Mas 
basicamente as idéias são tidas no meio da gravação. 
(...) Eu falo com o conhecimento que tive a partir de jornais e notícias. Não 
faço um estudo profundo. Não é um ensaio, são somente opiniões, vontade 
de falar. 
As informações até aqui apresentadas sobre os videologs permitem sua 
classificação de acordo com o conjunto de traços proposto por Vilela e Koch (2001) 
para o que chamam de gêneros utilitários. Esse grupo é formado pelos gêneros não 
literários, isto é, por “esquemas de ação complexos normalizados socialmente que 
estão ao dispor do falante de uma língua” (Vilela e Koch, 2001, p. 543), e, portanto, 
inclui o videolog. Os três traços propostos pelos autores envolvem a presença 
(física) do interlocutor, o canal do texto e a preparação envolvida na enunciação. 
Assim, o videolog pode ser classificado como um gênero monologal (e não 
dialogal)6, falado (e não escrito) e espontâneo (e não refletido). 
A esses três critérios podem ser somados outros quatro propostos por Helbig 
(1975, apud Vilela e Koch, 2001, p. 541): a publicitação do enunciado linguístico, a 
especificidade do partner, a modalidade de tratamento do tema (explicativa, 
descritiva, argumentativa, associativa) e o grau de contenção ou esforço teórico da 
comunicação. Os videologs enquadram-se de forma positiva no primeiro critério, 
uma vez que são vídeos expostos publicamente na Internet. Quanto ao segundo 
critério da lista, embora alguns videologs sejam direcionados a públicos específicos, 
como é o caso de canais relacionados a videogames ou maquiagem, o videolog aqui 
considerado prototípico trata de assuntos de interesse geral, não havendo 
especificidade do partner. A modalidade do tratamento do tema, por sua vez, não é 
 
6
 Preferiu-se, durante a classificação dos videologs, a oposição monologal/dialogal à oposição 
monológico/dialógico. O termo dialógico – que, segundo Bres (2005, p. 49), é derivado não do 
substantivo comum diálogo e sim do termo bakhtiniano dialogismo – diz respeito à propriedade 
intrínseca a todo enunciado de ser, de alguma forma, direcionado a outros enunciados. O termo 
dialogal, por outro lado, diz respeito a uma propriedade mais concreta e facilmente verificável: uma 
produção é dialogal se envolve falantes em alternância de turno. Os videologs são negativos quanto 
a esse traço, isto é, normalmente envolvem um falante que discursa sozinho (embora obviamente 
seu discurso seja direcionado a alguém). Diante disso, classificar os videologs como monologais e 
não dialogais pareceu mais apropriado do que classificá-los como monológicos e não dialógicos. A 
distinção aqui resumida é exposta de forma mais aprofundada em Bres (2005). 
42 
 
fixa nos videologs como o é em uma receita ou em uma discussão científica. Assim 
como as conversações, a maioria dos videologs não tem toda a sua extensão 
restrita a um só tipo textual, o que, muito provavelmente, é uma consequência da já 
mencionada fácil transição entre temas envolvida no gênero. Por fim, o grau de 
contenção ou esforço teórico da comunicação no videolog comum é baixo, uma vez 
que o falante desse gênero não costuma filtrar sua produção nem recorrer a 
artifícios complexos para expor suas ideias: novamente, apesar de monologal, o 
gênero assemelha-se à conversação, e não exige grande esforço didático. 
A descrição que se acaba de desenvolver está resumida no quadro a seguir, 
em que os critérios “modalidade de tratamento do tema” e “grau de contenção ou 
esforço teórico na comunicação” foram reformulados de modo a permitir uma 
classificação dicotômica, positiva ou negativa: 
 
Gênero Monologal Falado Espontâneo Público 
Videolog + + + + 
 
Gênero 
Associado a partner 
específico 
Associado a tipo 
textual fixo 
Associado a 
contenção ou 
esforço teórico 
Videolog - - - 
 
Os videologs são, portanto, um terreno de análise novo e atraente para 
linguistas, especialmente para aqueles que se encontram diante da difícil tarefa de 
encontrar material produzido em baixa (ou nula) monitoração. A eventual análise de 
outro tipo de material no decorrer deste trabalho será devidamente sinalizada. 
 
43 
 
5 – A MARCAÇÃO VERBAL DO SUJEITO DE 1ª PESSOA DO SINGULAR 
 
Quando se tem como objetivo apontar os fatores que determinam a realização de 
um sujeito pronominal, seja este o eu ou qualquer outro pronome, é imprescindível 
saber até que ponto as desinências verbais são capazes de apontar cada 
combinação número-pessoal de forma inequívoca. Um sujeito de uma pessoa 
gramatical cujas desinências lhe são exclusivas tem, em princípio, menos 
necessidade de surgir na superfície textual do que um sujeito construído com verbo 
cujas desinências são compartilhadas com outra(s) pessoa(s) gramatical(is). Em 
outras palavras, seria de supor que quanto mais as formas verbais na 1ª pessoa do 
singular trouxerem desinências associadas unicamente a essa pessoa e esse 
número, menor será a necessidade, na língua em questão, de que o falante explicite 
o eu para garantir a interpretação correta da estrutura argumental. A seção que aqui 
se inicia, portanto, tem como meta apresentar os casos em que há e os casos em 
que não há exclusividade desinencial do sujeito de 1ª pessoa do singular no 
português brasileiro atual. 
Primeiramente, veja-se, adiante, o paradigma conjugacional do presente do 
indicativo tradicionalmente associado a um verbo regular, como cantar: 
 
canto 
cantas 
canta 
cantamos 
cantais 
cantam 
 
Tem-se aí um modelo em que a cada número e pessoa gramatical se liga um 
morfema distinto. Essa mesma situação de exclusividade desinencial em todas as 
pessoas e números verifica-se em outros dois paradigmas do modo indicativo: o 
futuro do presente (cantarei, cantarás, cantará, cantaremos, cantarão) e o pretérito 
perfeito (cantei, cantaste, cantou, cantamos, cantastes, cantaram). 
44 
 
Mesmo na configuração tradicional (em que a 2ª pessoa mantém suas 
desinências próprias), quando se passa desses três paradigmas de tempo-modo 
para outros, deixa de haver exclusividade desinencial absoluta no quadro, ou seja, a 
exclusividade desinencial deixa de abranger todas as pessoas gramaticais. Observe-
se, abaixo, o mesmo verbo cantar conjugado no pretérito imperfeito do indicativo: 
 
cantava 
cantavas 
cantava 
cantávamos 
cantáveis 
cantavam 
 
Como se pode observar, no pretérito imperfeito do

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