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cão,cão,
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Espaço e Lugar - PEspaço e Lugar - P erspectierspectiva dava da
ExperiênciaExperiência
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AA Exploração dos OceanosExploração dos Oceanos
Josê A. F. DinizJosê A. F. Diniz
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O Mito da NecessidadeO Mito da Necessidade
C.C. M c E v e d yM c E v e d y
 Atlas  Atlas Histórico-GHistórico-G eográfico eográfico UniversalUniversal
Y Y  v  v e se s   L a c o s t e  L a c o s t e
Geografia do SubdesenvolvimentoGeografia do Subdesenvolvimento
Os PaísesOs Países  Subdesenvolvidos  Subdesenvolvidos
R.J.R.J. JOHNSTONJOHNSTON
Geografia eGeografia e GeógrafosGeógrafos
J.J. O . A y o d eO . A y o d e
 Introd Introd ução ução d d ClimatoClimato logia logia dos Trdos Tr ópicosópicos
D a v i d C l a r k  D a v i d C l a r k  
 Introd Introd ução ução à Gà G eografia eografia UrbanaUrbana
K.J.K.J. G r e g o r yG r e g o r y
AA Natu Natu reza reza da da Geografia Geografia FísicaFísica
C l a u d e M a n g a z o lC l a u d e M a n g a z o l
 Lógica do  Lógica do Espaço Espaço InduIndu strialstrial
 A. A. C hC h r i s t o f o l e t t i r i s t o f o l e t t i e o u t r o se o u t r o s
Perspectiva da GeografiaPerspectiva da Geografia
J a c q u e s VJ a c q u e s V e r r i ê re r r i ê ree
AsAs Políticas da PopulaçãoPolíticas da População
DD a v i d  a v i d   D D rr ee ww
ProceProcessos Interativos Homemssos Interativos Homem -Meio-Meio
 Amb Amb ientient ee
D. K. FD. K. Fordeso rdes
Uma Visão Crítica da Geografia doUma Visão Crítica da Geografia do
SubdesenvolvimentoSubdesenvolvimento
L u c i a H e l e n a OL u c i a H e l e n a O . G e r a r d i e B a r b a r a -. G e r a r d i e B a r b a r a -
C h r i s t i n eC h r i s t i n e  N. N. S i l v aS i l v a
Quantificação em GeografiaQuantificação em Geografia
 _  _ BB ee rr tt jj jj a a KK . . BB ee cc kk ee rr
ee
CC l a u d i o A . l a u d i o A . G . E g l e r  G . E g l e r  
BrasilBrasil
Uma Nova Potência RegionalUma Nova Potência Regional
na Economia-Mundona Economia-Mundo
3 9 E D I Ç Ã O3 9 E D I Ç Ã O
gg gg
B E R T R A N D B E R T R A N D B R A S IB R A S I LL
Copyright ©Copyright ©  Cambridge University Pres Cambridge University Press, s, 19921992
Capa: projeto gráfico de Felipe TabordaCapa: projeto gráfico de Felipe Taborda
19981998
Impresso no BrasilImpresso no Brasil
 Printed in B Printed in B razraz il il 
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonteCIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dSindicato Nacional d os Editores de os Editores de Livros, RJLivros, RJ..
Becker, Bertha K.Becker, Bertha K.
B35B35 6b 6b BrasBrasil: il: umum a a nova nova potência potência regional regional na na economia-mueconomia-mu ndo ndo / / BerthaBertha
3a 3a ed. ed. K. Becker, K. Becker, Claudio Claudio A. G. A. G. Egler. Egler. —3a —3a ed. ed. - - Rio Rio de de Janeiro:Janeiro:
Bertrand Brasil, 1998.Bertrand Brasil, 1998.
272p. 272p. —(Co—(Coleção Geografia)leção Geografia)
Inclui bibliografiaInclui bibliografia
ISBN 85-286-0172-2ISBN 85-286-0172-2
1. Geopolítica —1. Geopolítica —Brasil. 2. Planejamento regional —BrasBrasil. 2. Planejamento regional —Brasil. il. 3.3.
Brasil Brasil ——Condições Condições econômicas. Ieconômicas. I . Egler, Claudio . Egler, Claudio A. G. A. G. II. Título.II. Título.
III. Série.III. Série.
C D D - 3 2 0 . 1 2 0 9 8 1C D D - 3 2 0 . 1 2 0 9 8 1
9 4 -1 5 3 7 CDU-3 2 : 9 1 8 .19 4 -1 5 3 7 CDU-3 2 : 9 1 8 .1
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meios, sem a prévia autorização por escrito da Editora.meios, sem a prévia autorização por escrito da Editora.
 Aten Atendemodemos s pelo Rpelo Reeeembmbololso so PoPostastal.l.
SS u m á r i ou m á r i o
LL i si stt aa dd ee  F F i g u r a si g u r a s 77
LL iis ts t aa dd ee  T T a b e l a sa b e l a s 1111
PP r e f á c i or e f á c i o 1313
II A AmbivalA Ambivalência ência de uma Potênde uma Potên cia Recia Re gionalgional 1717
Um Um continencontinen te te desconhecido desconhecido 1818
Capitalismo histórico, economia-mundo eCapitalismo histórico, economia-mundo e
semiperiferia 24semiperiferia 24
Uma Uma via via autoritária autoritária para para a a modernidade modernidade 2929
Este Este livro livro 3636
XXI I A A IIn c o r p on c o r p o r ar a ç ã oç ã o dd oo  B B r ar a s is ill nn aa  E Ec o n o m i ac o n o m i a -M-M u n d ou n d o ::
dd aa CC o l ôo l ô n in iaa àà  I In d u s t r i a l in d u s t r i a l iz a ç ã oz a ç ã o NN a c i o n a la c i o n a l 33 77
O O período período colonial colonial 4040
O O império império mercantil mercantil 5353
O O Estado Estado e e a a industrialização industrialização nacional nacional 6767
A questão nacional, redefinida, passa hoje no plan o interno
 pela questão socia l e a const ruçã o da nação; e a autonomia , no
 plano exte rno, passa pela ques tão tecnológica e da dívida . A
inflação e a dívida externa constituem os desafios que o Brasil
enfrentará nas próximas décadas e cuja solução dependerá
também da trajetória dos Estados Unidos na economia-mundo.
168
5 _______________ 
O L e g a d o d a  M o d e r n i z a ç ã o C o n s e r v a d o r a e a
R e e s t r u t u r a ç ã o d o T e r r i t ó r i o
O Brasil ingressou na modernidad e pela via autoritária, e o
 projeto geopolítico do Brasil-Potência, e laborado e gerido pe
las Forças Armadas, deixou marcas profundas sobre a socieda
de e o espaço nacionais. A economia brasileira alcançou a
 posição de oitavo PIB do mundo , seu pa rque indust ria l atingiu
elevado grau de complexidade e diversificação, a agricultura
apresentou indicadores flagrantes de tecnificação e dinamis
mo, e uma extensa rede de serviços interligou a quase-totalida-
de do território nacional.
 No enta nto , a m aior ia da .população bras ilei ra não partic i-
 pqu^ire tame nte ^das .benesses do crescimento económico. Õ
Brasil.inaugurava. a m odernidade da pobreza. Não a pobreza
 primitiva , mas aque la iluminada pela pequena janela das te las
dos aparelhos de televisão, que se espalhavam nas centenas de
milhares de casas, casebres e favelas. Conectando ricos, reme
diados e pobres no m undo ilusório e utópico das novelas e dos
noticiários programados, a ideologia eletrônica da televisão
169
cumpriu no Brasil um papel único no mundo, en quanto instru
mento de política social e formação de opinião durante o pe
ríodoautoritário e mesmo depois dele.
A mode rnidad e funde-se com a pobreza em um tecido com
 plexo. Como explicar a habil ida de de m ilhares de mecân icos
existentes ao longo de um a vasta rede rodoviária, capazes de
manter uma frota diversificada de veículos, sem que jamais
tenham freqüentado uma escola e, em grande número, sequer
saibam ler e escrever? Não se trata do “arcaico” e do “mode rno”
separa dos po r uma nítida linh a divisória, dos “dois brasis”, ou
da Belíndia, uma Bélgica com uma índia. É mais do que isto,
é uma estrutura híbrida, ambivalente, instável, porém muito
dinâmica. Este é o legado da mod ernização conservado ra, que
será analisado neste capítulo ao nível social, econômico e es
 pacial.  L-0 Lpc ̂ o
A modernidade da pobreza
A modernização conservadora gerou uma pobreza específi
ca, associada à modernid ade. A problemática social da semipe-
riferia se manifesta em um grande descompasso entre expan
são das red es de serviços e de equipamento s coletivos e o pre
cário estado social da nação. O regime autoritário te ntou fazer
uma massificação das políticas sociais, degradando com isso
a qualidade dos serviços. O problema gerencial, operacional e
administrativo das políticas sociais “foi o espaço esquecido do
aparelho estatal” (Lessa, 1990).
 No entanto, a malha “pr ogramada” gerou efeito s imprevis
tos —externalidades do modelo —significando profun das mu
danças estr uturais, como foi o caso da “revolução demográfi
ca” e da fragmentação social. Além disso, a dinâmica social
escapa à regulação estatal; à estrutura oficialmente regulad a con
170
trapôs-se uma sociedade sub terrânea, “paralela”, “não oficial”,
que criou suas próprias regras e suas formas específicas de
resistência.
A explosão demográfica que não houve
O declínio da natalid ade constitui-se talvez na transforma
ção mais importante para o país neste fim de século e tem
implicações ainda não conhecidas. O desconhecimento d a nova
realidade decorre do caráter inédito das tendências recentes,
do fechamento d as informações em círculo restrito de especi
alistas e da campanha internaciona l contra a ameaça da “explo
são demográfica” (Martine, 1989).
A transição demográfica no Brasil —passagem de altos para
 baixos níve is de natal idade e morta lidade —se distingue da tran 
sição clássica dos países europeus por duas características
 bás icas . A prime ira é a velocid ade da transiçã o brasileir a qua n
do comp arada aos padrõ es tradicionais. O Brasil, como outros
 países periféricos, está comp letand o, em algumas década s,
transformações que demoraram de um a dois séculos para se
concretizarem na Europa. E tal velocidade está associada à
redução violenta e surpreendente nos níveis de fecundidade,
com conseqüência para o crescimento vegetativo da popula
ção. O nível mais elevado do crescimento vegetativo brasileiro
ocorreu nas décadas de 1950 e 1960 (2,9% ao ano) devido à
queda do nível de mortali dade associada à industriali zação. Mas
desde o final dos anos 60, a natalidad e começou a declinar, e
o censo de 1980 revelou que a fecundidade caíra de forma
drástica e generalizada em todo o país, tanto nas cidades como
nas áreas ru rais (Fig. 5.1). Essa tendência se confirmou na déca da
de 80; entre 1980 e 1984, o número médio de filhos de uma
 bra sileira teri a de 4,35 par a 3,53 , um decl ínio de 19%. Este
171
declínio foi ainda mais espetacular no Nordeste. Em conse
qüência, o ritmo de crescimento demográfico caiu para 2,5%
na década de 70, estimando-se que atualmente esteja em torno
de 1,8% (Martine, 1989).
/ - ' / / / / / / / /
1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2020
• TAXA DE NATALIDADE TAXA DE MORTALIDADE
Figura 5.1 Transição demográfica no Brasil —1840-2020.
(Fonte: Martine, 1989)
A segunda característica é que a transição não se associa
diretamente à melhoria nas condições materiais de parcelas cada
vez maiores da população. O declínio das taxas de natalidade
não foi fruto de uma política deliberada do governo, mas a
modernização acelerada está na raiz de sua explicação. Trata-
se de impactos ind iretos imprevistos de uma série de políticas
e gastos governamentais para a m odernização da infra-estrutu
ra básica e dos serviços públicos (Faria, 1988; Hirschman, 1986).
172
Particularmente, as políticas de telecomunicações, saúde, trans
 por tes e educação acelera ram a difusão de valores, do conhe
cimento e de novas práticas e atitudes c ulturais que estimula
ram o controle da natalidade e, ao mesmo tempo, os métodos
de controle tom aram-se mais acessíveis. Em pesquisa recente,
observou-se que 73% das mulh eres casadas na faixa de 15 a 44
anos já haviam utilizado a pílula anticoncepcional, sendo que
93% destas haviam comprado o produto diretame nte nas far
mácias, sem nenhum preparo prévio ou acompanhamento
médico (Martine, 1989). Em suma, a população brasileira e ntrou
na era da pílula sem sair da era da miséria.
A disjunção entre indica dores econômicos e sociais sugere
que o c omportamento demográfico e social não está mais rigi
damente ligado às oscilações da economia, não tendendo a se
reverter por que das tem porárias de renda. Significa que, até o
final do século, o Brasil apresentará padrões de fecundidade e
de crescimento populacional próximos aos dos países desen
volvidos nos dias atuais.
O estado social da nação -
Mais da metade da população brasileira é pobre. A pobreza
da nação se m anifesta sobretudo nas altas taxas de analfabetis
mo, nas baixas rendas e nas precárias condições devida. Quase
um terço da populaç ão com mais de cinco anos é analfabeta,
e está concentrada principalmente no Nordeste. Embora o
número de escolas tenha au mentado, o ensino básico faliu: hoje
a criança brasileira permanece, em média, apenas duas horas
e meia por dia na escola, e as taxas de analfabetismo são desi
guais por sexo e por regiões. (Tabela 5.1)
173
T a b e l a 5.1
Taxas médias de aljabetismo no Brasil por região e sexo -
 I  . , 1970-1988 (% ),
c[ \ v M
 N or te 1 N or d es te Su de st e Su l Cen t ro -Oeste Bras i l 2
H o m e n s
1970 54 ,9 38 ,8 74,1 72,1 58 ,7 6 2 ,0
1980 61 ,2 4 5 ,9 80 ,8 8 1 ,4 68 ,2 6 9 ,3
198 8 79 ,8 5 4 ,0 84 ,4 84 ,5 77,2 75,1
Mulhe re s
1970 53 ,7 3 9 ,6 69 ,0 68,1 55 ,1 58,6
1980 6 0 ,9 4 9 ,4 77 ,6 7 8 ,7 67 ,6 68 ,2
1988 8 0 ,6 59 ,4 8 2 ,9 83 ,2 77,8 75,8
To ta l
1970 54 .3 39 ,2 71 ,6 70,1 57 ,0 6 0 ,3
1980 61 ,1 47 ,7 79 ,2 80 ,1 67 ,9 6 8 ,8
1988 80 ,2 5 6 ,7 83 ,6 83 ,8 77 ,5 75 ,4
1 Dados de 1988, exclusive população rural.
2 Dados de 1988, exclusive população rural da região Norte.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970 e 1980.
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), 19Ç8.
A pobreza está relacionada à baixa remuneração do trabalho
não qualificado em oposição à alta remuneração de serviços
técnicos e gerenciais, e a distribuição desigual da renda aumen
tou. (Tabela 5.2)
Apesar da redução das desigualdades regionais —devido
aos ganhos reais registrados no Nordeste e no Centro-Oeste — 
a concentração da renda cresceu. Cerca de 60% da população
economicamente ativa que recebe algum rendimento (52,4
milhões de indivíduos dos quais 35 milhões de homens) não
ultrapassam a casa de dois salários mínimos, o que demarca a
linha de pobreza, atingindo o máximo no Nordeste e o mínimo
174
T a b e l a 5.2
 Distr ibu ição da ren da no Brasil - 1970-89
% 1970 1980 1986 1989
Inferior 10- 1,2 1,1 1,0 0,6
50- 19,4 12,6 12,5 10,4
10+ 46,7 50,9 48,8 53,2
Superior i+ 14,7 16,6 15,2 17,3
I D IJ L, L c n b U i u r a i u g w i i r a w v v . . 1 0 Q , , Q n Q
IBGE, Pesquisa Nacional po r Amostragem Domiciliar (PNAD), 1986, iy»y .
no Sudeste. Um terço dos brasileiros que trabalham recebe até
um salário mínimo (Tabelas 5 . 3 a e 5.3b).
T a b e l a 5.3a
 Desigualdades de renda p or sexo - 19 81-19891
(renda média mensal em dólares)
Sexo 1981 19 83 1985 1987 1989
TÕtãl 155,72 137,75 163 01 178,26 209,27
Homens 250,48 219,83 258,59 277,61 327,64
Mulheres 64 ,77 58,48 71,52 83,85 97,44
1 Exclusivepopulaç ão rural da região Norte.
Fonte: IBGE, 1990b.
175
T a b e l a 5 . 3 b
 Desigualdades regiona is de renda - 1989
(renda média m ensal em dólares)
Brasil1 Norte2 Nordeste Sudeste Sul
Centro-
Oeste
Total
Homens
Mulheres
209,27
327,64
97,94
217,02
335,74
108,86
107,10
169,46
48,97
265,28
413,25
126,83
212,44
333,27
95,12
235,34
368,86
106,39
1 Exclusive população rural da região Norte.
2 Exclusive população rural.
Fonte: IBGE, 1990b.
Além disso, os trabalhadores carecem de amparo legal.
Embora legalmente se exija dos empregadores que assinem a
carteira de trabalho de seus empregados, somente um pouco
mais da metade dos trabalhadores tem carteira de trabalho
assinada, carteira que garante o acesso ao seguro-desemprego,
tribunais do trabalho e benefícios públicos. Esta maciça evasão
do registro legal é uma das mais impressionantes violações da
lei no país. Em todos esses aspectos, a pior situação ocorre no
 Nord este e entre as mulheres. Precárias condições de vida das
famílias e mortalidade infantil são corolários dessas situações.
O acesso desigual e inadequado aos serviços públicos reduz a
renda real. Um dos piores problemas que afetam a saúde é a
: ausência de rede de esgotos, situação que é particularmente grave
no Nordeste (Tabela 5.4). Na década de 80, com a crise fiscal
do Estado, os serviços sociais se deterioraram ao extremo, assi m
como a escola pública. A violência se intensificou nas rua s, bair
ros e domicílios, e o sistema de transporte coletivo, irregular e
apinhado, tri tura a existência cotidiana do trabalhador, que gasta
grande parte dos seus dias em longas viagens da residência para
 I  o trabalho.
í } Áf •
17ê
T a b e l a 5 .4
 Abastecim ento de água e esgoto po r regiões (%) -
1970-1986 
Abastecimento de água Esgoto
Região 1970 1980 1986 1970 1980 1986
Brasil 32,8 54,9 69,9 26,6 43,2 51,1
Norte .19,2^ 39,2 '81,9 -, 8,8 20,4 51,8
Nordeste
Sudeste
1 2 , 4 ^
51,6
31.6
72.6
47,4
84,íb
8,0
43,9
1-8,2
63,5
28,2
71,3
Sul 25,3 52,0 65,4 20,1 40,3 55,1
Centro-
Oeste 19,9 41,7 58,8 15,0 21,8 29,6
1 Exclusive população rural da região Norte.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970 e 1980.
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), 1986.
O campo bra sileiro não é comparável às áreas rurai s da África,
Ásia, nem mesmo com grande parte da América Latina. A
 pobreza rela cionada ao c ampo bras ilei ro está fo rtemente liga
da aos centros urbanos . A maior parte da população de mise
ráveis ocorre em áreas “urbana s”, isto é, núcleos urbanos com
menos de 20.000 habitantes, onde a população d epende tanto
de empregos sazonais e temporários_na agricultura como de
empregos nas cidades?-®  j •
Informações sobre salários, renda, acesso às amenidades,
 prot eção trabalhis ta e alfabetismo. evidenciam que a pobrez a
está concentrada no campo, no Nordeste e entre as mulheres.
Em contrapartid a, as estatísticas sobre as condições sociais pou
co dizem sobre as estratégias de sobrevivência criadas pela
 popul ação pa ra complementa r a renda familia r e resis tir à
 pobreza a bsolu ta. Indícios dessa estratégia pa recem ser o de
clínio da fecundidade e a crescente mobilidade do trabalho.
177
 A mo bil idade do trabalho
A concentração do capital e o crescimento econômico não
repousaram apenas na repressão salarial, mas também na ex
traordinária intensificação da mobilidade histórica dos trabalha
dores. O processo migratório resultou não só na ampliação da
margem de pobreza, mas na emergência de novas frações sociais
que compõ em o universo da sociedade capitalista. Simultane
amente, intensificaram-se a rotatividade do emprego e a “poli-
valência”, isto é, o exercício de múltiplas tarefas ou múltiplos
empregos por um mesmo indivíduo.
Esta mobilidade espacial e social foi induzi da pela mod erni
zação das firmas, por políticas trabalhistas explícitas, bem como
 pol íticas não explíc itas, t end o dois condic ion antes p rincipais .
De um lado, a atração exercida pelos espaços dinâmicos, com
novas oportun idade s de emprego e/ou de acesso à,terra, sobre
tudo no Sudeste, nas metrópoles e, secundariam ente, na fron
teira (Centro-Oeste e Amazônia) (Fig. 5.2). De outro lado, a
modernização da agricultura que liberou a mão-de-obra rural
em todo o país, retirando do Nordeste a quase exclusividade
que possuía como fornecedor de migrantes. A mecanização
subsidiada pelo governo, cujo melhor exemplo é o cultivo da
soja, transformou o Estado do Paraná, de uma “fronteira móvel
cafeeira” no maio r exportad or de mão-de-obra em apenas uma
década (1970/80). A concentração da propriedade da terra
decorren te de sua valorização e do acesso diferenciado ao cré
dito resultou na expropriação violenta de pequenos p roduto
res (posseiros, parceiros, pequenos proprietários, etc.).
Em conseqüência, a mobilidade passou a se dar na escala
nacion al e se fragmen tou a estru tura de classes sociais. A
mobilidade está em grande par te associada à formação de um
novo mercado de trabalho com especificidades regionais. For
mou-se um proletariado diversificado, cujo primeiro tipo é o
 prole tar iado móvel rural -urbano. Nas áreas onde o mercado de
178
t 
ti >s
!
Figura 5.2 Fluxos migratórios no Brasil —1970-1980.
(Fonte: Ablas e Fava, 1984)
179
PoticipoçaoR elativa
CD Imigrantes
Emigrantes
Intensidadedosfluxo s
200 O 400 800 1200
UI i I i 1 i I
Milhares de habitantes
trabalho é melhor organizado, como São Paulo, assalariados
rurais permanentes foram transformados em trabalhadores tem
 porár ios que vivem nas cidades e vão traba lha r diar iam ente no
campo, “osbóias-frias”. Em áreas menos capitalizadas, o cam
 pesina to tradicional se adaptou, transformando-se em semipro-
letários e semicamponeses, vendendo o seu trabalho alternati
vamente para o mercado urbano ou rural depende ndo da esta
ção, e residindo em áreas urbanas. Esse processo significou
maior instabilidade e exploração do trabalho, pois permite
manter baixos os salários, induz à ampliação da jornada de
trabalho e “libera” os patrões das obrigações trabalhistas.
Um segundo tipo de proletariado corresponde aos emprega
dos no se tor urbano formal e informal das grandes cidades e
que respond e em grande p arte por seu crescimento. Ressalta,
de um lado, a formação de um operariado de melhor qualifi
cação associado à expansão da indústria metal-mecânica em
São Paulo. De outro lado, uma fantástica massa de em pregadores
e empregados co nstituindo um a “economia paralela” que foge
da regulação oficial. Ainda pouco estudada, essa massa inclui
atividades muito diversificadas, que vão desde o pequeno ven
dedor am bulante até as pequenas indústrias.
A expansão e diversificação da classe média associada ao
Crescimento dos setores secundário e terciário e do aparelho
do Estado constituem um dos fatos mais marcantes da trans
formação da sociedade brasileira nos anos 60 e 70. Sua situa
ção é instável, na medida em que tem uma propens ão consu-
mista superior aos meios de que dispõe para satisfazê-la e é
sobre quem recai o pesado fardo dos impostos da “economia
oficial”.
O novo significado da urbanização
Uma urbanização com ritmo acelerado, cujas taxas são das
mais elevadas no mundo, constitui a maior força por trás da
modernização autoritária, atuando como um instrume nto e um
 produto das pol ític as gove rnam entais , dos seus efeitos não
 prev istos e dos ajustes espontâneos da sociedade. Is to porque
a urbanização é o nexo da articulação do Brasil à economia-
mundo como semiperiferia. Os núcleos urbanos são a sede das
novas instituições e da circulação de bens, capital e informa
ções e são também o lugar onde a força de trabalho, expulsa
 pela modernizaçã o agrícola , res ide, circula e é ressoc ializada ,
ingressando na modernidade da pobreza.
As transformações estrutu rais da economia e da sociedade
que caracterizam a semiperiferia assumem forma concreta e
expressão máxima na formação de uma cidade mundial, São
Paulo, que se toma um dos centros de controle e acumulaçãode
capital em escala planetária. São Paulo passaa terpodernão apenas
como mais importante núcleo produtivo do país, mas sobretudo
como veículo de articulação financeira, de informação, de P & D,
de indústrias de ponta com a economia-mundo. Preenche, as
sim, duplo papel: estabelece o nexo com a economia-mundo e
exerce o comando da integração econômico-financeira-tecnológi-
ca do território nacional como cabeça de sua rede urbana.
Urbanização acelerada
O Brasil se transformou em um país urbano, em poucas
décadas, comprimindo no tempo um processo que alhures se
fez muito mais lentamente. As áreas urbana s passaram a con
centrar 80 milhões de indivíduos. Ao contrário dos países la-
tino-americanos como os do Cone Sul, que têm urbanização
mais estabilizada, o Brasil manifesta um processo extrem amente
dinâmico devido, em grande parte, ao próprio crescimento
urbano —que não se reduz à mera “inchação” das cidades —à
mobilidade da população e à fronteira móvel.
T a b e l a 5 .5
Taxa de urbanização no Brasil - 1950-1989
Ano PopulaçãoTotal
População Urbana
Absoluta %
1950 51.944.397 18.782.891 36,2
1960 70.197.370 31.533.681 44,9
1970 93.139.037 52.084.984 55,9
1980 119.002.706* 80.436.409 67,6
1989 144.293.110 107.239.796 74,3
* Não está incluída a população rural da região Norte.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1950, 1960,1970 e 1980.
IBGE, 1990b.
Entre 1950-80, dobrou o número total de cidades, mas o
crescimento mais significativo ocorreu nas c idades médias e
grandes. As cidades de mais de 100.000 habitantes passaram
de 11 para 95, representando em 1980, 48,7% da população
urbana do país. Dois movimentos complementares caracteri
zam a urbanização: a acentuação da concentração e a tendência
à dispersão espacial (Davidovich e Friedrich, 1988). (Fig. 5.3)
Em termos de concentração, as regiões metropolitanas au
mentaram sua participação relativa, nos anos 70, de 25,5% para
29,0% do total da população urbana. A indústria teve papel
central no crescimento das metrópoles e das aglomerações
urbanas imediatamente abaixo deste nível. Somente as regiões
metro politanas de São Paulo e Rio dejane iro —com 12 milhões
e 9 milhões de habi tante s, respectivamente —jun tas respondi-
Figura5.3 Urbanização brasileira pormesorregião -1970-1980.
(Fonte : Egler, 1989) '  j~ T '/ 7. ) p>  j'-. >* n
am, em 1980, por 75,4% do pessoal ocupado e quase 65% do
valor da transformação na industrial em todo o país.
Estas metrópoles são secundadas,.tanto ao nível do cresci
mento demográfico, como de situação de renda, por dois tipos
de cidades: a) as que correspondem à desconcentração ind us
trial de São Paulo ou à implantação da fronteira científico-tec-
nológica, e tiveram crescimento demográfico superio r ao da
 própri a região metro pol itana paulista , como é o caso de Cam
 pinas e São José dos Campos; b ) regiões me tropolit anas com
indústrias ou pólos industriais avançados, como Belo Horizon
te (metalurgia e material de transporte), Salvador (petroquími
ca), Curitiba e Porto Alegre (indústrias diversificadas).
A tendência à dispersão urban a, tanto em termos p opulacio
nais, como de renda, se faz por três modalidades, movidas po r
fatores que não se ligam diretamente à indústria, geralmente
correspondendo a posições de contato entre áreas de economi
as diversas. A primeira modalidade é a extçnsão contínua de
centros urbanos a partir da cidade mundial; trata-se de cidades
ricas que balizam regiões de agricultura diversificada e regiões
 basicamente pecuarist as por onde avança a agricu ltura moder
na da soja e da cana-de-açúcar.
A segunda é a formação de uma ampla frente urbana de
interiorização correspondente às grandes capitais estaduais dos
Estados do centro-norte, quejbalizaina urbanização no in terior
como pontos de contato e intermediação entre as bordas da
cidade mundia l e áreas de avanço da fronteira. Papel central na
 pre sen ça de grandes popula çõe s e de renda s rela tivamente
elevadas deve-se ao Estado. O expoente máximo de ssa situação
é Brasília, a capital da geopolítica, que registrou a maior pro
 porção no país da PEA urbana nas mais a ltas c lasses de renda.
A terceira modalidade da dispersão é característica da fron
teira. Inclui centros regionais e locais que constituem a base
logística das frentes de expansão agropecuárias e minerais; inclui
também o crescimento explosivo de pequenos núcleos disper
sos vinculados à abertura da floresta ou a garimpos, que se
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constit uem em locais de reprodução d a força de trabalho móvel,
razão pela qual muitos são tam bém efêmeros, deslocando-se
com o deslocamento das frentes (Becker, 1984).
Pobreza urbana
A urbanização foi sustentada em grande parte por um a es
magadora maioria de mão-de-obra barata e pobre (Santos, 1979).
E ainda assim, o trabalho urbano significa ascensão, pois a
 pro porção de tra ba lhadores na faixa inferior a um salário
mínimo foi de cerca de 25% no Brasil urbano, bem inferior à
 perc enta gem de 38% do país como um todo.
Apesar da multiplicidade de tempos e espaços, persiste, ao
nível regional, a polaridade riqueza/pobre za entre o Nordeste
e São Paulo. No Nordeste, além da pobreza rural, a urbaniz ação
com industrialização induzida não resu ltou na elevação da renda
dos trabalhadores, mesmo nas grandes concentrações metro
 pol itanas . Existe um padrã o nordestino de urbanização: as
cidades apresentam prevalência de baixa renda, em que mais
de 50% da PEA urbana recebem até um salário mínimo.
Ao nível intra-regional e intra-u rbano —a dispa ridade se re
 produz . A região metropoli tana de São Paulo é muito mais rica
do que a do Rio dejaneiro, e a pobreza está contida dentro das
grandes metrópoles. Na região metropolitana de São Paulo, a
 proporção de traba lhadores ganhando até um salá rio mínimo
é 9,2%; na do Rio dejaneiro é superior a 14,0%, e na de Belo
Horizonte alcança quase 21%.
Crescimento econômico com pobreza crescente, movimen
tos espontâneos na economia informal e estruturas econômi
cas formais se complementam para sustentar o crescimento
metropolitano. A pobreza, por um lado, constitui um entrave
à maior expansão das grandes empresas; mas, por outro, per-
185
mite a proliferação de fabricação menos capitalizadas e criado
ras de emprego. O mercado unifica a economia urbana e, quan
to maior a cidade, maior a possibilidade de multiplicação de
atividades informais. Explica-se, assim, a expansão do empre
go —ainda que rotativo e mal remun erado —na indús tria me
tropolitana, ao contrário do que ocorre nas economias centrais.
 No caso brasi leiro, a periferia cresce com a indúst ria e a migra
ção da população de baixa renda. O lugar da riqueza torna-se
literalmente o lugar da pobreza (Santos, 1989).
As metrópoles tornaram-se também o lugar da crise urbana,
das carências sociais de vários tipos manifestando em movi
mentos de “posse iros”, de “invasões dos sem-teto” e loteamen-
tos clandestinos. Elas têm os problemas de gestão complexa
comum às grandes aglomerações urbanas que se repartem entre
distintas adm inistrações locais, bem como os problemas espe
cíficos das cidades de economias periféricas, resultando em ele
vado potencial de conflitos reivindicatórios de direito à ci
dadania.
As grandes aglomerações urbanas tornaram-se o palco prin
cipal da luta pela redemocratização da sociedade e pela preser
vação do parque in dustrial nacional. Amais viva expressão deste
 processo foi a eleição de Luiza Erundina, mulher , mig rante
nordestina e ativista do Partido dos Trabalhadores, para a
Prefeitura da cidade mundial brasileira em 1989.
Complexos e redes: a armadura do território
Entre 1967 e 1982 uma crescente transnacionalização da
estrutura produtiva e um elevado endividamento externo se
verificaram no país. O Estado autoritário, de modo distinto dos
demais países vizinhos do Cone Sul, procurou su stentar níveis
elevados de investimento, não apenas expandindo a rede de
186
infra-estrutura, como tambémavançando à frente do setor pri
vado em segmentos industriais considerados estratégicos para
a consolidação do projeto geopolítico.
Complexos industriais
Com o resulta dode sta política, em 1979, o setor industrial
respondia por_38%^clo PIB, e a participação dos manufatura
dos, que segundo o critério do Banco Mundial corresponde ao
segmento mais dinâmico da indústria, atingia 28% do PIB. A
estrutura ind ustrial brasileira sofreu uma transformação subs
tancial nas últimas du as décadas (Tabela 5.6). Esta mudança
é explicada, em grande parte, p or variações nas participações
de apenas quatro ramos industriais: metalurgia e produtos quí
micos, que aument aram sua participação, e têxteis e alimentos
que reduziram sua participação (Penalver, et al, 1983:9).
T a b e l a 5.6
Taxas de crescimento das categorias industriais no Brasil
- 1966-1980 (índices percentuais anuais)
Indústrias 1966/67 1 96 8/7 3 , 1974/80
Bens de consumo 4,8 11,9 5,0
a) duráveis 13,4 23,6 7,7
transportes 13,1 24,0 3,3
elétricos 13,9 22,6 15,5
b) não-duráveis 3,6 9,4 4,5
Bens de capital 4,5 18,1 -7,1
'Bens intermediários 6,8 13,9 6,8
1^onte: Penalver, M. ct a!., 1983
fv. C i a  T 10 ^
187
n Ç i Pv C - y u i ' t u ffv
Em 1962, a metalurgia e os produtos químicos respondiam
 por 20,5% do tota l da produção industria l, en quanto têxteis e
 produtos alimentares atingiam 34,3%. Em 1980, a situação havia
se invertido, com os dois primeiros ramos dinâmicos respon
dendo p or 33,8% e estes últimos por 21,1% do valor da pro
dução manufatureira. A situação se manteve essencialmente a
mesma pa ra os demais ramos, exceto a indúst ria mecânica, cuja
 par tic ipação cresceu regu larm ente de 2,9% em 1962 para 7,8%
em 1976, declinando ligeiramente para 6,4% em 1980.
Os efeitos desta dinâmica, aliados ao próprio movimento
interno da economia, vão se refletir de modo contraditório sobre
a distribuição territorial da indústria no Brasil. De um lado,
reforçam-se as tendências concentradoras do padrão espacial
fundado na concorrência oligopólica. De outro, observa-se a
disper são do investim ento em localizações privilegiadas, como
 por tos , dis trit os indust ria is incentivados e a Zona Franca de
Manaus. (Fig. 5.4)
É importante ressaltar que este movimento tem pouco a ver
com a emergência d2 uma indú stria regional que se configuras
se como uma estrutura produtiva relativamente autônoma. Pelo
contrário, o deslocamento espacial do investimento industrial,
que se acentua nos a nos 70, foi um processo complementar e
articulado à acumulação no núcleo industrial consolidado. O
desenho da nova divisão territorial do trabalho no Brasil assu
me os contornos ditados pela própria estrutura industrial, com
a conformação de complexos fortemente integrados, como é o
exemplo do químico e do metal-mecânico.
A divisão em complexos industriais é a mais adequada para
analisar a nova divisão territorial do trabalho resultante da
inserção do Brasil como semiperiferia na economia-mundo
(Tabela 5.7). Primeiro, porque rompe com a segmentação entre
indústria, agricultura e serviços de apoio à produção, perm itin
do compreender, por exemplo, o Complexo Agroindustrial
(CAI), como a forma contemporânea de expansão do capitalis
mo no cam po brasileiro. Segundo, porque a e strutura em com-
188
CRESCIMENTO
1 9 7 0 / 80
ES3 1 -
T i l s - io •/•
£23 io •/•
PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Figura 5A   Produção industrial e força de trabalho por
mesorregião -197 0-19 80. (Fonte: Egler, 1989)
189
 plexo ind ust ria l pe rmite verifica r a separação territoria l entre
as atividades de gestão e P & D das atividades produtivas ro
tineiras. Assim, enquanto se centralizavam os escritórios de
gerência e os centros de pesquisa e desenvolvimento, verifica-
va-se a dispersão de fábricas por diversos pontos do território,
depende ndo da qualificação necessária da força de trabalho.
T a b e l a 5.7
Perfil de eficiência dos complexos industriais -1984
(evolução dos índices de produtividade)
Complexos
Setores Tamanho
Ascendente Descendente Indefinido Relativo
Químico 5,1 31,7 63,2 75,9
Metal-mecânico 69,9 22,8 7,3 32,1
Agroindustrial 44,8 39,0 16,2 22,0
Têxtil e calçado 91,5 8,5  —  11,2
Papel e impressão 43,3 34,4 22,1 4,5
Construção  —  60,6 39,4 4,3
TOTAIS 45,8 29,2 25,0 100,0
 Nota: Set or asce nde nte : pro du tiv ida de cres cen te de 1975 a 1984 .
Setor descendente: produtividade decrescente de 1975 a 1984.
Setor indefinido: produtividade decrescente só depois da crise de 1982.
Fonte: Araújo, J. T. et a l , 1989.
A configuração espacial do complexo químico no Brasil é
ilustrativa deste processo. Originalmente concentrado no eixo
entre São Paulo e Rio, onde estão estabelecidas as grandes cor
 pora çõe s mul tinacionais, algumas delas bastante antigas no
mercado brasileiro - como é o caso da Bayer ou da Rhodia es
tabelecidas no primeiro quartel deste século —ele se expandiu
190
e diversificou vigorosamente através de investime ntos maciços,
 principalmente de empresas estatais. Atuando na montagem
das indústrias básicas do complexo, principalmente na petroquí
mica, o Estado comandou o processo de descentralização do
setor com a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari,
na Bahia, e posterior men te o de Triunfo, no Rio Grande do Sul.
 No entanto, a dist ribu ição espacial do complexo mo stra que
as indústrias de química fina, intensivas em tecnologia, conti
nuam concentradas nas vizinhanças da cidade mundial, onde
dispõem de m ão-de-obra treinada e quadros técnicos qualifica
dos indispensáveis para a produção de substâncias químicas
de rigorosa especificação. Do mesmo modo, os ce ntros de gestão
do complexo químico, sejam de empresas estatais ou privadas,
estão c entralizados no eixo Rio—São Paulo, mesmo aquelas cri
adas para operar no Pólo de Camaçari, como é o caso da Nor
deste Química S.A. (NORQUISA), cujo escri tório central se si
tua no centro financeiro do Rio de Janeiro.
De modo semelhante, o complexo metal-mecânico expan
diu sua área de atuação não apenas no entorno da cidade
mundial, mas, também, através da ação do Estado, em novas
localizações. O eixo automobilístico do complexo continuou
 basicamente concen trado em São Paulo, exceto pela implanta
ção da FIAT nas vizinhanças de Belo Horizonte. Entretanto, novas
 plantas indust riais, tanto montadoras de veículos, como de auto
 peças, in ici aram sua operação nas bordas da cidade m undial ,
 principalmente no Vale do Paraíba Paul ista e no Sul de Minas
Gerais, onde havia mão-de-obra treinada e com baixo nível de
sindicalização.
Especial destaque deve ser dado ao eixo eletroeletrônico, pois
sua configuração espacial foi bastan te influenciada pela implan
tação da Zona Franca de Manaus em 1967 que, devido às faci
lidades de importação de peças e componentes, reorientou a
montagem de aparelhos eletrônicos de consumo, como televi
sões, rádios e aparelhos de som para o interior da Amazônia.
A Zona Franca não deve ser confundida com um a Zona de Pro-
191
cessamento de Exportações, pois a maior parcela de sua pro
dução destina-se ao mercado interno. No entanto, apesar de
todas as vantagens fiscais oferecidas, o preço interno dos pro
dutos oriundos de Manaus é quatro vezes maior do que os
 praticad os no mercado in ternac ion al (A rau joJ .T. et al , 1989),
e os incentivos, que deveriam con tribuir para o avanço no
desenvolvimento do setor, são integralmente transferidos para
o exterior através da importação de componentes eletrônicos
efetuados por filiais de grandes corporações multinacionais.
A desarticulação entre as montadoras de pro dutos eletrôni
cos e a indústria de componentes, principalmente de semi
condutores de larga integração, têm sido um entrave para o
desenvolvimento da microeletrônica no Brasil. Isto afeta tanto
a indús tria de informática, como a bélica, que são consid era
dos setores estratégicos pelas Forças Armadas. A eletrônica
embarcada, que inclui desde equipamentos computadorizad os
 pa ra automóv eis até aviões, const itu i um,dos seg men tos m ais
atrasados do complexo, justamente devido à dificuldade de
estabelecer os laços entre a indústria mecânica nacional e a
microeletrônica estabelecida no exterior.
O terceiro complexo em importância no Brasil é o agroin
dustrial; sua conformação representa diretamente os resulta
dos da política agrícola da modernização conservadora. O de
senvolvimento do sistemad ecrédito xural, os subsídios diretos
à tecnificação e os incentivos à exportação foram os instru men
tos básicos para promover a expansão da grande empresa no
campo brasileiro (Tabela 5.8). Este processo converteu a agri
cultura em condição necessária da acumulação na indústria,
articuland o diretamente o complexo agroindustrial em forma
ção, ao químico e ao metal-mecânico.
As mud anças estrutu rais não se resumem aos aspectos eco
nômicos e tecnológicos, mas abarcam tamb ém a estrutur a social.
 Novas relações se estabeleceram entre trabalhadores rurais, com
ou sem terra, e com as corporações que ampliam sua área de
atuação (Muller, 1982). Formas anteriores de produção foram
192
reinventadas sob o co ntrole do capital agroindustrial, como é
o caso do colonato, típico das regiões cafeeiras do início do
século, que assumem novas dimensões justamente onde os
tratos cultura is são intensivos em mão-de-obra, como na cultu
ra da vinha ou na criação de pequenos animais, assim como na
generalização do trabalho temporário e sazonal, caso dosbóias-
frias que habitam a periferia de pequenas e médias cidades.
T a b e l a 5 .8
Empréstimos do sistema bancário nacional à agricultura
-1973-1980 (em bilhões de cruzeiros)
Período
Banco do Brasil Bancos Privados
Total Valor % Valor %
1973 36,6 22,9 62,4 13,7 37,6
1975 105,0 71,2 67,8 33,8 32,2
1977 212,0 154,5 72,9 57,4 27,1
1979 461,3 357,9 77,6 103,3 22,4
1980* 626,8 491,5 78,4 135,3 21,6
* Janeiro/julho.
Fonte: Banco Central do Brasil - Departam ento Econômico.
Avia autoritária brasileira de tratar a questão agrária foi capaz
de garantir a mod ernização da agricultura, através de sua cres
cente tecnificação, mantendo intocável a grande prop riedade.
As conseqüências deste processo foram inevitáveis, com a libe
ração maciça de grandes contingentes populacionais que se
dirigiram para as pequenas e grandes cidades, funcionando
como reserva de mão-de-obra, acentuand o a histórica concen
tração da posse d a terra (Tabelas 5 . 9 a e 5.9b). Na década de 70,
como efeito de medidas anteriores ligadas às áreas fiscal e fi
nanceira e de melhoria das condições de acessibilidade —atra
193
vés de grandes eixos viários que articulam as áreas de maior
desenvolvimento econômico do país com espaços pouco inte 
grados à produ ção —a agricultura apresentou um a ampliação
extrao rdiná ria da superfície cultivada. Registrou-se um aumento
absoluto de 70 .708.955 hectares na área dos estabelecimentos,
o mais elevado desde 1940, como resp osta aos fortes incenti
vos governamentais à ocupação da mata amazônica e do cer
rado, consubstanciados em programas especiais, criados em
1975, para o desenvolvimento do Brasil Norte e Central (Mes
quita , O. e Silva, S.T. 1988).
T a b e l a 5.9a
Percentagem do total de área pertencente às 5%
maiores propriedades rurais no Brasil  — 1960-1980
1960 1970 1980
Brasil 67,9 67,0 69,3
Norte 90,1 64,5 68,6
Nordeste 65,3 66,7 68,3
Sudeste 55,2 53,0 53,9
Sul 56,6 56,3 57,9
Centro-Oeste 64,6 67,4 65,3
Fonte: Hoffmann, 1982.
Mesmo no Nordeste, onde a persistência dos domín ios agro-
mercantis se faz marcante até os dias atuais, a modernização
está presente no s grandes projetos de irrigação e na revitaliza
ção da agricultura canavieira, que recebeu subsídios vultosos
 para a produção de álcoo l combustível. As novas formas de
adaptação tornaram as oligarquias regionais dependentes de
financiamentos e de bens e insum os agrícolas, do mesmo modo
194
que os agricultores do S udeste ou Sul. A questão é q ue isto foi
conseguido através de tratamento privilegiado por parte do
aparelho do Estado, que garantiu não apenas linhas de crédito
especiais, como mercados cativos para a produção regional.
T a b e l a 5.9b
Posse da terra no Brasil - 1985
(em percentagem de estabelecimentos rurais)
menos de 100 ha 100 a 1.000 ha mais de 1.000 ha
n9 área n9 área n9 área
Brasil 90,0 21,2 8,9 35,1 0,1 43,7
Norte 83,0 22,0 15,9 30,2 1,1 47,8
Nordeste 94,3 28,6 5,1 39,3 0,6 32,1
Sudeste 75,8 25,6 23,4 46,7 0,8 27,7
Sul 94,1 39,0 5,4 35,9 0,5 25,1
Centro-O este 6 2, 4 4,8 30,7 25,9 6,9 69,3
Fonie: IBGE, Sinopse P reliminar do Ce nso Agrícola, 1985.
Considerada em seu conjunto, boa parte da modernização
conservadora na agricultura brasileira pode ser resumida na
introdução e difusão d o cultivo de soja no Brasil. Em 1960, a área
colhida com essa oleaginosa era de 171 mil hectares, produzin 
do 206 mil tonelada s; vinte anos depo is, o Brasil cultivava 8.765
mil hectares, colhendo 15.159 mil toneladas. (Fig. 5.5)
Consid erando o conjunto do setor soja —grãos, farelo/torta
e óleo —passou ele a rivalizar com o café para oc upa r o primei
ro lugar em valor, com 12% da pauta da s exportações brasilei
ras em 1980 (Homem de Melo, 1983). A rápida expan são da
área cultivada, abrindo inclusive a fronteira ecológica dos cer
rados p ara a agricultura, seria impossível sem os melhoramen
tos genéticos, a tecnificação maciça dos tratos c ulturais e a grande
195
escala das plantas de beneficiamento. A soja é um produto da
nova fase da agricultura brasileira, onde o complexo agroin
dustrial assume papel preponderan te na moldagem do espaço
rural.
26000
2 1000
CO
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ü 16000<
ÜJQ
CO
£ 11000
<r
 _j
2
6000
1000
Figura 5.5 Evolução da área cultivada com soja. (Fonte: IBGE,
 produção agrícola municipal, vários a nos)
 As redes nac ionais
 A  organização espacial das redes de circulação de mercado
rias, distribuição de energia elétrica e de telecomunicações
constitui um indicador, mesmo que superficial, dos efeitos do
 proc esso de modernização sobre o terr itór io, na medida em
que foram transformadas estruturas espaciais pretéritas e cons-
196
truídas novas formas adequadas ao processo de produção e
gestão da empresa capitalista em sua fase avançada. Neste
sentido, as redes m anifestam a territorialidade dos complexos
industriais. (Fig. 5.6)
Figura 5.6  Redes nacionais. (Fonte: Egler, 1989)
197
A rede de circulação de mercadorias, expressa na malha
rodoviária nacional, delimita, grosso modo, a área de mercado
integrada. Não se trata propriamente de uma estrutu ra monta
da a partir do setor m anufatureiro, pois que reflete as heranças
do passado agrário-mercantil, quando assumia a forma de
“bacias de drenagem ” destinadas a integrar as áreas produtivas
aos portos litorâneos, tal como a rede ferroviária. Sobre estas
“bacias” superimpõe-se o traçado dos grandes eixos nacionais,
que convergem para o centro manufatureiro no Centro-Sul do
 país, como, por exemplo, a BR-116, antiga Rio—Bahia, que se
constitui no primeiro grande eixo de interligação entre o Nor
deste e o núcleo industrial do Sudeste.
A rede de energia superimpõe-se à área industrial central,
mostrando a capacidade da atividade manufatureira de cons
trui r sua base técnica territorial, que, no caso específico da rede
de distribuição de energia elétrica, foi montada nos últimos tri nta
anos com maciço investimento estatal. É corrente conside rar as
fontes de energia como um fator-chave de localização industri
al. Entretanto, dado o caráter tardio da industrialização brasi
leira, que já nasceu buscando atingir economias de escala, e
considerando a mobilidade da energia elétrica, a constituição
do parque industrial ocorreu concomitantem ente com a cons
trução da rede de distribuição de energia, o que resultou na
extraordinária concordância entre a localização de plantas
industria is e os circuitos da rede de energia elétrica.
O resultado espacial deste processo, pode ser percebido
quando se compara o sistema de geração e distribuição de
energia elétrica no Sudeste com seu congênerenordestino.
Enquanto na área industrial central observa-se o adensamento
dos circuitos, formando uma rede complexa, o sistema nordes
tino se apresenta com eixos isolados que atendem os principais
núcleos urba nos da região.
Finalmente, a rede nacional de telecomunicações, expressa
no sistema de microondas, mostra que os maiores aglomera
dos urbanos estão interligados no que diz respeito à circulação
198
rápida de informações a longa distância. A construção desta
rede, iniciada durante os anos sessenta e intensificada durante
a década de setenta, mostra os efeitos da centralização dos
 processos decisórios na cidade mund ial e atende, principalmen
te, às demandãsTiõ^sêtõrfmànceiro, que de pende de ligações
rápidas e confiáveis a longa distância para operar competitiva-
mente.
A principal observação que deve ser feita quanto à rede de
telecomunicações é que, desde o momento de sua concepção,
 já necessariamente é um a rede nacional. Em poucas pa lavras,
é a materialidade espacial da forma mais avançada de operação
capitalista, a em presa financeira multilocacional. É neste sen
tido que é possível compreender o rápido desenvolvimento do
sistema nacional de comunicações a longa distância que, em
duas décadas, interligou todo o território nacional, sem que a
grande maioria da população te nha acesso sequer a um apare
lho telefônico.
O espaço transfigurado
O caráter híbrido da semiperiferia se manifesta também ao
nível da estrutura espacial. A cidade mundial e a m alha progra
mada tendem a sup erar as dimensões das regiões históricas, a
das regiões de política oficial, bem como a e strutura centro-
 periferia. Mas a fluidez do espaço é incomple ta, pelo menos por
três razões.
Primeiro, a proposta de modernização conservadora é em si
limitada, privilegiando grupos sociais, setores de atividades e
lugares selecionados. Segundo, é forte a inércia espacial exer
cida pelo padrão histórico conce ntrado do antigo arquipélago
econômico, escala em que os domínios exercem expressão
máxima e diferenciada. Terceiro, a dimensão continental do
199
 país que perm ite expand ir a mobilização de recursos e o povo
amento, m as favorece também a desigualdade.
Apolitização da estrutura espacial neste contexto foi levada
ao extremo, com o espaço tornando-se instrumento e condição
da mode rnização conservadora. A gestão estatal do território
foi eminentemente estratégica, envolvendo não apenas sua
administração em termos econômicos, mas também as relações
de poder. Entre 1955 e 1970, a política regional procuro u se
identificar com a construção da nação. A macrorregião foi a
escala ótima de operação do tripé, tanto para promove r a uni
ficação do mercado nacional, como para a centralização do poder
governamental. Na década de 70, os grandes projetos geridos
 pelas em presas estata is, em joint -ventures  ou isoladamente,
substituem a política regional através de novos ajustes com as
frações hegemônicas regionais.
A espacialidade da semiperiferia
Os modelos de análise disponíveis para apreender um a re
alidade complexa como a brasileira podem ser grupados em
duas vertentes básicas. O primeiro deles se fundamenta nas
estruturais duais, na c oncepção do tradicional que se opõe ao
moderno como um freio que dificulta o desenvolvimento eco
nômico e a difusão do progresso técnico. A superação da con
cepção dual ista foi feita através do conceito de “heterogeneida
de estrutura l” proposto originariamente por Anibal Pinto (1965),
que refutava a aplicação mecânica de modelos fundados na
‘homogeneidade ’ das estrut uras econômicas e sociais, típicos
das economias centrais, na América Latina. O m érito da con
cepção de Pinto estava em romper o ‘nó górdio’ imposto pelo
dualismo, permitindo compreende r as sociedades latino-ame-
ricanas, não como estruturas imperfeitas ou disformes, mas,
200
 pelo contrá rio , como aquelas que têm na heterogeneidade seu
traço constituinte fundamental.
A questão que fica a descoberto, entretanto, é a de como
compree nder o movimento de uma sociedade heterogênea. Ou
seja, já que ela não “evolui” na direção da hom ogeneidade, qua l
será o seu comportam ento dinâmico? É nesse ponto que o
conceito de semiperiferia de Wallerstein assume importância.
Enquanto síntese contraditória, ela combina, em um mesmo
território e em um mesmo mom ento, espaços e tempos díspa
res cujo ajuste é conseguido a partir de instrum entos políticos,
onde o Estado assum e papel central.
O Estado participou da introdução das rápidas mudanças
do mundo contemporâneo, sincronizando-as com a permanên
cia de estrutu ras diacrônicas, cuj o tempo é definido por rotinas
solidamente enraizadas que tendem a “atrasar” o relógio da
modernidade. Sao ritmos e cadências completamente distin
tos, com diferentes velocidades que convivem em um mesmo
 per íodo tempora l, obrigando a uma complexa gestão dos rit
mos de mudança.
O espaço dos fluxos, conectado aos circuitos internacionais
de capitais, mercadorias e informações, tende a “descolar-se”
do espaço dos lugares, fundado na perm anência de territoria-
lidades historicamente adquiridas, que constituem imensa
resistência a transformações. A semiperiferia é o locus de fortes
tensões que tendem a levar à fragmentação espacial, em várias
escalas, de mosaicos de modernidade em uma superfície irre
gular de miséria.
O Brasil é ím par para exemplificar esta situação, contribu
indo inclusive para melhor precisar o próprio conceito de
semiperiferia. O status de potência regional foi alcançado atra
vés de uma modernização conservadora, que produziu trans
formações significativas, sem rom per com ordem social hierar
quicamente organizada. A gestão autoritária do território foi
um instrum ento essencial para produzir fronteiras, enquanto
indutoras de rupturas; garantir domínios, enquanto suportes
 /  ___  j , r 
do establishment  e consolidar uma cidade mundial, enquanto
nexo com a economia-mundo.
 A fron teira não se resume a uma vasta extensão de terras li
vres, a ser explorada po r homens tamb ém —pretensam ente — 
livres, nem tampouco representa um determinado tipo de
 peri feria. Const itu i um espaço econômico, social e polí tico não
 plenamente est ru turado e pot encialm ente gerador de rea lida 
des novas. A geopalítica do Estado brasileiro construiu, não
apenas uma, mas muitas fronteiras, que deveriam oferecer pers
 pectivas de cre scimento econôm ico, de solução de ten sões
sociais e do pleno exercício do po der sob re o tempo e o espaço.
Os domínios são áreas consolidadas, com estruturas políti
cas relativamente estáveis, mantidas através de alianças com
interesses locais e regionais que participam do bloco do p oder,
dando sustentação ao projeto de modernização conservadora.
Assim se perpetuaram formas quase monopolistas de propri
edade da terra e do capital, graças a toda sorte de instrum entos
 pol íticos que garantem pr ivilég ios adquir ido s, criando ba rre i
ras à entrada de novos concorrentes.
Fronteiras e domínios são articulados através de uma cidade
 jnundial,  que manifesta a nova forma de inserção do Brasil na
economia-mundo. A cidade mundial na semiperiferia é, ao
mesmo tempo e lugar, centro de gestão e acumulação de capital
em escala planetária e núcleo de comando de uma vasta rede
urban a que conecta a multiplicidade de espaços e tempos que
compõem o território nacional.
A emergência da cidade mundial é explicada, em parte, pelo
movimento de acumulação do capital multinacional na econo
mia-mundo. Entretanto, é da combinação deste movimento
global com a atuação do Estado q ue se configura, no Brasil, um
 padrã o dinâmico ond e a concentração social e espacia l da r i
queza é acompan hada pela dispersão seletiva do investimento
 público e privad o através da malha “program ada”, imposta pelo
Estado, porém cujo traçado atende aos interesses que compõem
o tripé.
202
ÿoa Vis t£* / j
Macapo'
Teresin;
• PortoVelho
T̂Macekf
/Aracaju
^SALVADOR
'Goiânia
,BELÓ / / f 
vHORIZOÇiyE
'Campo
'Gronde
^ /CURITIBA
wAFIoriandpolisPORTO ALEGRE
A A CIDADE MUNDIAL
COMPLEXO URBANO INDUSTRIAL
CINTURÃO AGRO-INDUSTRIAL
' / / f y o d om ín io  a g r o - m e r c a n t il
FRENTES DE MODERNIZAÇÃO
AAA A GRANDE FRONTEIRA
* METROPOLES 
•  CAP ITAIS ESTADUA IS
RIODEJANEIRO
SÃOPAULO
Figura 5.7 O espaço transfigurado.
A malha “program ada” manteve domínios, expandiu fron
teiras e fortaleceu a cidade mundial, que na escala nacional
assumem ex pressão mais geral respectivamente na persistên
cia da questão regional no Nordeste, na configuração de uma
imenoa Fronteira e na conformação de um vasto complexo
urbano-industrial a partir do cen tro dinâmico do Sudeste. Estes
movimentos ex propriaram e excluíram significativos contin
gentes sociais, gerando conflitos que constituem matrizes de
novas territorialidades, que passam a expressar projetos alter
nativos da sociedade civil.
203
 Reestrutu ração territo ria l
A estrutura centro-periferia foi transfigurada pela moderni
zação conservadora, redefinindo hierarquias e posições de
 pod er, reest ruturan do funções e unid ade s de produç ão, d istr i
 bui ção e gestão. A consol idação da cidade mun dial , de domí
nios, e a abertura de fronteiras são expressões desse processo.
As novas territorialidades que emergem do conflito entre a malha
 programada e o espaço vivido assumem feições específ icas em
cada uma destas formações espaço tempo. (Fig. 5.7)
A cidade mundial e o complexo urbano-industrial
A nova forma de inser ção do Brasil na economia-m undo teve
sua maio r expressão n a formação da cidade m undial —São Paulo
 —e de uma est rutura u rbano-indus tria l in timamente articula
da, que emergiu da concentração e ampliação do núcleo eco
nômico du rante os anos 60 e 70. Esta área é a parte do país mais
integrada à economia-mundo e a mais dinâmica, tanto em ter
mos de relações internas, como externas, promovendo a urb a
nização acelerada do território e gerando focos de modernida 
de. As mudanças na distribuição territorial da po pulação ex
 pre ssa esse processo, que é ca racterizado pelo descompasso
entre o intenso crescimento urban o, mesmo em áreas de pre
domínio d as atividades agrícolas, e a fraca mudança no aden
samento da popu lação, só expressiva em tomo de São Paulo e
nas bord as da grand e fronteira. (Fig. 5.8)
Os fluxos de informação estão amplamente concentrados em
São Paulo, sede da maioria dos bancos privados, correspon
dendo a 60% do sistema bancário nacional, incluindo 18 dos
23 bancos estrangeiros que operam no Brasil (Corrêa, 1989).
204
Figura 5.9 Expansão da área metropolitana de São Paulo
 —1930-1980. (Fonte:  Retrato do Brasil, 1984)
Os bancos são os principais clientes dos serviços da EMBRA-
TEL que ligam o cen tro nevrálgico da Av. Paulista às re stante s
cidades mundiais. Para São Paulo vai metade do fluxo de cha
madas da rede de telex nacional (Cardoso & Bovo, 1989). Con
tíguo à cidade mundial, consolidou-se um domínio dinâmico,
que absorveu grandes fatias do investimento estatal e das mul
tinacionais, configurando-se como o locus privilegiado do tripé
(Figs. 5.9 e 5.10). Aí se localiza a fronteira científico-tecnológi-
ca, o eixo de expansão m etropoli tano que conec ta São Paulo ao
206
Figura 5.10 Expansão indu stri al no Estado de São Paulo —1975-
1986. (Fonte: Azzoni, 1989)
Rio de Janeiro e uma grande área indus trial praticamente con
tígua que, partindo da cidade mundial, ultrapassa os limites do
Estado de São Paulo —incorporando porções dos Estados vi
zinhos de Minas Gerais e Rio de Janeiro —e projeta um vetor
em direção a Brasília, a capital da geopolítica (Vesentini, 1986)
(Fig. 5.11). A sua volta, uma const elação de metrópoles —for
mada por Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre -de staca -se
 pelo dinamismo do crescimento da indústr ia, con f gurando uma
207
hierarquia de funções e de poder vinculada às atividades pro
dutivas, de distribuição e de gestão.
Um vasto cinturão agroindustrial se espraia em todas as
direções, desde os campos meridion ais até os cerrado s centrais,
avançando em fronteiras ao longo dos princip ais eixos rodo
viários, dinamizando centros regionais, capitais estaduais e a
 própria capital federal. A part ir daí, a modern idade se instala em
focos isolados, na sua maioria resultantes da malha programada.
Bolsões de pobreza e domínios conservadores perm anecem
nas vizinhanças e mesmo dentro da pró pria cidade mundial e
nas demais metrópoles. Em contrapartida, aí emergem a opo
sição e as novas territorialidades mais significativas, que não
 podem ser des ligadas da nova forma de inserção na economia-
mundo. É na bord a ocidental da cidade mundial, no território
da ind ústria automobilística, que emergiu o “novo sindicalis
mo”, autônomo em relação ao Estado, com ligações com fede
rações sindicais internacionais. Novas formas de resistência à
modernização conservadora foram geradas e difundidas a partir
da cidade mundial e de seu entorno imediato. Movimentos
sociais, de base localizada, representam projet alternativos
da sociedade em busca de justiça social.
O domínio agromercantil com frentes de
modernidade
O domínio agromercantil expressa a persistência de níveis
dramáticos de pobreza rural e urban a e de modernas oligarqui
as. No caso do Nordeste, através do expediente histórico de
utilizar a fragilidade da economia regional às estiagens perió
dicas como instrumento de solicitar tratamento diferenciado,
construiu-se uma intrincada trama de subsídios e proteção
208
Figura 5.11 Brasília e cidades-satélites. (Fonte: adaptado do
IBGE/CNG, 1966)
209
i li;
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í: !íl;
estatal, q ue resiste às forças da concorrência intercapitalista.
Reside aí a “questão regional” nordestina.
A proposta de industrialização regional promovida pela
SUDENE facilitou a integração do domínio n ordestino à cida
de mundial. Entretanto, foram os grandes projetos da década
de 70 que criaram fronteiras de modernidade, seja em focos
como é o caso do Pólo Petroquímico de Camaçari, nas vizinh an
ças de Salvador, seja em eixos como foi o caso dos grandes
 proje tos de irrigação ao longo do vale do São Francisco. O
Programa Nacional do Álcool —PROÁLCOOL levou à mo der
nização da agro-indústria canavieira nordestina, embora de for
ma distinta de sua congênere paulista, pois foi incapaz de com
 pletar plenamente a integração em complexo devido à sua grande
dependência de fornecedores extra-regionais de equipamentos
e insumos.
Com o PROÁLCOOL, a luta pela terra e pela regulamentação
dos direitos trabalhistas assumiu novas formas. Aherança das Ligas
Camponesas, movimento social de camponeses que eclodiu na
zona canavieira no final da década de 50, foi potenciada e unifica
da pelos conflitos resultantes da expansão das plantações, o
que transform ou os sindicatos de canavieiros em instrumentos
de luta pelos direitos sociais e levou à conquista de territórios
através da resistência, geralm ente apoiad a pela Igreja Católica,
à expropriação promovida pela modernização da agricultura.
A fronteira energética e de recursos também atua diretam en
te sobre o domínio agromercantil. A exploração de gás natural
e petróleo,oj[Jshore realizada pela PETROBRÁS, levou à implan
tação de bases de apoio, terminais e instalações de beneficia-
mento em vários pon tos do litoral, desde Campos, no Estado
do Rio dejane iro, até Natal, no Rio Grande do Norte. Grandes
 pro jetos foram imp lantados, na forma de complexos terr itori
ais, que incluem minas, plantações, unidades de beneficiamen-
to, dutos, ferrovias e terminai s especializados, produzind o ferro
e metais ferrosos, bauxita e alumina, soda e barrilha, celulose
e papel, na maior par te destinados à exportação.
o > ^ 2 1 0
f  V
l a t 
AiOv
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 JjV- (j-
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Os impactos desses grand es projetos sobre o domínio agrá-
rio-mercantil são restritos. De um lado forçam reacomodações
entre os grup os do minantes locais, que se beneficiam de modo
diferenciado do aporte de recu rsos; de outro, têm efeitos limi
tados sobrea estrutura produtiva e de renda, já que em sua
maioria operam com elevada produtividade ejntemaliza m boa
 parte de.sua demanda.porhens.e.serviço s, o_que pou co jesu lta
i ^ termos de desenvolvimento regional. Há, no entanto, exter-
nalidades ineren tes aos projetos. Uma delas é a rápida difusão
de movimentos ecológicos, que gradativamente assumem di
mensão nacional a partir do final dos anos setenta, passando
a exercer pressões sobre as autoridades locais no sentido de
minor ar a deterioração acelerada das condições ambientais.
L a ^  M f c' -
A grande fronteira
A Amazônia assume hoje a expressão básica das fronteiras.
Devido à ausência de organizações sociais preexistentes capa
zes de oferecer resistência, o governo federal assumiu direta
mente a iniciativa da modernização, implantando a malha
 program ada em tempo acelerado e numa escala gigantesca que
transformou parte d as antigas regiões Centro-Oeste e Nordeste
e toda a região Norte numa grande fronteira nacional.
O valor simbólico da malha programada, entr etanto, foi maior
do que o seu valor real para a ocupação da região. Programas
e projetos, ainda que nem semp re materializados, provocaram
um imediato aumento do valor da terra e dos conflitos sociais,
incompatíveis com as relativamente baixas taxas de investimen
to, ocupação e produção. Somente 24% da área total da região
estavam ocupados por unidades produtivas em 1980, repre
sentando 7% das terras cultivadas no país.
211
Os assentamentos estão restritos às áreas ao longo das prin
cipais rodovias. Domínios agromercantis situados nas margens
da floresta foram criados, favorecendo o crescimento da gran
de metrópole regional, Belém, e das capitais estaduais, que atuam
como elos de articulação à cidade mundial. Surgiram eles a partir
de programas de colonização e de cerca de 600 projetos agro-
 pas tor is sub sidiados de grandes empresas nacú riais e es tran 
geiras, embora só 20% deles fossem efetivamente instalado.
Focos de modernidade estão representado« pela Zona Fran
ca de Manaus, cidade que cresce hoje mais rapidamente que
Belém, e pelos grandes projetos d° exploração min eral com sede
nas company-towns  —núc leos de produção e gestão —em ioint-
ventures ou isoladamente. Devido à recessão mundial do início
dos anos 80, o investimento estrangeiro foi muito menor do
que o esperado. Dos seis granaes projetos implantados segun
do os objetivos do programa, somente um é totalmente estran
geiro —Alcoa-Billington, o maior investimento estrangeiro já
feito no Brasil. A mais importante empresa é a estatal Cia. do
----- D Vale do Rio Doce (CVRD), que nesse processo se transnacio-
nalizou, diversificando atividades e ampliando sua participa
ção no mercado mundial. (Fig. 5.12)
Da estratégia de ocupação regional resultaram também in
tensos c onflitos sociais e ecológicos. Com a expansão da pecu
ária, da exploração florestal e da mineração, verificou-se um
desmatamento a uma taxa exponencial. Estimativas do total
desmatado na década são conflitivas e vão desde 12% (Mahar,
1988), 8,2% (Fearnside, 1986) até 5,1% (INPE), equivalentes
0 a 598.921 km2, 399.765 km2e 251.429 km2, respectivamente.
O legado da modernização conservadora sobre o território
c} ^  W é ambivalente. A sustentação do tripé levou o Estado a estender
sua função reguladora e empresarial além de seu poder de gerar
fundos públicos, esgotando assim sua capacidade de sustentar
domínios, de abrir fronteiras e negociar com o capital multinacio
nal. O território foi um instrumen to de consolidação e crescimen
to do Leviatã, mas também expressão de sua vulnerabilidade.
 J J L .
^ ^ . y *
■0 1 ^ 0 -K (
 — Rodovias
Ferrovias
 — *. Hidrovi as
p«jj projetosdeMineração
( r t ) Fe r ro
@ Manganês
@ Cobr e
©  N í qu el
(J)Bauxita _____________ 
Figura 5.12 Sistema logístico global do programa Grande
Carajás. (Fonte: Becker, 1990)
213

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