Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I PRISÃO EM FLAGRANTE A origem etimológica da palavra “prisão” é o latim prensio, derivação de prehensio, do verbo prehendere, que significa agarrar, prender. Inicialmente cumpre destacar a determinação constitucional acerca das prisões: Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Tais dispositivos trazem para o mundo jurídico 2 preceitos básicos acerca da prisão: necessidade e indispensabilidade da providência, a serem aferidas em decisão fundamentada da autoridade judicial. Com base nisso, frisa-se que a prisão é medida excepcionalíssima, devendo ser aplicado somente quando esta medida se mostra indispensável para a aplicação da lei penal, para a investigação ou para a instrução, além de servir para evitar a prática de infrações penais (NECESSIDADE). Deve-se observar também a gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado (ADEQUAÇÃO/INDISPENSABILIDADE) – arts. 282 e 312/CPP - Tipos de prisões: *¹ Vide súmula nº 419 do STJ e Súmula Vinculante nº 25 Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I A matéria “Prisões” passou por uma primeira reforma legislativa com o advento da lei nº 12.403 de 2011. A referida legislação trouxe relevantes alterações acerca das prisões e liberdade provisória, inserindo inúmeras alternativas ao cárcere. A partir da citada lei, passou-se a ter duas diferentes modalidades de cautelares no processo penal: a) Prisões; b) medidas cautelares, diversas da prisão Com esta reforma processual penal, tentou-se assumir, em definitivo, a natureza cautelar de toda a prisão antes do trânsito em julgado, além de ampliar o leque de alternativas para proteção da regular tramitação do processo penal com a previsão de diversas outras modalidades de medidas cautelares. Antes de adentrar ao tema principal proposto, faz-se necessário entender as características comuns das medidas cautelares de natureza penal. Características das medidas cautelares: a) Acessoriedade: a medida cautelar depende do “processo” principal (judicial ou investigativo). b) Preventividade: destina-se a prevenir a ocorrência de danos irreparáveis enquanto não se alcança o final do processo-crime. c) Instrumentalidade hipotética e qualificada: A medida cautelar é o instrumento para assegurar a eficácia do processo de conhecimento e este, por sua vez, é o instrumento utilizado pelo Estado para poder exercer o jus puniendi. d) Provisioriedade: sua eficácia é provisória. Ao se alcançar o resultado do processo, a cautelar torna-se desnecessária. e) Revogabilidade (variabilidade): depende da persistência dos motivos que a evidenciam. f) Não definitividade: a sua decisão não faz coisa julgada. g) Jurisdicionalidade: resulta da cláusula de reserva de jurisdição, consubstanciada pela necessidade de controle jurisdicional sobre a medida cautelar. h) Sumariedade: em razão da natureza urgente, o juiz exerce uma cognição sumária, permanecendo em nível superficial (limitada em sua profundidade). Em outras palavras, não Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I se busca um juízo de certeza, basta uma probabilidade de dano e de direito, que são, respectivamente, o periculum libertatis e o fumus comissi delicti. Espécies de cautelares: a) Patrimonial: relacionadas à reparação do dano e/ou perdimento de bens como efeito da condenação. Ex.: arresto, sequestro, hipoteca. b) Probatórias: visam a obtenção de provas para instruir o processo. Ex.: busca domiciliar; produção antecipada de provas. c) Pessoais: são as medidas restritivas ou privativas de locomoção - Medidas cautelares diversas da prisão que estão previstas no art. 319 e 320/CPP (medida menos gravosa) e cautelares ad custodiam (ultima ratio) PRISÕES CAUTELARES: * Não é pacificado o entendimento acerca da prisão domiciliar como espécie de prisão provisória. Por se tratar de medida cautelar, a ocorrência das prisões cautelares pressupõe-se a coexistência do fumus commissi delicti e do periculum libertatis. Fumus Commissi Delicti consiste na existência de indícios de autoria e prova de materialidade da infração em apuração. Periculum Libertatis diz respeito à necessidade de segregação do acusado, antes mesmo da condenação. Destaca-se, a título de complementação, que, no caso de prisões cautelares, o CPP e a legislação extravagante (ex. LC nº 35/1979, Lei nº 8.906/94, Lei nº 5.350/67 etc.) preveem Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I hipóteses de prisão especial para determinados indivíduos, ou seja, a prerrogativa de que sejam recolhidos em recintos distintos daqueles destinados aos presos em geral. O tratamento diferenciado no cárcere está disposto no art, 5º, XLVIII, da CF/88, o qual estabelece que “a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”. E o art. 295 do CPP trata da prisão especial: Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva: I - os ministros de Estado; II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia Nacional e das Assembléias Legislativas dos Estados; IV - os cidadãos inscritos no "Livro de Mérito"; V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; VI - os magistrados; VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República; VIII - os ministros de confissão religiosa; IX - os ministros do Tribunal de Contas; X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função; XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e Territórios, ativos e inativos. § 1° A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão comum. § 2° Não havendo estabelecimento específico para o preso especial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabelecimento. § 3° A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo, atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequados à existência humana. Contudo, em 03/04/2023, por meio da ADPF 334/DF, o STF julgou inconstitucional o inciso VII do artigo citado, sob a justificativa de que ter um diploma de ensino superior não é, por si só, motivo plausível para ter direito a essa prerrogativa, tendo em vista que esse grupo não se encontra em situação vulnerável. A previsão deste instituto para os indivíduos detentores de curso superior, além de não atender a grupo em situação vulnerável, gera discriminação, tendo em vista que apenas 11,30% da população geral possui ensino superior completo, os quais, em tese, são mais favorecidos economicamente. PRISÃO EM FLAGRANTE: Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I A palavra flagrante vem do latim flagrare, “flamejar, arder”, com o significado de “ação ainda quente”, o momento em que essa ação está sendo feita. É uma forma de prisão que pode ser aplicada a quem é pego no momento do ato criminoso ou logo após fazê-lo. Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situaçãoque faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. - Natureza Jurídica da Prisão em Flagrante: Como exposto acima, majoritariamente, a natureza jurídica da prisão em flagrante é de prisão cautelar. No entanto, o doutrinador Renato Brasileiro, apresenta um entendimento muito interessante e lógico. Ele defende que, depois que a prisão em flagrante passou a não mais justificar, por si só, a subsistência da prisão provisória do agente, em decorrência da necessidade da realização da audiência de custódia, ocasião em que o juiz analisará a possibilidade de conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, ela passou a ter caráter precautelar. Ou seja, a prisão em flagrante objetiva apenas a captura do agente para apresentá-lo à autoridade judicial, não se dirige, portanto, a garantir a eficácia do processo judicial, sendo está a finalidade de uma medida cautelar. Para ele, atualmente, só seriam medidas cautelares de natureza pessoal: a prisão temporária; a prisão preventiva (derivada, originária ou subsidiária) e; liberdade provisória com ou sem fiança, cumulada ou não com as medidas cautelares diversas da prisão. - Fases da prisão em flagrante: 1ª) Captura; 2ª) Condução coercitiva; 3ª) Lavratura do auto de prisão em flagrante (elaboração do APF); 4ª) Recolhimento à Prisão. A partir do momento em que a autoridade judiciária é comunicada acerca da detenção, o ato converte-se em ato judicial. - Tipos de flagrante: Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I a) Obrigatório (compulsório): Forças policiais tem o dever, mesmo fora do expediente de trabalho, pois configura estrito cumprimento do dever legal - Art. 301. Ressalta-se que o artigo 301 do CPP faz referência apenas à polícias, excluindo, portanto, as autoridades judiciárias e do MP. Tal obrigatoriedade também não abrange os militares das forças armadas quando presenciarem a prática de um crime comum. Este dever jurídico incumbe apenas às Polícias Civis e Militares Estaduais e à Polícia Federal, nos termos do art. 301 do CPP e §§4º e 5º do art. 144 da Constituição Federal. Assim, o art. 243 do CPPM, que impõe dever jurídico aos militares para prenderem quem se encontrar em flagrante delito, deve ser interpretado restritivamente, apenas para abranger os crimes militares definidos em lei. O descumprimento do dever de prender em flagrante, quando possível, desde que por desleixo, preguiça ou por interesse pessoal, podendo caracterizar o crime de prevaricação e infração administrativa. b) Facultativo: Qualquer do povo pode prender - Art. 301; c) Próprio (perfeito, verdadeiro, real ou propriamente dito): Acontece quando o agente está cometendo o delito – Art. 302, inciso I - ou quando o agente acabou de cometer o delito e ainda está no local do crime - Art. 302, inciso II. d) Impróprio (quase-flagrante ou irreal): Ocorre quando o indivíduo é perseguido logo após a prática do crime - Art. 302, inciso III. Para a configuração dessa espécie de flagrante é necessária a conjunção de 3 fatores: a) Requisito de atividade: Perseguição; b) Requisito temporal: Logo após a prática do crime; c) Requisito circunstancial: Situação que faz presumir ser autor da infração. Segundo Fernando Capez, “logo após” compreende todo o espaço de tempo necessário para a polícia chegar ao local, colher provas da ocorrência do crime e dar início à perseguição. Não há um critério objetivo para definir o que seja o logo após, devendo a questão ser examinada a partir do caso concreto. Não é necessário que a perseguição tenha se iniciado de imediato e irá se estender no tempo enquanto houver a necessidade, dispensando contato visual, desde que seja contínua/ininterrupta. A interpretação doutrinária e jurisprudência acerca da perseguição decorre do próprio texto legal: Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autoridade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a remoção do preso. § 1º - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, quando: a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha perdido de vista; b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for no seu encalço. e) Presumido (ficto ou assimilado): Ocorre quando o agente é encontrado logo depois pratica o delito, por acaso, com objetos, que façam presumir que praticou a infração - Art. 302, inciso IV. Neste caso, o sujeito não é perseguido, mas localizado, ainda que casualmente, na posse de instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Exemplo: Quando alguém rouba um carro e, um tempo depois, é parado em uma blitz de rotina da polícia que constata a ocorrência do roubo e, por isso, leva o condutor até a delegacia e lá a vítima o reconhece. f) Esperado: Ocorre quando a polícia se coloca em campana e logra prender o autor do crime. Ressalta-se que nesse caso, não existe induzimento ou instigação de ninguém interessado em realizar a prisão, logo, por meio de uma análise de oportunidade do delegado de polícia, espera-se o melhor momento para efetuar a prisão. Exemplo: A polícia recebe a informação de que um determinado banco seria assaltado em dia e horário determinado, e se coloca em posição de vigilância para realizar a prisão dos criminosos. g) Postergado (diferido, retardado, protelado, ação controlada): Nasceu com o combate ao crime organizado – Lei nº 9.034/95. Permite que a polícia retarde a prisão em Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I flagrante na esperança de efetivá-la no momento mais oportuno para a colheita de provas; captura de infratores e/ou enquadramento no crime exponencial da organização (infiltração do agente). Está atualmente regulamentado no artigo 8º da Lei nº 12.850/2013: Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. §1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público. § 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada. §3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações. §4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada. A mesma providência passou a ser prevista na lei nº 11.343/2006, em seu artigo 53, inciso II: Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejamconhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores. Obs.: O flagrante Postergado difere do flagrante esperado, pois neste, o agente é obrigado a efetuar a prisão em flagrante no primeiro momento em que ocorrer o delito, não podendo escolher um momento posterior que considerar mais adequado. AGENTE DE INTELIGÊNCIA x AGENTE INFILTRADO: Aquele tem ação preventiva e genérica e este tem função repressiva e investigativa, visando a obtenção de elementos probatórios relacionados a fatos supostamente criminosos. Para a atuação do agente infiltrado, exige-se autorização judicial ou, ao menos, uma comunicação prévia ao juiz. Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I h) Preparado (provocado, delito de ensaio, delito putativo por obra do agente provocador): Ocorre quando a situação flagrancial sofre a intervenção de terceiros (particular ou agente público), antes da prática do crime. Existe a figura do agente provocador que de forma insidiosa, instiga o agente com o objetivo de prendê-lo em flagrante. Exemplo: Policial que encomenda um documento com uma pessoa que está sendo investigada pelo crime de falsificação de documento e no momento da entrega, efetiva a prisão em flagrante. Neste sentido, importante ressaltar o entendimento do STF: Súmula 145/STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. O entendimento jurisprudencial e doutrinário é no sentido de que não só a prisão é ilegal, como o fato praticado é atípico, pois caracteriza crime impossível. É importante distinguir a hipótese em que o agente induz a prática de determinada ação delitiva apenas para confirmar a prática de crime preexistente. É muito comum em crimes permanentes. Na clássica hipótese em que uma pessoa pede ao traficante que lhe venda droga e, no momento da entrega da droga, o prende em flagrante, o crime de tráfico de drogas, na modalidade trazer consigo ou manter em depósito já se consumou, logo, é um flagrante considerado LEGAL. Esse tipo de flagrante é chamado de flagrante comprovado e, diferente do flagrante preparado em que existe a figura do agente provocador (que macula a vontade no cometimento do crime), na espécie em comento existe a atuação do agente disfarçado (≠ do agente infiltrado, pois este se insere no ambiente criminoso). Ressalta-se que o flagrante referente à venda da droga (que foi instigada pelo agente disfarçado) não será considerado. Ele servirá para comprovar a existência de crime preexistente. A figura do agente disfarçado passou a ser expressamente prevista em nossa legislação com a entrada em vigor do Pacote Anticrime, conforme o disposto no artigo art. 33, §1º, inciso IV, da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas) e no artigo 17, §2º e artigo 18, parágrafo único da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do desarmamento). Assim, para que o flagrante seja considerado na modalidade “comprovado” é necessária a existência de elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente, em que “a participação do agente disfarçado é neutra, quase um indiferente casual à prática delitiva”. (Souza; Cunha e Lins, 2019). Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I i) Forjado (fabricado, maquiado ou urdido): Realizado para incriminar pessoa inocente e que não tinha vontade de delinquir. O forjador sendo particular, responderá pelo crime de denunciação caluniosa e, sem sendo agente público, também por abuso de autoridade. Flagrante Próprio Flagrante Impróprio Flagrante Presumido Flagrante Provocado Flagrante Comprovado Flagrante Esperado Flagrante Forjado Flagrante Retardado É válido. Art. 302, I e II/CPP É válido. Art. 302, III/CPP É válido. Art. 302, IV/CPP É nulo por ser o fato considerado atípico. É válido. Lei nº 11.343/06 e Lei nº 10.826/03 É válido É nulo e os responsáveis cometem crime. É válido. Lei 12.850/13 e 11.343/06. - Apresentação espontânea: Se o autor do delito não for preso no local da infração e não está sendo perseguido, sua apresentação espontânea perante a autoridade policial impede a sua prisão em flagrante, já que a situação não se enquadra em nenhuma hipótese do artigo 302/CPP. Se, todavia, a autoridade policial entender necessário, poderá representar para o que o juiz decrete a prisão preventiva ou temporária. - Sujeito passivo: Em regra, qualquer pessoa que se encontre em uma situação elencada no artigo 302, do CPP, pode ser presa em flagrante. Existem, porém, algumas hipóteses em que se aplicam regras especiais: a) Presidente da República: Art. 86, §3º, da CF: § 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. O Chefe do Poder Executivo Federal não poderá sofrer nenhum tipo de prisão cautelar. Observe que o texto constitucional trata da cláusula da irresponsabilidade relativa, pois não abrange os crimes praticados pelo Presidente no exercício da função ou em razão dela. Por ausência de regra constitucional que estenda tal imunidade aos Governadores e Prefeitos, tais integrantes do Poder Executivo podem ser presos em flagrante ou preventivamente. Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I b) Senadores, Deputados Federais, Estaduais e Distritais: Só podem ser presos em flagrante pela prática de crime inafiançável, sendo que nas 24 horas seguintes, os autos serão remetidos à respectiva Casa, que decidirá sobre a prisão. É o que prevê o artigo 53, §2º c/c art. 27, §1º, da CF: Artigo 53, §2º: Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. Artigo 27, §1º: Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. c) Membros do Poder Judiciário e do Ministério Público: Só podem ser presos em flagrante pela prática de crime inafiançável. Os magistrados devem ser apresentados imediatamente ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado (art. 33 da Lei Complementar 35/79), enquanto os membros do MP devem ser apresentados ao Procurador-Geral no prazo de 24 horas (art. 40, III, da Lei 8.625/93). d) Advogados: O Estatuto da OAB define, em seu artigo 7º, §3º, que o advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da profissão, em caso de crime inafiançável. Em tal caso, o inciso IV, do mesmo dispositivo legal garante ao advogado preso ter a presença de um representante da OAB no momento da lavratura do auto de prisão em flagrante, sob pena de nulidade. e) Imunidade Diplomática: Em razão da Convenção de Viena de 1961, os agentes diplomáticos, como os embaixadores, suas famílias, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e sua família, Chefes de Governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas, bem como funcionários de organizações internacionais em serviço (ONU, OEA, etc) não podem ser objeto de nenhuma forma de prisão. Já os Cônsules, a Convenção de Viena de 1963 estabelece que não poderão ser detidos ou presos preventivamente, exceto em caso de crime grave e em decorrência de decisão de autoridade competente. Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I Ressalta-se que essa imunidade não impede que que o crime praticado seja investigado, para colheita de informações necessárias que deverão ser encaminhas às autoridades do país de origem do agente. f) Menores de idade: Caso se trate de adolescente – pessoa com 12 anos ou mais e menor de 18 anos – será possível a apreensão em flagrante pela prática de ato infracional, para posterior apresentaçãoà Vara da Infância e da Juventude. g) Inimputáveis em razão de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado: Podem ser presos para eventual aplicação de medida de segurança. Art. 319, VII/CPP: Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração. No momento da lavratura do auto de prisão em flagrante, se o delegado de polícia notar que o preso possui problemas mentais, deverá representar ao juiz pela imediata instauração de incidente de insanidade mental. h) Eleitor: Art. 236 do Código Eleitoral: Art. 236. Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48 (quarenta e oito) horas depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto. Se o eleitor for preso em flagrante no prazo descrito, nada impede que o juiz, na audiência de custódia, converta o flagrante em preventiva, não se enquadrando a hipótese na vedação do mencionado artigo, já que se trata de prisão derivada do flagrante. i) Candidatos: Nos quinze dias que antecedem as eleições, o candidato só poderá ser preso em flagrante. Nenhuma outra forma de prisão pode ser cumprida nesse período. Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I NÃO PODEM SER PRESOS EM NENHUMA HIPÓTESE SÓ PODEM SER PRESOS EM FLAGRANTE POR CRIMES INAFIANÇÁVEIS EM CERTAS ÉPOCAS SÓ PODEM SER PRESOS EM FLAGRANTE Presidente da República Deputados e Senadores Eleitor, nos 5 dias anteriores e nas 48 horas posteriores ao encerramento da eleição Agentes diplomáticos Juízes de Direito e membros do MP Candidatos nos 15 dias anteriores ao pleito Menores de idade Advogados, por crime cometido no exercício da profissão Membros das mesas receptoras e fiscais dos partidos, no dia da eleição - Julgados importantes: TRÁFICO DE DROGAS. CRIME PERMANENTE. NULIDADE DE PROVAS. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. AUTORIZAÇÃO DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL. 1. O crime de tráfico de drogas é permanente sendo desnecessária a autorização judicial ou consentimento do morador, quando há situação de flagrante. 2. Não há nulidade de provas por violação de domicílio se a busca no local onde o réu morava se deu após abordagem pessoal em via pública, na qual ele foi encontrado na posse de drogas, e com o consentimento da proprietária do imóvel no qual o réu residia gratuitamente. 3. Apelação não provida. (TJ-DF 00082566420178070001 DF 0008256-64.2017.8.07.0001, Relator: J.J. COSTA CARVALHO, Data de Julgamento: 18/03/2021, 1ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no PJe: 06/04/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada.) HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE REVISÃO CRIMINAL. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. INVASÃO DOMICILIAR EFETUADA POR POLICIAIS DA GUARDA MUNICIPAL SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. DENÚNCIA ANÔNIMA E FUGA DO SUSPEITO PARA O INTERIOR DE SUA RESIDÊNCIA AO AVISTAR A VIATURA POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS NA BUSCA E APREENSÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. O Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à nova jurisprudência da Corte Suprema, também passou a restringir as hipóteses de cabimento do habeas corpus, não admitindo que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso ou ação cabível, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade do paciente, seja cogente a concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus (AgRg no HC 437.522/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe 15/06/2018). 2. O Supremo Tribunal Federal definiu, Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I em repercussão geral, que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo - a qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno - quando amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito (RE n. 603.616/RO, Rel. Ministro Gilmar Mendes) DJe 8/10/2010). Nessa linha de raciocínio, o ingresso em moradia alheia depende, para sua validade e sua regularidade, da existência de fundadas razões (justa causa) que sinalizem para a possibilidade de mitigação do direito fundamental em questão. É dizer, somente quando o contexto fático anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência é que se mostra possível sacrificar o direito à inviolabilidade do domicílio. Precedentes desta Corte. 3. Assim, "a mera denúncia anônima, desacompanhada de outros elementos preliminares indicativos de crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio indicado, estando, ausente, assim, nessas situações, justa causa para a medida" (HC 512.418/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 26/11/2019, DJe 03/12/2019.) 4. A existência de denúncia anônima de tráfico de drogas no local associada ao avistamento de um indivíduo correndo para o interior de sua residência não constituem fundamento suficiente para autorizar a conclusão de que, na residência em questão, estava sendo cometido algum tipo de delito, permanente ou não. Necessária a prévia realização de diligências policiais para verificar a veracidade das informações recebidas (ex: "campana que ateste movimentação atípica na residência"). Precedentes: RHC 89.853/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 02/03/2020; RHC 83.501/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 05/04/2018; REsp 1.593.028/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 10/03/2020, DJe 17/03/2020. 5. Aliás, em recente decisão, a Colenda Sexta Turma deste Tribunal proclamou, nos autos do HC 598.051, da relatoria do Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sessão de 02/03/2021 (....) que os agentes policiais, caso precisem entrar em uma residência para investigar a ocorrência de crime e não tenham mandado judicial, devem registrar a autorização do morador em vídeo e áudio, como forma de não deixar dúvidas sobre o seu consentimento. A permissão para o ingresso dos policiais no imóvel também deve ser registrada, sempre que possível, por escrito. E apresentou as seguintes conclusões: a) Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório para ingresso no domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa), aferidas de modo objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito. b) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza permanente, nem sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir que do atraso decorrente da obtenção de mandado judicial se possa, objetiva e concretamente, inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será destruída ou ocultada. c) O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer tipo de constrangimento ou coação. d) A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve ser registrada em áudio-vídeo, e preservada tal prova enquanto durar oprocesso. e) A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio alheio resulta na ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I provas que dela decorrerem em relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal dos agentes públicos que tenham realizado a diligência. 6. No caso concreto, a leitura dos depoimentos prestados em Juízo, no 1º grau de jurisdição, demonstra que os policiais adentraram a residência dos pacientes sem sua prévia permissão e sem prévia autorização judicial, baseados apenas em denúncia anônima, desacompanhada de outros elementos preliminares indicativos de crime, e no fato de que, ao ver a viatura policial, um dos pacientes e seu irmão adolescente teriam corrido para o interior de sua residência. 7. Reconhecida a ilegalidade da entrada da autoridade policial no domicílio do paciente sem prévia autorização judicial, a prova colhida na ocasião (05 sacos plásticos, com 30 porções de cocaína cada um, com peso total de 64g, uma balança de precisão e R$ 627,00 em dinheiro) deve ser considerada ilícita. 8. Já tendo havido condenação dos pacientes no 1º grau de jurisdição, confirmada por apelação criminal transitada em julgado, deve ser anulado o título judicial condenatório que se ampara unicamente nas provas colhidas na busca e apreensão reconhecida como ilícita e em provas dela derivadas. 9. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, para reconhecer a nulidade das provas de tráfico de entorpecentes e de associação para o tráfico coletadas em busca e apreensão ilegal e, consequentemente, anular a sentença que condenou os pacientes pelos delitos previstos no art. 33, caput, e 35, c.c. o artigo 40, VI, todos da Lei 11.3434/06, devendo eles serem absolvidos de ambos os delitos por ausência de provas da materialidade do delito (art. 386, II, do CPP). (STJ - HC: 625504 SP 2020/0298864-2, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 09/03/2021, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/03/2021) - Crimes: - Crimes de ação penal privada ou condicionada à representação: Admite prisão em flagrante, porém o respectivo auto de prisão somente poderá ser lavrado se houver requerimento do ofendido ou de seu representante legal ou se for apresentada a representação, respectivamente. - Homicídio e lesão corporal na direção de veículo automotor: O artigo 301 do CTB veda a prisão em flagrante do condutor que preste imediato e integral socorro para a vítima. - Infrações de menor potencial ofensivo: Art. 69, parágrafo único, da Lei 9099/95. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. O parágrafo único do artigo 69 da Lei 9.0099/95 deve ser interpretado de forma extensiva, pois nestas infrações, como já afirmado, poderá ocorrer a prisão em flagrante, como realidade prática, ou seja, a captura e a apresentação ao Delegado de Polícia de alguém que está cometendo ou acaba de cometer uma infração penal. Mas não poderá haver a prisão em flagrante como realidade formal, ou seja, apresentado o autor do fato, não será Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I lavrado o auto de prisão em flagrante, mas apenas o termo circunstanciado de ocorrência e o termo de compromisso. No entanto, caso não assuma o compromisso de comparecer ao Juizado, o auto de prisão em flagrante será lavrado nos termos do artigo 304 do Código de Processo Penal. - Auto de prisão em flagrante: O referido auto deve ser lavrado no prazo de 24 horas a contar do ato da prisão, pois o artigo 306, §1º do CPP exige que seja encaminhada cópia dele ao juiz competente dentro do prazo mencionado. Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. §1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. - Procedimento para a lavratura do Auto de Prisão em flagrante: Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. §1º Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja. §2º A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade. §3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. §4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal. Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I ● Nota de culpa: É o documento por meio do qual a autoridade dá ciência ao preso dos motivos de sua prisão, do nome do condutor e das testemunhas. A nota deve ser assinada pela autoridade e entregue ao preso, mediante recibo no prazo de 24 horas a contar da efetivação da prisão. Art. 306, §2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. Se o preso se recusar a assinar o recibo, a autoridade deve elaborar uma certidão constando o incidente, que deverá ser também assinada por outras 2 pessoas. É importante frisar que eventuais irregularidades da nota de culpa não acarretam a nulidade do auto de prisão em flagrante. Porém, a ausência da nota de culpa no prazo legal acarreta a ilegalidade da prisão. Todavia, segundo o STJ, eventuais atrasos na entrega no prazo legal da nota de culpa constituem meras irregularidades, não determinando a nulidade do ato processual regularmente válido. - Providências que devem ser tomadas pelo juiz ao receber a cópia da prisão em flagrante: Como pode-se perceber com a leitura do artigo 306 do Código de Processo Penal, não existe a previsão de que a autoridade policial, após a lavratura do auto de prisão em flagrante, deva apresentar o autuado à autoridade judiciária. A obrigatoriedade que consta no citado artigo é quanto a comunicação e envio de cópias dos autos do IP. Contudo, foram implementados por volta de 2015, em diversas unidades da federação, normas emanadas do Poder Judiciário local, que estabelecem a obrigatoriedade de a pessoa presa ser apresentado ao magistrado, no mesmo prazo de 24 horas, para que, após manifestação do Ministério Público e do Defensor, possa deliberar sobre a necessidade de manutenção da prisão. Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I A Convenção Americana deDireitos Humanos (1969), do qual o Brasil é signatário, já impunha a apresentação do preso a um juiz. Esse procedimento ficou conhecido como audiências de custódia ou audiência de apresentação. Após o questionamento quanto a validade das audiências de Custódia por meio de uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI 5240) e de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF 347), ocasiões em que o STF entendeu pela constitucionalidade de tal ato, o Conselho Nacional de Justiça aprovou a resolução nº 213/2015, regulamentando em todo o território nacional o procedimento nas audiências de custódia. Com o Pacote Anticrime, o ato passou a ser expressamente previsto em Lei - Arts. 287 e 310 do CPP. A audiência de custódia tem dupla finalidade: a) Tutelar a integridade física do preso; b) Analisar a legalidade da prisão e a necessidade da sua manutenção. A Resolução do CNJ determina que toda pessoa presa seja apresentada a uma autoridade judiciária, abrangendo o flagrante e outras prisões, como a prisão temporária e a prisão preventiva. No entanto, o Poder Judiciário, mesmo nas Capitais mais desenvolvidas, não têm condições operacionais de realizar a audiência de custódia com os presos com mandados de prisão. O Pacote anticrime só disciplinou a audiência de custódia no que tange à prisão em flagrante, diferentemente do que restou estabelecido no Pacto de São José da Costa Rica. No entanto, em dezembro de 2020, o Ministro Edson Fachin (STF) decidiu que a audiência de custódia deve ser realizada em todos os tipos de prisão, ou seja, prisão em flagrante, prisões cautelares (temporárias e preventivas) e para cumprimento de pena. Antes de analisar a pertinência daquela prisão, o juiz deverá: 1. Informar ao custodiado sobre o seu direito de permanecer em silêncio; 2. Assegurar que a pessoa não esteja algemada, salvo em casos de resistência e fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, devendo, nesses casos, ser justificada por escrito a necessidade do uso de algemas; https://canalcienciascriminais.com.br/tag/stf/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/audiencia-de-custodia/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/audiencia-de-custodia/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/prisao/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/prisao-em-flagrante/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/pena/ Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I 3. Questionar se lhe foi dada a oportunidade de se consultar com seu defensor previamente; 4. Indagar sobre como se deu a prisão, o tratamento em todos os locais por onde ele passou (do momento da prisão até a audiência de custódia); 5. Questionar sobre a ocorrência de eventual tortura e/ou maus tratos; 6. Verificar se houve a realização de exame de corpo de delito. Após os questionamentos acima, o juiz deferirá ao Ministério Público e à defesa perguntas compatíveis com a natureza do ato, devendo indeferir perguntas relativas ao mérito dos fatos. Além disso, o juiz deverá se atentar à realização do exame de corpo de delito ad cautelam. No caso de o custodiado não ter sido submetido ao exame; ou se no laudo constarem registros se mostrarem insuficientes; se existir a alegação de tortura e maus tratos for após a realização do exame ou; se o exame tiver sido realizado na presença de alguma agente policial (em hipótese alguma o exame pode ser realizado na presença de agentes policiais), o juiz deverá determinar a realização de novo exame. Em seguida o juiz poderá: Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: I - relaxar a prisão ilegal; ou II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. §1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação. §2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares. §3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão. §4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva. (Este parágrafo está com a eficácia suspensa pela decisão liminar pelo Ministro Luiz Fux, em 21/01/2020, nas ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6305). a) Relaxamento de Prisão: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm#art312... http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I O relaxamento da prisão incide na prisão ilegal e esta medida está respaldada na Constituição Federal: Art. 5º, LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; As hipóteses de ilegalidade da prisão que levam ao relaxamento são: a.1) Falta de formalidade essencial na lavratura do auto. Exemplos: ausência da oitiva do condutor; falta de entrega da nota de culpa; a.2) Inexistência de hipótese de flagrante. Exemplo: pessoa presa muitos dias após o cometimento do crime; a.3) Atipicidade da conduta; a.4) Excesso de prazo da prisão. ATENÇÃO! Antes da lei 12.403/2011 era comum o relaxamento por excesso de prazo em razão da demora na realização da instrução criminal. Atualmente, essa hipótese tem se tornado cada vez mais rara, pois o flagrante é convertido em prisão preventiva na audiência de custódia e, com a entrada em vigor do Pacote Anticrime, tornou-se obrigatória a revisão quanto à necessidade da manutenção da prisão preventiva a cada 90 dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal, nos termos do parágrafo único do artigo 316. → Contra decisão que relaxa prisão em flagrante cabe Recurso em Sentido Estrito (artigo 581, V, do CPP). Já a decisão que mantém o indiciado preso pode ser atacada pela via de habeas corpus. b) Conversão do flagrante em prisão preventiva: Quando a prisão em flagrante é legal e o juiz verifica se estão presentes os requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP. O artigo 310 do CPP, exige, ainda, que o juiz analise a possibilidade (suficiência e adequação) de aplicação e qualquer outra medida cautelar diversa da prisão as quais estão previstas nos artigos 319 e 320 do CPP. → A decisão que decretar ou denegar a prisão preventiva tem natureza interlocutória simples. Contra decisão que denega o pedido de prisão preventiva cabe Recurso em Sentido Estrito (artigo 581, V, do CPP). Já a decisão que a decreta pode ser atacada pela via de habeas corpus. c) Concessão de liberdade provisória: Professora Ana Paula Correia de Souza Direito Processual Penal I Se o juiz da audiência de Custódia entender ausentes os requisitos paraa decretação da prisão preventiva e no caso de a prisão ter sido legal, o juiz deverá conceder liberdade provisória, com ou sem fiança dependendo do caso, podendo, ainda, cumular e liberdade provisória com qualquer das medidas cautelares diversas da prisão. O link abaixo é de uma reportagem sobre a audiência de custódia: https://globoplay.globo.com/v/8117397/ → Contra decisão que concede liberdade provisória cabe Recurso em Sentido Estrito (artigo 581, V, do CPP) e contra ela que indefere cabe habeas corpus. Após realizada a audiência de custódia, o Ministério Público oferecerá a denúncia e o processo andará normalmente. https://globoplay.globo.com/v/8117397/
Compartilhar