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RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS AULA 2 Prof.ª Eimi Suzuki CONVERSA INICIAL Aqui, vamos aprender sobre estado plano de tensão e deformação e como transformar as tensões e deformações de um corpo para diferentes orientações dentro de um sistema de coordenadas. TEMA 1 – ESTADO PLANO DE TENSÃO Para mostrar as tensões que ocorrem em um elemento, pegamos uma pequena porção dele e indicamos as tensões σx, σy, σz, τxy, τyz e τxz (Figura 1). Figura 1 – Estado geral de tensão Fonte: Hibbeler, 2015. Se uma das faces tiver tensão nula, σz = 0; τyz = 0 e τxz = 0, na face oposta os valores também serão nulos e sobrarão as tensões σx, σy e τxy, como pode ser visto na Figura 2. Figura 2 – Estado plano de tensões Fonte: Hibbeler, 2015. No estado plano de tensões, apenas as faces x e y possuem tensões. Essa situação é muito presente na engenharia e pode aparecer em vigas e chapas. 1.1 TRANSFORMAÇÃO DE TENSÃO NO PLANO No estado plano de tensões, caso seja necessário mudar a orientação dos eixos x e y para x’ e y’ (Figura 3), são utilizadas algumas equações específicas. Figura 3 – Transformação de tensão no plano Fonte: Hibbeler, 2015. (2.1) (2.2) (2.3) O sentido positivo das tensões é o mostrado na Figura 3, ou seja, tração positiva e compressão negativa. Para as tensões de cisalhamento nas faces positivas com sentido positivo de x e y, a tensão é positiva, assim como nas faces negativas com sentido negativo de x e y. A posição do ângulo θ também pode ser vista na Figura 3. 1.2 TENSÕES PRINCIPAIS E TENSÃO DE CISALHAMENTO MÁXIMA NO PLANO A pequena porção que pegamos para demostrar as tensões pode ser girada de acordo com o valor de θ. Para fins de dimensionamento temos que achar as tensões máximas tanto normais quanto de cisalhamento e também a tensão normal mínima. Usando a equação abaixo descobre-se o ângulo θ para o qual temos a tensão normal máxima. (2.4) As tensões normais máximas e mínimas são chamadas de tensões principais e são separadas por um ângulo de 90º. Os ângulos das tensões principais, ângulos principais ou planos principais, são indicados por θp e são 2 separados por 90°. Após encontrarmos o valor de θp substituímos o ângulo nas equações (2.1) e (2.2) para acharmos as tensões principais. Já para a tensão de cisalhamento máxima no plano os ângulos θs estão orientados a 45º dos ângulos principais. 1.3 EXEMPLOS Exemplo 1 (Beer et al., 2015). Para o estado de tensão dado determine (a) os planos principais e (b) as tensões principais. Solução. Pela convenção de sinais temos: Para acharmos os planos principais usamos a equação (2.4). Para acharmos as tensões principais usamos as equações (2.1) e (2.2). Exemplo 2 (elaborado com base em Hibbeler, 2015). A viga tem seção transversal retangular e está sujeita às cargas mostradas. Determine as tensões principais e a tensão de cisalhamento máxima no plano desenvolvidas no ponto A. Esse ponto está imediatamente à esquerda da carga de 10 kN. Solução. Reações de apoio: Vamos fazer uma seção em AB e achar as forças internas resultantes. Força normal: Força cortante: Momento fletor: Resultantes: Tensões principais: Tensão de cisalhamento máxima no plano: TEMA 2 – CÍRCULO DE MOHR O círculo de Mohr é uma maneira gráfica de representar as equações de transformação para o estado plano de tensões. Para desenhar o círculo de Mohr desenham-se os eixos x e y; x representa as tensões normais (σ) e y as tensões de cisalhamento (τ). Se pegarmos um pedaço quadrado infinitesimal do elemento estudado (Figura 4) e acharmos os valores de σx, σy e τxy, podemos montar o círculo de Mohr conforme mostra a Figura 5. Figura 4 – Pedaço quadrado infinitesimal do elemento estudado e seu plano principal Fonte: Beer et al., 2015. Figura 5 – Círculo de Mohr Fonte: Beer et al., 2015. Primeiro achamos o ponto X com as coordenadas do ponto (σx; - τ xy); o ponto Y tem como coordenadas (σy; τ xy). Ligando esses dois pontos com uma reta achamos o ponto C, que é onde essa reta cruza o eixo horizontal. Esse ponto C, também chamado de σméd, será . Com centro e C e passando por X e Y pode ser traçado um círculo que terá raio R, raio esse que pode ser achado por trigonometria. A Figura 5 também mostra que A e B representam os planos principais e que por trigonometria pode ser achado o plano principal. A tensão de cisalhamento máxima será o valor τ máximo possível no círculo. 2.1 EXEMPLOS Exemplo 1 (Hibbeler, 2015). Determine (a) as tensões principais e (b) a tensão de cisalhamento máxima no plano e a tensão normal média. Especifique a orientação do elemento em cada caso. Solução. Da figura tiramos que: Colocando as coordenadas em um diagrama: Com o diagrama podemos tirar os dados pedidos: Exemplo 2 (Beer et al., 2015). Para o estado plano de tensão mostrado, determine o intervalo de valores de θ para os quais a tensão normal σx’ é igual ou menor que 100 MPa. Solução. Da figura tiramos que: Colocando as coordenadas em um diagrama: Agora vamos achar o ponto C, o raio R e o ângulo θp. Marcamos onde a tensão é σx’ = 100 MPa e achamos os ângulos: A tensão normal σx’ será igual ou menor que 100 MPa para o intervalo: TEMA 3 – ESTADO TRIPLO DE TENSÕES No estado plano de tensões tínhamos sempre σz = 0; τyz = 0 e τxz = 0, mas quando essa condição não ocorre temos o estado triplo de tensões, no qual temos a tensão normal e as duas tensões de cisalhamento em cada face do elemento (Figura 6). Figura 6 – Estado triplo de tensões Fonte: Hibbeler, 2015. Se o elemento da Figura 6 rotacionar em torno de um dos eixos x, y ou z a transformação de tensão pode ser feita usando-se o círculo de Mohr (Figura 7). Os pontos σmín, σint e σmáx são as tensões principais nos planos principais. Figura 7 – Círculo de Mohr para estado triplo de tensões Fonte: Hibbeler, 2015. 3.1 TENSÃO DE CISALHAMENTO MÁXIMA ABSOLUTA Na Figura 7 podemos ver que o ponto mais acima do círculo maior é chamado de τabs máx, ou seja, aquele é o ponto da tensão máxima absoluta. Para o estado plano de tensões, que tem σz = 0, pode ser construído o círculo de Mohr tridimensional. O eixo z é o eixo que estaria saindo do plano na origem dos eixos, perpendicular aos eixos x e y. Para construir o círculo de Mohr nesse caso existem duas opções: 1. As tensões principais no estado plano têm o mesmo sinal. O primeiro círculo é formado pelas tensões principais do estado plano e o segundo círculo com uma das tensões principais e a origem O (Figura 8). Figura 8 – Círculo de Mohr para tensões principais no estado plano de mesmo sinal Fonte: Beer et al., 2015. 2. As tensões principais no estado plano têm sinais diferentes. Os dois círculos são formados com uma das tensões principais e a origem O (Figura 9). >Figura 9 – Círculo de Mohr para tensões principais no estado plano com sinais diferentes Fonte: Beer et al., 2015. O valor da tensão de cisalhamento máxima absoluta corresponde ao ponto D’ na Figura 8 e ao ponto D na Figura 9. 3.2 EXEMPLOS Exemplo 1 (Beer et al., 2015). Para o estado plano de tensão indicado, determine a tensão de cisalhamento máxima quando (a) σy = 40 MPa e (b) σy = 120 MPa. Solução. (a) Da figura e do enunciado tiramos que: Construindo o círculo de Mohr: Para achar a tensão normal em C: Para achar o raio usamos o teorema de Pitágoras: Construindo o círculo de Mohr tridimensional: Com isso pode-se concluir que: (b) Da figura e do enunciado tiramos que: Construindo o círculo de Mohr: Para achar a tensão normal em C: Para achar o raio usamos o teorema de Pitágoras: Construindo o círculo de Mohr tridimensional: Para achar o raio do círculo maior vamos achar a tensão máxima principal. Exemplo 2 (Hibbeler, 2015). A tensão em um ponto é mostrada no elemento. Determine as tensões principais e a tensão de cisalhamento máxima absoluta. Solução. Observando as tensões vamos observar o plano yz: Desenhando o círculo de Mohr: Achando o centro: Achando o raio: Portantoas tensões principais serão: Quanto à outra tensão principal, vamos pegá-la no elemento original: Construindo o círculo de Mohr tridimensional: TEMA 4 – DEFORMAÇÃO PLANA Na deformação plana, o elemento estará sujeito apenas às deformações εx, εy e a γxy. Lembramos que as deformações normais variam e que os comprimentos do corpo e a deformação por cisalhamento causam uma variação nos ângulos. Figura 10 – Deformações normais εx, εy e deformação por cisalhamento γxy de um elemento Fonte: Gere; Goodno, 2017. Deformações normais positivas alongam em seu eixo e as deformações por cisalhamento positivas são aquelas em que o ângulo interno (do vértice O da Figura 10) é menor que 90° depois da deformação. As deformações em um ponto de um elemento vão variar segundo a orientação dos eixos. Para a transformação no plano de deformação usaremos as seguintes equações: (2.5) (2.6) (2.7) 4.1 DEFORMAÇÃO PRINCIPAL Podemos encontrar a orientação das deformações normais máximas e mínimas com a equação: (2.8) As deformações normais principais aparecem a cada 90º e nesses pontos a deformação por cisalhamento será nula. 4.2 DEFORMAÇÕES POR CISALHAMENTO MÁXIMAS A deformação por cisalhamento máxima tem uma orientação de 45° das deformações principais e a deformação por cisalhamento mínima tem a mesma intensidade da máxima, mas possui sinal negativo. 4.3 EXEMPLOS Exemplo 1 (elaborado com base em Gere; Goodno, 2017). Um elemento de material submetido ao estado plano de deformações (veja a figura) apresenta as seguintes deformações: εx = 280 x 10 -6, εy = 420 x 10 -6 e a γxy= 150 x 10 -6. Calcule as deformações para um elemento orientado em um ângulo θ = 35°. Solução. Para achar as deformações no ângulo pedido vamos utilizar as equações (2.5), (2.6) e (2.7). Exemplo 2 (Hibbeler, 2015). As componentes do estado plano de deformação no ponto sobre a chave de porca são εx = 260(10 -6), εy = 320(10 -6) e γxy = 180(10 -6). Use as equações de transformação da deformação para determinar (a) as deformações principais no plano e (b) a deformação por cisalhamento máxima no plano e a deformação normal média. Em cada caso, especifique a orientação do elemento e mostre como as deformações distorcem o elemento no plano x-y. Solução. (a) Para achar as deformações principais devemos achar o plano principal primeiro: Substituindo nas equações (2.5) e (2.6): Portanto as deformações principais são: (b) A deformação por cisalhamento máxima no plano tem uma orientação de 45° das deformações principais, portanto: Substituindo na equação (2.7): A deformação normal média será a média entre ε1 e ε2. E é a deformação quando a deformação por cisalhamento é máxima. TEMA 5 – CÍRCULO DE MOHR PARA O ESTADO PLANO DE DEFORMAÇÕES O círculo de Mohr para o estado plano de deformações é construído de maneira semelhante ao círculo de Mohr para o estado plano de tensões. Para construir o círculo deve-se construir dois eixos: o horizontal será o eixo ε, positivo para a direita, e o vertical será o eixo γ/2, positivo para baixo. Marcamos o ponto A (εx, γxy/2) e o ponto B (εy, -γxy/2), ligamos os dois pontos e achamos o ponto C, que é onde cruza o eixo ε; esse ponto será a εmédia. Desenhamos um círculo que passe por A e B e tenha centro em C (Figura 11). Figura 11 – Círculo de Mohr para o estado plano de deformações Fonte: Gere; Goodno, 2017. As deformações principais serão P1 e P2 e as deformações de cisalhamento máximas, S1 e S2. Para achar as deformações para um ângulo θ, o ponto D, gira-se 2θ, a partir de A no sentido anti-horário. 5.1 Exemplos Exemplo 1 (Beer et al., 2015). Para o estado plano de deformação dado, use o círculo de Mohr para determinar o estado plano de deformação associado aos eixos x’ e y’ que sofreram uma rotação do ângulo θ dado. εx = -800μ εy = +450μ γxy = 200μ θ = 25° Solução. Marcando os pontos A e B e achando o círculo: O ponto C será a εmédia: Para achar o raio usamos o teorema de Pitágoras: A partir de A rotaciona 2θ = 50° no sentido horário: Vamos achar agora as coordenadas de D e D’: D (-653,34 μ, -828,997 μ) D’ (303,346 μ, 828,997 μ) Exemplo 2 (elaborado com base em Gere; Goodno, 2017). Um elemento de material em estado plano de deformações (veja a figura) está submetido às deformações εx = 480 x 10 -6, εy = 70 x 10 -6 e a γxy= 420 x 10 -6. Determine as quantidades a seguir: (a) as deformações para um elemento orientado em um ângulo θ = 75°, (b) as deformações principais e (c) as deformações de cisalhamento máximas. Resolva o problema usando o círculo de Mohr para o estado plano de deformações. Solução. Temos os dados: Fonte: Gere; Goodno, 2017. Marcando o ponto A (480 x 10-6, 210 x 10-6) e o ponto B (70 x 10-6, -210 x 10-6), ligamos os pontos e traçamos o círculo. O ponto C será a εmédia: Para achar o raio usamos o teorema de Pitágoras: (a) 2θ = 150° Saindo de A e girando 150° no sentido anti-horário achamos o ponto D. Com trigonometria pode ser achado o ângulo θp1: Pelo desenho podemos tirar que: Com trigonometria pode ser achada a coordenada do ponto D e D’: Fonte: Gere; Goodno, 2017. (b) Fonte: Gere; Goodno, 2017. (c) Fonte: Gere; Goodno, 2017. FINALIZANDO Nesta etapa, aprendemos sobre estado plano de tensões. Vimos como transformar a tensão para diferentes orientações dentro de um sistema de coordenadas. Aprendemos também sobre o estado plano de deformações. Foram apresentados exemplos dos assuntos abordados, mas para melhor fixar o conteúdo faça mais exercícios envolvendo tais assuntos. REFERÊNCIAS BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. GERE, J. M.; GOODNO, B. J. Mecânica dos materiais. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson Education, 2015.