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Brasil Paralelo - A História do Feminismo - Ana Campagnolo

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E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
1
CURSO 
“A HISTÓRIA DO FEMINISMO”
 COM PROFESSORA ANA CAMPAGNOLO
Quais foram as primeiras aparições de movimento de viés feminis-
ta e quais são as falsas narrativas que ouvimos a este respeito? Este 
é o tema desta aula. 
Ao final desta aula, espera-se que você saiba: qual o conceito 
de feminismo; qual a diferença entre as discussões históricas a 
respeito do sexo e a revolução sexual; o que são os dois discursos 
do movimento feminista; por qual dos iluminismos o feminismo 
foi influenciado; quem foi Marquês de Sade e qual sua importância 
para a revolução sexual; quem foram os primeiros defensores do 
feminismo; quais as semelhanças e quais as diferenças entre o 
pensamento de Mary Wollstonecraft e o feminismo atual; como 
houve o fim da primeira revolução sexual. 
BONS ESTUDOS! 
AULA 01 - SINOPSE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
#11
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
3
Olá pessoal. Eu sou Ana Caroline Campagnolo. Eu sou deputada 
estadual em Santa Catarina, eleita em 2018, e a única parlamentar con-
servadora do meu estado. Desde 2009, sou professora. Eu me formei em 
2011. Eu sou graduada em História e pós-graduada em Literatura Portu-
guesa. Durante algum tempo, tentei fazer uma pesquisa sobre feminismo 
e história das mulheres pelas vias tradicionais e acadêmicas. Eu cheguei 
a me inscrever e ser aprovada em várias disciplinas, inclusive na banca de 
qualificação do mestrado, em uma área de pesquisa de história do tempo 
presente, em uma universidade pública em Santa Catarina. Contudo, por 
imbróglios com a professora, acabei abandonando a vida universitária. 
Resolvi, a partir de então, estudar história das mulheres e feminismo de 
uma forma independente, pelos meus próprios caminhos, pesquisando a 
bibliografia e lendo, de uma forma cronológica, essas obras. O resultado do 
meu estudo foi o livro “Feminismo: Perversão e Subversão” (2019), publicado 
pela Vide Editorial, famosa editora do professor Olavo. O livro é composto de 
quatrocentas páginas, que são divididas em cinco capítulos, sobre a história 
do movimento feminista desde 1790 até os dias de hoje. Nesse livro, abordo 
todas as etapas e pautas do movimento feminista desde que surgiu, desde 
educação até trabalho, direito, aborto, divórcio, ideologia de gênero. Neste 
curso, manterei aproximadamente a mesma divisão de cinco capítulos pre-
sente no livros, ministrando os conteúdos sobre o feminismo também em 
cinco aulas. 
De uma forma resumida, nesta primeira aula vamos falar sobre os 
precursores da revolução sexual e do feminismo. Eu vou explicar para vocês 
por que o feminismo é a mesma coisa que a revolução sexual. 
Na segunda aula, vamos falar sobre as questões de direito ao voto 
e ao trabalho. Na terceira, continuaremos abordando os direitos civis, até 
chegar nas pautas do aborto, do divórcio. E assim, sucessivamente, na 
INTRODUÇÃO
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
4
quarta e quinta aulas, trataremos da ideologia de gênero, que é a pauta 
mais recorrente e a última pauta do movimento feminista. 
2. O QUE É O FEMINISMO?
Uma das principais dificuldades para começarmos a debater o movi-
mento feminista é conceituá-lo, ou seja, é definir o que é feminismo de uma 
forma que seja satisfatório para todas as mulheres que se dizem feministas. 
Se você discute com feministas na internet, provavelmente se deparou com 
este problema: toda vez que você conversa com uma feminista, esta afirma 
que aquele feminismo não é o dela. Ela declara: “Eu sou feminista, mas não 
acredito nisso. Isso é femismo, não é feminismo. O meu feminismo não é 
desse jeito”. 
É verdade que existem vários tipos de feminismo. O feminismo lib-
ertário, o feminismo negro, o feminismo de direita, a cristã feminista - mul-
heres que se afirmam cristã e feministas, o que é um completo absurdo -, 
feminismo marxista, entre outros. De fato, existem muitos tipos de femi-
nismo, mas, para podermos tratar desse assunto, precisamos definir pelo 
menos um conceito mínimo, definir qual é a espinha dorsal do movimento. 
É preciso definir qual é a coluna vertebral do movimento, pois não é possível 
que este se metamorfoseei tantas vezes que não consigamos falar sobre 
ele. 
Dentre os vários livros que li, encontrei uma definição de 1979 bas-
tante satisfatória, a qual afirma que o movimento feminista pode ser enten-
dido por “aquelas pessoas que entendem que existe uma desigualdade 
entre homens e mulheres e disso decorre a desvantagem das mulheres 
mulheres e é preciso desfazer essa desvantagem através de políticas 
públicas ou de ações diretas e afirmativas”. Resumidamente, de uma 
forma genérica, este seria o ponto de vista do feminismo. Praticamente 
todas as feministas acreditam nessa definição: que homens e mulheres 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
5
não são iguais, que existe a desvantagem para as mulheres - que são e 
sempre foram oprimidas - e que nós, como sociedade organizada políti-
ca-partidária, precisamos criar políticas públicas e intervir diretamente para 
que tais vantagens diminuam. Este é o conceito mais básico do feminismo. 
O algo em comum entre os vários movimentos feministas é essa ideia de 
que a mulher é o sexo oprimido e está sempre em desvantagem. 
No decorrer das aulas, veremos que, em volta desse pensamento, 
gravitam ideias que são paralelas e acessórias, as quais não necessaria-
mente definem o movimento feminista. 
3. REVOLUÇÃO SEXUAL
Ouvimos com bastante frequência que o movimento feminista 
defende o direito da mulher de dirigir, o direito da mulher de trabalhar, o 
direito da mulher de votar, e assim sucessivamente, como se isto fosse o 
movimento feminista. Na verdade, isso não é. Por quê? A espinha dorsal 
do movimento feminista é esta ideia de que a mulher é o sexo oprimido 
e, politicamente falando, a revolução sexual. E não sou eu quem digo isso. 
Poderíamos citar várias pensadoras feministas que abordaram esse tema. 
Eu trouxe um livro que não deixa dúvidas disso, até mesmo pelo próprio 
título: “Política Sexual” (1790), de Kate Millett. 
Kate Millett é uma feminista clássica. Ela é uma das mães do femi-
nismo a partir das décadas de 1960 e 1970, do feminismo de segunda onda, 
portanto. Em “Política Sexual”, Millett expõe várias queixas a respeito dos 
caminhos tomados pelo movimento feminista ao conquistar direitos civis ou 
ao ter conquistas no âmbito da cidadania, porque, para ela, isto não mudou 
absolutamente nada na vida das pessoas e foi completamente inócuo, uma 
vez que não houve uma verdadeira transformação nos costumes sociais e 
sexuais. Isso significa que, para Kate Millett, uma das mães do movimento 
feminista, o feminismo é a mesma coisa que revolução sexual. Não importa 
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6
se vai haver voto ou não, se vai haver propriedade privada ou não, se as 
mulheres vão ter o direito de dirigir ou não, desde que a revolução sexual 
e a transmutação das relações humanas, das relações do casamento e da 
família se modifiquem. 
É preciso que isso fique absolutamente claro porque, a partir desse 
ponto de vista, vamos entender o restante que será conversado nas aulas 
seguintes. 
Faz um bom tempo que esse livro de Kate Millett não é editado, mas 
você pode encontrá-lo em sebos. É uma leitura que compensa, pois per-
mite que você tenha um panorama de qual é a real cabeça do movimento 
feminista e o que esperam que este conquiste. Você vai perceber que não 
é um objetivo cívico, um objetivo de conquista de cidadania ou igualdade 
para homens e mulheres, mas sim a destruição de um status de casamento 
e de família que sempre tivemos, o qual foi construído no Ocidente e há 
muito existe. 
4.1. O SURGIMENTO
Para adentrarmos nos precursores da revolução sexual e do movi-
mento feminista,teremos que nos transportar para a França, para a Inglat-
erra e para a América do Norte, por volta de 1750. 
Em meados do século XVIII, começam a pipocar os primeiros grandes 
pensadores da revolução sexual. A partir deste momento, quando falarmos 
“feminismo” ou “revolução sexual”, estaremos falando da mesma coisa, por 
isso essa introdução foi bastante importante. O sexo sempre foi um âmbito 
muito polêmico da natureza humana. Quais as restrições do sexo, qual o 
limite, como deve ou não ser feito, o que é digno e o que é indigno dentro 
do sexo, o que deveria ser liberado e o que deveria ser crime são discussões 
que permeiam a humanidade há muito tempo. O vício sexual, o pecado 
sexual não é uma invenção do movimento feminista. Isso tem que ser dito, 
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7
porque faremos algumas distinções. 
O pecado ou, para quem é cristão e está assistindo à aula, as infrações 
sexuais independem e são anteriores à qualquer ideologia, de esquerda 
ou não. Essas fraquezas sexuais ou mesmo a libido natural do ser humano 
podem ser usadas com algumas finalidades. Quando você pratica sexo para 
atender a uma finalidade fisiológica, por puro prazer, você, que está tentando 
convencer alguém a fazer sexo consigo com essa finalidade, provavelmente 
está praticando um ato de sedução, podendo ser pecaminoso ou não. A 
prática do sexo em si não é errada e tentar convencer o outro também 
não é necessariamente errado. Quando você está obtendo uma vantagem 
fisiológica do sexo, chamamos isso simplesmente de sedução. Por outro 
lado, quando você está obtendo uma vantagem material, denominamos 
isso de prostituição. Neste caso, não é necessário questionar se é certo ou 
errado. Evidentemente, é algo errado, pois você está manipulando seja as 
fraquezas seja a vontade sexual de alguém com fins materiais e financeiros.
Qual é a diferença dessas coisas, que podem ou não ser erradas, para 
a revolução sexual? O que muda? Por que a revolução sexual não é somente 
uma questão religiosa? Por que não se trata somente de pecado quando 
falamos de revolução sexual? Porque, no caso da revolução sexual, o sexo 
não é usado nem com finalidades fisiológicas, nem com finalidades finan-
ceiras. Na revolução sexual, o sexo é utilizado com finalidades políticas. 
Na revolução sexual, todas as intenções, fraquezas, desejos humanos 
relacionados ao sexo são dirigidos, coordenados ou até, às vezes, liber-
ados desde que gerem um resultado de controle. 
Para entender melhor este tema, é preciso ler livros sobre globalismo. 
Provavelmente, a Brasil Paralelo vai fazer aula sobre o globalismo1 também. 
A revolução sexual apresenta uma ligação com isso: liberar o sexo, dar 
impressão de um sexo liberal em troca de um controle político em outras 
áreas. Tal situação foi retratada em algumas histórias bem clássicas. 
1 Esse assunto foi abordado no debate “Globalismo: Bastidores do Mundo” entre Olavo de Carvalho e Paulo 
Roberto de Almeida, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=CkgQhnApLow
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4.2. OS CASOS BÍBLICOS
Provavelmente, você já ouviu falar de Sansão e Dalila. 
A história de Sansão e Dalila se trata de um caso clássico em que 
o sexo é utilizado com finalidades políticas. Sansão, sendo parte do povo 
hebreu, estava ciente de que não poderia namorar com alguém de outro 
povo, uma mulher pagão. Contudo, ele se rendeu à sedução e aos encantos 
de uma mulher que não pertencia ao seu povo, a qual se chamava Dalila. 
Como Dalila intentava ajudar a destruir o povo de Israel, usou o sexo e suas 
artimanhas femininas para conseguir informações de Sansão. Dalila inclu-
sive conseguiu cortar o cabelo deste, deixando-o fraco. Com isso, Sansão 
perdeu sua força e parou de ser um juiz poderoso na defesa de Israel, a 
ponto de ser capturado e acabar morrendo enquanto estava preso. Esse é 
um caso exemplar e simbólico de como o sexo pode ser usado com a final-
idade política, uma finalidade de controle ou de destruição política. 
Sansão e Dalila (1630), Anthony van Dyck
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Há um outro caso de que gosto muito, tanto que o escolhi para ser 
a capa do meu livro. Trata-se da história de Salomé e João Batista. João 
Batista acusou o rei de adultério por ter roubado a mulher do seu irmão. Por 
causa de um casamento ilegítimo que havia contraído, ele acabou sendo 
preso. Salomé, filha de Herodias, em uma festa organizada pelo rei, dançou 
para este, utilizando seus atributos sexuais e sedutores. O rei então lhe 
disse: “Se você dançar, eu lhe dou até metade do reino. Eu lhe dou qualquer 
coisa que você quiser”. Vejam, a fragilidade sexual do rei fez com que colo-
casse nas mãos dessa mulher um poder política que ela não teria ou nunca 
teve antes. Em troca de sua dança e sensualidade, Salomé pediu a cabeça 
de João Batista. E aí chegamos na história que conhecemos, de que João 
Batista perdeu a cabeça por causa da dança de Salomé. 
Eu escolhi essa história bíblica porque acho que representa muito 
bem uma analogia ao movimento feminista. Nós temos a primeira femi-
nista, que é a Salomé, pedindo a cabeça do primeiro homem cristão, que é 
João Batista. Com base nessa história, entendemos no que consiste, afinal 
de contas, o controle político através da revolução sexual.
As pessoas sempre têm essa ideia de que, se estiverem sexualmente 
liberadas para fazer qualquer coisa - golden shower, sexo com animais, 
sexo em grupo ou qualquer outro absurdo que você possa imaginar -, são 
livres. Elas desenvolvem o seguinte raciocínio: “Se eu posso fazer tudo no 
âmbito do sexo, eu sou livre. Se estou proibido de fazer algo no âmbito do 
sexo, estou sendo oprimido.”. Como esse é um espaço do comportamento 
humano muito sensível, as pessoas acham que a liberdade se resume a isso. 
Assim, quando recebem a liberdade sexual, fecham os olhos para todos os 
outros tipos de liberdade que podem estar perdendo: liberdade econômico, 
religiosa, etc.. 
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4.3. SANTO AGOSTINHO
Se estamos tratando desse uso político, 
não encontramos histórias simbólicas somente 
na Bíblia. Já na Era Cristã, há o caso de Santo 
Agostinho. Santo Agostinho escreveu sobre isso 
em livros, nos quais compara os vícios, os desejos 
humanos e a vontade divina. 
Na Cidade de Deus, percebemos um lugar 
onde o ego, as vontades, as fraquezas, os desejos 
sexuais são controlados, para que Deus tenha 
preferência. Na Cidade do Homem, é o contrário. 
O homem cresce o seu ego e a sua vontade e 
Deus é esquecido. 
Portanto, essa questão entre sexo e controle político é bem antiga. 
Entretanto, foi a partir de meados de 1789, durante o século XVIII, durante a 
Revolução Francesa, que isso começou a ser teorizado e explanado de uma 
forma explícita.
Veremos quais são que pensadores que falaram sobre isso e que 
expuseram esse ponto de vista. 
4.4. A ANTI-CRISTANDADE 
Tendo em vista essa revolução sexual e o controle através do sexo ou 
através da liberação do sexo, o movimento feminista é, desde o princípio, 
também anti-cristão. Se é um movimento revolucionário sexual, é, também, 
necessariamente, anti-cristão. 
Muitas pessoas costumam afirmar que o movimento feminista era 
bom no começo, quando era representado por mulheres modestas, cristãs 
 Agostinho de Hipona, 
Filósofo (354 - 430) 
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11
e muito decentes e que somente depois surgiu o problema. Isso não é 
verdade. Um dos primeiros livros feministas, escrito pela Cristina Pisano e 
publicado em 1405, chama-se “A Cidade das Mul-
heres”. 
Ainda no século XVI, o livro de Cristina era 
uma sátira aos livros de Santo Agostinho, um 
gigante excelente da literatura católica. Um dos 
primeiros livros que começa acontestar a moral e 
os direitos femininos ataca diretamente e satiriza 
a obra de Santo Agostinho. Vemos esse fenômeno 
se repetindo desde sempre, desde o início do 
movimento feminista. 
Há um outro livro muito bom que vocês 
podem estudar para entender essa gangorra 
entre sexo e poder. É o livro “O Despertar do 
Mundo Novo” (1937) de Aldous Huxley. Então, mencionamos alguns livros 
que ajudam vocês a entender essa questão da disputa entre sexo e poder: 
“Política Sexual” de Kate Millet, “O Despertar do Mundo Novo” de Aldous 
Huxley e os livros de Santo Agostinho. Nesta primeira aula, também 
usaremos como base o livro “Libido Dominandi” de Michael Jones. O livro é 
bastante longo, mas ajuda a entender como o movimento feminista utiliza 
o sexo como forma de poder. 
4.5. OS DOIS DISCURSOS
O movimento feminista apresenta dois discursos. Um discurso 
é aquele discurso que vende, o discurso para fora. Outro, é o discurso 
interno. 
O discurso vendido, que é muito falado hoje e está presente em todos 
os lugares é o discurso de que o movimento feminista defende a libertação 
 Cristina de Pisano, Poetisa 
(1364 - 1430)
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sexual. Finalmente, o movimento feminista admite qual é a sua pauta. É 
uma pauta sexual, não é uma pauta jurídica, econômica ou de direitos civis. 
É uma pauta sexual. O discurso vendido para fora é o discurso da liberação 
sexual. 
Por outro lado, o discurso exotérico, o discurso interno é o discurso 
do controle através da falsa impressão de liberdade. Isso acontece, por 
exemplo, quando o movimento feminista afirma que a mulher será livre do 
marido ao trabalhar, enquanto que, imediatamente, só está substituindo a 
submissão familiar pela submissão ao Estado, ao capitalismo, ao mercado 
de trabalho, e assim sucessivamente. 
Toda vez que você olha uma pauta feminista, saiba que apresenta 
outras coisas por trás. Quando as feministas defendem, por exemplo, o 
direito de trabalhar, não estão fazendo isso por entenderem que o trabalho 
enobrece, mas sim por causas escusas, como afastar a mulher da família e 
dos filhos. Percebam como essas questões são bem delicadas. Não existe 
nenhum problema ou dilema moral em trabalhar. Não é errado trabalhar e 
não é feminista trabalhar. No entanto, o discurso 
que existe por trás, é um discurso feminista. 
Chesterton, um dos conservadores que 
mais combateu o movimento sufragistas nas 
décadas de 1910 e 1920, escreveu em um de seus 
livros, chamado “Essencial de Chesterton”, que 
o problema do movimento feminista e das suas 
pautas não era exatamente o que elas vendiam, 
mas o que havia por trás. 
Chesterton era contra o sufrágio feminino, 
era contra o voto feminino não por ser contra o voto feminino, mas porque 
as feministas que o defendiam afirmavam que a conquista do voto femi-
 G. K. Chesterton, Escritor (1874 - 1936) 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
13
nino era uma arma de destruição da família. Por isso, Chesterton não podia 
defender essa pauta. O mesmo ele afirma acerca do socialismo: “Qual o 
problema que os cristãos poderiam ter com a ideia de compartilhar ou de 
partilhar as coisas e os bens que nós temos? Aparentemente, nenhum. O 
problema é que, novamente, os ideólogos que defendem o socialismo o 
fazem para destruir a família”. 
 Observamos isso se repetir na história do movimento femi-
nista. Este sempre apresenta uma pauta que parece simples, civil, jurídica, 
econômica, a qual vem travestida, escondendo, na verdade, objetivos 
escusos. 
5. O SURGIMENTO
Nesta dubiedade de discursos, precisamos compreender como 
começou o que hoje chamamos de movimento feminista. 
5.1. OS ILUMINISMOS
O movimento iluminista exerceu uma influência muito poderosa 
sobre o movimento feminista e sobre a revolução e, quem sabe, de uma 
certa forma, ambos são a mesma coisa. É importante lembrar e reforçar 
que quando os iluministas surgiram, tratava-se de teóricos homens. Os 
primeiros defensores do iluminismo, da revolução sexual, das pautas 
feministas são homens e não mulheres. Isso significa que este não é um 
movimento legitimamente feminino. É um movimento que manobra mul-
heres, mas que não tem uma origem feminina. 
No iluminismo, principalmente no início do século XVIII, houve pen-
sadores e teóricos homens defendendo o fim da ordem social cristã. Esses 
homens defendiam que a religião, as igrejas cristãs em geral e, especifica-
mente, a Igreja Católica, não deveriam mais ser a régua ou o padrão para 
medir as ações humanas e a organização da sociedade. Desde o princípios, 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
14
estes foram pensadores anti-Igreja. Há um anticristianismo presente. 
Portanto, é um movimento anticristão em essência e dele irão brotar as 
primeiras sementes do movimento feminista, razão pela qual sempre vou 
repetir: desde o começo, o movimento feminista é um movimento anti-
cristão. Ou seja, o movimento feminista não se tornou anticristão em 1960 
ou em 1970. 
A partir do Iluminismo, tem início uma guerra de ideias e cosmovisões. 
O tradicional pensamento aristotélico passa a ser contestado por Newton, 
Voltaire e Barão d’Holbach, o qual escreveu um livro chamado “Sistemas da 
Natureza”. As pessoas progressivamente começaram a materializar tudo. 
Para que você compreenda o que estava acontecendo, vou contar 
uma anedota, uma metáfora bem tosca. Até o advento do Iluminismo, 
imaginava-se que o vento balançava a folha das árvores. Ou seja, aquilo que 
é transcendente, metafísico influenciava o mundo material. Aquilo que não 
conseguimos ver, o vento, influenciava toda matéria. Então, o vento bal-
ançava a folha das árvores. Com o surgimento do Iluminismo, começa-se 
a racionalizar tudo, a ciência ganha status de religião, como se fosse algo 
sagrado e indiscutível, e, junto com isso, há o desprezo pelo que é tran-
scendente. De uma certa forma, é como se as pessoas pensassem que são 
as árvores que balançam e, assim, fazem com que o vento surja. Há uma 
mudança. Em vez de entender que o transcendente é o mais importante, 
entende-se que a matéria é o mais importante. Basicamente, a partir desse 
ponto de vista, compreende-se que somente a matéria importa. Por isso, 
veremos depois que o movimento feminista se encaixa no materialis-
mo-histórico dialética e se dá também com o marxismo e com tudo que 
é extremamente materialista e anti-metafísico. O namoro que existe entre 
esses dois movimentos é muito antigo. 
É importante mencionar que o Iluminismo se manifestou de duas 
formas: uma de direita e outra de esquerda. Lembrando sempre que, tendo 
em vista que o sistema vigente era o Antigo Regime, a monarquia, e os 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
15
iluminismos se contrapunham a esta, ambos, devido ao contexto, eram rev-
olucionários. No modelo antigo, no modelo monárquico, não havia direita e 
esquerda. 
É possível salvar algumas coisas do movimento iluminista. A Rev-
olução Americana que conquistou a Independência dos Estados Unidos é 
um movimento inspirado pelo iluminismo, embora não deixe de ser religioso. 
A Revolução Americana não é antirreligiosa, nem anti-clerical. Tratava-se 
de um movimento pela independência dos Estados Unidos. Os colonos, de 
uma certa forma, entendiam que isso era um chamado divino, um chamado 
religioso. Portanto, sob determinados aspectos, é uma revolução iluminista 
e de direita. Não é uma revolução esquerdista ou totalmente ruim. É uma 
revolução mais light e que respeita a religiosidade. 
Em contrapartida, há a Revolução Francesa. Na Revolução Francesa, 
a Igreja, a fé, tudo isso é descartado e desprezado ao máximo, como se fosse 
o câncer da humanidade. Assim, todos os grandes revolucionários da França 
eram anticlericais e já haviam abandonado a fé. Muitos eram antigos cal-
vinistas, protestantes,católicos, bispos, reverendos, que abandonaram tudo 
isso para abraçar um movimento cético, ateísta, antideísta, etc.. 
Por que isso é importante? Porque o movimento feminista surgiu e 
cresceu principalmente na França, não nos Estados Unidos. Igualmente, 
é preciso levar em conta que as duas revoluções, a Revolução Americana e 
a Revolução Francesa, aconteceram mais ou menos no mesmo período. A 
Revolução Americana pela independência dos Estados Unidos data de 1776. 
Um pouco depois, em 1789, acontece a Revolução Francesa. O feminismo e 
o esquerdismo que conhecemos se originam na França. É importante per-
ceber qual é a influência e qual é a relação do iluminismo de esquerda, do 
ateísmo, do ceticismo, da desconfiança com a religião, da inimizade com a 
Igreja, com o movimento feminista. 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
16
5.2. AS IRMANDADES
Passamos brevemente pelos Estados Unidos e pela França. Nós 
também podemos mencionar a Alemanha, país em que começam a surgir 
as primeiras lojas maçônicas e os illuminatis. Essas irmandades começam 
a perceber o sexo e as fraquezas humanas como uma forma de controle 
e começam a usá-los. O fundador da Ordem Illuminati, Adam Weishaupt, 
tinha estudado em escolas de jesuítas. 
Na Igreja Católica, existe a prática da 
Confissão, na qual você conta para o padre seus 
maiores medos, pecados e fracassos. O padre te 
ouve e, de uma certa forma, liberta-te do fardo do 
teu pecado, perdoa-te e ainda mantém tudo em 
sigilo. Nesta época, no século XVIII, esse era um 
processo conhecido por todos. Grupos de con-
trole psicológico, psíquico, político começam a 
fazer uma paródia da confissão religiosa para criar 
irmandades, nas quais as pessoas manipulavam 
as fraquezas umas das outras, algo que pode ser 
observado na história dos Illuminati, uma espécie 
de irmandade. Isso se estendeu por tanto tempo 
que alcançou até Alfred Kinsey. 
Alfred Kinsey é conhecido como o pai da 
revolução sexual, mas, na verdade, ele já é ultrapas-
sado, surge com muito atraso. Conforme comen-
tamos antes, as pessoas têm essa impressão de que 
a revolução sexual começou em 1960, com a pílula 
anticoncepcional e o movimento hippie. Isso está 
incorreto. A revolução sexual começou muito antes. 
 Adam Weishaupt, Filósofo 
(1748 - 1830)
 Alfred Kinsey, Biólogo 
(1894 - 1956)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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Alfred Kinsey já usava esses métodos de espionagem psíquica semelhantes 
a uma confissão adaptada a fim de controlar as pessoas. Caso vocês que-
iram ler um pouco sobre isso, recomendo o livro de T. C. Boyle, “O Círculo 
Íntimo”, que é uma espécie de romantização e uma reconstrução do que 
era o grupo de estudos do Alfred Kinsey. Kinsey realmente utilizava um 
histórico psíquico e um catálogo sexual das pessoas que faziam parte do 
seu grupo. Ele controlava as pessoas através do sexo. E essa literatura do T. 
C. Boyle dá um panorama geral sobre isso. 
Há uma revolução acontecendo nos Estados Unidos, outra na França 
e o surgimento desses pensamentos de irmandades, lojas maçônicas e 
Illuminatis, todos visando ao controle. É fundamental saber que nenhum 
desses movimentos, nenhuma ideologia ou partido político surge essen-
cialmente para ajudar as pessoas. Esses grupos surgem para controlá-las. É 
ilusão pensar que as pessoas criam movimentos de bom grado porque são 
Anjos de luz querendo iluminar a humanidade. Sempre tentem identificar 
e imaginar por que aqueles homens estão criando um grupo e qual a fina-
lidade deles. Por mais que possam trazer vantagens para as pessoas, esses 
grupos organizados política e ideologicamente via de regra têm o objetivo 
de controle. Controlar seus alunos, membros, asseclas, discípulos, seja lá o 
que for. 
6. OS TEÓRICOS
Visto o quadro geral da época, podemos focar nossa atenção na 
França novamente, em que aconteciam os primeiros passos da Revolução 
Francesa. Agora, vamos conversar sobre os grandes pensadores e teóricos 
que deram início à revolução sexual em 1780, e daí em diante. 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
18
6.1. O MARQUÊS DE SADE
Um nome muito importante para esta época é o Marquês de Sade. 
Provavelmente, você já ouviu falar dele ou, 
ao menos, ouviu a expressão “sadismo”. Cham-
amos de sádico uma pessoa má, que gosta de ver 
o mal e prejudicar os outros. Aqueles que visitam 
um site pornográfico a fim de assistir a imagens 
de um sexo violento e brutal digitam, na barra de 
pesquisa, “sadomasoquismo”, que é uma mistura 
de prazer com violência. Marquês de Sade é um 
pornógrafo que, em um período próxima à Rev-
olução Francesa, estava preso na Bastilha. 
 
Lembrem-se que a 
Revolução Francesa tem início 
com a queda da Bastilha. Antes 
do momento da derrubada, 
Marquês de Sade já havia sido 
transferido deste presídio, no 
qual passou cerca de cinco 
anos. Sade incitou a população 
a derrubar a Bastilha, gritando 
pela janela que os presos de 
lá estavam sendo torturados. 
Marquês de Sade foi preso no Antigo Regime e, posteriormente, foi preso 
novamente. Ele era preso em qualquer regime ou organização política. 
Queda da Bastilha (1789)
 Marquês de Sade, Escritor 
(1740 - 1814) 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
19
Marquês de Sade é um dos pais do pensamento revolucionário 
sexual e era um pornógrafo, um apologista da masturbação e um homem 
extremamente misógino. Quero compartilhar com vocês algumas frases 
que retirei do livro “Libido Dominandi”, que foram escritas por ele e tem 
relação com seu trabalho: 
 
“As mulheres não são nada mais que máquinas planejadas para 
voluptuosidade, que só deve ser alvo da luxúria. São autoridades pouco 
confiáveis, sempre que é preciso construir uma doutrina autêntica sobre 
este tipo de prazer.”. 
O trecho acima está no livro “Justine” de Sade. 
Sade começou a escrever seus romances pornógrafos e obscenos, tal 
como “Justine”, quando estava preso. Se você quiser dar um embrulho no 
seu estômago e descobrir quanto Marquês de Sade era nojento, procure na 
internet um filme chamado “120 dias de Sodoma”. Trata-se de uma adap-
tação para o cinema do livro de Sade com mesmo nome, o qual narra a 
história de quatro pessoas que prendem 120 adolescentes e fazem todo tipo 
de indecência que vocês possam imaginar. É um filme intragável, nojento, 
mas, se você quiser ter uma ideia de como a cabeça do Marquês de Sade 
era doentia, assista. 
Sade começou a difundir a pornografia e a masturbação na França. 
Seus livros e histórias começaram a ser lidos. Mais uma vez, notamos uma 
grande diferença entre a Revolução Americana e a Revolução Francesa. De 
uma certa forma, a Revolução Americana era uma revolução decente, feita 
por pessoas decentes que queriam a independência e o direito de votar, 
pessoas que queriam a autonomia da colônia. A Revolução Francesa, por 
outro lado, é feita por pessoas violentas e é marcada por chacina, exter-
mínio, guerra, atitudes bárbaras, misturadas com a pornografia do Marquês 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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de Sade e outros pensadores. 
Para mostrar que não estou inventando nada disso, eu trouxe alguns 
livros de esquerdistas para vocês. Um deles, “Do Estado à Orgia - Ensaios 
sobre o fim do mundo. Hobbes, Locke, Condillac, La Mettrie, Sade” (2016), 
foi escrito por um acadêmico brasileiro chamado Francisco Verardi Bocca. 
O livro trata de alguns pensadores dessa época, os quais já defendiam uma 
bagunça total no sistema moral.
Marquês de Sade é um dos primeiros a defender que o casamento 
é ruim, que a vida das pessoas deve ser uma suruba interminável e que o 
sexo tem que ser livre. Essas pautas de amor livre e masturbação não foram 
defendidas primeiramente por mulheres, mas sim por homens como Mar-
quês de Sade. Com base no livro de Francisco Bocca,fiz um resumo do 
que Marquês de Sade defendia. Sade defendia: que as tensões eróticas 
deviam ser totalmente liberdade, permitindo que as pessoas fizessem o 
que tivessem vontade; que o vício devia ser incentivado e a virtude, não; que 
as pessoas deviam ser indiferentes umas às outras ao se relacionarem - ou 
seja, tratar o sexo com indiferença -; que a sensação era o mais importante 
e não a racionalização, pois é mais importante ter prazer do que avaliar o 
que você está fazendo. Ele defendia também: materialismo, masturbação, 
dominação, consumo, aniquilação, exaustão, tudo isso ligado aos conceitos 
de sexo. Se você quiser saber mais a respeito dessa confusão do Marquês 
de Sade, eu indico “Do Estado à Orgia”, um livro que, aparentemente, foi 
escrito por um esquerdista. 
Ao mesmo tempo em que Sade incentiva a cultura francesa com 
pornografia, a Revolução Francesa se estende e vai mostrando ser o total 
contrário daquilo que prometia. A revolução prometia ser a voz do povo e 
libertar este, mas foi um movimento extremamente violento e agressivo. 
Tão violento e agressivo que, em determinado período, chegou a ganhar o 
nome de governo do terror. O terror que Robespierre impetrou na França 
após a Revolução Francesa foi tão grande que até mesmo o Marquês de 
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Sade reconhecia isso. Eu trouxe um trecho de uma carta que Marquês 
de Sade enviou aos seus amigos correligionários em que fala sobre o que 
estava acontecendo na França. Sade escreveu o seguinte:
“Todos os padres refratários tiveram suas gargantas cortadas nas 
igrejas, onde eram mantidos, dentre eles, o arcebispo Arles, o mais res-
peitável e virtuoso dos homens. Não há nada igual ao horror dos massacres 
na França.” 
Até mesmo Sade percebeu que a França, após a Revolução Fran-
cesa, havia tomado um caminho completamente absurdo. Entretanto, nem 
por isso ele deixou de defender as suas pautas de amor livre e do fim da 
monogamia. Seu desprezo pelas mulheres era tão grande, sua misoginia 
era tal que fez, da sodomia (sexo anal), uma defesa política. Você provavel-
mente já ouviu ou viu isso nas ruas, em manifestações: a utilização do sexo 
anal como uma pauta política. Existem até cartazes “Sexo anal contra o 
capital”. As feministas de 2020 acham que estão inventando algo, mas o 
Marquês de Sade já havia feito da sodomia uma espécie de pauta política, e 
isso por causa do desprezo absoluto que nutria pelas mulheres. Ele era um 
misógino de verdade. Portanto, não são os cristãos, os pastores, os homens 
comuns brasileiros que são misóginos. Misógino é Marquês de Sade, um 
dos fundadores da revolução sexual. 
6.2. WILLIAM GODWIN
Enquanto isso acontecia na França, pensamentos revolucionários 
começaram a chegar na Inglaterra, uma vez que os pensadores desse país 
passaram a flertar com as ideias do movimento francês. Essas ideias fran-
cesas não se espalharam tanto pelo mundo naquela época, uma vez que os 
Estados Unidos era essencialmente conservador e religioso, e a Inglaterra 
também. Então, por mais que a Inglaterra defendesse mudanças políticas, 
como aconteceu com Oliver Cromwell e com a Revolução Gloriosa, e os 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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Estados Unidos também, com a Revolução Amer-
icana, eram revoluções praticamente políticas. Na 
França, por outro lado, tratava-se de uma questão 
política, social, sexual, antirreligiosa, uma mistura 
de motivos. 
Embora alguns pensadores ingleses de 
fato tenham sido influenciados pelas ideias fran-
cesas, não prosperaram em defender isso dentro 
da Inglaterra. Um desses pensadores era William 
Godwin. 
 
William Godwin é um dos pensadores da revolução sexual. Quero 
frisar para que vocês prestem atenção: novamente, temos um homem. Não 
falamos de mulheres ainda, porque ainda não apareceram aqui. William 
Godwin era contra monogamia e contra o casamento, esse casamento 
tradicional, católico, cristão, que conhecemos. 
Vejam, os primeiros a levantar a ban-
deira do fim do casamento, do divórcio 
facilitado, da liberdade sexual, não são as mul-
heres, são os homens. Até o momento, nós só 
estamos falando de homens. 
Talvez vocês já tenham ouvido falar do 
William Godwin porque, além da literatura, era 
um dos inimigos de Edmund Burke. 
 Oliver Cromwell, Líder Político
(1599 - 1658)
William Godwin, Jornalista 
(1756 - 1836)
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6.3. EDMUND BURKE
Edmund Burke é o pai do conservadorismo. 
Há um livro dele chamado “Reflexões sobre a rev-
olução na França” (1790), no qual faz uma análise, 
que vocês podem ler para entender o que foi a 
revolução na França e qual foi a participação de 
William Godwin e das feministas nesse processo. 
A Revolução Francesa e a Revolução Americana 
aconteceram quase que ao mesmo tempo e 
Burke, embora conservador e monarquista, não foi 
totalmente contra a independência dos Estados 
Unidos, porque entendeu que o rei e a monarquia 
inglesa haviam sido injustos com os americanos em certos pontos. Ou seja, 
Burke não era um cego reacionário que defendia o rei a toda custa, era um 
homem muito lúcido e justo nos seus ponderamentos. Apesar de ter feito 
elogios a muitos aspectos da Revolução Americana, era completamente 
avesso à Revolução Francesa.
Por quê? Como é possível que Burke defendesse a Revolução Amer-
icana, mas não a Revolução Francesa, se ambas eram republicanas? Burke 
defendeu a primeira, mas não a segunda, porque percebeu que, no caso da 
França, não se tratava exatamente disso e começou a desmascarar o que 
estava por trás da Revolução Francesa. 
Nessa senda, conquistou alguns inimigos, tal como William Godwin, 
um dos primeiros a defender o amor livre e o fim do casamento. William 
Godwin também é famoso por ter sido o segundo marido da primeira fem-
inista, Mary Wollstonecraft. 
 Edmund Burke, Filósofo (1729 - 1797)
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6.4. A PRIMEIRA FEMINISTA
Mary Wollstonecraft escreveu um livro 
chamado “Uma Reivindicação pelos Direitos 
da Mulher”, publicado em 1792. Finalmente, já 
estamos em 1790 e somente agora vamos falar de 
uma mulher. Ainda assim, trata-se de um período 
muito curto, porque Mary morreu em 1797. Mary 
viveu muito pouco tempo e sua atuação fem-
inista sobre as ideias da França foi minúscula, 
praticamente insignificante, principalmente se 
comparada com todos os outros homens que 
citamos, inclusive o próprio Godwin.
 
Mary Wollstonecraft é nossa primeira feminista. Os dois maridos que 
teve defenderam as pautas de libertação sexual. Abordaremos isso logo 
mais, mas, antes, vamos fazer uma pausa em absolutamente tudo para 
falarmos um pouco desse livro, uma vez que a autora é a primeira feminista 
e é o primeiro livro de uma mulher dessa época que mencionamos. 
Mary Wollstonecraft escreveu “Uma Reivindicação pleos direitos da 
mulher” como uma forma de contestar vários pensadores, inclusive ilumi-
nistas, por entender que estes ignoravam o problema das mulheres. Em 
alguns pontos, Mary é igual às feministas de hoje e defendia pautas semel-
hantes. Em outros, é completamente diferente. Isso se explica pela própria 
passagem do tempo, afinal, evidentemente, os tempos eram outros. 
Há, por exemplo, uma crítica de Mary às mulheres e aos movimentos 
femininos que é completamente incompatível com o movimento feminista 
de hoje: Mary criticava mulheres que se comportavam como homens, as 
quais chamava de mulheres masculinizadas. As feministas sequer gostam 
deste termo, pois, para elas, não existe diferença entre comportamento 
 Mary Wollstonecraft, Escritora 
(1759 - 1797)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
25
feminino e masculino. Mary também defendia a maternidade e, de uma 
forma bem estranha, chegava a defender, em algunspontos, a modéstia e 
a castidade. Por quê? Porque Mary era uma inglesa, não uma francesa. 
Talvez você já tenha ouvido o ditado de que o peixe apodrece pela 
cabeça. Foi mais ou menos isso que aconteceu com Mary. Quando escreveu 
o livro, Mary era, provavelmente, virgem. Apesar de contaminada pelo movi-
mento francês, muitas de suas ideias vinham da Inglaterra e alguns de seus 
pensamentos e a forma de expor as pautas eram bem conservadores. Mary 
tinha o pensamento, recorrente no Iluminismo, de que todos os problemas 
da humanidade e os problemas morais dos homens e das mulheres pode-
riam ser solucionados com a razão, com o uso da razão, com a ciência, com 
a educação. Esse é um pensamento iluminista que, podemos observar, 
fracassou, dado que hoje as pessoas são super educadas e nem por isso 
são moralmente superiores. Se bem que não são tão bem educadas assim 
também, mas enfim… Mary também acreditava que as mulheres eram 
privilegiadas, um conceito completamente diferente do defendido pelas 
feministas de hoje. Atualmente, as feministas afirmam que as mulheres são 
oprimidas o tempo todo, que ser mulher é péssimo, é horrível e que não há 
nenhuma vantagem nisso. Mary Wollstonecraft não defendia isso. 
 A partir de agora, exporei alguns trechos do meu livro em que há 
citação de outras obras para facilitar o entendimento, uma vez que, nessa 
obra, tentei condensar a história do movimento feminista. Vamos abordar 
esse pensamento da Mary. Como primeiro feminista, vivendo nos anos 1700, 
Mary entendia que as mulheres eram socialmente privilegiadas. Vejam o 
que ela escreveu: 
“As mulheres às vezes se vangloriam de sua fraqueza, ganhando 
poder de modo astuto ao jogar com a fraqueza dos homens. E elas 
podem louvar sua influência ilícita, porque, como paxás turcos, têm 
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mais poder do que seus senhores, mas a virtude é sacrificada às sat-
isfações temporárias, e a respeitabilidade da vida, ao triunfo de uma 
honra. As mulheres, como déspotas, talvez tenham agora mais poder do 
que teriam se o mundo fosse governado por leis deduzidas do exercício 
da razão.”. 
Por que Mary achava isso? Ela reclamava que as mulheres da sua 
época eram fúteis, que só pensavam em cabelo, moda, vestido sapato, que 
só gostavam dessas futilidades, de fofoca e não se ocupavam de assuntos 
sérios como a república, a filosofia ou o combate político. De uma certa 
forma, Mary era uma mulher diferente das mulheres do seu tempo, assim 
como toda mulher que mexe com política hoje em dia, porque, por mais 
que muito tempo tenha passado, a maior parte das mulheres ainda não 
gosta de política. Mary reclamava inúmeras vezes de que as mulheres 
eram muito privilegiadas, pois, por exemplo, não precisavam trabalhar 
tanto quanto os homens e mesmo assim recebiam as vantagens de ter o 
que comer, de ter onde morar e etc.. Caso você queira compreender mais a 
fundo, do ponto de vista da Mary, esse pensamento do que é ser privilegiada 
em 1700, recomendo que você leia seu livro “Reivindicações dos direitos das 
mulheres”. 
Há um terceiro ponto no pensamento de Mary a ser abordado que não 
é necessariamente um pensamento feminista. Mary contestava o duplo 
padrão moral. Vocês também já devem ter ouvido alguém falar sobre isso, 
mas de uma forma chula. As pessoas fazem os seguintes questionamentos: 
“Por que um homem que vai para o carnaval e fica com todas as mulheres 
é um garanhão e uma mulher que vai para o carnaval e fica com todos os 
homens é uma vagabunda?”. O que essa frase quer dizer? Essa reclamação 
significa o quê? As pessoas que colocam esse questionamento estão rec-
lamando do duplo padrão moral. Mesmo que nós não sejamos feministas 
e que essa seja uma queixa feminista, é muito importante dizer que esse 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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duplo padrão moral não é um padrão cristão. 
Por quê? Quando o movimento feminista ataca a moral burguesa, 
acredita que esta e a moral cristã são exatamente a mesma coisa. Isso 
não está correto. Mary reclamava disso e afirmava que os homens e mul-
heres tinham que ser julgados pelo mesmo padrão moral, tinham que ter 
as mesmas virtudes. Ou seja, a objeção e a cobrança morais não deveria 
ser diferente para homens e mulheres. O cristianismo prega basicamente 
a mesma coisa. Se você ler a Bíblia inteira, não verá Deus dizendo que os 
homens podem cometer mais pecados que as mulheres. Não existe isso. A 
Bíblia fala sobre salvação individual e esta tem o mesmo preço para todos. 
Para Salvação, é preciso mudança de vida, viver em virtude, abandonar os 
vícios da carne, etc., e não há distinção na Salvação para homens e mul-
heres, pelo menos não no cristianismo. No Islã, há. 
Portanto, essa queixa do movimento feminista não é uma queixa anti-
cristã, porque o cristianismo já prega a observação de um mesmo padrão 
moral para ambos os sexos. Então, como se constitui um duplo padrão 
moral, uma diferença na cobrança moral entre homens e mulheres? Isso 
não aconteceu por causa do cristianismo, mas sim por causa da moral bur-
guesa. Isso aconteceu por causa das convenções sociais. Isso tem ligação 
com sociedade e não com religião especificamente. 
Assim, essa queixa da Mary Wollstonecraft não é necessariamente 
uma queixa feminista, porque é o correto que homens e mulheres sejam 
avaliados pelo mesmo padrão moral. A justificativa existente hoje social-
mente para as diferenças de avaliação entre o comportamento masculino 
e feminino são biológicas, sociais. Por exemplo: por que uma mulher não 
deve se dar ao desfrute tanto quanto um homem? Porque a consequência 
biológica disso é mais grave para as mulheres. Se engravidar de alguém, 
a mulher fica com um grande problema na sua vida. Por isso, deve se res-
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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guardar mais. Contudo, isso não está escrito na Bíblia, isso é uma convenção 
social. As queixas de Mary neste sentido não eram necessariamente queixas 
anticristãs. 
Ao mesmo tempo que apresenta algumas características diferentes 
do movimento feminista atual, Mary apresenta outras que são iguais. Isso 
significa que ela é a mãe de alguns pensamentos do movimento feminista. 
Agora, vamos abordar dois desses pensamentos, que são escrachados aqui 
no livro. É evidente que, em cada página do livro da Mary que você lê, per-
cebe as primeiras sementinhas do movimento feminista. A primeira rec-
lamação que ela faz é perfeitamente compatível com o que o feminismo de 
hoje acredita. Para Mary, homens e mulheres não são diferentes social-
mente, nem em questão de preferências e etc., a não ser por questões 
culturais e históricas. Ou seja, é exatamente a mesma coisa que o movi-
mento feminista diz hoje. De acordo com essa concepção, se os homens e 
mulheres fossem educados para serem iguais, seriam iguais. Se as meninas 
gostam de bonecas e os meninos, de carrinhos, é devido a uma construção 
social. Se homens e mulheres se comportam de formas diferentes é tudo 
resultado de uma construção social. Neste ponto, o movimento feminista 
começa a negar toda influência biológica, psicológica, hormonal, isso não 
existe, tudo é uma construção cultural e por isso deve ser derrubada. Mary 
Wollstonecraft também acreditava nisso. 
No meu livro, abordei esse assunto. O trecho abaixo está presente na 
página 71:
“Mary não suportava a futilidade feminina, ela acreditava que 
se houvesse uma drástica mudança no que se exige das mulheres no 
plano educacional, então nós poderíamos saber, com clareza, quais são 
as tendências naturais da mulher e quais lhe são impostas.”. 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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O que Mary estava querendo dizer? Mary estava querendo dizer que 
as mulheres só são fúteis e ficam o dia todo falando sobre cabelo e vestido 
porque não receberam uma educação iguala dos homens. Na época da 
Mary, não havia tantas pesquisas, mas, com o tempo, essa tese dela foi des-
bancada e eu vou mostrar um pouco disso para vocês. 
Hoje, as mulheres têm um acesso completamente democrático 
à internet, aos cursos nela disponíveis. Pensemos, por exemplo, na Brasil 
Paralelo. A Brasil Paralelo é uma plataforma totalmente democrática. Não 
há uma seleção entre homens e mulheres, negros ou brancos, gays ou 
heteros, para se tornar membro. Qualquer pessoa pode assistir aos cursos 
do Núcleo de Formação. Assim como na Brasil Paralelo, no Youtube, você 
também encontra vídeos sobre praticamente qualquer assunto, desde 
como fazer um ferro de passar roupas com uma garrafa PET até um tutorial 
de maquiagem. Você encontra absolutamente tudo na internet. Mesmo 
assim, com dinheiro, com a introdução no mercado de trabalho, com todos 
os avanços e com toda democracia na educação que existe hoje, as mul-
heres continuam com as mesmas preferências. Elas assinam, assistem e 
se inscrevem em canais de tutorial de maquiagem. Da mesma forma, os 
homens continuam se inscrevendo em tutoriais de como reformar o carro e 
investir na Bolsa de Valores. E como isso se construiu quanto mais o tempo 
passou. 
Então, o que acontece hoje? A tese da Mary Wollstonecraft foi total-
mente desbancada. Mary afirmou que se déssemos às mulheres acesso a 
uma educação filosófica de alto nível, deixariam a maquiagem. Negativo. 
Hoje, a mulher ganha quinze mil reais, é C.E.O. do Banco do Brasil e investe 
dez mil reais do seu salário na própria beleza, no próprio corpo, em roupas, 
sapatos e bolsas de marca. Ou seja, as preferências masculinas e femininas 
se mostraram resistentes ao tempo, às mudanças sociais e até mesmo às 
mudanças econômicas. 
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Portanto, essa primeira tese da Mary de que as mulheres e os homens 
seriam iguais se fossem educados de maneira igual foi desbancada, isso não 
aconteceu. Apesar de tudo, o movimento feminista continua insistindo nessa 
tese, dizendo que é preciso haver uma mudança maior, que houve poucas 
mudanças. Não basta as escolas serem públicas, mistas e obrigatórias, isso 
não está fazendo efeito. Agora, é preciso criar leis e ações afirmativas para 
que as mulheres se pareçam mais com os homens como, por exemplo, 
igualar, por via de lei, o salário da Marta, uma jogadora de futebol feminino, 
com o salário do Neymar. Por quê? Porque se for por outras vias sociais, 
isso não vai acontecer, pois as mulheres jamais vão contribuir e assistir 
tanto futebol quanto os homens. Mesmo tendo percebido que com tantos 
avanços, após séculos, as preferências continuaram existindo, as feministas 
insistem que a mudança não é mais social e deve vir por força de lei. 
No começo da aula, nós falamos sobre isso. O movimento feminista 
acredita que há uma desigualdade, uma desvantagem entre homens e 
mulheres, a qual deve ser destruída por força de mudanças políticas, sociais, 
etc., impostas. Esse é um dos maiores problemas do movimento feminista: 
o movimento não aceita a forma como a sociedade naturalmente se orga-
niza, porque, para elas, trata-se de uma organização cultural, construída 
historicamente e que, por isso, não é natural. 
Na verdade, é da natureza do ser humano construir tradições. Os 
tigres, os leões, as lagartixas não constroem tradições, porque não é da 
natureza deles. Por outro lado, é da natureza do ser humano experimentar 
as coisas, manter aquelas que são boas e continuar as utilizando, fazendo 
delas um modelo padrão. Por mais que algo seja uma construção cultural, 
não significa necessariamente que é ruim, que é errado. 
Por exemplo: é uma construção cultural comermos sentados em 
uma cadeira, com os pratos sobre a mesa. Isso quer dizer que temos que 
desconstruir essa forma de nos alimentarmos e começarmos a comer 
debaixo da mesa, só porque comer sobre a mesa é uma convenção social? 
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É absurdo pensar que todas as convenções sociais são ruins. E esse é um 
dos pensamentos da Mary. 
Qual a relação deste com o feminismo de hoje? Esse pensamento 
apresenta uma ligação intrínseca, muito forte, com a escola pública, 
mista e obrigatória. Este primeiro ponto, de que homens e mulheres são 
diferentes somente porque recebem uma educação diferente, é a primeira 
etapa da ideologia de gênero e leva a uma segunda premissa, a premissa de 
que a educação de todas as crianças deve ser pública, obrigatória e mista. A 
segunda premissa é de que meninos e meninas precisam estudar juntos e 
de que essa educação deve ser prestada pelo Estado e não pelos pais. Além 
disso, que tal educação deve ser obrigatória, ou seja, que as pessoas devem 
ser obrigadas a colocar seus filhos na escola para que aprendam o modelo 
padrão moral ou de comportamento. 
Essa é uma das grandes armas do movimento feminista: escola 
pública como agente de transformação social. A escola deveria cumprir 
a função de ensinar coisas úteis às pessoas, entretanto, há muito tempo, foi 
entendida como agente de transformação social. Isso significa que as cri-
anças não devem ir para a escola para aprenderem matemática e português, 
mas para aprenderem um forma de se comportar e de viver em sociedade, 
uma forma determinada pelo Estado, pelas ideologias ou pelos partidos. 
Quero mostrar para vocês mais um trecho do meu livro, presente na página 
51, em que faço um resumo do ponto de vista da Mary com base nas duas 
premissas em que acreditava - primeira premissa: homens e mulheres só 
são diferentes por receberem educação diferente; segunda premissa: em 
decorrência disso, a educação deve ser pública, obrigatória e mista -: 
“A autora defende que a maneira ideal de igualar a opinião de todos, 
conforme ditam os costumes da sociedade em que vivem, é colocar a edu-
cação das crianças sob o cuidado do serviço público.”
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Esse pensamento, escrito em 1790, de Mary 
Wollstonecraft, uma mulher dita iluminista, até certo 
ponto deísta, esclarecidíssima, que não era comunista 
- dado que o comunismo nem sequer existia ainda - é 
exatamente o mesmo pensamento de Alexandra Kol-
lontai, marxista fanática radical da União Soviética. 
Ou seja, sequer existia marxismo quando Mary 
Wollstonecraft escreveu seu livro, mas ela defendia 
absolutamente a mesma ideia que Alexandra Kollontai 
veio a defender na União Soviética. 
Eu quero que vocês prestem muito atenção no próximo trecho que 
vou compartilhar com vocês, a fim de identificar se não conhece alguém - 
amiga, prima, vizinha - que pensa exatamente igual a Mary Wollstonecraft: 
 
“Mary acreditava que as mães eram incapazes de dar uma boa 
educação aos filhos por causa da limitação intelectual das mulheres.”
Em algum momento, você deve ter ouvido uma mulher objetar: 
“Como eu não vou mandar meu filho para a escola? Essa alternativa não 
existe, pois eu não sei ensinar meus filhos. Se acabarem as escolas no Brasil 
será um absurdo, porque as mães não saberão o que ensinar para os seus 
filhos.”. 
Esse pensamento é muito absurdo, afinal de contas, as nossas mães 
não passaram pela escola? Aprenderam o que então? Ficaram doze anos no 
colégio e não aprenderam nada, a ponto de não serem capazes de ensinar 
algo a seus filhos? Então a educação no Brasil foi um fracasso retumbante, 
de forma que uma pessoa educada na nossa educação pública não pode 
depois repassar esses conhecimentos aos seus próprios filhos? Que tipo de 
educação é essa? 
Alexandra Kollontai, Líder 
Revolucionária (1872 - 1952)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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“Como iluminista confessa que era, Mary acreditava que a salvação da 
humanidade aconteceria através da educação. Ela afirmou que os homens 
e as mulheres da sua época eram incapazes de criaros próprios filhos, mas 
parecia esquecer-se de que o Estado é composto por esses mesmos homens. 
Em que se baseava para afirmar que os pais que trabalhavam para o Estado 
eram mais aptos do que os pais que trabalhavam pelos seus próprios filhos 
na educação dos mesmos? A idolatria da razão, característica deste período, 
ajuda a entender este pensamento. Imaginavam eles que tanto o conheci-
mento quanto a virtude eram aprimorados pelos emprego do racionalismo, 
o que colocava a devolução religiosa da família em descrédito diante do 
que poderiam oferecer os pensadores iluministas.”. 
Resumindo e traduzindo para o português mais fácil: como havia 
uma contestação iluminista de que tudo que a família e a religião pre-
gavam era pior, baixo, inferior, os iluministas, que se consideravam ilumi-
nados, acreditavam que era o Estado que realmente tinha capacidade e 
qualificação para dar às crianças do país inteiro a educação adequada. 
Educação baseada sempre em quais princípios? Nos princípios que 
convêm ao Estado e não mais à família. 
Observamos sempre uma mistura e uma guerra constante entre 
família e religião contra o Estado, a educação pública, o racionalismo, o 
cientificismo. Obviamente, não estamos falando mal da ciência. É preciso 
compreender que estamos falando de cientificismo, não de ciência. 
Esses dois pensamentos da Mary Wollstonecraft, que são a 
semente da ideologia de gênero e da escola pública moderna, são dois 
conceitos que são difundidos e utilizados até a exaustão pelas femini-
stas. Tanto que o aumento do número de creches e o aumento do número 
de horas que as crianças passam na escola parece uma questão vital para o 
movimento feminista. 
Por quê? Porque, assim como os marxistas, as feministas sempre 
acreditaram que a escola serviria como agente de transformação social. 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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Transformação social para levar ao quê? Levar à revolução sexual. Não é 
para levar aos direitos civis, jurídicos, de propriedade privada, é para levar as 
pessoas à revolução sexual. Isso significa uma mudança completa na forma 
como as relações sexuais, as relações entre marido e mulher, a relação entre 
pais e filhos, enfim, as relações convencionais se dão. 
Quando escreveu esse livro, Mary ainda era uma pessoa inocente e, 
provavelmente, virgem. Ela ainda não havia conhecido os homens. No seu 
livro, Mary escreveu espécies de conselhos para as mulheres. Como tinha 
uma fé muito absurdo no poder da razão, acreditava que qualquer pessoa 
podia se autodeterminar a ser boa ou a ser virtuosa. É muito importante 
pensar sobre isso. Pense em você mesmo. Quants coisas você faz de errado? 
Quantos vícios e hábitos você tem, que gostaria de não ter, e os repete 
novamente? Por quê isso acontece? Porque não adianta saber e pensar. 
Às vezes, é preciso uma força maior. Chamamos isso de fé, Deus, milagre. 
Mary Wollstonecraft, como todos os iluministas, ignorava essa dimensão da 
vida e pensava que tudo se resolveria pela ciência ou pela razão. No seu 
livro, Mary escreveu que as mulheres deveriam controlar suas paixões e 
escolher homens melhores, viver um casamento decente e adequado, etc.. 
No entanto, quando foi a vez dela fazer isso, fez tudo ao contrário. Foi então 
que Mary descobriu que a razão não dá conta dos dramas humanos, que é 
preciso ter outros fatores. 
De uma certa forma, Mary Wollstonecraft é a encarnação da Rev-
olução Francesa, é um exemplo da Revolução Francesa. Os revolucionários 
que incentivaram a revolução se diziam defensores da razão e do pensa-
mento iluminista. Contudo, passados alguns anos, a Revolução Francesa se 
mostrou um movimento visceral, carnal, chacinador. E o mesmo aconteceu 
com a vida de Mary Wollstonecraft. Ela escreveu um livro dizendo às mul-
heres que deveriam se autocontrolar, se autogerir, ser virtuosas e racionais. 
Depois, acabou se envolvendo com homens imorais. Vamos tocar neste 
tema apenas para que vocês compreendam como Mary não conseguiu 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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aplicar sequer na sua própria vida o que defendia. 
A primeira pessoa por quem Mary se apaixonou foi Gilbert Imlay.
 
Gilbert Imlay era um norte-americano que 
viajava pelo mundo, um aventureiro defensor do 
fim do casamento e do fim da monogamia. William 
Godwin, segundo marido da Mary, e Marquês de 
Sade também já defendiam isso. Se chegou a tocar 
nesse assunto, Mary o fez muito tangencialmente. 
Esse ódio e aversão ao casamento não surgiu nas 
mulheres, surgiu nos homens. Foram eles os pri-
meiros a defenderem essa pauta. Por isso, quando 
hoje o movimento feminista afirma que casamento 
é opressor e fala disso como se estivesse descobrindo 
a roda, como se estivesse falando algo que é do interesse das mulheres, não 
se engane, isso não é interesse das mulheres. As mulheres gostam de casar 
e querem casar, vocês sabem disso. Vocês já viram quantas revistas de noiva 
existem? Agora, já viram revista de noivo? Não existe, porque os homens só 
casam porque acabam sendo convencidos. São as mulheres que, no fim, 
têm o instinto de querer casar e formar uma família. Isso sempre foi assim. 
Gilbert Imlay, primeiro marido da Mary, era um homem completa-
mente avesso ao casamento e defendia todo tipo de amor livre. Ele chegou 
a publicar um livro chamado The Emigrants (1973), o qual acho que não está 
publicado em português. O livro dele consistia numa espécie de tratado 
de defesa do divórcio e da libidinagem generalizada. Basicamente, era isso 
que ele defendia. Provavelmente, Imlay foi o primeiro homem com quem 
Mary se relacionou sexualmente e ela acabou engravidando dele. 
Não precisamos ser muito inteligentes para pensar: você é uma 
mulher, supostamente filósofa, toda intelectual e inteligente. Você se rel-
aciona com um homem que é inimigo do casamento e engravida dele. O 
 Gilbert Imlay, Executivo
(1754 - 1828)
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que vocês acham que Imlay fez? Ele fugiu. Qualquer pessoa racional pen-
saria isso, mas Mary, rainha da razão iluminista, não conseguiu prever isso. 
Imlay abandonou Mary grávida. Ela acabou passando fome, frio até mesmo 
durante a gestação. Depois de um tempo, ela descobriu que Imlay tinha 
uma segunda mulher. Ou seja, além de não cuidar dela e não dar assistência 
ao filho, ele se juntou com outra mulher. Isso era totalmente previsível, 
afinal, Gilbert era a favor do divórcio, do amor livre e contra o casamento. 
Enquanto estava nessa situação absurdamente terrível, Mary percebeu que 
precisava de um marido, de um homem, para ajudá-la a sustentar a criança. 
Afinal de contas, essa é a função do casamento. Acho que Mary, William 
Godwin e Gilbert Imlay fizeram uma grande propaganda anticasamento 
porque, primeiramente, não compreendiam o que era o casamento. Até 
o momento em que passaram a viver isso na pele. Mary procurou Gilbert 
e chegou a propor que este fosse marido das duas mulheres, pois queria 
ajudar e suporte para criar a filha. Imlay, contudo, não quis. Diante disto, 
Mary Wollstonecraft, a rainha da razão iluminista, tentou se suicidar no rio 
Tâmisa. Ela acabou sobrevivendo, mas notem como essa proposta de casa-
mento livre, de divórcio, de descaso, de desapego, de libidinagem general-
izada afetou a própria vida da Mary. Mary, a primeira feminista, foi a primeira 
vítima dessas ideias, não a primeira propagadora delas. 
Depois, Mary reencontrou William Godwin, de que já falamos um 
pouco. Godwin era um ex-pastor calvinista que abandonou o ministério, 
depois, a fé e, depois, a Igreja, tornando-se um cético, um ateu convicto, 
anti-Igreja e antirreligião. Novamente, Mary se envolve com um homem 
anti-casamento. Ela foi conviver com ele e acabou engravidando. Antes 
de prosseguirmos essa história, quero comentar outras informações sobre 
quem era William Godwin. 
WilliamGodwin é um dos pais da revolução e exerceu muito mais 
influência do que a própria Mary, a qual escreveu somente dois livro, “Uma 
Reivindicação pelos direitos da mulher” e outro muito ruim sobre a revolução 
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francesa. O primeiro deles demorou muito para ser resgatado e utilizado. Os 
pensamentos que realmente valeram naquela época foram os dos homens. 
Trouxe algumas frases que Godwin escreveu sobre casamento: 
“A instituição do casamento é um sistema fraudulento.”
“Uma das motivações para a adoção da cosmovisão iluminista é a 
erosão moral.” Ou seja, eles admitiam que o pensamento iluminista pre-
tendia destruir a moral convencional.
“O relacionamento promíscuo entre os sexos será uma das grandes 
melhorias que resultarão da justiça política.”
Todas essas frases foram retiradas do livro de Godwin, “Justiça 
Política”. Ele realmente era um homem anticasamento, até mais do que a 
própria Mary. Dando continuidade à história dos dois, diferentemente de 
Gilbert Imlay, que não gostava da Mary, William Godwin aparentemente 
gostava muito dela. E gostava tanto e se apaixonou tanto que fez o quê? Ele 
se casou com ela, que é o que os homens fazem quando gostam de uma 
mulher. Os dois se casaram na Igreja. Eu quero compartilhar com vocês o 
trecho do meu livro que aborda esse episódio totalmente contraditório na 
vida da Mary:
 “Mary contraiu matrimônio com William Godwin, que, aliás, também 
é considerado um dos precursores do pensamento anarquista. Criticados e 
questionados por suas reputações libertinas não condizerem com a ofici-
alização do casamento, os noivos se justificaram: o casamento foi o meio 
legal que encontraram para proteger financeiramente tanto Mary quanto 
o bebê que nasceria.” 
Só que, foi para isto que criaram o casamento, para proteger a mulher 
e a criança. Eles, que ficavam propagando para todos que casamento era 
horrível, que o amor livre e a libidinagem generalizada que eram bons, que 
o divórcio era uma bênção, ao vivenciaram a situação tradicional, casa-
ram-se. Quando questionados por que haviam se casado, dado que eram 
abertamente inimigos do casamento, usaram a justificativa de que haviam 
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se casado para proteger a criança. Sim, porque é para isso que serve o 
casamento. Ou seja, “embora tenha atacado o casamento em um trabalho 
filosófico que publicou, Godwin fez perfeito uso dele para o fim em razão do 
qual foi essencialmente criado”, proteger a mulher. Finalmente, tudo que 
disseram sobre como o casamento oprime a mulher caiu por terra quando 
William Godwin casou-se com Mary justamente para protegê-la. 
O casal Mary Wollstonecraft e Godwin 
acaba muito cedo, porque, devido a complicações 
no momento do parto, Mary faleceu. Sua filha, 
Mary Godwin, ganhou o nome da mãe. 
Uma vez que a Revolução Francesa ter-
minou por ser um fracasso retumbante, os 
nomes que a defenderam, como Gilbert Imlay, 
Mary Wollstonecraft e William Godwin, acabaram 
por cair em descrédito e ser odiados pelos ing-
leses. Quando a Revolução Francesa sucumbiu, 
teve início o período napoleônico na França. A Inglaterra, por outro lado, 
manteve muito do seu comportamento conservador e tradicional, assim, 
ingleses como Mary e William passaram a ser desprezados, pois ninguém 
os considerava intelectuais sérios, razão pelo qual o livro de Mary que men-
cionamos chegou a ser esquecido e desprezado por muito tempo. 
7. OS REBENTOS 
Depois do falecimento de Mary, William Godwin criou não apenas a 
filha que tiveram juntos, como também a criança que Mary teve com Gil-
bert Imlay. Quando Mary estava na idade de contrair matrimônio, um rapaz 
chamado Percy Bysshe Shelley entrou em contato William Godwin, que 
 Mary Godwin, Escritora (1797 - 1851)
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estava completamente esquecido nesse momento. 
Shelley era um rapaz que estava atrás 
de escritos iluministas. Lembram que, no início 
da aula, comentamos sobre os illuminatis e os 
maçônicos? Bem, Shelley era um pesquisador 
e curioso do movimento illuminati e começou 
a estudar isso. Além disso, era completamente 
anti-cristianismo, anti-Igreja Católica e também 
anti-casamento. Vejam que coincidência: na 
história de que estamos tratando, da Revolução 
Francesa e subjacências, todos que são anti-casa-
mento são também anti-Igreja. 
Percy Shelley procurava Godwin 
declarando que é seu fã e que gosta muito dele. Como havia muito que 
ninguém era fã de Godwin, pois este estava em completo descrédito, ele 
resolveu fazer amizade com Percy. Depois de um tempo, Percy abandonou 
sua mulher que, se não me engano, chamava-se Harriet. 
Harriet acabou se suicidando depois, 
inclusive, por causa do abandono e uma série de 
problemas. Percy se casou com a Mary, filha do 
William Godwin com Mary Wollstonecraft. Por 
isso, hoje nós conhecemos a Mary, filha desse 
casal, como Mary Shelley, escritora da obra “Fran-
kenstein” (1818). Com certeza, você conhece ou 
já ouviu falar do Frankenstein. Existem muitas 
especulações sobre como esse livro foi escrito. 
Mary pode ter escrito uma história na qual a obra 
mata o seu criador, em referência à sua própria 
vida, uma vez que, quando nasceu, matou a mãe. 
 Percy Bysshe Shelley, Poeta
(1792 - 1822)
Harriet Westbrook, Autora (1795 - 1816)
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O Doutor e o Frankenstein também podem ser 
uma espécie de sátira da vida da sua mãe ou do 
próprio Shelley, marido dela, que era um homem 
completamente louco, ligado à revolução sexual. 
De todas essas personalidades que falamos, a 
Mary Shelley é provavelmente a mais famosa, 
justamente por ter escrito “Frankenstein”.
Nesta relação entre Mary e Shelley, temos 
mais um exemplo de um casamento totalmente 
desfigurado pela revolução sexual. Mary e Shelley 
começaram a defender incesto, ménage, todo 
tipo de coisa que hoje as feministas acham que estão revolucionando ao 
citar. Se você quiser assistir a um filme sobre os rituais malucos que esse 
casal fazia com outras pessoas, como Lord Byron e a Claire, que era meia 
irmã deles, assista ao “Gótico”, de Ken Russell, que foi produzido em 1986. 
Se você quiser outra opção, há um filme mais recente chamado “Mary 
Shelley” (2017). Se você assistir a esses dois filmes, vai ter uma ideia de como 
essas pessoas de quem estamos falando eram subversivas e sexualmente 
depravadas. 
Tudo que nós falamos até aqui, demonstrou que foram os homens 
que defenderam a pauta e a luta anticasamento. Os homens é que queriam 
se livrar da responsabilidade de cuidar das mulheres, porque o casamento 
foi constituído com a finalidade de proteger a mulher e não de oprimi-la.
Eu quero compartilhar com vocês algumas frases do Shelley, das 
obras dele:
“A conexão dos sexos deve ser mantida só enquanto contribui 
para o conforto das parte e é naturalmente dissolvida.”. 
 Lord Byron, Poeta (1789 - 1824)
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Ou seja, se você não está gostando mais da sua mulher, você termina 
com ela e pronto, que foi o que o Gilbert Imlay fez com a Mary Wollstone-
craft. 
Shelley também escreveu o seguinte:
“A castidade é uma superstição monacal e evangélica. Seria difícil 
conceber um sistema mais cuidadosamente hostil à felicidade humana 
do que o casamento.”
Vejam a sucessão de homens que são inimigos do casamento. Só na 
família da Mary Wollstonecraft há dois, o sogro e o genro, e as duas meninas, 
de uma certa forma, vítimas desse processo. Com o passar do tempo, nos 
últimos escritos da Mary Wollstonecraft, mãe da Mary Shelley, vemos que 
aquela manda cartas, reclama do abandono do marido, diz que se sente 
impotente, que as teorias que tinham sobre o casamento ser improdutivo 
se desfizeram. Depois,quando lemos as cartas da filha dela, que é a Mary 
Shelley, vemos-na amargurada e arrependida pela quantidade de maldade 
que ambos, ela e o marido, e também seu pai e sua mãe, haviam feito às 
pessoas. Percebe-se que foi uma vida bem conturbada e infeliz. E são essas 
pessoas que querem ditar as regras da felicidade ou dizer o que é casa-
mento e o que é felicidade conjugal para nós hoje.
Resumindo todo esse período, observamos a quantidade absurda de 
homens que defendem as pautas e que criaram as pautas que hoje as femi-
nistas arrotam por aí que são a libertação feminina. Na verdade, não. Foram 
pautas sempre completamente masculinas, que convinham a interesses 
masculinos. 
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8. O FIM DA REVOLUÇÃO SEXUAL
Para nos encaminharmos para o final da aula, vou compartilhar mais 
um trecho do livro “Libido Dominandi”, que é muito recomendado para 
você entender tudo que estamos conversando aqui.
“Quando Shelley [marido de Mary] morreu, a primeira revolução 
sexual morreu com ele”. 
Neste ponto, estamos encerrando a nossa primeira fase, que passou 
por Marquês de Sade, inimigo de Burke, pai do conservadorismo, que 
passou por William Godwin até chegar ao Percy Shelley. Essa fase está se 
encerrando. A primeira etapa da revolução sexual está terminando.
“O que se seguiu foi o repúdio à revolução sexual, que se tornou con-
hecida como a Era Vitoriana.” 
Vocês já devem ter assistido a esses filmes da Era Vitoriana, com 
aqueles vestidos enormes, em que as pessoas eram proibidas de absolu-
tamente tudo, em que vigia uma moral muito burguesa constituída para 
evitar exposição sexual, evitar obscenidades. Isso foi uma reação. Sabe 
quando você vê algo muito absurdo e pega tanto nojo que fica mais radical 
do que antes? Foi basicamente isso que aconteceu na Era Vitoriana. A Era 
Vitoriana foi uma resposta à primeira revolução sexual que foi um fracasso, 
um vexame, algo horrível. 
 
“A viúva [Mary Shelley] dedicou o resto de sua vida a apagar os seus 
experimentos sexuais da memória pública”. 
Até ela sentia vergonha disso. 
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“Shelley tornou-se, nas mãos de sua esposa, um anjo vitoriano e assim 
permaneceu por 150 anos, até que a outra revolução sexual permitisse uma 
interpretação diferente da sua vida.”.
Quando acaba a revolução sexual, no início dos anos 1800, um espírito 
conservador começa a se espalhar por todo o mundo, uma reação, e demorou 
mais cem anos para vermos o espírito da revolução sexual reaparecer. E 
nesse intervalo, as pautas sexuais são um poquinho esquecidas, as pessoas 
não ficam mais fissuradas em ménage, incesto, sexo grupal, e os demais 
absurdos que os propagadores da revolução sexual defendiam, e começam 
a focar em outras questões, como questões econômicos. É por isso que as 
pessoas têm a impressão de que essa primeira onda do movimento fem-
inista era decente e não falava sobre sexo, aborto e divórcio. Isso é porque 
os pensadores e os teóricos - novamente, sempre pensadores homens - vão 
voltar os seus olhos para a organização social, política e economia. Na nossa 
próxima aula, vamos ver que a primeira onda do movimento feminista 
fala sobre direito à propriedade, direitos civis, direito da esposa ter acesso 
à herança, direito de trabalhar, o direito de votar. São pautas que não são 
extremamente sexuais. É por isso que as pessoas costumam espalhar esse 
senso comum, de certa forma equivocado, de que o movimento feminista 
é bom, porque, na cabeça dessas pessoas, o movimento feminista começou 
na primeira onda, com a luta pelo sufrágio, com as mulheres querendo 
votar e trabalhar. Não é isso. Nós estamos vendo agora que o movimento 
feminista começa em 1789 com a primeira feminista que é a Mary Woll-
stonecraft, mesmo antes dessa expressão existir. 
Estamos encerrando a nossa análise da primeira etapa do movi-
mento feminista no final do século XVIII, início do século XIX. O mais funda-
mental dessa primeira aula é compreender como o movimento feminista 
surge ligados às questões de sexo: revolucionar o sexo, permitir incesto, per-
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mitir amor livre, permitir ménage. Essa é a pauta inicial do movimento. Deu 
muito errado na sua primeira fase e por isso foi um pouco esquecido, mas 
todo esse pensamento vai voltar, tanto que é um pensamento que temos 
hoje, que as feministas levam para a internet, para o programa da Fátima 
Bernardes, para novela, como se fosse uma revolução e uma invenção do 
século XXI e não é, o movimento feminista sempre foi assim. 
Relembrando: o objetivo da nossa aula era demonstrar que o mov-
imento feminista não é outra coisa senão uma revolução sexual. Se você 
achou que as indicações de livro são excessivas para seu tempo de leitura, 
vou deixar só dois para aprofundar no conteúdo da aula: o primeiro é o 
“Política Sexual” da Kate Millett, e o “Libido Dominandi”. 
Na próxima aula, falaremos sobre liberalismo, marxismo, direito de 
trabalhar, direito de votar e tudo que aconteceu no movimento feminista a 
partir dos anos 1850.

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