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1 A DASEINSANÁLISE DE BINSWANGER A Daseinsanálise de Binswanger é uma abordagem psicoterapêutica desenvolvida por Ludwig Binswanger, um psiquiatra e filósofo suíço. Essa abordagem busca compreender a experiência existencial única de cada indivíduo, focando no modo como a pessoa se relaciona com o mundo e atribui significado à sua existência. 1. A Daseinsanalyse Psiquiátrica: A Daseinsanálise psiquiátrica de Binswanger visa compreender a estrutura do ser humano em seu mundo. Diferente da psicanálise freudiana, que enfatiza a análise do inconsciente e dos conflitos psíquicos, a Daseinsanálise concentra-se na experiência vivida pelo indivíduo em seu ambiente. Binswanger acreditava que a psicopatologia deveria ser entendida como uma forma de existência distorcida ou empobrecida, em vez de um conjunto de sintomas isolados. 2. A questão do SONHO: Binswanger considerava o sonho como uma manifestação essencial do modo de ser do indivíduo. Ele acreditava que, através da análise dos sonhos, era possível compreender os significados existenciais subjacentes na vida do indivíduo. Para Binswanger, os sonhos eram expressões simbólicas das preocupações e vivências do indivíduo, revelando sua relação com o mundo e seus desafios existenciais. 3. As 3 fases de seu pensamento (principais características): Fase fenomenológica: Binswanger iniciou sua abordagem com base nos conceitos da fenomenologia de Edmund Husserl. Nessa fase, ele enfatizava a importância de compreender a experiência subjetiva direta do indivíduo, buscando descrever e interpretar a vivência existencial a partir da perspectiva do próprio indivíduo. Fase hermenêutica: Nessa fase, Binswanger incorporou elementos da hermenêutica, enfatizando a importância da interpretação dos significados simbólicos e dos contextos culturais e históricos na compreensão da existência humana. Ele considerava que o ser humano está inserido em um mundo social e cultural, e esses elementos influenciam sua experiência existencial. Fase dialética: Binswanger desenvolveu uma abordagem mais dialética em sua última fase de pensamento. Ele enfatizava a importância da relação entre o 2 indivíduo e o mundo, considerando a existência humana como um processo dinâmico de interação e mudança mútua. Ele argumentava que a pessoa não é apenas um objeto passivo do mundo, mas também um agente ativo na construção de sua própria existência. 4. Modos de Experenciar o Mundo: Umvelt, Mitvelt e Eigenvelt: Binswanger introduziu esses três conceitos para descrever diferentes modos pelos quais os indivíduos experimentam o mundo: Umvelt: Refere-se ao modo como uma pessoa se relaciona com o mundo objetivo, o ambiente físico e as pessoas ao seu redor. Mitvelt: Refere-se ao modo como uma pessoa se relaciona consigo mesma, sua experiência subjetiva e seus sentimentos internos. Eigenvelt: Refere-se ao modo como uma pessoa se relaciona com seu próprio ser, sua existência e a busca de significado e propósito na vida. 5. Ser-no-Mundo Sadio X Ser-no-mundo doente: Binswanger enfatizava a importância de compreender a saúde mental em termos de uma relação saudável com o mundo. O "ser-no-mundo sadio" refere-se a uma pessoa que tem uma relação autêntica com sua existência, experienciando um senso de liberdade, autenticidade e significado em sua vida. Por outro lado, o "ser-no-mundo doente" ocorre quando há um distúrbio ou desequilíbrio na relação do indivíduo com o mundo, resultando em sofrimento, falta de sentido ou alienação. 6. Amor ou modo de ser além mundo: Binswanger argumentava que o amor era um modo de ser além do mundo, transcendendo as limitações da existência individual e conectando-se aos outros de maneira autêntica. Ele via o amor como uma força transformadora que permitia que o indivíduo transcendesse a solidão existencial e encontrasse um senso de pertencimento e significado mais profundo. A DASEINSANÁLISE DE MEDARD BOSS (DISSERATIVA) A Daseinsanálise de Medard Boss é uma abordagem psicoterapêutica baseada na fenomenologia existencial, desenvolvida pelo psiquiatra alemão Medard Boss. Essa abordagem busca compreender a existência humana (Dasein) em seu contexto individual e social, levando em consideração o modo de ser do indivíduo. 3 1. A Daseinsanálise psicoterapêutica: A Daseinsanálise é uma abordagem terapêutica que se baseia na filosofia existencial de Martin Heidegger. Ela busca compreender a experiência humana em sua totalidade, levando em consideração a relação do indivíduo com o mundo e consigo mesmo. A terapia daseinanalítica procura auxiliar o paciente a compreender sua existência, seus modos de ser, suas possibilidades e limitações, a fim de promover uma maior autenticidade e liberdade na vida cotidiana. 2. A questão do Sonho: Na Daseinsanálise, o sonho é considerado uma expressão da existência do indivíduo. Ele é entendido como uma tentativa do Dasein (ser- aí) de se comunicar consigo mesmo e com o mundo, revelando aspectos ocultos da existência. A análise dos sonhos na Daseinsanálise busca compreender o significado existencial dos elementos simbólicos presentes nos sonhos, explorando como eles refletem as preocupações, os desafios e as possibilidades do indivíduo. 3. Os 3 aspectos que devem ser observados na análise de cada doente: Na Daseinsanálise, a análise de cada paciente deve levar em consideração três aspectos fundamentais: Situação existencial: Refere-se ao contexto de vida do paciente, suas relações, seu ambiente e as circunstâncias que influenciam sua existência. Compreender a situação existencial do paciente é essencial para compreender sua experiência e os desafios que enfrenta. Modos de ser: Os modos de ser do paciente são as formas pelas quais ele se relaciona consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Esses modos de ser são influenciados por fatores culturais, sociais e pessoais, e podem variar ao longo do tempo. Analisar os modos de ser do paciente permite compreender como ele vivencia e interpreta sua existência. Possibilidades de ser: A análise das possibilidades de ser do paciente envolve explorar as potencialidades, as escolhas e as formas de autenticidade que ele pode desenvolver. É importante identificar quais possibilidades estão sendo restringidas ou negligenciadas, a fim de ajudar o paciente a expandir suas opções e encontrar um maior sentido de realização. 4 4. Os modos-de-ser doente: Na Daseinsanálise, os modos-de-ser doente referem-se aos diferentes estados existenciais em que um indivíduo pode se encontrar quando enfrenta um problema de saúde. Esses modos-de-ser doente não são apenas físicos, mas também envolvem a experiência subjetiva do indivíduo e seu relacionamento com a doença. Alguns exemplos de modos-de-ser doente incluem a resignação diante da doença, a luta contra ela, a identificação excessiva com a condição patológica, entre outros. Compreender esses modos-de-ser doente é essencial para a compreensão e o tratamento do paciente. 5. O papel da fala no processo daseinanalítico: Na Daseinsanálise, a fala desempenha um papel fundamental no processo terapêutico. Através da expressão verbal, o paciente tem a oportunidade de dar voz às suas experiências, pensamentos, sentimentos e reflexões sobre sua existência. A fala permite a articulação e a compreensão dos aspectos da existência que podem estar ocultos ou confusos. O terapeuta daseinanalítico, por sua vez, escuta atentamente, busca compreender a linguagem do paciente e o auxilia a refletir sobre suas vivências, promovendo um diálogo terapêutico que favoreça a autorreflexão e a transformação do paciente. 6. Curto-circuito da culpa: O curto-circuito da culpa é um conceito desenvolvido por Medard Boss na Daseinsanálise. Refere-se a uma tendência que algumas pessoas têm de se culpar ou se responsabilizar excessivamente por situações ou eventosque estão além de seu controle. Esse curto-circuito ocorre quando o indivíduo assume uma responsabilidade desproporcional em relação aos fatos, ignorando outros fatores e circunstâncias que contribuíram para a situação. O terapeuta daseinanalítico busca compreender esse curto-circuito da culpa, ajudando o paciente a explorar as raízes dessa autodepreciação e a desenvolver uma relação mais saudável com a responsabilidade. 7. O daseinalista e o objetivo do processo daseinanalítico: O daseinalista é o profissional que pratica a Daseinsanálise, um terapeuta treinado em compreender a existência do paciente e auxiliá-lo em seu processo de autoconhecimento e crescimento pessoal. O objetivo do processo daseinanalítico é promover uma compreensão mais profunda da existência do paciente, ajudando-o a descobrir suas possibilidades de ser, a enfrentar seus desafios existenciais e a viver de forma mais autêntica. O terapeuta daseinanalítico atua como um guia, oferecendo um 5 ambiente acolhedor e facilitador para que o paciente possa explorar e transformar sua existência. COMPREENSÃO E AÇÃO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL (DISSERTATIVA) A. A fenomenologia mais que um arcabouço teórico: 1. Desafios da formação: A formação em fenomenologia-existencial apresenta desafios específicos devido à natureza complexa e abstrata dessa abordagem. Requer um comprometimento em compreender e explorar a existência humana de maneira profunda e reflexiva, o que pode demandar um esforço considerável dos profissionais em formação. 2. Exigências ao aprendizado de fenomenologia: O aprendizado da fenomenologia-existencial exige uma atitude de abertura, suspensão de preconceitos e uma disposição para questionar as suposições prévias. É necessário desenvolver a capacidade de observação atenta aos fenômenos vividos pelos pacientes, bem como a habilidade de reflexão e interpretação dessas experiências. 3. Pontos críticos: A abordagem fenomenológico-existencial requer um engajamento profundo e uma sensibilidade para compreender a singularidade de cada ser humano. É fundamental evitar generalizações e estereótipos, pois cada pessoa vive uma existência única. Além disso, é necessário evitar reducionismos e simplificações, buscando uma compreensão mais ampla e contextualizada. 4. Compreensão e Ação: Na perspectiva fenomenológico-existencial, a compreensão não se limita a um mero processo intelectual, mas implica em uma imersão afetiva e existencial. A compreensão profunda da experiência do paciente possibilita uma ação clínica mais adequada e autêntica, levando em consideração a singularidade do indivíduo. B. A prática clínica: como compreender e compreender como: 1. Equívocos e mal-entendidos sobre o que significa compreensão: Há equívocos comuns sobre o termo "compreensão" na prática clínica. Compreender não se trata apenas de ter conhecimento teórico sobre a psicopatologia ou sintomas, mas sim 6 de uma apreensão profunda da experiência subjetiva do paciente, sua vivência e significados pessoais. 2. Compreensão enquanto abertura: A compreensão fenomenológico-existencial é um processo de abertura para a experiência do outro, permitindo-se captar o mundo vivido pelo paciente. Isso envolve colocar-se em segundo plano, suspender preconceitos e conceitos prévios, e estar verdadeiramente disponível para escutar e compreender a perspectiva do paciente. 3. Papel da escuta: A escuta atenta e sensível é fundamental na prática clínica fenomenológico-existencial. O terapeuta busca compreender o mundo vivido do paciente por meio da escuta de suas narrativas, emoções, expressões corporais e simbologia. A escuta vai além das palavras, envolvendo uma percepção ampliada dos fenômenos presentes na relação terapêutica. Ao integrar compreensão e ação clínica, o terapeuta fenomenológico-existencial busca auxiliar o paciente a desenvolver uma maior consciência de si mesmo, explorar suas possibilidades de ser e encontrar um sentido mais autêntico para sua existência. Isso implica em uma prática terapêutica baseada na empatia, na relação autêntica e na coconstrução de significados junto ao paciente. C. Compreender a ação e a ação modulada por uma compreensão: 1. Ação: Na prática clínica da Daseinanalyse, a ação é considerada uma dimensão essencial da existência humana. A ação é entendida como a expressão concreta da liberdade do Dasein (ser-aí), através da qual ele se engaja com o mundo e manifesta suas possibilidades de ser. A análise das ações do paciente é importante para compreender sua relação com o mundo e identificar padrões de comportamento que possam estar contribuindo para seus desafios existenciais. 2. Relação de ação e discurso: A relação entre ação e discurso é central na Daseinanalyse. O discurso verbal e não verbal do paciente é interpretado em conjunto com suas ações e comportamentos, pois ambos são expressões do seu ser-no-mundo. Através da análise dessa relação, é possível compreender as motivações, os significados e as intenções subjacentes às ações e discursos do paciente. 7 3. Daseinanalyse e escuta: Na Daseinanalyse, a escuta atenta e sensível é essencial para compreender a singularidade do paciente. A escuta não se limita apenas às palavras, mas abrange a percepção dos aspectos afetivos, corporais e simbólicos da experiência do paciente. O terapeuta busca captar a totalidade do Dasein do paciente, incluindo suas preocupações existenciais, seus modos-de-ser e suas possibilidades de autenticidade. 4. Inauguração: A inauguração refere-se ao processo terapêutico de abertura de possibilidades para o paciente. É um convite para que ele se engaje de maneira mais autêntica com sua existência e explore novas formas de ser e de se relacionar com o mundo. A inauguração implica em criar um espaço terapêutico seguro e acolhedor, no qual o paciente se sinta livre para expressar suas experiências e se tornar mais consciente de si mesmo. 5. Ruptura: A ruptura na Daseinanalyse refere-se a uma quebra ou interrupção dos padrões habituais do paciente. É um momento de desestabilização que pode ocorrer quando ele se depara com contradições ou limitações em sua existência. A ruptura possibilita uma reflexão mais profunda sobre as possibilidades de mudança e transformação, abrindo caminho para a descoberta de novos horizontes de significado e autenticidade. 6. Repetição: A repetição é um fenômeno observado na Daseinanalyse, no qual o paciente repete padrões de comportamento, pensamentos ou emoções em diferentes situações de sua vida. Essa repetição pode ser indicativa de aspectos não resolvidos ou conflitos existenciais que precisam ser explorados. A análise da repetição visa compreender suas raízes e buscar formas mais livres e autênticas de ser. 7. Liberdade: A noção de liberdade é fundamental na Daseinanalyse. Ela envolve a capacidade do Dasein de se relacionar de forma autêntica com o mundo e de fazer escolhas que sejam verdadeiras para si mesmo. A terapia busca promover a liberdade do paciente, auxiliando-o a identificar e superar condicionamentos, expectativas sociais e padrões limitadores, possibilitando uma existência mais plena e autônoma. 8. Pensar o existir: A reflexão sobre o existir é uma dimensão importante na Daseinanalyse. O terapeuta estimula o paciente a pensar criticamente sobre sua 8 própria existência, questionando significados pré-concebidos e explorando novas perspectivas. O pensamento existencial amplia a consciência do paciente e contribui para a busca de um sentido mais autêntico e satisfatório de vida. 9. Setting terapêutico: O setting terapêutico na Daseinanalyse é cuidadosamente estabelecido para criar um ambiente seguro e propício ao trabalho terapêutico. Ele engloba aspectos como a confidencialidade, a regularidade das sessões, a atenção plena do terapeuta e a construção deuma relação terapêutica baseada na confiança e no respeito mútuo. O setting terapêutico proporciona o suporte necessário para que o paciente se sinta à vontade para explorar sua existência e promove uma base sólida para o processo de compreensão e transformação. PROCESSOS PSICOTERAPÊUTICOS DASEINSANALÍTICOS 1. Descrição e Prescrição: A Daseinsanálise envolve tanto a descrição quanto a prescrição no processo terapêutico. A descrição refere-se à compreensão profunda da existência do paciente, sua situação, seus modos-de-ser e seus desafios existenciais. Através da descrição, o terapeuta busca identificar os aspectos essenciais da vivência do paciente. A prescrição, por sua vez, envolve orientar o paciente na busca por uma existência mais autêntica, sugerindo possibilidades de transformação e desenvolvimento. 2. Papel da clínica fenomenológica-existencial: A clínica fenomenológica- existencial tem como objetivo compreender o ser humano em sua totalidade, considerando suas experiências, subjetividade e singularidade. Ela busca ir além dos sintomas e diagnósticos, explorando as questões existenciais e os significados que permeiam a vida do paciente. O papel da clínica fenomenológica-existencial é auxiliar o paciente a se tornar consciente de sua existência, a enfrentar seus desafios e a encontrar um sentido autêntico em sua vida. 3. Cura – processo e o que é curar-se: Na Daseinsanálise, o processo de cura não se limita à remissão dos sintomas, mas envolve uma transformação mais profunda da existência do paciente. Curar-se implica em um processo de autorreflexão, autoconhecimento e mudança, no qual o paciente se torna mais consciente de si mesmo, de suas possibilidades de ser e de suas escolhas. A cura ocorre quando o 9 paciente desenvolve uma maior autenticidade e encontra um sentido mais satisfatório e pleno em sua vida. 4. Hermenêutica da facticidade: A hermenêutica da facticidade refere-se à compreensão e interpretação dos aspectos factuais da existência do paciente. Isso envolve considerar sua situação concreta, seus contextos sociais, culturais e históricos, bem como suas limitações e possibilidades presentes. Através da hermenêutica da facticidade, o terapeuta busca compreender como esses aspectos influenciam a vida do paciente e como podem ser transformados para promover uma existência mais autêntica. 5. Facticidade, Nadidade e Temporalidade: A facticidade refere-se às circunstâncias e condições concretas da existência do paciente, incluindo seu corpo, sua história, sua cultura e suas relações. A nadidade refere-se à singularidade e individualidade de cada ser humano, reconhecendo que cada pessoa é única em sua existência. A temporalidade refere-se à compreensão da existência como um processo dinâmico, em constante transformação ao longo do tempo. Esses conceitos são fundamentais na Daseinsanálise para compreender a existência em sua totalidade e complexidade. 6. Cuidado ontológico e o cuidado na psicoterapia fenomenológica-existencial: O cuidado ontológico na Daseinsanálise envolve uma atitude de acolhimento, respeito e comprometimento com o paciente em sua busca por uma existência mais autêntica. O terapeuta atua como um cuidador, auxiliando o paciente a explorar suas preocupações, seus desafios e suas possibilidades de transformação. O cuidado na psicoterapia fenomenológica-existencial implica em criar um espaço terapêutico seguro e confiável, no qual o paciente possa se sentir livre para expressar suas experiências e ser apoiado em seu processo de crescimento. 7. O sentido da análise: O sentido da análise na Daseinsanálise é possibilitar ao paciente uma compreensão mais profunda de sua existência e ajudá-lo a encontrar um sentido autêntico em sua vida. A análise não busca apenas eliminar os sintomas, mas sim promover uma transformação existencial que permita ao paciente se reconectar com seus valores, propósitos e potenciais. O sentido da análise é auxiliar o paciente a viver uma vida mais plena, significativa e autêntica. 10 8. Situação clínica: a. A relação analista-analisando: A relação entre o analista (terapeuta) e o analisando (paciente) é fundamental na Daseinsanálise. Essa relação baseia-se na confiança, na empatia e na autenticidade, criando um espaço terapêutico seguro e acolhedor. O terapeuta atua como um guia e facilitador, auxiliando o paciente em sua jornada de autoexploração e crescimento. b. A compreensão na relação psicoterapêutica: A compreensão na relação psicoterapêutica envolve o terapeuta buscando compreender o mundo do paciente a partir de uma perspectiva fenomenológica e existencial. Isso implica em estar aberto para compreender a subjetividade e as experiências únicas do paciente, reconhecendo sua perspectiva como válida e significativa. c. Rompendo as ilusões: Na Daseinsanálise, o terapeuta busca ajudar o paciente a romper com ilusões e concepções distorcidas da realidade, promovendo uma compreensão mais autêntica e verdadeira de si mesmo e do mundo. Isso envolve questionar crenças limitadoras, padrões de pensamento condicionados e expectativas sociais que possam estar restringindo as possibilidades de ser do paciente. d. Deixando aparecer que a vida não é o lugar de total realização, que a vida comporta frustrações, ou seja, projetos não realizados: A Daseinsanálise reconhece que a vida humana não é perfeita e que a existência pode envolver frustrações e projetos não realizados. O terapeuta auxilia o paciente a aceitar essa realidade e a buscar um sentido mais profundo e autêntico, mesmo diante das limitações e das dificuldades. e. Questionando verdades estabelecidas: A Daseinsanálise encoraja o questionamento de verdades estabelecidas e concepções pré-concebidas sobre si mesmo e o mundo. O terapeuta incentiva o paciente a explorar novas perspectivas, desafiar crenças limitadoras e buscar uma compreensão mais ampla e aberta da existência. f. Abrindo o caráter de poder ser de toda e qualquer existência, na medida em que o analisando percebe o quanto restringe suas possibilidades: Através da Daseinsanálise, o paciente é encorajado a expandir seu horizonte de 11 possibilidades e a reconhecer seu poder de escolha e transformação. O terapeuta auxilia o paciente a identificar as restrições autoimpostas e a explorar novas maneiras de ser, permitindo uma maior abertura para o seu potencial existencial. g. Despertar, lembrar e transformar: A Daseinsanálise busca despertar o paciente para sua existência, auxiliando-o a se tornar mais consciente de si mesmo, de suas preocupações e de suas possibilidades. Isso envolve lembrar o paciente de aspectos negligenciados ou reprimidos de sua existência e estimular a transformação e o crescimento pessoal. PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL COMO HERMENÊUTICA DE SI MESMO 1. Psicoterapia enquanto prática reflexiva: A psicoterapia fenomenológico- existencial é vista como uma prática reflexiva, na qual o terapeuta e o paciente se engajam em uma exploração conjunta da experiência vivida. A terapia é um espaço de reflexão profunda sobre as questões existenciais, permitindo ao paciente ganhar insights, compreender suas vivências de maneira mais ampla e desenvolver uma maior consciência de si mesmo. 2. Contribuição da filosofia ao pensamento clínico: A filosofia desempenha um papel importante no pensamento clínico fenomenológico-existencial. Ela fornece fundamentos conceituais e uma abordagem crítica para compreender a experiência humana e os desafios existenciais. A filosofia ajuda a ampliar a compreensão dos fenômenos clínicos, questionando pressupostos e construindo uma base teórica sólida para a prática terapêutica. 3. Hermenêutica e Psicoterapia: A hermenêutica desempenha um papel fundamental na psicoterapia fenomenológico-existencial. Ela se concentra na interpretação e compreensão das experiênciassubjetivas do paciente, buscando desvelar significados ocultos e promover uma compreensão mais profunda. A hermenêutica na psicoterapia envolve um diálogo interpretativo entre terapeuta e paciente, no qual ambos buscam compreender e dar sentido à experiência vivida. 4. Críticas à substancialidade do "eu": Na abordagem fenomenológico- existencial, há críticas à ideia de uma substancialidade fixa e imutável do "eu". 12 Em vez disso, enfatiza-se a noção de uma existência em constante processo de se tornar. O "eu" é compreendido como algo fluido e em evolução, sendo construído através das interações, relações e experiências vividas ao longo da vida. 5. O saber clínico: O saber clínico na psicoterapia fenomenológico-existencial não se limita a conhecimentos teóricos, mas também abrange uma compreensão profunda das experiências e vivências do paciente. O terapeuta busca compreender a subjetividade do paciente através da escuta atenta, da empatia e da conexão empática, utilizando essa compreensão para orientar a prática terapêutica. 6. Inseparabilidade das noções de ser e de experiência (saber e ser): Na abordagem fenomenológico-existencial, as noções de ser e de experiência estão intrinsecamente ligadas. O conhecimento não é apenas um processo intelectual, mas é vivido e experimentado na própria existência. A compreensão profunda e autêntica requer uma experiência direta e uma abertura para o mundo vivido do paciente. 7. Crítica a Descartes: A abordagem fenomenológico-existencial critica a visão cartesiana dualista que separa mente e corpo, sujeito e objeto. Em vez disso, enfatiza a unidade e a interconexão entre esses aspectos, reconhecendo a importância do corpo e da experiência vivida na compreensão da existência humana. 8. Pressuposto ontológico - "eu penso alguma coisa" - eu-sou-no-mundo: Na perspectiva fenomenológico-existencial, o eu é compreendido como um ser-no- mundo, inseparável do contexto e das relações que o envolvem. O pensamento não é visto como algo isolado, mas como uma expressão da existência situada e da interação com o mundo. O eu é entendido em sua relação com o mundo e com os outros. 9. Analítica da existência cotidiana: a. Falatório: O falatório refere-se à tendência humana de se perder em pensamentos e preocupações triviais do cotidiano, muitas vezes desviando a atenção das questões essenciais e existenciais. A psicoterapia fenomenológico- 13 existencial busca auxiliar o paciente a reconhecer o falatório e a direcionar sua atenção para a vivência autêntica e os aspectos mais significativos da existência. b. Impessoalidade: A impessoalidade refere-se à compreensão de que a existência humana é sempre influenciada pelo contexto e pelas estruturas sociais. O indivíduo não é visto como uma entidade isolada, mas como parte de um todo maior. A psicoterapia fenomenológico-existencial explora as influências e condicionamentos sociais na experiência do paciente, buscando uma compreensão mais profunda e autêntica da existência. c. Serenidade: A serenidade é um estado de abertura e aceitação, no qual o indivíduo se permite experienciar a existência sem resistência ou julgamento. Na psicoterapia fenomenológico-existencial, a serenidade é buscada como uma forma de estar presente no momento e acolher plenamente a experiência vivida. Ela envolve uma aceitação amorosa das dificuldades e limitações da existência, permitindo ao paciente encontrar paz e resiliência.
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