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Sociologia Geral

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Código Logístico
57353
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6434-2
9 788538 764342
IESDE BRASIL S/A
2018
Sociologia Geral
Noêmia Lazzareschi
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: Rawpixel.com/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L459s
2. ed. Lazzareschi, Noêmia
Sociologia geral / Noêmia Lazzareschi. - 2. ed. - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2018. 
94 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6434-2
1. Sociologia. I. Título.
18-47123 CDD: 305CDU: 316.7
© 2007-2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por 
escrito da autora e do detentor dos direitos autorais.
Apresentação
Historicamente situados, o mundo empresarial e o mundo do traba-
lho repercutem em seu interior as condições econômicas, políticas, sociais e 
culturais universalmente existentes, devendo ser considerados um micro-
cosmos delas derivado. Frutos sociais do processo histórico mundial, são, 
no entanto, ao mesmo tempo seus produtores, irradiando universalmente 
as suas inovações tecnológicas e organizacionais, das quais surgem novos 
produtos e serviços que inundam os mercados e determinam, em grande 
parte, novos estilos de vida. O processo social universal e o mundo empre-
sarial e do trabalho estão, pois, em relações recíprocas, constituindo uma só 
realidade social, objeto de estudo das Ciências Sociais.
Assim, a obra Sociologia Geral tem como objetivo apresentar os subsí-
dios teóricos produzidos pelas Ciências Sociais e, em especial, pela socio-
logia, para a compreensão das inter-relações entre a sociedade e as esferas 
empresarial e do trabalho.
Bons estudos!
Sobre a autora
Noêmia Lazzareschi
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de 
Campinas (Unicamp) e mestre em Ciências Sociais do Trabalho pelo 
Institut Supérieur du Travail da Université Catholique de Louvain 
(Bélgica). Bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade de 
São Paulo (USP). Professora do departamento de Sociologia da Faculdade 
de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Sumário
Sociologia Geral 7
Sumário
1 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais 9
1.1 Condições históricas do nascimento das Ciências Sociais 11
1.2 As Ciências Sociais 16
2 As sociedades industriais capitalistas 21
2.1 Émile Durkheim 22
2.2 Max Weber 23
2.3 Karl Marx 25
2.4 A estrutura das sociedades industriais capitalistas 27
2.5 As empresas 29
3 As diferentes formas de administração do processo de trabalho no capitalismo moderno 37
3.1 A acumulação primitiva do capital 37
3.2 A divisão tecnológica do trabalho 39
3.3 Taylorismo e fordismo 40
3.4 Impactos do taylorismo e do fordismo sobre o trabalhador 44
3.5 Os Anos Dourados 47
4 A crise econômica mundial, a globalização da economia e a reestruturação produtiva 55
4.1 A crise da economia mundial 57
4.2 A globalização da economia 59
4.3 A reestruturação produtiva ou a nova lógica organizacional 64
4.4 O desemprego e as novas relações de trabalho 66
4.5 Novas relações de trabalho ou trabalho precário 72
4.6 Reações dos trabalhadores 74
4.7 Sindicalismo no Brasil 79
5 Novas competências profissionais 85
Sociologia Geral 9
1
 A promessa e as tarefas 
das Ciências Sociais
Wright Mills, um dos mais conceituados sociólogos norte-americanos do século 
XX, no livro A imaginação sociológica, chama a atenção para o fato de que
[...] raramente [os homens] têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da 
história mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, o que essa ligação 
significa para os tipos de ser em que se estão transformando e para o tipo de evolução histórica 
de que podem participar. Não dispõem da qualidade intelectual básica para sentir o jogo que 
se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o eu e o mundo. (1965, p. 10)
A qualidade intelectual básica necessária para que os homens compreendam a 
história, a biografia e as íntimas relações entre elas, dentro da sociedade, é a imaginação 
sociológica. Essa qualidade permite a cada um de nós se compreender como produto e 
produtor da vida social e, por isso, compreender-se como ser historicamente condicio-
nado, em que as possibilidades e limitações na vida são, em grande parte, circunscritas 
pela estrutura da nossa sociedade num determinado momento da história mundial.
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral10
A conscientização política é a expressão primeira e talvez a mais importante da imagi-
nação sociológica. Quem a possui sabe que não pode traçar livremente o próprio destino, 
cujo desenho é esboçado pelas condições sociais existentes, criadas e transmitidas pelas ge-
rações passadas, mas reproduzidas, reformadas ou transformadas por decisões políticas da 
geração presente, das quais certamente exigirá participar para poder exercer algum controle 
sobre o curso de sua própria vida.
Possibilitar o desenvolvimento da imaginação sociológica é, segundo Wright Mills 
(1965), a promessa das Ciências Sociais. Para cumpri-la, investiga-se, analisa-se, explica-se 
por meio de procedimentos metodológicos e teóricos definidores do conhecimento cientí-
fico – a estrutura social, demonstrando os princípios que a constituem, os mecanismos de 
sua manutenção e mudança e a psicologia de homens e mulheres que dela surge. A com-
preensão da estrutura social é uma condição necessária para situar historicamente o objeto 
de estudo de cada uma das Ciências Sociais, por mais específicos que sejam os problemas e 
as perspectivas teóricas que definem o eixo de suas preocupações particulares.
Representando o consenso entre os mais diferentes autores sobre as tarefas e os objetivos 
que as Ciências Sociais se autoimpõem, Wright Mills considera como a mais importante tornar 
os valores sociais aceitos claros e transparentes, pois os problemas ou questões sociais resul-
tam de sua transgressão, cuja origem deve ser buscada nas contradições da estrutura social. 
Uma questão social é um assunto público: é um valor estimado pelo público 
que está ameaçado. [...] A questão, na verdade, envolve quase sempre uma crise 
nas disposições institucionais, e com frequência também aquilo que os marxistas 
chamam de “contradições” ou “antagonismos”. (WRIGHT MILLS, 1965, p. 15)
São muitas as questões sociais que enfrentamos: a violência urbana, os conflitos 
armados, a miséria absoluta de milhões de pessoas, a favela, o desemprego, o abandono de 
crianças, a prostituição infantil, as drogas, o analfabetismo etc. que ferem os valores centrais 
das sociedades humanas: o respeito à vida e à dignidade humana, distanciando-nos da rea-
lização do sonho de instauração de uma sociedade justa, na qual, de fato, possam se realizar 
os princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, herdados da Revolução Francesa, que 
inauguraram o mundo moderno.
O estudo científico da estrutura social é, pois, o ponto de partida não só do reconheci-
mento dos problemas sociais que nos afligem, mas, sobretudo, da descoberta de suas ori-
gens e dos meios disponíveis para solucioná-los ou pelo menos minorá-los, no contexto do 
jogo de interesses de diferentes grupos e classes sociais das decisões políticas. Mas a imagi-
nação sociológica, que desperta e aprofunda a conscientização política, torna-se condutora 
do processo político democrático, impedindo que os homens se transformem em simples 
marionetes da história e objeto do poder autoritário de alguns. 
Para Wright Mills, as Ciências Sociais tornaram-se o denominador comum de nosso 
período cultural. De fato, evidencia-se universalmente o reconheci mento da importância do 
desenvolvimento da análise científicada vida social, pois pudemos constatar, sobretudo a 
partir da Segunda Guerra Mundial, que a utilização política dos conhecimentos produzidos 
pelas ciências físico-químico-naturais pode gerar mais problemas humanos e sociais do que 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
11
realmente contribuir para resolver os já existentes. Não obstante, até aquele momento, a 
humanidade acreditou que o conhecimento por elas produzido era o mais eficaz e eficiente 
instrumento de que dispunha não só para melhorar as suas condições de vida, mas também 
para solucionar todos os graves e persistentes problemas sociais. Por isso, as ciências natu-
rais receberam especial atenção ao longo de mais de um século no mundo moderno, sem 
que se prestasse atenção às prováveis consequências dramáticas do uso político que delas 
se pode fazer.
Com efeito, basta lembrar a tragédia provocada pela bomba atômica em Hiroshima e 
Nagasaki, a ameaça constante de utilização de armas nucleares, o sofrimento de milhões de 
famílias devido à introdução de tecnologias sofisticadas que destroem milhares de postos 
de trabalho e geram desemprego em massa, os problemas éticos e morais originários das 
potencialidades da engenharia genética, a devastação da natureza, a poluição do ar, sonora e 
visual etc. para se dar conta da necessidade de se avaliar continuadamente os efeitos sociais 
e humanos, éticos e morais, positivos e negativos, construtivos e destrutivos, da utilização 
do conhecimento produzido por aquelas ciências. 
E essa avaliação depende não só da imaginação sociológica, mas também da produ-
ção intelectual dos cientistas sociais, cujas obras podem ser consideradas como a cons-
ciência crítica do processo histórico universal, contribuindo para o desenvolvimento da 
consciência crítica de toda a humanidade.
São essas as principais tarefas e os objetivos das Ciências Sociais, cujos estudos esten-
dem-se inevitavelmente ao mundo das empresas e do trabalho, ajudando os administrado-
res de empresas a atuarem profissionalmente com maior clareza e responsabilidade social, 
sem perder de vista os seus objetivos específicos de promoção da eficiência do processo 
produtivo e de prestação de serviços.
1.1 Condições históricas do 
nascimento das Ciências Sociais
A análise científica da vida social data do século XVIII e deve ser consi-
derada como o produto intelectual mais importante das transformações eco-
nômicas, políticas, sociais e culturais em curso desde o Renascimento e que se 
cristalizaram no Ocidente com a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, 
marcos do surgimento do mundo moderno, isto é, da consolidação da ordem 
social capitalista.
1.1.1 A Revolução Industrial
A invenção da máquina a vapor na Inglaterra de 1750 significou o início 
de uma revolução nas técnicas de produção, o que possibilitou a mecanização 
do processo de trabalho em muitos ramos da atividade econômica, já na 
 primeira metade do século XIX, tendo significado também uma revolução na 
Vídeo
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral12
organização da produção que, a partir de então, passou a ser realizada no interior de empre-
sas com caráter permanente e racional.
Ao propiciar o aumento da produtividade do trabalho, a redução dos custos de produ-
ção e, como decorrência, o barateamento das mercadorias, a Revolução Industrial permitiu 
que se vislumbrasse o nascimento de uma sociedade de abundância e mais justa, graças às 
possibilidades econômicas de uma distribuição mais igualitária da renda.
Rapidamente irradiada para o continente, a Revolução Industrial, ao contrário de todas 
as expectativas, gerou problemas sociais de extrema gravidade que se alastraram, também 
rapidamente, por toda a Europa.
Em primeiro lugar, provocou o êxodo rural de enormes contingentes de trabalhadores 
entusiasmados com as perspectivas de melhoria de suas condições de vida. A consequência 
inevitável, porém, foi o desenvolvimento acelerado da urbanização não planejada, em que o 
resultado se expressou nas péssimas condições habitacionais dos trabalhadores, na imundí-
cie das cidades industrializadas, na falta de fornecimento de água e nas epidemias de cólera 
e de tifo que se espalharam por todo o continente, dizimando milhares de pessoas.
Segundo Eric J. Hobsbawm (1977, p. 225), o mais renomado historiador do século XX: 
Só depois de 1848, quando as novas epidemias nascidas nos cortiços começaram 
a matar também os ricos, e as massas desesperadas que aí cresciam tinham as-
sustado os poderosos com a revolução social, foram tomadas providências para 
um aperfeiçoamento e uma reconstrução urbana sistemática.
Devemos considerar também os baixos salários e o desemprego de milhares de traba-
lhadores, visto que até a década de 1840 
grandes massas da população continuavam até então sem ser absorvidas pelas 
novas indústrias e cidades, como um substrato permanente de pobreza e deses-
pero, e também as grandes massas eram periodicamente atiradas ao desemprego 
pelas crises que, até então, mal eram reconhecidas como temporárias e repetiti-
vas. (HOBSBAWM, 1977, p. 228) 
A criminalidade e a violência urbana, o alcoolismo, a prostituição e o suicídio cons-
tituíam o quadro de deterioração da vida social, aprofundado pela enorme desigualdade 
social. Ainda nas palavras de desse estudioso:
A época em que a Baronesa de Rothschild usou um milhão e meio de francos 
em joias no baile de máscaras do Duque de Orleans, em 1842, era a mesma em 
que John Bright assim descreveu as mulheres de Rochdale: “2 mil mulheres e 
moças passaram pelas ruas cantando hinos – um espetáculo surpreendente e 
singular – chegando às raias do sublime. Assustadoramente famintas, devora-
vam uma bisnaga de pão com indescritível sofreguidão, e se o pedaço de pão 
estivesse totalmente coberto de lama seria igualmente devorado com avidez.” 
(HOBSBAWN, 1977, p. 227)
Havia, ainda, o rígido controle e a disciplina impostos pelos patrões que tornavam in-
fernal a vida dos trabalhadores das fábricas, os quais estavam submetidos a jornadas de 
trabalho de 16 horas e a todo tipo de castigos e multas.
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
13
A Revolução Industrial não foi, portanto, apenas uma revolução econômica, que se 
tornou um marco na história da humanidade ao abrir as portas do crescimento e desen-
volvimento econômicos por suas inovações tecnológicas e organizacionais. Foi, também, 
responsável pelo aparecimento de novos e contundentes problemas humanos e sociais, 
além de ter dado início ao fim do antigo regime, com a entrada definitiva de novos perso-
nagens no cenário social: o empresário capitalista e o trabalhador proletário, que passa-
ram a constituir as duas grandes classes sociais da moderna sociedade capitalista nascente, 
permanentemente em conflito de interesses por ocuparem posições diferentes no processo 
de produção da riqueza. O capitalista é o proprietário dos meios de produção, isto é, do 
capital e da riqueza que gera mais riqueza – terra, tecnologia e trabalho concentrados na 
empresa por ele administrada –, e o proletário é proprietário apenas da força de trabalho, 
isto é, do capacidade para trabalhar, produzir e reproduzir em escala ampliada o capital, 
obrigando-se a vender a sua única propriedade no mercado de trabalho em troca de um 
salário com o qual deverá se sustentar.
Por essa razão, a Revolução Industrial não pode ser lembrada apenas como revolução eco-
nômica, devendo ser considerada uma verdadeira revolução da estrutura social que precipi-
tou as transformações políticas, jurídicas e ideológicas consumadas pela Revolução Francesa.
1.1.2 A Revolução Francesa
A Revolução Francesa de 1789 foi o acontecimento de maior repercussão no Ocidente 
por ter destruído definitivamente o antigo regime absolutista e a supremacia de uma aristo-
cracia decadente e por ter criado as condições necessárias e suficientes para o surgimento do 
Estado Moderno e a consolidação do regimecapitalista de produção.
Foi uma revolução conduzida pela burguesia enriquecida, inconformada com os consi-
deráveis privilégios e honrarias sociais concedidos aos nobres e ao clero, e sequiosa de poder 
para, sobretudo, pôr fim aos altos impostos e às rígidas regulamentações da política mer-
cantilista vigente que restringiam sua liberdade econômica. A burguesia pôde contar com o 
apoio imediato dos camponeses exasperados com o pagamento de um conjunto de obriga-
ções existentes desde a época feudal que lhes limitavam sobremaneira os ganhos.
Grupos de interesses econômicos contrariados encontraram nas ideias dos filósofos ilu-
ministas e dos economistas o arsenal intelectual para defla grar uma revolução que atingiu 
mortalmente as instituições políticas e jurídicas vigentes pela força da nova ideologia, ins-
pirada principalmente nas obras de: Locke (1632-1704), Voltaire (1694-1778) e Montesquieu 
(1689-1755), os grandes críticos da monarquia absolutista e pais da teoria política liberal, e 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), fundador da teoria política democrática moderna. Essas 
obras se constituíram no fundamento teórico no qual se assenta o Estado Moderno1.
1 As obras mais importantes de John Locke são: Tratados sobre o governo; Cartas sobre a tolerância; e 
Tratado sobre a racionalidade do cristianismo. As de François-Marie Arouet Voltaire são: Cartas filosóficas; 
Candido; Ensaio sobre os cos tumes. A principal obra de Charles de Secondat, barão de Montesquieu, é 
Espírito das leis. As de Jean-Jacques Rousseau são: O contrato social; Discurso sobre as ciências e as artes; 
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens; e Emílio.
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral14
Os economistas contribuíram com a crítica ao mercantilismo que impunha severas res-
trições à atividade econômica com sua política de amplo controle estatal sobre o comércio, 
favorecendo as exportações e restringindo as importações para manter uma balança comer-
cial que garantisse o enriquecimento do tesouro do país, e amplo controle da produção 
doméstica, com leis que regulamentavam os salários, as condições de emprego, a qualidade 
dos produtos etc.
A crítica à política mercantilista encontrou na obra de Adam Smith (1723-1790), A riqueza 
das nações, de 1776, a sua expressão mais contundente e qualificou o autor como o pai do libe-
ralismo econômico. A teoria por ele elaborada defendia o livre mercado por sua fundamenta-
ção na competição entre os produtores que, movidos pelo desejo egoísta de obter sempre mais 
lucros, garantiriam não só a produção demandada pelos consumidores, como também o apri-
moramento da qualidade dos produtos, a busca da eficácia e eficiência do processo produtivo 
para a redução dos custos e o barateamento das mercadorias, assegurando, dessa maneira, o 
desenvol vimento eco nômico continuado.
Assim, intelectualmente fundamentados, os revolucionários de 1789 elaboraram a 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em setembro daquele ano, reunindo nesse 
documento as ideias que comandaram a transformação da sociedade francesa e, mais tarde, 
de todo o mundo ocidental.
Nas palavras de Eric J. Hobsbawm (1977, p. 77), “esse documento é um manifesto con-
tra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma 
sociedade democrática e igualitária”, porque, apesar de seu primeiro artigo declarar que “os 
homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis”, prevê a existência de distinções so-
ciais, ainda que “ somente no terreno da utilidade comum”. Mas, mesmo assim, não se pode 
deixar de considerar a importância social, política, econômica e cultural desse documento 
porque, de fato, ele inaugura o início do processo de resgate do conceito grego de cidadão, 
reformulando-o e ampliando-o, condição necessária para o surgimento do Estado Moderno, 
isto é, do Estado Racional, fundado no Direito Racional e na autoridade legal-racional, 
administrado burocraticamente e, segundo Max Weber (1864-1920), um dos clássicos da 
Sociologia, “único terreno em que o capitalismo moderno pode prosperar”.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seus artigos, foi decisiva para o 
surgimento das instituições políticas, jurídicas e econômicas necessárias e suficientes para 
o desenvolvimento do regime capitalista de produção e do Estado democrático, ao declarar 
a propriedade privada um direito natural, sagrado, inalienável e inviolável, como também 
a liberdade de expressão, a tolerância religiosa e a liberdade de imprensa, ao mesmo tempo 
que determinava ser o povo a fonte de toda soberania. A partir dessa declaração, o povo foi 
conquistando aos poucos o direito de se organizar politicamente, quer em partidos políti-
cos, quer em movimentos sociais, não só para eleger seus representantes, mas também para 
contestar e reivindicar melhores condições de vida, ponto de partida para a efetivação de 
mudanças na estrutura social.
Não obstante a importância desses acontecimentos, cumpre ressaltar que tanto a 
Revolução Industrial quanto a Revolução Francesa, como também as Ciências Sociais, são 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
15
filhas do processo de racionalização da cultura ocidental, iniciado dois séculos antes, que 
têm como expressões mais significativas a própria ciência e a filosofia iluminista.
1.1.3 O Racionalismo
O Racionalismo tem origem na chamada revolução copernicana do século XVI que, além 
de Copérnico (1473-1543), é obra também de Kepler (1571-1630) e Galileu (1564-1642). Esses 
estudiosos desenvolveram ideias, investigações e estudos sobre o universo, resultando nas 
primeiras e mais contundentes contes tações à autoridade da Igreja Católica Apostólica 
Romana como fonte única do conhecimento oficialmente aceito, até então considerado sa-
grado, absoluto e incontestável. Eles fizeram nascer a convicção de que os homens, dotados 
de razão e de sentidos pela graça de Deus, são capazes de desvendar os mistérios de Sua 
criação e explicá-los corretamente.
No século XVII, René Descartes (1596-1650), matemático e físico, tornou-se o maior 
expoente do racionalismo, ao considerar a razão como a única fonte segura de conheci-
mento. No Discurso do método, afirmava ser necessário não só duvidar da veracidade dos 
conhecimentos existentes, como também das impressões sensoriais, pois nada garante que 
os nossos sentidos sejam confiáveis.
Figura 1 – HALS, Franz. Retrato de René Descartes. 1649. 1 óleo sobre tela.
Para ele, a reflexão filosófica deve partir de verdades ou axiomas simples e evidentes 
por si mesmos, como “Penso, logo existo”, e, por dedução matemática, como na geometria, 
chegar a um conjunto perfeitamente lógico de conhecimentos sobre indagações específicas.
Com Descartes, o processo de secularização da cultura ganha fôlego porque o método 
racionalista por ele elaborado foi o passo decisivo para o desenvolvimento da crítica racio-
nal às verdades que sustentavam a ordem estabelecida. Os resultados da aceitação desse 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral16
método como instrumento único para a construção do conhecimento se expressaram na 
emancipação do pensamento das verdades religiosas, na renúncia a uma visão sobrenatural 
para explicar os fatos e na contestação dos fundamentos da sociedade feudal com suas ins-
tituições e costumes. Em outras palavras: o resultado do racionalismo foi a consagração do 
livre pensamento, livre da visão de mundo dominante até então, livre para ensaiar novas e 
revolucionárias construções.
O Iluminismo ou Filosofia das Luzes, cuja manifestação suprema se deu na França do 
século XVIII, foi o ponto culminante dessa revolução intelectual em curso que abalou defi-
nitivamente os alicerces culturais da sociedade medieval europeia.
A crítica feroz que seus principais representantes desfecharam contra a sociedade me-
dieval também se assentava na convicção de que os procedimentosintelectuais que possi-
bilitaram o desenvolvimento das ciências naturais deveriam ser aplicados na explicação da 
realidade social como fundamento racional para a sua rejeição. E esses procedimentos não 
se limitavam à aplicação do método dedutivo de investigação legado por Descartes, mas 
também do método empirista desenvolvido por Francis Bacon (1561-1626, cuja obra princi-
pal é Novum Organum), baseado na observação e na experimentação para a descoberta das 
leis universais invariáveis que regem a ordem natural e a ordem social.
Pode-se afirmar que da conjugação do método racionalista e do método empirista advém 
a concepção moderna de ciência, hoje universalmente aceita como o caminho para a busca 
da verdade e, portanto, um dos valores centrais das sociedades ocidentais. E dessa conjuga-
ção surgiram trabalhos extraordinários no campo das ciências físico-químico-naturais ainda 
nos séculos XVII e XVIII. Basta registrar os nomes de Isaac Newton (1643-1727) e Leibniz 
(1646-1716), no campo da física e da matemática, de Boyle (1627-1691) e de Lavoisier (1743-
-1794), no campo da química, e de Lineu (1707-1778) e de Buffon (1707-1788), no campo da 
biologia, para compreender as origens das convicções dos iluministas de que a razão e a 
ciência poderiam permitir o exercício de um certo controle humano sobre o mundo e, fun-
damentalmente, sobre a realidade social, que passou a ser compreendida como construção 
humana e não mais como realização da vontade divina – e, portanto, passível de crítica, de 
contestação e de transformação. 
Preparava-se, assim, o caminho para o processo revolucionário de instauração do mun-
do moderno e para o desenvolvimento das Ciências Sociais.
1.2 As Ciências Sociais
Não há fronteiras rígidas entre as Ciências Sociais, pois todas, como vimos, têm por 
objeto de estudo o comportamento social determinado pelo processo histórico universal. 
No entanto, cada uma delas focaliza um aspecto específico desse comportamento, anali-
sando-o de uma perspectiva própria, em torno de conceitos particulares que definem a sua 
construção teórica. Mas todas as Ciências Sociais se beneficiam dos conhecimentos pro-
duzidos pelos autores de cada uma, num íntimo entrelaçamento que permite o enrique-
cimento e aprofundamento da compreensão da vida social. Embora se possa distinguir a 
Vídeo
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
17
especificidade da produção das Ciências Sociais, em cada uma delas se identifica a contri-
buição do trabalho das demais, pelo menos no que diz respeito à utilização dos principais 
conceitos que indicam o seu campo de estudo particular e os problemas fundamentais de 
que se ocupam.
A Economia Política teve sua origem na Escola Clássica da Inglaterra, com a publicação 
das obras de Adam Smith, David Ricardo (1772-1823, autor de Princípios de Economia Política) 
e Thomas Malthus (1766-1834, autor de Ensaio sobre a população). Ela estuda as ações sociais 
voltadas à produção, à circulação, à distribuição e ao consumo de bens e serviços em seu 
contexto institucional nacional e internacional.
A Ciência Política analisa as instituições políticas que regulamentam a distribuição do 
poder, as diferentes formas de governo, a administração do Estado, a luta pelo poder, o 
comportamento político em suas diferentes manifestações – político-partidário e eleitoral 
–, as atitudes populares diante das questões políticas, a participação em movimentos so-
ciais, enfim, o processo político em geral, inclusive no seio das organizações e empresas.
A História é a ciência que estuda o processo de produção da vida (isto é, das condi-
ções materiais de existência e da consciência, expressa no conjunto de crenças, valores, 
padrões de comportamento), na expectativa de apreendê-lo em suas diferentes manifesta-
ções e especificidades ao longo do tempo. Detém-se sobretudo na análise daqueles acon-
tecimentos que decisi vamente contribuíram para a sua transformação com o surgimento 
de novas instituições sociais.
A Psicologia Social investiga as relações recíprocas entre personalidade e estrutura social, 
demonstrando a influência do ambiente social na formação da personalidade e como, em con-
textos grupais, os processos sociais são por ela influenciados, como, por exemplo, na ação da 
multidão, tal como tumultos ou linchamentos, nos estudos de opinião pública, nos movimen-
tos sociais, nas atitudes grupais em relação aos preconceitos de qualquer natureza etc., ou seja, 
como as reações coletivas alteram a conduta individual e interferem na vida social.
A Antropologia focaliza seus estudos na construção da cultura, ou seja, no mundo dos 
significados e dos valores sociais predominantes nas mais diferentes sociedades, inclusive 
nas sociedades ágrafas (sem grafia), analisando-as em todos os seus aspectos. Por isso, as 
fronteiras entre a Antropologia e a Sociologia são muito tênues.
A Sociologia, ciência que subsidia o curso Análise Social, investiga, analisa, explica e 
interpreta a estrutura social como um todo, levando em consideração todos os aspectos que 
a constituem – o econômico, o político, o cultural, o histórico, o psicológico – como também 
os demais fenômenos que interferem na configuração da vida social – como a demografia, a 
ocupação do espaço físico etc. É a ciência das relações sociais norteadas pelas instituições ou 
padrões de comportamento, que expressam valores, crenças, ideias, sentimentos comparti-
lhados pelos membros de uma sociedade, e princípios sobre os quais se assenta a organiza-
ção da vida social em todas as suas dimensões: econômica, política, social, cultural, deter-
minando sua estrutura e assegurando-lhe uma ordem. Por isso, muitos autores se referem à 
Sociologia como a ciência que procura descobrir, descrever, explicar e compreender a ordem 
que caracteriza a vida social, ou seja, os padrões de comportamento que a caracterizam e 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral18
(GIDDENS, 2005, p. 23-24)
A imaginação sociológica nos permite ver que muitos eventos que pare-
cem dizer respeito somente ao indivíduo, na verdade, refletem questões 
mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil 
para alguém que passa por ele – o que Mills chama de “problema pes-
soal.” Mas o divórcio, assinala Mills, é também um problema público 
numa sociedade como a atual Grã-Bretanha, onde mais de um terço de 
todos os casamentos termina dentro de dez anos. O desemprego, para 
usar outro exemplo, pode ser uma tragédia pessoal para alguém despe-
dido de um emprego e inapto para encontrar outro. Mesmo assim, isso vai 
bem além de uma questão geradora de aflição pessoal, se considerarmos 
que milhões de pessoas numa sociedade estão na mesma situação: é um 
assunto público, expressando amplas tendências sociais.
Tente aplicar esse tipo de perspectiva à sua própria vida. Não é necessário 
pensar apenas em acontecimentos preocupantes. Considere, por exemplo, 
por que você está virando as páginas deste livro – por que você decidiu 
estudar Sociologia. Você pode ser um estudante de Sociologia relutante, 
fazendo o curso somente para preencher créditos exigidos. Ou você pode 
estar entusiasmado para descobrir mais sobre o assunto. Quaisquer que 
sejam as suas motivações, você provavelmente tem muito em comum, sem 
saber necessariamente, com outros que estudam Sociologia. Sua decisão 
individual reflete sua posição numa sociedade mais vasta.
As seguintes características se aplicam a você? Você é jovem? Branco? 
Você vem de um background profissional ou de colarinho-branco? Você 
já teve, ou ainda tem, um trabalho de meio turno para aumentar seus 
ganhos? Você quer encontrar um bom trabalho quando terminar sua edu-
cação, mas não está especialmente empenhado em estudar? Você não sabe 
realmente o que é sociologia mas acha que tem algo a ver com como as 
pessoas se comportam em grupo? Mais de três quartos de vocês respon-
derão “sim” a tais questões. Estudantes universitários não sãoo típico da 
que “permitem a corrente rotineira da vida social” (INKELES, 1964, p. 47), possibilitando, 
portanto, prever o seu curso e, ao mesmo tempo, indicar as manifestações de desordem, de 
conflito e de mudança, pois a realidade social é processo.
Ampliando seus conhecimentos
Estudando Sociologia
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais
Sociologia Geral
1
19
população como um todo, mas tendem a ser provenientes de ambientes 
mais favorecidos. E suas atitudes geralmente refletem aquelas sustenta-
das por amigos e conhecidos. Os ambientes sociais dos quais viemos têm 
muito a ver com os tipos de decisões que achamos apropriadas.
Mas suponha que você respondeu “não” a uma ou mais dessas ques-
tões. Você pode ter vindo de um grupo minoritário ou de um passado 
de pobreza. Você pode ser alguém de meia-idade ou mais velho. Mesmo 
assim, outras conclusões provavelmente se seguem. Você provavelmente 
teve de se esforçar para chegar onde está; talvez você tenha tido de supe-
rar reações hostis de amigos e de outros quando contou a eles que estava 
pretendendo ir à faculdade; ou talvez você esteja combinando Ensino 
Superior com paternidade em tempo integral.
Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos encon-
tramos, nenhum de nós está simplesmente determinado em nosso com-
portamento por aqueles contextos. Possuímos e criamos nossa própria 
individualidade. É trabalho da Sociologia investigar as conexões entre o 
que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos. Nossas atividades 
tanto estruturam – modelam – o mundo social ao nosso redor como, ao 
mesmo tempo, são estruturadas por esse mundo social.
O conceito de estrutura social é importante na Sociologia. Ele se refere ao 
fato de que os contextos sociais de nossas vidas não consistem apenas 
em conjuntos aleatórios de eventos ou ações; eles são estruturados ou 
padronizados de formas distintas. Há regularidades nos modos como nos 
comportamos e nos relacionamentos que temos uns com os outros. Mas 
a estrutura social não é como uma estrutura física, como um edifício que 
existe independentemente das ações humanas. As sociedades humanas 
estão sempre em processo de estruturação. Elas são reestruturadas a todo 
o momento pelos próprios “blocos de construção” que as compõem – os seres 
humanos como você e eu.
Atividades
1. Explique a seguinte afirmação: “A imaginação sociológica capacita seu possuidor a 
compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a 
vida íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em 
conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem frequen-
temente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca- 
-se a estrutura da sociedade moderna, e dentro dessa estrutura são formuladas as 
 A promessa e as tarefas das Ciências Sociais1
Sociologia Geral20
psicologias de diferentes homens e mulheres. Através disso, a ansiedade pessoal dos 
indivíduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença do público se transfor-
ma em participação nas questões públicas” (MILLS, 1965, p. 11-12).
2. Explique as condições históricas que permitiram o surgimento das Ciências Sociais.
3. Qual o objeto de estudo das diferentes Ciências Sociais? É possível delimitar frontei-
ras entre elas? Justifique sua resposta.
Referências
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
INKELES, Alex. O que é Sociologia? São Paulo: Pioneira, 1974.
WEBER, Max. História geral da Economia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção Os Pensadores).
WRIGHT MILLS, C. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
 Resolução 
1. A imaginação sociológica permite a cada um de nós se compreender como produto e 
produtor da vida social e, por isso, compreender-se como ser historicamente condi-
cionado, cujas possibilidades e limitações na vida são, em grande parte, circunscritas 
pela estrutura da nossa sociedade num determinado momento da história mundial.
2. A partir do século VXIII, quando se deixou de acreditar que a construção humana 
era obra de um processo divino e as vozes da razão e do empirismo começaram a 
ser aceitas, surgiu a necessidade de se refletir cientificamente sobre a realidade e a 
estrutura social. Isso se deu especialmente em um contexto de revoluções (Revolu-
ção Francesa, Revolução Industrial), grandes guerras (Primeira e Segunda Guerras 
Mundiais) e avanço das ciências exatas e biológicas (Newton, Lavoisier, Buffon).
3. O objeto de estudo das Ciências Sociais é o comportamento social determinado pelo 
processo histórico universal. Não há como delimitar a fronteira entre as Ciências 
Sociais, pois coexistem em um estreito inter-relacionamento, no qual todas dialogam 
e se beneficiam dos resultados postulados entre si.
Sociologia Geral 21
2
As sociedades 
industriais capitalistas
A Sociologia é uma ciência recente. Nasceu com o mundo moderno para explicá-lo 
e compreendê-lo. Assim, seu objeto de estudo é a estrutura das sociedades industriais 
capitalistas, denominadas sociedades modernas por Durkheim, capitalismo moderno por 
Max Weber e modo de produção capitalista por Marx e Engels.
Embora Auguste Comte, com a publicação do Curso de Filosofia Positiva, entre 1830 
e 1839, seja considerado o pai da Sociologia, os autores clássicos que mais contribuí-
ram para o seu desenvolvimento foram Émile Durkheim (1858-1917), Max Weber 
(1864-1920) e Karl Marx (1818-1883)1. Esses três autores elaboraram os mais impor-
tantes princípios explicativos da análise sociológica, respectivamente, o princípio da 
causação funcional, da conexão de sentido e da contradição dialética e se tornaram 
referências fundamentais para os autores contemporâneos e todos aqueles que preten-
dem iniciar-se no estudo da produção sociológica.
1 As obras principais dos clássicos da Sociologia são: Émile Durkheim: A divisão do trabalho social; As regras do método 
sociológico; O suicídio; As formas elementares da vida religiosa; Educação e sociedade. Max Weber: Metodologia das Ciências 
Sociais; A ética protes tante e o espírito do capita lismo; História geral da econo mia; Economia e sociedade; Ciência e política: 
duas vocações. Karl Marx: Manuscritos eco nômicos e filosóficos de Paris de 1844; A ideologia alemã (em colaboração com 
F. Engels); Miséria da filosofia; Manifesto do Partido Comunista (em colaboração com F. Engels); O 18 Brumário de Luis 
Bonaparte; Salário, preço e lucro; Trabalho assalariado e capital; Contribuição à crítica da economia política; A luta de classes 
na França; Grundrisse e, a mais importante, O Capital: crítica da economia política.
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral22
Da aplicação desses princípios à análise da estrutura social resultaram explicações e 
interpretações diferentes, isto é, teorias diferentes sobre o mesmo objeto de estudo: a socie-
dade capitalista, cujas características fundamentais foram nos apresentadas por esses três 
autores, ao mesmo tempo, fornecendo os princípios metodológicos para o desenvolvimento 
da pesquisa empírica.
2.1 Émile Durkheim
Para Durkheim, a característica principal das sociedades modernas é a divisão do traba-
lho social. Ao promover a interdependência das funções profissionais especializadas, a divi-
são do trabalho social, que tem como origem o aumento da população, gera a solidariedade 
orgânica, ou seja, um novo tipo de coesão ou integração social que nasce do reconhecimento 
coletivo da complementariedade das atividades individuais diferenciadas, assegurando a 
existência e o funcionamento da sociedade e, consequentemente, a satisfação das necessida-
des individuais de um maior número de pessoas.
Figura 1 – Émile Durkheim.
FONTE: Wikimedia Commons.
Compreenda-se que, para Durkheim, a vida social só é possível porque existe uma cons-
ciência coletiva, ou seja, um conjunto de crençase sentimentos comuns aos de uma determina-
da sociedade que forma um sistema específico com vida própria. Ou, ainda: 
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
23
a sociedade não é simples soma de indivíduos, e sim sistema formado pela sua 
associação, que representa uma realidade específica com seus caracteres pró-
prios. Sem dúvida, nada se pode produzir de coletivo se consciências particula-
res não existirem; mas esta condição necessária não é suficiente. É preciso ainda 
que as consciências estejam associadas, combinadas, e combinadas de determi-
nada maneira; é desta combinação que resulta a vida social, e, por conseguinte, é 
esta combinação que a explica. (DURKHEIM, 1971, p. 71)
Assim, a vida social é possível porque existe uma consciência coletiva que se impõe e, 
portanto, é compartilhada pelas consciências individuais. Desse compartilhamento, nasce a 
coesão social ou a solidariedade social.
Nas “sociedades simples” (hordas, clãs, tribos), marcadas por uma divisão rudimen-
tar do trabalho social, dado o pequeno número de pessoas que as compõem, predomina 
a “solidariedade mecânica” que nasce de crenças e sentimentos compartilhados por todos 
os membros da sociedade. Nelas, o conteúdo da consciência coletiva é o culto à própria 
sociedade, mantendo-se o respeito total e absoluto às suas crenças e sentimentos. Por isso, 
nas sociedades simples, os indivíduos são totalmente envolvidos pela consciência coletiva, 
havendo quase nenhuma controvérsia entre eles. 
Mas, à medida que acontece o desenvolvimento da divisão do trabalho social, os senti-
mentos comuns se atenuam, porque as atividades sociais se modificam, diferenciando os indi-
víduos entre si nas suas crenças e ações. A consequência inevitável disso é o desenvolvimento 
do individualismo, que se torna o novo conteúdo da consciência coletiva nas sociedades mo-
dernas. A divisão do trabalho social é, portanto, a condição criadora da liberdade individual 
e, ao mesmo tempo, de um novo tipo de solidariedade social que, como vimos, nasce do sen-
timento dos laços de interdependência dos indivíduos que, ao desempenharem funções dife-
renciadas, contribuem uns com os outros para a satisfação das necessidades de todos.
Essa seria, pois, a função social da divisão do trabalho social, isto é, o efeito social útil 
que produz, expresso na solidariedade orgânica, integração ou coesão social de um novo 
tipo de sociedade. Surgiu, a partir da análise dos efeitos sociais úteis dos fatos ou fenôme-
nos sociais, o princípio explicativo da causação funcional que permeia toda a obra de Émile 
Durkheim. Lembrando que, se Adam Smith, no livro A riqueza das nações, de 1776, já havia 
demonstrado a função econômica da divisão do trabalho – o aumento da produtividade do 
trabalho, a redução dos custos da produção e o barateamento das mercadorias –, Durkheim 
apenas se interessa por seus efeitos sociais nas mais diferentes esferas da vida em sociedade.
2.2 Max Weber
Para Max Weber, o traço característico do capitalismo moderno é a 
 racionalidade da conduta em todas as dimensões da vida. Essa racionalidade 
funciona como fundamental princípio norteador da vida econômica que se 
manifesta na multiplicação de empresas, por meio das quais todas as necessi-
dades de um grupo humano são satisfeitas.
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral24
Figura 2 – Max Weber.
Fonte: Wikimedia Commons.
Weber (1980, p. 123) afirma que “O capitalismo existe onde quer que se realize a satis-
fação de necessidades de um grupo humano, com caráter lucrativo e por meio de empresas, 
qualquer que seja a necessidade de que se trate”. No entanto, o capitalismo moderno surgiu 
apenas na segunda metade do século XVIII com a organização racional do trabalho, ou seja, 
com o desenvolvimento da organização empresarial. Isso se deu apenas no Ocidente, onde 
havia as condições culturais suficientes e necessárias para tal.
O fato de tal desenvolvimento haver se verificado no Ocidente, deve-se aos traços 
característicos de cultura, peculiares a esta parte da Terra. Só o Ocidente conhece 
o Estado, no sentido moderno da palavra, com administração orgânica e relativa-
mente estável, funcionários especializados e direitos políticos. Os indícios destas 
instituições na Antiguidade e no Oriente, não alcançaram pleno desenvolvimen-
to. Só o Ocidente reconhece um direito racional, criado pelos juristas, interpretado 
e empregado racionalmente. Só no Ocidente se encontra um conceito de cidadão 
(civis romanus, citoyen, bourgeois), porque, só no Ocidente, se deu uma cidade no 
sentido específico da palavra. Além disso, só o Ocidente possui uma ciência no 
sentido atual. Teologia, filosofia, meditação sobre os problemas da vida foram 
conhecidas pelos chineses e indianos, aliás, com uma profundidade como nunca 
foi sentida pelo povo europeu. Uma ciência racional e uma técnica racional foram 
coisas desconhecidas para aquelas culturas. Finalmente, a Cultura Ocidental se 
distingue de todas as demais, isto pelo fato da existência de pessoas possuidoras 
de uma ética racional da existência. Em todos os lugares encontramos a magia e a 
religião: entretanto, só é peculiar do Ocidente o fundamento religioso do regime 
de vida, cujo resultado tinha de ser o racionalismo específico. (WEBER, 1980, 
p. 146, grifos do original)
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
25
Logo, entendemos que o processo de racionalização do mundo ocidental nas suas dife-
rentes manifestações, na visão de Max Weber, é condição necessária para o surgimento do 
capitalismo moderno e compreensão do significado do princípio explicativo da conexão de 
sentido. Com efeito, a racionalização do mundo ocidental é o processo de diferen ciação das 
esferas de valor e de ação, antes unificadas pela religião. Desta forma, a racionalidade passa a 
reger as diferentes dimensões da atividade social. A partir daí, valores distintos, muitas vezes 
em conflito, orientam as ações sociais, em que o sentido subjetivo a elas atribuído pelo sujeito, 
cabe às Ciências Sociais e, especificamente à Sociologia, compreender e interpretar.
2.3 Karl Marx
Para Marx, a especificidade do modo de produção capitalista reside na 
extração da mais-valia, isto é, numa nova modalidade de exploração do tra-
balho, substituindo a escravidão e a servidão que caracterizaram, respecti-
vamente, o modo de produção antigo e o modo de produção feudal, e que se 
constitui na fonte principal dos lucros do capitalista. A mais-valia correspon-
de à diferença entre o valor das mercadorias produzidas pelo trabalhador 
e o valor de sua força de trabalho (capacidade para trabalhar), expressa no 
salário. O trabalhador produz muito mais valor (riqueza na forma de mer-
cadorias) do que recebe em troca pela única mercadoria que possui e que é 
obrigado a vender no mercado de trabalho para sobreviver: a sua força de 
trabalho. 
Figura 3 – Karl Marx.
Fonte: Wikimedia Commons.
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral26
Para Marx, a origem da exploração do trabalho é a propriedade privada dos meios de 
produção, responsável também pela divisão social do trabalho entre trabalho intelectual e 
trabalho material.
A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos 
meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem 
são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à 
classe dominante2. (MARX; ENGELS, 1978, p. 56)
Assim, no modo de produção capitalista, os proprietários do capital realizam o traba-
lho intelectual e são os produtores da consciência, da ideologia, da visão de mundo, isto é, 
da superestrutura social, composta da estrutura jurídico-política e ideológica. A ideologia 
dominante é imposta aos não proprietários dos meios de produção, produtores das condi-
ções materiais de vida, ou seja, da infraestrutura. Ela é a representação mental das condições 
de vida da classe dominante, muito distintasda classe dominada. A ideologia é sempre falsa 
consciência do mundo e, por isso, conduz à alienação, isto é, à incapacidade de compreender 
a realidade e de sobre ela exercer controle.
As classes sociais, por ocuparem posições diferentes no processo de produção da riqueza, 
têm interesses econômicos divergentes, razão pela qual estão permanentemente em relações 
sociais de conflito (latente ou manifesto, como nas greves, nos movimentos sociais, nas reivin-
dicações por melhores condições de vida). 
No Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Marx e Engels afirmam que 
A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de 
classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de cor-
poração e companheiro, numa palavra, o opressor e o oprimido permaneceram 
em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, 
ora disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolu-
cionária de toda a sociedade ou pela destruição das classes em conflito. (MARX; 
ENGELS, 1978, p. 94)
Assim, para esses autores, as transformações do modo de produção vigente nos diferen-
tes momentos da história da humanidade (no Ocidente, modo de produção antigo, modo de 
produção feudal e modo de produção capitalista) resultaram da luta de classes, da contradi-
ção dialética entre os interesses das classes sociais.
Nas sociedades capitalistas, a luta de classes foi simplificada. “A sociedade global 
 divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes classes que se defron-
tam – a burguesia e o proletariado” (MARX; ENGELS, 1978, p. 94). Da luta entre essas duas 
classes surgiu um novo modo de produção, fundado na propriedade coletiva dos meios de 
produção, pondo fim à exploração do trabalho e à existência das classes sociais: o modo de 
produção comunista, no encerramento da fase de transição do capitalismo para a ditadura 
do proletariado, ou seja, do socialismo para o comunismo.
2 Atente-se para o fato de que Marx se refere à divisão social do trabalho e não à divisão do traba-
lho social, como Durkheim. Os significados dessas expressões são muito diferentes, porque enquanto 
Marx se refere à origem da divisão do trabalho, Durkheim se refere à especialização das funções so-
ciais, sem preocupar-se com a sua origem.
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
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A destruição do modo de produção capitalista acontecerá pela emergência da con-
tradição dialética entre desenvolvimento das forças produtivas materiais (capacidade de 
produção de uma sociedade) e as relações sociais de produção entre capitalistas e assala-
riados. O fato é que ao revolucionar constantemente os meios de produção para enfrentar a 
acirrada competição nos mercados de bens, a burguesia vai cavando sua própria cova, visto 
que ao substituir trabalhadores por máquinas, sempre mais sofisticadas, gera desemprego 
em massa e impede a reprodução do próprio capital por impedir o consumo da produ-
ção cada vez mais diversificada e em grande escala. Emerge, então, a contradição dialética 
entre a acumulação da riqueza, de um lado, e, de outro, a acumulação da pobreza, parali-
sando o próprio processo de produção da riqueza e contribuindo para o fortalecimento da 
organização política dos trabalhadores, cujo resultado é o rompimento das relações sociais 
capitalistas pela revolução comunista.
A Sociologia, ainda hoje, continua subsidiada pelas obras dos três clássicos aqui rapi-
damente apresentados, pois os autores contemporâneos têm construído novos esquemas de 
explicação teórica a partir da sua total rejeição, da sua reformulação ou ainda da sua amplia-
ção, na tentativa de acompanhar e compreender o processo histórico que se manifesta em 
 situações por aquelas obras não contempladas.
Como Durkheim, Weber e Marx fundamentam suas teorias em princípios epistemoló-
gicos distintos (respectivamente, Positivismo, Sociologia da Compreensão e Materialismo 
Histórico e Dialético), em nenhuma hipótese é possível utilizar conceitos por eles elabo-
rados de maneira indistinta, porque seu poder explicativo se circunscreve no conjunto da 
teoria que lhes deu origem. No entanto, pode-se elencar as características peculiares das 
sociedades capitalistas contemporâneas utilizando as indicações que eles nos legaram, mui-
to embora as tenham explicado diferentemente. Assim, reunimos a seguir os componentes 
essenciais da estrutura das sociedades capitalistas.
2.4 A estrutura das sociedades 
industriais capitalistas
Os princípios norteadores das relações sociais e da organização das di-
ferentes dimensões da vida social podem ser assim apresentados:
• Trabalho livre, decorrente do primeiro artigo da Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão, segundo o qual todos os homens 
nascem livres e iguais perante a lei, condição necessária para a 
existência do mercado livre de trabalho e para a transformação da 
força de trabalho em mercadoria, isto é, trabalho assalariado.
Um mercado de trabalho livre existe quando e somente quan-
do os trabalhadores (seguindo a conhecida frase de Marx) são 
livres no duplo sentido, ou seja, “como pessoas livres, podem 
dispor de sua força de trabalho como mercadoria própria” e 
“são desprovidos de tudo o mais necessário à realização de sua 
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral28
força de trabalho”. Um mercado de trabalho pressupõe a ausência de proprieda-
de em dois sentidos: o trabalhador não pode estar vinculado a um proprietário 
como um material componente da produção, nem pode controlar propriedade 
e, portanto, suas próprias chances de garantir uma existência fora do mercado 
de trabalho. O trabalhador não pode ser propriedade de alguém nem possuir 
propriedade. (OFFE, 1989, p. 72)
• Instituição da propriedade privada dos meios de produção, isto é, do capital, a 
todos acessível juridicamente, porém, na prática, só é acessível a alguns poucos, 
origem da contradição entre igualdade jurídica e desigualdade de fato.
• Desigualdade de fato, expressa na formação de classes sociais, que consiste na 
formação de grupos de pessoas que ocupam diferentes posições no processo de 
produção da riqueza, essas são determinadas pela posse ou não dos meios de 
produção. Desse restrito acesso de fato à propriedade do capital, nascem as duas 
grandes classes sociais das sociedades capitalistas: a dos proprietários do capital 
(capitalistas ou burguesia) e a classe dos não proprietários do capital (proletaria-
do ou classe assalariada) que vive da venda de sua força de trabalho no mercado 
livre em troca de um salário; as relações de produção entre proprietários e não 
proprietários dos meios de produção são regulamentadas por um contrato livre de 
trabalho que poderá ser rompido a qualquer momento por uma das partes.
• Luta de classes, latente ou manifesta, devido ao conflito de interesses econômicos 
das classes e/ou grupos sociais. Os conflitos manifestos se expressam nos movi-
mentos reivindicatórios e/ou grevistas, e os latentes são subjacentes às relações 
sociais entre as classes e, por isso, são permanentes.
• Divisão racional do trabalho, cujo critério único é a competência profissional e a 
capacitação técnica dos trabalhadores e divisão tecnológica do trabalho no interior 
das empresas.
• Economia de mercado, que consiste em uma estrutura econômica organizada para 
a produção de mercadorias, ou seja, a produção em larga escala de bens e pres-
tação de serviços para a troca por dinheiro no mercado de bens e serviços, com 
fundamento na livre iniciativa e na livre competição, embora parcialmente regu-
lamentada pelo Estado.
• Produção de bens e prestação de serviços por empresas, com caráter permanente e 
racionalmente organizadas para a obtenção de lucros, que tem como origem prin-
cipal a exploração do trabalho, ou seja, a extração da mais-valia, que é, a diferença 
entre o que foi efetivamente produzido pelo trabalhador e o que lhe foi pago em 
forma de salário: o trabalhadorsempre produz mais do que recebe.
• Estado Moderno, fundado no Direito Racional e na autoridade legal-racional, 
cuja legitimidade advém da crença na superioridade da lei racionalmente elabo-
rada pelo poder legislativo, representante da vontade do povo; Nele governa-se 
em nome da lei para fazer cumpri-la. Ela estabelece a separação entre os poderes 
executivo, legislativo e judiciário e, numa democracia plebiscitária, os cidadãos 
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
2
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escolhem seus governantes através de eleições livres. O Estado Moderno é ad-
ministrado burocraticamente, com funcionários de carreira que ocupam cargos 
para os quais foram nomeados após terem demonstrado, pela via de concursos 
públicos, competência técnica para tal, ou, como se afirmou anteriormente, pela 
escolha soberana dos cidadãos para a ocupação de cargos no executivo e no po-
der legislativo.
• Direito Racional, isto é, direito calculável, como condição necessária para a exis-
tência das sociedades capitalistas modernas, pois, como afirma Max Weber (1980, 
p. 124), “Para que a exploração econômica capitalista proceda racionalmente pre-
cisa confiar em que a justiça e a administração seguirão determinadas pautas”.
• Secularização e racionalização e/ou intelectualização da cultura, herdada da filo-
sofia racionalista do século XVIII, cujas expressões mais importantes são a ciência, 
a técnica racional, o Estado Moderno e a razão como princípio organizador de 
todas as dimensões da vida.
• Técnica racional para a mecanização, automatização e informatização da produ-
ção e da prestação de serviços, isto é, industrialização, para a produção em larga 
escala de todas as mercadorias, característica das sociedades industriais.
2.5 As empresas
A produção de bens e a prestação de serviços no interior de empresas com 
caráter permanente e racionalmente organizadas formam um traço distintivo 
das sociedades industriais capitalistas, pois, em nenhum outro momento da 
história da humanidade, a satisfação das necessidades sociais dependeu delas 
totalmente. 
Sem dúvida, só podemos dizer que toda uma época é tipicamente 
capitalista quando a satisfação de necessidades se acha, segundo 
o seu centro de gravidade, orientada de tal maneira que, se ima-
ginamos eliminada esta classe de organização, fica em suspenso 
a satisfação das necessidades. (WEBER, 1980, p. 124)
Embora, ainda segundo Max Weber, encontremos várias formas de capi-
talismo ao longo dos tempos, foi apenas com a organização empresarial e per-
manente do trabalho que surgiu o capitalismo moderno, isto é, o capitalismo 
racional.
Encontramos, primeiramente, por toda a parte, e nas épocas mais 
diferentes, tipos de um capitalismo irracional: empresas capitalis-
tas que tinham por finalidade o arrendamento dos tributos (tanto 
no Ocidente como na China, e na Ásia Menor) e outras espécies 
de contribuições para financiar a guerra (na China e na Índia, na 
época dos Estados parciais); capitalismo mercantil de tipo especu-
lativo, tal como os mercadores o conheceram, quase sem exceção 
Vídeo
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral30
em todas as épocas da história; e capitalismo usuário, que, através do empréstimo, 
explora as necessidades alheias. [...] Todas estas foram, somente, circunstâncias 
econômicas de caráter irracional, sem que jamais surgisse delas um sistema de or-
ganização do trabalho. O capitalismo racional tem em conta as possibilidades do mer-
cado, isto é, oportunidades econômicas no sentido mais estrito do termo: quanto 
mais racional for mais se baseia na venda para grandes massas e na possibilidade 
de abastecê-las. Este capitalismo, elevado à categoria de sistema, apenas se con-
segue no desenvolvimento moderno Ocidental, nos fins da Idade Média. (1980, 
p. 157, grifos do original)
Mas, não só para Weber, as empresas constituem um dos traços distintivos e fundamen-
tais das sociedades capitalistas, para Marx, as empresas racionalmente organizadas para a 
produção das mercadorias representam a característica mais significativa do novo modo 
de produção, porque é no seu interior que a nova modalidade de exploração do trabalho, a 
extração da mais-valia, se realiza, tornando-se a fonte principal dos lucros do capitalista e o 
fator determinante da reprodução do capital. E quanto mais racional for a organização do 
trabalho, maior será a taxa da mais-valia e, portanto, a taxa de lucros. 
O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista, a quem pertence seu trabalho. 
O capitalista cuida em que o trabalho se realize de maneira apropriada e em que se 
apliquem adequadamente os meios de produção, não se desperdiçando matéria-
-prima e poupando-se o instrumental de trabalho, de modo que só se gaste deles o 
que for imprescindível à execução do trabalho. (MARX, 1971, p. 209)
Assim, o Livro I de O Capital, O processo de produção capitalista, dedica-se inteiramente 
à análise do processo de produção capitalista que se realiza no interior das empresas, cuja 
maior preocupação é a de organizar racionalmente o processo de trabalho para permitir o 
aumento da sua produtividade e, consequentemente, dos lucros dos capitalistas. 
A divisão tecnológica do trabalho, que consiste na decomposição do processo de traba-
lho em operações simplificadas realizadas por trabalhadores diferentes, ainda no período 
manufatureiro, é uma das expressões da racionalização das empresas.
Decompondo o ofício manual, especializando as ferramentas, formando os tra-
balhadores parciais, grupando-os e combinando-os num mecanismo único, a 
 divisão manufatureira do trabalho cria a subdivisão qualitativa e a proporciona-
lidade quantitativa dos processos sociais de produção; cria assim determinada 
organização do trabalho social e, com isso, desenvolve ao mesmo tempo nova 
força produtiva social do trabalho. A divisão manufatureira do trabalho, nas 
bases históricas dadas, só poderia surgir sob forma especificamente capitalista. 
(MARX, 1971, p. 417)
Mas, sem dúvida, a expressão mais significativa da organização racional do trabalho é 
a mecanização do processo de produção, com a introdução da maquinaria, que substitui o 
trabalhador, prolonga a jornada de trabalho além do necessário para a sua sobrevivência e 
intensifica o trabalho, aumentando ainda mais a taxa da mais-valia e a taxa de lucros. Esse 
emprego (da maquinaria), 
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
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31
[...] como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho, tem 
por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho da qual pre-
cisa o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratui-
tamente ao capitalista. A maquinaria é meio para produzir mais-valia. (MARX, 
1971, p. 424)
Para Marx, portanto, a divisão do trabalho no interior das empresas tem como obje-
tivo aumentar a produtividade do trabalho e os lucros dos capitalistas, sempre maiores 
com a introdução de sofisticadas tecnologias. Acirra o conflito social, imanente às socie-
dades capitalistas, por intensificar a exploração do trabalho e degradar o trabalhador ao 
 desprofissionalizá-lo, tornando-o um verdadeiro autômato.
Mesmo Durkheim reconhece que as formas contemporâneas da divisão do trabalho 
não podem engendrar solidariedade social, porque a especialização pronunciada das tare-
fas provoca descoordenação das funções e constitui fonte de desintegração por impedir o 
desenvolvimento do sentimento de interdependência, tornando-se patológica.
Independentemente das interpretações teóricas elaboradas pelos clássicos da Sociologia, 
podemos apresentar as características definidoras das empresas a partir de suas obras e, gra-
ças a elas, compreender também o seu surgimento e desenvolvimento como consequência 
das novas condições econômicas, políticas, sociais e culturais que marcaram o Ocidente da 
segunda metade do século XVIII.
Isso significa que, desde sempre, as empresas devem ser pensadas como produto da-
quelascondições permanentemente em processo, em transformação, o que implica afirmar 
que, para conhecê-las, é preciso situá-las historicamente, acompanhando-se o processo his-
tórico universal que as determina, ao mesmo tempo que é por elas determinado. Tarefa 
desafiadora e, por isso mesmo, imensamente interessante.
Pode-se definir a empresa como um grupo de pessoas propositadamente formado e 
racionalmente organizado para a produção em larga escala de bens ou para a prestação de 
serviços, para trocá-los por dinheiro no mercado de bens e serviços, tendo por objetivo único 
a obtenção de lucros. Todas as empresas são organizações, mas nem todas as organizações 
são empresas. O que as distingue é o fato de que somente as empresas têm como meta a 
obtenção de lucros. O exemplo mais ilustrativo de organização é o Estado, a maior de todas 
as organizações, e seus organismos prestadores de serviços à população sem fins lucrativos.
A organização racional das empresas se expressa:
• na divisão racional e tecnológica do trabalho, ou seja, na distribuição das tarefas 
segundo o critério único da competência profissional, da capacitação técnica, de 
seus membros;
• nas diferentes formas de organização do processo de trabalho, fundadas na divi-
são do trabalho e que, ao longo do século XX, foram identificadas como tayloris-
mo, fordismo e toyotismo;
• na existência de normas racionalmente elaboradas que regulamentam o compor-
tamento de seus membros e a execução das tarefas;
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral32
• na estrutura de autoridade hierárquica, como princípio de coordenação das tarefas;
• na aplicação dos métodos e dos conhecimentos científicos ao processo produtivo 
e de prestação de serviços;
• na utilização da mais moderna e sofisticada tecnologia, produto de pesquisa per-
manente, muitas vezes por elas financiada;
• no cálculo econômico permanente, cálculo matemático dos custos da produção, 
das tendências do mercado, das probabilidades de obtenção de lucros e mesmo 
das probabilidades de prejuízos;
• na rápida e adequada reação às condições econômicas, políticas, sociais e culturais, 
nacionais e internacionais, determinantes das condições mercadológicas e de ob-
tenção de lucros, como consequência da análise permanente do processo histórico.
Como grupo de pessoas, a empresa se apresenta como um microcosmo social, desen-
volvendo os mesmos processos sociais que caracterizam a sociedade geral, apenas dela se 
diferenciando por realizarem uma atividade específica para a qual foram socialmente pre-
parados. Assim, tal como na sociedade geral, os membros da empresa desenvolvem ações 
sociais orientados por uma cultura empresarial que se origina na cultura da sociedade como 
um todo, submetem-se à obediência das normas estabelecidas e à estrutura de autoridade 
hierárquica e, ao mesmo tempo, informalmente, elegem seus líderes, ocupam posições dife-
renciadas segundo a sua competência profissional, colaboram e competem entre si, estão em 
conflito permanente com os seus empregadores, lutam por melhores condições de trabalho, 
de salário e de vida, e dependem da situação do mercado de trabalho para a manutenção de 
sua empregabilidade.
Por essas razões, o administrador, para tornar-se realmente competente, deverá adqui-
rir os conhecimentos produzidos pelas Ciências Sociais para compreender o comportamen-
to organizacional nas suas múltiplas determinações, a fim de promover, com a colaboração 
dos trabalhadores, os ajustamentos às condições econômicas, políticas, sociais e culturais, 
nacionais e internacionais, existentes.
 Ampliando seus conhecimentos
O valor do trabalho
(MARX, 1982, p. 28)
Devemos voltar agora à expressão “valor ou preço do trabalho”. Vimos que, 
na realidade, esse valor nada mais é que o da força de trabalho, medido 
pelos valores das mercadorias necessárias à sua manutenção. Mas, como o 
operário só recebe o seu salário depois de realizar o seu trabalho e como, 
ademais, sabe que o que entrega realmente ao capitalista é o seu trabalho, 
ele necessariamente imagina que o valor ou preço de sua força de trabalho 
é o preço ou valor do seu próprio trabalho. Se o preço de sua força de trabalho 
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
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é 3 xelins, nos quais se materializam 6 horas de trabalho, e ele trabalha 12 
horas, forçosamente o operário considerará esses 3 xelins como o valor ou 
preço de 12 horas de trabalho, se bem que estas 12 horas representem um 
valor de 6 xelins. Donde se chega a um duplo resultado:
Primeiro: O valor ou preço da força de trabalho toma a aparência do preço ou 
valor do próprio trabalho, ainda que a rigor as expressões de valor e preço do 
trabalho careçam de sentido.
Segundo: Ainda que só se pague uma parte do trabalho diário do ope-
rário, enquanto a outra parte fica sem remuneração, e ainda que esse tra-
balho não remunerado ou sobretrabalho seja precisamente o fundo de 
que se forma a mais-valia ou lucro, fica parecendo que todo o trabalho é 
trabalho pago.
Essa aparência enganadora distingue o trabalho assalariado das outras for-
mas históricas do trabalho. Dentro do sistema do salariado, até o trabalho 
não remunerado parece trabalho pago. Ao contrário, no trabalho dos escravos 
parece ser trabalho não remunerado até a parte do trabalho que se paga. 
Claro está que, para poder trabalhar, o escravo tem que viver e uma parte 
de sua jornada de trabalho serve para repor o valor de seu próprio sustento. 
Mas, como entre ele e seu senhor não houve trato algum, nem se celebra entre 
eles nenhuma compra e venda, todo o seu trabalho parece dado de graça.
O lucro obtém-se vendendo uma mercadoria 
pelo seu valor
O valor de uma mercadoria se determina pela quantidade total de traba-
lho que encerra. Mas uma parte dessa quantidade de trabalho representa 
um valor pelo qual se pagou um equivalente em forma de salários; outra 
parte se materializa num valor pelo qual nenhum equivalente foi pago. 
Uma parte do trabalho incluído na mercadoria é trabalho remunerado; a 
outra parte, trabalho não remunerado. Logo, quando o capitalista vende 
a mercadoria pelo seu valor, isto é, como cristalização da quantidade total 
de trabalho nela invertido, o capitalista deve forçosamente vendê-la com 
lucro. Vende não só o que lhe custou um equivalente, como também o 
que não lhe custou nada, embora haja custado o trabalho do seu operário. 
O custo da mercadoria para o capitalista e o custo real da mercadoria são 
coisas inteiramente distintas. Repito, pois, que lucros normais e médios se 
obtêm vendendo as mercadorias não acima do que valem e sim pelo seu 
verdadeiro valor.
As sociedades industriais capitalistas2
Sociologia Geral34
 Atividades
1. Apresente e explique as características principais das sociedades industriais capita-
listas segundo as perspectivas teóricas elaboradas pelos clássicos da Sociologia.
2. Qual o traço definidor de uma empresa e como se expressa?
3. Como se explica a desigualdade social de acordo com o pensamento de Marx?
 Referências 
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. O processo de produção do Capital. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.
MARX, Karl. Salário, Preço e Lucro. In: Coleção Os economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
OFFE, Claus. Capitalismo desorganizado. São Paulo: Brasiliense, 1989.
WEBER, Max. História geral da economia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção Os Pensadores).
 Resolução 
1. Para Durkheim, a característica principal das sociedades modernas é a divisão do 
trabalho social. Ao promover a interdependência das funções profissionais especia-
lizadas, a divisão do trabalho social, que tem como origem o aumento da população, 
gera a solidariedade orgânica, ou seja, um novo tipo de coesão ou integração social 
que nasce do reconhecimentocoletivo da complementariedade das atividades indi-
viduais diferenciadas, assegurando a existência e o funcionamento da sociedade e, 
consequentemente, a satisfação das necessidades individuais de um maior número 
de pessoas.
Para Max Weber, o traço característico do capitalismo moderno é a racionalidade da 
conduta em todas as dimensões da vida. Essa racionalidade funciona como fundamen-
tal princípio norteador da vida econômica que se manifesta na multiplicação de em-
presas, por meio das quais todas as necessidades de um grupo humano são satisfeitas.
Para Marx, a especificidade do modo de produção capitalista reside na extração da 
mais-valia, isto é, numa nova modalidade de exploração do trabalho, substituindo a 
escravidão e a servidão que caracterizaram, respectivamente, o modo de produção 
antigo e o modo de produção feudal, e que se constitui na fonte principal dos lucros 
do capitalista. A mais-valia corresponde à diferença entre o valor das mercadorias 
produzidas pelo trabalhador e o valor de sua força de trabalho (capacidade para tra-
balhar), expressa no salário. O trabalhador produz muito mais valor (riqueza na for-
As sociedades industriais capitalistas
Sociologia Geral
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ma de mercadorias) do que recebe em troca pela única mercadoria que possui e que 
é obrigado a vender no mercado de trabalho para sobreviver: a sua força de trabalho.
2. Pode-se definir a empresa como um grupo de pessoas propositadamente formado e 
racionalmente organizado para a produção em larga escala de bens ou para a presta-
ção de serviços, para trocá-los por dinheiro no mercado de bens e serviços, tendo por 
objetivo único a obtenção de lucros. Todas as empresas são organizações, mas nem 
todas as organizações são empresas. O que as distingue é o fato de que somente as 
empresas têm como meta a obtenção de lucros. O exemplo mais ilustrativo de orga-
nização é o Estado, a maior de todas as organizações, e seus organismos prestadores 
de serviços à população sem fins lucrativos.
3. Para Marx, a desigualdade social surge a partir da separação e estratificação das 
classes sociais, que por sua vez se formam pela posse ou não dos meios de produção 
material e, consequentemente, intelectual.
Sociologia Geral 37
3
As diferentes formas 
de administração do 
processo de trabalho no 
capitalismo moderno
3.1 A acumulação primitiva do capital
A estrutura econômica da sociedade capitalista tornou-se possível 
graças à acumulação primitiva do capital ainda na estrutura econômica 
da sociedade feudal, anterior, portanto, à acumulação capitalista, como 
resultado de “processos idílicos” (aventureiros), sobretudo violentos, de 
obtenção de riquezas.
Vídeo
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno3
Sociologia Geral38
As descobertas de ouro e de prata na América, o extermínio, a escravização das 
populações indígenas, forçadas a trabalhar no interior das minas, o início da 
conquista e pilhagem das Índias Orientais e a transformação da África num vas-
to campo de caçada lucrativa são os acontecimentos que marcam os albores da 
era da produção capitalista. Esses processos idílicos são fatores fundamentais da 
acumulação primitiva. Logo segue a guerra comercial entre as nações europeias, 
tendo o mundo por palco. Inicia-se com a revolução dos Países Baixos contra a 
Espanha, assume enormes dimensões com a guerra antijacobina da Inglaterra, 
prossegue com a guerra do ópio contra a China etc.
Os diferentes meios propulsores da acumulação primitiva se repartem numa or-
dem mais ou menos cronológica por diferentes países, principalmente Espanha, 
Portugal, Holanda, França e Inglaterra. Na Inglaterra, nos fins do século XVII, 
são coordenados através de vários sistemas: o colonial, o das dívidas públicas, 
o moderno regime tributário e o protecionismo. Esses métodos se baseiam em 
parte na violência mais brutal, como é o caso do sistema colonial. Mas, todos 
eles utilizavam o poder do estado, a força concentrada e organizada da socieda-
de para ativar artificialmente o processo de transformação do modo feudal de 
produção no modo capitalista, abreviando assim as etapas de transição. A força 
é o parteiro de toda sociedade velha que traz uma nova em suas entranhas. Ela 
mesma é uma potência econômica. (MARX, 1971, p. 868)
Max Weber também se refere aos processos de acumulação da riqueza anterio-
res ao capitalismo moderno que caracterizaram as formas de capitalismo irracional. 
Dentre esses processos, 
[...] a ocupação e exploração de grandes regiões fora da Europa. As aquisições 
coloniais dos Estados europeus deram lugar, em todos eles, a uma gigantesca 
acumulação de riquezas dentro da Europa. O meio empregado para este acú-
mulo de riquezas foi o monopólio dos produtos coloniais, as possibilidades de 
colocação nas colônias, isto é, o direito de transportar-lhes as mercadorias, e, 
finalmente, as oportunidades de ganho que oferecia o transporte, mesmo entre 
a metrópole e as colônias, tal como foram asseguradas pela Ata de Navegação 
Inglesa, de 1651. Tal acumulação de riquezas ficou garantida, sem exceção, por 
todos os países, mediante o exercício do poder, o que se revestiu de várias for-
mas, isto é, o Estado tirava das colônias lucros imediatos; administrando dire-
tamente suas riquezas, ou cedendo-as a determinadas sociedades, em troca de 
certos pagamentos. (WEBER, 1980, p. 136)
Assim, se a acumulação primitiva do capital foi obtida mediante atividades aventu-
reiras, a acumulação do capital nas sociedades modernas resulta da eficácia e eficiência da 
administração empresarial, isto é, da capacidade de explorar ao máximo, racionalmente, 
todos os recursos, meios e fatores da produção. O que resulta, portanto, da organização ra-
cional do trabalho no interior das empresas, do cálculo econômico permanente e da análise 
racional, probabilística em termos matemáticos, dos mercados nacionais e internacionais, 
frutos de múltiplas determinações: econômicas, políticas, sociais e culturais universais.
As diferentes formas de administração do processo de 
trabalho no capitalismo moderno
Sociologia Geral
3
39
Neste capítulo, a atenção se volta para as implicações sociais e humanas do 
processo de racionalização do interior das empresas, isto é, das diferentes formas 
de organização racional do processo de trabalho que marcaram o século XX e de-
terminaram, em grande parte, os mercados de trabalho.
3.2 A divisão tecnológica do trabalho
A primeira expressão da racionalização do interior das empresas industriais 
foi a divisão do processo de trabalho em operações especializadas atribuídas a di-
ferentes trabalhadores, já no século XVIII, conforme nos demonstrou Adam Smith 
(1937, p. 4) em A riqueza das nações: 
Um homem estica o arame, outro o retifica e um terceiro o corta; um 
quarto faz a ponta e um quinto prepara o topo para receber a cabeça; 
a cabeça exige duas ou três operações distintas: colocá-la é uma fun-
ção peculiar, branquear os alfinetes é outra e até alinhá-los num papel 
é uma coisa separada: e o importante na fabricação de um alfinete é 
deste modo dividido em cerca de dezoito operações que, em algumas 
fábricas, são executadas por mãos diferentes, embora em outras o mes-
mo homem às vezes execute duas ou três delas.
Os efeitos econômicos altamente positivos da divisão do trabalho devem-se, 
segundo Smith, a três diferentes circunstâncias: 
ao aumento da destreza de cada trabalhador individualmente; segun-
da, à economia de tempo que em geral se perde passando de uma es-
pécie de trabalho a outra; e, finalmente, à invenção de grande número 
de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, e permitem que um 
homem faça o trabalho de muitos. (SMITH, 1937, p. 7)
Ao longo do século XIX, a divisão do processo de trabalho acentuou-se e foi 
por Marx denominada divisão tecnológica do trabalho por conformar-se às exigências 
da introdução de novos instrumentais de trabalho, ou seja, às exigências

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