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Prof. Me. Vinícius Albuquerque UNIDADE II Patrimônio, Memória e Museus Unidade II – 5. Memória – Definições 5.1 Como diferenciar história e memória? 5.2 Usos da memória e esquecimentos 6. Celebrações e efemérides: festas cívicas e a construção de memórias sociais 6.1 Os 500 anos do “Descobrimento”: Exposição Brasil +500 Mostra do Redescobrimento 6.2 O caso das derrubadas das estátuas: problemas, debates e significados 7. Museus – importância e funções 7.1 Conhecer as instituições – museus e possibilidades de ensino de História 7.2 O mundo digital contribuindo para o conhecimento 7.3 Alguns museus digitais ou virtuais do Brasil e do mundo que podem ser conhecidos 8. Destruição de museus e patrimônio: tragédias anunciadas? Patrimônio, Memória e Museus – conteúdo Unidade II Dicionário de ensino de história de Marieta de Moraes Ferreira e Margarida Maria Dias de Oliveira. Temas diretamente relacionados ao nosso conteúdo, como cultura histórica, educação patrimonial, história, memória, novas tecnologias, entre outros. “Memória” associada ao ato de preservar experiências do passado; conjunto de funções psíquicas que permite lembrar, reter ideias, impressões ou ato de guardar. Parece que dificilmente vamos encontrar a palavra “esquecimento” como parte da resposta ao que é a memória. No campo da história e da educação, é relevante pensar “lembrança” e “esquecimento” como processos correlatos, considerando que parte da memória histórica corresponde ao que foi excluído por não compor os “grandes acontecimentos” selecionados para serem lembrados. Memória – Definições, retomando os debates Maurice Halbwachs “[...] a memória individual não é possível sem instrumentos, como palavras e ideias, os quais não são inventados pelos indivíduos, mas tomados emprestados de seu meio”. E isto implica, segundo ele, a presença do social nos momentos mais individuais, ou seja, recordamos com a ajuda das lembranças do outro, ainda que as memórias individuais sejam únicas e singulares (GIL apud FERREIRA; OLIVEIRA, 2019, p.156). A memória coletiva se transmite oralmente e por meio de textos, monumentos, rituais, festas, comemorações na família, na rua, na escola. A história nacional foi uma das formas mais importantes de afirmação da memória coletiva, delimitando o que lembrar e o que esquecer, e construindo uma história com presenças ausentes. Memórias Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros, de Michelle Perrot. Para utilizar em sala de aula, a extraordinária obra coletiva: ONHB. Excluídos da História. 2022. Disponível em: https://bit.ly/3W4j7dp. Uma exposição virtual em que 6.753 alunos de todo o Brasil criaram o dicionário biográfico Excluídos da história, que inclui 2.251 verbetes sobre personagens raramente estudadas na historiografia tradicional. Excluídos da história – operários, mulheres e prisioneiros. Michele Perrot Para Joel Candau, Memória e identidade (2012), a antropologia, a partir da sua trincheira, tenta interpretar as relações entre indivíduo e grupo, tem uma importante contribuição para o entendimento dos conceitos de memória e identidade, pois, no fundo, a grande questão, a partir de dados empíricos, é saber como os indivíduos compartilham práticas, representações, narrativas, lembranças que produzem, as quais, em última instância, é o que chamamos de cultura. [...] Candau chega mesmo a afirmar que “o patrimônio é uma dimensão da memória” (p. 16) e que “o patrimônio é menos um conteúdo que uma prática da memória obedecendo a um projeto de afirmação de si mesma” (CANDAU apud BARBOSA, 2014, p. 428). Usos das noções de memória e identidade Em sua proposta de classificar as memórias individuais, Candau coloca três níveis: Memória de baixo nível ou protomemória, que vem a ser aquela mais próxima do que podemos chamar de hábito. A memória de alto nível ou memória de evocação e/ou de lembranças, que incorpora crenças, sentimentos, emoções, entre outras experiências vividas no passado. A metamemória que é, na verdade, a representação que cada indivíduo faz de sua própria memória, ou algo como uma memória reivindicada (CANDAU apud BARBOSA, 2014, p. 429). Dessa maneira, se inicialmente nos parece que existiria o predomínio individual da memorização, na sequência, a coletividade aparece e a representação seria importante para a constituição da identidade. Polêmicas sobre a classificação de memórias individuais As transferências são complexas, pois confrontariam os “dados da realidade”, uma vez que uma pessoa é capaz de realizar uma afirmação sobre algo que simplesmente não existiu, o que pode, inclusive, gerar desconfiança no interlocutor de uma entrevista, por exemplo, tem aparecido certo número de publicações que dizem respeito, sob aspectos relativamente diferentes, ora ao problema da memória – e refiro-me apenas à abordagem histórica – ora ao problema da identidade. Assim, devemos considerar que, como elementos da memória, temos projeções, transferências e reorganização da memória individual e coletiva. A memória é seletiva. Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado. Seletividade da memória A diferença entre história e memória é complexa e podemos refletir sobre memória pensando-a como ferramenta teórico-metodológica na produção da história como conhecimento. Halbwachs, Nora e Le Goff –, procuraram ir além de polêmicas ou dicotomias tradicionais, como individual/coletivo, objetivo/subjetivo, total/particular e verdade/ficção. Halbwachs, na primeira metade do século passado, insistia que a memória coletiva não podia se confundir com a história. Essa era a tônica dos debates: evidenciar a oposição entre os dois conceitos. A história começava justamente onde a memória acabava, e a memória acabava quando não tinha mais um grupo como suporte. Assim, a memória era sempre vivida, física ou afetivamente. No instante em que os grupos desapareciam, a única forma de manter as lembranças era exterior a eles. Assim, tanto para o sociólogo Halbwachs quanto para o historiador Nora, a história e a memória se opõem: esta seria um processo vivo conduzido por grupos, e aquela, um registro, uma operação intelectual, uma problematização e crítica do passado. Como diferenciar história e memória? Ainda hoje é consenso que a história vivida e a história-conhecimento são processos diferentes, embora correlatos – mais um diálogo do que uma oposição. Elas compartilham de um mesmo objeto: a representação do passado, sendo importante pensar as suas inter-relações e, assim, romper as hierarquizações que classificam a história como um saber mais legítimo do que a memória (GIL apud FERREIRA; OLIVEIRA, 2019, p. 157). O tempo da memória é o da continuidade presente naquele que lembra. Não há corte ou ruptura entre passado e presente e, portanto, não há lembrança estática, pois está sempre sujeita aos rearranjos das emoções grupais. Já o tempo da história é o da descontinuidade entre quem lê os fatos narrados e quem os testemunhou. Ela fragmenta o tempo: corta, recorta, privilegia mudanças, transformações, destruições. Em síntese, tanto a memória quanto a história não são verdades em si mesmas. Ambas buscam trazer o passado para o presente: a memória o acessa diretamente, e a história o faz com e por meio de vestígios (GIL apud FERREIRA; OLIVEIRA, 2019, p. 158). Como diferenciar história e memória? A memória é um trabalho do presente e, portanto, não há resgate de memórias. O passado que se rememora e se esquece é ativado em um presente e em função de expectativas futuras inscritas em uma representação de tempo e de espaço. O trabalho com memória e história oral não significa dar voz a quem não tem. É, sim, um espaço fecundo para a compreensão do passado a partir de diferentes vozes, o que nos possibilita abordar o testemunho oralna sala de aula não como fonte acessória, mas como o núcleo de um estudo com os alunos. O estudo da memória se realiza por seus diferentes suportes, os ditos “lugares de memória”, seleções, disputas, presenças e ausências de grupos sociais diversos. A memória coletiva não é uma entidade que existe acima dos indivíduos, não se trata de dados e, por isso, é importante centrar a atenção nos processos de sua construção (FERREIRA; OLIVEIRA, 2019, p. 161). A história tem uma longa história. Como diferenciar história e memória? Le Goff (1994) alerta que documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, mas é produzido pelas forças que detêm o poder na sociedade. Os elementos que propiciam a produção a respeito da história-memória podem contribuir significativamente com uma pesquisa, quando eles são utilizados como meio de explicação de um fenômeno para além de sua aparência, sendo interrogados e argumentados no presente, articulados ao momento em que foram produzidos (SILVA, 2017, p. 6). Marc Bloch dedicou-se a essas temáticas, os documentos não aparecem, aqui ou ali, pelo efeito de um qualquer imperscrutável desígnio dos deuses. Sua presença ou sua ausência, no fundo dos arquivos, numa biblioteca, num terreno, dependeu de causas humanas que não escapam de forma alguma à análise, e os problemas postos por sua transmissão, longe de serem apenas exercícios de técnicos, tocam, eles próprios, no mais íntimo da vida do passado, pois o que assim se encontra posto em jogo é nada mais nada menos do que a passagem de recordação através das gerações (apud SILVA, 2017, p. 16). E a construção da história como disciplina? A questão do documento Considerada como disciplina, a história necessita de métodos, objetos e problemas. O historiador tem o tempo como objeto de análise e seu trabalho funciona da seguinte maneira: O historiador trata, segundo seus métodos, os objetos físicos (papéis, pedras, imagens, sons etc.) distinguidos, no continuum do percebido, pela organização de uma sociedade e pelo sistema de pertinências próprias a uma “ciência”. O historiador trabalha sobre um material para transformá-lo em história. Efetua então uma manipulação que, como as outras, obedece a regras. Tal manipulação assemelha-se à fabricação efetuada com o minério já refinado. Transformando de início as matérias-primas (uma informação primária) em produtos standard (informação secundária), transporta-o de uma região da cultura (as “curiosidades”, os arquivos, as coleções etc.). A História tem método? Ao debater a importância histórica da memória e do estudo da história, é possível considerar que: a) Podem existir diferentes abordagens sobre a memória, ela não é sinônimo de lembrança individual e que a história tem uma longa história. b) A memória depende sempre das lembranças individuais e a história é o que realmente aconteceu. c) Por não ser possível comprovar a existência dos eventos, não se pode considerar história como uma ciência. d) Memória e história são sinônimos e apresentam convergências, pois referem-se às lembranças. e) Não é possível estudar a história da história, pois ela se perdeu no decorrer dos tempos. Interatividade Ao debater a importância histórica da memória e do estudo da história, é possível considerar que: a) Podem existir diferentes abordagens sobre a memória, ela não é sinônimo de lembrança individual e que a história tem uma longa história. b) A memória depende sempre das lembranças individuais e a história é o que realmente aconteceu. c) Por não ser possível comprovar a existência dos eventos, não se pode considerar história como uma ciência. d) Memória e história são sinônimos e apresentam convergências, pois referem-se às lembranças. e) Não é possível estudar a história da história, pois ela se perdeu no decorrer dos tempos. Resposta Memória e esquecimento: para muitos a memória está relacionada apenas ao não esquecimento, aquilo que permanece, que não se apaga. E o que é interditado? Aquilo que visa barrar qualquer rememoração dos “infortúnios”. A memória é construída socialmente e os usos dos esquecimentos também são socialmente estabelecidos. Existe a necessidade de que a sociedade encontre na anistia o resultado desse esquecimento. Ressurgir de um passado que foi apagado é muito mais difícil do que lembrar de coisas esquecidas. Usos da memória e do esquecimento Assim, os debates e polêmicas acerca do holocausto, tão intensos nos anos 1980, vão passar pela construção das memórias e dos esquecimentos. Rossi (2010) menciona que Yehuda Elkana é um historiador da ciência muito conhecido. Foi encarcerado em Auschwitz aos 10 anos e é um dos sobreviventes do Holocausto. A história e a memória coletiva são parte inseparável de toda uma cultura, mas o passado não é e não deve se tornar o elemento determinante do futuro de uma sociedade e de um povo [...]. Na crença difusa de que o mundo inteiro esteja contra nós, vejo uma trágica e paradoxal vitória de Hitler. Falando metaforicamente, duas nações emergiram das cinzas de Auschwitz: uma minoria que afirma “isso não deverá acontecer nunca mais”, e uma maioria aterrorizada e obcecada que afirma “isso não deverá acontecer conosco nunca mais” [...]. Uma democracia se nutre de presente e de futuro; e um excesso de dedicação ao passado mina os fundamentos e uma democracia. Usos da memória e do esquecimento. E o debate sobre o holocausto? Portão de entrada do campo de extermínio nazista Auschwitz-Birkenau. A inscrição Arbeit Macht Frei significa “O trabalho liberta”. Usos da memória e do esquecimento Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/comm ons/5/52/View_of_the_entrance_to_the_mai n_camp_of_Auschwitz_(Auschwitz_I).jpg Lembrar não se trata de uma ação individual, ela é coletiva. Se a memória é também coletiva, existiria alguma razão para o esquecimento não o ser? Ao que tudo indica, não. O esquecimento de algo pode ter a ver com alguma experiência pessoal que não significou tanto para ser lembrada, pode se referir também a alguma ideia que foi revisada, mas pode também se referir, principalmente, se pensarmos na manipulação da memória e do esquecimento coletivos numa tentativa de manipulação e de silenciamento. O esquecimento, assim como a memória, deve ser pensado tanto no âmbito de subjetividade quanto no da coletividade. [...] Conforme Pereira (2016), o passado se estende ou se contrai de acordo com a vivência no presente de quem lembra. O passado é, de alguma forma, sempre novo, já que ressignifica experiências no momento em que nos lembramos dele. No momento em que nos lembramos, algum dado pode desaparecer, bem como outro pode ganhar um peso que antes não tinha. Usos da memória e do esquecimento. O que se deve lembrar? As celebrações nacionais e efemérides são momentos em que alguns aspectos da história e da memória dos povos parecem ficar mais evidentes, mais próximos do grande público. Além dos debates de especialistas, pesquisadores, professores e professoras interessados, o grande público é atingido, de uma maneira ou de outra, por informações, versões, exposições, narrativas, trabalhos, vídeos e uma miríade de produtos culturais que podem auxiliar na melhor compreensão de algumas questões, mas que têm também potencial para causar confusões, reforçar estereótipos e resultar em desinformação histórica, ou seja, na construção de opiniões sem base científica e que reforçam preconceitos e distorções que, por vezes, já foram superados há décadas. Materiais de divulgação têm o mérito de ampliar o contato das pessoas fora dos círculos especializados com o conhecimento histórico, mas precisam seguir critérios editoriais e científicos responsáveis e comprometidos com a formação de um público crítico e com a aprendizagem de que a história serve, entre outros aspectos,para formar cidadãos. Celebrações e efemérides: festas cívicas e construção de memórias sociais 2022: linguagem política na independência, levou a produção de “uma obra que reproduz e restaura os panfletos da independência do país”. No início deste ano ocorreu, em Petrópolis (RJ), o lançamento do site Itinerários Virtuais da Independência, que oferece conteúdo interativo e apresenta histórias sobre o processo que conduziu à Independência do Brasil, destacando diferenças regionais, diversidade de projetos, negociações e conflitos políticos e militares. Comemorar, entender e refletir são três processos muito importantes para o bicentenário e para difundir o conhecimento da história. [...] Nosso trabalho vai atingir não só todo o Brasil, mas todos aqueles em qualquer lugar do mundo que tenham interesse por ele. Queremos levar conhecimento, oportunidades, educação e cidadania – ressaltou Ilana (SENADO NOTÍCIAS, 2022). Celebrações e efemérides: festas cívicas e construção de memórias sociais Hendrik Kraay (2010), com o texto “A Invenção do Sete de Setembro, 1822-1831”, nos informa que é um axioma nacional à proclamação da independência brasileira por D. Pedro I em 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, em São Paulo. Naquele ano, o significado histórico de suas ações não era tão evidente e, pelo menos até o final de 1822, contemporâneos atribuíram pouco significado à data e ao Grito do Ipiranga, pois se ocupavam com a aclamação do imperador (12 de outubro) e sua coroação (1º de dezembro). Daí resultou um consenso historiográfico de que demorou algum tempo para que o 7 de Setembro se tornasse o dia da Independência do Brasil e de que a data não tinha grande significado senão bem depois de 1822. [...] O 7 de Setembro foi reconhecido como o dia da Independência do Brasil em 1823 e sua celebração ganhou relevância rapidamente, pelo menos no Rio de Janeiro, apesar de o 12 de outubro ter permanecido o “dia de festa nacional” mais importante na maior parte da década (2010, p. 53). Podemos falar em invenções do 7 de setembro? As datas às vezes exercem um fascínio sobre as pessoas, pois, ao fazerem centenários, sesquicentenários ou bicentenários, voltam a ser discutidas, reaparecem para o público. O ano de 1922 tem sido comumente associado ao surgimento embrionário de diversos movimentos na vida política e social brasileira. A criação do Partido Comunista Brasileiro, o primeiro movimento tenentista com a tomada do Forte de Copacabana e a Semana de Arte Moderna de São Paulo são alguns exemplos que sinalizaram o início da década de 1920 como um período de tensões, explicitando as contradições do modelo sociopolítico característico da Primeira República. Justamente em meio a esse cenário o país comemorava o centenário de seu principal marco político. Assim, precisamos analisar 1922 de maneira mais crítica do que simplesmente falar da Semana de Arte Moderna de São Paulo. A data a ser lembrada, por outro lado, exprimia uma forte conotação política. Construção das datas Em 1922, as comemorações se deram num contexto complexo, momento no qual as comemorações deveriam ser realizadas, mas apresentava certas contradições. Uma república que, ao privilegiar um liberalismo de cunho oligárquico, encontrava seus sinais de esgotamento na década de 1920 e deveria relembrar nosso ato fundacional. A discussão dessas questões diz muito mais do que apenas uma leitura do passado, mas envolve também a compreensão do que acontecia na contemporaneidade dos sujeitos que comemoravam o primeiro centenário da Independência Nacional (KÄFER, 2016, p. 21). Dessa maneira, a ação estatal está presente e não é uma celebração espontânea, considerada natural, pois comemorar era preciso, mas parecia haver a necessidade de coordenar diferentes memórias do 7 de Setembro em direção ao mesmo fim. A elaboração de um passado que servisse como referência para essa nova coletividade passava então a ser uma prioridade. Brasil – 1922 – 1972 – 2022 Brasil – 1922 – 1972 – 2022 Cartaz Independência ou morte Fonte: Cosmelli (2013, p. 116). Abordar celebrações, mostras e exposição com um olhar crítico e questionador não é uma tarefa simples, apesar de muito rica e necessária. Discutir temas relacionados à construção de um imaginário sobre o país e problematizar as efemérides pode ser um caminho muito rico de conhecimento de outras camadas da história do Brasil. É possível colocar em contraste aquilo que é produzido por determinados agentes, oficiais ou não, e o que vemos na sociedade, em diferentes regiões e populações que, em geral, não viveram ou não vivem muito de acordo com as situações representadas de maneira idealizada. Desde o momento em que começaram a discutir as comemorações e celebrações, os debates se estabeleceram em relação aos motivos para celebração, o problema de usar o termo “descobrimento” e se o colonialismo poderia ou não ser objeto da comemoração. Os 500 anos do “Descobrimento”: Brasil +500 mostra do redescobrimento Os 500 anos do “Descobrimento”: Brasil +500 mostra do redescobrimento Representação de um Manto Tupinambá Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/9/9e/Manto_tupinamb%C3%A1.webp O retorno de objetos não é simples, uma vez que alguns museus alegam que as instituições dos países ex-colônias não teriam capacidade técnica de manter as peças, o que é alvo de mais uma polêmica. No entanto, algumas lideranças não querem o simples retorno das peças para que isso não configure um perdão às violências perpetradas desde a colonização contra os povos originários. Para compensar as ausências, surgiu a iniciativa de confeccionar os mantos rituais no século XXI e retomar seu lugar junto às comunidades originárias. Há um esforço de construção/reafirmação da memória nacional por parte do Estado brasileiro, que organiza grupos, comissões, seminários, encontros, financia publicações, kits, catálogos, exposições, eventos; e também por parte de empresas e grupos privados na produção de conteúdo com visões sobre o Brasil. Sambas-enredo de escolas que tratam da história do Brasil em tom ufanista. Existem alternativas? Os 500 anos do “Descobrimento”: Brasil +500 mostra do redescobrimento A construção de datas nacionais e efemérides podem ser importantes no estudo da história das diversas sociedades, pois: a) Permitem saber exatamente como os eventos ocorreram. b) Permitem que analisemos a origem de discursos e práticas que conformam o imaginário social e político constituídos com o uso de determinados eventos. c) Datas são os eventos maiores da compreensão do pertencimento social. d) As datas são a expressão real dos eventos históricos por elas mencionados. e) É preciso sempre seguir as datas valorizadas externamente como forma de integração internacional. Interatividade A construção de datas nacionais e efemérides podem ser importantes no estudo da história das diversas sociedades, pois: a) Permitem saber exatamente como os eventos ocorreram. b) Permitem que analisemos a origem de discursos e práticas que conformam o imaginário social e político constituídos com o uso de determinados eventos. c) Datas são os eventos maiores da compreensão do pertencimento social. d) As datas são a expressão real dos eventos históricos por elas mencionados. e) É preciso sempre seguir as datas valorizadas externamente como forma de integração internacional. Resposta Inicialmente, precisamos indicar que o tema é repleto de polêmicas e controvérsias. O que envolve a remoção ou derrubada de monumentos? O que isso simboliza? Remover homenagens a colonizadores e erguer estátuas aos heróis dos colonizados seria o suficiente para apagar questões do passado? Estátuas por todo o mundo estão em queda livre! Nos últimos anos temos visto, cada vez mais, protestos reivindicando a contestaçãoe/ou derrubada de monumentos ligados a um passado colonial, racista, misógino e opressor. Na historiografia, escrever sobre eventos do tempo presente é uma tarefa que exige cuidado redobrado na seleção das fontes e análise do material, mas, ao mesmo tempo, permite discutir questões socialmente vivas – observando os debates públicos sobre os usos do passado, as disputas de memórias e guerras narrativas. O caso das derrubadas das estátuas: problemas, debates e significados O caso das derrubadas das estátuas: problemas, debates e significados Derrubada da estátua de Saddam Hussein, praça Firdos em Bagdá, Iraque, em 9 de abril de 2003 Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/c/c1/SaddamStatue.jpg A causa da derrubada da estátua do ditador iraquiano Saddam Hussein, no contexto da invasão norte-americana do Iraque, iniciada em 2003, ocorreu porque no país havia armas químicas de destruição em massa, além de acusações de apoio a grupos terroristas. A estátua foi depredada por civis com o auxílio das forças militares de ocupação do país. Símbolo de uma ditadura, sua derrubada foi transformada em espetáculo, transmitido para o mundo, objeto de intensa propaganda da luta pela liberdade e por democracia, legitimando a construção do par bem versus mal. No entanto, podemos questionar: é sempre assim? Trata-se apenas da derrubada de estátuas em contextos de guerras e do apagamento de monumentos de ditaduras derrotadas? Nossa resposta é não, os processos são mais complexos e com diversos debates e camadas de significados que precisamos identificar e apropriarmo-nos deles. O caso das derrubadas das estátuas: problemas, debates e significados Em reportagem de 11 de junho de 2020, podemos ler “Destruir uma estátua não resolve, é preciso discutir a memória”, diz o historiador – “Não vamos nos apaziguar tirando um problema, precisamos tratar esse problema”, afirma o curador do Museu Paulista. Estátuas de figuras ligadas de alguma forma ao escravagismo estão sendo derrubadas ou destruídas na Europa e nos Estados Unidos nos últimos tempos. A questão se levanta também no Brasil. Para Paulo Garcez Marins, os monumentos são importantes para a reflexão do passado. Embaladas na energia planetária de descontentamento diante do assassinato de George Floyd, manifestantes têm tido como alvo estátuas de personagens que tiveram influência no tráfico de escravos negros. Primeiro foi Edward Colston, [...] jogado no rio por uma multidão em Bristol, na Inglaterra. Seguiram-se Leopoldo II, da Bélgica, rapidamente retirado de uma praça em Antuérpia e deslocado para um museu. Cristóvão Colombo tem sido depredado nos Estados Unidos (UOL, 2023). O caso das derrubadas das estátuas: problemas, debates e significados E no Brasil? Para Garcez Marins bandeirantes “são representações codificadas de pioneiros, encomendadas para ilustrar a construção do país, mas hoje eles são discutíveis do ponto de vista historiográfico, ético e memorial” (UOL, 2023). No decorrer da história, muitas vezes, estátuas e monumentos no contexto da Revolução Francesa e do século XIX foram objeto de disputas. O ideal seria um texto explicativo junto a um monumento: “Precisamos saber tratar essas imagens como um problema. Eu não posso simplesmente retirar a estátua de um bandeirante e enterrar junto com isso uma discussão sobre o que é, por exemplo, a destruição de populações indígenas, ou quilombolas, nos séculos XVII, XVIII, porque essas questões continuam presentes hoje”. “O documento cruel sobre o passado é um ponto de partida. Precisamos aprender a desconfiar das imagens, dos monumentos, muito mais que simplesmente celebrá-los. Enquanto uma estátua de um bandeirante estiver na praça, a discussão sobre a memória dos bandeirantes e o massacre das populações indígenas, isso estará vivo”. O caso das derrubadas das estátuas: problemas, debates e significados Algumas dessas disputas se concretizaram na derrubada da estátua de Edward Colston, em Bristol (Inglaterra), nos ataques à estátua de Leopoldo II, na Antuérpia (Bélgica), e à do padre António Vieira, em Lisboa (Portugal) [...] o caso de Colston [...]. Ele era um conhecido mercador de africanos escravizados [...]. Banksy chegou a sugerir um projeto de intervenção nesta estátua, adicionando cordas ao pescoço de Colston e a inserção de manifestantes derrubando-a, transformando-a em uma homenagem àqueles que jogaram essa estátua no fundo do rio. Esta disputa pela memória dos escravizados é de um bom combate, não achas? (GHZ, 2020). Um problema comum na observação de estátuas e monumentos é que, no decorrer dos anos, sentidos são apagados, isso é contestado nos movimentos de derrubada que lutam, inclusive, para que esse esquecimento não persista. Derrubada de estátuas, mudanças de símbolos e lutas por descolonização As disputas relacionadas aos sentidos das derrubadas afetam diferentes campos. Para Chrispin Mwakideu (2020), “é tempo da África se livrar de relíquias coloniais racistas”. Os protestos antirracistas e a remoção de estátuas são sinais de que é preciso lidar com injustiças históricas. A África tem de decidir se mantém os nomes da época colonial ou se os elimina. [...] Os países africanos continuam a ter marcos históricos, ruas, instituições de saúde, edifícios escolares e até, em alguns casos, quartéis militares com o nome de governos coloniais. [...] De que outra forma se pode explicar que o maior lago de água doce de África ainda tenha o nome da monarca britânica Rainha Vitória? O mais irônico é que a população local da África Oriental que guiou o explorador inglês John Hanning Speke até ao lago se referia a este como Lago Nyanza. [...] Uma faculdade da Universidade de Oxford anunciou que quer derrubar a estátua de Cecil Rhodes – cujo apelido deu origem ao nome das antigas colônias da Rodésia do Sul, atual Zimbabué, e da Rodésia do Norte, atual Zâmbia. Derrubada de estátuas, mudanças de símbolos e lutas por descolonização Episódios de desmonumentalização de heranças coloniais. A exigência da remoção de monumentos e a reclamação por alterações na toponímia, que têm marcado, nos últimos anos, a pauta reivindicativa de movimentos como RhodesMustFall4 ou #BlackLivesMatter, ilustram a dor e a ira face a uma ainda forte presença pública da herança colonial. Em Moçambique, que foi colônia portuguesa até junho de 1975, o processo de desmonumentalização dos referentes coloniais no espaço público teve características próprias. O processo de remoção de estátuas como forma de apropriação do território parte de uma luta mais ampla pela autodeterminação como autodefinição histórica. Em Moçambique, estátuas foram retiradas do espaço público e preservadas em locais, como na Fortaleza de Maputo. Renomear e desmonumentalizar lugares é um elemento fundamental dos processos ideológicos. Derrubada de estátuas, mudanças de símbolos e lutas por descolonização Nabil Bonduki avalia que não basta simplesmente retirar as estátuas do espaço público. É preciso que se faça também uma ampla discussão a respeito das personalidades homenageadas. Trata-se de um processo educativo. É fato que os brasileiros conhecem pouco a própria história. Agência Senado – Como o senhor avalia o recente movimento que pede a retirada de estátuas de personalidades que escravizaram negros e indígenas? Nabil Bonduki – Já passou da hora de deixarmos de homenagear personagens desse tipo. Numa linha semelhante, a prefeitura de São Paulo tem um programa chamado Ruas de Memória, que modifica o nome de ruas, praças, pontos e viadutos que reverenciam torturadores e violadores dos direitos humanos. Em 2016, por exemplo, o nome oficial do Minhocão passou de Elevado Costa e Silva [o segundo presidente da ditadura militar] para Elevado João Goulart [o presidente deposto pelo golpede 1964]. “Os monumentos não são eternos” Recorrendo à crítica do “fetiche historiográfico pela precisão”, Avelar (2022, p. 142) revela mais sobre as conceitualizações do tempo produzidas na modernidade do que sobre aquelas desenvolvidas pelos nossos antepassados. A própria visão de um tempo linear, progressivo e homogêneo, como será visto, depende do estabelecimento da precisão cronológica como um dado da modernidade. Entretanto, se o anacronismo consiste no deslocamento indevido das nossas visões de mundo e dos nossos conceitos para o passado, é também salutar interrogar sobre a viabilidade de construir nossas narrativas históricas valendo-nos exclusivamente dos registros e das palavras de outros tempos e de outros universos. No passado existia a ideia de que o transcorrer do tempo operava numa chave progressiva que vinculava passado e presente através das transformações cronologicamente localizadas. O gesto crítico de Walter Benjamin delineou uma das mais fortes imagens da modernidade, vista agora como tragédia, em oposição ao discurso que interpretava os eventos como episódios de desenvolvimento contínuo. O fetiche historiográfico pela precisão e os riscos da visão linear de história O fetiche historiográfico pela precisão e os riscos da visão linear de história Paul Klee – Angelus Novus Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/d/db/Klee-angelus-novus.jpg Ao contrário do senso comum publicado em alguns veículos de que não se pode tocar em estátuas ou confrontar as representações, uma análise mais acurada e crítica nos permitiria afirmar que: a) Renomear e desmonumentalizar lugares é um elemento fundamental dos processos ideológicos. b) A crítica às estátuas é apenas ato de vandalismo. c) As estátuas devem ser preservadas intocadas por serem raras. d) Para renomear cidades ou referências africanas foi preciso consultar os países colonizadores. e) Não existe nada de ideológico ou de disputas políticas no ato de renomear e desmonumentalizar espaços públicos e cidades. Interatividade Ao contrário do senso comum publicado em alguns veículos de que não se pode tocar em estátuas ou confrontar as representações, uma análise mais acurada e crítica nos permitiria afirmar que: a) Renomear e desmonumentalizar lugares é um elemento fundamental dos processos ideológicos. b) A crítica às estátuas é apenas ato de vandalismo. c) As estátuas devem ser preservadas intocadas por serem raras. d) Para renomear cidades ou referências africanas foi preciso consultar os países colonizadores. e) Não existe nada de ideológico ou de disputas políticas no ato de renomear e desmonumentalizar espaços públicos e cidades. Resposta Marlene Suano (O que é museu) passa por temas como origens da instituição, o museu como instituição pública, as primeiras transformações do museu público (museu, pesquisa e educação no século XIX), as transformações do século XX, a situação atual dos museus (carência, perspectivas e indicações para leitura). Não se deve confundir essa “preservação do passado” com a manutenção de características de uma época. Trata-se de manter e preservar testemunhos materiais dessa época que nos sirvam como pontos constantes de partida para reflexão e análise. Preservar tais testemunhos do passado é, substancialmente, dar-lhes condições de continuarem a ser utilizados no presente em toda sua potencialidade. Contudo, a vida moderna – ou, melhor dizendo, a tecnologia moderna – vem tornando obsoleta, inoperante ou economicamente inviável uma variedade muito grande de tais testemunhos. Museus – Importância e funções Museus eram “objetos de valor cultural”, depois passaram a ser considerados “produtos da ação cultural humana”. Marlene Suano considera que, no nosso entender cotidiano, o termo “museu” se refere a uma coleção de espécimes de qualquer tipo e está, em teoria, ligado com a educação ou diversão de qualquer pessoa que queira visitá-la. Os museus podem apresentar temas variados e questões também variadas, mas aqui nos interessa um pouco mais especificamente o caso dos museus de história. Para alguns, os museus oferecem, em termos da “presentificação da história”, para usar uma expressão de Stephan Bann (1994), e as demandas do público visitante que muitas vezes espera encontrar em seu espaço a “história que realmente aconteceu”. Essa ideia de encontrar “a história que realmente aconteceu” é muito forte para muitas pessoas e, vez ou outra, encontramos quem afirme que determinado país tem muita história, ou que se sinta em outra época quando visita algumas instituições. Museus – Importância e funções Sobre o Museu Paulista, Oliveira afirma: Mas, voltando ao Museu Paulista, a decoração tem destaque para criar um panorama da história do Brasil entre os séculos XVI e XX, da colonização, representada pelos retratos de Martim Afonso de Souza, de Tibiriçá, de D. João III e de João Ramalho alocados no saguão, envereda-se pelo período em que teria ocorrido a configuração do território, simbolizada na figura de bandeirantes e nas ânforas de cristal contendo águas de rios brasileiros, ornamentos da escadaria em mármore que leva ao piso superior da edificação. Ali, adentra-se, então, ao momento da independência e soberania, evocado por meio da escultura monumental de D. Pedro I e por retratos e registros nominais em bronze daquelas personagens consideradas, nas décadas de 1920 e 1930, como os fundadores da nação, aos quais foram integradas as figuras de Da. Leopoldina, Maria Quitéria e Sóror Angélica (OLIVEIRA, 2009, p. 28). Museus – Importância e funções Museus – Importância e funções Pedro Américo, Independência ou morte, de 1888. Está no Museu Paulista (Museus do Ipiranga), São Paulo Fonte: https://super.abril.com.br/historia/quem-e-quem-no-quadro-independencia-ou-morte O acesso aos museus e a diversas instituições pode contribuir para a formação crítica de noções de pensamento histórico quando inserido em contextos de aprendizagem e com preocupações que vão além da simples observação ou fruição dos espaços como um mero passeio. Os museus podem ser objeto de pesquisa no ensino de história, dessa maneira, o acesso e a observação podem ser pensados no sentido de atribuir significados ao que se está fazendo, de construir uma atitude historiadora melhorando a relação entre educação e história, tanto para docentes como para discentes. Algumas questões iniciais podem gerar dúvidas relativas à importância das instituições: Qual é a necessidade que os alunos podem ter? Qual é o sentido da observação? Qual é o lugar dos museus na aprendizagem do início do século XXI? Conhecer as instituições – museus e possibilidades de ensino de história Se no passado recente ocorreram críticas em relação ao que os museus guardavam e representavam, no início do século XXI é possível buscar novos usos. No início do século XX, os museus foram criticados por representarem somente a história oficial e o patrimônio das elites. Nos anos 1960, com o advento da indústria cultural, decretou-se a sua morte. Contudo, a partir do movimento denominado Nova Museologia, seu conceito amplia, o museu se consolida como importante instrumento de difusão e democratização cultural. A autenticidade, característica principal dos museus modernos, cede espaço, paulatinamente, à ideia de representatividade dos museus contemporâneos. Podemos considerar que as exposições são narrativas. Museus, novos usos e estudos do meio: experiências educativas múltiplas As possibilidades de experiências educativas são múltiplas e podem lançar mão de tecnologias atrativas aos públicos mais jovens, como é o caso de museus virtuais, nos quais novas mediações são estabelecidas, mas mesmo assim objetos e narrativas são apresentadas. Aprender como esses costumes, regras e valores se transformaramao longo da história. Ensinar história não é apenas expor aos alunos recortes de fatos, pedaços de um tempo passado, é preciso ir além, através de debates que repensem os caminhos para a cidadania, para uma sociedade justa, igualitária e inclusiva, com respeito à pluralidade. Museus, novos usos e estudos do meio: experiências educativas múltiplas É preciso lembrar que as instituições clássicas não estão sendo substituídas, pois os museus virtuais não são substitutos dos clássicos, e sim aliados a disseminar o patrimônio. Os museus virtuais estão se multiplicando e os processos de musealização nesses ambientes carecem de sistematização e estudos aprofundados. O digital: conceitualmente, digitalizar significa transformar um texto, uma imagem ou uma música, por exemplo, em uma sequência numérica. Do ponto de vista da fluidez da comunicação, esse recurso representa um ganho enorme, pois potencialmente todo código pode ser reproduzido e transmitido, sem perda de informação (LÉVY, 2005, p. 51). Virtualização. Museus virtuais e novas possibilidades – o mundo digital Se você fizer uma pesquisa na plataforma Museus.br, no item “Museus”, e buscar apenas os virtuais, chega a mais de 50 instituições no Brasil, entre públicas e privadas. Entre os museus com acesso via internet que podem ser conhecidos, temos a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu da Casa de Portinari, o Instituto Inhotim, o Museu do Amanhã, o Museu Oscar Niemeyer, o Museu Virtual de Brasília. Muitos outros podem ser acessados com as indicações da plataforma: o DAS, o Museu das Mulheres (virtual), primeiro museu brasileiro dedicado às mulheres; o MuseUmbanda, Museu da Memória e do Patrimônio Cultural da Umbanda em São Goncalo-RJ; Museu Afro-Brasil Sul (MABSul) (virtual), que promove a pesquisa e a construção do conhecimento acerca das peculiaridades regionais, simbologias e singularidades da cultura negra, entre outros. A série Conhecendo Museus é um convite ao passeio pelos museus brasileiros. Alguns museus digitais ou virtuais A destruição de patrimônios e de museus é um problema em diversas sociedades, pois quando tratamos de patrimônios materiais, como o arqueológico, o paisagístico e etnográfico, o histórico e das belas artes e artes aplicadas, fica muito evidente como sua destruição afeta a vida das pessoas. Repercussão midiática. Grandes incêndios chamam a atenção e causam comoção, a destruição de bens, como igrejas, prédios públicos e aparelhos urbanos – por exemplo, praças – não costuma comover o grande público. Um teto de uma igreja que desaba por infiltrações e falta de manutenção pode representar a impossibilidade de sua recuperação. As transformações urbanas também são responsáveis por destruições, áreas de aldeias indígenas são absorvidas pelos grandes centros, locais de significação religiosa, como terreiros, por exemplo. Destruição de museus e patrimônio: tragédias anunciadas? Destruição de museus e patrimônio: tragédias anunciadas? Incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro Fonte: https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/b/b3/Fire _at_Museu_Nacional_05.jpg Incêndio no telhado da Catedral de Notre-Dame em Paris, França Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7c/ Notre-Dame_incendi_15_abril_2019.jpg O Brasil não tem enfrentado eventos bélicos recentes e tão pouco é palco de terremotos; contudo, há várias situações traumáticas que têm acometido o patrimônio nacional desde o século XX. São destruições parciais ou totais deflagradas, principalmente, por incêndios e enchentes. Listamos no livro quase 30 casos. É possível constatar que há um acúmulo de arruinamentos derivados de incêndios. Na Nota Oficial sobre o ocorrido com o Museu Nacional, o Iphan menciona que desde julho de 2017 está procurando compatibilizar em conjunto com o Corpo de Bombeiros uma Normativa de Combate a Incêndios e Pânico em Edificações Protegidas. A interpretação simbólica de um arruinamento provocado pela negligência é substancialmente mais pungente pela falta ou ineficiência de ações para preservar um patrimônio da ruína (RODRIGUES, 2018). Destruição de museus e patrimônio: tragédias anunciadas? As imagens da destruição de museus são socialmente impactantes. Podemos considerar que sua publicação: a) Tem colaborado para o debate sobre a situação dos museus, da necessidade de cuidados e recursos e também sobre novos usos e possibilidades. b) Apesar de impactar nos primeiros momentos, a longo prazo nada muda. c) Nos lembra que os incêndios são as únicas maneiras de destruição que ainda ocorrem no início do século XXI. d) Não auxilia em nada, pois tudo foi destruído. e) Fez com que o Governo Federal da época do incêndio do Museu Nacional revisse com prioridade toda a política de preservação existente no Brasil. Interatividade As imagens da destruição de museus são socialmente impactantes. Podemos considerar que sua publicação: a) Tem colaborado para o debate sobre a situação dos museus, da necessidade de cuidados e recursos e também sobre novos usos e possibilidades. b) Apesar de impactar nos primeiros momentos, a longo prazo nada muda. c) Nos lembra que os incêndios são as únicas maneiras de destruição que ainda ocorrem no início do século XXI. d) Não auxilia em nada, pois tudo foi destruído. e) Fez com que o Governo Federal da época do incêndio do Museu Nacional revisse com prioridade toda a política de preservação existente no Brasil. Resposta AVELAR, A. de S. Por que a derrubada de estátuas não deveria incomodar os historiadores? Tempo, anacronismo e disputas pelo passado. ArtCultura, Uberlândia, v. 24, n. 44, p. 134-156, jan./jun. 2022. BARBOSA, A. A. Protomemórias, memórias e metamemórias na construção de identidades. Revista Antropolítica, Niterói, n. 37, p. 427-430, 2. sem. 2014. CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2012. COSMELLI, L. M. 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