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Investigação Jornalística

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INVESTIGAÇÃO JORNALÍSTICA
TEMA 1: CONCEITOS
O ofício de se publicar notícias é, por si só, o resultado de atividade investigativa que demanda,
em graus diferentes, um processo de apuração. A investigação, portanto, é parte da engrenagem
que vai da pauta até a veiculação da notícia.
Entre os estudiosos e profissionais da área, não há unanimidade se o jornalismo investigativo é
um gênero à parte das demais produções jornalísticas, já que muitos autores e profissionais
acreditam que a premissa de todo trabalho jornalístico é a investigação.
Nascimento (2010) mostra, por meio de um simples exemplo, que nem sempre o fazer jornalístico
está diretamente associado ao ato de investigar. O autor relata uma coletiva de imprensa onde
estão presentes diferentes veículos de comunicação e todos querem editar a tempo sua matéria
para que seja publicada. Sendo assim, como há pouco tempo para apurar a veracidade da
declaração, fica subentendido que não houve investigação. Nascimento questiona, então, se a
matéria veiculada sobre a coletiva não seria considerada jornalismo.
Segundo Nascimento (2010), o jornalismo investigativo pode ser determinado pelo assunto tratado
e pela maneira como foi realizada a reportagem.
O autor defende que só é considerado jornalismo investigativo quando há investigação realizada
pelo próprio jornalista.
Para Lage (2001), o jornalismo investigativo é “o guardião da sociedade, aquele tipo de jornalismo
que visa evidenciar as misérias presentes ou passadas de um corpo social, num esforço para
contar os fatos como eles são, foram ou deveriam ter sido”.
Lage (2001) explica que há diversos processos fundamentais que determinam o prosseguimento
ou não da investigação, desde o surgimento até a publicação da reportagem.
Dines (1986) diferencia as reportagens investigativas das demais pela motivação, sendo este o
elemento que liga o jornal e o leitor num mesmo objetivo.
Lage (2010) observa que um dos principais obstáculos para execução do jornalismo investigativo
no Brasil é a escassez de espaço nas empresas propagadoras de notícias.
Seguindo o mesmo raciocínio de Dines e Lage, o jornalista Leandro Fortes (2010) ressalta que,
para muitas empresas jornalísticas, o conceito de jornalismo investigativo é muito mais uma marca
ou status, do que uma prática
O jornalismo chamado de 4º poder é o jornalismo investigativo, pois busca mudar e impactar a
sociedade. O que dá a reputação para o veículo de comunicação são as matérias jornalísticas que
são furos de reportagem, são investigações que apresentam provas, e não apenas declarações e
informações de conhecimento geral.
Investigação jornalística pode ter diversos temas no meio do esporte, cultura, política, economia
etc., desde que tenha apelo de interesse público.
O CONCEITO
O fundamento do jornalismo investigativo assenta-se na investigação e que essa modalidade de
atividade jornalística deve permanecer comprometida com o interesse público.
A pauta dos assuntos tratados pelo jornalismo investigativo não fica, porém, restrita aos temas
políticos, estando presente em todas as editorias de um jornal. Seu foco é apurar e divulgar
informações sobre atos desviantes que afetem o interesse público e que sejam prejudiciais à
sociedade.
“... o jornalismo investigativo está demarcado como um esforço político da categoria
profissional dos jornalistas para evidenciar casos de corrupção e injustiças sociais,
descrevendo esses acontecimentos em linguagem jornalística” (Lage, 2004: 139)
Ou seja, o jornalista usa o jornalismo como instrumento de justiça social com apelo ideológico. A
ideologia busca criar uma sociedade mais justa, com menos impunidade, e isso se torna a
principal motivação do jornalista investigativo.
Para Ricardo Kotscho, as reportagens investigativas são as mais difíceis e, por isso
mesmo, as mais fascinantes. “É você procurar descobrir e contar para todo mundo aquilo
que se está querendo esconder da opinião pública” (Kotscho, 1986)
TEMA 2: O CASO WATERGATE
Aconteceu em 1972 - 1974 e é considerado um símbolo, referência, ícone do jornalismo
investigativo, servindo de inspiração ao longo de décadas. É tão profunda a marca deixada pelo
caso Watergate que o nome se tornou sinônimo de escândalo político, além de exemplo máximo
de jornalismo investigativo.
Desde então, jornalistas em todo o mundo se inspiram no modelo profissional que os repórteres
Carl Bernstein e Bob Woodward encarnaram na trabalhosa apuração que se estendeu por mais
de dois anos, entre a publicação da primeira reportagem e a queda de Richard Nixon, em agosto
de 1974. A atitude inquisitiva diante da autoridade pública, o recurso a fontes não identificadas (e
a regra de exigir pelo menos duas delas para confirmar cada informação), o uso maciço do
telefone e do bloco de anotações, a obrigação de se apresentar como jornalista, o intercâmbio de
pistas com policiais e promotores, o dever de registrar a versão da parte acusada – nada disso foi
inventado pelos dois repórteres, mas se tornou canônico em jornalismo depois do caso Watergate.
Eles saíram da apuração e foram para a investigação. É esse tipo de movimento que deu início a
tudo. O marco se dá pela força do jornalismo investigativo ser capaz de provocar a renúncia do
presidente da nação mais poderosa do mundo.
As matérias do Post mostraram que:
Os invasores mantinham vínculos com membros do Comitê de Reeleição do Presidente,
Dirigentes do comitê manipulavam uma verba secreta reservada a operações clandestinas para
sabotar e espionar adversários políticos
A conspiração era comandada pelo principal auxiliar de Nixon, H. R. Haldeman, o equivalente ao
ministro chefe da Casa Civil.
Prêmio Pulitzer: A cobertura do Washington Post ganhou o prêmio Pulitzer em 1973 na categoria
Public Service (utilidade pública)
JORNALISMO MUNDIAL
A cobertura do Washington Post redefiniu o imaginário do jornalista no pós-guerra. A imagem
pública do profissional de imprensa saiu do escândalo de Watergate inteiramente redefinida, como
se um novo marco fundador viesse reordenar o universo do jornalismo, ampliando a esfera de
ação de seus protagonistas. Desde então, um chefe do Executivo que mira os olhos de um
simples repórter sabe que pode estar diante de alguém que poderá sentenciá-lo à morte política.
A cobertura de Watergate pelo Washington Post mudou o status do repórter e revigorou a força
civil dos jornais.
JORNALISMO E DEMOCRACIA
O caso Watergate nos lembra de que só há democracia em um país quando existe a possibilidade
institucional da imprensa levar adiante uma apuração que pode acarretar a queda do presidente
da República. Quem derrubou Nixon, não foram apenas os dois repórteres. Tampouco foi a
redação do Post.
A renúncia resultou da indignação da sociedade civil e da mobilização da Justiça e do Congresso,
em um processo amplo e sólido que, este sim, determinou, mais de dois anos depois da primeira
reportagem, o fim do governo Nixon.
O jornalismo enquanto 4º poder é uma arma para o fortalecimento da democracia. A abertura da
CPI e o processo de impeachment só começaram por causa das denúncias do Washington Post.
O jornalismo investigativo vai até onde é possível ir; após isso, cabe às instituições democráticas,
a mobilização da sociedade civil e da opinião pública para exigirem medidas de mudança.
Democracia é pautada no jornalismo que tem liberdade de expressão, sem sofrer retaliação, mas
também é necessária a mobilização de todas essas esferas. Portanto, para que essas denúncias
resultem em algo, é importante ter todas essas instituições fortalecidas.
Um governo antidemocrático busca enfraquecer a imprensa para que não haja mobilização da
opinião pública, com isso, existe um enfraquecimento generalizado dos três poderes. Por que
querem que acabe o STF?
Porque ao terminar com o poder judiciário, a gente volta a um regime de ditadura, em que só o
poder executivo que manda. É uma lógica política para enfraquecer a democracia.
TEMA 3: JORNALISMOINVESTIGATIVO NO BRASIL
No Brasil, o boom da investigação jornalística teve que esperar o fim da ditadura militar
(1964-1985) para acontecer. Durante os 21 anos de rodízio de generais no Palácio do Planalto, a
imprensa brasileira ficou, em maior e menor escala, sufocada pela censura e pela força da
repressão. Vivia, aqui e ali, de iniciativas pontuais.
Era uma época em que não havia democracia, sem Poder Judiciário, sem Congresso, sem
eleição. O único Poder que mandava era o Executivo.
Durante o regime militar, o jornalismo brasileiro era conhecido como “chapa branca”, pois só podia
mostrar e falar aquilo que era de interesse do governo. Não podia haver denúncias. Era difícil
fazer investigação pelo medo que atingia a todos nessa época, podendo ser denunciado até pelo
vizinho. Além disso, não havia fácil acesso a documentos e informações para investigar. Tudo era
sigiloso.
Não existe uma data específica para o surgimento do JI no Brasil. Sempre existiram matérias
investigativas no Brasil desde 1920. No entanto, existem acontecimentos históricos e simbólicos
que marcam o JI no Brasil.
Ainda que muitos estudiosos encontrem raízes do jornalismo investigativo em diferentes
momentos da história e em diferentes países, muitos deles concordam que o jornalismo
investigativo moderno deve muito ao jornalismo americano praticado pelo Washington Post e pelo
New York Times, entre outros veículos, no fim da década de 60 e início da década de 70. O
pesquisador argentino Waisbord (2000) defende que, na América do Sul, o jornalismo investigativo
é exceção, devido à concorrência de vários fatores, como instabilidade política e violência, que
impediram a duplicação do modelo norteamericano de jornalismo.
Enquanto a imprensa norte-americana desfrutava de um regime democrático e contava com uma
constituição que defendia a liberdade de imprensa, os jornalistas brasileiros ainda enfrentavam a
censura, a violência e a dependência econômica do governo. Ainda que a correlação entre regime
democrático e jornalismo investigativo não seja imediata, foi observado (Waisbord, 2000) que a
prática investigativa é mais recorrente em governos democráticos. Portanto, durante o regime
militar, havia a ausência de um dos pilares fundamentais da prática do jornalismo investigativo: a
autonomia da imprensa. Para Fortes, até o fim da ditadura militar, a imprensa estava sufocada
pela censura e pela força da repressão.
Somente com a redemocratização, houve o “boom” da investigação jornalística, quando os
jornalistas começaram a fugir do noticiário local. Autores brasileiros (Sequeira, 2005; Nascimento,
2010; Castilho, 2007) identificam reportagens brasileiras publicadas na década de 1970, em
grandes veículos nacionais, que denunciam a corrupção política e, até mesmo, a tortura praticada
pelo governo. Para Fortes, guardada algumas proporções, a imprensa brasileira durante a era
Collor experimentou uma exaltação profissional semelhante àquela deflagrada pela cobertura do
caso Watergate, nos Estados Unidos. O autor ainda defende que a “ascendência simbólica” do
escândalo americano tornou-se fato em nosso país durante o governo Collor e inspirou uma
geração inteira de jornalistas, com menos de 30 anos de idade. “Essa geração, de onde saíram
tanto embustes como profissionais brilhantes, deu a cara e tamanho ao conceito de jornalismo
investigativo no Brasil” (Fortes, 2012, p. 21)
A REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL
➢ A década de 80 (séc XX) foi marcada pelo processo de redemocratização do país,
com a volta do poder legislativo, a produção de uma nova constituição (não existe
democracia sem constituição). Foram 25 anos sem voto popular/eleição direta.
➢ Com a redemocratização do país, os jornalistas começaram a respirar, a fugir do
noticiário oficial e, finalmente, a buscar a melhor notícia — aquela que está
escondida.
➢ É neste cenário, que o jornalismo investigativo brasileiro recupera as suas forças.
Era Collor: 1º presidente eleito pelo voto direto
Os sucessivos escândalos ocorridos entre 1990 e 1992, durante a gestão do presidente Fernando
Collor de Mello, resultaram em uma febre investigatória francamente disseminada na imprensa
nacional. Tais escândalos começaram com as denúncias do irmão do presidente, Pedro Collor,
para a revista Veja. Foram 2 anos de ascensão do jornalismo investigativo.
Foi na Era Collor que os métodos de investigação tornaram-se organizados dentro
das redações.
O impeachment de Collor é considerado o marco zero do jornalismo investigativo no Brasil
após o regime militar. A partir dele, jornalistas e donos de empresas de comunicação viram-se
diante de um novo cenário da imprensa no país.
O TELEJORNALISMO PÓS DITADURA
O telejornalismo ainda engatinhava nessa época, e a televisão no Brasil vinha de
um cenário muito ligado ao entretenimento baseado no rádio com novelas e
programas de auditório. O jornalismo ainda era muito marcado pela mídia impressa.
Após a redemocratização, há uma grande ebulição e criatividade no telejornalismo brasileiro e um
movimento de migração de jornalistas de veículos impressos para a televisão. A televisão
brasileira anseia por experimentar e comprovar a liberdade de expressão, mostrar o que havia
sido censurado nos últimos 20 anos.
Dois acontecimentos significativos do telejornalismo brasileiro podem ser identificados como
iniciais para o jornalismo investigativo na televisão:
● A criação do programa Documento Especial, da tevê Manchete, em 1989.
O Documento Especial entrou no ar em agosto de 1989, numa quarta-feira, às 23h30,
apresentado por Roberto Maia, até então apresentador do Jornal da Manchete 2a Edição. A
direção era de Nelson Hoinnef, um dos figurões do jornalismo da emissora. A proposta era
mostrar a realidade nua e crua e dar prioridade para assuntos polêmicos, guetos, submundos e
abusando de cenas fortes. Para marcar esse posicionamento, adotou desde a estréia a assinatura
"Televisão Verdade".
Com um formato similar ao já consagrado Globo Repórter, lançado em 1973, o programa
abordava semanalmente um assunto da atualidade em 30 minutos de duração. A diferença estava
na linguagem abordada, sem os limites estéticos da atração global.
Entre 1989 e 1992, se destacaram as edições Os pobres vão à praia (comimagens de preconceito
explícito e de um homem morto), Muito feminina(abordando a homossexualidade feminina), Luta
livre, O suicídio dos indios Kaiowá, Amor, Vida de gordo (a maior audiência conquistada pelo
programa, em 1990), Igreja Universal (a primeira vez em que práticas escusas da
IgrejaUniversal do Reino de Deus eram denunciadas), entre outros. Em maio de 1992, em
meio a uma das maiores crises financeiras da Manchete, Nelson Hoineff aceitou o convite de
Silvio Santos para transferir o programa para o SBT.
● A chegada do jornalista Caco Barcellos na tevê Globo, em 1982.
ORIGEM
A criação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em 2002, foi um salto
evolutivo nesse processo. É uma instituição de jornalistas, desvinculada dos diversos interesses
das empresas de comunicação. Associações desse tipo estão espalhadas pelo mundo todo, das
Filipinas à Dinamarca, com o objetivo comum de sistematizar práticas e conhecimentos ainda
dispersos do jornalismo investigativo. Tratam, principalmente, da utilização de meios eletrônicos
como fonte de consulta e pesquisa para a investigação.
O “SELO DOURADO’’ DO JORNALISMO
O conceito de investigação jornalística no Brasil está atrelado a escândalos e denúncias.
Entretanto, a maioria dessas matérias nasce do repasse puro e simples de informação, muito mais
um mérito das fontes do que, propriamente, do repórter.
O termo "jornalismo investigativo”, muitas vezes, é muito mais uma marca do que um conceito;
normalmente é utilizado para agregar glamour à profissão.
Uma reportagem investigativa pode até ter início com denúncias que chegam às redações, mas
não deve se basear exclusivamente nelas: é indispensável uma sólida pesquisa por parte dorepórter, que vai buscar a informação de fontes primárias e não se contenta com as versões ou
com as fontes secundárias.
O jornalismo investigativo se impõe pela força de profissionais credenciados para o ofício, depois,
pelo poder de coerção positiva que certas notícias impõem à autoestima das redações, dos
jornalistas e, não raras vezes, dos patrões.
Ou seja, existe uma diferença entre o jornalismo declaratório/de denúncia X jornalismo
investigativo. O primeiro é feito através de fontes, entrevistas, denúncias. O segundo é feito
através de provas e muita apuração.
PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO
Durante 60 anos (1955 a 2015), o Prêmio Esso foi o mais importante reconhecimento do
jornalismo brasileiro, contribuindo para a reputação e a visibilidade de jornalistas e de veículos de
comunicação impressos. (A categoria telejornalismo surge em 2001).
Reconhecido por sua seriedade e credibilidade, ao longo de sua trajetória, o prêmio Esso
reconheceu reportagens investigativas que afetaram estruturas sociais e exerceram a função mais
importante do jornalismo: a função social.
Nos 60 anos de existência, os maiores vencedores na categoria principal foram Folha de S.Paulo,
O Estado de S.Paulo, O Globo e O Jornal do Brasil. Juntos conquistaram 38 dos 59 prêmios
distribuídos entre 1956 e 2014, representando 64,4% do total.
TEMA 4: TÉCNICAS DO JORNALISMO INVESTIGATIVO
Em seu livro Jornalismo Investigativo (2005), Leandro Fortes apresenta o passo a passo para uma
investigação jornalística de sucesso (cap. II – O caminho das pedras).
1. Pesquisa minuciosa
● Pesquise cada nuance dos fatos com olhos críticos.
No caso Watergate, os jornalistas do The Washington Post saíram-se melhor porque deram
importância a uma notícia que os colegas de outros jornais tinham desprezado. O olhar do
repórter investigativo tem que extrapolar a pura curiosidade,assumir um quê de detetive mesmo.
● Mergulhe fundo em dados disponíveis e públicos.
Relatórios anuais de empresas, certidões, registros de imóveis, contratos, processos judiciais
transitados em julgado, sites de internet, cadernos de revistas e jornais, tudo isso pode trazer
informações surpreendentes em uma investigação jornalística.
● Discursos e projetos de lei.
Esses documentos trazem, muitas vezes, incongruências e intenções capazes de explicar o
contexto de uma investigação.
● Pesquise na internet e nas juntas comerciais cada nome encontrado.
Cada empresa citada em uma investigação policial pode ser um ninho de fontes esquecidas, mas
preciosas
● Dê importância a todas as informações e fuja das fontes oficiais e óbvias.
O repórter deve prestar atenção tanto às informações oficiais como àquelas que ele mesmo irá,
obrigatoriamente, coletar durante a investigação. Tudo passa a ser uma questão de foco. A maior
parte das boas matérias investigativas da Era Collor, por exemplo, basearam-se em depoimentos
de secretárias e motoristas dos envolvidos.
● Conhecimento policial básico.
É de grande valia entender alguma coisa sobre investigação policial, seleção de pistas, análise de
provas e indícios. Permite que o jornalista passe a trabalhar sobre hipóteses plausíveis e aprenda
a se safar de falsas pistas e manipulações de fontes inescrupulosas.
● Leve sua loucura até o fim.
Nunca deixe de lado uma informação apenas porque seu editor não deu atenção a ela.
2. Paciência e concentração
● Levante o maior número de documentos, dados e relatórios.
Uma boa investigação é demorada e, normalmente, recheada de documentos, dados, estatísticas,
legislações e códigos de onde se tira oextrato necessário para a notícia.
● Cruze os dados.
Muitas vezes, não é de uma fonte ou de um documento que se obtém a informação, mas do
cruzamento de vários deles.
● Interprete com atenção aos dados técnicos.
Os dados estatísticos devem ser lidos com cuidado, pois escondem tratamentos técnicos e
avaliações que passam despercebidos pelos leigos. Melhor compartilhá-los com quem entende do
assunto, mas cuidado com o vazamento das informações.
3. Insistência e perseverança
● Apure o seu faro para a notícia.
Seja a partir de informações fragmentadas, seja a partir da própria intuição. Algumas coisas
"cheiram" a notícia, sobretudo as que são deliberadamente ocultadas por autoridades públicas.
● Notícia é tudo aquilo que alguém quer manter escondido.
Vale lembrar uma velha máxima jornalística, definitivamente aplicável à reportagem investigativa:
"notícia é tudo aquilo que alguém, em algum lugar, quer manter escondido. O resto é
propaganda".
● Não espere colaboração de quem estiver sendo investigado, nem do grupo de
interesse ao qual ele pertence.
● Faça entrevistas, muitas entrevistas.
Com o objetivo de obter o maior número possível de informações, contrapontos, críticas, pistas e,
sobretudo, contradições dentro da apuração. Lembrar sempre de gravar cada uma delas e
guardar as fitas emlocal seguro. Um dos maus hábitos preferidos de quem é flagrado por um
repórter é dizer que não disse o que disse. E quanto mais poderoso é o entrevistado, mais
vulnerável se torna o repórter
4. Curiosidade e desconfiança
● Desenvolva a sua curiosidade e a sua desconfiança.
São duas características da alma humana devem sempre andar juntas durante uma cobertura
jornalística que envolve investigação.
● Quanto mais pesado o assunto, mais curioso e desconfiado deve ser o repórter.
● A curiosidade é que leva o homem a olhar um buraco escuro no chão. A desconfiança é o
que o impede de meter a mão sem antes pesquisar o que tem dentro.
5. Discrição
● O movimento silencioso de um bom repórter, muitas vezes, é a chave de uma
reportagem de sucesso.
● As investidas do repórter junto às fontes devem ser calculadas para preservar o sigilo da
investigação.
● O jornalista investigativo deve, na medida do possível, ser pouco conhecido, não se deixar
fotografar, falar o mínimo possível ao telefone (para evitar os grampos) e manter uma
relação estritamente profissional com as fontes.
6. Checar, checar, checar
● Checar quantas vezes for necessário toda vez que a informação lhe parecer estranha,
imprecisa, inconsistente ou óbvia demais.
● Faz parte do bom jornalismo, sobretudo quando se trata de notícia sensível, abortar uma
reportagem, por mais doloroso que seja, se ela tem falhas ou incongruências
apresentadas na investigação.
● Uma única dúvida durante a investigação pode resultar emtragédias de todo o tipo, seja
um sobrenome errado, seja uma foto de personagem errado.
7. Liberte-se de preconceitos
● Nunca parta de princípios pessoais, religiosos, ideológicos ou coisa que o valha para
definir o rumo de sua investigação.
● A boa notícia pode ser retirada de qualquer contexto, ainda que, inicialmente, a
circunstância não lhe pareça favorável e os fatos, críveis.
● Aquele político ladrão, aquele pastor safado, aquele padre pedófilo, aquele juiz corrupto,
toda essa gente horrível é fonte inesgotável de notícia, principalmente quando se fala de
jornalismo investigativo.
● O segredo para desmascará-los não está em partir para cima deles como cão raivoso. É
tratá-los, na medida do possível, com respeito.
8. Frieza, objetividade e precisão
● Lealdade ao leitor é a razão de toda a atividade jornalística.
● Toda investigação levada a cabo por um repórter deve ter como fundamento o interesse
coletivo, a ética humana, a preservação da democracia e tudo mais que fazem da
profissão motivo de orgulho para quem a exerce compaixão e destemor.
● O resultado positivo de uma matéria investigativa é, necessariamente, compartilhado com
toda a sociedade.
● Jornalismo investigativo é, por natureza, uma atividade de risco. É o tipo de coisa que
mexe com grandes interesses, com corporações poderosas, com crime organizado, com
policiais corruptos, com todo tipo de gente que quer ver qualquer coisa na frente, menos
um jornalista fazendo perguntas e fuçando para lá e pra cá.
● Enfrentar essas máfias é um ato de grandeza profissional, mas se entregar a isso de
qualquerjeito é a maneira mais fácil de se meter em encrenca. Não vale a pena, sob razão
alguma, correr risco de morte para tocar uma pauta.
● Coragem e responsabilidade são duas coisas que podem viver separadas, mas que juntas
se tornam uma blindagem característica de todo grande repórter.
As 12 lições do jornalismo investigativo
(Agência Pública)
https://apublica.org/2021/03/o-que-aprendemos-em-10-anos-de-jornalismo-investigativo/
1. Cada história traz um desafio diferente
2. Não ignorar a pulga atrás da orelha
3. Juntar o máximo de informações
4. Buscar diversidade de perspectivas
5. Atenção aos detalhes
6. Ouvir quem sente na pele
7. Saber ouvir de verdade
8. Respeitar o tempo de cada história
9. Dados são histórias codificadas
10. Colaboração é o futuro do jornalismo
11. Fazer jornalismo é retornar, às vezes de mãos cheias, às vezes de mãos vazias
12. Bom jornalismo se faz com apuração criteriosa e cautelosa
TEMA 6: Ética jornalística, reputação e relacionamento com as fontes
● A seleção das fontes é essencial para o resultado da investigação.
● O resultado de uma consulta a uma fonte depende da intenção que essa fonte atribui ao
repórter.
● Quanto maior o número de fontes e mais variadas, maior será a qualidade das
informações que poderão contribuir na investigação.
● Respeito às fontes é uma das chaves da profissão e uma das razões da longevidade dos
bons repórteres.
● Cada jornalista tem o direito, previsto pela Constituição Federal, de preservar suas fontes.
● Quando uma fonte fala em off, em off deverá estar a informação passada por ela.
● O repórter não pode ser pressionado pelos seus chefes para revelar suas fontes em
hipótese nenhuma.
● O jornalista não deve julgar a fonte e, sim, ouvir. Para tal, deve-se despir de todo o
preconceito e valores. O desejo da fonte deve ser soberano.
Uma das maiores dificuldades da investigação jornalística reside nas bases éticas de uma
atividade que tende a se misturar com uma atividade muito próxima do trabalho policial.
Muito se discute sobre o comportamento do jornalista diante das circunstâncias de uma matéria
que exige infiltração, dissimulação e, não raras vezes, doses exageradas de perigo.
A utilização de câmeras e gravadores escondidos é motivo de debate frequente entre estudiosos
da mídia, o público e os agentes da Justiça.
A construção dos critérios de noticiabilidade no jornalismo investigativo está, imperativamente,
inserida nas discussões sobre ética profissional e responsabilidade social da imprensa.
Quais são os interesses afetados com a divulgação da reportagem investigativa?
Direito à privacidade ou o direito de informação da sociedade?
A problemática ética central é examinar se o assunto investigado é de legítimo interesse público.
Cap. III – Da responsabilidade profissional do jornalista
Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações:
I – visando o interesse pessoal ou buscando vantagem econômica;
II – de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em
cobertura de crimes e acidentes;
III – obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras
escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incontestável interesse público e quando
esgotadas todas as outras possibilidades de apuração;

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