Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
42 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I UNIDADE V - FORMAS DE CONFIGURAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO: Conceitos de Patrimônio Líquido; Fontes do Patrimônio Líquido; Conceitos de capital e de manutenção de capital. 5.1 CONCEITO DE PATRIMÔNIO LÍQUIDO (PL) O Patrimônio Líquido representa os investimentos ou aplicações efetuadas pelos proprietários em troca de ações, quota ou outras participações, acrescido dos lucros retidos na entidade como fonte adicional de financiamento. É o resultado ou situação líquida resultante do somatório dos bens e direitos, deduzido das obrigações contraídas com terceiros. Significa que o Patrimônio Líquido é a riqueza líquida (valor residual) da entidade ou dos proprietários da empresa ou entidade contábil. Embora o patrimônio líquido seja definido como algo residual, dentro do Balanço Patrimonial pode ter subclassificações, isto é, demonstrados em contas separadas. Por exemplo, nas sociedades por ações, temos o Capital Social que representa os recursos aportados pelos sócios, as reservas resultantes de retenções de lucros e reservas decorrente de ajustes para manutenção do capital. Tais subclassificações podem ser relevantes para a tomada de decisão dos investidores e/ou administradores, quando indicarem restrições legais ou sobre a capacidade que a entidade tem de distribuir ou aplicar os seus recursos patrimoniais. A definição de patrimônio líquido, e os outros aspectos da Estrutura Conceitual que tratam do patrimônio líquido, são igualmente aplicáveis a diversas atividades comerciais e industriais, bem como às outras entidades, cujos negócios são frequentemente exercidos por meio de firmas individuais, sociedades limitadas, entidades estatais e outras organizações cujas estruturas, legal e regulamentar, são diferentes daquelas aplicáveis às sociedades por ações. Nessas diferentes entidades, pode haver poucas restrições sobre a distribuição aos proprietários ou a outros beneficiários de montantes incluídos no patrimônio líquido. Naturalmente depende dos contratos e estatutos dessas entidades. Pela nova disposição da Estrutura Conceitual, convergente com as normas internacionais, tratadas pela CPC 00 (R2) o conceito de patrimônio líquido consta no item 4.63. 4.63 Patrimônio líquido é a participação residual nos ativos da entidade após a dedução de todos os seus passivos. 4.64 Direitos sobre o patrimônio líquido são direitos sobre a participação residual nos ativos da entidade após a dedução de todos os seus passivos. Em outras palavras, são reivindicações contra a entidade que não atendem à definição de passivo. Essas reivindicações podem ser estabelecidas por contrato, legislação ou meios similares, e incluem, na medida em que não atendem à definição de passivo: (a) ações de diversos tipos emitidas pela entidade; e (b) algumas obrigações da entidade de emitir outro direito sobre o patrimônio líquido. 4.65 Diferentes classes de direitos sobre o patrimônio líquido, tais como ações ordinárias e ações preferenciais, podem conferir a seus titulares diferentes direitos, por exemplo, direitos de receber a totalidade ou parte dos seguintes itens do patrimônio líquido: (a) dividendos, se a entidade decide pagar dividendos aos titulares elegíveis; 43 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I (b) proventos pelo cumprimento dos direitos sobre o patrimônio líquido, seja integralmente na liquidação, ou parcialmente em outras ocasiões; ou (c) outros direitos sobre o patrimônio líquido. Classificação de patrimônio líquido 7.12 Para fornecer informações úteis, pode ser necessário classificar direitos sobre o patrimônio líquido separadamente se esses direitos sobre o patrimônio líquido tiverem diferentes características (ver item 4.65). 7.13 Similarmente, para fornecer informações úteis, pode ser necessário classificar componentes do patrimônio líquido separadamente se alguns desses componentes estiverem sujeitos a determinados requisitos legais, regulatórios ou outros. Por exemplo, em algumas jurisdições, a entidade tem permissão de realizar distribuições aos titulares de direitos sobre o patrimônio líquido somente se a entidade tiver reservas suficientes especificadas como distribuíveis (ver item 4.66). A apresentação e a divulgação separadas dessas reservas podem fornecer informações úteis. Conforme dizia a Res. CFC 1374/2011 - NBC TG EC (R1 já revogada): 4.22. O montante pelo qual o patrimônio líquido é apresentado no balanço patrimonial depende da mensuração dos ativos e passivos. Normalmente, o montante agregado do patrimônio líquido somente por coincidência corresponde ao valor de mercado agregado das ações da entidade ou da soma que poderia ser obtida pela venda dos seus ativos líquidos numa base de item-por-item, ou da entidade como um todo, tomando por base a premissa da continuidade (going concern basis). 5.2 FONTES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO As fontes do Patrimônio Líquido são os investimentos ou aplicações efetuadas pelos proprietários em troca de ações, quota de participação e lucros retidos. Algumas variações do PL ocorre pela reavaliação de bens do Ativo. Assim, as contas que compõem o PL são agrupadas, segundo sua expressão qualitativa, em Capital Social, Reservas e Ajustes de Avaliação Patrimonial. No desdobramento ou subclassificação pelas disposições do artigo 178 da Lei das S/A com as alterações da Lei 11.638/2007, o patrimônio líquido está dividido em Capital Social, Reservas de capital, Ajustes de avaliação patrimonial, Reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. CAPITAL SOCIAL Capital subscrito (art. 182) (-) Capital a integralizar RESERVAS DE CAPITAL Contribuições que ultrapassem o valor nominal; Parte do preço das ações sem valor nominal (inclusive conversão das debêntures e partes beneficiárias); Produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; Correção monetária do capital realizado, enquanto não capitalizado; 44 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL. (art. 182). § 3o Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na competência conferida pelo § 3o do art. 177 desta Lei. RESERVAS DE LUCROS Reserva legal (art. 193) Reserva estatutária (art.194) Reserva de Contingências (art. 195) Reserva de Incentivos Fiscais (doações e subvenções – art. 195- A) (-) AÇÕES EM TESOURARIA (-) PREJUÍZOS ACUMULADOS Reservas são recursos acumulados no Patrimônio Líquido que visam manter a integridade do Capital Social, garantir a realização de investimentos com recursos próprios e para compensação de prejuízos acumulados ou para aumento de capital. Pela lei das S/A existem dois tipos de reservas: Reservas de Capital e Reservas de Lucros. 5.2.1 Reservas de Capital As reservas de Capital estão subdividas em: Reserva de Ágio na emissão de ações; Reserva de Alienação de Partes Beneficiárias e Reserva de Alienação de Bônus de Subscrição. Vejam o que diz a lei das S/A: Art. 182. A conta do capital social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela ainda não realizada. § 1º Serão classificadas como reservas de capital as contas que registrarem: a) a contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social, inclusivenos casos de conversão em ações de debêntures ou partes beneficiárias; b) o produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; c) o prêmio recebido na emissão de debêntures; (Revogado pela Lei nº 11.638, de 2007) d) as doações e as subvenções para investimento. (Revogado pela Lei nº 11.638,de 2007) § 2° Será ainda registrado como reserva de capital o resultado da correção monetária do capital realizado, enquanto não-capitalizado. § 3o Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na competência conferida pelo § 3o do art. 177 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) § 4º Serão classificados como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da companhia. 45 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I § 5º As ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição. Reserva de Capital Art. 200. As reservas de capital somente poderão ser utilizadas para: I - absorção de prejuízos que ultrapassarem os lucros acumulados e as reservas de lucros (artigo 189, parágrafo único); II - resgate, reembolso ou compra de ações; III - resgate de partes beneficiárias; IV - incorporação ao capital social; V - pagamento de dividendo a ações preferenciais, quando essa vantagem lhes for assegurada (artigo 17, § 5º). Parágrafo único. A reserva constituída com o produto da venda de partes beneficiárias poderá ser destinada ao resgate desses títulos. 5.2.2. Reservas de Lucros As Reservas de Lucros são aquelas decorrentes do lucro líquido retidos, para que parcela do lucro do exercício não sejam distribuídos. Estas reservas estão subdividas em: Reserva Legal, Reserva Estatutárias, Reservas para Contingências; Reservas para Incentivos Fiscais e Reservas de Lucros a Realizar. Vejam o que diz a Lei 6.404/1976 com as alterações das leis nº 10.303/2001 e 11.638/2007. Proposta de Destinação do Lucro Art. 192. Juntamente com as demonstrações financeiras do exercício, os órgãos da administração da companhia apresentarão à assembleia-geral ordinária, observado o disposto nos artigos 193 a 203 e no estatuto, proposta sobre a destinação a ser dada ao lucro líquido do exercício. Reserva Legal. Art. 193. Do lucro líquido do exercício, 5% (cinco por cento) serão aplicados, antes de qualquer outra destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá de 20% (vinte por cento) do capital social. § 1º A companhia poderá deixar de constituir a reserva legal no exercício em que o saldo dessa reserva, acrescido do montante das reservas de capital de que trata o § 1º do artigo 182, exceder de 30% (trinta por cento) do capital social. § 2º A reserva legal tem por fim assegurar a integridade do capital social e somente poderá ser utilizada para compensar prejuízos ou aumentar o capital. Reservas Estatutárias Art. 194. O estatuto poderá criar reservas desde que, para cada uma: I - indique, de modo preciso e completo, a sua finalidade; II - fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão destinados à sua constituição; e III - estabeleça o limite máximo da reserva. Reservas para Contingências Art. 195. A assembleia-geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, destinar parte do lucro líquido à formação de reserva com a finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado. § 1º A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda prevista e justificar, com as razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva. § 2º A reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões que justificaram a sua constituição ou em que ocorrer a perda. 46 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I Reserva de Incentivos Fiscais Art. 195-A. A assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório (inciso I do caput do art. 202 desta Lei). Retenção de Lucros Art. 196. A assembléia-geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, deliberar reter parcela do lucro líquido do exercício prevista em orçamento de capital por ela previamente aprovado. § 1º O orçamento, submetido pelos órgãos da administração com a justificação da retenção de lucros proposta, deverá compreender todas as fontes de recursos e aplicações de capital, fixo ou circulante, e poderá ter a duração de até 5 (cinco) exercícios, salvo no caso de execução, por prazo maior, de projeto de investimento. § 2o O orçamento poderá ser aprovado pela assembléia-geral ordinária que deliberar sobre o balanço do exercício e revisado anualmente, quando tiver duração superior a um exercício social. Reserva de Lucros a Realizar Art. 197. No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos termos do estatuto ou do art. 202, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido do exercício, a assembléia-geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar o excesso à constituição de reserva de lucros a realizar. § 1o Para os efeitos deste artigo, considera-se realizada a parcela do lucro líquido do exercício que exceder da soma dos seguintes valores: I - o resultado líquido positivo da equivalência patrimonial (art. 248); e II – o lucro, rendimento ou ganho líquidos em operações ou contabilização de ativo e passivo pelo valor de mercado, cujo prazo de realização financeira ocorra após o término do exercício social seguinte. § 2o A reserva de lucros a realizar somente poderá ser utilizada para pagamento do dividendo obrigatório e, para efeito do inciso III do art. 202, serão considerados como integrantes da reserva os lucros a realizar de cada exercício que forem os primeiros a serem realizados em dinheiro. Limite da Constituição de Reservas e Retenção de Lucros Art. 198. A destinação dos lucros para constituição das reservas de que trata o artigo 194 e a retenção nos termos do artigo 196 não poderão ser aprovadas, em cada exercício, em prejuízo da distribuição do dividendo obrigatório (artigo 202). Limite do Saldo das Reservas de Lucro Art. 199. O saldo das reservas de lucros, exceto as para contingências, de incentivos fiscais e de lucros a realizar, não poderá ultrapassar o capital social. Atingindo esse limite, a assembleia deliberará sobre aplicação do excesso na integralização ou no aumento do capital social ou na distribuição de dividendos. Conforme visto acima, a constituição de reservas de lucros é exigida tanto pela Lei das S/A, como pelos estatutos de modo geral, com objetivo de preservar estabilidade e segurança às entidades e seus credores, com uma margem maior de proteção contra os efeitos de prejuízos eventuais. Outras reservas podem ser constituídas em atendimento as leis que concedem isenções ou reduções nos impostos a pagar, quando são feitas transferências para tais reservas. A existência e o tamanho de tais reservas (legais, estatutárias e fiscais) representam informações que podem ser importantes para a tomada de decisão dos usuários. As transferências para tais reservas são apropriações de lucros acumulados destinadas às finalidades previstas. De acordo com as alterações trazidas pela Lei nº 11.638/07, o montante acumulado das reservas de lucros, excluídas as Reservas de Contingências, de Incentivos fiscais e de Lucros a 47UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I Realizar, não podem ultrapassar ao montante do Capital Social. Significa que deverão ser utilizadas para integração ou aumento do Capital Social, ou distribuídos como dividendos. 5.3 CONCEITOS DE CAPITAL E DE MANUTENÇÃO DE CAPITAL O Patrimônio líquido é conhecido normalmente como o capital líquido da entidade (composto de capital, reservas e ajustes) que podem ser denominados sob diferentes formas. O Capital Social por sua vez, sofre diferentes denominações na lei das S/A e leis sobre sociedades comerciais e civis. Assim, faz-se oportuno explicar algumas terminologias usadas sobre o termo Capital que devem ser registradas na Contabilidade: Capital autorizado - é o montante do capital social fixado/limitado nos estatutos das sociedades anônimas, em valor ou número de ações, que poderão ser subscritos ou posto em venda. É uma autorização prévia para novas subscrições de capital, dentro de certo limite. Nos casos das S/A de capital aberto essa autorização é regulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM); Capital Social ou Capital Social Subscrito - é o capital social fixado no estatuto ou contrato social. Os sócios devem subscrever (assumir o compromisso de realizar) todas as ações ou cotas em que se divide o capital social, ainda que seja realizada apenas uma parte do capital subscrito. Portanto, é o montante de ações ou quotas que os subscritores do capital se comprometem a integralizar na entidade contábil, em forma de dinheiro, ou de bens ou direitos, suscetíveis de avaliação monetária. A Subscrição é o ato pelo qual os sócios assumem o compromisso de realizar determinado valor a título de capital social. A subscrição pode ser relativa a compromisso de realização do capital social inicial ou a aumento do capital; Capital nominal ou capital declarado – é o capital social fixado no estatuto ou no contrato social. Também é conhecido como capital social ou capital subscrito.Nos casos de firma individual é o montante declarado pelo titular da entidade. O capital nominal pode ser alterado pelos proprietários com investimentos adicionais ou pela retirada de sócios, ou pela retenção de lucros ou prejuízos; Capital a integralizar ou capital a realizar - corresponde ao valor do capital subscrito ainda não realizado ou entregue (ou não pago) à entidade contábil; Capital integralizado ou capital realizado - corresponde aos recursos já entregues a entidade contábil, pelos subscritores do capital. É calculado pela diferença entre o capital social subscrito e o capital social a realizar: Capital Realizado = Capital Subscrito - Capital a Realizar; Capital real ou capital próprio - corresponde a situação líquida, isto é, resultado do capital nominal deduzido das parcelas não integralizadas, acrescida das reservas de capital e ajustes de avaliação patrimonial. De acordo com o CPC 00 (R2) / NBC TG EC/2019, que trata da estrutura conceitual para os relatórios financeiros, existem vários conceitos de capital conforme se pode verificar abaixo: Conceito de capital 8.1 O conceito financeiro de capital é adotado pela maioria das entidades na elaboração de suas demonstrações contábeis. Sob o conceito financeiro de capital, tal como caixa investido ou poder de compra investido, capital é sinônimo de ativos líquidos ou patrimônio líquido da entidade. Sob o conceito físico de capital, tal como a capacidade operacional, o capital é considerado como a capacidade produtiva da entidade com base, por exemplo, nas unidades de produção diária. 48 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I 8.2 A seleção do conceito apropriado de capital pela entidade deve ser baseada nas necessidades dos usuários de suas demonstrações contábeis. Desse modo, o conceito financeiro de capital deve ser adotado se os usuários das demonstrações contábeis estiverem principalmente preocupados com a manutenção de capital nominal investido ou com o poder de compra do capital investido. Se, contudo, a principal preocupação dos usuários for com a capacidade operacional da entidade, deve ser usado um conceito físico de capital. O conceito escolhido indica a meta a ser atingida na determinação do lucro, ainda que possa haver algumas dificuldades de mensuração para tornar o conceito operacional. A vista de um novo conceito de capital, cabe destacar que atualmente há distinção entre o conceito de capital financeiro e capital físico. 5.3.1 Conceitos de manutenção de capital e determinação do lucro O conceito de manutenção do capital financeiro representa um elo entre os conceitos de capital e os conceitos de lucro, pois fornece um ponto de referência para medição do lucro. É uma condição essencial para distinção entre o retorno sobre o capital da entidade e a recuperação do capital. O lucro é considerado auferido somente se, o total dos ativos líquidos (PL) no fim do período for maior que o total do ativo líquido inicial, deduzido as distribuições aos proprietários durante o período em unidades de poder aquisitivo constante. L > O; se TA t1 > TA to - participações Vejam o que diz a CPC 00 (R2)/NBC TG EC/2019: Conceitos de manutenção de capital e determinação do lucro 8.3 Os conceitos de capital do item 8.1 originam os seguintes conceitos de manutenção de capital: (a) Manutenção de capital financeiro. Sob esse conceito, o lucro é auferido somente se o montante financeiro (ou dinheiro) dos ativos líquidos no final do período exceder o montante financeiro (ou dinheiro) dos ativos líquidos no início do período, após excluir quaisquer distribuições para, e contribuições de, sócios durante o período. A manutenção de capital financeiro pode ser mensurada em unidades monetárias nominais ou em unidades de poder aquisitivo constante. (b) Manutenção de capital físico. Sob esse conceito, o lucro é auferido somente se a capacidade produtiva física (ou capacidade operacional) da entidade (ou os recursos ou fundos necessários para alcançar essa capacidade) no final do período exceder a capacidade produtiva física no início do período, após excluir quaisquer distribuições para, e contribuições de, sócios durante o período. 8.4 O conceito de manutenção de capital está preocupado em como a entidade define o capital que busca manter. Ele fornece a ligação entre os conceitos de capital e os conceitos de lucro, pois fornece o ponto de referência por meio do qual o lucro é mensurado; ele é pré-requisito para distinguir entre o retorno sobre o capital da entidade e seu retorno de capital; somente os fluxos de entrada de ativos que excedem os valores necessários para a manutenção de capital podem ser considerados como lucro e, portanto, como retorno sobre o capital. Portanto, lucro é o valor residual que permanece após as despesas (incluindo ajustes para manutenção de capital, quando apropriado) terem sido deduzidas da receita. Se as despesas excederem a receita, o valor residual é uma perda. 8.5 O conceito de manutenção de capital físico exige a adoção do custo corrente como base de mensuração. O conceito de manutenção de capital financeiro, contudo, não 49 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I requer o uso de base de mensuração específica. A seleção da base nesse conceito depende do tipo de capital financeiro que a entidade está buscando manter. 8.6 A diferença principal entre os dois conceitos de manutenção de capital é o tratamento dos efeitos das mudanças nos preços dos ativos e passivos da entidade. Em termos gerais, a entidade terá mantido o seu capital se tiver tanto capital no fim do período quanto tinha no início do período. Qualquer valor acima daquele necessário para manter o capital no início do período representa lucro. 8.7 Sob o conceito de manutenção de capital financeiro, em que o capital é definido em termos de unidades monetárias nominais, o lucro representa o aumento no capitalmonetário nominal ao longo do período. Desse modo, os aumentos nos preços de ativos mantidos ao longo do período, convencionalmente referidos como ganhos de manutenção são, conceitualmente, lucros. Entretanto, eles podem não ser reconhecidos como tais até que os ativos sejam alienados em transação de troca. Quando o conceito de manutenção de capital financeiro for definido em termos de unidades de poder aquisitivo constante, o lucro representa o aumento no poder aquisitivo investido ao longo do período. Desse modo, apenas essa parte do aumento nos preços dos ativos que exceder o aumento no nível geral de preços é considerada como lucro. O restante do aumento é tratado como ajuste para manutenção de capital e, portanto, como parte do patrimônio líquido. 8.8 Sob o conceito de manutenção de capital físico, quando o capital é definido em termos de capacidade produtiva física, o lucro representa o aumento desse capital ao longo do período. Todas as mudanças de preços que afetem os ativos e passivos da entidade são vistas como mudanças na mensuração da capacidade produtiva física da entidade, portanto, elas são tratadas como ajustes para manutenção de capital que fazem parte do patrimônio líquido e, não, como lucro. 8.9 A seleção das bases de mensuração e o conceito de manutenção de capital determinam o modelo contábil usado na elaboração das demonstrações contábeis. Diferentes modelos contábeis apresentam diferentes graus de relevância e confiabilidade e, como em outras áreas, a administração deve buscar o equilíbrio entre a relevância e a confiabilidade. Esta Estrutura Conceitual é aplicável a uma série de modelos contábeis e fornece orientação sobre a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis elaboradas de acordo com o modelo escolhido. Atualmente, não é intenção prescrever modelo específico, exceto em circunstâncias excepcionais, tais como para aquelas entidades que reportam na moeda de economia hiperinflacionária. Essa intenção, contudo, será revista em vista dos desenvolvimentos mundiais. 8.10 A reavaliação ou reapresentação de ativos e passivos origina aumentos ou reduções no patrimônio líquido. Embora esses aumentos ou reduções atendam à definição de receitas e despesas, eles não são incluídos na demonstração do resultado sob determinados conceitos de manutenção de capital. Em vez disso, esses itens são incluídos no patrimônio líquido como ajustes para manutenção de capital ou reservas de reavaliação. Cabe observar que a “reserva de reavaliação” de ativos e passivos, que constavam anteriormente no PL do Balanço Patrimonial, fora extinta pela Lei nº 11.638/2007, visto que vedou-se às empresas a possibilidade de fazer, de forma espontânea, registros contábeis de reavaliação de ativos, a qual foi substituída pela conta “Ajustes de avaliação patrimonial” que tem natureza e finalidade distinta. Esta se destina a escriturar, exclusivamente, os valores decorrentes de avaliação de instrumentos financeiros, além dos casos estabelecidos pela CVM, com base na competência que lhe foi atribuída pela Lei nº 11.638/2007 e Lei 11.941/2009. Vejam o que diz a lei das S/A: 50 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO TEORIA DA CONTABILIDADE I Art. 182. A conta do capital social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela ainda não realizada. § 3o Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na competência conferida pelo § 3o do art. 177 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009). ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Referências: CPC 00 (R2) de 1/11/2019 - ESTRUTURA CONCEITUAL PARA RELATÓRIO FINANCEIRO - Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – Conceptual Framework Lei nº 6.404/76 – Lei das S/A com as alterações das leis nº 10.303/2001, 11.638/2007 e Lei nº 12.838, de 2013. Lei nº 10.303, de 31 de outubro de 2001. Altera e acrescenta dispositivos na Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, e na Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Lei nº 11.638, de 28 de Dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. NBC TG EC, de 21.11.2019 - Dá nova redação à NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL, que dispõe sobre a estrutura conceitual para relatório financeiro. NBC TG Ec, de 21.11.2019 - Dá nova redação à NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL, que dispõe sobre a estrutura conceitual para relatório financeiro.
Compartilhar