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Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Patologia Cardiopatia isquêmica (CI) é um nome amplo que engloba várias síndromes intimamente relacionadas e causadas pela isquemia do miocárdio, um desequilíbrio entre o suprimento sanguíneo cardíaco (perfusão) e as necessidades de oxigênio e nutrientes do miocárdio. OBS: Na maioria dos casos, as síndromes da CI são as manifestações tardias de uma aterosclerose coronariana que se desenvolveu gradualmente durante décadas (começando ainda na infância ou na adolescência). As manifestações da cardiopatia isquêmica são consequência direta do suprimento sanguíneo insuficiente para o coração (devido a isquemia). A apresentação clínica pode incluir uma ou mais das seguintes síndromes cardíacas: Angina pectoris; Infarto agudo do miocárdio; Morte súbita; Doença isquêmica crônica do coração (com ou sem insuficiência cardíaca). A angina pectoris (dor no peito) é uma dor intermitente causada por isquemia miocárdica transitória e reversível (70% de obstrução). Foram identificadas três variantes: A angina estável ou típica consiste em dor torácica episódica e previsível associada a certos graus de esforço físico ou a alguma outra demanda aumentada (por exemplo, taquicardia). Essa dor é descrita como sensação subesternal constritiva ou em aperto, que pode irradiar pelo braço esquerdo ou pela mandíbula esquerda (dor referida). Além disso, essa dor geralmente é aliviada pelo repouso. A angina de Prinzmetal ou angina variante ocorre durante o repouso e é causada pelo espasmo de uma artéria coronária. Embora esses espasmos normalmente ocorram nas placas ateroscleróticas preexistentes ou perto delas, vasos completamente normais também podem ser afetados. A angina instável ou crescente é caracterizada por uma dor cada vez mais frequente que é precipitada por esforço físico progressivamente menor ou que ocorre até mesmo durante o repouso. A angina instável está associada à ruptura de uma placa aterosclerótica associada a trombose superposta, à formação de êmbolos em posição distal ao trombo e/ou a vasoespasmo. Essa forma de angina é muitas vezes precursora do IM, causado por obstrução vascular total. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Patologia O infarto do miocárdio (IM), também conhecido como “ataque cardíaco”, consiste na necrose do músculo cardíaco que resulta de isquemia. A isquemia provoca uma baixa demanda de O2 nos cardiomiócitos, desviando a rota metabólica para a anaerobiose. A glicólise, além de produzir pouco ATP, aumenta as concentrações de lactato, que possui um baixo PH, ou seja, ácido (altas concentrações de H+). Além disso, a acidez provoca a desnaturação proteica. O H+ forma água, que por sua vez, causa tumefação celular, principalmente de organelas como mitocôndrias e RE. O retículo sarcoplasmático libera cálcio, que também ativa uma cascata de morte celular e aumenta a permeabilidade da célula. As mitocôndrias, ao terem suas membranas lisadas pelo acúmulo de água, liberam proteínas que ativam caspases que culminam na apoptose. No entanto, em condições isquêmicas, ocorre a transcrição do HIF-1, fator induzível de hipóxia, que provoca: Aumento da eritropoietina; Aumento da angiogênese (VEGF); Aumento da secreção de NO sintase para vasodilatação; Aumento de proteínas anti- apoptóticas; Aumento de proteínas de choque térmico. Aumento de enzinas glicolíticas. Além disso, o aumento do cálcio citosólico ativa enzimas celulares que causam lesão na membrana, lesão nuclear e diminuição da formação de ATP, como: Fosfolipases, proteases e endonucleases. OBS: A maior parte dos IMs é causada pela trombose aguda de uma artéria coronária. Na maioria dos casos, a ruptura de uma placa aterosclerótica preexistente atua como um núcleo para a formação de um trombo, seguida da obstrução vascular e do subsequente infarto do miocárdio. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Patologia A localização, o tamanho e as características morfológicas de um infarto agudo do miocárdio dependem de vários fatores: Do tamanho e da distribuição dos vasos envolvidos. Da velocidade do desenvolvimento e da duração da oclusão. Das demandas metabólicas do miocárdio. Da extensão da irrigação colateral. OBS: A lesão irreversível dos miócitos isquêmicos ocorre primeiramente na zona subendocárdica. Essa região é especialmente suscetível à isquemia porque é a última área a receber o sangue transportado pelos vasos epicárdicos e também porque está exposta a pressões intramurais relativamente altas, que agem impedindo a chegada do sangue. Praticamente todo infarto transmural compromete o ventrículo esquerdo. O envolvimento do ventrículo direito ocorre em cerca de 15 a 30% dos casos e geralmente está em continuidade com infarto da parede posterior do ventrículo esquerdo. Infarto isolado do ventrículo direito é raro. A avaliação laboratorial do IM baseia-se na determinação dos níveis sanguíneos de macromoléculas que extravasam através Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Patologia das membranas das células lesadas do miocárdio. Essas moléculas incluem a mioglobina, as troponinas cardíacas T e I (TnT, TnI), a creatina cinase (CK-MB). As troponinas e a CK-MB têm especificidade e sensibilidade elevadas para lesão miocárdica. A reperfusão é obtida por trombólise (dissolução do trombo pelo ativador tecidual do plasminogênio), angioplastia ou cirurgia de revascularização do miocárdio. Infelizmente, apesar de a preservação da parte viável (mas em risco) do coração poder melhorar os desfechos a curto e a longo prazo, a reperfusão não traz somente benefícios. Os fatores que contribuem para o surgimento da lesão por reperfusão englobam: 1) disfunção mitocondrial: a isquemia altera a permeabilidade da membrana das mitocôndrias, o que permite a entrada de proteínas nessas organelas. Como consequência, a mitocôndria torna-se tumefata e sua membrana externa se rompe, liberando o conteúdo da mitocôndria, o qual promove a apoptose; 2) hipercontratura dos miócitos: durante os períodos de isquemia, os níveis intracelulares de cálcio estão aumentados como resultado da perturbação do ciclo do cálcio e da lesão do sarcolema. Depois da reperfusão, a contração das miofibrilas fica aumentada e descontrolada, o que causa danos ao citoesqueleto e morte celular; 3) os radicais livres são produzidos minutos após o início da reperfusão e danificam os miócitos ao alterarem as proteínas e os fosfolipídios da membrana; 4) a agregação de leucócitos, que pode obstruir a microvasculatura e contribuir para o fenômeno de “não refluxo”. Além disso, os leucócitos produzem proteases e elastases que provocam a morte celular;
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