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ANÁLISE DA ABORDAGEM DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS DO 6 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL II UM OLHAR CONTEXTUALIZADO COM A LITERATURA BRASILEIRA

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ANÁLISE DA ABORDAGEM DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS DO 6° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL II: UM OLHAR CONTEXTUALIZADO COM A LITERATURA BRASILEIRA
Blue Scunderlick Inacio¹
Nathan Santos de Oliveira²
1. INTRODUÇÃO
A variação linguística é uma realidade presente na sociedade brasileira e desafia constantemente o campo da educação. Compreender e abordar adequadamente esse fenômeno linguístico é essencial para a formação de um futuro professor, que terá o importante papel de promover uma educação linguística inclusiva e valorizar as diferentes formas de expressão presentes em nosso país.
Nesse contexto, a literatura brasileira surge como um recurso valioso, uma vez que é capaz de retratar de forma autêntica e rica a diversidade linguística encontrada em nossa sociedade. A literatura não apenas espelha a realidade linguística do país, mas também amplia os horizontes dos alunos, permitindo-lhes explorar diferentes perspectivas e vivências através das obras literárias.
Este trabalho tem como objetivo: a) investigar como o conteúdo de variação linguística é abordado em três apostilas de 6º ano do ensino fundamental II de diferentes autores, sendo elas comparadas entre si “Português: Linguagens” de William Roberto Cereja e Thereza Cochar em sua nona edição reformulada de 2015, “Português: conexão e uso” de Dileta Delmanto e Laiz B. De Carvalho em sua primeira edição de 2018 e “Perspectiva Língua Portuguesa” de Norma Discini e Lucia Teixeira em sua segunda edição de 2012, b) identificar se há uma contextualização com a literatura brasileira, c) verificar se exemplos, textos e atividades são compreensíveis, completos e didáticos.
A relevância deste estudo reside na importância de uma abordagem adequada da variação linguística no ambiente escolar. Ao identificar como esse conteúdo é retratado nas apostilas, será possível avaliar se há uma compreensão abrangente da temática, se são apresentados exemplos claros e significativos, bem como se a literatura brasileira é explorada como uma fonte enriquecedora.
Além disso, a pesquisa busca contribuir para a formação de futuros professores, oferecendo subsídios e reflexões sobre a importância de trabalhar a variação linguística de forma consciente e valorizadora. Ao promover uma educação linguística inclusiva, que respeite e valorize as múltiplas formas de falar e escrever, os professores estarão preparados para criar um ambiente de aprendizado acolhedor, onde todos os alunos se sintam representados e estimulados a desenvolver suas habilidades linguísticas.
Portanto, este estudo propõe uma análise crítica das apostilas de língua portuguesa do 6º ano, investigando como a variação linguística é abordada e se há uma contextualização com a literatura brasileira. Através dessa pesquisa, busca-se contribuir para a formação de professores capazes de promover uma educação linguística inclusiva, valorizando a diversidade linguística e cultural do Brasil.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A variação linguística é um fenômeno natural presente em todas as línguas, que abrange diferenças no vocabulário, pronúncia, gramática, estilo e uso social da linguagem. Essa variação pode ocorrer em níveis regionais e individuais, influenciada por fatores sociais, culturais, históricos e contextuais. No entanto, o preconceito linguístico é uma realidade, em que determinadas variantes são desvalorizadas e estigmatizadas em relação à norma padrão.
Segundo Bortoni-Ricardo (2014, p. 159) “são comuns, nas redes sociais da internet, críticas ao que a sociedade em geral considera ‘erros de português’.” O preconceito linguístico muitas vezes é refletido nas redes sociais, com críticas aos "erros de português" que são considerados pela sociedade em geral. Isso resulta em cyberbullying linguístico, perpetuando a visão de que apenas a norma padrão é correta e desvalorizando outras formas de expressão linguística. Essa atitude elitista e excludente marginaliza grupos sociais e reforça estereótipos negativos.
Os professores precisam ensinar que as variações linguísticas são autênticas e que devem ser respeitadas, fazendo o possível para que não haja preconceito na sala de aula. É fundamental combater o preconceito linguístico e valorizar a diversidade linguística. A escolha da variedade linguística apropriada também está relacionada ao respeito pela diversidade cultural e linguística. Reconhecer e valorizar as diferentes formas de falar de um país ou região contribui para uma comunicação mais inclusiva, evitando estereótipos e preconceitos linguísticos. Nesse sentido, é importante abordar o tema da variação linguística nas apostilas didáticas escolares. (BORTONI-RICARDO, 2014, p. 159)
Assim como afirmam Cereja e Cochar (2015, p. 42) “saber usar bem uma língua significa saber empregar a variedade linguística mais adequada a cada situação”, ressaltando assim a importância do domínio da variação linguística para uma comunicação eficaz. A língua é uma ferramenta flexível e dinâmica, que se adapta aos diferentes contextos e interlocutores. É importante ressaltar que saber empregar a variedade linguística mais adequada não significa hierarquizar as formas de fala, considerando algumas como superiores e outras como inferiores. Todas as variantes linguísticas são legítimas e refletem a riqueza e a complexidade da língua. O objetivo é adaptar-se às convenções comunicativas de cada contexto, sem menosprezar ou desvalorizar as outras formas de expressão.
As apostilas desempenham um papel importante na formação dos estudantes, pois são amplamente utilizadas como material de apoio nas salas de aula. Ao incluir o conteúdo de variação linguística nessas apostilas, os alunos são expostos a diferentes formas de falar e escrever, promovendo uma compreensão mais ampla da diversidade linguística em sua comunidade e no país.
Goulart (2015, p. 19) afirma que
Partindo do pressuposto de que os livros didáticos são ferramentas ou instrumentos que a maioria dos professores das escolas públicas brasileiras utiliza em sala de aula, esses materiais deveriam se pautar por reflexões que os ajudassem a “dissolver” o que está congelado na tradição da homogeneidade.
Além disso, ao abordar a variação linguística nas apostilas, é crucial fornecer exemplos concretos e contextualizados, facilitando a compreensão dos estudantes. Isso pode ser feito por meio de textos, diálogos, atividades e até mesmo da utilização de obras literárias que retratam a diversidade linguística do Brasil. Dessa forma, os estudantes não apenas aprendem sobre variação linguística, mas também se identificam e se sentem representados nas diferentes formas de expressão presentes na literatura brasileira.
A literatura brasileira desempenha um papel crucial na luta contra o analfabetismo e na promoção da alfabetização funcional. O analfabetismo, seja ele absoluto ou funcional, representa um desafio significativo em muitos países, inclusive no Brasil. O analfabetismo funcional refere-se à falta de habilidades de leitura, escrita e interpretação necessárias para enfrentar as demandas cotidianas, como compreender um contrato, preencher formulários ou ler notícias. Nesse contexto, a literatura brasileira pode desempenhar um papel transformador, ajudando a combater o analfabetismo funcional e promover a alfabetização. Ao ler obras literárias, os indivíduos são expostos a diferentes formas de escrita, vocabulário e estruturas linguísticas. Essa exposição constante à literatura ajuda a desenvolver habilidades de leitura e compreensão, expandindo o vocabulário e a capacidade de interpretar textos. A diversidade presente na literatura brasileira também é fundamental para lidar com o analfabetismo funcional. É de conhecimento geral que
O analfabetismo está na raiz de todos os grandes problemas sociais no Brasil. É um mal praticamente tão antigo quanto o próprio país, e infenso às diversas campanhas de alfabetização que surgiram como parte de políticas educacionais, principalmente a partir da segunda metade do século xx. A taxa de alfabetização no Brasil é uma dasmais baixas do mundo [...] (BORTONI-RICARDO, 2014, p. 161)
Através das obras literárias, os leitores são apresentados a diferentes contextos sociais, culturais e históricos, bem como a diferentes vozes e perspectivas.Essa diversidade permite que os leitores se familiarizem com diferentes formas de expressão, variações linguísticas e estilos de escrita, tornando-os mais adaptáveis a diferentes tipos de textos e situações de comunicação.Além disso, a literatura brasileira pode ser uma ferramenta eficaz no ensino da leitura e escrita para aqueles que enfrentam o desafio do analfabetismo funcional. Ao utilizar textos literários como material didático, os educadores podem despertar o interesse e a motivação dos alunos, tornando o processo de aprendizagem mais envolvente e significativo. As histórias, os personagens e os temas presentes na literatura brasileira podem despertar a curiosidade e o desejo de ler, estimulando a prática da leitura e aprimorando as habilidades de alfabetização. Dessa forma, a literatura brasileira não apenas preserva a cultura e a identidade nacional, mas também desempenha um papel vital na promoção da alfabetização funcional. Ao valorizar e incentivar a leitura de obras literárias, estamos contribuindo para a formação de indivíduos mais capacitados, capazes de enfrentar os desafios da vida cotidiana, comunicar-se de maneira eficaz e participar ativamente da sociedade. A literatura brasileira, assim, se torna uma aliada poderosa no combate ao analfabetismo funcional e na construção de uma sociedade mais educada e inclusiva.
Ao estudar e apreciar a literatura brasileira, os estudantes têm a oportunidade de se envolver com narrativas que refletem diferentes realidades, conflitos, sonhos e anseios do povo brasileiro ao longo do tempo. Além disso, ao reconhecer e valorizar as variações linguísticas presentes na literatura, promove-se uma educação linguística mais inclusiva e respeitosa, que abraça a diversidade e combate o preconceito linguístico. Ao incluir o conteúdo de variação linguística nas apostilas didáticas escolares e valorizar a literatura brasileira, promove-se uma educação linguística inclusiva, combate-se o preconceito linguístico e enriquece-se a formação cultural e linguística dos estudantes. Isso contribui para a construção de uma sociedade mais respeitosa, diversa e inclusiva, que valoriza todas as formas de expressão linguística presentes em seu contexto.
3. METODOLOGIA
A metodologia adotada neste trabalho é do tipo exploratória e qualitativa. O estudo consiste na análise comparativa de três apostilas de 6º ano do ensino fundamental II, sendo elas: "Português: Linguagens" de Cereja e Cochar (Editora Saraiva), "Português: conexão e uso" de Delmanto e Carvalho (Editora Saraiva) e "Perspectiva Língua Portuguesa" de Discini e Teixeira (Editora do Brasil). A pesquisa é baseada na coleta de dados a partir das próprias apostilas físicas.
Para realizar a análise, foram considerados os seguintes aspectos: a abordagem do conteúdo de variação linguística, a presença de exemplos, textos e atividades relacionados ao tema, a conexão com a literatura brasileira, além da clareza, completude e didática dos materiais.
A coleta de dados foi realizada por meio da leitura e análise minuciosa das apostilas, observando-se as características mencionadas anteriormente. Sendo feitas anotações e registros dos pontos relevantes encontrados em cada uma delas.
Posteriormente, os dados coletados foram organizados e comparados, identificando semelhanças e diferenças entre as abordagens das apostilas. Foi feita uma análise qualitativa dos resultados, buscando compreender como o conteúdo de variação linguística é tratado e se há uma conexão com a literatura brasileira.
Nas análises de três apostilas de língua portuguesa do 6º ano de diferentes autores, foi verificado como o conteúdo sobre variação linguística é abordado, considerando a presença de exemplos, a clareza da explicação, a profundidade do texto, a existência de explicações, o uso de obras literárias brasileiras como referência, entre outros aspectos.
A primeira apostila, Português: Linguagens, de Cereja e Cochar, apresenta uma explicação breve, porém didática, abordando o tema do preconceito linguístico. Além disso, explica alguns tipos de variação linguística, como regional, histórico, gíria, escolaridade e classe social, oralidade e escrita, formal e informal. Embora não utilize exemplos de obras literárias brasileiras, a apostila opta por utilizar histórias em quadrinhos como recursos ilustrativos, o que se mostra adequado para o público infantil do 6º ano. Ademais, são apresentados exemplos e atividades didáticas e simples, facilitando a compreensão dos estudantes.
Por outro lado, a segunda apostila, Português: conexão e uso, de Delmanto e Carvalho, não apresenta uma explicação didática. O conteúdo é difícil de ser compreendido, principalmente considerando que o público leitor são alunos do 6º ano. São citados três tipos de variação linguística (geográfica, sociocultural e individual) com breves explicações, mas sem exemplos claros. Não são utilizadas obras literárias brasileiras como referência, e a questão do preconceito linguístico não é aprofundada. Além disso, a apostila utiliza um texto retirado da internet para exemplificar a variação linguística informal – a qual é a única que possui exemplos e atividades – por meio do uso do internetês. As atividades presentes são apenas diretamente relacionadas a esse texto, dificultando a compreensão dos alunos sem o auxílio de um professor ou de material adicional.
A terceira apostila, Perspectiva Língua Portuguesa, de Discini e Teixeira, oferece uma explicação rasa e breve sobre variação linguística, sem aprofundar no tema do preconceito linguístico. Embora comente que todas as variantes são legítimas, é necessário um complemento explicativo para uma compreensão mais clara do conteúdo apresentado. A apostila cita duas variações linguísticas (geográfica e social), fornecendo breves exemplos para cada uma. O diferencial é o uso de trechos de duas obras brasileiras, “Meninos carvoeiros” de Manuel Bandeira e a clássica canção “Asa branca” de Luiz Gonzaga, como referências para ilustrar a variação linguística. Essa inclusão literária enriquece a abordagem e proporciona aos estudantes a oportunidade de relacionar a teoria com a prática através da literatura brasileira.
Em resumo, as três apostilas apresentam abordagens distintas no tratamento da variação linguística. A primeira é didática, utilizando quadrinhos e atividades simples. A segunda possui uma explicação pouco didática, linguagem complexa e poucos exemplos claros, além de não abordar o preconceito linguístico adequadamente. Já a terceira apostila oferece uma explicação breve, porém com citações de obras literárias brasileiras que enriquecem o conteúdo. Com base nessa análise, é possível perceber a importância de um material didático bem elaborado, com exemplos claros e contextualizados, que valorize tanto a teoria quanto a prática, especialmente através da literatura brasileira.
	 
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A abordagem da variação linguística nos livros didáticos é ampla e abrangente. Esses materiais reconhecem a pluralidade de línguas presentes no Brasil, não se limitando apenas às variedades rurais e regionais, mas abordando as diversas formas de variação linguística existentes. Na primeira apostila, é explicada a norma urbana de prestígio, deixando claro desde o início que ela não é a mesma que a norma-padrão e que não existe uma única forma de “certo” ou “errado”. No entanto, na segunda apostila, esse tema nem é abordado, e na terceira apostila, infelizmente, há uma confusão entre a norma-padrão e a norma culta, afirmando que a não utilização desta última prejudica a compreensão clara. Na segunda apostila, não há qualquer menção à diferença entre as normas, e a norma culta sequer é abordada, enquanto na primeira apostila, a diferença entre as normas é explicada de forma clara, como mencionado anteriormente.
As primeirase segundas apostilas trazem breves comentários sobre o português em diferentes partes do mundo, como na Europa e na África, sem tornar isso o foco principal do assunto da variação linguística. Por outro lado, a terceira apostila não aborda o português falado em outros países, limitando-se apenas às regiões do Brasil. As atividades e explicações apresentadas nas duas primeiras apostilas estão em consonância com o que foi abordado, enquanto na terceira apostila, devido à confusão na diferenciação entre a norma-padrão e a norma culta, o conteúdo sobre variação linguística não é coerente com o princípio de respeito a todas as variantes, apesar de ter explicado corretamente sobre a variação linguística. Nenhuma das apostilas retrata a fala como um erro ou a escrita como algo certo; elas reiteram constantemente que as variedades linguísticas são autênticas.
Na primeira apostila, não são apresentados textos antigos para demonstrar a mudança linguística, mas são dados exemplos de algumas gírias antigas que estão em desuso. Na segunda apostila, é utilizado o texto “O juiz de paz na roça”, de Martins Pena, como exemplo, mostrando como a língua e os costumes evoluíram ao longo do tempo. Esse texto é um ótimo exemplo para ilustrar a questão.
Figura 1 – Obra “O juiz de paz na roça” presente no livro didático
Fonte: “Português: conexão e uso” de Delmanto e Carvalho, 2018
A imagem apresenta o início da obra literária, especificamente no Ato Único, nas cenas nove, dez e onze. Em comparação às outras apostilas, essa obra se destaca como um excelente exemplo para retratar a mudança linguística e a evolução da literatura brasileira. Ao analisar o texto, podemos observar claramente as mudanças ocorridas do léxico ao longo do tempo, considerando que essa obra foi escrita em 1833. Através dessa imagem, somos transportados para uma época distante, onde a linguagem e o vocabulário utilizados eram diferentes dos padrões atuais. É fascinante notar como as palavras e expressões utilizadas naquela época podem soar estranhas ou desconhecidas para nós hoje em dia. Essa transformação no léxico ao longo dos anos é um reflexo das mudanças sociais, culturais e históricas pelas quais o Brasil passou. Portanto, a imagem apresenta o início de uma obra literária que se destaca como um exemplo significativo para ilustrar as transformações linguísticas no léxico ao longo do tempo. Ao analisar essa obra, somos levados a refletir sobre a evolução da literatura brasileira e a importância de compreendermos e valorizarmos as mudanças linguísticas como parte integrante da nossa identidade cultural.
Já na terceira apostila, é feito um breve comentário sobre o exemplo de “Vossa Mercê”, sem a necessidade de textos adicionais. Em nenhum momento, as apostilas sugerem que as variedades linguísticas não têm importância e que apenas a norma-padrão é valorizada; pelo contrário, a valorização das variações é reafirmada em todos os momentos.
Figura 2 – Exemplo de mudança linguística presente no livro didático
Fonte: “Perspectiva Língua Portuguesa” de Discini e Teixeira, 2012
A imagem mostra uma explicação breve sobre as mudanças no antigo tratamento “vossa mercê”, que deixou de ser utilizado com o tempo. Isso reflete a evolução linguística e as transformações sociais que levaram ao abandono dessa expressão formal em favor de formas mais igualitárias de tratamento. Essa mudança reflete a busca por relações mais próximas entre as pessoas e a igualdade na comunicação. Dessa forma, os livros didáticos estão caminhando no tratamento da variação linguística, abordando a diversidade linguística presente no Brasil e no mundo. Apesar de algumas inconsistências e confusões encontradas em determinadas apostilas, no geral, as variações linguísticas são respeitadas e valorizadas ao longo dos materiais.
Embora os livros didáticos estejam progredindo no tratamento da variação linguística, é importante reconhecer que as obras literárias brasileiras não estão recebendo a devida atenção e incentivo nessas apostilas. A literatura brasileira é uma manifestação cultural de imenso valor, capaz de enriquecer nossa compreensão da diversidade linguística e cultural do país. Ao negligenciar a presença e o estudo das obras literárias, perdemos a oportunidade de promover uma conexão mais profunda com nossa identidade nacional e de estimular o prazer pela leitura. É essencial que os livros didáticos e os currículos escolares incentivem ativamente a leitura e a apreciação das obras literárias brasileiras. Ao fazer isso, estaremos contribuindo para a formação de estudantes mais críticos, criativos e sensíveis à diversidade cultural.
As obras literárias oferecem uma janela para diferentes épocas, experiências humanas e perspectivas, permitindo que os alunos desenvolvam empatia, ampliem seu repertório linguístico e aprimorem suas habilidades de leitura e escrita. Além disso, ao valorizar e incluir a literatura brasileira nas apostilas, estaremos fortalecendo a indústria literária nacional, apoiando os escritores e incentivando a produção contínua de obras de qualidade. Os livros didáticos podem desempenhar um papel importante na promoção da literatura brasileira e na construção de uma sociedade mais literária e culturalmente rica. Portanto, é fundamental que os responsáveis pela elaboração dos materiais didáticos considerem a relevância e o potencial transformador das obras literárias brasileiras. Ao integrar essas obras nas apostilas, estaremos cultivando o amor pela leitura, a valorização da nossa cultura e a compreensão da diversidade linguística e cultural presentes no Brasil. Assim, estaremos formando cidadãos mais conscientes, críticos e engajados, capazes de contribuir para uma sociedade mais inclusiva, educada e conectada com suas raízes literárias.
REFERÊNCIAS
BORTONI-RICARDO, Stela Maris. Manual De Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2014.
CEREJA, William; COCHAR, Thereza. Português: linguagens, 6. 9. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2015.
DELMANTO, Dileta; CARVALHO, Laiz B. De. Português: conexão e uso, 6º ano: ensino fundamental, anos finais. 1. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
DISCINI, Norma; TEIXEIRA, Lucia. Perspectiva Língua Portuguesa, 6. 2. Ed. São Paulo: Editora do Brasil, 2012.
ELIAS, Vanda Maria. Ensino De Língua Portuguesa: oralidade, escrita e leitura (Plataforma Pearson). São Paulo: Contexto, 2011.
GOULART, Cláudia. O tratamento da diversidade e variação linguísticas em livros didáticos de Português. Letras & Letras, v. 31, n. 2, p. 188-210, 29 dez. 2015. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/letraseletras/article/view/31464/17647 . Acesso em: 12 abr. 2023.
ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O Português Da Gente:. a língua que estudamos: a língua que falamos (Plataforma Pearson). São Paulo: Contexto, 2009.
OLIVEIRA, Antônio Flávio Ferreira de; NASCIMENTO, Ilderlândio Assis de Andrade. As variedades linguísticas no livro didático Português – linguagens: uma abordagem sociolinguística. Revista Digital do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 336-349, janeiro-junho 2017. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/view/24974. Acesso em: 31 mar. 2023.
SILVA, Maria Juliane Gomes; FRANÇA, José Marcos Ernesto Santana de. O tratamento da variação linguística no livro didático de português no ensino fundamental. Miguilim – Revista Eletrônica do Netlli, V. 7, N. 1, p. 79-97, jan.-abr. 2018. Disponível em: http://periodicos.urca.br/ojs/index.php/MigREN/article/view/1565/1222 . Acesso em: 28 abr. 2023.
1 Nome dos acadêmicos
2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (FLC19692LED) – Prática do Módulo IV – 26/05/2023

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