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Módulo-1 psicossocial jovens e adolescentes

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Prévia do material em texto

Autoras
Cristiane de Freitas Cunha Grillo 
Carmen Maria Raymundo 
Luiza Buzgaib Martins
Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia 
Sílvia Helena Mendonça de Moraes 
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES
NA CONTEMPORANEIDADE:
DIFERENTES PERSPECTIVAS,
DIVERSIDADES, ASPECTOS 
ÉTNICOS E CULTURAIS
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 
DE ADOLESCENTES E JOVENS
Autoras
Cristiane de Freitas Cunha Grillo 
Carmen Maria Raymundo 
Luiza Buzgaib Martins
Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia 
Sílvia Helena Mendonça de Moraes 
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES
NA CONTEMPORANEIDADE:
DIFERENTES PERSPECTIVAS,
DIVERSIDADES, ASPECTOS 
ÉTNICOS E CULTURAIS
23-144533 CDD-362.21
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Grillo, Cristiane de Freitas Cunha
 Adolescências e juventudes na contemporaneidade
[livro eletrônico] : diferentes perspectivas,
diversidades, aspectos étnicos e culturais /
Cristiane de Freitas Cunha Grillo, Carmen Maria
Raymundo, Luiza Buzgaib Martins ; organização Rita
Maria Lino Tarcia, Sílvia Helena Mendonça de Moraes,
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento. -- Campo
Grande, MS : Fiocruz Pantanal, 2023.
 PDF 
 Bibliografia.
 ISBN 978-85-66909-40-1
 1. Comunidade e etnia 2. Cultura - Aspectos
sociais 3. Diversidade 4. Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) 5. Jovens - Aspectos sociais 
6. Jovens - Direitos I. Raymundo, Carmen Maria. 
II. Martins, Luiza Buzgaib. III. Tarcia, Rita Maria
Lino. IV. Moraes, Sílvia Helena Mendonça de. 
V. Nascimento, Débora Dupas Gonçalves do. VI. Título.
Índices para catálogo sistemático:
1. Adolescentes : Política de saúde mental : 
 Bem-estar social 362.21
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
© 2022. Fundo das Nações Unidas para a Infância – 
UNICEF. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul.
Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, 
disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em 
sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser ci-
tada a fonte e é vedada sua utilização comercial.
UNICEF
Representante Interina
Paola Babos
Coordenação do Programa de Desenvolvimento e 
Participação de Adolescentes
Mário Volpi
Coordenador
Programa de Desenvolvimento e Participação de 
Adolescentes
Gabriela Mora
Joana Fontoura
Luiza Leitão
Rayanne França
Oficiais do Programa
Daniela Costa
Higor Cunha
Marina Oliveira
Thaís Santos
Consultores do Programa
Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz
Mario Santos Moreira
Presidente em exercício
Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul – 
Fiocruz MS
Jislaine de Fátima Guilhermino
Coordenadora
Coordenação de Educação da Fiocruz MS
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Vice- coordenadora de Educação
Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS 
– UNA-SUS 
Maria Fabiana Damásio Passos
Secretária-executiva
Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul 
(Fiocruz MS)
Rua Gabriel Abrão, 92 – Jardim das Nações, Campo 
Grande/MS
CEP 79081-746
Telefone: (67) 3346-7220
E-mail: educacao.ms@fiocruz.br
Site: www.matogrossodosul.fiocruz.br
CRÉDITOS
Coordenação Geral 
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Coordenadora Acadêmica Geral
Léia Conche da Cunha 
Coordenadora Pedagógica Geral
Rita Maria Lino Tarcia
Coordenadora Acadêmica do Módulo
Eloisa Grossman
Coordenadora Pedagógica do Módulo
Ewângela Aparecida Pereira
Autoras 
Carmen Maria Raymundo
Cristiane de Freitas Cunha Grillo
Luiza Buzgaib Martins (co-autora)
Revisora Técnico-científica
Alessandra Silva Xavier
Apoio técnico-administrativo 
Antonio Luiz Dal Bello Gasparoto
Adriana Carvalho dos Santos
Coordenador de Produção 
Marcos Paulo dos Santos de Souza
Designer Instrucional
Felipe Vieira Pacheco
Webdesigner
Stephanie Oliveira Moraes Silva
Designers Gráficos
Hélder Rafael Regina Nunes Dias
Renato Silva Garcia
Desenvolvedor
David Carlos Pereira da Cunha
Desenvolvedores AVA MOODLE
Luiz Gustavo de Costa
Vinicius Vicente Soares
Editor de Audiovisual
Adilson Santério da Silva
lustrador
Kelvin Rodrigues de Oliveira
Revisor 
Davi Bagnatori Tavares
Apresentação do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CONCEITUANDO ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TRABALHO E JUVENTUDES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
E QUANDO A VIOLÊNCIA VEM DE ONDE ESPERAMOS PROTEÇÃO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
JUVENTUDES E TERRITÓRIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
SEXUALIDADES, GÊNEROS E AFETOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
JOVENS COM DEFICIÊNCIA, DIREITOS E EQUIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: DISCUTINDO MATERNIDADES E PATERNIDADES JUVENIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CONVERSANDO SOBRE FAMÍLIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES: SINGULARIDADES E DIVERSIDADES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Encerramento do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Material de apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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SUMÁRIO
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 6
apresentação do módulo
Você considera 
possível pensar em 
um único jeito de 
ser adolescente?
Fonte: Freepik
 As adolescências e as juventudes brasileiras vêm con-
quistando um novo olhar nas últimas décadas. A Constituição 
de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 
1990), o Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013) e a definição 
dos instrumentos legais de proteção a essa população repre-
sentam grandes avanços para o reconhecimento e a garantia 
dos direitos juvenis. Indicam a necessidade de compreensão 
das diversidades desses grupos populacionais e a criação de 
condições necessárias para a plena realização de suas poten-
cialidades.
Neste módulo, abordaremos alguns dos principais te-
mas que envolvem as juventudes contemporâneas e que de-
verão ser considerados pelas equipes multidisciplinares nas 
intervenções realizadas em muitos contextospor diferencia-
dos setores.
Convidamos você a conhecer as histórias de três jo-
vens moradores de um mesmo território e protagonistas de di-
ferentes trajetórias. Por meio dessas narrativas, reafirmamos o 
entendimento das adolescências e das juventudes como pro-
cessos complexos, plurais e heterogêneos de emancipação. 
A pluralidade do conceito de adolescência abrange as pecu-
liaridades existentes nas várias regiões do país, nos territórios 
rurais e urbanos, assim como nos diferentes gêneros, raças, 
etnias e classes sociais.
De acordo com Novaes (2007), os modos de vida pro-
porcionados à juventude em nossa sociedade criam o pano 
de fundo que influencia a adoção de suas práticas cotidianas. 
Se pensarmos nos jovens do século XXI, podemos constatar 
que eles vivem em um mundo globalizado, mas com profun-
das desigualdades sociais. Conforme vimos no caso comple-
xo, a condição juvenil pode ser vivida de forma desigual e di-
versa, ainda que em um mesmo território, devido a diferenças 
de raça, etnia, gênero, orientação sexual, inserção no mercado 
de trabalho, configurações familiares etc.
Nesse contexto, existem situações diferenciadas de 
vulnerabilidade juvenil. Não podemos, portanto, homogenei-
zar a categoria juventude. Em cada tempo e lugar, fatores his-
tóricos, estruturais e conjunturais determinam as vulnerabilida-
des e as potencialidades das juventudes.
Assim, é fundamental refletir sobre questões ligadas 
às novas configurações familiares, às identidades de gênero e 
orientações sexuais, às violências, à desigualdade de direitos 
e oportunidades, à gravidez na adolescência, ao trabalho, en-
tre tantos outros aspectos.
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/crianca-e-adolescente/publicacoes/o-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/509232/001032616.pdf
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 7
Falamos em adolescências e juventudes no plural por 
considerarmos a diversidade dessas experiências no Brasil. Se 
a puberdade é um fenômeno biológico e universal, as adoles-
cências e juventudes são experiências sócio e culturalmente 
construídas. O que você pensa sobre ser adolescente e jovem 
em uma cidade grande, em um município pequeno, na zona 
rural, nas comunidades indígenas, quilombolas etc.? Você co-
nhece adolescentes e jovens que vivem essas experiências 
diversas?
Neste módulo, falaremos também da puberdade, que 
invade o corpo da criança, provocando às vezes um sentimen-
to de estranheza. O conceito de puberdade está ligado às mo-
dificações hormonais que podem começar a partir dos oito 
anos nas meninas e nove anos nos meninos e provocam au-
mento das mamas, dos pelos, dos testículos e do pênis. Nes-
sa fase, o crescimento acelera – é o que chamamos estirão da 
puberdade.
Nesse momento, ocorre, também, um intenso proces-
so de maturação cerebral. Até o século passado, acreditava-se 
que o cérebro finalizasse seu processo de desenvolvimento 
aos 10 anos de idade. Hoje, sabemos que isso acontece além 
do período definido como adolescência, especialmente a 
possibilidade de controlar os impulsos e de planejar decisões.
 Iremos abordar também as adolescências e juventu-
des, sempre no plural, porque são muitas experiências e muito 
diversas. Raça, etnia, gênero, orientação sexual, território etc. 
marcam profundamente cada adolescência e juventude.
 Para falar de adolescentes e jovens, é fundamental fa-
lar das famílias e dos territórios. Vamos indicar algumas leitu-
ras, filmes, músicas, entre outros materiais, ok? Veja na lista de 
referências o que você vai ler, ver ou ouvir!
Vamos pensar em quantas famílias diferentes umas das 
outras você conhece? E em quantos lugares e modos de viver 
existem?
Agora que você já conhece os rumos da nossa prosa, 
fica uma dica: cada adolescente ou jovem é único! As receitas 
prontas não dão conta da singularidade das pessoas. Por esse 
motivo, nossa proposta é de conversarmos e trocarmos ideias, 
não fornecer um guia de como você deverá atuar.
Saiba mais
Despertou seu interesse em conhecer 
mais sobre a puberdade? Siga explorando 
o tema Saúde do adolescente, clicando no 
ícone ao lado. Esse e-book trata da saúde 
de adolescentes e aprofunda as questões 
sobre puberdade e adolescência. clique e
acesse
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/registro/referencia/0000002738
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 8
Estamos juntos aprendendo a melhor forma de nos 
aproximarmos dos adolescentes e jovens. Você concorda 
que, na hora de “se abrir”, é necessário escolher bem com 
quem falar?
Sabemos da importância de uma escuta atenta, inte-
ressada e desprovida de preconceitos. A lealdade e a possibi-
lidade de compartilhar segredos e dúvidas são fundamentais. 
Nas sociedades contemporâneas, as pessoas experimentam 
novas formas de relacionamento por meio das redes sociais e 
de outras tecnologias de comunicação, tanto no mundo real 
como no virtual. Estar junto dos adolescentes e dos jovens é 
reconhecer o potencial criativo e a pujança de vida e, acima de 
tudo, não menosprezar as questões que os preocupam e que 
lhes trazem sofrimento.
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 9
CONCEITUANDO ADOLESCÊNCIAS 
E JUVENTUDES
Por falar em adolescentes e jovens, que tal conceituar-
mos ADOLESCÊNCIA e JUVENTUDE?
Na atualidade, o Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013) 
oficializou a juventude como categoria que congrega pessoas 
com idades entre 15 e 29 anos. A Política Nacional de Juventude 
(BRASIL, 2006) considera adolescentes-jovens pessoas entre 15 
e 17 anos, jovens-jovens as pessoas que estão entre 18 e 24 anos 
e jovens-adultos as que estão entre 25 e 29 anos.
Existem diferentes definições de adolescência e juventu-
de, mas é importante ressaltar que o entendimento da adoles-
cência enquanto um período particular da vida, situado entre a 
infância e a vida adulta, é recente na história da humanidade. O 
conceito de adolescência é cultural, pois a forma como cada so-
ciedade interage com os jovens é particular e está inserida em 
contextos socioculturais e históricos. Nesse sentido, é importan-
te lembrar que a categoria adolescência emerge no século XIX, 
quando há uma importante mudança na sociedade: a passagem 
de uma experiência coletiva para o fortalecimento do espaço 
privado e da família. Esse movimento inspirou a necessidade de 
proteger as crianças e os jovens e deu destaque aos colégios 
como instituições essenciais da sociedade. Crianças e adoles-
centes passaram a frequentar as escolas, destinadas a indivíduos 
de 10 a 25 anos, sob a influência de especialistas adultos e práti-
cas pedagógicas que enfatizavam a formação moral, religiosa e 
intelectual.
Esse grupo populacional apresenta um padrão de mor-
bimortalidade – isto é, de adoecimento e morte – com caracte-
rísticas específicas. Apesar das diferenças observáveis entre os 
diversos países, entre as Regiões do Brasil, estados, municípios 
e suas culturas locais, podemos dizer que, em linhas gerais, os 
jovens adoecem e morrem por causas externas e evitáveis. Será 
que nossos serviços têm atentado para essa particularidade? Se 
sim, como alcançar a juventude com vistas à prevenção desses 
agravos e promoção de suas condições de vida?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007), 
a adolescência vai dos 10 aos 20 anos incompletos. Já 
no Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA), Lei n. 
8069, de 1990, ela inicia aos 12 e termina aos 18 anos. 
Pelo Código Civil Brasileiro, atinge-se a maioridade aos 18 
anos, entretanto é permitido votar a partir dos 16 anos.
Fonte: Freepik
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 10
Você já havia pensado sobre isso? Em seu cotidiano, você 
conhece jovens que adoeceram ou morreram devido a causas 
externas1 (acidente, homicídio, suicídio, enchente, afogamento, 
envenenamento etc.)? Você já participou de algum movimento 
organizado para a promoção da saúde e prevenção de agravos? 
 
 Ainda sobre as causas externas de mortalidade entre os 
jovens, os acidentes de trânsito relacionados com o trabalho 
têm, atualmente, uma taxa alta de ocorrência. Você já pensou na 
relação entre trabalho e acidentes de trânsito? É sobre o que va-
mos conversar a seguir.
1 Sobre a morte juvenil por causas externas, o Atlas da Violência tem sido um referencial importante. Na seção sobre violências e 
juventudes, apresentaremos os dados mais recentes. 
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 11
TRABALHO E JUVENTUDES
Já reparou como na paisagem contemporânea tem sido 
muito comum nos depararmos com adolescentes e jovens em 
motocicletas, bicicletas e até mesmo a pé carregando mochilas 
de entrega? Na verdade, ainda conhecemos pouco seus cotidia-
nos de trabalho, possíveis situações de risco à saúde e, em es-
pecial, de que forma interpretam o trabalho e a si mesmos como 
trabalhadores. 
Proposição
Feedback positivo: Feedback orientador: 
Você avalia que o trabalho possa ter implicações na saúde 
juvenil? Você já pensou que existe uma possível relação en-
tre a experiência de trabalho na adolescência e na juventude 
e o aproveitamento escolar, a necessidade de tempo livre e a 
convivência familiar e comunitária?
A realidade do trabalho juvenil ilustra que, apesar dos direitos 
assegurados pelo arcabouço jurídico-legal, ainda são pou-
cos ou inexatos os dados conhecidos acerca da ocorrência 
de doenças e acidentes de trabalho neste grupo populacio-
nal, assim como das situações de risco à saúde às quais as 
pessoas desse grupo estão expostas durante as experiên-
cias de trabalho de que participam.
Uma maior aproximação com a diversidade dos universos ju-
venis no Brasil tem no tema trabalho uma mediação da maior 
importância, pelos possíveis impactos originados por esta 
experiência, na qualidade de vida deste grupo populacional. 
É fundamental aferir se os jovens com os quais trabalhamos 
estão inseridos em atividades de trabalho.
?
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 12
De acordo com Novaes (2007), ser jovem é viver uma con-
traditória convivência entre as normas e valores familiares e sociais 
e, ao mesmo tempo, grandes expectativas de emancipação. Os 
jovens do século XXI vivem uma experiência geracional em co-
mum e historicamente inédita: a aceleração da globalização e o 
agravamento das desigualdades. Assim, as características do tem-
po contemporâneo compreendem: as mudanças tecnológicas do 
mundo do trabalho (mutante e restrito), maior violência simbólica e 
física, além da evidência dos riscos ecológicos. Esses marcadores 
relacionam-se com a vivência contemporânea juvenil, caracteriza-
da por múltiplas entradas e saídas do mundo do trabalho e da es-
cola. Temos uma juventude com escolaridade cada vez maior em 
relação às gerações anteriores, mas, por outro lado, o mundo do 
trabalho não tem correspondido a esse novo patamar de escolari-
dade. Isso tem gerado entre os jovens o medo “de sobrar”.
Conforme vimos nas histórias de José Ribamar e de seus 
amigos, apesar de a Lei no 12.009 (BRASIL, 2009) regulamentar 
serviços como mototaxista e motoboy, sabemos, pelo Ministério 
da Saúde (GIANNINI, 2018), que os motoboys são os que mais 
sofrem acidentes. Porém, esses acidentes, que por vezes trazem 
consequências sérias, não são considerados acidentes de tra-
balho, e sim acidentes de trânsito. Esse fato mascara quanto as 
formas de trabalho contemporâneas podem representar riscos 
à saúde juvenil, assim como a ausência de direitos trabalhistas e 
previdenciários (RAYMUNDO; VEIGA, 2013). Orientações impor-
tantes sobre essa temática podem ser encontradas no Módulo 
de autoaprendizagem sobre Saúde e Segurança no trabalho In-
fantil e Juvenil, organizado pela Organização Internacional do 
Trabalho (2007). 
Esse contexto tem significado, sobretudo, para jovens 
das camadas populares, jovens negros, jovens LGBTQIA+ 
e mulheres, que habitualmente se inserem precocemente 
no mundo do trabalho informal e sem garantia de direitos.
Saiba mais
Vamos ver um curta que aborda o cotidiano, 
as dificuldades, os medos e os sonhos de mo-
toboys que circulam na cidade de São Pau-
lo? Clique no ícone, faça seu cadastro e assis-
ta ao vídeo. Nele é possível identificar alguns 
problemas apresentados em nosso caso de 
estudo: os acidentes, a ausência de direitos, a violência a 
que estão submetidos e o preconceito. Os acidentes de 
trabalho não são as únicas causas externas de morbimor-
talidade entre os jovens. Há também uma preocupação 
muito elevada com a violência, assunto que merece nossa 
atenção e que iremos agora saber um pouco mais! 
Fonte: WikiMedia
clique e
acesse
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/modulos_autoaprendizagem_trabalho_infantil_juvenil.pdf
https://portacurtas.org.br/filme/default.aspx?name=cachorro_louco
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 13
E QUANDO A VIOLÊNCIA VEM 
DE ONDE ESPERAMOS PROTEÇÃO?
Nos relatos dos jovens, também chamaram a atenção al-
guns episódios de violência perpetrados por agentes públicos. 
Você sabia que existe um conceito para nomear essas situações?
Estamos falando da violência institucional, que pode 
ser observada nas práticas discriminatórias em razão de diferen-
ças de território, gênero, raça, etnia, orientação sexual e religião, 
que são terreno fértil para a ocorrência desse tipo de violência.
Zizek, um intelectual da Eslovênia, em seu livro Violência 
(2014), propõe uma distinção entre agressão e violência. Habi-
tuamo-nos a pensar que só há violência quando há agressivida-
de, entretanto esse autor discute que há dois tipos de violência: 
subjetiva e objetiva. A subjetiva é visível e a objetiva, invisível. 
Para ele, a violência subjetiva é aquela exercida pelos 
agentes sociais, pelos indivíduos maléficos, pelos aparelhos re-
pressivos do Estado e pelas multidões fanáticas. A violência sub-
jetiva, por ser mais facilmente identificada, pode desviar a aten-
ção das outras formas de violência que estariam acontecendo. 
A violência objetiva se divide em duas modalidades: vio-
lência sistêmica e violência simbólica. A violência sistêmica, apoia-
da pelas relações sociais, políticas e econômicas, sustenta laços 
de dominação e exploração. Essa forma de violência é invisível 
e pode utilizar o poder político, econômico ou midiático para se 
consolidar. Já a violência simbólica está encarnada na linguagem 
e em suas formas, impondo um certo universo de sentido. As vio-
lências sistêmica e simbólica constituem um ciclo no qual uma 
sustenta a outra em um decurso imperceptível e dissimulado. 
No caso complexo, identificamos uma violência subjetiva, 
explícita, no relato de Renata, quefoi expulsa de casa, de alguma 
forma da escola e trabalhava na exploração sexual comercial.
A violência institucional é aquela praticada pela ação e/
ou pela omissão das instituições prestadoras de servi-
ços públicos, como hospitais, postos de saúde, escolas, 
delegacias, Judiciário, entre outras, no exercício de suas 
funções. É perpetrada por agentes que deveriam garantir 
atenção humanizada, preventiva e reparadora de danos.
Violência Subjetiva -
Violência Objetiva -
A violência sistêmica pode 
ser vista no trabalho preca-
rizado de José e na falta de 
acesso aos banheiros na 
escola de Lucca.
A violência simbólica surge 
na fala da Renata quando 
ela conta que seu nome so-
cial não foi respeitado no 
centro de saúde.
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Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 14
As violências incidem sobre as vidas dos jovens sob a for-
ma de genocídio, de extermínio violento, mas também de segre-
gação, evasão escolar, sofrimento psíquico etc.
RACISMO
Com relação especificamente às práticas discriminatórias 
que têm como base o racismo, a médica Jurema Werneck, ativis-
ta do movimento de mulheres negras e doutora em Comunica-
ção e Cultura, alerta-nos que, no nosso país, elas se manifestam 
de forma institucional, seja na forma de exclusão, prioridades ou 
metas de realização das diversas instituições sociais, nas áreas 
da educação, do mercado de trabalho, da política, da segurança 
pública, da esfera privada e, também, da saúde.
Vamos discutir mais sobre o racismo! Você conhece os 
dados sobre violência contra jovens negros no Brasil?
Veja o que os autores do Atlas escreveram na página 27:
Vidas ceifadas, sonhos não sonhados, amores e dores 
não vividos. 
A banalização dessas mortes violentas, também um sinto-
ma do racismo, esvazia até o luto. É mais um... Como se esse um 
não contasse e não tivesse um nome, uma história, uma família, 
um lugar onde morava, um amigo e um possível futuro, que foi 
destruído.
Um jovem bacana como o nosso José Ribamar, um so-
nhador, um líder, é também um suspeito, um alvo dessa violência 
que marca nosso país.
O problema é enorme, não é mesmo? Porém, não pode-
mos deixar de destacar que os jovens vêm elaborando formas de 
resistência, ainda que elas nem sempre sejam percebidas e valo-
Saiba mais
Vamos ver os dados do Atlas da Violência 
de 2021? É só clicar no ícone ao lado. Esse 
documento, entre outros dados, traz infor-
mações sobre a violência contra as pessoas 
negras. 
Com efeito, no Brasil a violência é a principal causa 
de morte dos jovens. Em 2019, de cada 100 jovens entre 
15 e 19 anos que morreram no país por qualquer causa, 39 
foram vítimas da violência letal. Entre aqueles que possuíam 
de 20 a 24, foram 38 vítimas de homicídios a cada 100 óbi-
tos e, entre aqueles de 25 a 29 anos, foram 31. Dos 45.503 
homicídios ocorridos no Brasil em 2019, 51,3% vitimaram 
jovens entre 15 e 29 anos. São 23.327 jovens que tiveram 
suas vidas ceifadas prematuramente, em uma média de 64 
jovens assassinados por dia no país. 
clique e
acesse
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/5141-atlasdaviolencia2021completo.pdf
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rizadas em sua potencialidade. Lembra-se de como foi bacana o 
encontro entre José, Lucca e Renata? Ali existe potência! Como 
bem interpretam Coimbra e Nascimento, os jovens periféricos:
teimam em continuar existindo, apesar de 
tudo; suas resistências se fazem cotidiana-
mente, muitas vezes, percebidas como frag-
mentadas, fora dos padrões reconhecidos 
como organizados e até mesmo como con-
dutas antissociais, delituosas e, por isso, ‘pe-
rigosas’ (COIMBRA; NASCIMENTO, 2005, p. 
13).
Os jovens negros são alvos do extermínio violento, do 
estigma, do lugar da suspeição. É importante verificarmos como 
as nomeações estigmatizantes afetam cada jovem e como eles 
criam e disseminam estratégias de sobrevivência. O racismo, 
conhecido por pessoas negras desde a mais tenra idade, pode 
gerar impactos de grande gravidade. Um estudo de Harvard 
(IDOETA, 2020) aponta quatro efeitos do racismo no cérebro e 
no corpo de crianças negras: um corpo em constante estado de 
alerta; maior chance de adquirir doenças crônicas ao longo da 
vida; assimetria no acesso à saúde e à educação; relações fami-
liares atravessadas pelo racismo. A violenta experiência do ra-
cismo afeta a socialização de adolescentes negros de múltiplas 
formas: no âmbito de sua saúde mental, expressa em altos índi-
ces de depressão e suicídio; no direito à vida, tendo em vista os 
alarmantes números de jovens negros mortos por homicídio e de 
jovens mães negras e seus filhos vítimas de violência obstétrica; 
na construção de suas subjetividades e identidades diante de si-
tuações de discriminação. 
Esses jovens exercem “resistência” em um território defi-
nido, em um espaço em que os acontecimentos e fatos ocorrem, 
em que a existência se manifesta e a vida flui. Por isso, é muito 
importante conversarmos sobre território.
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JUVENTUDES E TERRITÓRIOS
Conforme vimos no caso, é relevante observar a impor-
tância do território para a socialização dos jovens. A quadrilha, 
por exemplo, constitui um patrimônio cultural que confere iden-
tidade àqueles jovens. Dessa forma, o conceito de território tem 
um significado bem mais amplo do que uma mera delimitação 
espacial. O geógrafo Milton Santos nos ensina que o território é 
um organismo vivo, dinâmico: 
Devemos entender o território como o lugar 
onde se realizam todas as ações, paixões, 
poderes, forças e fraquezas; sendo ele o lu-
gar onde a história do homem se realiza a 
partir da manifestação de sua existência [...]. 
O território é o fundamento do trabalho; do 
lugar da residência; das trocas materiais e 
espirituais e do exercício da vida (SANTOS, 
2007, p. 14). 
Partindo desse entendimento sobre território, é importan-
te saber: 
• Quem são os jovens atendidos em seu serviço?
• Em que territórios e contextos sociais estão inseridos?
• Quais são os lugares, serviços e/ou instituições no terri-
tório nos quais os jovens podem procurar ajuda?
• Você avalia que existem espaços para as demandas tra-
zidas pelos jovens?
No trabalho realizado com jovens, a pesquisadora Ga-
briela Calazans (2006) afirmou que as ações bem-sucedidas são 
“as que têm conseguido alargar a compreensão dos contextos 
de vida juvenil, sem se limitar à prevenção de comportamentos 
de risco” (CALAZANS, 2006, p. 37). E mais: os serviços precisam 
reconhecer os jovens como sujeitos autônomos, com os quais se 
pode e se deve dialogar.
Conforme vimos no caso que inaugura este módulo, con-
vidar os jovens para compor reuniões intersetoriais e escutar suas 
histórias é uma estratégia bastante interessante! Saber quem são, 
onde se reúnem nos territórios e quais são suas necessidades 
é um excelente ponto de partida para uma aproximação com os 
jovens. Chamá-los para a construção de ações, valorizar suas ex-
periências pessoais e propor a participação criativa e o fortaleci-
mento da autonomia dos jovens pode render ótimos frutos aos 
trabalhos desenvolvidos com esse grupo. 
Para o fortalecimento do protagonismo e autonomia dos 
jovens, sobretudo os adolescentes, conhecer mais sobre eles é 
fundamental, assim como estabelecer um diálogo afetivo e aco-
lhedor. 
Vamos então saber um pouco mais sobre essa fase tão 
importante da vida?
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SEXUALIDADES, GÊNEROS E AFETOS
Na adolescência, o corpo passa por diversas transforma-
ções. Alguns adolescentes ficam em guerra permanente com a 
sua imagem. Passam horas na frente do espelho para identificar 
e pensar em formas de modificar o que os desagrada. Em algu-
mas situações, fazem isso por não se identificarem com o gênero 
que sua imagem mostra; em outras, pressionados pelos padrões 
estéticos hegemônicos, acreditam que um caminho rápido para 
ser aceito e admirado pelo grupo seja ficar parecido com alguma 
figura pública de destaque: artista, atleta, blogueira etc. 
O mercado e a sociedade habitualmente fomentam pa-
drões hegemônicos voltados para o consumo. Não é sem dificul-
dade que cada adolescente e cada jovem constroem seu corpo 
e sua identidade fora desses padrões.
Podemos avaliar, ainda, que a tentativa de criar padrões 
hegemônicos de gênero, de orientações sexuais, de identidades 
de gênero, estéticos, entre outros constitui estratégia de poder 
em uma sociedade fundada em desiguais relações sociais.
Apesar de já percebermos algu-
mas pequenas mudanças na sociedade, 
em geral, na TV e nas redes sociais, as 
mulheres são magras e têm cabelos lisos 
e os homens são altos e atléticos. 
A popularização das cirurgias 
plásticas e a procura desenfreada pelo 
corpo perfeito têm exposto vários ado-
lescentes a riscos desnecessários e a 
uma série de frustrações, porque os re-
sultados dessa busca nem sempre for-
talecem a autoestima nem melhoram a 
aceitação social. 
Reflita sobre o sofrimento que 
surge quando acontecem as mudanças 
da puberdade, quando há discrepância 
entre o sexo biológico e a identidade de 
gênero com a qual a pessoa se identifica.
Fonte: Freepik
Fonte: Pixabay
Fonte: Pixabay
Fonte: Pixabay
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Conversando sobre sexualidade
A sexualidade faz parte de um conjunto de temas que, 
quando discutidos, contribuem para o conhecimento de si e 
do outro. Viver a sexualidade de maneira responsável, com 
menos riscos e com respeito, é uma questão fundamental dos 
direitos humanos. Conversar sobre sexualidade possibilita o 
esclarecimento de dúvidas, perceber que a própria sexualidade 
não é esquisita e até mesmo alertar para a necessidade de 
procurar um profissional de saúde.
É importante dizer que tudo que vivemos e sentimos 
acontece no nosso corpo. Assim, não é possível separar a 
sexualidade do corpo ou pensar o corpo sem considerar a 
sexualidade. 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a se-
xualidade não é sinônimo de relação sexual. A sexualidade refe-
re-se a tudo aquilo que somos capazes de sentir e de expressar:
A sexualidade faz parte da personalidade de 
cada um, é uma necessidade básica e um 
aspecto do ser humano que não pode ser 
separado de outros aspectos da vida. Sexua-
lidade não é sinônimo de coito (relação se-
xual) e não se limita à ocorrência ou não de 
orgasmo. Sexualidade é muito mais que isso, 
é a energia que motiva a encontrar o amor, 
contato e intimidade e se expressa na forma 
de sentir, nos movimentos das pessoas, e 
como estas tocam e são tocadas. A sexuali-
dade influencia pensamentos, sentimentos, 
ações e interações e, portanto, a saúde física 
e mental. Se saúde é um direito humano fun-
damental, a saúde sexual também deveria 
ser considerada um direito humano básico 
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1975, 
apud VIVENDO A ADOLESCÊNCIA, 2022). 
O que você entende por sexualidade? E gênero? O que é 
identidade de gênero? E papel e expressão de gênero? E orien-
tação sexual?
Para começarmos, é fundamental esclarecer que sexo e 
gênero são palavras que traduzem conceitos diferentes! 
De acordo com Matos (2015), sexo refere-se às caracte-
rísticas físicas humanas relacionadas à materialidade do corpo, 
como órgãos sexuais, genoma, formato do corpo etc. 
Já o conceito de gênero passou a ser utilizado pelas ciên-
cias sociais para o estudo de aspectos sociais nas identidades 
do que é ser masculino ou feminino, considerando-se o entendi-
mento de que não existem determinações naturais para compor-
tamentos propriamente masculinos ou femininos. 
Sexo
Gênero
-
-
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Assim, entende-se que a forma como homens e mulheres 
devem se comportar vem sendo construída por meio de um in-
tenso e complexo processo de aprendizagem sociocultural que 
define o que é prescrito para cada sexo, assim como para a homo 
e a heterossexualidade – frequentemente de forma assimétrica 
e, convém ressaltar, tendo como base a supremacia masculina e 
heterossexual (MATOS, 2015).
Distinguindo esses conceitos, foi possível compreender 
que as definições do que é ser homem ou mulher são, na ver-
dade, construções sociais e históricas, motivo pelo qual Scott 
(1998 apud MARTINS, 2021) afirma que gênero é uma categoria 
historicamente determinada para justamente tornar visível a dife-
rença entre homens e mulheres. De acordo com Martins (2021, 
p. 16), “[...] é nesta esteira que são construídos e delimitados pa-
péis sociais atribuídos ao masculino e ao feminino, sendo vistos 
com estranhamento e mesmo sendo oprimidos quaisquer com-
portamentos que fujam à lógica socialmente padronizada”.
Você conhece algum adolescente que se nomeia trans 
ou não binário? E adolescentes que se nomeiam homossexuais, 
bissexuais, assexuados? 
Nesse contexto, identidades trans podem abalar a estru-
tura do senso comum e das racionalidades que associam sexo a 
gênero, confrontando esse entendimento! 
Para Martins (2021), a “transexualidade é uma experiência 
identitária, caracterizada pelo conflito com as normas de gênero” 
(BENTO, 2008, p. 18 apud MARTINS, 2021, p. 16). Já Almeida e 
Saiba mais
Vamos assistir a um vídeo sobre sexualida-
des na adolescência? Você reparou que o 
termo sexualidades está no plural? Vamos 
lá. É um vídeo bem curtinho, clique no íco-
ne ao lado. Nesse vídeo podemos esclare-
cer alguns pontos:
Sexo biológico – masculino ou feminino (características ge-
notípicas e fenotípicas) 
Papel sexual – determinada cultura considera como con-
duta masculina ou feminina (é dinâmico – perspectiva de 
gênero) 
Orientação do desejo ou orientação sexual – homosse-
xual, heterossexual ou bissexual (não depende de “esco-
lhas conscientes”) 
Identidade sexual – quem acreditamos ser
clique e
acesse
https://www.youtube.com/watch?v=8VW9DAz-fWU&list=PLl6cIaEsBeBSMw1wilmM40ACO1mhIARDv&index=2
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Murta (apud MARTINS, 2021) nos fazem pensar com a seguinte 
provocação: “para muitas/os o conflito existe, mas ele não é ne-
cessariamente um conflito com as normas de gênero, mas sim 
com o gênero que foi imposto e com a impossibilidade de trânsi-
to identitário” (ALMEIDA; MURTA, 2013, p. 386 apud MARTINS, 
2021, p. 17).
Você acha que a diversidade de gênero e de orientação 
sexual tem relação com a saúde e com a escola?
Como vimos, o período da adolescência envolve comple-
xas mudanças e elaborações sociais, comportamentais, físicas 
etc. Por isso, 
Não raro, neste período os/as jovens se en-
tendem acerca de sua sexualidade e iden-
tidade de gênero, identificando-se como 
heterossexuais, homossexuais, bissexuais,cisgêneros, não-binários, transexuais… Tal 
processo, senão devidamente acolhido e 
compreendido pelos serviços e profissionais 
pelos quais os/as adolescentes são assisti-
dos, gera a agudização de angústias e refle-
te na qualidade de vida e das necessidades 
de saúde destes jovens (GRANEIRO; MAR-
TINS, 2019, p. 3).
Proposição
Você já pensou na importância do nome social? Vamos pen-
sar no impacto para um adolescente de não ter o nome so-
cial acolhido e respeitado na escola, no centro de saúde etc?
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
Nome social é o modo como a pessoa se autoidentifica e é 
reconhecida, identificada, chamada e denominada na sua 
comunidade e no meio social, uma vez que o seu nome civil, 
isto é, seu nome de registro não reflete a sua identidade de 
gênero.
Se considerarmos a grande evasão escolar por parte de tra-
vestis e transexuais e portadores de outras identidades de 
gênero que estão em desacordo com seu registro, conce-
der o nome social significa promover o acesso aos espaços 
educacionais (também de saúde e outros) a esses grupos 
histórica e sistematicamente marginalizados (https://www.
ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/
nome-social/)
Não acolher o nome equivale a não acolher a diferença, a 
diversidade. Estamos vendo aqui que cada adolescente é 
diferente do outro, cada um de nós tem a sua marca singular. 
Esse acolhimento pode definir o destino de um jovem, como 
vemos aqui com Lucca e Renata.
?
https://www.ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/nome-social/
https://www.ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/nome-social/
https://www.ufsm.br/pro-reitorias/pre/observatorio-de-direitos-humanos/nome-social/
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No nosso caso complexo, você conheceu Lucca, jovem 
trans engajado que tem uma família que o apoia, que frequenta 
uma escola que tem ouvido algumas de suas demandas e que 
conversa com a rede de saúde.
Conhecemos também Renata, adolescente trans que foi 
expulsa de casa, está fora da escola, vive em uma ocupação e 
trabalha na exploração sexual comercial.
Infelizmente, histórias como a de Renata são comuns. 
Além da sexualidade, a violência relacionada às diversi-
dades sexuais e de gênero também é outro assunto que precisa 
ser discutido. Afinal, vivemos em um país que lidera a estatística 
de mortes violentas contra pessoas trans e travestis. 
Vamos ler o que os autores escreveram na página 58 do Atlas:
Saiba mais
Esse assunto despertou seu interesse? Vamos 
ver o informe de 2022 da Associação Nacional de 
Travestis e Transexuais do Brasil (ANTRA) (BENE-
VIDES, 2022)? É só clicar aqui. Esse informe traz 
informações sobre violências e assassinatos de 
travestis e transexuais brasileiras em 2021.
Podemos ver também os dados da violência con-
tra a população LGBTQIA+ no Atlas da Violência 
2021. Esse estudo apresenta um diagnóstico da 
situação de distintas formas de violência na socie-
dade brasileira.
A violência contra pessoas LGBTQI+ no Brasil é um 
fenômeno histórico. Na dimensão simbólica, a violência 
opera ora pelo recurso ao holofote lançado sobre a ideia de 
um modelo único e compulsório de família nuclear, cis, hete-
rossexual e biparental, que apaga as diversidades sexuais e 
de gênero (MELLO, 2006), ora pelo recurso aos estereótipos 
e estigmas que marcam LGBTQI+ como agentes desviantes, 
de contaminação e degeneração, recorrendo a discursos 
morais, sociais, biológicos, religiosos e médicos. Na dimen-
são corporal, a violência se materializa na forma de abando-
no, estupros “corretivos”, assassinatos e espancamentos. 
Ainda que diferentes, as violências corporais e simbólicas 
se sobrepõem, visando aniquilação, apagamento e silencia-
mento de sexualidades e expressões de gênero dissidentes 
do modelo único cis hétero historicamente imposto no Bra-
sil, que ganhou força recentemente com a ascensão de mo-
vimentos moralistas anti-LGBTQI+ operados pela narrativa 
de suposta priorização da infância e da família (KALIL, 2020) 
(CERQUEIRA et al., 2021, p. 58).clique eacesse
clique e
acesse
https://antrabrasil.files.wordpress.com/2022/01/dossieantra2022-web.pdf
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/5141-atlasdaviolencia2021completo.pdf
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Dois gráficos ajudam a observar a incidência da violência 
contra a população LGBTQIA+, de acordo com raça/cor, eviden-
ciando diferentes fatores que atribuem maiores graus de vulne-
rabilidade. 
FIGURA 1 – BRASIL: PERFIL DE PESSOAS VÍTIMAS DE 
VIOLÊNCIAS, POR ORIENTAÇÃO SEXUAL, POR RAÇA/COR 
(2019)
De acordo com os dados dispostos na Figura 1, pode-se 
observar que pessoas negras eram a maioria das vítimas. No que 
tange à diversidade de orientação sexual, considerando apenas 
a população negra, 55% das vítimas eram heterossexuais, 55% 
eram homossexuais e 54% eram bissexuais (CERQUEIRA et al., 
2021).
FIGURA 2 – BRASIL: PERFIL DE PESSOAS TRANS VÍTIMAS DE 
VIOLÊNCIAS, POR RAÇA/COR (2019)
De acordo com os dados dispostos na Figura 2, pode-
-se observar que pessoas negras também são mais vulneráveis à 
violência relacionada à identidade de gênero: 58% das travestis, 
58% das mulheres trans e 60% dos homens trans vítimas de vio-
lência eram negros (CERQUEIRA et al., 2021)
Nessa direção, as políticas públicas de focalização refina-
da voltadas às intersecções entre gênero e raça são fundamen-
tais para o enfrentamento das violências que atingem ambos os 
grupos. No entanto, pessoas trans negras têm necessidades que 
demandam ainda mais focalização.
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Você está estudando as relações entre raça, gênero, fa-
tores sociais, econômicos, entre outros. As vulnerabilidades vão 
se entrelaçando e devemos pensar nessas intersecções para 
podermos enfrentar essas violências. A constituição de redes de 
cuidado intersetoriais é um importante fator de proteção para a 
saúde mental dos jovens mais vulneráveis. A criação de espaços 
de convivência e de vínculos entre as famílias e entre jovens é 
fundamental.
Apesar de todos os avanços na construção e implemen-
tação de políticas públicas, reconhece-se que o racismo e a 
intolerância religiosa persistem na sociedade brasileira. Essas 
duas dimensões das relações raciais no Brasil são, sabe-se, his-
tóricas e, como afirmam muitos militantes do movimento negro e 
pesquisadores, assumem, na atualidade, novas formas e reinven-
tam-se. Quando traçamos o perfil dos jovens que são diretamen-
te atingidos pela violência urbana, podemos afirmar que, em sua 
grande maioria, são homens negros (“pretos” e “pardos”, segun-
do a classificação do IBGE) com baixa escolaridade e moradores 
de periferia. Porém, também constitui fator de grande vulnerabi-
lidade o pertencimento à população LGBTQIA+.
Uma forma de violência institucional é não considerar as 
diversidades juvenis, que abrangem o cotidiano, a socialização e 
as necessidades dos jovens portadores de deficiências. 
O que podemos falar sobre as pessoas com deficiência? 
Como os adolescentes e jovens vivem as diversas deficiências? 
Você já pensou sobre isso? Vamos conversar um pouco mais so-
bre esse assunto...
Proposição
São muitas as violências e muito complexas, já que estão en-
trelaçadas. A violência na fala, no discurso, às vezes é sutil e 
se encontra tão naturalizada que não a chamamosde violên-
cia. Você pensa em algum exemplo?
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
Muitas crianças negras sofrem o racismo, que é chamado de 
bullying muitas vezes, velando a violência racial. É importan-
te nomear a violência como tal, para poder enfrentá-la.
É importante uma atenção constante para detectarmos em 
nós e no nosso trabalho as evidências, às vezes discretas, 
mas não menos violentas, do racismo, do machismo, da 
transfobia, da intolerância religiosa etc. Devemos ver e expli-
citar as violações, violências, vulnerabilidades, mas sempre 
com um olhar para o outro que realce sempre sua potência.
?
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JOVENS COM DEFICIÊNCIA, 
DIREITOS E EQUIDADE
Será que temos olhado para as pessoas com deficiên-
cia e para as necessidades delas tentando enxergar além da 
deficiência? Para que efetivamente ocorra a inclusão dessas 
pessoas, é importante refletir sobre os conceitos de igualdade 
e equidade. Enquanto a igualdade pressupõe tratamento iguali-
tário a todos, a equidade busca garantir que pessoas diferentes 
recebam tratamentos adequados às suas necessidades. Como 
exemplo, podemos refletir sobre as ações referentes à saúde se-
xual e reprodutiva de pessoas com deficiência: em geral, famílias 
e profissionais estão despreparados para lidar com pessoas sob 
seus cuidados e orientá-las. Popularmente, considera-se que 
pessoas com deficiência tenham uma sexualidade incompleta, 
como reflexo de sua deficiência. Devemos sempre lembrar da 
potência, da dignidade e dos direitos de cada pessoa que vive 
uma deficiência, ressaltando a vida, a sexualidade e a liberdade. 
Os profissionais, suas estratégias e seus materiais educativos, em 
geral, não atendem a necessidade desse público nas questões 
de educação em saúde, em especial no caso de pessoas com 
deficiências sensoriais.
É importante pensar nas diversas deficiências e no 
enfrentamento das violências e violações que as pessoas com 
deficiências sofrem. Vamos ver o que o Atlas da Violência 2021 
tem a nos ensinar sobre isso:
É muito importante um olhar atento e uma escuta 
qualificada para as pessoas que vivem com deficiências, mas 
também com potências e possibilidades!
O conceito de pessoas com deficiência agrupa um 
conjunto de indivíduos com importantes diferenças, e aqui 
isso se traduz inicialmente em maiores taxas de notificações 
de violências contra pessoas com deficiência intelectual. As 
taxas de notificações são também superiores para as mu-
lheres, independentemente do tipo de deficiência. O tipo 
de violência construído a partir da autoria presumida permi-
te separar apenas os casos de violência interpessoal para a 
análise e, nestes casos, os dados indicam um maior registro 
de violência doméstica do que comunitária e institucional 
para qualquer tipo de deficiência. Os registros se concen-
tram na faixa etária de 10 a 19 anos e em geral decaem gra-
dativamente nas faixas seguintes. A violência mais frequente-
mente registrada é a física, mas a violência sexual é frequente 
para mulheres. Por fim, compartilha-se aqui a compreensão 
de que a violência reforça a vulnerabilidade dessa popula-
ção, pautada em processos de exclusão social, segregação, 
preconceito e estigmatização dos indivíduos que estão ca-
racterizados por diferenças biológicas ou psicológicas, que 
são tomadas como desvios da normalidade e expressão de 
menor valia social. (Ministério da Saúde, 2020b, p. 3). Acres-
cente-se que parte dessa violência, como as negligências, 
poderia ser prevenida com um aperfeiçoamento de políticas 
de cuidado (CERQUEIRA et al., 2021, p. 78-79). 
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Ainda conversando sobre sexualidade e saúde reprodu-
tiva, um tema bastante importante é a gravidez na adolescência, 
em virtude da prevalência, dos preconceitos que envolvem esse 
acontecimento e da importância de cuidado adequado nessa 
situação. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse assunto?
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Gravidez na adolescência: 
discutindo maternidades 
e paternidades juvenis
Lendo o caso complexo, você conheceu Lia, adolescente 
que morava na mesma ocupação de Renata e que estava grávida.
Você conhece alguma adolescente que vivenciou uma 
gravidez? E/ou um adolescente que se tornou pai?
A gravidez na adolescência é uma questão complexa, 
não é? É uma discussão que geralmente vem acompanhada por 
muita preocupação! 
Isso acontece, sobretudo, porque, em geral, a gravidez 
na adolescência é tratada como problema de saúde pública e 
social, além de ser vista, de forma generalizada, como algo ne-
gativo. Também existe a ideia de que adolescentes sempre são 
incapazes de lidar com ela!
Ora, se pararmos para pensar... olharmos para a história... 
a verdade é que, em outros momentos da história, as pessoas 
constituíam famílias muito mais jovens, e as meninas tornavam-
-se mães ainda bem novas! Também é certo que uma gravidez 
indesejada pode acontecer em diferentes fases da vida e ser di-
fícil de lidar.
Essa lembrança pode nos ajudar a observar como con-
cepções de infâncias, juventudes e fases da vida em geral adqui-
rem diferentes contornos ao longo do tempo! 
Assim, do mesmo modo que diferentes contextos sociais 
acompanham diferentes vulnerabilidades e potencialidades, 
podem definir infinitas possibilidades e significantes para a gra-
videz na adolescência e juventude! Esteves (2003) e Catharino 
(2002), por exemplo, mostram que essa gravidez, muitas vezes, 
além de ser desejada pelas jovens e pelos jovens, desempenha 
um papel importante na vida psíquica e social deles.
Nesse sentido, é válido mencionar que o próprio Minis-
tério da Saúde já compreendeu que, embora a gravidez de ado-
lescentes e jovens possa ser interpretada majoritariamente como 
um ‘evento-problema’ ou ainda como indesejável em muitas aná-
lises e políticas, avaliamos ser mais adequado entendê-la como 
Saiba mais
Vamos assistir a um vídeo bem curtinho no 
qual uma ginecologista fala um pouco sobre 
esse assunto? Vamos lá. Esse vídeo discute 
contracepção e adolescência na gravidez.
Quando é possível uma jovem engravidar?
Que tal conversar com outras pessoas sobre as 
vivências das suas adolescências e juventudes?
-
-
clique e
acesse
https://www.youtube.com/watch?v=YEtDgQ21Hsc&list=PLl6cIaEsBeBSMw1wilmM40ACO1mhIARDv&index=5
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um ponto de inflexão que poderá resultar uma multiplicidade de 
experiências de vida - por isto pode assumir diferentes significa-
dos, ser também tratada de diferentes formas e apresentar dife-
rentes desfechos (BRASIL, 2006 apud BRASIL, 2010).
Ampliando esse enfoque, a sexualidade e a reprodução 
são dimensões fundamentais da saúde humana e pressupostos 
para a qualidade de vida e bem-estar físico, psicológico e social 
e para a satisfação e prazer. Pessoas jovens devem ser reconhe-
cidas como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, que são 
afirmados como Direitos Humanos. A consciência desse direito 
implica reconhecer a individualidade e a autonomia dessas pes-
soas, estimulando-as a assumir as responsabilidades relaciona-
das à sua própria saúde. Assim, garantir os direitos reprodutivos a 
adolescentese jovens, de ambos os sexos, significa assegurar as 
condições de escolha para aqueles e aquelas que não querem 
engravidar, que querem planejar uma gravidez ou que já vivem 
uma gravidez.
Os estudos demográficos, psicossociais e epidemiológi-
cos são frequentemente restritos às mulheres, invisibilizando o 
parceiro masculino. Com frequência, as intervenções profissio-
nais não têm levado em consideração o papel que os meninos 
e os homens podem desempenhar. Além disso, existe a tendên-
cia de reduzir as temáticas saúde sexual e saúde reprodutiva à 
prevenção de gravidez na adolescência e ao uso de anticoncep-
cionais, o que também dificulta alcançar as diferentes formas de 
exercício da sexualidade.
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Vamos prestar mais atenção aos significados e possibili-
dades dessa vivência para nossos jovens? 
Proposição
Será que as gestações de adolescentes são sempre indese-
jadas? Será que a gravidez é apenas fruto da irresponsabili-
dade, da imaturidade e da impulsividade dos jovens?
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
Temos como pressuposto que a gravidez na adolescência 
pode ser vivida de múltiplas formas. Os contextos sociais 
irão definir universos de possibilidades e de significações di-
ferentes entre os jovens de distintas classes sociais. As esco-
lhas podem ser influenciadas pela exclusão, desigualdade 
de classe, de gênero e de raça e pela falta de perspectivas. A 
maternidade, pode ainda, expressar reconhecimento social 
para muitas jovens.
As políticas e programas de saúde voltados para os jovens 
devem considerar a sexualidade como parte do desenvolvi-
mento humano e incluir os conceitos de amor, sentimentos, 
emoções, intimidade e desejo (OPAS, 2002, in MS 2006). A 
discussão sobre gravidez na adolescência precisa ser pensa-
da de maneira ampliada. É importante criar espaços onde os 
jovens possam debater temáticas referentes à saúde sexual 
e saúde reprodutiva na escola, na saúde, no lazer, na cultura. 
É importante ainda que a atenção à saúde sexual e saúde re-
produtiva de adolescentes inclua aqueles em cumprimento 
de medidas socioeducativas, em situação de rua, de abriga-
mento, vivendo com HIV/AIDS. São necessárias ações para 
compartilhamento de informações e ações educativas em 
saúde sexual e saúde reprodutiva que abranjam as famílias e 
as comunidades locais.
?
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Módulo: Adolescências e juventudes na contemporaneidade: diferentes perspectivas, diversidades, aspectos étnicos e culturais 29
O que podemos refletir sobre o cuidado em saúde, 
com um olhar e escuta atentos para a subjetividade e ques-
tões sociais?
No trabalho com adolescentes e jovens, não podemos 
perder de vista a importância do estabelecimento de vínculos! 
Por não se sentirem seguros e acolhidos, muitos acabam dei-
xando de buscar um serviço e descuidam de sua própria saúde. 
Dessa forma, privacidade e sigilo constituem direitos de grande 
importância, porque determinados assuntos são de difícil abor-
dagem, em especial aqueles que envolvem sexualidades e afe-
tos. Portanto, é necessário muito cuidado para preservar o direito 
à privacidade juvenil e, ao mesmo tempo, também desenvolver 
um trabalho com as famílias.
Por falar em família, é importante conhecermos um pou-
co mais as suas configurações no cenário atual, tendo em vista o 
acolhimento e a construção de um trabalho que seja realmente 
efetivo. 
Proposição
Você sabia que um adolescente pode ser atendido sem os 
responsáveis legais? O que você pensa sobre isso?
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
Adolescentes têm direito de serem atendidos sem a presen-
ça dos pais ou responsáveis. Esse direito refere-se à impor-
tância da garantia de espaços seguros de acolhimento e si-
gilo, considerando-os sujeitos de direitos. Isto não significa 
que o atendimento à família seja desnecessário ou menos im-
portante, mas sim que a autonomia do adolescente deve ser 
respeitada e garantida. O ECA, em seu capítulo II, artigo 17, 
dispõe a respeito “do direito à liberdade, ao respeito e à dig-
nidade” da criança e do adolescente e prescreve: “O direito 
ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, 
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a 
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos 
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”.
Se você trabalha em um serviço que atende adolescentes, 
que tal experimentar acolher o adolescente sem a família 
mas ao mesmo tempo, promover um acolhimento da famí-
lia? Uma outra pessoa poderia acolher a família ou você mes-
mo, em outro momento.
?
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Conversando sobre Famílias
O que você acha de a gente conversar um pouco sobre famílias? 
De acordo com Sales (1997), na sociedade contemporâ-
nea, coexistem diferentes arranjos familiares. De maneira geral, 
podemos observar as seguintes tendências: crescimento do nú-
mero de divórcios; redução do número de filhos; aumento do nú-
mero de famílias monoparentais chefiadas por mulheres; presen-
ça de famílias monoparentais chefiadas por homens; aumento 
do número de adultos que vivem sozinhos; existência de casais 
que optam por não ter filhos; presença de famílias formadas por 
casais homoafetivos; ocorrência de famílias ampliadas formadas 
pelos membros iniciais, acrescidas de novos membros – os netos 
–, trazidos por filhas-mães adolescentes.
Êh, vida, vida, que amor brincadeira, à vera
Eles se amaram de qualquer maneira, à vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar
Pena, que pena, que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
Eles partiram por outros assuntos, muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito
Qualquer maneira que eu cante esse canto
Qualquer maneira me vale cantar
Eles se amam de qualquer maneira, à vera
Eles se amam é pra vida inteira, à vera
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá
Pena, que pena, que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira de amor vale me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá
Famílias também no plural? Sim, porque são muitas. Há 
um livro sobre direito de família (Dicionário de Direito de 
Família e Sucessões, do Rodrigo da Cunha Pereira, São 
Paulo: Saraiva, 2015) que tem 37 páginas dedicadas às 
definições de família!
Você conhece a música Paula e Bebeto, 
de Caetano Veloso e Milton Nascimento? 
Vamos ouvir?
clique 
e ouça
https://youtu.be/q1-cZlqiE1Q
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E, às vezes, não há amor, ou ele acabou, como já dizia 
a ciranda... É importante não ter um conceito rígido e único de 
família.
Vários autores já se debruçaram sobre o conceito de fa-
mília. Para Mioto (1997), família pode ser definida como um fato 
histórico, com grande ênfase cultural, cuja constituição não é a 
priori “lugar de felicidade”, mas “um núcleo de pessoas que con-
vivem em determinado lugar, durante um tempo e que se acham 
unidas por laços,de consanguinidade ou não” (MIOTO, 1997 
apud RAYMUNDO et al., 2014, p. 259). Para Carvalho (2000 apud 
RAYMUNDO et al., 2014), a família pode ser entendida como um 
canal de iniciação e aprendizado de afetos e do padrão de rela-
ções sociais vigente em um determinado tempo histórico. 
Você se recorda da personagem Lia, do caso complexo 
deste módulo? Lia era uma adolescente grávida, vulnerável, que 
morava em uma ocupação e temia que seu filho fosse retirado 
dela. Você já ouviu a expressão Mães Órfãs? 
Temos usado essa expressão para definir situações nas 
quais os filhos são retirados compulsoriamente de suas mães 
para supostamente protegê-los, desconsiderando essa mulher/
mãe, a família extensa e o dever do Estado de proteger a famí-
lia (SOUZA, 2018). Esse movimento social e jurídico tem um viés 
Saiba mais
Convidamos você a ler um texto interessante 
sobre as famílias tentaculares, diferentes e di-
vertidas, de Maria Rita Kehl, que é psicanalis-
ta e autora desse trabalho. Trata-se de um ar-
tigo que fala sobre a diversidade das famílias 
na atualidade e os estigmas que ainda pairam 
sobre as famílias que fogem a um pretenso 
modelo tradicional.
“A família tentacular contemporânea, menos endogâmica e 
mais arejada que a família estável no padrão oitocentista, traz 
em seu desenho irregular as marcas de sonhos frustrados, 
projetos abandonados e retomados, esperanças de felicida-
de das quais os filhos, se tiverem sorte, continuam a ser por-
tadores. Pois cada filho de um casal separado é a memória 
viva do momento em que aquele amor fazia sentido, em que 
aquele par apostou, na falta de um padrão que correspon-
da às novas composições familiares, na construção de um 
futuro o mais parecido possível com os ideais da família do 
passado. Ideal que não deixará de orientar, desde o lugar 
das fantasias inconscientes, os projetos de felicidade conju-
gal das crianças e adolescentes de hoje. Ideal que, se não for 
superado, pode funcionar como impedimento à legitimação 
da experiência viva dessas famílias misturadas, engraçadas, 
esquisitas, improvisadas e mantidas com afeto, esperança e 
desilusão, na medida do possível” (KEHL, 2003).
clique e
acesse
https://www.fronteiras.com/leia/exibir/maria-rita-kehl-em-defesa-da-familia-tentacular
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segregativo e racista. Parte-se do entendimento de que jovens 
pobres e negras não têm condições de criar seus filhos. No en-
tanto, políticas públicas adequadas ofereceriam as condições 
necessárias para a criação de seus filhos e continuidade de seus 
projetos. 
Assim, tendo em vista as novas configurações familiares 
na atualidade, fica para os atores que lidam com jovens o desafio 
de acompanhar esse processo de mudança e de construir práti-
cas profissionais desprovidas de julgamentos morais e culpabili-
zação.
Diversas vulnerabilidades sociais podem afetar a capaci-
dade protetiva das famílias. Assim, as políticas públicas, particu-
larmente as de Assistência Social, possuem um papel fundamen-
tal: os programas de redistribuição de renda possuem relação 
direta com a sobrevivência das famílias; e os serviços de convi-
vência e fortalecimento de vínculos objetivam a construção ou a 
reconstrução de laços familiares e comunitários. 
Dessa forma, as referidas ações previstas na Política de 
Assistência Social devem contribuir com o fortalecimento da 
convivência e da autonomia das famílias, para que, por sua vez, 
elas possam promover a proteção e a emancipação dos adoles-
centes e jovens. 
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Adolescências e juventudes: 
singularidades e diversidades
Durante a nossa conversa, várias vezes voltamos a um 
mesmo ponto: não há um único jeito de ser adolescente ou jo-
vem. Vimos que vários fatores contribuem para essa diversidade.
Vamos concluir este texto chamando a atenção para as 
diferentes culturas. Afinal, o que é cultura em termos concei-
tuais? Há muitas definições. Escolhemos uma delas:
Cultura pode ser definida como um conjunto 
de elementos que mediam e qualificam qual-
quer atividade física ou mental, que não seja 
determinada pela biologia, e que seja com-
partilhada por diferentes membros de um 
grupo social. Trata-se de elementos sobre os 
quais os atores sociais constroem significa-
dos para as ações e interações sociais con-
cretas e temporais, assim como sustentam 
as formas sociais vigentes, as instituições 
e seus modelos operativos. A cultura inclui 
valores, símbolos, normas e práticas (LANG-
DON; WIIK, 2010, p. 175). 
Você se lembra do estudante de medicina indígena que 
participou da conversa na ESF? 
Conversando um pouco mais com ele, contou-nos que 
no Brasil são faladas cerca de 200 línguas, sendo 180 delas in-
dígenas. Em 2007, foi aprovada a Declaração das Nações Unidas 
sobre os Direitos dos Povos Indígenas, depois de mais de 20 
anos de negociações. 
Ressaltamos a importância de valorizar as culturas in-
dígenas, de respeitar os povos originários, de preservar e am-
pliar as trocas interculturais e de compreender o lugar social 
de onde cada adolescente fala e como o fortalecimento das 
matrizes culturais é ponto de fortalecimento da identidade e da 
saúde mental.
Adotar práticas interculturais, antes de qualquer coisa, 
é estar aberto para olhar e ouvir. Só quando estamos abertos a 
olhar e a ouvir conseguimos adotar uma postura de abertura crí-
tica de nós mesmos em favor do outro. Esse movimento propicia 
a compreensão profunda dos diferentes mundos, dos diversos 
campos de significados, das variadas formas de ser e estar no 
mundo e dos múltiplos saberes, histórica e culturalmente cons-
tituídos.
Fonte: WikiMedia
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encerramento do módulo
Com base neste caso complexo, é importante ressaltar 
que existem narrativas em disputa sobre a juventude. José pode 
ser visto de forma simplista como um jovem negro, periférico e 
entregador de delivery, sem que seja considerada a sua trajetória 
como uma jovem liderança, que respeita e mantém as tradições 
culturais de seu território. 
Da mesma forma, Lucca, embora atravessado pelo ra-
cismo e pela transfobia, cotidianamente luta por mudanças que 
parecem pequenas, mas que podem fissurar a intolerância es-
trutural.
Nesse contexto, Renata, que ainda vive tantas violências 
e violações, resiste construindo seu corpo e seu nome e sonhan-
do com uma vida possível.
Acreditamos em um olhar sobre essas histórias que iden-
tifique e valorize as potencialidades desses jovens. A elaboração 
de políticas públicas, via de regra, não inclui a participação ju-
venil. Um entendimento amplo sobre essas trajetórias reforça a 
importância das políticas públicas e das instituições e de seus 
agentes olharem para os desafios sem deixar de valorizar as múl-
tiplas vozes, identificando e visibilizando as potencialidades pre-
sentes nesses espaços. 
No trabalho com adolescentes e jovens, acreditamos que 
seja muito importante um olhar e uma escuta para cada um, res-
peitando sua singularidade e sua história, mas pensando que es-
ses uns podem fazer coletivos, que têm força política para mudar 
o que precisa ser mudado, para que esses adolescentes e jovens 
possam viver, e viver com dignidade!
Avaliamos que as ações que estimulem o potencial da ju-
ventude devam ser territorializadas e intersetoriais. Por exemplo: 
• Ampliar redes intersetoriaisde compromisso com a ju-
ventude;
• Buscar espaços ampliados para conversar com os jo-
vens sobre aspectos da vida; 
• Instalar equipamentos múltiplos, como centros de ju-
ventude;
• Fomentar a participação juvenil nas ações de planeja-
mento e avaliação dos serviços;
• Propor educação entre pares, como a de jovens promo-
tores de saúde; 
• Potencializar o acolhimento de adolescentes e jovens 
nos diferentes serviços, reconhecê-los como sujeitos de 
direitos e valorizar a autonomia juvenil. 
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comunitário de rua, e “motoboy”, com o uso de motocicleta, alte-
ra a Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997, para dispor sobre 
regras de segurança dos serviços de transporte remunerado de 
mercadorias em motocicletas e motonetas – moto-frete –, esta-
belece regras gerais para a regulação deste serviço e dá outras 
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https://noticias.r7.com/saude/motoboys-sao-os-que-mais-sofrem-acidentes-diz-ministerio-da-saude-30072018

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