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INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 2 A) OBSERVAÇÕES INICIAIS ͫ Fala minha aluna e meu aluno! Sou o professor Diogo Medeiros, Delegado de Polícia do Estado de Santa Catarina. Tenho bastante experiência em concursos públicos policiais, já fui aprovado em 06 concursos de polícia, sendo 03 deles de delegado. Então, a partir de agora, vem comigo nessa jornada de direito constitucional que cai em qualquer prova de concurso público. ͫ A primeira preocupação é estudar a Lei Seca. A maioria das questões da sua prova vai cobrar os artigos constitucionais neste ponto. ͫ Lembre-se que normalmente cai NOÇÕES de direito constitucional. Cuidado para não aprofundar com doutrinas desnecessárias. Apesar que no último edital PRF 2021, o exam- inador suprimiu a expressão NOÇÕES no bloco de direito. ͫ Constituição Federal em áudio. Site do Senado Federal. B) CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUCIO- NALISMO O professor José Afonso da Silva observa que o direito constitucional “configura-se como Direito Público fundamental por referir-se diretamente à organização e funcionamento do Estado, à arti- culação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política”. Constituição é o conjunto de normas fundamentais e supremas, que podem ser escritas ou não, responsáveis pela criação, estruturação e organização político-jurídica de um Estado. Canotilho define o constitucionalismo como uma “... teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo moderno representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. A Constituição decorre da ideia de constituir, organizar, ou seja, trata dos elementos constitu- tivos do Estado, de modo que não existe um País sem uma Constituição, isto é, sem uma estrutura mínima de organização. O constitucionalismo é um movimento político, cultural e jurídico de limitação do poder do Estado. Em sentido amplo, é a existência de uma Constituição em cada País. Em sentido estrito, trata da garantia de direitos e separação de poderes. O art. 16 da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, na época da Revolução Francesa, preceituou: Art. 16º. A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabe- lecida a separação dos poderes não tem Constituição. O conceito ideal de Constituição, na visão de Canotilho, possui os seguintes elementos: ͫ Documento escrito; ͫ Garantia de liberdades e participação política do povo; ͫ Separação de poderes. É relevante destacar que toda Constituição tem supremacia material, no sentido de tratar dos assuntos mais importantes de um País – separação dos poderes, direitos fundamentais, princípios estruturantes, forma de governo, sistema de governo, forma de Estado. A nossa Constituição, além de supremacia material, também tem uma supremacia formal, de modo que o processo para alteração das normas constitucionais é mais rígido, dificultoso do 3 que a elaboração ou alteração das leis abaixo das normas constitucionais, denominadas de leis infraconstitucionais. B.1) O CONSTITUCIONALISMO NA HISTÓRIA A evolução histórica do constitucionalismo divide-se em quatro grandes eras: idade antiga, idade média, idade moderna e idade contemporânea. Fase da Antiguidade ͫ Na antiguidade destacam-se códigos de comportamento baseado no amor e respeito ao outro. ͫ Na Suméria antiga, o Rei Hammurabi da Babilônia editou o Código de Hammurabi, que é considerado o primeiro código de normas de condutas, preceituando esboços de direitos dos indivíduos (1792-1750 a.C.), em especial o direito à vida, propriedade, honra, consol- idando os costumes e estendendo a lei a todos os súditos do Império. Chama a atenção nesse Código a Lei do Talião, que impunha a reciprocidade no trato de ofensas (o ofensor deveria receber a mesma ofensa proferida) – o famoso olho por olho, dente por dente. ͫ Grécia: herança grega na participação política de cidadãos na vida política da “Polis” (democracia direta). Ideário de liberdade. Glorificavam o homem como a mais importante criatura do universo. Democracia ateniense. Já se falava em direitos naturais – Lei escrita era fundamento da sociedade política. A lei não escrita era fruto da vontade divina. De maneira que a lei escrita não poderia contrariar a lei divina. ͫ Roma: consagração de direito como propriedade, direitos privados. Surge em Roma, a Lei das 12 tábuas; (séc. V a.C.). Cícero entendeu que cabia ao homem bom e justo des- respeitar leis postas que contrariassem a justiça universal. Fase da Idade média ͫ Poder dos governantes ilimitado, fundado na vontade divina. Primeiros documentos de reivindicação da liberdade. ͫ Cristianismo contribuiu para os direitos humanos: vários trechos bíblicos que pregam igualdade e solidariedade com o semelhante 4 Obs.: A principal inovação na Magna Carta se deu no fato de reconhecer que direitos próprios de dois estamentos livres – nobreza e clero – existiam, independente do consentimento do monarca, e não podiam ser por ele modificado de forma unilateral. Declaração das Cortes de Leão, 1188 Península Ibérica. Consistiu em manifestação que consagrou a luta dos senhores feudais contra a centralização e o nascimento futuro do Estado Nacional. Fase da idade moderna (constitucionalismo clássico/liberal e so- cial) Constitucionalismo Liberal: a terminologia decorre da positivação daqueles primeiros direitos – tidos como naturais - e que passam a serem positivados em documentos em alguns países euro- peus. É fruto das revoluções liberais - inglesa, americana e francesa, marcam a primeira afirmação dos direitos humanos – Direitos Civis e políticos. A revolução inglesa foi a primeira delas. Surgem os primeiros documentos de pedido de liberdade na Inglaterra, mais precisamente no que se refere a limitação dos poderes absolutos do Rei e a expansão dos poderes do Parlamento. 5 Obs.: A revolução Gloriosa foi um movimento pacífico inglês, de conteúdo religioso, ocorrido em 1688, substituiu o Rei Jaime II Stuart por Guilherme III de Orange, resultando no triunfo do Parlamento. O “Bill of Rights” foi o documento imposto pelo parlamento como condição do príncipe Gui- lherme III de Orange assumir o trono inglês. - Act of Settlement, de 1701 – Reafirma a vontade da lei, resguardando os súditos da tirania. - Portanto, conforme visto, na Revolução Inglesa, tivemos os seguintes documentos: ͫ Petition of Rights; ͫ HC Act; ͫ Bill of Rights; ͫ Act of Setlement. 6 O Pacto de Mayflower de 1620 foi escrito pelos peregrinos que cruzaram o Atlântico a bordo do navio Mayflower. É uma espécie de contrato social, um acordo de vontades entre as pessoas que iriam para o EUA para começar a colonização. A independência das antigas 13 colônias britânicas da América do Norte em 1776, reunidas primeiro sob a forma de confederação e constituída, em seguida, em Estado Federal, em 1787, representou o ato inaugural da democracia moderna, combinando sob o regime constitucional a representação popular com a limitação de poder governamentais e respeito a alguns direitos. Os governos são instituídos entre os homens para garantir seus direitos naturais, de tal forma que “toda vez que alguma forma de governo torna-se destrutiva (dos fins naturais de vida em sociedade) é direito do povo alterá-la ou aboli-la e instituir nova forma de governo”. “Consideramos as seguintes verdades como auto evidentes, a saber: que todos os homens são criaturas iguais, dotadas pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade.” As 10 emendas protegem liberdades fundamentais como a de expressão, a de religião, a de guardar e usar armas, a de assembleia e de petição. Assegura a igualdade de todos, de maneira livre e independente como um direito nato. Proíbe buscae apreensão sem razão alguma, o castigo cruel e a confissão forçada, entre outros direitos. Na França - Declaração Francesa dos direitos do homem e do cidadão de 1789: Consagra liberdade, igualdade e fraternidade. Levou a abolição de privilégios de várias castas e a emancipação de poder pelo povo em substituição ao monarca. Liberdade e igualdade entre os homens, necessidade de conservação de seus direitos naturais, ou seja, liberdade, propriedade, segurança e resistência a opressão, autonomia da nação, legalidade, participação popular, entre outros. A Declaração Francesa foi referência para diversas Constituições no mundo. A declaração francesa e direitos e deveres do homem e do cidadão e a declaração americana resultam na emancipação do indivíduo perante grupos sociais, os quais sempre se submeteu: famí- lia, estamento e religião. A sociedade liberal, a partir de então, oferece o princípio da legalidade como norteador da sociedade política. Fase do Constitucionalismo Social A fase do denominado constitucionalismo social marca o surgimento dos direitos de 2ª geração: direitos sociais, econômicos e culturais. O liberalismo político e econômico à época resultou em desigualdade. Dessa maneira, a socie- dade começou a demandar do Estado uma intervenção – direitos prestacionais - para diminuir tais desigualdades. 7 Constituição Mexicana, 1917 Primeira a atribuir aos direitos trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais – positivados na Constituição. Ex.: Limitação da jornada de trabalho, desemprego, proteção da maternidade, idade mínima de admissão de empregados nas fábricas e o trabalho noturno de menores. Constituição de Weimar (alemã), 1919 Previsão de direitos civis e políticos e direitos sociais. Estabeleceu pela primeira vez na história, a regra da igualdade jurídica entre marido e mulher, equiparou os filhos ilegítimos aos legítimos (havidos no matrimônio). Família e juventude postas sob a proteção do Estado. Previsão de educação pública e direitos trabalhistas. Função social da propriedade: “a propriedade obriga”. Organização Internacional do Trabalho, 1919 (OIT) A OIT foi instituída como uma agência da Liga das Nações após a assinatura do Tratado de Versalhes (1919), que deu fim à Primeira Guerra Mundial. Trata, portanto, de Direitos trabalhistas de cunho universal. Direitos sociais e econômicos. C) NEOCONSTITUCIONALISMO – IDADE CONTEMPORÂNEA No início do século XXI, a doutrina começa a falar do denominado neoconstitucionalismo, visando, não somente, conferir a ideia de limitação de poder do Estado, mas, acima de tudo, bus- cando conferir eficácia as normas constitucionais. O fenômeno influenciou a nossa CF e promoveu o fortalecimento dos direitos fundamentais, notadamente os direitos sociais. Com o neoconstitucionalismo, temos uma constituição com as seguintes características: ͫ Existência de normas jurídicas: regras e princípios; ͫ Dignidade da pessoa humana como núcleo axiológico de todo o sistema jurídico; ͫ Existência de um estado democrático de direito; ͫ Fortalecimento do poder judiciário; ͫ Força normativa da Constituição. D) ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO No interior da Constituição Federal, temos duas espécies de normas constitucionais: » Normas constitucionais originárias: São aquelas decorrentes da edição da própria Constituição. Manifestação do poder constituinte originário. » Normas constitucionais derivadas: São aquelas que surgem pelo processo de alte- ração formal da Constituição, pelas Emendas Constitucionais (art. 60 da CF). São manifestações do poder constituinte derivado reformador. Obs.: Não há hierarquia entre normas constitucionais originárias e derivadas. A única diferença é que as normas constitucionais originárias não podem passar pelo controle de constitucionalidade. A Constituição é estruturada em três partes: ͫ Preâmbulo: é um protocolo de intenções, viés político e não jurídico. O STF entendeu que não tem relevância jurídica. ͫ Parte permanente (250 artigos, divididos em nove títulos). 8 Título I - Dos Princípios Fundamentais (arts. 1º a 4). Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais (arts. 5º a 17). Título III - Da Organização do Estado (arts. 18 a 43). Título IV - Da Organização dos Poderes (arts. 44 a 135). Título V - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas (arts. 136 a 144). Título VI - Da Tributação e do Orçamento (arts. 145 a 169). Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira (arts. 170 a 192). Título VIII - Da Ordem Social (arts. 193 a 232). Título IX - Das Disposições Constitucionais Gerais (arts. 233 a 250). ͫ Ato das disposições constitucionais transitórias. Título X - Ato Das Disposições Constitucionais Transitórias (arts. 1º a 114). INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL SUMÁRIO INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL ������������������������������������������������������������� 3 E) CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO: SENTIDOS OU FUNDAMENTOS ��������������������������������������������������������� 3 E.1) SENTIDO SOCIOLÓGICO (FERDINAND LASSALE, 1862) .............................................................................................3 E.2) SENTIDO POLÍTICO (CARL SCHMITT, 1928) ...............................................................................................................3 E.3) SENTIDO JURÍDICO (HANS KELSEN, 1925) ...............................................................................................................3 E.4) SENTIDO CULTURALISTA (MEIRELLES TEIXEIRA) ....................................................................................................3 F) EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS ���������������������������������������������������������������������������������� 3 F.1) NORMAS DE EFICÁCIA PLENA ....................................................................................................................................3 F.2) NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA ...............................................................................................................................4 F.3) NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA ..............................................................................................................................4 G) NORMAS DEFINIDORAS DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ����������������������������������������������� 5 INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAl 3 INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL E) CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO: SENTIDOS OU FUNDAMENTOS E�1) SENTIDO SOCIOlÓGICO (FERDINAND lASSAlE, 1862) Neste sentido, a Constituição só é legítima se representar os fatores reais de poder, ou seja, a constituição escrita deve corresponder à real; caso contrário, será uma mera folha de papel. Por sua vez, a constituição real é a soma dos fatores reais de poder que regem uma nação. E�2) SENTIDO POlÍTICO (CARl SCHMITT, 1928) O fundamento da Constituição está na decisão política fundamental e distingue Constituição de Lei Constitucional. A primeira decorre de decisão política fundamental, estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais e vida democrática, ao passo que a segunda seriam todas as outras normas constitucionais numa grande importância. E�3) SENTIDO JURÍDICO (HANS KElSEN, 1925) Constituição é um conjunto de normas, norma pura, dissociado de qualquer outro elemento (filosófico, político, sociológico), fruto do dever-ser, e não do mundo do “ser”. Ele diferencia o ordenamento em dois planos: » Jurídico positivo – Plano do posto, do dever-ser, é o conjunto de normas jurídicas positivadas. » Lógico-jurídico – Plano do suposto, pela norma hipotética fundamental. E�4) SENTIDO CUlTURAlISTA (MEIREllES TEIXEIRA) A Constituição é produto de um fato natural, produzido pela sociedade, e que nela pode influir. A constituição é um conjunto de normas fundamentais condicionadas pela cultura total. F) EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS Todas as normas constitucionais têm eficácia jurídica ou social. A eficácia mínima de uma norma é a jurídica, ou seja, a qualidadeda norma para produção de efeitos jurídicos próprios. Algumas normas apresentam eficácia jurídica e social. Esta também é chamada de aplicabili- dade, o que representa a qualidade da norma de ser aplicada na prática. Segundo José Afonso da Silva, as normas podem ser de eficácia plena, contida e limitada. F�1) NORMAS DE EFICÁCIA PlENA No momento em que entram em vigor, estão aptas a produzir todos os seus efeitos. Têm aplicabilidade direta, imediata e integral. » Direta – Não dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos. 4 » Imediata – Produz efeitos imediatamente, tão logo entra em vigor. » Integral – Não permite contenção de sua eficácia nem redução de sua abrangência. Exemplos de normas constitucionais de eficácia plena: Art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 5°, III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Art. 14, § 2º. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obriga- tório, os conscritos. F�2) NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA As normas constitucionais de eficácia contida têm aplicabilidade direta e imediata, mas pos- sivelmente não integral, de modo que o conteúdo pode ser reduzido/limitado por norma infraconstitucional. Enquanto não houver lei reduzindo sua abrangência, considera-se plena sua eficácia. » Direta – Não dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos. » Imediata – Produz efeitos imediatamente, tão logo entra em vigor. » Não integral – Permite contenção de sua eficácia e redução de sua abrangência. A limitação pode se dar das formas abaixo. Por lei – Art. 9º. É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Pela própria Constituição – Estado de defesa e estado de sítio limitando diversos direitos fundamentais (arts. 136, §1° e 139 da CF) Por conceitos jurídicos indeterminados – Ordem pública, paz social, bons costumes: Art. 5°, XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietá- rio indenização ulterior, se houver dano. Outros exemplos de norma constitucional de eficácia contida: Art. 5°, XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Art. 5°, VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. Art. 5°, XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. F�3) NORMAS DE EFICÁCIA lIMITADA No momento em que entram em vigor, não têm a possibilidade de produzir os efeitos, preci- sando de norma regulamentador infraconstitucional » Indireta – Dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos. INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAl 5 » Reduzida/mediata – Não produz efeitos imediatos. » Diferida – Diferida no tempo até a produção da norma regulamentadora. No entanto, como toda norma tem eficácia mínima, jurídica, as normas constitucionais de eficácia limitada apresentam eficácia jurídica imediata e vinculante. » Efeito negativo – Revogação de leis em sentido contrário e proibição de leis poste- riores que se oponham ao seu comando. » Efeito vinculativo – Obrigação do legislador ordinário de editar lei regulamentadora. As normas de eficácia limitada podem ser de princípio institutivo ou organizativo, ou seja, têm esquemas de estruturação de instituições, órgãos ou entidades. Art. 18, § 2º. Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. Art. 37, VII – o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) Art. 144, § 8º. Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Normas de princípio programático – Veiculam programas/diretrizes a serem implementadas pelo Estado. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. G) NORMAS DEFINIDORAS DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDA- MENTAIS As normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Art. 5, § 1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. O termo “aplicação” não se confunde com “aplicabilidade”. Nem todas as normas constitu- cionais têm aplicabilidade imediata, como as de eficácia limitada. No entanto, mesmo estas têm aplicação imediata. 6 Aplicação imediata, segundo José Afonso da Silva, significa que todos os direitos e garantias fundamentais estão dotados dos meios e dos elementos necessários à sua pronta incidência a fatos, situações e comportamentos que elas regulam. Essas normas serão aplicadas até onde puderem, até onde as instituições oferecerem condições para seu atendimento. O Poder Judiciário, ao ser invocado diante de uma situação concreta, deve conferir primazia ao direito fundamental. O art. 5°, §1°, veicula um princípio, algo que deve ser cumprido sempre que possível. A omissão na edição de norma regulamentadora, nos casos da norma de eficácia limitada, gera omissão inconstitucional, a qual será garantida pelo remédio constitucional, denominado mandado de injunção, ou por uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão. Art. 5°, LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regu- lamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS SUMÁRIO PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ���������������������������������������������������������������������������������� 3 1 – INTRODUÇÃO ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3 2 – FORMA DE GOVERNO REPUBLICANA ������������������������������������������������������������������������������������������� 3 3 – FORMA DE ESTADO FEDERATIVA ������������������������������������������������������������������������������������������������ 4 4� REGIME POLÍTICO: ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ������������������������������������������������������������������ 4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 1 – INTRODUÇÃO Estamos no título I da Constituição Federal. A topologia do título I ocorre da seguinte forma: » Forma de governo, forma de estado, regime político e fundamentos da República Federativa do Brasil (Art. 1° da Constituição Federal). » Titularidade do poder (Art. 1°, Parágrafo Único, da CF). » Princípio da separação dos poderes (Art. 2° da CF). » Objetivos fundamentais da RepúblicaFederativa do Brasil (Art. 3° da CF). » Princípios nas relações internacionais da República Federativa do Brasil (Art. 4° da CF). Os princípios fundamentais são valores que orientam o Poder Constituinte originário na ela- boração da Constituição. Trata-se das escolhas políticas fundamentais quanto à forma e à estrutura do Estado e do governo. Vejamos o Caput do Art. 1° da CF: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito. 2 – FORMA DE GOVERNO REPUBLICANA Forma de governo é a relação que se estabelece entre governantes e governados. A nossa CF adotou a forma de governo republicana. República se refere à res publica, ou seja, coisa do povo, opondo-se a toda e qualquer forma de poder soberano. Isso quer dizer que o poder político pertence ao povo de forma igual, ausente qualquer privilégio. A república tem como características: » Temporariedade dos mandados políticos dos governantes. » Eletividade para os detentores do poder. » Responsabilidade política na condução da coisa pública. A forma de governo republicana tem previsão legal como princípio sensível da Constituição Federal. Art. 34, VII – assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) 4 Para alguns doutrinadores, a forma republicana é uma cláusula pétrea implícita, pois tem decorrência direta do voto periódico – temporariedade dos mandatos eletivos. Art. 60, § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – A forma federativa de Estado; II – O voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – Os direitos e garantias individuais. A outra forma de governo é a Monarquia, que tem como características: hereditariedade, vitaliciedade e irresponsabilidade política do monarca. 3 – FORMA DE ESTADO FEDERATIVA Forma de Estado é o modo de exercício do poder político, como se repartem as competências dentro de um Estado soberano. Poder ser: » Unitário – Forma singular, concentração do poder político na mão de um ente. » Federal – Forma plural, divisão do poder político a mais de um ente. Conjugando o art. 1° e o art. 18 da CF, portanto, temos que a República Federativa do Brasil é soberana, sendo constituída por entidades federativas autônomas: União, estados, Distrito Federal e municípios. Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. 4. REGIME POLÍTICO: ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO O art. 1° da CF indica que a República Federativa do Brasil se constitui em Estado democrático de direito. Há a junção das palavras estado de direito + estado democrático. Por estado de direito entendemos que o Estado é limitado pela lei, portanto edita leis criando deveres e obrigações, e, ao mesmo tempo, esse próprio Estado é limitado pelas leis editadas. Art. 5°, II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impes- soalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Por Estado democrático, entendemos que o governo é exercido pelo povo. É o governo da maioria, mas assegurados valores fundamentais das minorias. Nossa democracia é do tipo semidireta ou participativa, existindo a junção entre a democracia representativa – escolhemos representantes por meio do voto – e democracia direta – por vezes, o cidadão participa diretamente da condução da coisa pública: referendo, plebiscito, iniciativa popular, ação popular. Art. 1°, Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de represen- tantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS SUMÁRIO PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ���������������������������������������������������������������������������������� 3 5 – FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL �������������������������������������������������������������� 3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 5 – FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – A soberania; II – A cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) V – O pluralismo político. a) Soberania É elemento essencial à estruturação e à formatação do Estado. A soberania é a supremacia na ordem interna e a independência na ordem externa. Ela é una, indivisível, inalienável e imprescritível. A República Federativa do Brasil é soberana, e as entidades federativas (União, estados, DF e municípios), autônomas e não soberanas. Obs.: Pegando um gancho nos direitos humanos, falamos que o pós-Segunda Guerra Mundial é marcado pela relativização da soberania dos Estados com a emergência dos tratados internacionais de direitos humanos. b) Cidadania A cidadania é a titularidade de direitos políticos, a possibilidade de o cidadão participar da vida política do país, votando, sendo votado, ou participando de instrumentos diretos como plebiscito, referendo e iniciativa popular. É pressuposto da cidadania a nacionalidade (ser brasileiro nato ou naturalizado). c) Dignidade da pessoa humana A dignidade da pessoa humana é uma qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, independentemente de qualquer condição – política, social, racial, étnica. No sentido negativo, a DPH veda o tratamento desumano, degradante e discriminações odiosas. No sentido positivo, assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. d) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa Refere-se ao sistema econômico capitalista, à livre iniciativa, coligada à liberdade de empresa e de contrato, como condição mestra do liberalismo econômico e capitalismo. e) Pluralismo político É uma característica do pensamento liberal. Na sociedade, há uma gama de liberdades de con- vicções de pensamento, consciência, crença, política, planos e projetos de vida, todos devidamente respeitados pelo Estado e alheios a intromissões. Pluralismo político é o respeito a alteridade, a ser diferente. Apresenta-se como abertura para opções políticas e também de participação de partidos políticos (pluripartidarismo). PRINCÍPIOS FUNDAMENTAI SUMÁRIO PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ���������������������������������������������������������������������������������� 3 6 – SEPARAÇÃO DE PODERES ��������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ������������������������������������������������� 3 PRINCÍPIOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ����������������������� 4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 6 – SEPARAÇÃO DE PODERES É o princípio cujo objetivo é evitar arbitrariedades e desrespeito a direitos fundamentais. Baseia-se na premissa de que, quando o poder político está concentrado nas mãos de uma só pes- soa, há tendência ao abuso do poder. É uma técnica de limitação do poder estatal. Art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Exe-cutivo e o Judiciário. A rigor, o poder é uno e indivisível. O que seria objeto de separação são as funções estatais, e não propriamente o poder. Poderes independentes – Ausência de subordinação, de hierarquia entre os poderes, cada um é livre para se organizar na forma estabelecida pela Constituição. Cada poder tem sua especia- lização funcional. » Legislativo – Função típica: inovar no ordenamento jurídico e fiscalizar. » Executivo – praticar atos de administração pública. » Judiciário – Resolver/julgar litígios com caráter de definitividade. Poderes harmônicos – Há colaboração e cooperação entre eles, de modo que há um controle recíproco entre os poderes – teoria dos freios e dos contrapesos (checks and balances). Cada poder exerce função atípica de outro poder. O Poder Legislativo exerce função atípica administrativa quando organiza o próprio poder, por exemplo, criando um concurso público para provimento de seus cargos. Exerce função judicial, por exemplo, quando o Senado Federal julga o presidente da República por crimes de responsabilidade (art. 52, I CF) O Poder Judiciário exerce função atípica legislativa quando cria seu regimento interno e função administrativa quando se organiza, estruturando seus órgãos e cargos. O Poder Executivo exerce função atípica legislativa, por exemplo, quando o presidente da República edita medidas provisórias com força de lei (art. 62 CF). Exerce função judicial, por exem- plo, quando julga os processos administrativos. OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Diferentemente dos fundamentos do Art. 1° da CF, os objetivos são normas programáticas que estabelecem diretrizes a serem seguidas pelo país. A literalidade da CF nos revela que os objetivos se apresentam como verbos sempre no infi- nitivo: “construir”, “garantir”, “erradicar”, “promover”. Cuidado! Como pegadinha de concurso, as provas costumam transformar tais verbos em substantivos para enganar o candidato. Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – Garantir o desenvolvimento nacional; 4 III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A doutrina entende que o art. 3°, III e IV, são justificativas legais para a aplicação do princípio da igualde ou da isonomia material. PRINCÍPIOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL NAS RELA- ÇÕES INTERNACIONAIS Com relação ao art. 4° da CF, é preciso memorizá-los. Na prova, costumam cobrá-los na inte- gralidade e, por vezes, trocando-os com os fundamentos e os objetivos da República Federativa do Brasil. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguin- tes princípios: I – Independência nacional; II – Prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – Não intervenção; V – Igualdade entre os Estados; VI – Defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – Concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SUMÁRIO TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ���������������������������������������������������������� 3 1 – INTRODUÇÃO ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3 2 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (TÍTULO I – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS) ����������������3 TeORIa geRal DOs DIReITOs fUNDameNTaIs 3 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 1 – INTRODUÇÃO 2 – TeORIa geRal DOs DIReITOs fUNDameNTaIs (TÍTUlO I – DIReITOs e gaRaNTIas fUNDameNTaIs) 2�1 Conceito, terminologia e diferenciações de direitos fundamentais Segundo André de Carvalho Ramos, os direitos humanos ou fundamentais são um conjunto de direitos considerado indispensável para uma vida pautada na liberdade, na igualdade e na dig- nidade da pessoa humana. Cuidado com as diferenças entre as terminologias! Direitos humanos e direitos fundamentais assumem conotação distinta no que se refere ao plano de positivação, embora ambos tenham o mesmo significado – direitos inerentes ao ser humano, ligados a um conjunto mínimo que dá expressão à dignidade da pessoa humana. Quando o plano de proteção advém de norma internacional - direitos humanos. Quando o plano de proteção advém de norma interna/doméstica - direitos fundamentais. Direitos humanos Direitos fundamentais Previsão em ordem externa\internacional – tratados e convenções internacionais. A difer- ença está somente no plano de positivação. Protegido pela ordem internacional. Obs.: Direito humanitário é um ramo de proteção dos direitos humanos e se refere a conflitos armados. A responsabilidade do Brasil perante cortes internacionais é subsidiária. Previsão em ordem interna\doméstica – Con- stituição Federal de determinado país. A dif- erença está somente no plano de positivação, protegido pela ordem interna. Caso haja violação a direitos fundamentais, o indivíduo pode imediatamente pedir a tutela em juízo. A responsabilidade é primária. Direitos humanos e direitos do homem são expressões sinônimas – no sentido ontológico/da essência –, mas com diferentes pontos de vista. Direitos humanos Direitos do homem Expressão utilizada no cenário internacion- al, refere-se a direitos previstos em normas internacionais, sobretudo em tratados e convenções. Concepção jusnaturalista – corrente do pen- samento jurídico que indica um direito que provém da natureza (direito natural) existente antes do surgimento do Estado, não positivado e válido em todos os tempos. Um bom exemplo é o direito à vida, que é considerado um direito do homem – não precisa de positivação –, mas tem previsão no art. 5º, CRFB/88, sendo um direito fundamental à vida. Como tem previsão em tratado internacional, é também considerado um direito humano à vida. Qual a diferença entre direito e garantia? Direito – Normas descritivas, bens e vantagens descritas na lei. 4 Garantia – Normas instrumentais, protegem/garantem o direito em si. Qual a diferença entre garantia e remédio constitucional? Remédio constitucional é uma espécie de garantia. Nem sempre a garantia vai ser um remédio constitucional; às vezes, pode vir dentro da própria norma que garante o direito. Exemplos: Art. 5°, I, da CF – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição - Direito: igualdade entre homem e mulher IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato - Direito: liberdade de expressão + garantia: vedação ao anonimato VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias - Direito: liberdade consciência, crença e religiosa + garantia da liberdade religiosa: proteção aos locais de culto e suas liturgias. LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder - remédio constitucional: ação prevista na CF para garantir o direito à liberdade de locomoção do Art. 5º, XV, da CF. 2�2 Topologia dos direitos fundamentais Destaque 1: Se a banca examinadora afirmar que “direitos e garantias fundamentais estão dispostos somente no art. 5°”, o item estará incorreto. O Título II da Constituição, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, percorre os arts. 5° ao 17. Destaque 2: Direitos e deveres individuais e coletivos estão previstos portoda a Constituição Federal, não só no art. 5°. Destaque 3: Direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Veja o art. 5º, §1°, da CF: As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Destaque 4: Direitos e garantias fundamentais não são taxativos. Podem existir direitos fundamentais implícitos, não previstos na CF. Ex.: direito à busca da felicidade, direito ao esquecimento. Veja o art. 5º, §2°, da CF: Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não ex- cluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 2�3 Classificações dos direitos fundamentais a) Direitos humanos/ direitos fundamentais de acordo com as funções Os direitos fundamentais podem ser classificados, conforme doutrina de André de Carvalho Ramos, em: » Direitos de defesa – Transformação dos direitos numa espécie de escudo contra o poder estatal, concretizando exigências de abstenção, derrogação ou anulação dos TeORIa geRal DOs DIReITOs fUNDameNTaIs 5 atos do Estado. Os direitos de defesa geram três subespécies: direito ao não impe- dimento (liberdade de expressão, por exemplo), direito ao não embaraço (direito à privacidade, por exemplo) e direitos à não supressão de determinadas situações jurídicas (defesa da propriedade, por exemplo). » Direitos a prestações – Exigem uma obrigação estatal de ação para assegurar a efetividade dos direitos humanos. Instrumentaliza-se por prestações jurídicas ou materiais. As jurídicas são a elaboração de normas jurídicas que disciplinam deter- minado direito, enquanto os materiais são a concessão de direitos na prática (ex.: fornecimento gratuito de medicamentos). » Direitos a procedimento e instituições – Exigir do Estado que se estruturem órgãos e corpo institucional aptos a oferecer bens ou serviços indispensáveis à efetivação dos direitos humanos. b) Direitos humanos/direitos fundamentais de acordo com a finalidade » Direitos propriamente ditos, que visam ao reconhecimento jurídico de pretensões inerentes à dignidade de todo ser humano. » Garantias fundamentais, que asseguram os direitos propriamente ditos. As garantias se subdividem em: ͫ Garantias em sentido amplo – São as chamadas “garantias institucionais”, que consistem num conjunto de meios de índole institucional (MP, Defensoria Pública e etc.) e organ- izacional (Imprensa livre), visando assegurar a efetividade e a observância dos direitos humanos. ͫ Garantias em sentido estrito – Trata-se do conjunto de mecanismos processuais ou pro- cedimentais destinado a proteger os direitos essenciais dos indivíduos. Essas garantias são de ordem nacional e internacional (ex.: remédios constitucionais e direito de petição na esfera internacional) c) Direitos humanos/fundamentais de acordo com a forma de reconhecimento » Expressos – Explicitamente mencionados na CF. » Implícitos – São extraídos de normas gerais previstas na CF e que decorrem da dig- nidade da pessoa humana (ex.: direito à busca da felicidade). » Decorrentes de tratados de direitos humanos, como os direitos previstos na Con- venção das Nações Unidas sobre os direitos da pessoa com deficiência, de estatura constitucional, aprovado na forma do Art. 5°, §3°, da CF. A classificação é tomada com base no art. 5§2º da CF. d) Status de Jellinek É uma classificação importante e, às vezes, cobrada nas provas. Tem origem no fim do século XIX, e o autor Georg Jellinek repudia a ideia do jusnaturalismo, reconhecendo o caráter positivo dos direitos. Na sua classificação, relaciona o indivíduo em quatro situações perante o Estado: » Passivo\status subjectionis – O indivíduo se encontra em posição de sujeição\subor- dinação com o Estado, o qual goza de prerrogativas, notoriamente pela supremacia do interesse público sobre o particular. » Negativo\status libertatis – Há a prevalência das liberdades públicas, de modo que o Estado não pode interferir em direitos individuais. É a resistência do indivíduo contra o Estado. Relaciona a 1º geração de direitos fundamentais. 6 » Positivo\status civitatis – Enfatizam-se os direitos sociais, econômicos e culturais, ou seja, a necessidade do Estado de realizar assistência\prestações positivas para assegurar a isonomia material. » Ativo\status activus – O doutrinador expressa os direitos políticos, o indivíduo que participa da formação da vontade do Estado, além do direito de aceder aos cargos em órgãos públicos. e) Dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais » Objetiva – Eficácia irradiante, ou seja, os direitos fundamentais irradiam em todo o ordenamento jurídico, existem para estar presente em todos os direitos, alcançando os poderes públicos em suas atividades. » Subjetiva – É a possibilidade que todos os indivíduos têm de exigir a prestação dos direitos fundamentais. O “fazer estatal” e o “não fazer estatal” podem ser exigidos pelo indivíduo. Trata-se do titular do direito fundamental, como o indivíduo exigir do Estado a prestação do direito à saúde, que é um direito de todos. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 2 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS -GERAÇÃO/ DIMENSÃO/FAMÍLIA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS OU DIREITOS HUMANOS Teoria desenvolvida por Karel Vasak, em 1979. Ele classificou os direitos humanos em três gerações, associando-os aos lemas da Revolução Francesa. Fraternidade ou solidariedade: direitos de 3ºgeração – Direito dos povos, da humanidade. Apresentamos também os direitos de 4º e 5º geração, em que pese terem sido reconhecidos por outros doutrinadores, entre os quais não há consenso sobre suas características. 1ª GERAÇÃO\DIMENSÃO 2ª GERAÇÃO\DIMENSÃO 3ª GERAÇÃO\DIMENSÃO Palavras-chave: Liberdades públicas; Direitos civis e políticos. Palavras-chave: Igualdade; Direitos econômicos, sociais e culturais. Palavras-chave: Solidariedade; Fraternida de; Direito dos povos. São prestações negativas por parte do Estado. Não interferir em direitos individuais. São prestações positivas por parte do Estado. Assegurar o princípio da igual- dade material. São direitos difusos/ transindividuais. Pertencentes a todos indistintamente. Direitos de defesa/direitos negativos. Direito a vida, igualdade for- mal, liberdade, propriedade, segurança, privacidade, per- sonalidade, acesso à justiça, nacionalidade. Direitos de prestação/direitos positivos. Direito a educação, trabalho, saúde, moradia, alimentação, assistência social, lazer, cul- tura. Referem-se a igualdade material. Direito a paz, meio ambiente equilibrado, autodetermi- nação, direito do consum- idor, direito a um serviço público eficiente, direito à comunicação. Direitor políticos: votar, ser votado. Direitos humanos penais: vedação à prisão arbitrária, in- dividualização da pena, direito ao silêncio Momento histórico: passagem do Estado absolutista para o liberal. Fase do constitucionalismo clássico. Séc. XVII a séc. XIX. Momento histórico: passagem do Estado liberal para o Estado social frente às desigualdades sociais ex- istentes. Séc. XX. Momento histórico: fim da Segunda Guerra Mun- dial. 1945. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 3 Documentos históricos: Carta Magna (1215), Habeas Cor- pus Act, Bill of Rights (1689), Declaração Americana de Independência do Estado da Virgínia (1776), Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). No Brasil, CF de 1824 (Im- pério) e 1891 (República). Documentos históricos: Con- stituição Mexicana (1917), Constituição de Weimar (1919), OIT (1919). No Brasil, CF de 1934. Documentos históricos: no Brasil CF de 1988. Teóricos: iluministas do Séc. XVIII, como Grócio, Locke, Rousseau e Montesquieu. Téoricos: Marx e Engels (Manifesto comunista). Teóricos: Pesquisas sobre a importância de preservar gerações futuras no que se refere ao direito ao meio ambiente sadio e equilibrado. Existemainda os direitos de 4ª e 5ª geração, em que pese não serem consenso doutrinário e a teoria clássica de Vasak abranger somente as três gerações supramencionadas. 4º GERAÇÃO\DIMENSÃO 5º GERAÇÃO\DIMENSÃO1 Para Paulo Bonavides, resulta da globalização dos direitos humanos, de sua expansão e abertura além-fronteiras. Ex.: direito a democ- racia, informação e pluralismo. Direitos da solidariedade. Para Norberto Bobbio, direito à manipulação genética. Engenharia genética.2 Para Paulo Bonavides, direito à paz em toda a humanidade. A paz era classificada por Karel Vasak como um direito de terceira geração. São chamados pelo doutrinador de Direito da esperança. São enaltecidos depois do ataque às torres gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2011. Momento histórico: Pós-moderni- dade. Séc. XXI. Momento histórico: Séc. XXI. O termo “gerações” indica uma ideia errada de que uma substitui a outra, de sucessão. No entanto, diante das características estudadas de indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos, não é possível admitir a substituição de direitos, razão pela qual a doutrina têm utilizado o termo “dimensão”, em vez de geração, que dá a ideia de que os direitos coexistem, dialogam e acumulam ente si. Gerações, dimensões ou famílias, portanto, são termos sinônimos, mas o contexto histórico de integração desses conceitos é diferente. Gerações: Denota algo estanque, ou seja, algo que foi abandonado e deixado de usar. Dimensões: Noção mais moderna dos direitos humanos, ou seja, refere-se a algo que já existe e é carregado para outro momento histórico. Direitos indivisíveis. Há doutrinadores que ainda citam a 6º geração\dimensão de direitos fundamentais: luta e acesso à água potável. Atenção à crítica! O professor Cançado Trindade critica a teoria geracional no plano interna- cional, tendo em vista que, historicamente, ela é incorreta – os direitos sociais surgem antes dos 1 Alguns autores classificam a 5ª geração como o direito eletrônico – direito de acesso e convivência num ambiente salutar no ciberespaço (Patrícia Peck e Luis Carlos Olivo). 2 Para Bobbio, os chamados direitos de 4ª dimensão se referem aos efeitos traumáticos da evolução da pesquisa. 4 direitos civis e políticos. A OIT foi instituída como uma agência da Liga das Nações após a assinatura do Tratado de Versalhes (1919), que deu fim à Primeira Guerra Mundial. Sua Constituição corres- ponde à Parte XIII do Tratado de Versalhes. Em 1919, nasce a Organização Internacional do Trabalho (OIT), para só depois, em 1948 (DUDH) e 1966 (PIDCP), surgirem direitos civis e políticos. Ele registra ainda que a teoria é juridicamente infundada, pois não há que separar os direitos em categorias, tendo em vista que um depende do outro, estão relacionados, ligados, são indivi- síveis e interdependentes. Para Trindade, a teoria geracional é historicamente incorreta e juridicamente infundada. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SUMÁRIO TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ���������������������������������������������������������� 3 2.5 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ..................................................................... 3 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 3 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 2.5 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS a) Universalidade Os direitos fundamentais conferem titularidade de gozo às pessoas somente por ostentarem a condição humana, não obstante sexo, raça, cor, religião, etnia ou outra condição. A universalidade surge no pós-Segunda Guerra Mundial, contrapondo-se à ideia de superioridade de raças prove- niente do nazismo. A Declaração Universal de Direitos Humanos, ou Declaração de Paris, dispõe que basta a condição humana para a titularidade de direitos – “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. Obs.: Pela característica da universalidade e da prevalência dos direitos humanos como objetivo do Brasil nas relações internacionais (art. 3°, II da CF), o art. 5°, caput, demanda uma interpre- tação extensiva para abarcar toda e qualquer pessoa, independentemente de ser estrangeiro, residente ou não residente. b) Essencialidade São direitos essenciais à existência do ser humano. No que se refere ao plano formal, estão previstos no topo do sistema normativo de cada país – Constituição Federal e plano material. Refere-se aos direitos mais importantes para o convívio social, valores supremos do ser humano e prevalência da dignidade humana. c) Relatividade/limitabilidade Por relatividade, entende-se que não há direito absoluto. No caso concreto, os direitos estão sujeitos a ponderação e sopesamento entre eles, sendo que um prevalecerá sobre o outro em situações específicas diante de critérios de razoabilidade e proporcionalidade. O direito à vida, um dos mais importantes bem jurídicos da sociedade, não é absoluto. Falamos de relativização, por exemplo, no caso previsto constitucionalmente de guerra declarada e também no instituto penal da legitima defesa. Tal característica é conhecida como princípio da convivência das liberdades públicas. d) Historicidade Os direitos fundamentais são históricos, construídos ao longo do tempo, num movimento pen- dular de avanços e retrocessos. Os direitos se acumulam e se fortalecem com o decorrer dos anos. e) Indivisibilidade Os direitos fundamentais são incindíveis entre si e, por consequência, não é possível proteger alguns direitos e esquecer outros. Não adiantaria garantir os direitos de 1º geração, as liberdades públicas, sem efetivar direitos sociais (art.6º CF). Portanto, são interdependentes. f) Imprescritibilidade Os direitos não se perdem pelo decurso do tempo. g) Inalienabilidade 4 Os direitos não podem ser objetos de contrato. Direitos fundamentais não podem ser transferi- dos ou cedidos (onerosa ou gratuitamente) a outrem, sendo, portanto, indisponíveis e inegociáveis. No entanto, o exercício de direitos pode ser facultativo, sujeito à negociação. h) Irrenunciabilidade/indisponibilidade A irrenunciabilidade significa que nem o consentimento do titular pode validar a violação de seus direitos. i) Inexauribilidade Não constituem um rol taxativo de direitos. Há sempre a possibilidade de expansão em razão do surgimento de novas demandas sociais. O art. 5º, §2º, da Constituição Federal estabelece uma cláusula de abertura material de direitos e garantias expressos na Constituição. O STF já reconheceu o direito à busca da felicidade, sendo um direito fundamental implícito. A doutrina também reconhece o direito ao esquecimento, como um desdobramento do direito à privacidade e que também não tem previsão constitucional. j) Vedação ao retrocesso Também chamados de efeito cliquet, princípio da proibição da evolução reacionária ou entrin- cheiramento. Significa que a proteção conquistada na concretização dos direitos não pode ser suprimida por nosso legislador. É vedado que os Estados diminuam ou amesquinhem a proteção já conferida aos direitos fundamentais. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SUMÁRIO TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ���������������������������������������������������������� 3 2.6 EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................... 3 APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................TODAS AS NORMAS CONSTITUCIONAIS TÊM EFICÁCIA, TANTO A JURÍDICA QUANTO A SOCIAL. .................................................................3 NORMAS DE EFICÁCIA PLENA ..........................................................................................................................................3 NORMASDE EFICÁCIA CONTIDA ......................................................................................................................................4 NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA ......................................................................................................................................4 NORMAS DEFINIDORAS DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ...........................................................................5 2.7 TITULARES OU DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................... 6 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 3 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 2.6 EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Eficácia vertical – Foi pensada para equilibrar a relação do Estado e do particular, porque aquele está acima deste. O estado goza de supremacia em razão de prevalecer o interesse público. A eficácia vertical se assemelha ao status de sujeição da teoria de Jelinek. Estado Particular Eficácia horizontal – Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas também nas travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes privados (RE no 201.819/RJ). Particular A Particular B Eficácia diagonal – Na eficácia diagonal, também temos a presença só de particulares, mas um deles está numa condição de superioridade, normalmente econômica/financeira. São os casos de relação entre empregado/empregador e consumidor/fornecedor. PARTICULAR A PARTICULAR B APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS TODAS AS NORMAS CONSTITUCIONAIS TÊM EFICÁCIA, TANTO A JURÍDICA QUANTO A SOCIAL. A eficácia mínima de uma norma é a jurídica, ou seja, a qualidade da norma para produção de efeitos jurídicos próprios. Algumas normas apresentam eficácia jurídica e social. Nesse caso, a eficácia social, também chamada de aplicabilidade, representa a qualidade da norma de ser aplicada na prática. Segundo José Afonso da Silva, as normas podem ser de eficácia plena, contida e limitada. NORMAS DE EFICÁCIA PLENA No momento em que entram em vigor, estão aptas a produzir todos os seus efeitos. Têm aplicabilidade direta, imediata e integral. » Direta – Não dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos. » Imediata – Produz efeitos imediatamente, tão logo entra em vigor. » Integral – Não permite contenção de sua eficácia nem redução da sua abrangência. Exemplos de normas constitucionais de eficácia plena: 4 Art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Exe- cutivo e o Judiciário. Art. 5°, III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Art. 14, § 2º. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA As normas constitucionais de eficácia contida têm aplicabilidade direta e imediata, mas, às vezes, não integral, por isso é permitido que o conteúdo seja reduzido/limitado por norma infra- constitucional. Enquanto não houver lei reduzindo sua abrangência, considera-se plena sua eficácia. » Direta – Não dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos. » Imediata – Produz efeitos imediatamente, tão logo entra em vigor. » Não integral – Permite contenção de sua eficácia e redução de sua abrangência. A limitação pode se dar das formas abaixo. Por lei. Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Pela própria Constituição. Estado de defesa e estado de sítio limitando diversos direitos fun- damentais (arts. 136, §1° e 139 da CF) Por conceitos jurídicos indeterminados – ordem pública, paz social, bons costumes. Art. 5°, XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de proprie- dade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano. Outros exemplos de norma constitucional de eficácia contida: Art. 5°, XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qua- lificações profissionais que a lei estabelecer. Art. 5°, VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. Art. 5°, XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA No momento em que entram em vigor, não têm a possibilidade de produzir os efeitos, preci- sando de norma regulamentador infraconstitucional » Aplicabilidade indireta – Dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos. » Aplicabilidade reduzida/mediata – Não produz efeitos imediatos. » Aplicabilidade diferida – Diferida no tempo, até a produção da norma regulamentadora. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 5 Como toda norma tem eficácia mínima, jurídica, as normas constitucionais de eficácia limitada têm eficácia jurídica imediata e vinculante. » Efeito negativo – Revogação de leis em sentido contrário e proibição de leis poste- riores que se oponham ao seu comando. » Efeito vinculativo – Obrigação do legislador ordinário de editar lei regulamentadora. As normas de eficácia limitada podem ser de duas espécies: De princípio institutivo ou organizativo – Têm esquemas de estruturação de instituições, órgãos ou entidades. Art. 18, § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. Art. 37, VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei espe- cífica. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) Art. 144, § 8º. Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Normas de princípio programático – Veiculam programas/diretrizes a serem implementadas pelo Estado. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso uni- versal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – Garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. NORMAS DEFINIDORAS DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS As normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Art. 5, § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. O termo “aplicação” não se confunde com aplicabilidade. Nem todas as normas constitucionais têm aplicabilidade imediata, como as de eficácia limitada. No entanto, mesmo estas têm aplicação imediata. Aplicação imediata significa que todos os direitos e garantias fundamentais estão dotados de meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos fatos, situações, comportamentos queelas regulam, na visão de José Afonso da Silva. Essas normas serão aplicadas até onde puderem, até onde as instituições oferecerem condições para seu atendimento, e o Poder Judiciário, sendo invocado diante de uma situação concreta, deve conferir primazia ao direito fundamental. 6 Para a maioria, o art. 5°, §1°, veicula um princípio, algo que deve ser cumprido sempre que possível. A omissão na edição de norma regulamentadora, nos casos da norma de eficácia limitada, gera omissão inconstitucional, a qual será garantida pelo remédio constitucional, denominado mandado de injunção, ou por uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão. Art. 5°, LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamen- tadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. 2.7 TITULARES OU DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS FUNDAMEN- TAIS » Titularidade – Pessoas físicas e jurídicas, independe de nacionalidade, política, raça, etnia etc. » A interpretação do art. 5°, caput, é sistemática para garantir a fruição de direitos fundamentais a qualquer pessoa – estrangeiros residentes ou não residentes no país. Por que interpretação sistemática? É preciso analisar o caput do art. 5 com o fundamento da dignidade da pessoa humana (art. 1, III CF) e com o princípio na ordem internacional de prevalência aos direitos humanos (art. 3, II CF). » Os tribunais superiores também interpretam a proteção de direitos fundamentais a pessoas jurídicas. » Súmula 227 do STJ: Pessoa jurídica pode sofrer dano moral. » A jurisprudência já entendeu que pessoas jurídicas de direito público podem ser titulares de direitos fundamentais de cunho procedimental\instrumental. Ex.: Con- traditório e ampla defesa. » Existe um direito fundamental exclusivo de estrangeiro: concessão de asilo político por crime político ou de opinião. Art. 5º, LII da CF. » Estrangeiro (residente ou não) pode, por exemplo, impetrar um habeas corpus e ser beneficiário de assistência social. Obs.: É possível fazer distinção de direitos fundamentais entre brasileiros? Art. 12, § 2º. A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. Quais são os casos em que a CF trouxe distinção entre brasileiros? Cargos privativos de brasileiro nato. Art. 12, § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I – De Presidente e Vice-Presidente da República; II – De Presidente da Câmara dos Deputados; III – de Presidente do Senado Federal; IV – De Ministro do Supremo Tribunal Federal; V – Da carreira diplomática; VI – De oficial das Forças Armadas. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 7 VII – de Ministro de Estado da Defesa. Funções privativas de brasileiro nato: Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: VII – seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução. Extradição: Art. 5°, LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei. Propriedade de empresa jornalística: Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e ima- gens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. Obs.: É possível fazer distinção entre brasileiros e brasileiras (homens x mulheres)? Em regra, não, nos termos do art. 5°, I da CF: Art. 5°, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. Será possível a discriminação, no entanto, com base na igualdade/isonomia material. Vejamos alguns casos: Art. 5°, L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação. Art. 5°, XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias. Obs.: É possível fazer distinção entre brasileiros cidadãos e não cidadãos? Sim, os direitos políticos não são universais. De modo que, só é possível seu exercício a nacio- nais que estão no gozo dos direitos políticos e com a obtenção do título eleitoral – capacidade eleitoral ativa. Por exemplo, só o cidadão pode votar, ser votado, ajuizar ação popular. Obs.: É possível distinção entre ricos e pobres? Sim, com base na isonomia material, por via da justiça distributiva. Compensar as desigualdades históricas de alguns grupos vulneráveis. Art. 5°, LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que compro- varem insuficiência de recursos; Art. 5°, LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; 8 b) a certidão de óbito. DIREITOS INDIVIDUAIS SUMÁRIO DIREITOS INDIVIDUAIS ������������������������������������������������������������������������������������������ 3 DIREITO À VIDA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3 PRINCÍPIO DA IGUALDADE\ISONOMIA ���������������������������������������������������������������������������������������������� 5 DIREITOS INDIVIDUAIS 3 DIREITOS INDIVIDUAIS DIREITO À VIDA O direito à vida, assim como qualquer outro, é protegido pela CF de forma não absoluta. A vida é relativizada, por exemplo, na legítima defesa (art. 25 do Código Penal), no aborto para salvar a vida da gestante e em caso de estupro (art. 125 do Código Penal). É assegurado o direito à vida em uma dupla acepção: » Sob o prisma biológico – O direito à integridade física e psíquica, de continuar vivo, de preservar a existência física. » Sob o prisma da dignidade da pessoa humana – O direito a condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência condigna à natureza humana. Ex.: ADPF 347 – STF reconhece que o Brasil vive estado de coisas inconstitucional quanto ao sistema penitenciário. A Constituição Federal não previu o termo inicial da vida. O Pacto de São José da Costa Rica protege a vida desde a concepção – art. 4°, item 1. Nosso ordenamento protege a vida intrauterina (aborto é crime) e extrauterina. Relativizações do direito à vida (exemplos mais importantes) Pena de morte no caso de guerra declarada: XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX Aborto terapêutico e sentimental: art. 128 do Código Penal); Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) Aborto necessário I – Se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II – Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Interrupção da gravidez de feto com anencefalia (ADPF 54): Mostra-se inconstitucional a interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal. Pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito à vida. (ADI 3510): O ministro relator Carlos Ayres Britto fundamentou seu voto em dispositivos da Cons- tituição Federal que garantem o direito à vida, à saúde, ao planejamento familiar e à pesquisa científica. Destacou também o espírito de sociedade fraternal preconizado pela Constituição Federal, ao defender a utilização de células-tronco embrionárias na pesquisa para curar doenças. Art. 5º da Lei 11.105\05 (Lei de biossegurança). É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionáriasobtidas de embriões humanos produzidos por 4 fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – Sejam embriões inviáveis; ou II – Sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. § 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. § 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com célu- las-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa. § 3º É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria gestante (art. 124) ou com seu consentimento (art. 126) não é crime. É preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal, que tipificam o crime de aborto, para excluir do seu âmbito de incidência a inter- rupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade. STF. 1ª Turma. HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/11/2016 (Info 849). Atenção! Esse julgado não tem caráter vinculante/obrigatório. Obs.: Está pendente de julgamento a ADPF 442 que vai decidir se a criminalização do aborto no primeiro trimestre de gestação foi ou não recepcionada pela Constituição Federal As provas costumam cobrar pegadinha com relação à pena de morte. Excepcionalmente – em caso de guerra declarada – a pena de morte é admitida. XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX. Obs.: Atualmente, já vêm se falando em um direito de morrer (com dignidade). » O suicídio assistido não é permitido no Brasil. » O testamento vital é uma manifestação de vontade de que a pessoa não quer se submeter a determinados tratamentos médicos (resolução CFM 1995 sobre o tema – só a título de curiosidade, pois não cai na prova. » O paciente que rejeita transfusão de sangue. Entende-se que, se for maior e capaz, deve-se respeitar sua vontade. » Eutanásia x ortotanásia x distanásia. » Concretização do superprincípio da dignidade da pessoa humana. DIREITOS INDIVIDUAIS 5 Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana. Art. 5°, III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Destaque Súmula Vinculante 11 Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato pro- cessual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Obs.: O decreto 9.858/2016 regulamentou o art. 199 da Lei de Execuções Penais e disciplinando o uso de algemas. Veja o art. 292, p. único, do Código de Processo Penal: É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada pela Lei nº 13.434, de 2017) XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. Obs.: Pela CF, o crime de tortura é prescritível. A Corte interamericana já condenou o Brasil por esse entendimento, pois entende que o crime é imprescritível, exemplo do caso do julgamento de Vladimir Herzog, em 2018. O STF entendeu que a Lei de Anistia (perdoou os crimes de tortura no regime militar) foi recepcionada – ADPF 153. A Corte Interamericana condenou o Brasil no caso guerrilha do Araguaia, entendendo que o crime de tortura é imprescritível. PRINCÍPIO DA IGUALDADE\ISONOMIA » Igualdade formal perante a lei – Imposição de tratamento isonômico (igual) a todos da mesma categoria. » Igualdade material, real, de fato – Objetivo de reduzir as desigualdades fáticas por meio de concessão de direitos/vantagens. Ex.: sistema de cotas. » Igualdade na lei – Igualdade observada pelo legislador na edição de normas. » Igualdade perante a lei – Observada pelos intérpretes/aplicadores do direito. O princípio da igualdade não veda o tratamento discriminatório; apenas quando há razoabi- lidade para discriminação e na medida do razoável. Obs.: Não pode o Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos a servidores com base na isonomia. Súmula vinculante n° 37. 6 Por exemplo, a Lei Maria da Penha traz uma diferença de tratamento entre homens e mulhe- res, mas foi considerado constitucional pelo STF. Essa diferenciação é razoável. A própria CF faz diferenciações, como o caso de aposentadoria de mulheres mais cedo do que os homens. A igualdade material consiste em concretizar duas dimensões de justiça: » Justiça distributiva – Redistribuição de recursos socioeconômicos para grupos his- toricamente em desvantagens. Ex.: ações afirmativas. » Justiça de reconhecimento de identidades – Grupos cujo fator de identidade os leva à vulnerabilidade. Respeitar as pessoas nas suas diferenças. Decorre do pluralismo político, fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1, IV da CF). Ex.: Cons- titucionalidade da Lei Maria da Penha, direito do transgênero de alterar o nome e o sexo no registro civil independentemente de cirurgia ou de tratamento hormonal. (ADI 4275 DF), ato de homofobia e transfobia foi considerado crime de racismo social para o STF. ADO 26. STF reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar (ADPF 132). Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais - Fundamento da igualdade material na CF Exemplos de igualdade material na CF: Art. 5°, L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; Art. 7°, XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; Art. 7°, XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil - Súmula 683 do STF: o limite de idade para inscrição em concurso público só se legitima quando possa ser justificado pelas naturezas das atribuições do cargo a ser preenchido. Além disso, a limitação deve estar prevista na lei. Obs.: O STF já entendeu que cargos de natureza intelectual não podem ter discriminação por idade. Ex.: magistratura. Art. 7°, XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admis- são do trabalhador portador de deficiência; Art. 12, § 2º. A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado
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