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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA RESENHA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA CAPÍTULO 2 – AS INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS NA PSICOLOGIA PATRÍCIA RENATA FERNANDES ALVES São Gonçalo 2023 AS CONTRIBUIÇÕES DE JAMES MILL E JOHN STUART MILL PARA A PSICOLOGIA O capítulo dois do livro "História da Psicologia Moderna" aborda a história da psicologia no século XIX, destacando a influência dos filósofos James Mill e seu filho John Stuart Mill que juntamente com John Locke, George Berkeley, David Hartley, são considerados os principais empiristas britânicos. James Mill, embora tenha sido filho de sapateiro e com condições limitadas, graças à rígida educação de sua mãe e a crença que ela o influenciou a ter em sua superioridade mediante as outras pessoas, foi um filósofo escocês e um dos principais defensores da filosofia utilitarista, que era baseada na ideia de que a felicidade era o objetivo máximo da vida e que as ações humanas deveriam ser avaliadas de acordo com sua capacidade de produzir felicidade. Mill (Pai) foi um pensador reducionista e determinista, pois além de acreditar que a mente humana poderia ser reduzida aos elementos mais básicos, acreditava que as ações humanas eram determinadas por fatores externos, como a educação e o meio social. No campo da psicologia, James Mill acreditava que todos os conhecimentos e habilidades humanas eram adquiridos por meio da experiência, o que posteriormente se classificaria como behaviorismo. Assim como para John Locke, Mill considerava que a mente era uma "tábula rasa", ou seja, um papel em branco que se preenchia com as experiências vividas ao longo da vida. Essa visão influenciou a psicologia comportamentalista, que se desenvolveria posteriormente no século XX. Contudo, James Mill via a mente como uma máquina e considerava que os únicos elementos mentais existentes eram a sensação e as ideias, portanto, para ele, a crença de que a mente obtivesse uma função criativa era absurda. Para ele, a associação era uma ação mecânica e as ideias eram simples resultados do acúmulo ou soma de elementos mentais individuais. Já seu filho, John Stuart Mill, também filósofo foi igualmente submetido a uma criação rígida, mas dessa vez com influência da admiração de seu pai pelas obras de John Locke (inclusive, dadas as minhas pesquisas eu acredito ser bem provável que James tenha dado esse nome ao filho em prol de sua admiração por Locke) decidindo selecionar bem o que preencheria a “tábula rasa” de seu filho, submetendo-o a programas intensos de estudo e o privando de qualquer lazer. Tanto que aos três anos o menino já havia lido Platão no original em grego e escrito seu primeiro trabalho acadêmico. Acredito ser importante ressaltar que o resultado – óbvio – disso foi uma depressão profunda aos 21 e anos de trabalho para recuperar sua autoestima. Contudo, embora tenha sido influenciado por seu pai, Mill combatia a posição mecanicista de seu pai e acreditava que a mente humana não era tão passiva quanto James afirmava, mas que sim era capaz de criar novas ideias a partir da combinação de elementos sensoriais e da reflexão sobre essas combinações. John não acreditava no inatismo dessa habilidade, mas sim que se tratava de uma habilidade adquirida através de interferência do meio e da educação. O filósofo considerava que a síntese criativa era um processo fundamental para a descoberta de verdades científicas e filosóficas, refutando inclusive a ideia de tábula rasa criada por Locke e defendida por seu pai na síntese associativa. John Mill defendeu que a mente humana era capaz de sintetizar diferentes experiências sensoriais para criar, não apenas associar memórias já presentes na mente, mas desenvolver novas ideias a partir das anteriores. Robinson (2017, p. 187) em seu livro “Somos Todos Criativos” corrobora com essa teoria de John ao afirmar que “a criatividade individual é sempre estimulada pelas obras, pelas ideias e pelas realizações alheias”, pois mesmo no caso de pessoas que trabalham sozinhas, seus esforços criativos estão envolvidos por um contexto cultural. O autor (ROBINSON, 2017, p. 187) reforça o caráter empírico da habilidade criativa quando diz que “na prática, nossa própria visão de mundo é profundamente afetada por nossas relações com os outros, no mínimo porque usamos formas compartilhadas de representações que criamos juntos, como as línguas que falamos”. Além de Robinson, podemos perceber a relevância da contribuição dos Mills para a psicologia como ciência através de Eagleman e Anthony Brandt em sua obra “Como o Cérebro Cria”: Os seres humanos vivem em meio a uma competição entre os comportamentos automatizados, que refletem hábitos, e os comportamentos mediados, que rompem com os hábitos. Será que o cérebro deveria projetar uma rede neural direta em favor da eficiência ou ramificá-la em favor da flexibilidade? Precisamos das duas coisas. Os comportamentos automatizados nos dão competências: quando o escultor cinzela, o arquiteto constrói uma maquete ou o cientista conduz um experimento, a destreza que vem da prática ajuda a tornar novos resultados possíveis. Quando não somos capazes de pôr em prática novas ideias, fazemos tudo para dar-lhes vida. Mas o comportamento mediado que gera novidades. Ele é a base neurológica da criavidade. (EAGLEMAN e BRANDT, 2017, p. 34) Essa citação é de uma obra bem recente, onde a ciência e a tecnologia provavelmente superaram as expectativas dos tempos dos Mills, e nela é possível perceber a atuação tanto dos comportamentos mais mecânicos quanto dos que rompem a automatização expondo a relevância de ambos para o desenvolvimento criativo da mente e, com isso, corroborando com a síntese da criatividade de John Mill sem descartar por completo a contribuição de seu pai com a síntese da associação. John Mill foi representante da psicologia utilitarista e teve grande impacto no desenvolvimento da psicologia ao propor uma abordagem experimental para o estudo da mente humana. Ele acreditava que a psicologia deveria ser baseada em evidências empíricas, e que a introspecção – que mais tarde seria desenvolvido por Wundt como método sistemático de estudo da mente humana – deveria ser utilizada como método para investigar a mente humana. John Stuart Mill também foi um dos primeiros a sugerir que a psicologia deveria ser uma disciplina independente, separada da filosofia. Ele argumentava que a psicologia deveria ser estudada como uma ciência, com métodos experimentais rigorosos, indo contra Auguste Comte, que negava a possibilidade de a mente ser examinada por métodos científicos. No geral, a contribuição dos Mills para a psicologia foi significativa, influenciando não apenas a forma como a disciplina era estudada, mas também o próprio entendimento da mente humana e de como ela se desenvolve. O capítulo dois do livro "História da Psicologia Moderna" oferece uma visão abrangente sobre as ideias dos Mills e sua importância para o desenvolvimento da psicologia. REFERÊNCIAS EAGLEMAN, David; BRANDT, Anthony. Como o Cérebro Cria: O Poder da Criatividade Humana para transformar o mundo. RIO DE JANEIRO: INTRÍNSECA, 2017. JOHN STUART MILL. A System of Logic, Ratiocinative and Inductive. [s.l.] BEYOND BOOKS HUB, 101DC. ROBINSON, Ken. Somos Todos Criativos. 1ª. ed. São Paulo: Benvirá, 2017. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2019.
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