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O Inato e o Apreendido

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O Inato e o Apreendido
Nesta seção vamos apresentar um pressuposto epistemológico para a compreensão das ciências sociais. Apresentamos uma dualidade composta pelos elementos: o inato e o apreendido. O inato é aquilo que já nasceu conosco, algo natural do ser, como, por exemplo, a nossa biologia, os nossos instintos, etc. Já o apreendido é aquilo que construímos socialmente, precisou de um aprendizado, uma educação ou uma experiência social.
Todos nós temos que comer, se não, a gente pode morrer de fome, é instintivo do ser humano, natural, inato. Porém, o que a gente come, como a
gente come e a ora que comemos, é apreendido socialmente/culturalmente. Algum de vocês come gafanhoto? Se você é brasileiro, provavelmente não. No entanto, no Japão esse inseto agrada o paladar da maioria da população, é até vendido como alimento enlatado. No México, o gafanhoto Chapulín (Sphenarium Purpurascens), é tão popular que inspirou o personagem de televisão “Chapulín Colorado” (ou na tradução para o Português, Chapolin). Ou seja, para quem nasce nesses países comer esse inseto é algo absolutamente normal, gostoso.
Enquanto a biologia de um brasileiro poderia sentir ânsia de vômito diante da iguaria, com a biologia de um japonês saliva de desejo. Por quê? As ciências sociais respondem, porque a dimensão sociocultural (apreendida) modifica a biologia humana (inata), a sociedade molda o indivíduo no decorrer da sua “socialização”, da formação das experiências de vida, de hábitos e costumes que são apreendidos socialmente ao longo da experiência.
Outra questão, a visão de mundo de vocês é igual a visão de mundo dos seus avós? Se todos tem olhos (biologia), por que enxergam o mundo de forma diferente? A nossa trajetória social, o momento histórico em que a gente vive, os nossos valores é que formam o nosso modo de ver o mundo. Um mesmo fenômeno é interpretado de forma diferente a partir dos valores que pessoa carrega. E esses valores são formados socialmente, a partir da nossa cultura e dos grupos sociais que fazemos parte. O social molda o individual, ou como fala a antropologia, a cultura molda a natureza. Quem é você, se nem o seu nome foi você quem escolheu?
O que estamos querendo afirmar é que muito daquilo que a gente acha que é natural, algo totalmente individual, foi, na verdade, uma construção social, produto de experiências, culturas, hábitos e crenças que foram apreendidos socialmente. O individual tem uma relação direta com a estrutura social.
O conceito de estrutura social é um conceito importante para a Sociologia. Refere-se ao facto de os contextos sociais das nossas vidas não consistirem apenas em acontecimentos e ações ordenados aleatoriamente, eles estão estruturados, ou padronizados, de diferentes maneiras. Há regularidades no modo como nos comportamos ou nas relações que temos com outras pessoas (GIDDENS, 2008.p5).
Os agentes interiorizam/inculcam a estrutura da sociedade desde a sua entrada no mundo, nesse processo o nosso corpo sofre transformação da estrutura social, modificando aspectos mais íntimos do ser humano, nesse processo o corpo (biológico) torna-se “Ser Social”. A sociologia, com isso, estuda o processo de apreensão social das estruturas que compõem as múltiplas dimensões da sociedade.

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