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O lugar dos pais no tratamento dos filhos

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80 • Publicação CEAPIA • n. 27 • 2018
O lugar dos pais no tratamento dos filhos e os 
desafios vigentes na psicanálise com crianças
 RITA DAMBROS HENTZ*1 
RESUMO - O presente trabalho examina o lugar dos pais no tratamento psicoterápico 
dos filhos na perspectiva da psicanálise. Busca investigar os desafios vigentes na prática 
psicanalítica com crianças, enfatizando, também, as diferentes perspectivas sobre 
psicanálise infantil, percorrendo autores clássicos e contemporâneos e ressaltando as 
diferentes opiniões em relação à inclusão dos pais no tratamento dos filhos. Sabe-se que 
a infância configura uma etapa da vida na qual o sujeito está em fase de estruturação 
psíquica e os pais, ou cuidadores, estão presentes de forma real, tanto na vida do sujeito 
em construção quanto no processo de psicoterapia. Neste sentido, destaca-se a importância 
de delimitar os espaços dos pais no tratamento dos filhos, a necessidade de lidar com 
os cuidadores do sujeito e o indispensável questionamento a respeito dos desafios que 
perpassam décadas no campo da psicanálise infantil.
PALAVRAS-CHAVE - Psicanálise. Tratamento Infantil. Pais.
The parents’s role in the treatment of their children and the current challenges in 
the child psychoanalysis
ABSTRACT - This work examines the parents place in the psychotherapeutic treatment 
of children from the perspective of Psychoanalysis. It investigates current challenges in 
psychoanalytic practice with children, also emphasizing the different perspectives about 
child Psychoanalysis, passing through classic and contemporary authors, highlighting 
the various opinions regarding the inclusion of parents in the children’s treatment. It is 
know that childhood sets up a stage of life in which the subject is in a phase of psychic 
structuring and the parents or the caregivers, are present in a real way in the life of the 
subject in development as well as in the psychotherapy process. In this regard, it highlights 
the importance of defining the parent’s role in the treatment of their children, the need 
to deal with the subject’s caregivers and the essential question about the challenges that 
pervade decades in the field of Child Psychoanalysis. 
KEYWORDS - Psychoanalysis. Children’s Treatment. Parents.
*1 Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestranda em 
Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Membro do Psia – Laboratório de 
Pesquisas e Intervenções em Psicanálise do Instituto de Psicologia da USP.
Rita Dambros Hentz • O lugar dos pais no tratamento dos filhos e os desafios vigentes na psicanálise com crianças • 81
Introdução
Diante da crescente procura dos pais por tratamento psicoterápico para seus 
filhos na infância, faz-se importante pensar sobre as especificidades deste pro-
cesso terapêutico. Sabendo que as crianças são totalmente dependentes dos 
pais ou de quem as cuida, torna-se necessário considerar as particularidades e 
desafios impostos pelo tratamento infantil, compreendendo qual o lugar os pais 
podem e devem ocupar neste processo. Neste sentido, optou-se pela teoria psi-
canalítica para o desenvolvimento deste estudo.
A Psicanálise teve seu início com Sigmund Freud há mais de um século. Por 
meio da análise das histéricas de sua época, o médico neurologista reconheceu 
que as marcas dos primeiros anos de vida mostravam-se presentes também na 
vida adulta dos sujeitos. Apesar de não ter se dedicado ao tratamento de crian-
ças, Freud sempre destacou em sua obra a importância das vivências infantis. 
Através da escuta de adultos e da observação de crianças, definiu diversos 
conceitos fundamentais para a Psicanálise relacionados à infância, como o Com-
plexo de Édipo, Sexualidade Infantil, Fantasia Infantis e Fases Psicossexuais 
Infantis. Portanto, é inviável separar psicanálise e infância, uma vez que, desde 
seu início, Freud enunciou que os primeiros anos de vida eram a base principal 
para encontrar a interpretação dos sintomas psíquicos dos sujeitos (Costa, 2011; 
Priszkulnik, 1995; Flesler, 2012). 
A Psicanálise de crianças, propriamente dita, teve seu primeiro marco quan-
do Freud analisou o material do pequeno Hans, que apresentava como sintoma 
fobia de cavalos. Por meio dos relatos do pai de Hans, o médico foi analisando 
a criança e construindo um entendimento a respeito do caso. Freud afirmou, 
então, que o sintoma de Hans estava relacionado à angústia de castração. Esta 
foi a principal contribuição do autor para a psicanálise de crianças (Priszkulnik, 
1995). 
Porém, Freud (1909) destacou em sua obra que o tratamento de Hans só foi 
possível porque foi efetuado com o importante auxílio do pai do menino. Portan-
to, deixando clara a sua posição a respeito da psicanálise com crianças, afirmou 
que ninguém mais poderia ter persuadido a criança a fazer tais declarações, 
apenas alguém que a conhecia de maneira particular.
Atualmente, é importante salientar que a prática clínica com crianças sofre 
pressão constante por parte dos adultos, que geralmente demandam a imediata 
resolução das situações, dos sintomas e das angústias que a criança lhes gera, 
não sendo raras as situações em que a demanda dos pais e seus próprios confli-
tos impossibilitam o tratamento do filho. Além disso, a problemática da criança 
diz muito a respeito da sua vida e sobre a vida dos pais, ou dos que a cuidam. Os 
sintomas aparecem, muitas vezes, porque é a maneira que a criança encontra 
para se fazer ouvir, mas podem estar denunciando também algum conflito dos 
próprios pais. Dessa forma, quando se trata de Psicanálise Infantil, é impres-
cindível pensar sobre a inclusão dos responsáveis no processo terapêutico, por 
82 • Publicação CEAPIA • n. 27 • 2018
mais conflitos que essa relação traga, uma vez que é impossível isolar a criança 
de seus pais ou daqueles que cumprem essa função (Flesler, 2012; França & 
Radino, 2002; Rosenberg, 2002). 
Os psicólogos que se dedicam ao atendimento de crianças precisam reco-
nhecer a importância de estabelecer um bom vínculo com a família para que 
haja sucesso terapêutico. Os pais costumam chegar angustiados e esperam que 
o psicólogo traga respostas e soluções rápidas ao problema. Contudo, estão de-
positando uma grande confiança ao deixar seus filhos com um profissional que 
desconhecem. Além disso, conta-se com as figuras parentais para sustentar o 
tratamento, no sentido financeiro e de assiduidade (Winnicott, 2001; França & 
Radino, 2002; Bleichmar, 1994).
A partir do exposto acima, tem-se como objetivo geral deste estudo inves-
tigar o lugar dos pais no tratamento psicoterápico de crianças. Em relação aos 
objetivos específicos, pretende-se compreender as principais perspectivas sobre 
Psicanálise Infantil e sobre a inclusão dos pais, entender a questão do sigilo nes-
ta modalidade de tratamento e investigar os desafios que a Psicanálise Infantil 
enfrenta e que a presença dos pais impõe neste processo. Para tal, optou-se pelo 
método qualitativo de revisão bibliográfica. Este método busca a compreensão 
e o estudo de algo em seu ambiente natural, tentando interpretar e dar sentidos 
a uma pesquisa de acordo com os significados que as pessoas atribuem às situ-
ações. A revisão bibliográfica foi realizada por meio de livros, artigos, teses de 
doutorado e trabalhos publicados em anais de eventos (Flick, 2007).
Discussão
Uma vez que não se dedicou ao estudo e prática da Psicanálise Infantil, 
Freud acabou deixando diversas incertezas aos psicanalistas na hora de dimen-
sionar o tratamento de crianças, assim como ocorreu com os casos de idosos, de 
pacientes psicóticos e de neuroses narcísicas, dos quais não se ocupou durante 
sua carreira. O autor sustentava a ideia de que para um sujeito ser “analisável” 
era necessário que houvesse uma demanda vinda dele, ou seja, que sofresse de 
um conflito e que se reconhecesse incapaz de resolvê-lo sozinho, levando-o ao 
analista e pedindo auxílio. No entanto, Sigmund Freud declarou, no final de suavida, que deixaria para sua filha, Anna Freud, a missão de dedicar-se exclusiva-
mente à Psicanálise de crianças (Flesler, 2012).
Dessa forma, Anna Freud e Melanie Klein, psicanalistas renomadas na his-
tória da Psicanálise Infantil, passaram a estudar sobre o tratamento de crianças. 
Enquanto Anna Freud afirmava que a transferência com crianças era inviável já 
que esta se encontrava em fase de constituição psíquica, Melanie Klein partia 
da concepção de que a estrutura do inconsciente já estava formada nas crian-
ças desde bebês. As autoras também defendiam diferentes ideias em relação à 
escuta e à inclusão dos pais no tratamento de crianças. Anna Freud considerava 
Rita Dambros Hentz • O lugar dos pais no tratamento dos filhos e os desafios vigentes na psicanálise com crianças • 83
essencial receber os pais, já que a criança era totalmente influenciada por eles. 
Já Melanie Klein afirmava que seu trabalho ocorria através da análise das fan-
tasias da criança e que o contato com os pais deveria ser o menor possível. Por 
pensarem de maneiras antagônicas, as autoras tornaram-se claramente rivais, o 
que resultou em críticas de ambos os lados e formação de seguidores ortodoxos 
de cada uma (Napolitani, 2007, Klein, 1970; Priszkulnik, 1995).
Anna Freud (1971) a partir dos seus estudos e de sua prática, postulou a 
ideia de que era impossível aplicar a Psicanálise propriamente dita ou a psicaná-
lise de adultos em crianças, e alegou que era essencial um período de adaptação 
da criança antes do início do tratamento. Reconheceu também que era necessá-
rio manter contato constante com as informações sobre a vida da criança, uma 
vez que esta expressa seus conflitos, principalmente, em casa e não na cena 
analítica (Priszkulnik, 1995). Assim, a autora pensava que o ambiente e os pais 
eram determinantes no comportamento e no sintoma das crianças, portanto, 
a psicanalista recebia os pais para auxiliá-los na construção de um ambiente 
favorável para o filho. Além disso, ela os incluía no tratamento porque acreditava 
que uma criança não poderia dar muitas contribuições à história da sua própria 
doença (Calzavara, 2012; Freud, 1971).
Melanie Klein (1970) criou um novo método de fazer a Psicanálise Infantil 
por meio de jogos, brinquedos, desenhos, etc. A psicanalista se propôs a pre-
servar todos os princípios da Psicanálise de Adultos, como a transferência, a 
resistência e a interpretação, defendendo que a única diferença seria adaptar-se 
à mente das crianças. A autora criticou qualquer método educativo e afirmou 
que uma análise de crianças tem que seguir os princípios da análise de adultos 
(Priszkulnik, 1995).
Melanie Klein buscava a independência dos pais em relação à análise dos fi-
lhos. Dessa forma, a psicanalista ressaltava a importância de conhecer a criança 
sem a interferência dos responsáveis pela mesma, o que a permitia construir um 
novo quadro do paciente, ou seja, conhecer, olhar e escutar o sujeito sem ideias 
preconcebidas. A autora destacava também o fato favorável dos pais terem pro-
curado e confiado em um profissional para o tratamento dos filhos, e concluiu 
que a não cooperação dos pais, ou a atitude desfavorável dos mesmos, não po-
deria ser justificativa para o insucesso terapêutico (Calzavara, 2012).
Donald Winnicott (1990) também trouxe importantes contribuições teóricas e 
técnicas para a Psicanálise Infantil, enfatizando, principalmente, a análise de be-
bês. O autor dedicou-se especialmente ao estudo da relação mãe-bebê, salientan-
do em seus postulados que ninguém conhecia o bebê melhor do que a mãe. Neste 
sentido, entrevistas constantes com a figura materna faziam parte da sua técnica 
na análise de crianças. O psicanalista ressaltava para os pais a importância de 
acolher a doença do filho, suportando também os efeitos que o tratamento poderia 
causar na criança. O autor constatou que quanto maior o comprometimento emo-
cional da criança em análise, maior seria a necessidade e a frequência dos pais no 
ambiente terapêutico (Silva & Reis, 2017; Dadoorian, 2016).
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Alguns anos depois, a psicanalista Maud Mannoni (1985) postulou que a 
atitude de não receber os pais da criança acarretaria no abandono do tratamen-
to. Ela salientou ainda que se os pais pudessem encontrar no psicoterapeuta 
alguém a quem se pode falar dos fracassos e dos erros, o tratamento poderia 
tornar-se mais benéfico. Além disso, ressaltou a importância dos atendimentos 
de crianças para compreender a estruturação subjetiva desde os primeiros anos 
de vida, bem como a origem e os desdobramentos das psicopatologias que, 
como se sabe, tem seu início na infância (Mannonni, 1985; Silva, 2012). 
Já Rosenberg (2002) escreve que inicialmente partia da ideia kleiniana de 
que a análise do mundo interno da criança poderia transformar o próprio meio 
familiar, portanto, recebia os cuidadores no máximo duas vezes por ano. Toda-
via, a prática da análise infantil mostrou-lhe dificuldades transferenciais, que a 
fizeram repensar sua conduta. Portanto, num segundo momento, a psicanalista 
passou a receber os pais mais frequentemente com o objetivo de trabalhar as 
resistências destes em relação ao tratamento dos filhos, no entanto, deixou claro 
que não os incluiria de maneira alguma na análise da criança (Silva, 2012; Ro-
senberg, 2002). 
Ampessam (2005) defendeu em sua tese a posição de que não se pode ado-
tar uma atitude padrão, ou seja, para a autora, as opções devem ser pensadas 
de acordo com cada caso e com o modelo de atendimento de cada psicanalista. 
Porém, em sua prática clínica, prefere começar com uma entrevista com os pais 
sem a presença da criança. Posterior às entrevistas iniciais, a autora salienta a 
necessidade de demarcar aos pais o lugar de cada um, auxiliando-os na cons-
trução de um espaço de diferenciação entre eles e o filho, para, a partir disso, 
iniciar o tratamento da criança.
Já Flesler (2012) enunciou que as crianças não podem ser abordadas da 
mesma forma que os adultos e alegou que o objeto da Psicanálise não é o adulto 
ou a criança, mas sim o sujeito de tempos e estrutura. Ao referir-se a esse su-
jeito de tempos, amparou-se nas formulações lacanianas a respeito do registro 
no campo Real, Simbólico e Imaginário, e defendeu a ideia de que a prática 
psicoterapêutica deve guiar-se por esses tempos. A psicanalista ressaltou tam-
bém que, já que uma criança chega à psicoterapia devido aos sentimentos des-
prazerosos que gera nos adultos, faz-se fundamental, antes de tudo, dar lugar e 
importância ao que os cuidadores desse sujeito trazem como demanda. 
Diante de visões diferentes, contradições e polêmicas a respeito da práti-
ca da Psicanálise Infantil, torna-se relevante refletir a respeito de uma questão 
inicial e fundamental que é o significado de ser criança. E, mais do que isso, 
a diferença entre infância, infantil e criança, a fim de entender algumas das 
particularidades deste tratamento. Tais termos são comumente confundidos, 
todavia, no campo da Psicanálise, possuem significados claramente distintos. 
A infância constitui um período do ciclo vital e do desenvolvimento que tem 
um tempo delimitado, mas que pode variar para cada sujeito. Já o infantil é 
um termo mais complexo, uma vez que está presente, também, na vida adulta. 
Rita Dambros Hentz • O lugar dos pais no tratamento dos filhos e os desafios vigentes na psicanálise com crianças • 85
Trata-se das marcas que as experiências vividas na infância deixaram no sujeito 
e que produzem efeitos neste. Na fase adulta, os indivíduos também apresentam 
traços infantis, e podem recorrer a comportamentos e pensamentos infantis ao 
longo da vida. Portanto, o sintoma chamado infantil não se refere necessaria-
mente à criança, nem ao tempo cronológico da infância, mas sim a um conflito 
resultante de vivência infantis (Flesler, 2012).
Para a Psicanálise, crianças são sujeitos que estão se estruturando psiqui-
camente e que precisam da presença de um adulto paralhes dar afeto e garantir 
a sua sobrevivência biológica. Além disso, precisam passar pela importante ex-
periência da castração, a qual se espera que impulsione os sujeitos, diante do 
reconhecimento da falta, a traçarem e lutarem por suas metas e objetivos na vida. 
Crianças são também indivíduos cuja conduta deve ser corrigida, aos poucos, pe-
los adultos, uma vez que não estão inseridos na cultura e consequentemente ain-
da não tem limites, leis e moral internalizadas (Stein, 2011). Em relação às crian-
ças que chegam para tratamento psicoterápico, Flesler (2012) caracteriza como:
Pacientes que não vêm por si mesmos, não apresentam “as condições necessárias 
à psicanálise”, nunca ouviram falar de psicanálise, nem um adulto jamais 
lhes falou dessa prática (...) chegam com seu sofrimento, não costumam falar, 
normalmente brincam ou ficam em silêncio, às vezes não querem vir ou nos fazem 
perguntas de foro íntimo (Flesler, 2012, p. 7).
Neste sentido, os psicólogos que optam pela prática clínica com crianças, 
sofrem com os obstáculos e dificuldades técnicas que surgem durante este pro-
cesso. O psicoterapeuta é o profissional a quem os cuidadores, normalmente os 
pais, se dirigem depois dos dissabores, dos fracassos, das ilusões perdidas, do 
narcisismo ferido. Aquele em quem se pode confiar, mas que também pode ser 
usado para avivar rixas e conflitos pessoais (Rosenberg, 2002). Teixeira (2013) 
constata que é essencial estabelecer com os pais uma relação de cooperação 
com o tratamento da criança, mesmo que, isso seja extremamente difícil em 
alguns casos. A autora refere que o sucesso terapêutico está estritamente liga-
do à boa vinculação dos pais com o psicoterapeuta, reforçando o fato de que o 
comparecimento da criança na psicoterapia depende principalmente dos pais. 
Portanto, a aliança terapêutica deve ser desenvolvida não só com a criança, mas 
também com os pais. 
Um dos significativos desafios impostos pela prática da clínica infantil é a 
presença real dos pais na análise e na vida psíquica do sujeito. Quando se trata 
de um adulto, o terapeuta conhece os pais deste paciente apenas pelo que ele 
fala. No caso das crianças, é necessário conhecer os pais literalmente, com a 
presença real, aprendendo a lidar com estes e também com as suas demandas. 
Caso contrário, o tratamento da criança não seria possível, uma vez que os 
pequenos são dependentes dos adultos que tomam decisões por eles (Flesler, 
2012; Rosenberg, 2002). 
Teixeira e Nunes (2013), amparada nos aportes de Glenn (1996), pensa que 
os pais também enfrentam dificuldades neste processo já que, ao mesmo tempo 
86 • Publicação CEAPIA • n. 27 • 2018
em que desejam a cura dos filhos e são responsáveis pelo seu tratamento, são 
impedidos de saber detalhes sobre o que se passa no atendimento dos mesmos. 
A autora aponta o medo por parte dos pais de que a criança conte segredos 
familiares e do possível julgamento do psicólogo diante dessas situações. 
A questão do sigilo e da ética no tratamento de crianças constitui-se como 
outro desafio a ser pensado, uma vez que é muito mais complexa do que no caso 
de adultos. O Código de Ética Profissional do Psicólogo (2014) afirma no Art. 9º 
que “é dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por 
meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas” e no Art. 13º, recomenda-
-se aos psicólogos que “no atendimento à criança, deve ser comunicado aos 
responsáveis o estritamente essencial para se promoverem medidas em seu be-
nefício”.
Primeiramente, para atender uma criança são necessárias a total concor-
dância e autorização dos pais em relação a este processo. Todavia, a criança 
também deve ter seus direitos respeitados em relação à privacidade e sigilo. 
Teixeira e Nunes (2013) refletem sobre a importância de garantir às crianças o 
sigilo, informando-as de que os pais têm contato constante com o profissional, 
mas que essa relação não coloca em risco seus segredos. Ampessam (2005) ga-
rante que o sigilo se refere aos fantasmas da criança e não às suas brincadeiras 
e desenhos. Da mesma forma, Teixeira e Nunes (2013) postula que é necessário 
deixar claro aos pais que, tudo que eles trouxerem ao psicólogo, poderá ser dito, 
em algum momento, para a criança. 
Considerações Finais
Partindo das contribuições psicanalíticas iniciais, diversos outros autores, 
além dos pioneiros, se dedicaram ao estudo e a prática da psicanálise com 
crianças, porém, após mais de um século, essa modalidade de tratamento ainda 
suscita dúvidas e incertezas aos profissionais e nenhuma abordagem teórica 
parece ter sido capaz de dar conta de todas as demandas que esta terapêutica 
exige. A relação da Psicanálise com a infância está posta desde o início, visto 
que as vivências infantis representam os registros mais importantes para a cons-
tituição psíquica e, geralmente, é onde se encontra a etiologia dos sintomas. 
O sigilo configura-se como um importante desafio neste processo, mas 
mostrou-se difícil de ser explorado teoricamente pela limitação de artigos e 
livros que dessem conta dessa questão tão complexa no tratamento de crian-
ças. No entanto, é essencial afirmar que na psicoterapia de crianças também é 
necessário garantir à esta que seus segredos serão guardados de forma ética, 
apesar dos encontros frequentes com seus pais. 
Portanto, é notável que a prática psicanalítica infantil é repleta de obstácu-
los de diferentes ordens, como trabalhar com os pais e seus próprios conflitos, 
lidar com as dificuldades de tratar um sujeito que não traz uma demanda própria 
Rita Dambros Hentz • O lugar dos pais no tratamento dos filhos e os desafios vigentes na psicanálise com crianças • 87
e, ainda, manter o sigilo de forma ética no tratamento dos pequenos. Conclui-
-se, portanto, que os pais ocupam um lugar primordial e fundamental na criação 
dos filhos, transmitindo seus valores e cuidados de acordo com suas próprias 
histórias de vida e estão totalmente implicados na constituição psíquica do su-
jeito em formação. No entanto, é preciso reconhecer que nem sempre o sintoma 
da criança pertence a ela, pois pode estar representando uma queixa ou uma 
denúncia das dificuldades familiares presentes em sua vida. Mas, por mais que 
o sintoma apresentado não pertença somente à criança, o tratamento psicotera-
pêutico oferece possibilidades para que ela desenvolva recursos psíquicos para 
lidar com seus conflitos. 
Quando se trata da inclusão dos pais no tratamento psicoterápico dos fi-
lhos, não há uma regra ou um protocolo a ser seguido. São diversas maneiras 
de trabalhar com os cuidadores das crianças, mas, assim como cada sujeito é 
diferente e singular, a relação com os pais também vai depender de cada caso. 
No entanto, para que haja um engajamento no tratamento dos filhos, a prática 
clínica evidencia a importância de proporcionar aos pais um acolhimento da 
demanda e um suporte para auxiliá-los a encontrar a melhor forma de cuidar de 
suas crianças. Acolher o sofrimento dos pais em relação aos filhos, pode trazer 
também um alívio da angústia da criança em tratamento. 
Compreende-se que a abordagem psicanalítica infantil vai além do marco 
teórico original para o qual a Psicanálise fora criada, isso porque, inicialmente, 
pensou-se neste tratamento para sujeitos que reconheciam em si algum sofri-
mento e que se percebiam incapazes de resolvê-lo sozinhos. A criança configura 
outro perfil de paciente, uma vez que não sabe falar sobre seus conflitos, por 
mais que esteja sofrendo. Com os pequenos, é preciso utilizar outros instru-
mentos, como os brinquedos, desenhos e jogos, para que assim se possa entrar 
em contato com seu mundo interno. A teoria psicanalítica obrigou-se, então, a 
reformular-se diante da criança que chega para tratamento devido às demandas 
que são trazidas por outras pessoas. 
Deve-se considerar, portanto, que a relação psicoterapeuta-pais precisa 
ser maleável, ou seja, adaptar-se a cada caso. No entanto, é função essencial 
do psicólogodelimitar os espaços, marcando que o papel dos pais neste pro-
cesso é de coadjuvante e que o tratamento é da criança. É importante que 
existam encontros com os pais, primeiramente para escutar o que eles trazem 
como motivo da busca de atendimento e, no decorrer do tratamento, como 
eles reagem e falam sobre as mudanças dos filhos. O psicoterapeuta precisará 
realizar devoluções eventuais aos pais a respeito do andamento do tratamento 
de seus filhos. Neste sentido, a partir das reflexões suscitadas pela prática 
e pelo desenvolvimento do presente artigo, conclui-se que as crianças e a 
Psicanálise Infantil têm importantes semelhanças: ambas estão em constante 
construção e transformação.
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