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Disciplina: Economia Internacional Professor: Francisco Eduardo Pires de Souza 1º Semestre de 2023 Email: fepsouza@ie.ufrj.br Aula passada • Vimos que o balanço de pagamentos é montado utilizando-se o método das partidas dobradas. • Vimos a convenção dos sinais. Importante lembrar que na conta financeira sinal negativo significa captação líquida de recursos (moeda estrangeira) e positivo significa concessão de recursos ao exterior • Analisamos o significado de equilíbrio e desequilíbrio do BP – No sentido puramente contábil, sempre equilibrado – Se tem um déficit em conta corrente (+conta capital), é um desequilíbrio porque tem que financiar este déficit com ingresso de capitais, o que aumenta o passivo externo do país. – Outro sentido do desequilíbrio: mesmo com TC+K em equilíbrio ou com déficit pequeno, se o déficit não é financiado com capitais autônomos e é necessário usar reservas, pode ser um desequilíbrio preocupante se não for temporário, porque as reservas são esgotáveis. – A variação das reservas é dada pela equação: AR = TC +K – Fa Fizemos este exercício, que mostra mais um sentido para a noção de desequilíbrio do balanço de pagamentos • Suponha, que em determinado ano TC +K = - US$ 3 bilhões e Fa = - US$ 5 bilhões. Qual a variação das reservas? • TC + K - Fa = AR => AR = -3 – (-5) = 2 • No exemplo acima temos um desequilíbrio “benigno”: um resultado positivo nas contas “não reservas” do balanço de pagamentos (TC+K-Fa) e uma acumulação de reservas (AR) pelo Banco Central. Um exemplo de déficit nas contas exceto as reservas • Suponha, que em determinado ano TC + K = - US$ 3 bilhões e Fa = -US$ 2 bilhões. Qual a variação das reservas? • TC + K - Fa = AR => AR = -3 – (-2) = -1 • No exemplo acima temos um desequilíbrio que já não é “benigno” como o anterior. Sucessivos déficits globais podem levar a um esgotamento do estoque de reservas do Banco Central. Num regime de câmbio fixo esta situação é mais dramática do que num regime de câmbio flutuante. TC + K – Fa + E&O = AR Obs: como não estamos num exemplo teórico, e sim usando os dados reais do balanço de pagamentos, não podemos usar a versão simplificada da equação básica do balanço de pagamentos. Temos que incluir os erros e omissões. -104+ 0 + 4 – (-111) = 11 Ou seja, o déficit em transações correntes e na conta capital (mais E&O) foi de 100, mas como houve uma captação líquida de recursos de 111 sobraram 11 que foram comprados pelo Banco Central e incorporados às reservas. (Fa) Analise os resultados abaixo do BP do Brasil Balanço de pagamentos e contas de riqueza (Posição do investimento internacional - PII) • “No contexto das contas internacionais, os estoques são chamados de “posições” (BPM6)”. Daí Posição de Investimento Internacional. • Relembrando a definição: Posição de Investimento Internacional (conta de estoques) – registro, num determinado ponto no tempo, dos ativos financeiros de residentes que representam direitos sobre não residentes, mais ouro das AM, e do estoque das obrigações de residentes em relação a não residentes. Posição de Investimento Internacional e Passivo Externo Líquido • A posição de investimento internacional é igual aos ativos externos do país no exterior menos os passivos externos do país. • No exemplo ao lado: PII 2015 = A – P = US$ 752 727 milhões – US$ 1 230 494 milhões = - US$ 477 767 milhões. • Quando um país tem uma PII negativa, como no caso do Brasil em 2015, é comum o uso do conceito de Passivo Externo Líquido (PEL), que é a PII com sinal contrário. Então pode-se dizer que o Brasil, ao final de 2015, tinha um PEL de US$ 477,8 bilhões. Balanço de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional • Como as duas contas se relacionam? • Ex 1: Uma empresa brasileira faz investimentos na sua subsidiária no exterior ao longo do ano, no valor de US$ 1 bilhão: – No BP é registrado, na conta financeira, o fluxo do investimento no exterior (US$ 1 bilhão) – Na Posição de Investimento Internacional, o valor investido por essa empresa é acrescentado ao valor do estoque do do investimento direto no exterior (US$ 408 bilhões no ex a seguir). O Ativo da PII aumenta em US$ 1 bilhão. – Mas apesar do aumento do Ativo, a PII não aumenta. A razão está nas contrapartidas. Vejamos como. – As contrapartidas das operações acima são: – No BP, suponhamos que a fonte de recursos (i.e., dos dólares usados pela empresa brasileira para fazer o investimento no exterior) tenha sido os haveres dos bancos (o banco vendeu os dólares que estavam na sua conta no exterior à empresa brasileira para fazer o investimento). Então a contrapartida na nossa tabelinha será um lançamento com sinal negativo na conta de aquisição de ativos dos bancos (depósitos e moedas em outros investimentos) Balanço de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional • Como as duas contas se relacionam? • Ex 1: Uma empresa brasileira faz investimentos na sua subsidiária no exterior ao longo do ano, no valor de US$ 1 bilhão: – No BP é registrado, na conta financeira, o fluxo do investimento no exterior (US$ 1 bilhão) – Na Posição de Investimento Internacional, o valor investido por essa empresa é acrescentado ao valor do estoque do do investimento direto no exterior (US$ 408 bilhões no ex a seguir). O Ativo da PII aumenta em US$ 1 bilhão. – Mas apesar do aumento do Ativo, a PII não aumenta. A razão está nas contrapartidas. Vejamos como. – As contrapartidas das operações acima são: – No BP, suponhamos que a fonte de recursos (i.e., dos dólares usados pela empresa brasileira para fazer o investimento no exterior) tenha sido os haveres dos bancos (o banco vendeu os dólares que estavam na sua conta no exterior à empresa brasileira para fazer o investimento). Então a contrapartida na nossa tabelinha será um lançamento com sinal negativo na conta de aquisição de ativos dos bancos (depósitos e moedas em outros investimentos) – Na PII a posição dos haveres dos bancos será reduzida em US$ 1 bilhao. Balanço de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional • Como as duas contas se relacionam? • Ex 2: Uma empresa brasileira faz exportações (digamos, de US$ 1 bilhão) e vende os dólares obtidos a um banco brasileiro (em troca de reais). – No balanço de pagamentos, além do lançamento das exportações nas transações correntes, é registrada a contrapartida na conta financeira (o depósito dos dólares na conta do banco brasileiro no exterior) – Na Posição de investimento internacional, o total da conta de “Outros Investimentos” no ativo (onde são registrados os saldos de depósitos dos bancos) que era, no exemplo, de US$ 73 bilhões, passa a ser de US$ 74 bilhões. – Note que neste caso o aumento dos depósitos dos bancos resultou dos pagamentos feitos pelo importador dos produtos brasileiros ao banco. Ou seja, nenhuma outra conta de ativo ou passivo foi a origem do aumento dos ativos dos bancos. Então ao contrário do exemplo anterior, haverá um aumento da PII. Balanço de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional • Em suma, os dois exemplos anteriores nos mostram que: • Quando temos duas transações na conta financeira (uma de débito e outra de crédito), há 2 lançamentos na conta de PII, e o saldo da conta, i.e., a Posição do Investimento Internacional, não se altera. • Mas quando temos uma transação na conta corrente com contrapartida na conta financeira, o saldo da PII se altera (aumenta se o lançamento nas TC tiver sido uma exportação ou outra operação de crédito, e diminui caso a transação das TC tiver sido uma importação ou outra operação de débito). • Questão: se uma empresa toma um empréstimo no exterior, o Passivo Externo Líquido (PEL) do país aumenta? – Não. Por que? – Quando temos dois lançamentos com sinais diferentes na conta financeira, o valor líquido, na conta financeira, é zero, e portanto o saldo da PII não se altera. Balanço de pagamentos e contas de riqueza (Posiçãodo investimento internacional - PII) • E quando um país importa mais do que exporta, o resultado da balança comercial contribui para o aumento do PEL? • Sim, porque quando temos um lançamento na conta corrente (ou conta capital) e outro na financeira, o resultado líquido da conta financeira é afetado. E a PII varia por este mesmo valor. • O que podemos concluir de tudo isso? • Podemos concluir que o que aumenta o PEL é um déficit nas TC (mais K). Não é porque o país tomou emprestado. Porque o fato de tomar emprestado só aumenta o PEL se esse empréstimo for para financiar um déficit nas TC. (Explique porque) • Explicação: porque se uma empresa tomou um empréstimo e não houve um gasto correspondente de dólares nas TC e K, esses dólares ficam na conta dos bancos brasileiros no exterior. Ou seja, aumenta a dívida (passivo), mas também os depósitos brasileiros no exterior (ativo). Balanço de pagamentos e contas de riqueza (Posição do investimento internacional - PII) • Como F = TC + K, podemos também dizer que as variações na PII são iguais tanto ao déficit nas TC e K, como também ao déficit na conta financeira (F) •ΔPII = PII t – PII t-1 = F = TC + K Balanço de pagamentos e contas de riqueza (Posição do investimento internacional - PII) • Em suma, coeteris paribus, as mudanças nas posições (PII) são explicadas pelos fluxos do BP (e, em última instância, pelos fluxos macroeconômicos e variáveis macro) • Porém ... Tudo o mais não fica constante. Por exemplo, mudam os preços de mercado dos ativos e passivos, mudam as taxas de câmbio entre as moedas. E tudo isso altera a PII independentemente do BP. • O que significa que, além dos fluxos do BP, temos que acrescentar as mudanças oriundas de variações de preços, etc (registradas na conta de outras mudanças/variações nos ativos e passivos financeiros, que designaremos por “OV”) Balanço de pagamentos e contas de riqueza (Posição do investimento internacional - PII) • Exemplo: suponha que as reservas do país tivessem a seguinte composição: US$ 300 bilhões e 50 bilhões de euros • Para somar é necessário converter tudo para uma mesma moeda. Supondo uma taxa de câmbio de US$1,50 por euro, o valor das reservas em euros, convertidas para dólar seria US$ 75 bilhões (50 x 1,5) e o total das reservas seria US$ 375 bilhões • Ma se a taxa de câmbio baixasse para US$ 1,00 por euro, o valor das reservas brasileiras em euros cairia para US$ 50 bilhões, e o valor das reservas totais para US$ 350 bilhões. • Então teríamos uma redução da PII (devido a uma redução da conta de reservas da PII) de US$ 25 bilhões, que não foi resultado de nenhum fluxo do balanço de pagamentos. Aconteceu simplesmente como resultado da mudança na taxa de câmbio entre o euro e o dólar. • Se no mesmo período o resultado da conta financeira do balanço de pagamentos fosse – US$30 bilhões (menos 30 bilhões de dólares), a variação da PII seria: ΔPII = F + OV = - US$ 30 bilhões – US$ 25 bilhões = - US$ 55 bilhões. Balanço de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional • Sabemos agora que a conta financeira (F) + a conta de outras variações (OV) explicam a mudança na conta de Posição de Investimento Internacional entre o início e o final de um período. • Note, entretanto, que do ponto de vista da análise econômica, o mais relevante é a relação entre TC+K (=F) e PII. De forma que, dependendo do nosso objetivo de análise, podemos abstrair a conta “OV” • Sabido isto, daqui para a frente vamos supor que não existem variações de cotações e preços e portanto abstrairemos da conta OV. Anexos + 1 = 891 + 1 = -490 + 1 = 74
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