Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Marcio Doro, Phd (Organizador) Editora Ilustração Cruz Alta – Brasil 2020 MUDE SUA VIDA EM 5 Km Responsável pela catalogação: Fernanda Ribeiro Paz - CRB 10/ 1720 2020 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora Ilustração Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Ilustração Rua Coronel Martins 194, Bairro São Miguel, Cruz Alta, CEP 98025-057 E-mail: eilustracao@gmail.com www.editorailustracao.com.br Copyright © Editora Ilustração Editor-Chefe: Fábio César Junges Diagramação: Fábio César Junges Imagens da capa: Freepik Revisão: Os autores CATALOGAÇÃO NA FONTE M943 Mude sua vida em 5 km [recurso eletrônico] / organizador: Marcio Doro. - Cruz Alta: Ilustração, 2020. 125 p. : il. ISBN 978-65-88362-51-8 DOI 10.46550/978-65-88362-51-8 1. Corrida. 2. Treinamento. I. Doro, Marcio (org.) CDU: 796.422 Conselho Editorial Drª. Adriana Maria Andreis UFFS, Chapecó, SC, Brasil Drª. Adriana Mattar Maamari UFSCAR, São Carlos, SP, Brasil Drª. Berenice Beatriz Rossner Wbatuba URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Drª. Célia Zeri de Oliveira UFPA, Belém, PA, Brasil Dr. Clemente Herrero Fabregat UAM, Madri, Espanha Dr. Daniel Vindas Sánches UNA, San Jose, Costa Rica Drª. Denise Tatiane Girardon dos Santos FEMA, Santa Rosa, RS, Brasil Dr. Domingos Benedetti Rodrigues SETREM, Três de Maio, RS, Brasil Dr. Edemar Rotta UFFS, Cerro Largo, RS, Brasil Dr. Edivaldo José Bortoleto UNOCHAPECÓ, Chapecó, SC, Brasil Drª. Egeslaine de Nez UFMT, Araguaia, MT, Brasil Drª. Elizabeth Fontoura Dorneles UNICRUZ, Cruz Alta, RS, Brasil Dr. Evaldo Becker UFS, São Cristóvão, SE, Brasil Dr. Glaucio Bezerra Brandão UFRN, Natal, RN, Brasil Dr. Gonzalo Salerno UNCA, Catamarca, Argentina Dr. Héctor V. Castanheda Midence USAC, Guatemala Dr. José Pedro Boufleuer UNIJUÍ, Ijuí, RS, Brasil Dr. Luiz Augusto Passos UFMT, Cuiabá, MT, Brasil Drª. Maria Cristina Leandro Ferreira UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil Drª. Odete Maria de Oliveira UNOCHAPECÓ, Chapecó, SC, Brasil Drª. Rosângela Angelin URI, Santo Ângelo, RS, Brasil Drª. Salete Oro Boff IMED, Passo Fundo, RS, Brasil Dr. Tiago Anderson Brutti UNICRUZ, Cruz Alta, RS, Brasil Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...................................................................11 Marcio Doro PREFÁCIO ...............................................................................13 Wanderlei Oliveira INTRODUÇÃO ......................................................................17 Marcio Doro ANÁLISE BIOMECÂNICA DA CORRIDA ...........................19 Frank Shiguemitsu Suzuki CARGA DE TREINAMENTO APLICADA AS CORRIDAS .33 Helton Magalhães Dias Allan Igor Silva Serafim Elaine Cristina Destefani Manso Marcelo Callegari Zanetti ADAPTAÇÕES CARDIOVASCULARES EM CORREDORES DE RUA .......................................................51 Catarina de Andrade Barboza MÉTODO HIIT (HIGH INTENSITY INTERVAL TRAINING) APLICADO A CORREDORES DE RUA .........61 Marcio Doro Érico Chagas Caperuto TREINAMENTO COM RESTRIÇÃO DE FLUXO SANGUÍNEO EM CORREDORES: UMA ESTRATÉGIA IMPORTANTE NA REABILITAÇÃO ....................................75 Márcio Flávio Ruaro Márcio Doro Marcio Doro, Phd PORQUE CORREDORES DE RUA INICIANTES DEVEM TREINAR O CORE ................................................................91 Marcio Doro Ardiles Vitor dos Santos Gabriela Molinari Fontenla IDOSOS PODEM CORRER 5KM ......................................105 Timoteo Leandro de Araújo Luiz Gustavo Pinto Eduardo José Cunha Barbosa Rafael Rodrigues dos Santos Aylton Figueira Jr SOBRE OS AUTORES ..........................................................121 APRESENTAÇÃO É com grande prazer que apresento a primeira edição desta importante coletânea intitulada “Mude sua vida em 5km”. Esta obra é destinada a profissionais de educação física e amantes da corrida de rua, reúne 7(sete) artigos abordando temas voltados para corrida de 5km, com contribuições significativas de professores e acadêmicos de importantes Universidades de São Paulo e Paraná. O objetivo principal é destacar a importância da corrida de rua para a saúde e apresentar novas tendências de treinamentos. Agradeço a Editora Ilustração e todos que apoiaram minha iniciativa e proporcionaram que esta obra se tornasse real. Agora convido você, caro leitor, para embarcar na jornada fascinante rumo ao conhecimento. Marcio Doro PREFÁCIO Mexa-se! Tem que malhar, tem que suar! Essa era a chamada do slogan propagada pelo ator e esportista Nuno Leal Maia em campanha do Governo Federal para promover a saúde e tirar a população do sedentarismo nos anos 1970 e início dos anos 1980. Quem ditava o ritmo do esporte era a cidade do Rio de Janeiro. Os irmãos compositores e também esportistas Marcos e Paulo Valle entoavam nas novelas o tema “tem que malhar, tem que suar” Praia e sol era a melhor combinação para a prática da corrida, chamada de “jogging”, numa época em que os exercícios aeróbicos (ou aeróbio) eram divulgados pelo então preparador físico da Seleção Brasileira Claúdio Coutinho, que usava o método do Doutor Kenneth Cooper para o treinamento dos jogadores que encantaram o mundo na Copa do México, em 1970, quando o Brasil foi tricampeão mundial. Os primeiros grupos de corrida começaram a se reunir no Rio de Janeiro com a criação da CORJA (Corredores de Rua do Rio de Janeiro), formada pelos corredores Rodolfo Eichler, engenheiro e hoje diretor das principais provas de rua do Brasil, Fernando Azeredo, empresário, e José Inácio Werneck, jornalista, hoje comentarista da ESPN que na época divulgava os benefícios da prática da corrida numa coluna do Jornal do Brasil até lançar a revista Viva, uma publicação específica de corrida. A primeira vez que um grupo de corredores se reuniram para treinar em São Paulo foi em 1982, quando nascia a CORPORE – Corredores Paulistas Reunidos. O local marcado para o encontro era o estacionamento do CEPEUSP - Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São 14 Marcio Doro, Phd Paulo. Naquela época, éramos apenas dez corredores: Fernando Nabuco, Victor Malzoni Jr., Manoel Garcia Arroyo, o “Vasco”, Wilson Fugimura, José Antônio de Oliveira Meirelles, Flávio e Octávio Aronis, Flávio Nunes Campos, Hélio Takai e eu. Percorríamos 10 km quase que diariamente. Fazíamos o percurso hoje conhecido como “Biologia”, largando em direção à Faculdade de Educação Física e percorrendo toda a extensão da raia olímpica. Seguíamos então pelo IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas -, passávamos pelo bosque e aí enfrentávamos a subida da “Biologia”. Descíamos a rua da “concha acústica” para então retornarmos ao local de partida. Esse percurso passou a ser conhecido como “Volta da USP”. Nesse mesmo ano, os corredores da CORJA e CORPORE começavam a preparação para a Maratona de Nova York. Esse seria o primeiro grupo a representar o Brasil na mais famosa maratona do mundo. Os anos passaram e cada vez mais brasileiros começaram a se interessar em treinar para completar os 42.195 metros da Big Apple. A partir daí, reunir-se em grupo para correr em busca de um mesmo objetivo, além de tornar a prática muito mais prazerosa, era a melhor forma de manter a motivação em alta nos árduos meses que antecediam ao grande desafio. Qualidade de vida é saúde. Saúde é movimento! A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1946, definiu saúde como “a ausência de doenças, o completo estado de bem-estar”. A corrida de rua é uma das modalidades do atletismo que mais cresce no mundo. Atualmente, existem milhões de corredores que participam das provas pedestres nas mais variadas distâncias, várias associações de corredores e eventos no Brasil que conseguem reunir um público superior aos 30 mil corredores numa mesma prova, como é o caso da Corrida Internacional de São Silvestre. 15 Mude sua vida em 5 Km Engana-se quem pensa que existe uma idade paracomeçar a correr Pesquisas recentes realizadas pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM), demonstraram que a produtividade de homens e mulheres acima de 50 anos que seguem um programa de corrida orientados individualmente de acordo com as suas características e necessidades, são superiores aos mesmos indivíduos da faixa etária inativos (sedentários). É um erro achar que se ganha tempo ao parar a atividade física para se dedicar por completo ao trabalho. Além de perder produtividade, ganha-se stress, obesidade, ansiedade. Os ganhos para quem começa uma atividade física, como a corrida, são perceptíveis em diversos níveis. Há uma mudança visual: a aparência fica mais disposta e o corpo ganha uma nova estrutura. São os sinais externos de uma alteração biológica: Há uma mudança visual: a aparência fica mais disposta e o corpo ganha uma nova estrutura. São os sinais externos de uma alteração biológica: • há uma comprovada redução da taxa de gordura do corpo; • melhoria da tensão nervosa e ansiedade; • baixa da pressão sanguínea; • melhoria da condição cardiovascular, entre outros. Mas o começar a correr não é somente colocar um calção e um tênis nos pés. É muito mais importante, em qualquer idade, seguir alguns cuidados essenciais: 1. É necessário um check-up clínico, ortopédico, dentário e oftalmológico; 2. Avaliação física específica, com eletrocardiograma de esforço (acompanhado por médico especializado em medicina esportiva); 3. Teste de biomecânica dos movimentos, realizado em esteira (para determinar qual o tipo de tênis mais apropriado para 16 Marcio Doro, Phd a prática da corrida); 4. Teste de capacidade aeróbia (acompanhado por um técnico especializado e com experiência comprovada em corrida de longa distância). Ao longo de mais de 40 anos acompanhando ex-sedentários, homens e mulheres, na grande maioria acima dos 50 anos, tenho observado as seguintes reações dessas pessoas que adquiriram uma excelente condição física com a corrida: • Autoconfiança, melhorando a imagem de si mesmas; • Dormem melhor e têm um sono mais tranquilo; • Têm maior disposição para o trabalho; • Alimentam-se melhor, têm melhor digestão e menos problemas de gases estomacais. O que mais tem me chamado a atenção em relação aos "idosos" que correm não é a saúde em si, mas o fato de simplesmente se sentirem melhor e terem mais disposição no dia-a-dia. Mais até do que muitos jovens. Wanderlei Oliveira Comentarista do BANDSPORTS e colunista do Portal da BAND. INTRODUÇÃO A prática da corrida como exercício e esporte teve sua ascensão nos Estados Unidos da América na década de 70 com o jogging boom, incentivados pelo famoso Dr. Keneth H. Cooper, criador do teste de Cooper muito utilizado nas décadas de 70 e 80, milhares de pessoas, passaram a adotar a prática de corrida de rua como exercícios físicos. No Brasil, a prática da corrida de rua está cada vez mais popular, seja para fins recreativos, de saúde ou qualidade de vida. Esse aumento é motivado em partes pelo conhecimento que a população adquiriu sobre os benefícios com relação à saúde na prática da corrida de rua, em partes pelo “modismo”, por fazer parte de um grupo, mas independente do motivo, fato é que esta prática trás benefícios incontestáveis para a saúde física, mental e emocional. O Colégio Americano de Medicina Esportiva, recomenda esta pratica como um modelo de exercício aeróbio, devido aos benefícios cardiovasculares, metabólicos e psicossociais promovidos pela prática regular, pois apresenta bons resultados no tratamento de doenças cardiovasculares como hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, hipercolesterolemia e obesidade, entre outros. Contudo, a prática de corrida por amadores é cada vez maior e não existe um critério estabelecido quanto ao melhor percurso para que se obtenha resultados favoráveis. A brevidade da distância significa que menos tempo é necessário para participar da atividade e que pessoas de diversas idades e habilidades podem participar, no que tange especificamente às corridas de rua junto a praticantes não profissionais, a prova de 5km é tida como sendo a “porta de entrada” à referida prática esportiva, tendo visto que mesmo iniciantes, com pouco treinamento, tem a possibilidade de a concluir, sendo isso um dos maiores motivadores dos referidos praticantes se manterem ativos nos treinos, em prol de elevar sua performance, reduzir seu tempo 18 Marcio Doro, Phd e aumentar suas possibilidades de concluir provas mais longas. Os diferentes métodos de treinamento que vislumbram a melhora da performance em corredores de rua é cada vez mais discutido no meio acadêmico, e intriga os pesquisadores, com a principal indagação: Quais os fatores e mecanismos que melhor potencializam o desenvolvimento da velocidade e tornam o atleta mais rápido? Diferentes abordagens de treinamento podem ser fatores decisivos para a evolução das marcas dos 5km. Assim, o objetivo desta coleção é trazer, aos amantes da corrida de rua, corredores iniciantes e profissionais de educação física, conhecimentos técnicos e científicos que cercam a corrida de 5km, bem como, uma nova proposta de treinamento que pode ser utilizada por iniciantes e atletas profissionais e muito mais. Marcio Doro, PhD ANÁLISE BIOMECÂNICA DA CORRIDA Frank Shiguemitsu Suzuki De acordo com Hatze (1974) e Hall (2016) a biomecânica é a ciência que estuda o corpo humano produzindo movimento sob conceitos da mecânica. Assim o intuito deste capítulo é analisar as formas básicas do movimento, corrida, sob conceitos da mecânica e para isso deve se compreender que o deslocamento deve ser analisado linearmente e angularmente, vide figura 1. Figura 1: o deslocamento anterior considerado movimento linear e retilíneo e os movimentos angulares com ações nas articulações envolvidas na corrida A mecânica encontra-se dividida em, estática e dinâmica. Sendo a estática o corpo parado, ou seja, sem deslocamento e a dinâmica com deslocamento. A mecânica dinâmica pode ser analisada utilizando os conceitos da cinética e cinemática. A cinemática descreve os aspectos dos movimentos lineares e angulares, como deslocamento, velocidade, aceleração e tempo. Como exemplo podemos citar um estudo realizado por Krzysztof e Mero (2013) que comparou parâmetros cinemáticas da corrida da Usain Boilt com os demais finalistas de 3 grandes eventos do atletismo internacional. No Campeonato Mundial de Atletismo realizado no ano de 2009 em Berlin na Alemanha, Bolt correu 100 metros em 20 Marcio Doro, Phd 9,58 segundos. Sendo assim para calcularmos a velocidade média produzida por Bolt utilizamos as seguintes equações: Velocidade média = ΔS/Δt (Velocidade média é igual a variação de espaço dividido pela variação de tempo). Assim: Velocidade média = 100 metros / 9,58 segundos Velocidade média = 10,44 m/s. Para convertemos esse valor para Km/h deve-se multiplicar o valor por 3,6. Assim: Velocidade média = 10,44 m/s x 3,4 = 37,58 Km/h. Para calcular a aceleração média devemos dividir a velocidade média pelo tempo: Aceleração média = ΔVM / Δt Aceleração média = 10,44 m/s /9,58s = 1,09 m/s² Outro exemplo que podemos utilizar e condiz mais com o assunto abordado nessa obra, foi o resultado da São Silvestre realizado no ano de 2019, quando foi se quebrado o Record que era mantido pelo Keniano Paul Tergat. Kibiwott Kandie bateu Tergat realizando a prova de 15 Km em 42 minutos e 59 segundos, estabelecendo o novo Record da prova. Para calcular os dados cinemáticos do corredor as equações utilizadas são as mesmas, sendo: Velocidade média = ΔS/Δt Velocidade média = 15Km/42 minutos e 59 segundos. Para calcularmos os dados acima devemos converter Km para metros e minutos para segundos: 15 Km = 15.000 metros 42 minutos = 2520 segundos, somando se a 59 segundos é igual a 2579 segundos, assim sendo: Velocidade média = 15.000 metros / 2579 segundos Velocidade média = 5,81 m/s ou 20,91Km/h A aceleração deve ser calculado mantendo se a equação anterior, sendo: 21 Mude sua vida em 5 Km Aceleração média = 5,81 m/s / 2579s Aceleração média = 0,0022 m;s² Para as provas de longa duração um marcador muito utilizado pelos técnicos é o PACE. O PACE apresenta o ritmo médio da corrida, sendo quanto menor o pace melhor o desempenho da corrida. O calculo do pace se dá pela equação: Pace = Δt (variação de tempo em minutos) / ΔS (variação de espaço em Km) Pace = 42,98 minutos / 15Km Pace = 2,86 minutos/Km A cinética estuda as relações entre as forças internas (produzidas pelo sistema locomotor) e as forças externas (atrito). Para isso devemos utilizar as Leis de Newton para estudar essa relação. Primeira lei de Newton (inércia) quando as forças são nulas, ou seja, o corpo encontra-se parado. Geralmente ocorre durante a fase área da corrida, ou seja, é o momento de economia de energia. Segunda lei de Newton (aceleração) quando uma das forças de sobressai sobre a outra provocando o deslocamento. Ocorre durante o deslocamento horizontal do corpo no sentido linear. Terceira lei de Newton (ação reação) toda força exercida é devolvida em mesma intensidade em direções opostas. Ocorre durante as passadas na corrida, assim sendo para cada passada pode se gerar uma força de 2 a 3 vezes o peso corporal. Assim um corredor com uma massa de 70Kg pode gerar uma força de 1.400 N à 2100 N em cada pé. Devido a esse fato muito cuidado durante as passadas. Figura 2: As leis de Newton atuando sobre o corpo durante a corrida 22 Marcio Doro, Phd Assim a biomecânica tem o intuito de melhorar desempenho da corrida, aprimorando as técnicas da corrida, auxiliando no processo de treinamento, com possibilidades de criação e construção de equipamentos para auxiliar na melhoria da mecânica da corrida, mantendo sempre o objetivo de prevenir lesões e também no auxilio da reabilitação das lesões. Para isso faz-se necessário a compreensão das análises biomecânicas que podem ser: qualitativas e quantitativas. Análise biomecânica qualitativa consiste em uma observação por um perito no movimento, ou seja, o técnico que possui alto conhecimento sobre as técnicas de corrida, consiste em olhar o movimento das suas devidas correções. Análise biomecânica quantitativa consiste em utilizar a tecnologia para capturar informações a cerca do movimento e transcrever os aspectos do movimento em formas numéricas. Compõe a análise biomecânica quantitativa os seguintes métodos: Antropometria, Dinamometria, Cinemetria e Eletromiografia (EMG). A antropometria é o método utilizado para mensurar os dados antropométricos do corredor, os instrumentos utilizados para obtermos os dados são as, fitas métricas, adipômetros, Estadíometro. Servem para criar modelos antropométricos para auxiliar nos treinos otimizando a individualidade de cada corredor, como tamanho da passada, sincronia entre membros superiores e inferiores para ofertar melhor cadência durante a corrida (MELO; SANTOS, 2000). A dinamometria é o método utilizado para mensurar as forças atuantes no sistema, podendo ser os picos de pressões, as forças musculares, a relação entre os atritos do corpo e o meio ambiente para isso podemos utilizar alguns instrumentos como, dinamômetro, plataforma de força, células de carga, plataforma de impulsão vertical e sensores de baropometria (SUZUKI et al., 2016; TAVARES et al., 2018). A cinemetria consiste em analisar o movimento a partir de capturas de imagens, a partir de câmeras que podem ser de alta 23 Mude sua vida em 5 Km resolução ou não. Atualmente diversos aplicativos para Smartphone são utilizados com boa eficiência. Serve para compreender o movimento bem como suas devidas execuções para compreender o movimento que a observação apenas não foi possível de capturar (CHUNG, 2000). A eletromiografia (EMG) captura sinais provenientes da atividade elétrica do músculos estriado esquelético envolvido nos movimentos. O equipamento utilizado é o eletromiográfo, que consistem colocar eletros de superfície no músculo a ser avaliado e registra as informações geradas pelo músculo em trabalho. Esses dados devem ser capturados e tratados para compreensão das respostas durante a execução dos movimentos. Com o intuito de compreender futuras aparições de lesões e conhecendo melhor quais grupamentos musculares devem ser trabalhados (BASMAJAN; DE LUCA, 1985). Prescrição e controle no treinamento da corrida Para prescrição e controle da corrida, a compreensão das 3 grandes áreas são primordiais, Biológicos, pedagógicos e psicológicos. Devido a especificidade desde capítulo vamos nos remeter apenas a biológica. A área biológica consiste nos conhecimentos acerca da a anatomia sistêmica e topográfica do corpo humano, análises cinesiológica, fisiológicas e biomecânicas. Abaixo iniciaremos a abordagem cinesiológica e biomecânica. Podemos caracterizar a corrida sobre conceitos biomecânicos a partir dos estudos da descrição dos movimentos incluindo considerações de espaço e tempo. As relações entre as forças causadores e relacionadas ao movimento e os planos e eixos para compreensão do melhor ângulo para análise, vide figura 3. 24 Marcio Doro, Phd Figura 3: Plano para análise dos movimentos durante a corrida Os parâmetros biomecânicos que podem ser analisados pela cinemática são, frequência da passada, foot strike, ângulo do tornozelo (análise no plano sagital), amplitude da articulação do quadril (análise no plano sagital), verificação das articulações do joelho e quadril no plano frontal para verificação do valgo estático e dinâmico, rotação do tronco (análise no plano transversal), amplitude da articulação dos joelhos (análise no plano sagital) e amplitude das passadas. Para parâmetros biomecânicos pela cinética, podemos verificar a força de reação ao solo (ação reação), estabilidade dinâmica, força muscular/resistência, pressão articular, força (potência), atividade muscular. A força de reação ao solo podemos considerar como fase de apoio (vide figura 4) Figura 4: O ciclo de passadas. 25 Mude sua vida em 5 Km A figura 4 apresenta o ciclo das 5 fases da passada (técnicas de pisada, foot strike): - Entrada do calcanhar - Aplanamento do pé - Médio pé - Saída do calcanhar - Saída dos dedos A técnica de pisada (fase de apoio) pode variar de acordo com a velocidade e as condições de corrida. Podem ser, ante pé, médio pé e retro pé. Sendo o retro pé utilizado por 87% dos corredores (NORDIN; FRANKEL, 2013). Hassegawa e outros (2007) apresenta que os padrões de contato do pé com o solo estão diretamente relacionados a velocidade da corrida. O percentual de apoio com o retro pé aumenta com a diminuição da velocidade de corrida. O percentual de apoio com o médio pé aumenta a medida que a velocidade da corrida aumenta. O apoio em médio pé diminui o tempo de contato e contribui para maior economia de corrida. A perguntas que são realizadas por muitos corredores e treinadores consiste em entender se correr descalço ou calçado pode modificar a sequência do contato do pé durante a fase de apoio. Assim, Lierberman e outros (2010) comparam a biomecânica dos corredores calçados e descalços. Nos corredores descalços foi se encontrado que o contato em ante pé e médio pé são mais frequentes, os autores acreditam que isso ocorre possivelmente devido a mecanismo de defesa. Corredores calçados possuem maior contato em retro pé com maior frequência. Isso nos induz a deduzir que o contato em ante pé pode ser a solução para os problemas da corrida. De acordo Reynolds (2010), 87% dos corredores são de retro pé, essa estratégia gera maior im-pacto. Contatos em ante pé e médio pé tendem a absorver mais o impacto causado pela fase de apoio. Entretanto, demanda maior estresse muscular. O ponto de contato na fase de apoio sofre alteração de acordo com a velocidade, maior o apoio em médio pé. Assim, a pisada em retro pé gera maiores compressõesnas 26 Marcio Doro, Phd articulações, em ante pé gera maior tensão nos músculos posteriores da perna (Tríceps Sural) e médio pé gera fascite plantar. Em relação as pisadas dos pés, são consideradas dois tipos: supinação e pronação, essas pisadas estão relacionadas com os movimentos articulares de inversão e eversão que são realizadas pela articulação dos tornozelos. Para analisar a pisada a vista ideal é o póstero anterior. As sugestões para correção da pisada ficam por conta das palmilhas que são colocadas nos tênis, porém não se sabe ao certo o quanto é vantajoso modificar o padrão mecânico do da pisada e se isso irá levar a uma vantagem durante a corrida ou causar maiores desconfortos. Assim, sugere-se avaliar a cinesiologia e anatomia da pisada dinâmica para verificar que existe mesmo a real necessidade de colocação da palmilha, na maioria dos casos mais atrapalha do que ajuda. Na fase de balanço o que pode ser identificado nessa fase é o deslocamento do membro inferior, a frente, para se posicionar para um novo apoio, assemelhando-se como um pêndulo. Assim, produzindo grande magnitude de flexão da articulação do quadril, seguido de uma extensão da articulação do joelho e finalizando com dorsiflexão do tornozelo. Os problemas que podemos encontrar, são os pequenos ângulos articulares causados pelas articulações do joelho e quadril. A amplitude do movimento articular do joelho, durante uma corrida, pode ser exercida ao ponto do calcanhar tocar o glúteo, nesse caso, se ocorrer de forma passiva pode estar relacionada à velocidade da corrida. Fukushi e outros (2007) apresenta em seu estudo que quanto maior a flexão do joelho, maior é a velocidade produzida durante a corrida. Fukushima e outros (2007) avaliaram 28 corredores com um volume semanal de 20Km. Realizaram análise cinemática tridimensional e força de reação no solo. O estudo demonstrou que os ângulos articulares de quadril, joelho e tornozelo foram maiores com aumento da velocidade. O padrão de pisada durante a corrida foi mantida e a maioria dos corredores mantiveram a estratégia de corrida de retro pé. 27 Mude sua vida em 5 Km Contudo, o importante é correr sem forçar os limites, pois os movimentos vão ocorrendo de forma passiva, e podemos deduzir que sua corrida atual ainda não exija tal amplitude de movimento. Lembrando que de acordo com Hall (2016) a velocidade da corrida é o produto do comprimento da passada e da frequência da passada (vide figura 5). Figura 5: Relação entre a velocidade de corrida e o comprimento da passada e a frequência da passada (Retirada de Hall, 2016) Entende-se por comprimento da passada a extensão medida em metros, levando se em consideração do contato do pé no solo até o novo contato, inclui-se a fase aérea. Entende-se por frequência da passada a quantidade de passadas realizadas por intervalo de tempo, geralmente minutos, vide (tabela 1). Tabela 1 Comprimento (m) Frequência (min) Frequência (seg) Velocidade (m/min) Velocidade (m/s) Velocidade (km/h) 2,00 180 3 360 6 21,6 1,50 180 3 270 4,5 16,2 2,00 120 2 240 4 14,4 Manter a sincronia entre comprimento da passada bem como sua frequência em relação a velocidade, podemos denominar 28 Marcio Doro, Phd esse conjunto de cadência da corrida, ou frequência de passos por minutos. Embora não haja cadencia perfeita estudos como de Bramah et.al. (2019) apresentam que para corredores amadores e recreacionistas recomenda-se um ritmo de 180 Bpm. Essa cadência pode ser imposta a partir de uma música com a batida semelhante. A cadência influencia na velocidade da corrida, pois leva em consideração o comprimentos dos membros superiores e inferiores. Correr em batidas a 180 Bpm, vem apresentando bons resultados, em corredores amadores, na sincronia dos membros, que influencia diretamente a velocidade da corrida. Muitos corredores procuram associar a melhora da cadência, velocidade, pace e a técnica, com os diversos tipos e modelos de tênis que são apresentados pelo mercado. Estudos como de Luo et.al. (2009) apresentam informações sobre a utilização de diversos modelos de tênis. Os resultados dos estudo demonstraram que o tipo de tênis não influenciam diretamente o Vo2Máx dos corredores e, sugerem, que o melhor tênis é aquele que apresenta maior conforto durante a corrida. Para obtenção de parâmetros biomecânicos de um corredor, o ideal seria uma análise cinemática em 3D, porém esse tipo de análise são realizadas em grandes laboratório. Atualmente, com diversos recursos tecnológicos e aplicativos para smartphones e software gratuitos para computadores, a pergunta que nos cabe, é verificar que uma análise em 2D pode ser eficiente para nossa atuação do dia à dia. A partir da captura de imagens em 2D, podemos obter informações para melhorar compreender a corrida do nosso cliente. Em uma vista frontal, podemos identificar o ângulo Q (figura 6). Ângulo formado entre a articulação do joelho, tornozelo e quadril. Esse ângulo pode determinar o valgo dinâmico durante a corrida. 29 Mude sua vida em 5 Km Figura 6: Retirado de Powers (2003). Ângulo Q, provocando a valgo dinâmico Ainda no plano frontal, podemos observar a amplitude de movimentos de abdução e adução e inclinação do tronco, quadril e joelhos. Alinhamento da cabeça em relação ao tronco. Entrada dos pés, inversão e eversão, pisada neutra, pronada ou supinada e o Drop pélvico. Alinhamento de membros inferiores, determinando assim se há a presença de joelho valgo ou varo. No Plano sagital podemos terminar a amplitude dos movimentos da articulação do quadril, joelho e tornozelos. Alinhamento da cabeça em relação ao tronco e aos membros inferiores. Entrada dos pés (footstrike): médio pé ou retro pé. Frequência e amplitude das passadas. No plano transversal, podemos observar a rotação excessiva do tronco em relação aos membros. Entretanto, pode ser identificado, também, por meio do plano frontal. Dentre os argumentos apresentados, podemos verificar a importância da biomecânica para a compressão da mecânica da corria. Entendemos que os parâmetros biomecânicos obtidas a partir de suas devidas análises, são primordiais para uma prescrição segura e eficiente da corrida. 30 Marcio Doro, Phd Referências HALL, J.S. Biomecânica Básica. 7.ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2016. KRZYSZTOF, M; MERO, A. A Kinematics Analysis Of Three Best 100 M Performances Ever. Journal of Human Kinetics. v.36, p.149-160, 2013. MELO, S.IL; SANTOS, SG. Antropometria em biomecânica: características, princípios e modelos antropométricos. v.2, n.1, p.97-105. 2000 TAVARES, J.T; et.al. Age-Related Changes in Postural Control in Physically Inactive Older Women. J Geriatr Phys Ther. 00:1-6, 2017. SUZUKI FS, KALYTCZAK MM, CASARIN CAS, SERRA AJ, EVANGELISTA AL, MARCHETTI PH, et al. Physical activity level does not influence the neuromuscular fatigue in adults. Rev Bras Med Esporte. 2016;22(2):97–101. CHUNG, T. M. Avaliação cinética e cinemática da marcha de adultos do sexo masculino. Acta Fisiátrica., São Paulo, v. 7, n. 2, p. 61-67, 2000 BASMAJIAN, J. V.; DE LUCA, C. J. Muscle alive: their function revealed by electromyography. 5. ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 1985. NORDIN, M, FRANKEL, VH. Biomecânica Básica do Sistema Musculo-esquelético. Guanabara Koogan, 2003. HASEGAWA HIROSHI; YAMAUCHI, TAKESHI; KRAEMER, WILLIAM J. Foot strike patterns of runners at the 15-km point during an elite-level half marathon. Journal of Strength and Conditioning Research: August 2007 - p 888-893 Lieberman DE, VENKADESAN M, WERBEL WA, DAOUD AI, D’ANDREA S, DAVIS IS, MANG’ENI RO, Pitsiladis Y. Foot strike patterns and collision forces in habitually barefoot https://journals.lww.com/nsca-jscr/toc/2007/08000 file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:; file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:; file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:;file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:; file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:; file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:; file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:; file:///C:/Users/User/Desktop/Livro%20Marcio%20Moro/javascript:; 31 Mude sua vida em 5 Km versus shod runners. v.463, 2010 REYNOLDS G. Vantagens e desvantagens de cada estilo de corrida. The New York Times, 2013. FUKUCHI RK, FUKUCHI CA, DUARTE M. A public dataset fo running biomechanics and the effects of tunning speed on lower extremity kinematics and kinectics. PERR J, 20017 POWERS CM. Sagital Plane Trunk Posture Influences Patellofemoral Joint Stress During Running. Research Report, 2003. CARGA DE TREINAMENTO APLICADA AS CORRIDAS Helton Magalhães Dias Allan Igor Silva Serafim Elaine Cristina Destefani Manso Marcelo Callegari Zanetti A carga de treinamento pode ser considerada uma medida quantitativa e qualitativa de esforço físico, manipulada para obter determinados desfechos de treinamento e que pode ser compreendida em uma relação de dose-resposta (Lambert; Borresen, 2010). Nesse sentido, durante a preparação para uma prova de corrida em uma determinada distância, o praticante é submetido a cargas de treinamento (dose), expressa por exercícios físicos sistematizados, que proporcionam reações fisiológicas e psicológicas (respostas) que, por sua vez, refletem a eficácia do treinamento e favorecem a ocorrência de adaptações. Por fim, esse processo contribui para a adequada participação na modalidade, como por exemplo, conseguir completar a prova; assim como aprimorar o desempenho, o qual é observado quando o praticante consegue melhorar sua posição no final da prova ou reduzir o tempo necessário para completá-la. Adicionalmente, a carga de treinamento também pode ser referida como externa ou interna em função de aspectos mensuráveis ocorrendo interna ou externamente ao praticante (Impellizzeri; Marcora; Coutts, 2019). Portanto, o objetivo deste capítulo é aprofundar a compreensão dos aspectos da carga de treinamento aplicado à corrida. Carga Externa de Treinamento Atletas de provas de corrida, geralmente, costumam ter suporte nos treinamentos e serem orientados por um treinador ou uma equipe, os quais são responsáveis pela planificação estruturada 34 Marcio Doro, Phd das cargas externas de treinamento. A carga externa é prescrição do treinamento pautada na organização, qualidade e o que é realizado na sessão em relação aos parâmetros de intensidade, volume, densidade, complexidade (Impellizzeri; Rampinini; Marcora, 2005). Um exemplo prático que caracteriza a carga externa, na corrida, é a intensidade prescrita de acordo com os limiares ventilatórios, a duração do estímulo e distância total percorrida (Impellizzeri et al., 2019). Parâmetros de Volume, Intensidade e Complexidade aplicados à corrida O volume é uma variável que pode incrementar o desempenho, porém, em situações em que não há controle, como por exemplo, ausência da mensuração da distância total pode ocorrer chances de lesões e quedas de rendimento (Boullosa et al., 2020). Rønnestad; Hansen; Raastad (2012) reportaram que o alto volume de endurance pode reduzir adaptações associadas à força, em particular a economia de corrida (EC), porém esse desfecho dependerá do nível do praticante. Nesse sentido, atletas mais experientes podem suportar volumes maiores sem prejuízo EC, mas que alguns métodos de treinamento podem apresentar adaptações semelhantes de EC com menor volume e em menor espaço de tempo (Hoffman, 2011). O incremento do volume de treinamento é uma das estratégias mais utilizadas para gerar sobrecarga em atletas, sendo compostos pelo número de séries, repetições, quantidade de exercícios no treinamento com pesos, distância percorrida e pela duração no treinamento de endurance. Portanto, ao progredirmos nessas variáveis, estaremos aumentando o volume do treinamento (Teixeira et al., 2019). O volume no treinamento de endurance é costumeiramente elevado, realizado de maneira contínua (métodos contínuos) e com moderada intensidade (60 a 70% do consumo máximo de oxigênio [] ou da Frequência Cardíaca Máxima [FCmáx.]) em um longo período no ciclo anual (Hoffman, 2011). Além disso, a duração dos treinamentos merece atenção, pois 35 Mude sua vida em 5 Km treinamentos muito longos e, sem o devido ajuste de intensidade, podem gerar alta sobrecarga e necessitarão de repouso adequado (~48h) (Halson, 2014). Além dos métodos contínuos e de longa duração, outras estratégias podem e devem ser utilizadas com atletas de endurance, como por exemplo: HIIT (Treinamento Intervalo de Alta Intensidade), SIT (Sprint Interval Training), Fartleck ou Treinamento intervalado (Boullosa et al., 2020; Halson, 2014). O HIIT (95-100% - 20 a 60s ou 2-4-min) costuma ser uma ótima estratégia, reportando incremento no desempenho de endurance em provas de 1,5 km a 10 km (Boullosa et al., 2020). Ao que parece, na perspectiva do volume de treinamento e diferentes estratégias, a combinação de métodos parece ser a melhor opção para otimizar o desempenho. Ajustar a intensidade de treinamento pode otimizar o desempenho de endurance, principalmente quando há incremento associado a frequência cardíaca (FC), consumo de oxigênio () e velocidade de corrida (VC). A modulação do treinamento de endurance é baseada em zonas, que podem ir de leve a moderada intensidade em boa parte do ciclo anual (Seiler; Kjerland, 2006). Logo, a intensidade do treinamento de endurance será pautada, em boa parte da planificação, em intensidades leves-moderadas e o restante direcionado para intensidades altas e máximas (Etxebarria; Mujika; Pyne, 2019). De acordo com Seiler; Kjerland (2006), existem três zonas de intensidade no treinamento de endurance, que podem ser delimitadas pelo acúmulo de lactato no sangue. A zona 1 é a fase com baixo acúmulo de lactato, a zona 2 é a fase em que a produção de lactato se iguala a remoção e a zona 3 pelo grande acúmulo de lactato sanguíneo e baixa capacidade de remoção. Além do pressuposto, a literatura sugere que a capacidade aeróbia de corredores pode girar em torno de 80-90% do , o que pode corresponder a uma velocidade de corrida entre 10-16 km/h e uma concentração média de lactato de 4mmol*1-1. Fora os parâmetros supracitados, são importantes elucidar os efeitos do treinamento com pesos em atletas de endurance. 36 Marcio Doro, Phd Programas de treinamento com pesos podem colaborar diretamente no sentido da EC e redução na incidência de lesões. Uma melhor EC permite uma menor utilização fracionada do em qualquer intensidade de exercício e seu incremento está associado aos fatores antropométricos, biomecânicos e fisiológicos (Hoffman, 2011). No âmbito esportivo é necessário que o atleta atinja altos níveis de desempenho e, a complexidade das tarefas, realizadas no dia-a-dia de treinamento, pode estar associada a isso (Gomes, 2009). A complexidade da carga de treinamento é caracterizada pela alta demanda ofertada aos atletas no sentido funcional, coordenativo, cognitivo e psicológico do movimento (Teixeira et al., 2019). Essas tarefas com alto nível de complexidade podem promover elevado estresse mental, o que pode potencializar parâmetros associados à carga de treinamento, inclusive a carga interna (Teixeira et al., 2019). Além da demanda gestual, cognitiva e psicológica, a complexidade da carga também é caracterizada por meio da realização de duas ou mais orientações funcionais em uma mesma sessão de treinamento, como por exemplo: realizar treinamento com pesos (força) + endurance (aeróbio). Isso permite ao corredor distintas adaptações por meio de diferentes orientações funcionais da carga de treinamento, desde que tais variáveis sejam previamente controladas (Gomes, 2009). Portanto, no âmbito da endurance, a complexidade das cargas mereceatenção, principalmente na escolha dos exercícios que serão prescritos, a orientação funcional em que estarão inseridos e as possíveis respostas geradas por eles. Carga Interna As sessões de treinamento de endurance, com uma determinada carga e contemplando exercícios sistematizados, são agentes estressores que induzem a reações fisiológicas e/ou psicológicas agudas e específicas aos conteúdos abordados e, que por sua vez, medeia a relação entre o treinamento e a resposta adaptativa individual, pois podem fornecer estímulos para a ocorrência ou sustentação de adaptações crônicas relacionadas ao desempenho 37 Mude sua vida em 5 Km esportivo ou saúde. Essas reações fisiológicas e psicológicas que ocorrem no momento do treinamento correspondem à carga interna, a qual é definida como as respostas psicofisiológicas iniciadas pelo organismo para lidar com as demandas proporcionadas pela carga externa durante a execução do exercício ou competição (Bourdon et al., 2017; Impellizzeri et al., 2019). O conhecimento das respostas psicofisiológicas envolvidas no exercício permitem uma prescrição mais precisa e consequentemente maior predição do desempenho (Borresen; Lambert, 2009). De fato, a integração de medidas de carga interna e externa permite identificar como o praticante está respondendo ao treinamento, pois a redução da carga interna, para uma mesma carga externa pode indicar que o praticante está lidando adequadamente com o treinamento, o que possivelmente pode estar associado a um incremento da aptidão esportiva, pois para realizar o mesmo trabalho é realizado menor esforço (Bourdon et al., 2017). Há diversos indicadores utilizados para determinar a carga interna, como por exemplo, o comportamento da FC, o , limiares ventilatórios, concentrações sanguíneas de lactato (LAC) e perceptuais (Percepção Subjetiva de Esforço - PSE) (Borresen; Lambert, 2009; Impellizzeri et al., 2005). Porém, em recente estudo sobre a temática, Impellizzeri et al. (2019) destacam que a carga interna é um indicador utilizado para determinar a intensidade durante o exercício e não após o exercício. Apesar de respostas hormonais, altura do salto vertical (resposta do Sistema Nervoso Central) e auto relatos de sintomas de fadiga, dor e bem- estar apresentarem forte associação com a carga interna, estas são medidas indiretas observadas após a execução do exercício e, portanto, medidas substitutas da carga interna. Ademais, devem ser considerados aspectos da validade destes indicadores e contexto que estes são observados (Impellizzeri et al., 2019). Nesse sentido, apesar de a frequência cardíaca ser um indicativo válido de carga interna para o exercício aeróbio submáximo, realizado de forma contínua e em longa duração, este pode apresentar validade menor ou até mesmo não ser uma medida válida de carga interna em outras ocasiões em que a FC não 38 Marcio Doro, Phd apresenta a mesma linearidade e aumenta desproporcionalmente como o exercício anaeróbio intermitente, com curta duração e em alta intensidade (Foster et al., 2001; Impellizzeri et al., 2019). Nesse sentido, a carga interna não possui um parâmetro único ou um padrão-ouro de medida, mas podem ser observados e considerados a partir de um conjunto de indicadores que descrevem a resposta interna durante o exercício, em um determinado contexto. Outro fator a ser considerado é o impacto dos aspectos individuais do praticante, os quais podem afetar o equilíbrio do organismo na determinação da magnitude da carga interna (Impellizzeri et al., 2005). Praticantes que realizam o mesmo treinamento de corrida, prescrito com parâmetros semelhantes de carga externa, podem experimentar cargas internas diferentes dependendo do estado de fadiga, distúrbios emocionais, lastro de treinamento, lesões ou doença (Bourdon et al., 2017). Adicionalmente, associações entre as variáveis de bem-estar e carga de treinamento foram observadas em praticantes recreativos de corrida de trilha, sugerindo que distúrbios de sono podem ter consequências negativas relacionadas ao desempenho e altos níveis de estresse podem levar a uma percepção exacerbada e incorreta da carga interna resultante das sessões de treinamento, comprometendo o monitoramento de treinamento (Matos et al., 2019). Monitoramento da carga de treinamento O monitoramento da carga de treinamento é aspecto fundamental, pois permite a praticantes, treinadores e pesquisadores das ciências do esporte observar as respostas individuais de adaptação ao programa de treinamento, assim como avaliar estados de recuperação e fadiga, minimizando o risco de overtraining1 e lesões (Halson, 2014). Em relação às modalidades de endurance, os parâmetros de carga externa comumente utilizada são medidas de , ritmo de corrida, potência e distância total (quilometragem 1 Overtraining pode ser definido como uma síndrome mal adaptativa, ocasionada por fatores como excesso de treinamento, acúmulo de estresse psicofisiológico e inadequada recuperação. Essa síndrome resulta em redução do desempenho esportivo em longo prazo, podendo sua restauração levar várias semanas ou meses. 39 Mude sua vida em 5 Km percorrida por semana) (Bourdon et al., 2017). Esportes de endurance possuem características próprias e o entendimento sobre o Pace2 e a intensidade da corrida podem ser um diferencial no controle das cargas externas. Afinal, altos níveis de refletem uma diminuição no pace, o que colabora diretamente no incremento do desempenho durante as provas (Matos et al., 2019). De acordo com Dantas; Doria (2015), um bom pace gira em torno de 4,05 min/km para distâncias abaixo de 10 km, o que nos remete a parâmetros de desempenho nesse sentido. O desenvolvimento da tecnologia e validação de equipamentos, como por exemplo, wearables3, smartphones, GPS e acelerômetros, têm permitido o monitoramento eficaz da carga de treinamento de corrida, com feedbacks aumentados e simultâneos da carga externa. Com a utilização de um dispositivo de sistema de posicionamento global (GPS), por exemplo, é possível ter informação em tempo real sobre quilometragem percorrida e o ritmo de corrida (Borresen; Lambert, 2009). Entre as possibilidades de monitoramento da carga interna estão medidas fisiológicas (FC, LAC e 2), percepção subjetiva de esforço (PSE), inventários psicométricos e o TRIMP (impulso de treinamento), um indicador integrativo da intensidade e duração treinamento (Bourdon et al., 2017). O monitoramento do componente neural também parece ser necessário e na prática está associado às respostas neuromusculares em função da realização de um protocolo de sprints ou saltos verticais (Impellizzeri et al., 2019). Entre os métodos mais populares de monitorar a carga interna do treinamento de endurance, o comportamento da FC propõe a mensuração da intensidade do exercício, a qual se baseia pelo princípio de linearidade entre a frequência cardíaca 2 O pace pode ser considerado o ritmo de prova, utilizado com frequência em competições de atletismo e que geralmente é expresso em min/km. 3 Wearables (tecnologia para vestir) são dispositivos como relógios, pulseiras ou acessórios presos a trajes esportivos, habilitados com hardwares e softwares, que praticantes utilizam para monitorar o treinamento. Entre os exemplos, estão os monitores cardíacos e o GPS. 40 Marcio Doro, Phd e o trabalho físico submáximo em estado estável. No entanto, apesar da utilização de estimativas de percentuais FC máxima para a prescrição da intensidade do exercício, sugere-se o uso do percentual da FC de reserva (%FCres) 4, pois este considera a variação da frequência cardíaca em repouso em função da idade e o nível de condicionamento (Borresen; Lambert, 2009). Tendo em vista que o programa de treinamento concebe a interação entre aspectos de volume e intensidade, a combinação de outras variáveis de carga interna com a FC podem fornecer indicativos importantes para o monitoramento.Medidas combinadas de FC e PSE podem auxiliar o monitoramento do treinamento, pois uma FC reduzida com um PSE elevada pode ser um indicativo de fadiga (Halson, 2014). Métodos de impulso de treinamento (TRIMP) combinam FC e duração do exercício, quantificando esses componentes em uma única medida de esforço, permitindo uma abordagem sistêmica do processo de treinamento, assim como identificar desfechos mal adaptativos, como a queda de desempenho e overtraining, resultados de impulsos excessivos de treinamento (Borresen; Lambert, 2009). No entanto, em alguns casos, o monitoramento da carga por meio de parâmetros fisiológicos pode apresentar custos elevados, demanda de equipamentos especializados, protocolos invasivos e elevado tempo para fornecer respostas. Um exemplo é a avaliação do , a qual pode ser realizada por um padrão ouro, que é o teste de ergoespirometria. No entanto, visto que nem todos possuem acesso devido ao alto custo, existem outros meios para se avaliar o e com menor custo, como por exemplo, os testes de campo (por exemplo, o teste de Cooper) (Matos et al., 2019). Medidas de concentração sanguínea de lactato (LAC), determinada pelas alterações em função da intensidade e duração do exercício, são amplamente utilizadas em pesquisas, porém é um método oneroso e invasivo e, portanto, de inviável aplicação no contexto prático (Halson, 2014). Destarte, 4 A FC reserva é determinada subtraindo-se a FC máxima da FC de repouso: Em que a FC é a frequência cardíaca média do exercício; FCrep é a frequência cardíaca de repouso e FCmáx é a frequência cardíaca máxima. 41 Mude sua vida em 5 Km instrumentos psicométricos pode ser uma alternativa viável para o monitoramento do treinamento, já que possibilita mensurar as repostas psicofisiológicas com validade, baixo custo e em menor tempo (Coutts; Wallace; Slattery, 2007). Entre estes instrumentos, a PSE apresenta-se como um método de monitoramento da carga interna, amplamente aceito e utilizado na prática esportiva. Parte do pressuposto de que respostas fisiológicas impostas pelo estresse físico, como os sinais periféricos e centrais, interpretados pelo córtex sensorial, são acompanhadas por respostas perceptuais equivalentes do esforço para a realização de uma determinada tarefa (Foster et al., 2001). Baseado no conceito de TRIMP foi desenvolvido o método da PSE da sessão, que compreende o cálculo da carga interna a partir da multiplicação do escore da PSE (obtida em 30 minutos após o término da sessão) pela duração total da sessão expressa em minutos. O produto obtido é uma medida de esforço físico expressa em unidades arbitrárias que permite o acompanhamento e distribuição de cargas durante o período de treinamento (Foster et al., 2001). Destrate, a utilização da PSE é um método confiável, aplicável e adequado para o monitoramento da carga de treinamento (Halson, 2014). Questionários psicométricos são instrumentos relativamente simples e baratos, que contribuem na determinação de respostas subsequentes ao treinamento e parâmetros indiretos de carga interna (estresse, respostas imunológicas, distúrbios de humor, recuperação e saúde), podendo também ser úteis para identificar sinais de overtraining em seus estados iniciais (Halson, 2014). Nessa perspectiva, diversos questionários têm sido utilizados e recomendados para monitorar tais respostas, com destaque para o Daily Analyses of Life Demands for Athletes (DALDA), o Perfil de Estados de Humor (POMS), o Recovery-Stress Questionnaire for Athletes (RESTQ-76 Sport) e o Wisconsin Upper Respiratory Symptom Survey -21 (WURSS-21). Aspectos psicológicos da carga de treinamento Considerando as especificidades individuais e os diferentes 42 Marcio Doro, Phd tipos, características e cargas de exercícios físicos, Rodgers et al. (2002) apontam que no planejamento e prescrição do exercício é importante considerar não apenas adaptações nos níveis de aptidão física, mas também nos aspectos psicológicos, sugerindo que as características das sessões de exercício possam influenciar a motivação para o envolvimento subsequente da prática. Nas últimas décadas, a ciência vem realizando estudos, desenvolvendo teorias e modelos com o objetivo de entender e explicar as nuances que envolvem a prática de exercícios físicos. Especificamente na área da Psicologia do Esporte e do Exercício, algumas teorias vêm sendo utilizadas por pesquisadores no desenvolvimento de estudos sobre aspectos psicológicos e cargas de treinamento. A teoria Sociocognitiva traz a auto eficácia como construto central, sendo definida como “o senso de autoestima ou valor próprio, o sentimento de adequação, eficácia e competência para enfrentar situações” (Bandura, 1986). Pessoas com níveis mais elevados de auto eficácia são mais persistentes, acreditam ser capazes de superar desafios, apresentando alto grau de confiança em obter êxito e controle da própria vida (Bandura, 1986). Algumas investigações mostraram que uma maior auto eficácia está associada a níveis mais altos de prática de atividade física, e que durante o exercício volitivo e, portanto, autônomo, é inegável que incentivar o participante a aumentar a frequência de exercícios, tende a favorecer maior domínio e consequentemente elevar a auto eficácia. Rodgers et al. (2002) afirmam que em pessoas destreinadas é interessante considerar que cargas mais baixas podem produzir maior auto eficácia, tendo em vista que a probabilidade de domínio é maior, ou seja, pessoas destreinadas tendem a ser mais eficazes em completar exercícios com menores cargas. Para exercícios com cargas mais elevadas, o desafio físico pode ser muito alto e podem ocorrer percepções menores de eficácia devido à extrema dificuldade ou falha em completar o exercício. No entanto, o domínio eventual de um desafio considerável (cargas elevadas) pode produzir maior auto eficácia a longo prazo. Isso seria devido a atribuições pessoais de persistência, bem como domínio, e uma auto avaliação positiva 43 Mude sua vida em 5 Km para o sucesso. Portanto, é necessário olhar não apenas para os efeitos de curto prazo, mas também para os efeitos de longo prazo do exercício físico sobre as percepções de auto eficácia (Rodgers et al., 2002). O Modelo Transteórico ou Transteorético propõe que os indivíduos apresentam comportamentos e hábitos, e que a mudança é um processo que pode ocorrer ao longo do tempo. Tal modelo propõe os seguintes estágios de mudança: (1) Pré-Contemplação: os indivíduos são inativos e não apresentam intenção de praticar o exercício físico; (2) Contemplação: os indivíduos são inativos e apresentam intenção para o exercício; (3) Preparação: indivíduos se exercitam sem regularidade; (4) Ação: indivíduos se exercitam com regularidade, porém os riscos de recaídas são altos; (5) Manutenção: indivíduos se exercitam com regularidade há mais tempo, com baixo risco de recaída; e (6) Terminação: indivíduos não cogitam a inatividade física, apresentam uma forte crença na sua capacidade de permanecerem fisicamente ativos. As mudanças nos estágios de comportamento podem ocorrer através de intervenções com estratégias específicas como: foco nos benefícios do exercício, estabelecimentos de metas e objetivos, apoio social, e outros (Prochaska; Diclemente; Norcross, 1993). O Modelo Dual-Modo apresenta uma relação entre intensidade de exercício e resposta afetiva, sendo esta última definida como o prazer ou desprazer, tensão ou relaxamento, energia ou cansaço que os praticantes experimentam. O modelo assume que as respostas afetivas ao exercício físico são o resultado de uma interação constante entre fatores cognitivos e sinais fisiológicos. Assim, o modelo prevê que em intensidades abaixo do limiar ventilatório ou de lactato, o afeto será prioritariamente positivo; em intensidades proximais ao limiar ventilatório ou de lactato, respostas afetivas diferirão consideravelmente entre indivíduos,com alguns relatos aumentando e outros diminuindo o prazer; e em intensidades acima do limiar ventilatório ou de lactato, a maioria dos indivíduos relatará prazer reduzido (Ekkekakis; Parfitt; Petruzzello, 2011). Em um estudo de metanálise Hagger; Chatzisarantis (2009), verificaram que promover a autonomia da prática do 44 Marcio Doro, Phd exercício físico seria um preditor significativo de participação em longo prazo. Tal achado sugere que a escolha da intensidade pode gerar um senso de autonomia e controle, permitindo que os praticantes reconheçam cognitivamente a experiência do exercício como algo que o indivíduo escolheu fazer por vontade própria propiciando maiores sensações de prazer, o que pode elevar os níveis de motivação autônoma. Por outro lado, Rose; Parfitt (2012) apontaram que participantes de um estudo experimentaram maior autonomia na condição de intensidade de cargas auto selecionadas, independentemente de serem ativos ou sedentários, com os níveis mais baixos de autonomia relatados quando os participantes tiveram que completar a condição na intensidade de cargas prescritas. Portanto, parece que quando a intensidade das cargas é auto selecionada, ao invés de imposta, parece promover maior tolerância a níveis de cargas mais elevadas. A liberdade de escolher a intensidade de cargas do exercício parece influenciar positivamente a resposta afetiva ao exercício, que influencia positivamente a adesão ao exercício. A Teoria dos Objetivos de Realização baseia-se na concepção que um indivíduo possui em desenvolver ou demonstrar competência, ou seja, a forma como o sujeito orienta seus objetivos vai determinar sua motivação para a realização de uma determinada atividade. Dessa forma, o comportamento pode ser influenciado através da interação entre a perspectiva da tarefa e a percepção de competência incluindo desempenho, esforço, persistência e escolha do grau de dificuldade da tarefa. Segundo essa teoria os indivíduos ao realizar uma atividade podem desenvolvê-la através de dois critérios diferenciados buscando demonstrar competência, sendo elas: orientação para a tarefa e orientação para o ego. Indivíduos orientados à tarefa são focados no aprimoramento pessoal e geralmente escolhem tarefas desafiadoras, exercendo e demonstrando altos níveis de esforço e persistência, ou seja, indivíduos orientados à tarefa definem o sucesso em termos de habilidades de domínio, auto aprimoramento e investimento de esforço, sentindo-se competentes quando atingem tais objetivos. Os graus de dificuldade das tarefas são julgados pelos indivíduos 45 Mude sua vida em 5 Km com relação à percepção que eles possuem sobre suas capacidades e autoconhecimento, ou seja, quanto mais difíceis parecem ser as tarefas, maiores devem ser os esforços para a obtenção do sucesso, o que representa maior nível de competência. Já, indivíduos orientados ao ego são focados na realização de uma tarefa em função da comparação com seus pares, ou seja, eles persistem em uma tarefa na medida em que percebem ser competentes em relação aos outros. Como o ponto de referência dos indivíduos orientados ao ego é o outro, eles tendem a sentirem-se bem-sucedidos apenas quando percebem que seu desempenho é superior em relação ao do outro (Duda, 2001). A orientação para a tarefa está associada a resultados adaptativos positivos, incluindo maior persistência, esforço e motivação intrínseca, enquanto a orientação ao ego com maior competitividade e ansiedade. Indivíduos orientados à tarefa tendem a ser mais resilientes e confiantes, pois não precisam ser melhores que os outros para se sentirem bem consigo mesmos (Duda, 2001). A Teoria da Autodeterminação (TAD) tem sido um arcabouço teórico amplamente aplicado nos estudos sobre a motivação e sua associação com os níveis de atividade física, tendo como foco examinar o impacto de comportamentos autônomos versus não autônomos sobre a motivação. De acordo com a TAD, os níveis de motivação estão classificados em três formas distintas, sendo: (1) Motivação Intrínseca, é aquela em que o indivíduo ingressa em uma atividade por vontade própria, diga- se, pelo prazer e pela satisfação do processo de conhecer uma nova atividade. Comportamentos intrinsecamente motivados estão associados com maior bem-estar psicológico, interesse, alegria e/ ou a disposição à tarefa. (2) Motivação Extrínseca, é aquela em que o indivíduo ingressa em uma atividade por expectativas de resultados favoráveis ou outras contingências não necessariamente inerentes à própria atividade, sendo composta por quatro categorias: (2.1) ‘regulação externa’, quando o comportamento é regulado por meios que podem variar desde as possíveis premiações materiais até o medo de possíveis consequências indesejáveis; (2.2) ‘regulação introjetada’, quando uma fonte de motivação externa 46 Marcio Doro, Phd é internalizada, podendo ser representada por pressões internas, como a culpa, necessidade de pertencimento ou obediência. (2.3) ‘Regulação identificada’, quando o indivíduo realiza uma tarefa ou uma ação comportamental que não pode ser considerada de sua personalidade, ou seja, a executa por influência de outrem, mesmo que não lhe seja interessante, agradável ou prazeroso. (2.4) ‘Regulação integrada’, é aquela motivação que em algum momento foram externas, mas que gradativamente integrou-se ao sistema de valores do indivíduo. E por último a (3) Amotivação, que é o estado motivacional que pode ser encontrado em indivíduos que não estão suficientemente aptos a identificar bons motivos para realizar uma determinada atividade, ou seja, não estão dispostos a agir naquela direção, a realizar aquela ação, a atingir aquele alvo, a alcançar aquele objetivo (Deci; Ryan, 2000). Existem três necessidades psicológicas básicas que impulsionam o comportamento, que são a competência (avaliação da capacidade percebida), as relações sociais (sensação de ter uma experiência compartilhada com os outros) e a autonomia (ter livre escolha para se envolver em atividades). A autonomia é definida pela liberdade de escolha e pela capacidade de mudar as decisões tomadas. Fazer escolhas sem pressão externa e ter a liberdade de mudar a mente a qualquer momento promove um estado motivacional intrínseco (Deci; Ryan, 2000). Um estado motivacional intrínseco é ideal porque está associado a maior esforço e concentração, ótima saúde e bem-estar psicológico. Considerações finais A compreensão desses aspectos, seja por praticantes, treinadores ou pesquisadores das ciências do esporte, possibilita monitorar as adaptações em função do treinamento, assim como gerir a fadiga, o que pode minimizar a ocorrência de desfechos negativos, como lesões e overtraining. Referências 47 Mude sua vida em 5 Km BANDURA, A. Social foundations of thought and action. Englewood Cliffs, NJ, v. 1986, p. 23-28, 1986. BORRESEN, J.; LAMBERT, M. I. The Quantification of Training Load, the Training Response and the Effect on Performance. Sports Medicine, v. 39, n. 9, p. 779-795, 2009/09/01 2009. BOULLOSA, D. et al. Factors Affecting Training and Physical Performance in Recreational Endurance Runners. Sports, v. 8, n. 3, p. 35, 2020. BOURDON, P. C. et al. Monitoring athlete training loads: consensus statement. International journal of sports physiology and performance, v. 12, n. s2, p. S2-161-S2-170, 2017. COUTTS, A. J.; WALLACE, L. K.; SLATTERY, K. M. Monitoring changes in performance, physiology, biochemistry, and psychology during overreaching and recovery in triathletes. Int J Sports Med, v. 28, n. 2, p. 125-34, Feb 2007. DANTAS, J. L.; DORIA, C. Detection of the lactate threshold in runners: What is the ideal speed to start an incremental test? Journal of human kinetics, v. 45, n. 1, p. 217-224, 2015. DECI, E. L.; RYAN, R. M. The” what” and” why” of goal pursuits: Human needs and the self-determination of behavior. Psychological inquiry, v. 11, n. 4, p. 227-268,2000. DUDA, J. Achievement goal research in sport: Pushing the boundaries and clarifying some misunderstandings,[In:] GC Roberts (Ed.), Advances in motivation in sport and exercise. Champaign, IL: Human Kinetics Books, 2001. EKKEKAKIS, P.; PARFITT, G.; PETRUZZELLO, S. J. The pleasure and displeasure people feel when they exercise at different intensities. Sports medicine, v. 41, n. 8, p. 641-671, 2011. ETXEBARRIA, N.; MUJIKA, I.; PYNE, D. B. Training and competition readiness in triathlon. Sports, v. 7, n. 5, p. 101, 2019. 48 Marcio Doro, Phd FOSTER, C. et al. A new approach to monitoring exercise training. The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 15, n. 1, p. 109-115, 2001. GOMES, A. C. Treinamento desportivo: estrututuração e periodização. Artmed Editora, 2009. ISBN 8536320885. HAGGER, M. S.; CHATZISARANTIS, N. L. Integrating the theory of planned behaviour and self‐determination theory in health behaviour: A meta‐analysis. British journal of health psychology, v. 14, n. 2, p. 275-302, 2009. HALSON, S. L. Monitoring training load to understand fatigue in athletes. Sports medicine, v. 44, n. 2, p. 139-147, 2014. HOFFMAN, J. NSCA’s Guide to Program Design. Human Kinetics, 2011. ISBN 1492582778. IMPELLIZZERI, F. M.; MARCORA, S. M.; COUTTS, A. J. Internal and External Training Load: 15 Years On. International Journal of Sports Physiology and Performance, v. 14, n. 2, p. 270-273, 2019. IMPELLIZZERI, F. M.; RAMPININI, E.; MARCORA, S. Physiological assessment of aerobic training in soccer. Journal of sports sciences, v. 23, p. 583-92, 07/01 2005. LAMBERT, M. I.; BORRESEN, J. Measuring Training Load in Sports. International Journal of Sports Physiology and Performance, v. 5, n. 3, p. 406-411, 2010. MATOS, S. et al. Training Load, Aerobic Capacity and Their Relationship With Wellness Status in Recreational Trail Runners. Frontiers in Physiology, v. 10, n. 1189, 2019-September-13 2019. PROCHASKA, J. O.; DICLEMENTE, C. C.; NORCROSS, J. C. In search of how people change: Applications to addictive behaviors. Addictions Nursing Network, v. 5, n. 1, p. 2-16, 1993. 49 Mude sua vida em 5 Km RODGERS, W. M. et al. The motivational implications of characteristics of exercise bouts. Journal of health psychology, v. 7, n. 1, p. 73-83, 2002. RØNNESTAD, B. R.; HANSEN, E. A.; RAASTAD, T. High volume of endurance training impairs adaptations to 12 weeks of strength training in well-trained endurance athletes. European journal of applied physiology, v. 112, n. 4, p. 1457-1466, 2012. ROSE, E.; PARFITT, G. Exercise experience influences affective and motivational outcomes of prescribed and self‐selected intensity exercise. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, v. 22, n. 2, p. 265-277, 2012. SEILER, K. S.; KJERLAND, G. Ø. Quantifying training intensity distribution in elite endurance athletes: is there evidence for an “optimal” distribution? Scandinavian journal of medicine & science in sports, v. 16, n. 1, p. 49-56, 2006. TEIXEIRA, C. V. L. S. et al. Complexity: A Novel Load Progression Strategy in Strength Training. Frontiers in Physiology, v. 10, p. 839, 2019. ADAPTAÇÕES CARDIOVASCULARES EM CORREDORES DE RUA Catarina de Andrade Barboza Na última década houve um enorme interesse acerca do pedestrianismo – corrida de rua - como prática de exercício físico em busca de qualidade de vida, do bem-estar e desempenho. No entanto, tem sido uma das principais escolhas na mudança de hábitos para melhorar a saúde global. Seguindo o conhecimento bem estabelecido na literatura a despeito das alterações fisiológicas resultantes da prática de exercício físico, neste capítulo vamos abordar as alterações cardiovasculares associadas a prática contínua da corrida e os efeitos do treinamento no sistema cardíaco e circulatório. Quanto aos efeitos cardiovasculares é possível observar que há combinação de tipos de exercício físico. Em relação ao exercício dinâmico, aqui também iremos usar o treinamento de resistência, em que as variações que ocorrem no comprimento das fibras musculares induzem a pouca força, pode ser explicada pela característica da contração, ou seja, no exercício dinâmico a contração muscular é caracterizada por ser rítmica ou cíclica, que apesar de constante, não é sustentada, enquanto no exercício estático e/ou resistido (exercício de força) que por sua vez é definido pela contração muscular sustentada, ou seja, prolongada, o comprimento das fibras é quase inalterado, de forma a promover expressivo ganho de força. Mas vale ressaltar, que no contexto da corrida, cujo exercício tem em suas características biomecânicas o tipo de exercício dinâmico predominante na sua execução, precisamos aqui fazer um adendo ao fato do exercício dinâmico induzir aumento no gasto energético, e, portanto, as repercussões cardiovasculares oriundas da realização de exercício dinâmico são prevalentes na sua execução(BOOHER; SMITH, 2003). Quando o corpo está em movimento, seja realizando uma 52 Marcio Doro, Phd atividade da vida diária ou exercício físico, como treinamento, ocorre a conhecida quebra da homeostase, ou seja, o organismo é retirado de um estado de equilíbrio, entre oferta e demanda. No que tange as alterações advindas do treinamento físico já é bem conhecido que para tal, alguns fatores são pilares nesses ajustes, como o tipo de treinamento, a carga de treino (intensidade; volume; frequência; duração) e a qualidade de execução técnica (biomecânica)(KIM et al., 2017). No entanto, no contexto da corrida de rua, para fim de conhecimento, o tipo de exercício é caracterizado como dinâmico ou isotônico. Porém, vale ressaltar que o desempenho ou performance da corrida advêm de treinamento físico, ou seja, completar o percurso em um bom pace (ritmo) é o resultado final do treinamento, de forma que a habilidade de realizar tal tarefa será melhorada ou aumentada com a prática contínua. A variável mais comum e mais fácil de avaliar é a frequência cardíaca, que por sua vez aumenta conforme a captação de oxigênio (O2). O aumento que é linear, varia de acordo com a capacidade cardiorrespiratório do individuo, bem como, de outros fatores, como por exemplo nos indivíduos destreinados ou com reduzida capacidade aeróbia, em que a frequência cardíaca aumenta rapidamente, o que não é observado em indivíduos bem condicionados do ponto de vista cardiorrespiratório. No entanto, vale ressaltar também que este é um parâmetro fisiológico que sofre alterações diante do tratamento medicamentoso baseado em betabloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio, que reduzem a resposta da frequência cardíaca diante do esforço físico. Contudo, há um momento em que ocorre diminuição da frequência cardíaca, esse momento caracteriza a capacidade máxima alcançada no exercício ou o limite da frequência cardíaca(LONGHURST et al., 1980; LONGHURST; STEBBINS, 1997). O principal responsável pelo controle de oferta e demanda circulatória no organismo é o coração. É o coração que bombeia o sangue para os órgãos, tecidos e músculos. Diante da demanda exigida pelo exercício físico, em que há aumento na demanda metabólica, faz-se necessário que o principal controlador circulatório do corpo, o coração, se ajuste a necessidade aumentada de O2 53 Mude sua vida em 5 Km por exigência do esforço físico(FAGARD, 1997). Portanto, tais ajustes são chamados de respostas cardiovasculares, que por sua vez ocorrem em várias frentes com resultantes alterações circulatórias a fim de aumentar a liberação de O2 para os tecidos e para a musculatura em atividade, considerando que a irrigação sanguínea seja a adequada as necessidades metabólicas neste contexto. Dessa forma, o conceito de capacidade aeróbia máxima (VO2 máx.) é utilizado para descrever a maior velocidade com que o O2 é captado e utilizado pelo organismo. Isso se deve ao fato de que quaisquer atividades físicas se fazem necessárioo consumo de O2 para sua realização, e, portanto, há uma variação entre os indivíduos de acordo com as características que estão associadas a essa, como; sexo, idade, hereditariedade e aptidão física (condicionamento físico). Este último, classificado como fator modificável, ou seja, de acordo com o nível e capacidade funcional que o individuo desenvolve em relação ao treinamento físico contínuo, denotam que quanto menor a capacidade funcional, maior é o aumento no consumo de O2. Alguns estudos demostram que tal diferença chega ao consumo de O2 de dez vezes mais em indivíduos sedentários, inclusive em repouso, quando comparados a indivíduos fisicamente ativos, ou seja, com aumentada capacidade funcional(LEWIS; KAMON; HODGSON, 1986). Compreendida tais alterações e ajustes inerentes ao organismo diante do esforço físico no que se refere a capacidade aeróbia máxima (VO2 máx.) sabemos que na Lei de Fick estão descritos os fatores envolvidos no consumo de O2 e sua relação com as variáveis cardíacas. Considerando as variáveis que compõe, podemos compreender que para melhorar o desfecho final por meio do consequente aumento da capacidade física aeróbia se dá em função do aumento da diferença arteriovenosa e/ou do débito cardíaco, que por sua vez, tem correlação linear com a elevação da frequência cardíaca, que também sofre interferência do volume sistólico. É preciso compreender que o aumento do retorno venoso durante o exercício físico induz aumento do volume sistólico, consequentemente, aumento no débito cardíaco, e portanto, ação 54 Marcio Doro, Phd cardíaca elevada(LEWIS; KAMON; HODGSON, 1986). Característica e adaptações cardiovasculares Um dos principais fatores que determinam o VO2 em condições fisiológicas é o volume-minuto do coração. Visto que ao contrário do treinamento de resistência que não altera o número máximo de batimentos cardíacos alcançável, o treinamento dinâmico é permissivo neste contexto. Isso se deve a alteração bioquímica do miocárdio, associada ao aumento da sensibilidade aos impulsos simpáticos resultando no volume cardíaco. O volume do coração já foi observado e avaliado por meio radiografia bidimensional, cujas medidas foram relatadas no sexo masculino sendo de ~800 ml; sexo feminino ~630 ml. No caso de esportista de resistência de alto rendimento observou-se volume do coração de 1100 ml. Com essas informações, podemos discorrer a respeito do volume relativo do coração, ou seja, volume do coração/peso corporal (ml/kg), em que indivíduos sedentários ou destreinados a relação é de 10,3 ml/kg, enquanto individuo fisicamente ativo, baseado em treinamento em resistência aeróbia situa em torno de 20 ml/kg. Isso denota a correlação entre o tamanho do coração (fisiológico) e seu rendimento, em que foi verificado que tal adaptação ao treinamento físico pode corresponder ao volume de 900 ml, com VO2 de 4300 ml/min(FAGARD, 1997). A luz do conhecimento nos leva a técnica de treinamento popularmente conhecida baseada no uso da frequência cardíaca. No entanto, estudos clássicos da década de 30 precedeu o que é bem estabelecido para os dias de hoje na literatura científica de que segundo o qual não existe relação linear entre a quantidade de treinamento e o efeito do treinamento. Para além, os indivíduos cujo treinamento é baseado em resistência dispõe de bradicardia, ou seja, frequência cardíaca mais baixa em repouso. Ainda no entorno da década de 30, no Instituto de Colônia para Pesquisa da Circulação e Medicina do Esporte foi relatado o menor valor de frequência cardíaca, em torno de 28 batimento por minuto do esportista corredor de esqui de longa distância, cuja frequência 55 Mude sua vida em 5 Km máxima foi descrita como sendo de 170 batimentos por minuto. O que isso nos mostra é que o número de batimentos cardíacos máximo alcançáveis não pode ser alterado por meio do treinamento físico, por outro lado, o volume-minuto máximo pode ser alterado em até 100%, como descrito na comparação de atletas alto rendimento e indivíduos sedentários(BJARNEGÅRD et al., 2018; LONGHURST; STEBBINS, 1997; PRICE; DAVIDOFF; BALADY, 2000). Alguns fatores como o aumento do diâmetro interno e da espessura relativa da parede do ventrículo esquerdo (hipertrofia excêntrica) são alterações advindas do treinamento, que por sua vez, são responsáveis pelo aumento do volume sistólico. A hipertrofia excêntrica, ou seja, a massa muscular do ventrículo esquerdo aumentada, leva meses ou anos de treinamento para se formar. Ao mesmo tempo, o treinamento diminui a resistência vascular periférica, de forma que é aumentado o fluxo sanguíneo dos vasos arteriais, processo denominado retorno venoso, em que o fluxo sanguíneo para o coração aumenta, demonstrando a influência das repostas periféricas nos ajustes cardiovasculares obtidos por meio doa treinamento de resistência(FAGARD, 1997; MARTINEZ et al., 2020). Resumidamente, no primeiro nível de adaptação ao treinamento, a diminuição da frequência cardíaca, concomitantemente ao prolongamento da sístole e da diástole, com reduzida contratilidade, ocorre também a diminuição de catecolaminas circulantes, aumento do volume sistólico em repouso, sem aumento expressivo do trabalho, bem como, do volume cardíaco. Portanto, em um coração saudável, a necessidade de oxigênio é determinada pelo volume sistólico, volume diastólico, espessura da parede do ventrículo esquerdo, sendo ainda mais essenciais, a frequência cardíaca, a pressão sistólica e o tempo de duração da sístole. O que isso ressalta é que, devido ao aumento da frequência cardíaca em esforço, o treinamento reduz a mesma em repouso, significando maior economia de trabalho com correspondente redução no consumo de O2. Assim, o treinamento de resistência gera adaptações funcionais e estruturais, nesta última, 56 Marcio Doro, Phd a mais conhecida, a hipertrofia ventricular, que na sequencia dos processos se dá em uma segunda etapa de adaptações, ocorre o aumento da secção transversa do musculo devido ao treinamento, aumento da carga mecânica, e consequente aumento na carga metabólica que se manifesta na sístole. Todo esse contexto, denota que a importância da hipertrofia fisiológica do coração baseia-se na administração do trabalho miocárdico por longos períodos, no entanto, sem exacerbar a sua capacidade de rendimento. Controle neural e variáveis hemodinâmicas Do ponto de vista do exercício dinâmico, entende-se que as contrações musculares se dão de forma rítmica ou cíclica, em que tais contrações promovem adaptações cardiovasculares imediatas para suprir a necessidade dos músculos e órgãos de forma adequada, que por sua vez são observadas pelas alterações na frequência cardíaca, no volume de ejeção e na diferença arteriovenosa de O2. Dessa forma, o aumento do fluxo sanguíneo induzido pela vasodilatação (aumento do diâmetro dos vasos sanguíneos e artérias) é o principal mecanismo fisiológico envolvido no ajuste cardiovascular frente ao esforço físico. Para isso, participam desse processo o controle neural. Em uma breve revisão, o controle neural ocorre pela estimulação do sistema nervoso autonômico – parte do sistema nervoso periférico; composto pelo sistema nervoso simpático e parassimpático -, sendo que, o efeito cronotrópico positivo é atribuído ao componente simpático do sistema nervoso, enquanto, o efeito cronotrópico negativo, ao componente parassimpático do sistema nervoso, assim, mediando a regulação das respostas hemodinâmicas por meio da frequência cardíaca(WAKEHAM et al., 2019). É de conhecimento do ponto de vista fisiológico que o aumento inicial da frequência cardíaca ocorre por predomínio do sistema parassimpático, em que aumentos subsequentes se dão pela retirada (diminuição) do sistema parassimpático e entrada (predomínio) do sistema nervoso simpático. Considerando que em repouso, a frequência cardíaca se mantem em torno de 60 a 80 batimentos por minuto, porém,
Compartilhar