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As Anatomia da Próstata A próstata é uma glândula única em forma de rosca, aproximadamente do tamanho de uma bola de golfe. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) A próstata é um órgão retroperitoneal que envolve o colo da bexiga e a uretra e que carece de cápsula distinta. No adulto normal, a próstata pesa cerca de 20 g (TORTORA, DERRICKSON, 2016) Ela mede cerca de 4 cm de um lado a outro, aproximadamente 3 cm de cima a baixo, e cerca de 2 cm de anterior a posterior. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) Encontra-se inferiormente à bexiga urinária e circunda a parte prostática da uretra (TORTORA, DERRICKSON, 2016) A próstata aumenta de tamanho lentamente desde o nascimento até a puberdade. Em seguida, se expande rapidamente até aproximadamente os 30 anos de idade; após esse período, seu tamanho normalmente permanece estável até os 45 anos, quando podem ocorrer novos aumentos. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) Essa glândula é composta por ácinos e um complexo sistema de dutos ramificados, cujos produtos de excreção são lançados dentro da uretra prostática (SANARFLIX) No adulto normal, a próstata pesa cerca de 20 g e pode ser dividida em quatro regiões biológica e anatomicamente distintas: as zonas periférica, central, de transição e periuretral Essas zonas correm risco de sofrer diferentes tipos de lesões proliferativas. Por exemplo, a maioria dos casos de hiperplasia surge na zona de transição, enquanto a maior parte dos carcinomas origina-se na zona periférica. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) A divisão anatômica dessa glândula é importante, principalmente, para descrever a localização dos processos neoplásicos que ocorrem nesse órgão. A parte glandular representa cerca de dois terços da próstata, sendo composta pela zona periférica e uma pequena zona central que formam cerca de 95% da próstata; enquanto o outro terço é fibromuscular, composto por zona muscular anterior, zona de transição e glândulas periuretrais. (SANARFLIX) • Zona muscular anterior (AMZ): localizado anteriormente à uretra, é também chamada de istmo. Característica fibromuscular com pouco ou nenhum tecido glandular. Representa a continuação superior do músculo esfíncter externo da uretra para o colo da bexiga; • Zona Central (ZC): localizado ao redor da uretra, é uma zona glandular. • Zona periférica (ZP): localizado posterior à uretra, corresponde a uma zona glandular. • Zona de transição (ZT): por se tratar de uma área de transição apresenta tanto característica glandular quanto fibromuscular. A zona periférica e de transição, apesar de anatomicamente distintas, apresentam uma origem embrionária comum (sino urogenital). As glândulas da zona central são morfologicamente distintas devido a origem embrionária diferente. Cerca de 60 a 70% dos tumores de próstata ocorrem na zona periférica e de 10 a 20% ocorrem na zona de transição. Apenas 5 a 10% dos tumores se originam na zona central. Já a Hiperplasia Prostática Benigna decorre de um aumento no número das células musculares, principalmente em região de AMZ, podendo ocorrer também em zona de transição. (SANARFLIX) Histologia da Próstata Do ponto de vista histológico, a próstata é composta por glândulas separadas por estroma fibromuscular abundante. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) As glândulas são revestidas por duas camadas de células: uma camada basal de epitélio basal cuboide baixo coberta por uma camada de células secretoras colunares, que frequentemente contém pequenas dobras papilares. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) As glândulas tubuloalveolares da próstata são formadas por um epitélio cuboide alto ou pseudoestratificado colunar(KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Os androgênios testiculares controlam o crescimento e a sobrevivência das células prostáticas, e a castração leva à apoptose generalizada do epitélio prostático e atrofia da próstata. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Fisiologia da Próstata A próstata secreta um líquido leitoso e ligeiramente ácido (pH de aproximadamente 6,5) que contém diversas substâncias. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) • O ácido cítrico do líquido prostático é usado pelos espermatozoides para a produção de ATP por meio do ciclo de Krebs. • Várias enzimas proteolíticas, como o antígeno prostático específico (PSA), pepsinogênios, lisozima, amilase e hialuronidase, que por fim quebram as proteínas de coagulação das glândulas seminais. • A função da fosfatase ácida secretada pela próstata é desconhecida. • A plasmina seminal do líquido prostático é um antibiótico que pode destruir as bactérias. A plasmina seminal pode ajudar a diminuir a quantidade de bactérias que ocorrem naturalmente no sêmen e no sistema genital inferior da mulher. As secreções da próstata entram na parte prostática da uretra por meio de diversos canais prostáticos. As secreções prostáticas constituem aproximadamente 25% do volume do sêmen e contribuem para a motilidade e viabilidade dos espermatozoides. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) A próstata também elimina urina através de uma seção apropriada da uretra (uretra prostática). Essa região da próstata consiste em uma cápsula fibrosa fina, que circunda as fibras musculares lisas orientadas circunferencialmente, e o tecido colágeno, que envolve a uretra na área de comunicação com a bexiga. A uretra prostática atravessa a glândula prostática, onde é revestida por uma camada longitudinal final de músculo liso, que se encontra em continuidade com a parede da bexiga. O músculo liso, que cerca a glândula prostática, origina-se principalmente da musculatura longitudinal da bexiga. Ele forma o esfíncter involuntário verdadeiro da uretra posterior masculina. Como a próstata circunda a uretra, o crescimento da glândula pode causar obstrução urinária (NORRIS, 2021) Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) A hiperplasia benigna prostática (HBP) consiste na proliferação dos ácinos das glândulas peri-uretrais submucosas e zona de transição da próstata. (SROUGI, CURY, 2014) A hiperplasia prostática benigna (HPB) é uma condição observada em homens, cuja próstata apresenta aumento de volume, todavia não canceroso (NORRIS, 2021) A HPB também é denominada hipertrofia prostática benigna ou obstrução prostática benigna. (NORRIS, 2021) Ocorre o espessamento da parede da bexiga que, enfim, pode se tornar mais enfraquecida e perder a capacidade de esvaziar completamente, causando o acúmulo de uma pequena quantidade de urina no seu interior. (NORRIS, 2021) A HPB é caracterizada pela formação de lesões grandes e discretas na região periuretral da próstata, e não nas zonas periféricas, comumente afetadas pelo câncer de próstata (NORRIS, 2021) Na HPB, o peso da próstata aumenta frequentemente de três a cinco vezes (60 a 100 g), e em alguns casos pode-se observar um aumento ainda maior. A HPB afeta a zona de transição e, portanto, pode invadir a uretra, comprimindo-a até formar um orifício semelhante a uma fenda (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Aspectos Histológicos da HBP A HBP caracteriza-se pela proliferação de nódulos que circundam a uretra. Ocorre uma hiperplasia tanto do tecido glandular quanto do estroma .Alguns estudos mostram que 50 a 60% do peso da próstata com hiperplasia é representado pelo crescimento do estroma e apenas 12 a 20% corresponde ao tecido glandular. (SROUGI, CURY, 2014) Fatores de risco da HBP Os fatores citados a seguir impõem aos homens o risco de desenvolver a afecção: 40 anos de idade ou mais; histórico familiar de HPB; condições clínicas como obesidade, doença cardiovascular e diabetes tipo 2; falta de exercícios físicos; e DE (NORRIS, 2021) A HPB não se desenvolve em homens cujos testículos foram removidos antes da puberdade. Por esse motivo, alguns pesquisadores acreditam que os fatores relacionados ao envelhecimento e aos testículos podem causar HPB. (NORRIS, 2021) Epidemiologiada HBP A próstata passa por dois períodos de crescimento, ao longo da vida do homem. O primeiro ocorre no início da puberdade, quando seu tamanho duplica. A segunda fase do crescimento tem início aos 25 anos e continua pelo resto da vida. Durante a segunda fase de crescimento, à medida que a próstata aumenta de volume, a glândula afeta a uretra, obstruindo o fluxo de urina. (NORRIS, 2021) A HPB é uma das doenças mais comuns dos homens de idade avançada. Segundo relatos, mais de 75% dos homens com mais de 80 anos de idade apresentam HPB.2 O desenvolvimento do quadro é incomum em homens com menos de 40 anos de idade. (NORRIS, 2021) Etiologia da HBP A di-hidrotestosterona (DHT) é o principal androgênio na próstata, onde é formado a partir da testosterona pela ação da 5α-redutase tipo 2. Essa enzima é expressa sobretudo nas células do estroma, mas não nas células epiteliais da próstata. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) A 5α-redutase tipo 1 é outra enzima que medeia a produção de DHT a partir da testosterona em locais extraprostáticos (p. ex., fígado e pele) e proporciona uma fonte adicional de DHT que alcança a próstata por meio do sangue. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) A DHT liga-se aos receptores de androgênios (AR) encontrados nas células prostáticas do estroma e epiteliais, ativando-os. A DHT é mais potente do que a testosterona, visto que tem maior afinidade pelos AR e forma um complexo mais estável com eles. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Pesquisas sobre a DHT sugerem que, mesmo com o declínio nos níveis séricos de testosterona associados ao envelhecimento, os homens continuam a produzir e acumular níveis altos de DHT na próstata; e esse acúmulo de DHT pode ser responsável pelo crescimento contínuo do órgão. De acordo com essa teoria, pesquisadores observaram que os homens que não sintetizam DHT não desenvolvem HPB. (NORRIS, 2021) A ligação da DHT aos AR os transloca do citoplasma para o núcleo e ativa a transcrição de genes dependentes de androgênio, que codificam vários fatores de crescimento e seus receptores. Entre os fatores suprarregulados, os mais importantes são membros da família do fator de crescimento dos fibroblastos (FGF) e o fator de crescimento transformador (TFG) β (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Os FGF, produzidos por células do estroma, são reguladores parácrinos do crescimento epitelial estimulado por androgênio durante o desenvolvimento embrionário da próstata, e algumas dessas vias podem ser “reativadas” na vida adulta para produzir o crescimento da próstata na HPB. O TGFβ serve como agente mitogênico para os fibroblastos e outras células mesenquimais, porém inibe a proliferação epitelial. Embora a causa final da HPB seja desconhecida, acredita-se que os fatores de crescimento induzidos pela DHT atuem aumentando a proliferação das células do estroma e diminuindo a morte das células epiteliais. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Embora seja reconhecido que os androgênios desempenham um papel permissivo na patogênese da HPB, múltiplas linhas de evidências também sustentam um papel para os estrogênios. Duas formas diferentes de receptor de estrogênio (ER), o Erα e o Erβ, têm, respectivamente, efeitos proliferativos e antiproliferativos opostos sobre as células prostáticas. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Fisiopatologia Obstrução uretral propriamente dita Do ponto de vista fisiopatológico, a resistência uretral em casos de HBP pode se elevar pela presença de um obstáculo mecânico ou de uma obstrução funcional. Na verdade, esses dois mecanismos estão sempre presentes, prevalecendo um ou outro dependendo do tipo de crescimento prostático. A hiper-atividade do sistema autônomo simpático agindo sob a cápsula, o colo vesical e o estroma prostático que são ricos em receptores α-1-adrenérgicos, causa contração da glândula e aparecimento de obstrução uretral funcional ou dinâmica. (SROUGI, CURY, 2014) Por outro lado, um contingente importante de pacientes apresenta crescimento prostático significativo, que gera um obstáculo mecânico ou estático ao fluxo urinário. Esse fenômeno é característico de pacientes em idade mais avança-da com próstatas grandes quando do exame físico. (SROUGI, CURY, 2014) Reação do detrusor à obstrução As alterações vesicais estão sempre presentes na HBP e são responsáveis por parte desses sintomas. Com o aparecimento da obstrução infra-uretral, ocorre uma hipertrofia muscular do detrusor que mantém o fluxo urinário normal. Em conseqüência da hipertensão intravesical, surgem alterações da inervação vesical que levam ao aparecimento de sintomas miccionais irritativos. (SROUGI, CURY, 2014) Os pacientes com quadros obstrutivos apresentam em torno de 60% de insta-bilidade do detrusor e urgência urinária com ou sem perdas. Os quadros irritativos aparecem precocemente e têm importância prática, já que nem sempre desaparecem após o tratamento do quadro obstrutivo. (SROUGI, CURY, 2014) Manifestações Clínicas da HBP O quadro clínico é variável, podendo apresentar sintomas intermitentes ou progressivos. Alguns pacientes apresentam STUI mesmo sem crescimento expressivo da próstata, da mesma forma que algumas pessoas com aumento prostático significativo podem permanecer oligossintomáticas. Os sintomas são divididos em três grupos: (SANARFLIX) 1. Sintomas de Armazenamento: aumento da frequência urinária (polaciúria), noctúria, urgência/incontinência urinária e enurese noturna. 2. Sintomas de Esvaziamento: jato fraco, bífido ou intermitente, hesitação, esforço miccional e gotejamento terminal. 3. Sintomas Pós-miccionais: tenesmo vesical (sensação de esvaziamento incompleto) e gotejamento pós- miccional. O tamanho da próstata nem sempre determina o grau de bloqueio ou os sintomas. Alguns homens com próstatas muito aumentadas apresentam pouco bloqueio ou poucos sintomas, enquanto outros homens com próstatas minimamente aumentadas apresentam um bloqueio maior e mais sintomas. Menos da metade de todos os homens com HPB apresenta sintomas do trato urinário inferior. (NORRIS, 2021) Em alguns casos, os homens podem não ter ciência do seu bloqueio até que absolutamente não consigam urinar, uma condição denominada retenção urinária aguda. Tal situação pode resultar da administração sem prescrição médica de medicamentos contra resfriados ou alergias contendo descongestionantes, como pseudoefedrina e oximetazolina.42 Esses medicamentos podem impedir o relaxamento do colo vesical e impossibilitar a micção. Anti-histamínicos como a difenidramina podem reduzir a força da contração dos músculos da bexiga e causar retenção urinária, dificuldades na micção e micção dolorosa. Quando os homens apresentam algum grau de bloqueio uretral, a retenção urinária também pode ocorrer como resultado do consumo de álcool, temperaturas frias ou períodos longos de inatividade. (NORRIS, 2021) Na avaliação inicial recomenda-se utilizar escores de sintomas para avaliar seguimento e manejo do paciente. O I-PSS (Escore Internacional de Sintomas Prostáticos) é um escore amplamente utilizado e validado para uso no Brasil. Apresenta sete perguntas, autoaplicadas pelo paciente, que avaliam a gravidade dos sintomas prostáticos. Além disso, é importante avaliar se os sintomas prejudicam a qualidade de vida do paciente, sendo esse um fator norteador para otimizar o tratamento. Por vezes, essa avaliação é auxiliada por meio de um diário miccional, no qual o paciente deve registrar os sintomas, horário e volume das micções durante três dias e noites. (SANARFLIX) Diagnóstico da HBP Anamnese Alguns pacientes evoluem com prostatismo silencioso, apresentando-se assintomáticos. A prevalência da HBP do ponto de vista histológico é muito maior que do ponto de vista clínico, mostrando que o problema nem sempre produz sintomatologia. O paciente desenvolveum conjunto de sintomas denominado "sintomas do trato urinário inferior" (LUTS), causando as sintomatologias comuns (SROUGI, CURY, 2014) Exame Físico O toque digital retal é o principal exame a ser feito, apesar de certa imprecisão para definir o tratamento real da próstata. Nos quadros de HBP, a glândula evidencia: (SROUGI, CURY, 2014) 1. Aumento simétrico da próstata; 2. Consistência fibroelástica; 3. Superfície lisa; 4. Móvel; 5. Limites precisos; 6. Sulco mediano presente; 7. Ausência de nódulos endurecidos. Exames complementares 1. Sedimento urinário O sedimento urinário pode evidenciar leucocitúria quando existe infecção, que às vezes é a causa ou pode exacerbar os sintomas. (SROUGI, CURY, 2014) A hematúria pode ocorrer na HBP, mas na sua presença exige a exclusão de outras patologias, como litíase ou tumores, o que implica em exames complementares. (SROUGI, CURY, 2014) 1. Dosagem do PSA Todos os doentes com HBP devem ser submetidos à dosagem do antígeno prostático específico no sangue (PSA). O PSA é uma glicoproteína secretada exclusivamente pelas células prostáticas. É um marcador prostático específico, mas não câncer específico, estando elevado principalmente nos casos de câncer ou infecção local e de forma menos freqüente nos casos de HBP mais avançada. (SROUGI, CURY, 2014) 2. Estudo urodinâmico O estudo urodinâmico é opcional, sendo indicado em situações especiais, sobretudo quando se tem dúvida quanto à causa dos sintomas ou se existe alguma repercussão do quadro obstrutivo sobre a bexiga. (SROUGI, CURY, 2014) A urofluxometria proporciona uma determinação objetiva da velocidade do fluxo urinário. Solicita-se ao paciente que urine com a bexiga relativamente cheia (no mínimo 150 mℓ) em um dispositivo que mede eletronicamente a força do jato e a velocidade do fluxo urinário. Uma velocidade do fluxo urinário superior a 15 mℓ/s é considerada normal, e inferior a 10 mℓ/s é indicativa de obstrução. (NORRIS, 2021) 3. Ultrassonografia do trato urinário O ultra-som do trato urinário permite uma avaliação do global do sistema, inclusive do tamanho prostático e do resíduo pós- miccional. Na HBP a parede da bexiga apresenta-se com uma hipertrofia muscular e trabeculação da mucosa (bexiga de esforço). (SROUGI, CURY, 2014) 4. Uretrocistoscopia A uretrocistoscopia é indicada em homens com histórico de hematúria, estenose, lesão uretral ou cirurgia anterior em trato urinário inferior. É utilizada para avaliar o comprimento e o diâmetro da uretra, o tamanho e a configuração da próstata, e a capacidade da bexiga. (NORRIS, 2021) Tratamento da HBP O impacto na qualidade de vida de cada paciente portador de HBP é muito variável e não pode ser medido com precisão. O ponto de vista do paciente, quanto ao grau de incômodo gerado por seus sintomas e ao impacto na sua qualidade de vida, determina a necessidade e a forma terapêutica. (SROUGI, CURY, 2014) Para definirmos se o tratamento é necessário ou não, podemos recorrer à questão sobre a qualidade de vida do IPSS, sendo que pacientes com escore de sintomas leve ou moderado e sem nenhum incômodo devem ser apenas acompanhados clinicamente. (SROUGI, CURY, 2014) Tratamento comportamental Alterações no estilo de vida são propostas com frequência para homens apresentando sintomas leves. Tais alterações podem incluir redução na ingestão de líquidos, especialmente antes de deitar; evitar ou reduzir a ingestão de bebidas com cafeína e álcool; evitar ou monitorar o uso de medicamentos como descongestionantes, anti-histamínicos, antidepressivos e diuréticos; treinar a bexiga para reter mais urina por períodos mais longos; exercitar os músculos do assoalho pélvico; e prevenir ou tratar a constipação intestinal (NORRIS, 2021) Tratamento medicamentoso O tratamento farmacológico inclui uso de medicamentos inibidores da 5-alfa-redutase e bloqueadores alfa1-adrenérgicos. (NORRIS, 2021) Os inibidores da 5-alfa-redutase, como a finasterida, reduzem o tamanho da próstata por bloquearem o efeito dos androgênios sobre o órgão. (NORRIS, 2021) A presença de receptores alfa-adrenérgicos nos músculos lisos prostáticos conduziu ao uso de medicamentos bloqueadores alfa1-adrenérgicos (p. ex., terazosina, doxazosina e tansulosina) para aliviar a obstrução prostática e aumentar o fluxo urinário. (NORRIS, 2021) A tadalafila pertence à classe de medicamentos inibidores da PDE5, os quais promovem o relaxamento do músculo liso local e, assim, podem reduzir os sintomas do trato urinário inferior. Diversos estudos, como o Medical Therapy of Prostatic Symptoms (MTOPS), demonstraram que a combinação de duas classes de medicamentos, em vez do uso isolado de uma delas, pode ser mais eficaz para melhorar os sintomas, o fluxo urinário e a qualidade de vida. (NORRIS, 2021) Tratamento cirúrgico Nos pacientes com sintomatologia severa ou com complicações da HBP (hidronefrose, sangramento persistente, litíase vesical), o tratamento cirúrgico continua sendo a melhor opção terapêutica. (NORRIS, 2021) A ressecção transuretral da próstata é o tratamento cirúrgico- padrão para HBP. (NORRIS, 2021) Naqueles indivíduos que apresentam próstata com mais de 80 ou 90 g, a cirurgia aberta é preferida pela grande maioria dos cirurgiões. Os resultados publicados sugerem que a cirurgia aberta é discretamente mais efetiva em termos de resultados tardios do que a cirurgia endoscópica, porém um pouco mais agressiva. (NORRIS, 2021) Câncer de Próstata Mais de 90% das neoplasias da próstata são representadas pelos adenocarcinomas e o restante compreende casos de sarcomas, carcinoma epidermóide e carcinoma de células transicionais. (SROUGI, CURY, 2014) Os adenocarcinomas localizam-se na zona periférica da glândula em cerca de 75% dos casos, na zona transicional em aproximadamente 25% dos pacientes e na zona central em menos de 5% dos casos. (SROUGI, CURY, 2014) Epidemiologia do CA de próstata O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre homens no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. Em ambos os sexos, em valores absolutos é considerado o segundo tipo de câncer mais comum, atrás do CA de pulmão. (SANARFLIX) O câncer da próstata constitui a neoplasia mais freqüente do homem, atingindo 1 em cada 6 homens (18,7%) que forem acompanhados até o fim da vida e matando 1 em cada 33 indivíduos acometidos pela doença. (SROUGI, CURY, 2014) A incidência do câncer da próstata varia geograficamente, com áreas de maior ou menor prevalência. O Canadá e os países escandivanos apresentam a maior incidência mundial da doença, ao passo que em países do Extremo Oriente a freqüência dos casos é de 6 a 25 vezes menor (SROUGI, CURY, 2014) Homens afro-americanos e caribenhos apresentam as maiores taxas de incidência de câncer de próstata relatadas, em todas as faixas etárias. Asiáticos e nativos americanos apresentam as menores taxas (NORRIS, 2021) O câncer da próstata apresenta duas características bem peculiares. Sua incidência aumenta com a idade, atingindo quase 50% dos indivíduos com 80 anos (provavelmente não poupará nenhum homem que viver até 100 anos) Além disso, o câncer da próstata é encontrado em um número elevado de indivíduos, sem lhes causar qualquer mal. Por exemplo, o estudo da próstata em necrópsias de homens com idade entre 60 e 70 anos que faleceram sem doença prostática aparente revela focos neoplásicos em 24% deles. Contudo, apenas 11% dos indivíduos dessa faixa etária apresentam, em vida, manifestações clínicas relacionadas com o câncer. Em outras palavras, 13% dos tumores nesse grupo têm caráter indolente, são assintomáticos e seus portadores morrem por outros motivos, ou seja, com o câncer mas não devido ao câncer. (SROUGI, CURY, 2014) Fatores de riscos do câncer de próstata Históriafamiliar Os indivíduos com antecedentes familiares de câncer da próstata têm maior chance de desenvolver a doença. Os riscos aumentam duas vezes quando um parente de 1o grau (pai ou irmão) é acometido pelo problema, três vezes quando dois parentes de 1o grau são portadores do tumor e cinco vezes quando três parentes de 1o grau têm a doença. Nos casos hereditários, esse câncer manifesta-se mais precocemente, muitas vezes antes dos 50 anos, como se recomenda habitualmente. (SROUGI, CURY, 2014) Entre as variantes relativamente comuns que conferem um aumento modesto do risco, destacam-se as variantes em regiões regulatórias que influenciam a expressão do MYC, um importante oncogene no câncer de próstata. Foram identificadas outras variantes raras, que estão associadas a um alto risco de doença agressiva de início precoce. Entre elas estão mutações que impedem a função de vários genes de reparo do DNA, como mutações de perda de função no BRCA2 (necessário para o reparo por recombinação homóloga) e em genes de reparo de mau pareamento do DNA (como parte da síndrome de Lynch). Foi também descrita uma variante no gene que codifica o fator de transcrição HOXB13, que desempenha um papel no desenvolvimento da próstata durante a embriogênese, cuja presença está associada a um aumento de várias vezes no risco. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Raça Indivíduos negros têm risco 80% maior de desenvolver câncer da próstata do que os brancos, ao passo que nos homens de raça amarela ou nos índios essa chance é 10 vezes menor. (SROUGI, CURY, 2014) Em negros, além da maior prevalência, o câncer manifesta-se de forma mais avançada, discutindo-se se esse fenômeno decorre de características intrínsecas mais agressivas da doença ou apenas de desigualdades sociais, por menor acesso desse grupo aos recursos de saúde pública, o que retarda o diagnóstico do câncer. (SROUGI, CURY, 2014) Dieta Foi sugerido que os padrões de dieta, incluindo o aumento do teor de gorduras alimentares originárias de carnes processadas e laticínios, podem alterar a produção de hormônios sexuais e fatores do crescimento, aumentando assim o risco de câncer de próstata. O papel das gorduras alimentares como fator de risco para o câncer de próstata é sustentado pela observação de que o teor de gorduras na dieta dos homens japoneses, entre os quais a taxa de câncer de próstata é baixa, é muito inferior àquele dos homens norte- americanos, entre os quais a incidência é muito maior. (NORRIS, 2021) Uma dieta rica em gordura animal pode ser um importante fator no desenvolvimento de câncer de próstata, em particular o ácido alfa-linolênico e baixas quantidades de ácido linoleico. Além disso, uma dieta pobre em legumes e tomate pode ser outro fator de risco. Já em relação ao café parece estar associado a um risco reduzido de câncer de próstata letal/metastático, principalmente naqueles que bebem seis ou mais xícaras por dia. (SANARFLIX) Idade Observa-se uma relação clara entre o aumento da idade e o aumento da incidência de câncer de próstata. Raramente o diagnóstico é feito antes dos 40 anos, mas a incidência aumenta rapidamente a partir dessa idade, atingindo pico entre 65 e 74 anos (SANARFLIX) Lesões precursoras As evidências a favor do desenvolvimento sequencial do câncer de próstata incluem a existência de uma suposta lesão precursora, a neoplasia intraepitelial prostática (NIP). O papel precursor da NIP, em pelo menos alguns casos de câncer de próstata, é respaldado por várias observações. Tanto a NIP quanto o câncer normalmente predominam na zona periférica e são relativamente incomuns em outras zonas, e as próstatas que contêm câncer apresentam maior frequência e maior extensão da NIP, que frequentemente é observada próxima ao câncer. De forma mais direta, muitas das alterações moleculares observadas em cânceres invasivos também estão presentes na NIP, sustentando fortemente o argumento de que a NIP é um precursor. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Classificação do CA de próstata Basicamente podemos dividir os cânceres de próstata em dois grupos: os de origem epitelial e os de os de origem estromal (não-epitelial). (SANARFLIX) Quanto aos de origem epitelial podemos falar em adenocarcinoma acinar e não-acinar. Entre os adenocarcinomas não acinares temos o adenocarcinoma ductal, o qual apresenta um pior prognóstico. (SANARFLIX) O tumor de próstata mais agressivo, no entanto, é o tumor de pequenas células. Tumores de bexiga podem também se alojar na próstata, porém são menos comuns. (SANARFLIX) O adenocarcinoma multifocal corresponde a 95% dos cânceres de próstata, enquanto os outros 5% correspondem a sarcomas, linfomas e carcinomas uroteliais. (SANARFLIX) O câncer de próstata é único entre os tumores sólidos, pois existe em duas formas: uma forma histológica ou clinicamente oculta que pode ser identificada em aproximadamente 30% dos homens com mais de 50 anos e em 60 a 70% daqueles com mais de 80 anos e uma forma clinicamente evidente que afeta cerca de 1 em cada 6 homens norte- americanos. Acredita-se que o câncer de próstata latente tenha uma prevalência semelhante em todo o mundo. A relação molecular exata entre os cânceres latentes e clínicos não é conhecida. Assim, é provável que a progressão dos primeiros sintomas para os segundos seja contínua com sobreposição dos eventos moleculares associados. Mutações, regulação negativa da expressão gênica por metilação e por outros mecanismos e modificação de proteínas parecem estar envolvidas na progressão do câncer de próstata. Os andrógenos têm atuação importante na carcinogênese da próstata. (SANARFLIX) Etiopatogenia do CA de próstata A causa exata de câncer de próstata não está clara. Assim como outros tipos de câncer, aparentemente o desenvolvimento do câncer de próstata é um processo que ocorre em diversas etapas, com envolvimento de genes que controlam a diferenciação e o crescimento celular. (NORRIS, 2021) Em termos da influência hormonal, acredita-se que os androgênios desempenhem um papel na patogênese do câncer de próstata. As evidências que favorecem uma influência hormonal incluem a presença de receptores esteroides na próstata, a necessidade de hormônios sexuais para o crescimento e o desenvolvimento prostáticos normais, e o fato de o câncer de próstata quase nunca se desenvolver em homens castrados.36 A resposta do câncer de próstata à administração de estrogênio ou à privação de androgênio sustenta ainda mais a existência de uma correlação entre a doença e os níveis de testosterona. (NORRIS, 2021) A alteração genética mais comum na próstata consiste em um rearranjo cromossômico que se justapõe à sequência de codificação de um gene do fator de transcrição da família ETS (mais comumente ERG ou ETV1), próximo ao promotor TMPRSS2 regulado por androgênios. Esses rearranjos, que ocorrem em cerca da metade dos cânceres de próstata, colocam o oncogene ETS envolvido sob o controle do promotor TMPRSS2 regulado por androgênio e levam à sua superexpressão de maneira dependente de androgênios. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) O silenciamento do gene que codifica p27, um inibidor de quinases dependentes de ciclina, constitui outro evento comum. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) O sequenciamento do DNA demonstrou muitos outros rearranjos genômicos recorrentes, sobretudo deleções e amplificações, que envolvem outros genes de câncer no carcinoma de próstata. Entre eles estão a amplificação do MYC e a deleção do PTEN, que aceleram o crescimento celular e que podem contribuir para a resistência à terapia com antiandrogênios. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Na doença em estágio avançado, a perda do TP53 (por deleção ou mutação) e as deleções de RB são comuns, assim como amplificações do gene AR. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Os eventos epigenéticos quemodificam a expressão gênica também são comuns no câncer de próstata. Pesquisas realizadas como parte do projeto The Cancer Genome Atlas identificaram vários subgrupos distintos de cânceres de próstata, que são definidos por diferenças na metilação do DNA. Um evento precoce particularmente frequente é o silenciamento epigenético por metilação do DNA do gene GSTP1, que infrarregula a expressão do GSTP1, aumentando possivelmente os efeitos genotóxicos de carcinógenos ambientais. (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Outros genes silenciados por modificações epigenéticas em um subgrupo de cânceres de próstata incluem genes envolvidos na regulação do ciclo celular (RB, CDKN2A), na manutenção da instabilidade genômica (MLH1, MSH2) e na sinalização Wnt (APC). As alterações genéticas e epigenéticas relevantes e cumulativas durante o desenvolvimento e a progressão do câncer de próstata (KUMAR, ABBAS, ASTER, 2023) Manifestações Clínicas do CA de próstata No passado, a maioria dos pacientes com câncer da próstata apresentava-se com neoplasia disseminada, mas, em decorrência dos programas de detecção precoce, esse fenômeno se modificou. Atualmente, 64% dos novos casos evidenciam neoplasia localizada, 13% têm doença regional e apenas 20% dos pacientes apresentam-se com tumor metastático. (NORRIS, 2021) Nos pacientes com tumor confinado à próstata, a doença costuma ser assintomática. Por outro lado, mais de 90% dos pacientes com adenocarcinoma da próstata localmente avançado apresentam manifestações de obstrução infravesical. (NORRIS, 2021) O aparecimento súbito de dificuldade urinária em um paciente com padrão miccional satisfatório é manifestação comum em câncer da próstata. Em casos de hiperplasia benigna, os sintomas obstrutivos urinários tendem a evoluir de forma lenta. (NORRIS, 2021) Menos comumente, pacientes com câncer da próstata podem apresentar dores ósseas, uremia, anemia, perda de peso, adenopatia cervical ou inguinal, linfedema ou trombose venosa de membros inferiores e hemospermia, como primeira manifestação da doença. (NORRIS, 2021) A maioria dos homens com câncer de próstata em estágio inicial é assintomática. A presença de sintomas costuma sugerir doença localmente avançada ou metastática. Dependendo do tamanho e da localização do câncer de próstata no momento do diagnóstico, pode haver alterações associadas ao padrão de micção semelhantes àquelas observadas na HPB. Estas incluem urgência na micção, alterações na frequência da micção, noctúria, hesitação, disúria, hematúria ou presença de sangue no ejaculado. (NORRIS, 2021) A metástase óssea frequentemente é caracterizada por dor na parte inferior das costas, podendo haver fraturas patológicas no sítio de metástases. Os homens com doença metastática podem apresentar perda de peso, anemia ou falta de ar. (NORRIS, 2021) Rastreamento do CA de próstata Sob o ponto de vista prático, o rastreamento do câncer da próstata deve ser feito por meio de avaliações anuais. Essa sistemática deve se iniciar aos 50 anos, devendo, contudo, ser antecipada para 40 anos nos pacientes de maior risco, incluindo-se aqui história familiar da doença em parentes de 1o grau e indivíduos da raça negra. (SROUGI, CURY, 2014) Toque prostático O toque digital tem sensibilidade diagnóstica que varia de 40 a 80%, dependendo do tipo de paciente que está sendo avaliado. Nos casos iniciais e que, provavelmente, têm tumor de pequeno volume, são comuns os resultados falso-negativos. (SROUGI, CURY, 2014) Ao exame de toque retal, a próstata pode exibir aspecto nodular e fixo. (NORRIS, 2021) PSA As dosagens do PSA têm sensibilidade que varia entre 70 e 90%, um pouco maiores do que as do toque digital. Sob o ponto de vista prático, níveis séricos de PSA inferiores a 2,5 ng/ml em pacientes com toque prostático normal são acompanhados de riscos desprezíveis de presença de câncer na próstata. Por outro lado, se os níveis de PSA situarem-se entre 2,5 ng/ml e 10 ng/ml, a chance de existir neoplasia prostática varia de 23 a 40%. (SROUGI, CURY, 2014) O PSA trouxe uma possibilidade da detecção laboratorial precoce e tem grande especificidade (94%) quando apresenta valores acima de 4 ng/ ml, porém baixa sensibilidade e muitos exames falso-negativos (SANARFLIX) O teste de PSA pode identificar o câncer de próstata localizado. Porém existem limitações que dificultam a sua utilização como marcador desse câncer. Suas principais limitações são: (SANARFLIX) 1. O PSA ser tecido-específico, mas não tumor-específico; assim, condições como aumento benigno da próstata, prostatite e infecções do trato urinário inferior podem elevar o nível de PSA. Cerca de 2/3 dos homens com PSA elevado NÃO apresentam câncer de próstata detectado em biópsia. 2. Até 20% de todos os homens com câncer de próstata clinicamente significativo têm PSA normal; 3. O valor preditivo positivo desse teste está em torno de 33%, o que significa que 67% dos homens com PSA positivo serão submetidos desnecessariamente à biópsia para confirmação do diagnóstico; 4. O teste de PSA leva à identificação de cânceres de próstata que não teriam se tornado clinicamente evidentes durante a vida do paciente. O teste de PSA não vai, por si só, distinguir entre tumores agressivos que estejam em fase inicial (e que se desenvolverão rapidamente) e aqueles que não são agressivos. Relação PSA livre/total Tem sido útil na diferenciação entre câncer de próstata e hiperplasia prostática benigna. Caso está relação esteja acima de 25%, o risco de câncer na biópsia é de apenas 8%, porém se a relação estiver abaixo de 10% o risco poderá chegar em até 56%, especialmente em homens com PSA entre 4 e 10 ng/ml. (SANARFLIX) Ultrassonografia transretal A realização rotineira de ultra-sonografia transretal (USTR) para rastrear câncer da próstata tem alguns inconvenientes. O método é invasivo, seus custos não são desprezíveis e resultados falso-positivos e falso-negativos são ob-servados em 50 e 30% dos casos, respectivamente. Dessa forma, a USTR não cos-tuma ser empregada sistematicamente nessa situação, sendo, contudo, indicada quando o toque digital ou as dosagens de PSA vêm acompanhados de resultados incoerentes ou duvidosos. (SANARFLIX) Diagnóstico do CA de próstata O diagnóstico do câncer de próstata é baseado no histórico e no exame físico, sendo confirmado por meio de métodos de biopsia. A ultrassonografia transretal é utilizada para guiar a agulha de biopsia e documentar a localização exata do tecido da amostra. Também é utilizada para fornecer informações a respeito do estadiamento. Pequenas sondas recentemente desenvolvidas para RM transretal mostraram-se eficazes para detectar a presença do câncer de próstata. (NORRIS, 2021) O diagnóstico de câncer de próstata definitivo requer um diagnóstico tecidual. Para partir para a biópsia, os resultados dos testes de PSA e/ou de toque retal devem estar alterados. Deve-se realizar a biópsia, após uma decisão compartilhada, se: (SANARFLIX) 1. Expectativa de vida é de, pelo menos, 10 anos (alguns atribuem uma expectativa de vida para biópsia de, pelo menos, 5 anos) 2. O PSA está elevado acima da faixa normal da faixa etária do paciente ou o PSA aumentou mais de 0,75 ng/ ml ao longo de um ano ou anormalidade palpável em exame de toque. Estadiamento do CA de próstata Fosfatase ácida Os níveis séricos de fosfatase ácida costumam ser normais quando o câncer está confinado à glândula, mas apresentam- se elevados em 30% dos casos com extensão periprostática do tumor e em 70% dos pacientes com câncer metastático (SROUGI, CURY, 2014) PSA Os níveis de PSA no sangue são proporcionais à extensão da doença e níveis acima de 50-60 ng/ml indicam doença extraprostática. (SROUGI, CURY, 2014) Cintilografia óssea O mapeamento ósseo com fosfatode tecnécio constitui forma relativamente precisa de se identificar metástases ósseas em câncer da próstata. As lesões surgem, geralmente, sob forma de áreas hipercaptantes múltiplas, assimétricas, acometendo principalmente coluna, pelve, costelas, escápula, crânio e fêmur. Esse exame apresenta-se alterado em cerca de 70% dos casos com metástases ósseas. Por outro lado, resultados falso-positivos são observados em até 30% dos estudos e devem-se principalmente à presença de processos degenerativos articulares benignos, fraturas antigas, doenças ósseas metabólicas ou doença óssea de Paget. Nas lesões de natureza duvidosa, deve-se avaliar o local alterado com estudo por ressonância magnética, que define precisamente a natureza do quadro. (SROUGI, CURY, 2014) É indicada em todo paciente portador de câncer da próstata com PSA > 20ng/ml e PSA entre 10-20 com graduação histológica de Gleason > 7; Os mesmos parâmetros devem ser utilizados para a pesquisa de metástases linfonodais utilizando-se métodos de imagem pélvica como o ultrassom, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética. (SANARFLIX) Ressonância magnética Esse estudo serve para estagiar localmente a doença, mas pode falhar em 20 a 30% dos casos. Por isso, seus resultados devem ser confrontados com os outros dados disponíveis, para serem corretamente valorizados. (SANARFLIX) Biópsia/ grau histológico É a partir desse grau que se determina o escore de Gleason. Baseia-se nas características arquitetônicas e de diferenciação das células do câncer, comparando às células prostáticas normais. O objetivo dessa classificação é informar sobre a provável taxa de crescimento e tendência a disseminação. Um grau histológico mais alto fala mais a favor de uma doença não confinada ao órgão. A biópsia obtida da doença extraprostática não vai receber essa classificação histológica. O grau histológico varia de 1 a 5, com o grau 1 sendo a forma menos agressiva. (SANARFLIX) • Grau 1 - As células são, geralmente, uniformes e pequenas e formam glândulas regulares, com pouca variação de tamanho e forma, com bordos bem definidos, densamente agrupadas, distribuídas homogeneamente e com muito pouco estroma em si. • Grau 2 - As células variam mais em tamanho e forma e as glândulas, ainda uniformes, mostram-se frouxamente agrupadas e com bordos irregulares. • Grau 3 - As células variam ainda mais em tamanho e forma, constituindo glândulas muito pequenas, uniformes, anguladas ou alongadas, individualizadas e anarquicamente espalhadas pelo estroma. Podem formar também massas fusiformes ou papilíferas, com bordas lisas • Grau 4 - Muitas das células estão fusionadas em grandes massas amorfas ou formando glândulas irregulares, que são distribuídas anarquicamente, exibindo infiltração irregular e invadindo tecidos adjacentes. As glândulas podem apresentar, ainda, células pálidas e grandes, com padrão hipernefroide. • Grau 5 - Tumor anaplásico. A maioria das células estão agrupadas em grandes massas que invadem os órgãos e tecidos vizinhos. As massas de células podem exibir necrose central. Muitas vezes, a diferenciação glandular pode não existir: padrão de crescimento infiltrativos do tipo células soltas O escore de Gleason varia de 2 a 10, sendo que o patologista determina de 1 a 5 o grau histológico das duas áreas mais frequentes do tumor e soma os resultados. Quanto mais baixo o escore melhor será o prognóstico. (SANARFLIX) • Gleason de 2 a 4- existe cerca de 25% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. • Gleason de 5 a 7- existe cerca de 50% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. • Gleason de 8 a 10- existe cerca de 75% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Tratamento do CA de próstata O câncer de próstata é tratado com cirurgia, radioterapia e manipulações hormonais. A quimioterapia apresentou eficácia limitada no tratamento da afecção. Para algumas pessoas, o ultrassom com foco de alta intensidade é utilizado com sucesso. As decisões sobre o tratamento são baseadas no grau e no estágio do tumor, bem como na idade e no estado de saúde do paciente. (NORRIS, 2021) Vigilância ativa A terapia expectante (espera com acompanhamento) pode ser utilizada quando o tumor não está produzindo sintomas, apresenta expectativa de crescimento lento, é pequeno e está restrito a uma área da próstata. Essa abordagem é particularmente adequada para homens idosos ou que apresentam outros problemas de saúde. (NORRIS, 2021) A vigilância ativa visa evitar tratamento desnecessário em homens com câncer de próstata clinicamente localizado que não necessitam de tratamento imediato, mas, ao mesmo tempo, atingem o momento correto para o tratamento curativo naqueles que eventualmente o fazem. Os pacientes permanecem sob vigilância rigorosa por meio de programas de vigilância estruturados com acompanhamento regular. O PSA deve ser acompanhando a cada 6 meses, o toque retal a cada 12 meses e RM e biópsias a cada 2 a 5 anos (SANARFLIX) Prostatectomia radical O objetivo dessa intervenção é a erradicação do câncer e, sempre que possível, preservar a função dos órgãos pélvicos. (SANARFLIX) A prostatectomia radical envolve a remoção completa das vesículas seminais, da próstata e da ampola do ducto deferente. Refinamentos na técnica cirúrgica (prostatectomia “poupadora de nervos”) possibilitaram a manutenção da continência na maior parte dos homens e, em casos selecionados, a função erétil. (NORRIS, 2021) A prostatectomia pode ser realizada por abordagens abertas, laparoscópicas ou assistidas por robôs (RARP). Caso a linfadenectomia seja necessária durante a PR perineal, ela deve ser feita por meio de uma abordagem retropúbica aberta separada (RRP) ou laparoscópica. Durante a prostatectomia, a preservação dos feixes vasculonervosos com ramos nervosos parassimpáticos do plexo pélvico pode poupar a função erétil. (SANARFLIX) Radioterapia A radioterapia pode ser administrada por meio de diversas técnicas, incluindo radioterapia com feixe externo e implante transperineal de radioisótopos (braquiterapia). (NORRIS, 2021) A radioterapia com intensidade modulada (IMRT), com ou sem radioterapia guiada por imagem (IGRT) é o padrão ouro de terapia de radiação com feixes externos (EBRT). A radioterapia por feixe externo com arco volumétrico (VMAT) possui como vantagem acima do IMRT o menor tempo de tratamento, geralmente de 2 a 3 minutos. A radioterapia quando combinada com a terapia de privação androgênica mostrou uma superioridade quando comparada com a RT isolada. (SANARFLIX) Para riscos intermediários é ideal uma curta duração de cerca de 6 meses, enquanto uma longa de cerca de 3 anos é necessária para pacientes de alto risco. (SANARFLIX) A braquiterapia de baixa dose é uma radioterapia que utiliza sementes radioativas permanentemente implantadas na próstata e as doses de radiação são administradas durante semanas e meses. Há também a braquiterapia de alta dose, em que são introduzidas temporariamente na próstata e são administradas doses de radiações em minutos. A braquiterapia pode ser realizada em monoterapia em pacientes de baixo e médio risco de forma isolada (SANARFLIX) Terapia hormonal A privação androgênica pode ser alcançada suprimindo a secreção de andrógenos testiculares ou inibindo a ação de andrógenos circulantes no nível dos seus receptores. Assim diferentes tipos de terapias hormonais são possíveis, dentre elas, a castração por terapia com testosterona, terapia com estrogênios, agonistas ou antagonistas do hormônio liberador de hormônio luteinizante, orquiectomiabilateral. (SANARFLIX) Crioterapia A crioterapia é uma intervenção que utiliza técnicas de congelamento para induzir a morte celular por desidratação, resultando em desnaturação proteica, ruptura direta da membrana celulares por cristais de gelo e estase vascular e microtrombos, resultando em estagnação da microcirculação com apoptose isquêmica consecutiva. É garantida a partir da introdução de agulhas criogênicas com colocação de termossensores no nível do esfíncter externo e da parede retal e inserção de um aquecedor uretral. Uma temperatura de -40°C na glândula e no feixe vasculonervoso. (SANARFLIX) Referências: TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia.: Grupo GEN, 2016. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia . Grupo GEN, 2021. SROUGI, Miguel; CURY, José. Urologia básica: curso de clínica médica. Editora Manole, 2014.