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0
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTAD O 
DO RIO GRANDE DO SUL 
 
 
 
 
 
 
DENISE SOUTO ANDRIGHETTO 
 
 
 
 
 
 
 
AS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO 
AO CONSELHO TUTELAR NO MUNICIPIO DE IJUÍ-RS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ijuí (RS) 
2012 
 
 
 
1
 
 
DENISE SOUTO ANDRIGHETTO 
 
 
 
 
 
 
 
AS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO 
AO CONSELHO TUTELAR NO MUNICIPIO DE IJUÍ-RS 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso 
de Serviço Social, Departamento de Ciências Jurídicas e 
Sociais (DCJS) da Universidade Regional do Noroeste 
do Rio Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para 
aprovação no componente curricular Trabalho de 
Conclusão de Curso II. 
 
 
 
 
Orientadora: Drª. Lislei Teresinha Preuss 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ijuí (RS) 
 2012 
 
 
 
 
2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço... 
 
 
... a todas as pessoas que me apoiaram e 
compartilharam comigo esta caminhada de 
conquistas, alegrias, angústias e realizações. 
 
Muito obrigado a todos! 
 
 
 
 
 
 
 
3
ons filhos conhecem o prefácio da história de seus pais. Filhos brilhantes 
vão muito mais longe, conhecem os capítulos mais importantes das suas 
vidas. 
 
Bons jovens se preparam para o sucesso. Jovens brilhantes se preparam para as 
derrotas. Eles sabem que a vida é um contrato de risco e que não há caminhos 
sem acidentes. 
 
Bons jovens têm sonhos ou disciplina. Jovens brilhantes têm sonhos e 
disciplina. Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas, que nunca 
transformam seus sonhos em realidade, e disciplina sem sonhos produz servos, 
pessoas que executam ordens, que fazem tudo automaticamente e sem pensar. 
 
Bons alunos escondem certas intenções, mas alunos fascinantes são 
transparentes. Eles sabem que quem não é fiel à sua consciência tem uma 
dívida impagável consigo mesmo. Não querem, como alguns políticos, o 
sucesso a qualquer preço. Só querem o sucesso conquistado com suor, 
inteligência e transparência. Pois sabem que é melhor a verdade que dói do que 
a mentira que produz falso alívio. A grandeza de um ser humano não está no 
quanto ele sabe, mas no quanto ele tem consciência que não sabe. 
 
O destino não é frequentemente inevitável, mas uma questão de escolha. Quem 
faz escolha, escreve sua própria história, constrói seus próprios caminhos. 
 
Os sonhos não determinam o lugar onde vocês vão chegar, mas produzem a 
força necessária para tirá-los do lugar em que vocês estão. Sonhem com as 
estrelas para que vocês possam pisar pelo menos na Lua. Sonhem com a Lua 
para que vocês possam pisar pelo menos nos altos montes. Sonhem com os 
altos montes para que vocês possam ter dignidade quando atravessarem os 
vales das perdas e das frustrações. Bons alunos aprendem a matemática 
numérica, alunos fascinantes vão além, aprendem a matemática da emoção, 
que não tem conta exata e que rompe a regra da lógica. Nessa matemática você 
só aprende a multiplicar quando aprende a dividir, só consegue ganhar quando 
aprende a perder, só consegue receber, quando aprende a se doar. 
 
Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia vai além, 
aprende com os erros dos outros, pois é uma grande observadora. 
 
Procurem um grande amor na vida e cultivem-no. Pois, sem amor a vida se 
torna um rio sem nascente, um mar sem ondas, uma história sem aventura! 
Mas, nunca esqueçam, em primeiro lugar tenham um caso de amor consigo 
mesmos. 
 
Augusto Cury 
 
 
B
 
 
 
4
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Este trabalho de conclusão do curso em Serviço Social tem como tema “As possibilidades de 
inserção do Serviço Social junto ao Conselho Tutelar no município de Ijuí-RS”. Além da 
troca de experiências e obter mais conhecimento o estudo visa a contribuir para a 
compreensão do Serviço Social, bem como sobre a possibilidade de sua inserção junto ao 
Conselho Tutelar. A pesquisa é qualitativa, sendo exploratória e descritiva. Tem como 
objetivos identificar o entendimento dos Conselheiros Tutelares acerca do papel do assistente 
social no Conselho Tutelar; conhecer a realidade da instituição e as possibilidades de inserção 
do Serviço Social junto à instituição. A coleta de dados foi realizada através de metodologia 
de grupo focal que permitiu maior interação entre pesquisadora e pesquisados. Esta técnica de 
pesquisa consistiu em utilizar sessão grupal de discussão, centralizando um tópico específico 
a ser debatido entre os participantes. Como sujeitos de estudo têm-se os cinco membros do 
Conselho Tutelar, eleitos na última eleição, ou seja, mandato de dezembro de 2010/2013. Para 
a realização do grupo focal utilizou-se um roteiro com questões seguidas de discussões que 
possibilitaram respostas com uma abordagem mais ampla dos resultados. O conhecimento 
obtido resultou na comprovação da importância da inserção do profissional Assistente Social 
atuar junto à instituição, dando suporte aos conselheiros na forma de assessoria e orientação 
socioeducativa, priorizando o acesso às políticas sociais e aos direitos garantidos e previstos 
no Estatuto da Criança e do Adolescente. Os participantes revelaram como se desenvolve o 
processo de trabalho do conselheiro tutelar, suas carências e necessidades. Quanto ao Serviço 
Social destacou-se sua importância e as contribuições que o mesmo pode agregar no 
andamento do trabalho que por eles é desenvolvido. Valorizam a presença do profissional 
assistente social neste meio devido às demandas relacionadas à família, crianças e 
adolescentes, sendo pertinente a inserção do Assistente Social pelas suas atribuições junto à 
instituição. 
 
Palavras-chave: Estatuto da Criança e do Adolescente. Conselho Tutelar. Serviço Social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 
 
CAPÍTULO 1 – O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .......................... 8 
1.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS AO ESTATUTO DA CRIANÇA E 
ADOLESCENTE ....................................................................................................................... 8 
1.2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) ...................................... 16 
 
CAPÍTULO 2 – O CONSELHO TUTELAR ....................................................................... 24 
2.1 O ECA E O CONSELHO TUTELAR ............................................................................... 24 
2.2 O CONSELHO TUTELAR EM IJUÍ ................................................................................. 31 
2.2.1 Processo de escolha dos Conselheiros .......................................................................... 33 
2.2.2 Atribuições do Conselheiro Tutelar ............................................................................. 36 
 
CAPÍTULO 3 – AS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DO ASSISTENTE 
SOCIAL JUNTO AO CONSELHO TUTELAR DO MUNICÍPIO DE IJ UÍ-RS ............. 38 
3.1 OPÇÕES METODOLÓGICAS ......................................................................................... 38 
3.2 A COLETA DE DADOS: A EXPERIÊNCIA DO GRUPO FOCAL ................................ 41 
3.3 AS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO AO 
CONSELHO TUTELAR DO MUNICIPIO DE IJUÍ .............................................................. 47 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 49 
 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52 
 
ANEXOS ................................................................................................................................. 54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Este trabalhode conclusão de curso tem como tema “As possibilidades de inserção do 
Serviço Social junto ao Conselho Tutelar do Município de Ijuí-RS”, e foi realizado junto ao 
Conselho Tutelar, localizado na Rua 7 de Setembro, nº 197, centro, no município de Ijuí-RS. 
Além da troca de experiências o estudo busca contribuir para compreender a atuação do 
Serviço Social, bem como visa ampliar os conhecimentos sobre a possibilidade de inserção do 
Serviço Social junto ao Conselho Tutelar. 
O estudo tem como objetivos específicos identificar o entendimento dos Conselheiros 
Tutelares acerca do papel do Assistente Social no Conselho Tutelar; conhecer a rotina do 
trabalho dos Conselheiros Tutelares; e destacar a importância do Serviço Social neste espaço 
socioinstitucional. 
A história revela que desde o início da Humanidade a sociedade vem sofrendo 
constantes modificações, e percebe-se cada vez mais novos arranjos familiares. Muitas vezes, 
crianças e adolescentes são relegados a um plano inferior e passam a ter direitos pelos quais 
atualmente estão amparados. Neste contexto pretende-se resgatar alguns antecedentes 
históricos ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como descrever o seu 
surgimento e instalação como instrumento de promoção dos direitos da criança e do 
adolescente. A temática aborda o Conselho Tutelar como uma ferramenta necessária ao 
atendimento digno dos direitos de todas as crianças e adolescentes, independente da situação 
em que se encontrem. 
É imprescindível, portanto, que o profissional do Serviço Social conheça a realidade 
em que crianças e adolescentes estão inseridas, e que seja capacitado para lidar com as 
refrações da questão social apresentadas nesse espaço. Considerando que os usuários do 
Conselho Tutelar se manifestam na forma de queixas e/ou denúncias de qualquer fato que 
 
 
7
viole ou represente uma ameaça de violação aos direitos de crianças e adolescentes, percebe-
se a necessidade de conhecer sua forma de atuação, bem como seu entendimento sobre o 
Serviço Social. 
Pretende-se com esta investigação obter subsídios para a área do Serviço Social, 
proporcionando a inserção do assistente social em novos espaços, bem como destacar a 
importância da atuação do profissional nas mais diversas áreas. Neste sentido, as atividades 
que podem ser desenvolvidas pelo assistente social constituem-se, por exemplo, em prestar 
assessoria e consultoria à população atendida, realizar estudo socioeconômico, vistorias, 
perícias técnicas e laudos, triagens, orientação socioeducativa aos cidadãos de diferentes 
segmentos sociais sobre direitos, benefícios, serviços e programas sociais disponíveis, 
democratizando o acesso a estes programas e encaminhamentos, na perspectiva de viabilizar a 
garantia dos direitos. 
É importante salientar o fato de que no momento em que o usuário procura 
atendimento junto à instituição, os seus encaminhamentos terão que se desenvolver de forma 
que possam garantir a sua totalidade e integralidade no que diz respeito ao acesso e 
efetividade de direitos. 
A pesquisa é qualitativa, permitindo à pesquisadora inteirar-se da realidade, 
observando detalhadamente os comportamentos, bem como promover interações entre os 
participantes. A coleta de dados para a realização da pesquisa deu-se através de grupo focal 
direcionada aos cinco membros do Conselho Tutelar. Optou-se por tal técnica pelo fato de 
proporcionar maior interação entre os participantes e o pesquisador. 
Este trabalho de conclusão de curso está estruturado em três capítulos. No primeiro 
faz-se um estudo a respeito do ECA, seus antecedentes históricos e sua aplicação no contexto 
atual. O segundo capítulo busca contextualizar o Conselho Tutelar a partir do ECA. 
Enfatizam-se as atribuições, o processo de escolha e a atuação dos Conselheiros Tutelares. O 
terceiro capítulo traz o percurso metodológico utilizado para desenvolver a pesquisa de campo 
e, na sequência, constam os resultados e a análise dos dados obtidos com a pesquisa. Seguem 
as considerações finais, as referências que fundamentaram teoricamente o estudo, e os anexos, 
os quais ilustram e complementam o trabalho. 
 
 
 
 
 
 
8
CAPÍTULO 1 – O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
Neste capítulo pretende-se resgatar alguns antecedentes históricos ao Estatuto da 
Criança e do Adolescente, bem como descrever o seu surgimento e instalação como 
instrumento de promoção dos direitos da criança e do adolescente. 
 
1.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS AO ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE 
 
Abordar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) requer uma revisão 
bibliográfica acerca dos antecedentes históricos desta legislação. Para tanto, neste capítulo, se 
busca contextualizar alguns dos marcos legais no tratamento dispensado às crianças e 
adolescentes no Brasil ao longo da história. O tímido surgimento das primeiras leis foi sendo 
firmada gradativamente, a questão da infância obteve diversos momentos de discussões e foi 
se estruturando de acordo com os interesses em jogo. 
A história social e cultural, no que se refere à atenção às crianças e adolescentes no 
país, mostra um passado de humilhação e precariedade. Nos meados do Período Colonial, não 
existiam medidas de proteção às crianças. Entre 1500 até 1822, o Brasil se estruturou 
econômica e politicamente por meio do vínculo com a metrópole portuguesa. As leis e as 
ordens para as crianças vinham da metrópole e eram aplicadas por intermédio da burocracia, 
dos representantes da corte e da Igreja Católica. A Igreja e o Estado uniam-se no processo de 
manutenção do poder, articulando a conquista armada com a legitimação religiosa. O cuidado 
com as crianças índias pelos padres jesuítas tinha por objetivo batizá-las e incorporá-las ao 
trabalho. Nas casas de recolhimento, as crianças eram separadas de sua comunidade e 
introduzidas na visão cristã com o objetivo de inserir costumes e normas (PEREIRA, 1998). 
A história revela que a primeira instituição do Brasil encarregada da assistência às 
crianças foi a Igreja Católica, sendo o atendimento destinado a órfãos e abandonados e depois 
para aqueles que eram considerados os pervertidos. Desde o Período Colonial e boa parte do 
Período Imperial, as iniciativas de atendimento a crianças e adolescentes partiram desta 
instituição. O atendimento era predominantemente filantrópico e caritativo, visando apenas 
suprir as necessidades básicas. Em relação ao ensino, este era baseando em apreender 
atividades domésticas e simples, com autoridade e obediência, preparando as crianças para os 
serviços domésticos (VERONESE, 1999). 
 
 
9
Em 1738 foi introduzida no Brasil a Roda dos Expostos, que consistia num mecanismo 
utilizado para abandonar crianças recém-nascidas. A Roda dos Expostos foi implantada 
primeiramente em Salvador, depois no Rio de Janeiro e em São Paulo. As crianças ali 
abandonadas ficavam aos cuidados de instituições de caridade, deixando o expositor no 
anonimato. A Roda dos Expostos apresentou-se, naquela época, apenas como uma medida 
paliativa tendo em vista a complexidade da realidade e sua ineficácia. 
Na Constituinte de 1823, José Bonifácio apresentou um projeto que visava o menor 
escravo. Sua pretensão era zelar por aquele que se constituiria, em breve, força de trabalho, 
em que a escrava depois do parto teria um mês de convalescência, e durante o ano que se 
seguisse não trabalharia longe da cria. Este trabalho foi desconsiderado por D. Pedro I ao 
outorgar a Carta Política de 1824. 
Neste período escravocrata as crianças tinham o mesmo tratamento de escravos 
adultos. Havia grande mortalidade de crianças escravas. As mães eram alugadas como amas-
de-leite. Na prática social e política separavam-se os filhos de suas próprias mães. Em 1871 
foi promulgada a Lei n. 2.040, chamada Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco, a qual tinha 
por objetivo a extinção da escravidão infantil. Sendoassim, a partir desta Lei, as crianças 
nascidas de mães escravas eram consideradas livres. 
Conforme Veronese (1997, p. 10), 
 
Com a decretação, em 1871, da Lei do Ventre Livre, fruto da campanha 
abolicionista, os senhores de escravos delineavam dois caminhos: ou recebiam 
do Estado uma indenização, deixando no abandono as crianças libertas cujos 
pais permaneciam no cativeiro, ou as sustentariam e, em seguida, cobrariam tal 
generosidade através de trabalhos forçados até que completassem 21 anos. 
 
Esta Lei era complexa e restritiva, constituindo outro modo de escravidão, não 
gerando grandes mudanças no contexto social do período. Na maioria dos casos, o senhor 
preferia ficar com a criança negra. A Lei também não determinava o número de horas de 
trabalho, desta forma continuava numa condição de servidão, sem condições básicas de 
higiene, alimentação e educação. 
Neste mesmo período foi criado o asilo de meninos desvalidos. As meninas desvalidas 
indigentes eram acolhidas na Santa Casa. Os asilos se expandiram, por iniciativa privada e 
com subsídio público, já que as relações entre igreja e Estado foram rompidas. A questão da 
criança e do adolescente passou a ser considerada uma questão de higiene pública e de ordem 
social para se consolidar o projeto de nação forte, saudável, ordeira e progressista. O Estado 
 
 
10
deveria ocupar-se da ordem, da vida sem vícios – por exemplo, no combate aos “monstros da 
tuberculose, da sífilis e da varíola” (FALEIROS, 2006). 
Com a transição do Império para a República, o Brasil passou por uma série de 
mudanças socioeconômicas e políticas. Com a abolição da escravatura em 1888 e com a 
Proclamação da Republica, em 1889, se evidenciaram o número de crianças enjeitadas 
crescendo de forma descontrolada e acentuando o abandono das crianças pelas ruas ou nas 
portas das casas. Frente a tal situação tornou-se necessária a proteção e assistência à criança 
carente e também uma das preocupações da sociedade e das autoridades – com o fim de 
recolher estas crianças e como objetivo de esconder da sociedade um problema social 
relacionado a infância. Neste contexto social e político, à questão da ordem se aliou a questão 
da higiene. No final do século 19 vários médicos preocupavam-se com a mortalidade infantil, 
com a amamentação, com a inspeção escolar, com a creche como forma de substituir a Roda 
dos Expostos (RIZZINI; PILOTTI, 2011, p. 220). 
Em consequência do processo de industrialização, neste mesmo período histórico, 
crianças oriundas de famílias operárias ingressavam precocemente nas fábricas. Permitia-se, 
desse modo, não apenas jovens, mas crianças de cinco anos de idade, as quais eram inseridas 
em um ambiente de trabalho numa suposta preparação da mão de obra para garantir a 
aprendizagem que as escolas profissionais não podiam oferecer. Esta situação ocorria em 
diversos setores industriais, mesmo naqueles cujas tarefas desenvolvidas eram inadequadas à 
idade das crianças. As crianças trabalhavam tanto no período diurno quanto noturno 
(VERONESE, 1999). 
 
Esse fato, desaprovado pela opinião publica, fica objeto de regulamento do Serviço 
Sanitário, que proibia o emprego de menores de doze anos e o trabalho noturno para 
menores de dezoito, de ambos os sexos, estipulando, ainda, que só fossem ocupados 
em trabalhos leves, nunca por mais de cinco horas diárias, as crianças de doze a 
quinze anos. (VERONESE, 1999, p. 21). 
 
O advento da República trouxe novas demandas na área da infância e da juventude e 
uma nova concepção para o seu tratamento. Não bastava assistir uma criança, não era apenas 
dar-lhe casa, comida, mas era também de extrema importância que as instituições formassem 
cidadãos com alguma qualificação profissional, o que lhe garantiria o sustento para seu futuro 
(VERONESE, 1999). 
Ainda de acordo com esta autora, no início do século 20, com a questão social posta 
no cenário, atribuiu-se ao Estado o papel de assistir à criança e a criação de uma legislação 
 
 
11
social que contemplasse de forma pública e organizada a prestação efetiva da assistência aos 
menores. Neste período houve a formulação de uma legislação específica para menores, que 
se consolidou com o Decreto nº 17943- A, de 12 de outubro de 1927. 
Em 1924 foi criado o primeiro Juizado de Menores do Brasil, no Rio de Janeiro, por 
meio do Decreto nº 16.272, de dezembro de 1923 (Capítulo I, art. 37), dando início a um novo 
período que se caracterizaria pela ação social do Juizado de Menores do Brasil, reservando ao 
juiz o papel de declarar a condição jurídica da criança de abandonada ou não, se era 
delinquente ou qual a posição de amparo que deveria se receber. Ficou a cargo, também, do 
citado decreto (Capítulo III, art. 62) a criação de um abrigo capaz de manter os menores, 
sendo que este abrigo se destinaria a fazer a triagem dos mesmos, de caráter provisório e de 
observação, encaminhando a outros estabelecimentos (VERONESE, 1999). 
 O art. 1º do Decreto n. 5.083/26 autorizava ao governo a organizar e elaborar, de uma 
forma harmônica, a redação do projeto e realizar a publicação do Código de Menores, sendo 
que depois de realizado o projeto foi aprovado o primeiro Código de Menores da América 
Latina em 12 de outubro de 1927, o qual sintetizou de maneira ampla e aperfeiçoada um 
mecanismo legal para a atenção especial das crianças (VERONESE, 1999). 
De acordo com Rizzini e Pilotti (2011), este Código incorporou tanto a visão 
higienista de proteção do meio e do indivíduo, como a visão jurista repressiva. Baseava-se na 
Doutrina do Direito do Menor, considerando que o menor de 14 anos não seria mais 
submetido ao processo penal e se fosse maior de 16 e menor de 18 anos e cometesse crime 
poderia ir para a prisão de adultos, mediante processo especial, instituindo-se também a 
liberdade vigiada. 
As crianças vítimas da omissão ou transgressão da família em seus direitos eram 
encaminhadas a delegacias especiais. O menor abandonado ou delinquente era tratado como 
um objeto de vigilância da autoridade pública por parte do Juizado de Menores e da Polícia, 
na tentativa de buscar regeneração do menor. 
O Código ainda estabelecia que ao Estado fosse permitido intervir na relação pai/filho, 
ou mesmo substituir a autoridade paterna quando esta se recusasse a dar educação regular ao 
filho, que ficaria em um internato sob a responsabilidade do Estado. Este código impetrou um 
mecanismo legal sobre a questão do menor de idade, alterou e substituiu concepções obsoletas 
como de discernimento de culpabilidade, responsabilidade, disciplinando que a assistência 
deveria passar da esfera punitiva para a educacional (VERONESE, 1999). 
 
 
12
O código de Menores institucionalizou o dever do estado em assistir os menores 
que, em face do estado de carência de suas famílias, tornavam-se dependentes de 
ajuda ou mesmo da proteção publica, para terem condições de se desenvolver ou, no 
mínimo, subsistirem no caso de viverem em situações de pauperização absoluta. 
(VERONESE, 1999, p. 28). 
 
Estas ações institucionais resultaram o afastamento do menor da sua família, com 
uma política deliberada de não só limpar as ruas da cidade dos elementos indesejáveis, mas 
de punição, pelo afastamento da família e da desarticulação ao retirá-los de seu meio social. 
Em 1931 foi criado o Serviço Nacional de Assistência aos Menores (SAM), vinculado 
ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, para extirpar a ameaça dos meninos “perigosos 
e suspeitos”. O SAM teve suas atividades desenvolvidas até 1964, e se propunha a ir além do 
caráter normativo do Código de Menores de 1927. Com uma perspectiva corretiva, tinha 
alguns objetivos de natureza assistencial, seu foco era na população menor de idade, 
funcionava como sistema penitenciário, e as crianças e jovens eram objeto de uma única 
perspectiva – a infração penal. Este Serviço foi marcado pela execução de normas e diretrizesrestritivas e corretivas (SIMÕES, 2009). 
Segundo Veronese (1999, p. 32), o SAM não conseguiu cumprir suas finalidades, 
sobretudo devido à sua estrutura emperrada, sem autonomia e sem flexibilidade e a métodos 
inadequados de atendimento, que geraram revoltas naqueles que deveriam ser amparados e 
orientados. 
No período do Golpe Militar (1964) a questão do menor foi considerada um problema 
de cunho nacional, prevalecendo a implantação de algumas medidas repressivas que tinham 
como fundamento cercear os passos dos menores e seu comportamento denominado de 
antissocial (VERONESE, 1999). 
Ainda no período da ditadura foi aprovada a Lei nº 4.513, de 01 de dezembro de 1964, 
criando a Política Nacional do Bem-Estar do Menor, através da Fundação Nacional de Bem-
Estar do Menor (FUNABEM), sendo que na esfera estatal os órgãos eram denominados de 
Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor (FEBEMs). Em 10 de abril de 1967 foi 
aprovada a Lei nº 5.258, dispondo sobre medidas de proteção, assistência, vigilância e de 
reeducação que se aplicaria aos menores de 18 anos, caso esses praticassem algo que fosse 
definido como infração penal (VERONESE, 1999). 
Neste sentido expressa Simões (2009, p. 216): 
 
 
 
13
[...] a pretensão era, assim, passar do modelo correcional-repressivo para um modelo 
assistencialista, assente na concepção do menor como feixe de carências 
psicológicas, sociais e culturais. O atendimento passou a ser efetuado por postos de 
triagem e de redes oficiais de internatos. 
 
De acordo com Rizzini e Pilotti (2011, p. 27), neste período a política adotada 
privilegiou, a exemplo do que aconteceu em quase todos os setores, o controle autoritário e 
centralizado, tanto na formulação, quanto na implementação da assistência à infância, leia-se, 
aos “menores” enquanto problema social. 
As verdadeiras necessidades da infância e juventude não foram supridas com as 
propostas desta política institucional que o Brasil vinha adotando. Serviam apenas como 
instrumentos de controle da sociedade civil, de natureza repressiva e punitiva com processo 
de ajustamento social, prevalecendo a política carcerária. Carências na política quanto na 
forma de tratar a situação da criança, a política vigente resultava ineficiente e paliativa, não 
resultando em ações capazes de suprir esta demanda. 
Em 1979 criou-se um novo Código de Menores, por meio da Lei n. 6.697, de 
10/10/1979, de caráter não universalista, pois era restrito “ao menor em situação irregular, 
uma conceituação jurídica que se referia especificamente às crianças e adolescentes das 
famílias operárias que, por desagregação familiar, não estivessem se adequando a sua 
formação como futuros trabalhadores” (SIMÕES, 2009, p. 216). 
De acordo com este Código, o menor de 18 anos que praticasse a infração deveria ser 
encaminhado para a autoridade judiciária, e o menor de 18 anos e maior de 14 anos de idade 
que fosse enquadrado em uma situação prevista como infração, era submetido para a 
verificação de seu ato, sendo que o juiz poderia determinar uma medida daquelas previstas no 
então Código de Menores. O autor de uma infração com idade menor de 14 anos não 
respondia qualquer procedimento, mas poderia sofrer a aplicação de alguma medida. Na 
maioria dos casos, a medida que era determinada pelo juiz, entre outras, não distinguindo os 
menores infratores ou aqueles que eram vítimas, era de regra a internação por tempo 
indeterminado nos denominados “institutos de menores”, com o intuito de ressocializar 
aqueles sujeitos (VERONESE, 1999). 
O Código de 1979 foi criticado por utilizar-se de medidas do Código Penal Militar nas 
punições de menores de 18 anos de idade, onde eram adotadas prisões provisórias contra os 
menores sem a defesa e sem representação, ficando a criança em total vulnerabilidade, com 
grandes semelhanças de detenção do infrator adulto. 
 
 
14
Este Código apresentou uma nova doutrina: “menor em situação irregular” – o menor 
pobre – e continuava a prática do assistencialismo, da repressão, da punição, da privação da 
liberdade, tendo como fundamento reformar o caráter do menor autor dos atos denominados 
antissociais, encaminhando-o para cuidados de terceiros desconhecidos (VERONESE, 1999). 
Na esfera da aplicação dos atos infracionais, o Código de 1979 colocava à disposição 
dos juízes um poder enorme, sendo que o menor em situação de risco ou o delinquente era 
submetido a um processo quase inquisitorial em que a exposição dos fatos era mais 
importante que os próprios direitos já adquiridos pela pessoa humana, sendo o sujeito 
analisado perante fatos, como um objeto de estudo e investigação, não tendo ninguém para 
auxiliar o menor (VERONESE, 1999). 
Sob essa ótica percebe-se que a criança quando interpretada como autora de uma 
conduta desviante, mesmo que jamais tivesse cometido ato ilícito “[...] poderia ser privada de 
sua liberdade de ir e vir, e perder os vínculos familiares e comunitários, pelo simples fato de 
estar em situação irregular” (VERONESE, 1999, p. 41). 
Ainda de acordo com este Código, na falta de estabelecimento adequado, o menor 
poderia ficar em secção especial, de estabelecimento destinado a maiores, por ser autor de ato 
infracional ou estar em simples situação irregular. No período de vigência do Código de 
Menores de 1979, com sua doutrina de menor em “situação irregular”, o Estado era o grande 
repressor e exercia o controle sobre as crianças e adolescentes que se encontrassem um uma 
situação de irregularidade. 
Através da pesquisa bibliográfica realizada constatou-se que ao longo da história, o 
Brasil tratava as crianças e adolescentes pobres como um estorvo para a ordem social. 
Simplesmente eram tiradas de seu meio familiar e institucionalizadas sem um trabalho de 
reinserção familiar, não tendo a preocupação de preservar os vínculos familiares. 
“A situação irregular do menor” no Código de 1979, correspondia a uma suposta 
família “desestruturada”, a qual a criança era denominada quando não tinha família (“órfã ou 
abandonada”); quando a família não podia assumir funções de proteção (“carente”); quando 
não podia controlar os excessos da criança (“conduta antissocial”); quando as ações e 
envolvimentos da criança ou do adolescente colocavam em risco sua segurança, da família ou 
de terceiros (“infrator”); seja porque a criança era portadora de algum desvio ou doença com a 
qual a família não podia ou sabia lidar (“deficiente”, “doente mental”, com “desvios de 
conduta”) (RIZZINI; PILOTTI, 2011). 
 
 
15
As crianças das camadas populares eram expostas, negligenciadas pela legislação e 
pela sociedade quando não tinham o amparo da família, e acabavam abandonando da escola e 
fugindo do lar, faziam da rua o local de moradia e trabalho. Conforme o art. 41 do Código de 
Menores de 1979: 
 
O menor em desvio de conduta ou autor de infração penal poderá ser internado 
estabelecimento adequado, até que a autoridade judiciária, em despacho 
fundamentado, determine o desligamento, podendo, conforme a natureza do caso, 
requisitar parecer técnico do serviço competente e ouvir o Ministério Público. 
(VERONESE, 1999, p. 40). 
 
Outro fato que merece destaque é a forma como a “situação irregular” era definida 
no Código de Menores de 1979, em que o Estado se utilizava dos mecanismos jurídicos, 
tratando a pobreza, a “carência” por meio de procedimentos denominados como pedagógicos 
e terapêuticos. 
 
O código autoriza os juízes a internarem crianças que se encontram “em situação 
irregular” e define a carência como uma das hipóteses de situação irregular. E como 
se carente fosse apenas uma pequena parcela das crianças brasileiras e não a grande 
maioria. Se levasse o código a sério, estariam os juízes legitimados a mandar 
internar talvez a quarta ou a terça parte do povo brasileiro. Já o juiz não pode fazer 
isso, ele usa a faixa discriminatória que a lei lhe concede para internar uns e recusara internação de outros, segundo o que ele e seus assessores entendem. (RIZZINI; 
PILOTTI, 2011, p. 196). 
 
Deste modo, um significativo número de crianças era encaminhado aos internatos, 
mesmo não sendo elas “órfãs”, mas carentes; as famílias pobres acabavam por abandonar 
estas crianças ao invés de pedir a guarda. Este fato não deixa de ser uma estratégia 
institucional para configurar a família imoral, ou seja, uma lógica em que a condição social 
era sinônimo de situação irregular. “[...] abandonados, maltratados, vítimas e infratores”. 
Causa perplexidade que se considere em situação irregular o menino abandonado ou 
maltratado pelo pai, ou aquele privado de saúde ou da educação por incúria do Estado. “[...] 
estará sim em situação irregular aquele que descumprir os deveres inerentes ao pátrio poder 
ou quem negligenciar políticas sociais básicas. Está em situação irregular, de ilegalidade, o 
pai que abandona ou o Estado que negligencia, nunca o abandonado, a vítima” (VERONESE, 
2009, p. 40). 
Na década de 1980, na transição do país da ditadura para a democracia, ativistas dos 
direitos da criança e do adolescente, entre os quais alguns juristas e movimentos sociais, 
realizaram uma forte mobilização da sociedade e de alguns setores do Estado, incluindo até 
 
 
16
setores da própria Funabem, órgão normativo sobre a Política Nacional do Bem Estar do 
Menor (Lei n. 4.513/64), pela implementação da doutrina da proteção integral. 
A partir desta mobilização surgiu um novo entendimento acerca da infância e da 
juventude, reconhecendo a criança e o adolescente como pessoas em condição peculiar de 
desenvolvimento. Esta visão está consagrada na Convenção Internacional dos Direitos da 
Criança, em artigos da Constituição Federal de 1988 e, sobretudo, no Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA). 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, reconhece-se um grande avanço 
na política de atendimento à criança e ao adolescente, rompendo assim com a lógica que 
evidenciou a falência do modelo de atendimento correcional-repressivo. Com o modelo de 
assistência vigente, novas proposições foram adotadas, sendo uma delas de abolir o Código de 
Menores de 1979, e em seu lugar, em 1990, aprovar o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
1.2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) 
 
Com a finalidade de melhorar e renovar os métodos de assistência ao menor, em 1989 
rompeu-se definitivamente com a doutrina da situação irregular estabelecida pelo Código de 
Menores de 1979, por meio dos documentos internacionais – Convenção Internacional dos 
Direitos da Criança – a qual foi aprovada com unanimidade pela Assembleia das Nações 
Unidas, em sessão de 20 de novembro de 1989. 
Segundo Veronese (1999, p. 96), este documento 
 
[...] retifica o que as Nações Unidas proclamam e acordam na Declaração Universal 
dos Direitos Humanos e nos Pactos Internacionais de Direitos Humanos, determina 
que toda pessoa, sem qualquer tipo de distinção, seja de raça, cor, sexo, idioma, 
crença, opinião política ou de índole, origem nacional ou social, posição econômica, 
nascimento ou qualquer outra condição, possui direitos enunciados nesses 
documentos. 
 
A partir desta Convenção constituiu-se um instrumento para a promoção e o exercício 
dos Direitos da Criança, introduzindo uma série de questões e com reflexos na lei brasileira, 
com uma nova base doutrinária diferentemente do Código de Menores de 1979. 
Silva (2002, p. 12) considera importante esta Convenção, que foi posteriormente 
transformada em lei, definindo-a como: 
 
 
 
17
[...] a letra desses documentos internacionais constituem importante fonte de 
interpretação de que o exegeta do novo direito não pode prescindir. Eles serviram 
como base de sustentação dos principais dispositivos do Estatuto da Criança e do 
Adolescente e fundamentaram juridicamente a campanha Criança e Constituinte, 
efervescente mobilização nacional de entidades da sociedade civil e milhões de 
crianças com o objetivo de inserir no texto constitucional os princípios da 
Declaração dos Direitos da Criança. 
 
Como forma de compreender a questão da infância e da adolescência medidas 
protetivas começaram a se manifestar por meio da Lei nº 8.069, de 1990 – o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA), expressando mudanças e avanços nas áreas jurídicas, 
políticas e sociais. O ECA foi um marco na história social da infância e da adolescência, a 
partir do qual as crianças e os adolescentes passaram a ser reconhecidos como sujeitos de 
direitos. 
Em sua composição, o ECA possui 267 artigos, e se constitui em dois livros, que são o 
da Parte Geral, indo do artigo 1º aos 85, e o da Parte Especial, que vai do artigo 86 aos 258. 
Ainda possui as Disposições Finais e Transitórias, nos artigos 259 aos 267. 
O ECA é considerado uma norma de abrangência ampla em proteção aos direitos da 
criança e do adolescente, a qual respeita a sua condição especial como pessoa em fase de 
desenvolvimento. Leva em conta os cuidados da população, a inimputabilidade dos menores 
de 18 anos, assim como outras medidas que podem ser tomadas pelo Estado em conjunto com 
a sociedade, prevendo a ressocialização do menor infrator e as medidas socieoeducativas que 
podem ser aplicadas quando da prática de atos infracionais (PRATES, 2006, p. 57). 
Prates (2006) menciona que o ECA representa um grande passo na política de 
atendimento e de desenvolvimento social de crianças e adolescentes. São vários princípios 
gerais e fundamentais que fazem parte do Estatuto. Entre os principais, tem-se: a) o princípio 
de atendimento integral (arts. 3º, 4º e 7º), que trata da proteção integral da criança e do 
adolescente – dignidade, liberdade, desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual, social 
etc.; b) o princípio da garantia prioritária (art. 4º, alíneas a, b, c e d), que garante a primazia de 
proteção e socorro; c) o princípio de prevalência dos interesses da criança e do adolescente 
(art. 6º), que interpreta a lei com a finalidade social; d) o princípio da indisponibilidade dos 
direitos da criança e do adolescente (art. 27), que dispõe sobre o estado de filiação; e) o 
princípio do compromisso (art. 32), que trata da guarda ou tutela da criança ou do 
adolescente; f) o princípio da respeitabilidade (arts. 18, 124, V e 178), que garante à criança e 
ao adolescente a proteção de atos desumanos, de violência, de vexames, tratam-se do respeito 
e da dignidade da criança e do adolescente; g) o princípio da prevenção geral (arts. 54, I a 
 
 
18
VIII e 70), que estipula o dever do Estado em garantir à criança e ao adolescente o ensino 
fundamental, etc.; h) o princípio da prevenção especial (art. 74), que trata do direito da criança 
e do adolescente à diversão e participação de eventos públicos; i) o princípio da proteção 
estatal (art. 101), determinando ao Estado executar programas de desenvolvimento 
biopsíquico, social, familiar, comunitário às crianças e adolescentes; j) o princípio da 
reeducação e reintegração da criança e do adolescente (art. 119, I a IV), dando apoio à família 
dos adolescentes e das crianças, orientando-as através de programas de auxílio e de 
assistência; k) o princípio da escolarização fundamental e profissionalizante (arts. 120, §§ 1º, 
e 124, XI); l) o princípio da gratuidade (art. 141, §§ 1º e 2º), que garante às crianças e aos 
adolescentes o livre acesso à prestação jurisdicional; m) o princípio da sigilosidade (art. 143), 
que determina o sigilo absoluto quanto à autoria de ato infracional; n) o princípio do 
contraditório (art. 170 a 190), que segue a orientação constitucional na garantia da ampla 
defesa e isonomia de tratamento judicial aos acusados. Para este autor, o ECA é uma das 
legislações mais avançadas do mundo no que diz respeito à questão da proteção aos direitos 
da criança e do adolescente. 
De acordo com Saraiva (2006), no que se refere a sua estrutura, o ECAse organiza em 
três eixos centrais. São os chamados Sistemas de Garantias. É um tríplice sistema que atua 
harmoniosamente entre si, com acionamento sucessivo ou simultâneo. Este consiste num 
sistema primário, secundário e terciário de garantias. O primeiro sistema tem a visão voltada 
para a universalidade da população infanto-juvenil brasileira, sem fazer distinções quaisquer. 
Estabelece os fundamentos da política pública que devem entrar em execução. Estão presentes 
nos arts. 4º e 86 a 87 do ECA. O segundo volta-se para a criança e o adolescente enquanto 
vitimados, pela vulnerabilidade em seus direitos fundamentais. Este tem como operador 
originário o Conselho Tutelar, e fundamenta-se nos arts. 98, 101 e 136 do ECA. Prevê na Lei 
a aplicação de Medidas Protetivas em face das crianças autoras de condutas de infração e, 
ainda, admite a aplicação subsidiária de Medida de Proteção ao próprio adolescente em 
conflito com a lei, conforme previsão legal no art. 112, VI, do ECA. O terceiro aborda o 
adolescente em conflito com a lei, na condição de vitimizador. Tem como fundamentação o 
art. 103 do ECA, consagrando um modelo de Direito Penal Juvenil. 
Ao mencionar esses sistemas e garantias, que, ao mesmo tempo, protegem a criança e 
o adolescente, servem como forma de repreender os atos cometidos que venham defrontar a 
sociedade. Percebe-se que a lei trata o menor não apenas como vítima, mas também como 
alguém que, tendo vitimado outro, em ato de infração, deverá ser responsabilizado. O termo 
 
 
19
“responsabilizar” traz um sentido mais educativo do que puramente repressor, o que não 
significa que o menor infrator não responda por seus atos. 
O ECA traz em seu bojo o paradigma da proteção integral, a qual se assenta na ideia 
central de que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos em relação ao mundo dos 
adultos e em suas relações com a família, a sociedade e o Estado. O documento considera que 
as crianças e os adolescentes são seres humanos vivendo período de desenvolvimento físico, 
psíquico e emocional, condição que merece respeito e, portanto, um direito especial diferente 
do reservado aos adultos. Destaca que tais direitos são prioritários e prevalentes; que crianças 
e adolescentes merecem igualdade jurídica, ou seja, merecem receber um igualitário regime 
de direitos fundamentais, sem tratamento discriminatório ou opressivo, ao contrario dos 
códigos anteriores que tratavam as crianças de maneira repressiva. 
Em seu art. 1° o ECA dispõe sobre a proteção integral, a qual rompe definitivamente 
com a doutrina da situação irregular utilizada no Código de Menores de 1979. Sob esta ótica, 
o ECA passa a ser um instrumento garantidor da lei, essencial para assegurar a proteção 
integral das crianças e adolescentes. Estabelece princípios e diretrizes para a garantia do 
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária de todas 
as crianças e adolescentes. 
A criança e o adolescente, de acordo com o art. 3º do ECA, 
 
[...] gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana [...] 
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual 
e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
 
Como instrumento jurídico, o ECA propõe encaminhamentos intencionais para 
garantir às crianças e aos adolescentes, desenvolvimento, apropriação dos saberes e poderes 
contemporâneos. Nesse sentido, em seu art. 6º, o ECA confirma: “Na interpretação desta Lei 
levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige [...] e a condição peculiar da criança e 
do adolescente como pessoas em desenvolvimento.” 
Somente com a vigência deste Estatuto uma nova realidade se estabelece: rompe-se 
com os paradigmas que sustentaram as leis anteriores, com o modelo de atendimento 
“correcional-repressivo”, gerando assim grandes mudanças na política de atendimento às 
crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social ou pessoal. 
 
 
20
Este novo olhar em que a lei abrange o universo de crianças e adolescentes têm como missão 
mudar a cultura da injustiça, ilegalidade, abusos e opressões que sempre marcaram a infância 
brasileira. 
A fragilidade e ineficiência com que eram conduzidos os códigos anteriores, como os 
de 1927 e 1979, foram agora revogados a partir deste novo marco na doutrina de proteção 
integral, onde crianças e adolescentes passaram a ser contempladas com medidas protetivas, 
que no passado não supriam as suas necessidades. 
Para Ferreira (2010, p. 49), com a implantação do ECA, 
 
a criança e o adolescente passaram a ser considerados sujeitos de direitos, e na 
assertiva de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, ficaram afastados 
dos conceitos ideológicos e anticientíficos de situação irregular e menor, quer 
abandonado ou delinquente. Diante desta nova regulamentação, a situação da 
criança e do adolescente passou por uma nova configuração e rompe-se com a 
cultura jurídica das discriminações presentes nas legislações anteriores. 
 
Outro aspecto que se considera importante ressaltar é que em períodos anteriores ao 
ECA, os Códigos de Menores Mello e Matos ressaltavam que não havia uma política que 
reconhecesse as categorias criança e adolescente. E, neste sentido, 
 
Somente com a Constituição, crianças e os adolescentes foram reconhecidos como 
cidadãos e passaram a usufruir de todos os direitos constitucionalmente consagrados 
que se aplicam às pessoas menores de 18 anos. Passam da situação de menor para 
criança cidadã e adolescente cidadão (FERREIRA, 2010, p. 49). 
 
O Estatuto estabeleceu direito e deveres para crianças e adolescentes brasileiros. 
Dentre os avanços introduzidos, pode-se citar que definiu como criança toda a pessoa com até 
12 anos de idade incompletos, e como adolescentes aquela entre 12 e 18 anos de idade, 
determinando que estas devam receber proteção integral. Tem direito a vida, a saúde, a 
liberdade, ao respeito e a dignidade e para seu adequado desenvolvimento devem ter acesso a 
outros direitos específicos como a convivência familiar e comunitária, a educação, a cultura, 
ao esporte, ao lazer e a profissionalização. 
O ECA é considerado uma das mais modernas legislações no âmbito da proteção dos 
direitos à criança e ao adolescente, sendo poucas as legislações que têm disciplinado a matéria 
com tão grande importância. De acordo com Rizzini e Pilotti (2011, p. 29), é um novo 
paradigma jurídico, político e administrativo, destinado à resolução da problemática da 
infância e da juventude no Brasil, nos termos de uma sociedade democrática e participativa. 
 
 
21
Em decorrência desta evolução mencionada, as políticas públicas, a proteção legal e a 
própria concepção de criança e adolescente sofreram modificações, sobretudo no que diz 
respeito à proteção de seus direitos fundamentais. A partir de sua instituição podem ser 
reconhecidos os princípios da proteção integral, os quais são desenvolvidos com a concepção 
de que a criança e o adolescente são merecedores de direitos próprios e especiais em razão de 
sua condição específica de pessoa em desenvolvimento com prioridades absolutas. 
Vale registrar que, conforme Lahalle (2002, p. 31), a legislação brasileira é a primeira 
legislação latino-americana a ter incorporado em seu texto tanto as regras de proteção e de 
garantia dos direitos do menor infrator como as de proteção da criança vítima de abandono ou 
outra violência. 
Apesar de passados 23 anos da promulgação do ECA ainda são mantidas práticas 
menoristas e atos de violência, de desrespeito e de abusos que fazem parte do cotidiano dos 
estabelecimentos responsáveis pelas medidas socioeducativas preconizadas na nova 
legislação. Como se sabe,uma lei não é determinante o suficiente para que se confirmem, na 
realidade, as opções postas em termos de ações e resultados. Nesse sentido, Charlot (2000, p. 
124) expressa que: 
 
a condição de sujeito de direitos é uma conquista paulatina e diária diante de 
diferentes instituições e sujeitos da sociedade, exigindo conhecimentos, interpreta-
ções adequadas, determinação, planejamentos estratégicos, estudo da realidade e 
criatividade, por aqueles que a tomam como campo de atuação, difusão e afirmação. 
 
A rede de proteção social da criança e do adolescente, segundo Charlot (2000), 
poderia tecer uma gama de conhecimentos e práticas fortemente entrelaçadas, gerando 
impactos e resultados na sociedade em benefício da afirmação do público infanto-juvenil 
como sujeito de direitos, consolidando diferentes políticas públicas. A condição de sujeito de 
direitos é algo que não se fornece a uns e outros, em alguns momentos mais, noutros menos 
ou, esporadicamente. Para além da lei, essa condição é uma conquista pela experiência. 
Há um longo percurso entre o que o documento preconiza e o comportamento da 
sociedade em relação aos jovens diferentes ou em piores condições de vida. As estratégias de 
inclusão pretendidas para a infância e a juventude esbarram em pré-concepções uma vez que 
as categorias como vulnerabilidade social, risco social e pessoal, entre outras, não aparecem 
como posições de sujeitos que necessitam de ações efetivas de proteção – quanto ao cuidado 
pessoal e social, mas como intervenções no sentido de proteger a sociedade contra as crianças 
e jovens em precárias condições socioeconômicas. 
 
 
22
No Brasil, havia duas categorias distintas de crianças e adolescentes, ou seja, a dos 
filhos socialmente incluídos e “integrados” (grifo nosso), a que se denominava “crianças e 
adolescentes” e a dos filhos pobres e excluídos, genericamente denominados “menores”, que 
eram considerados crianças e adolescentes de segunda classe, de forma que a eles se destinava 
a antiga lei, baseada no “direito penal do menor” e na “doutrina da situação irregular”. 
Somente com o advento da Constituição de 1988 e do ECA, as crianças brasileiras, sem 
distinção de raça, classe social, ou qualquer forma de descriminação, passam a ser 
considerados sujeitos de direitos. 
 Com a Constituição Federal de 1988, abriram-se as possibilidades de descentralização 
administrativa e a participação da sociedade organizada, onde a sociedade foi chamada a 
participar lado a lado com o Estado, constituindo uma ampliação institucional para a 
negociação de interesses e resoluções de problemas. Propôs um reordenamento político 
institucional das competências das diferentes esferas do governo, procurando construir a 
descentralização das práticas e a coparticipação da sociedade civil na elaboração e no controle 
das ações voltadas, também, para a infância e a juventude. 
Com este novo paradigma, o art.204 da Constituição Federal assenta o principio de 
descentralização político administrativa, concedendo á esfera federal a competência para 
definir e fixar as diretrizes básicas e gerais do atendimento social, aos Estados e Municípios a 
coordenação e execução dos programas e a comunidade o efetivo controle dos atos através 
dos conselhos dos direitos e, no caso, dos Conselhos Tutelares. 
Cabe aqui mencionar o Conselho Tutelar, introduzido pelo ECA de âmbito municipal 
como um espaço da possibilidade da própria comunidade agir em defesa das crianças e 
adolescentes em situação de risco social e pessoal. Ele estabelece uma nova perspectiva de 
garantia de atenção à criança e ao adolescente, reintroduzindo a comunidade como capaz de 
assumir a defesa e a atenção às suas crianças e adolescentes. 
Nota-se ainda que, o Estatuto deve ser visto politicamente como um instrumento a 
serviço da estratégia global de luta em prol da construção da cidadania especial da criança e 
do adolescente, via garantia de seus direitos fundamentais, promovendo-os ou os defendendo, 
quando transgredidos. Sempre que uma criança ou adolescente tiver seus direitos ameaçados 
ou violados pela sociedade, por abuso ou omissão dos pais, ou por sua própria conduta, 
considera-se que está em risco. Neste caso, deverá ser encaminhada pelo Conselho Tutelar e 
pelo juizado da Infância e adolescência para devidas providências. 
 
 
23
Após abordar a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente e conhecer sua 
atuação junto aos menores em situação de risco no Brasil, cabe a partir de agora descrever a 
atuação do Conselho Tutelar, instituição criada e regulamentada pelo art. 227 da Constituição 
Federal e instituída pelo ECA, cujas atividades preveem o zelo pelo cumprimento dos direitos 
da Criança e do Adolescente. Sua organização e atuação em prol das crianças e adolescentes 
os menores são descritas no próximo capítulo. 
 
 
24
CAPÍTULO 2 – O CONSELHO TUTELAR 
 
Os direitos da infância foram constituídos com base e estruturas normativas a partir 
da Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF/88), seguido pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente – Lei Federal 8.069/1990 (ECA), que colocou o Brasil na vanguarda a nível 
mundial na defesa dos direitos da infância e juventude. Estes aspectos contribuíram nas 
conquistas direcionadas à defesa de direitos destes segmentos. Neste sentido, o presente 
capítulo tem por objetivo relacionar o ECA ao Conselho Tutelar, cuja atuação segue o 
prescrito na legislação federal acima mencionada. Além disso, o estudo visa ainda 
contextualizar a presença do Conselho Tutelar no município de Ijuí, RS. 
 
2.1 O ECA E O CONSELHO TUTELAR 
 
A mobilização da sociedade civil no processo de construção de um novo paradigma 
com a Constituinte de 1988, mediante movimentos sociais, igrejas, servidores públicos assim 
como profissionais de diversas categorias – pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, 
advogados e médicos, entre outros, se manifestou em forma de pressão à problemática na área 
da infância e juventude. Havia uma lacuna na questão da responsabilidade entre o Estado e a 
sociedade. Uma nova fase se elencou com a Constituição e, posteriormente, com o Estatuto da 
Criança e do Adolescente, possibilitando uma parceria participativa entre a sociedade civil e o 
Estado a fim de reproduzir os princípios constitucionais e construir uma sociedade livre, justa 
e solidária. 
Com a descentralização do poder político e administrativo e o fortalecimento da 
sociedade civil com participação popular, foram instituídos Conselhos de Direitos no âmbito 
federal, estadual e municipal. Estes passaram a serem as novas instâncias de participação 
popular e gestão responsável pela política pública, neste caso específico na área da infância e 
da juventude, que visam a zelar e a fiscalizar os direitos garantidos como um mecanismo 
viabilizador da participação social, como o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do 
Adolescente (Conanda), instituído pela Lei nº 8.242, de 12/10/91, e sucessivamente nos 
Estados, os Conselhos Estaduais (Condeca), e nos municípios os Conselhos Municipais 
(CMDCAs) (SIMÕES, 2009, p. 218). 
Para a concretização destes direitos e procedimentos com efeito do ECA (arts 131 a 
140), que tem como pressuposto fundamental o bem-estar da criança e do adolescente, 
 
 
25
instituiu-se o Conselho Tutelar por meio da Resolução nº 75 do Conanda, de 22/10/2001. Este 
órgão surgiu para suprir as necessidades relativas aos problemas que envolvem crianças e 
adolescentes relacionados à justiça social. 
Para Andrade (2010, p. 32), o Estatuto da Criança e do Adolescente 
 
[...] retirou do juiz de menores o papel de administrador de questões sociais 
relacionadas às crianças, adolescentes e suas famílias frente às quais exercia função 
tutelar, reafirmando suas atribuições de caráter jurisdicional. A constituição Federal 
e o Estatuto da Criança e do Adolescente reconhecem que este papel tutelarcabe à 
comunidade bem como o de participação na formulação e no controle das políticas 
voltadas para este grupo. 
 
De acordo com Liberati e Ciryno (2003), ao regulamentar o art. 227 da Constituição 
Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente criou e deu vida ao Conselho Tutelar, “a ele 
cabendo atender os casos de queixa contra ameaça ou violação de direitos individuais, com 
poderes explícitos de requisitar e fiscalizar entidades governamentais e não governamentais 
de atendimento à população infanto-juvenil”. 
Sob este aspecto é importante salientar que os municípios passaram a assumir 
poderes até então privativos de instâncias superiores da federação brasileira e permitir, por 
força da descentralização política, que determinados serviços, quanto a sua execução, e 
determinadas decisões políticas pudessem ser tomados dentro do Município, sem excluir a 
cooperação de outros entes governamentais e não governamentais. Neste sentido os 
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente foram constitucionalmente 
instrumentalizados por três importantes mecanismos: a participação popular, a 
descentralização e a municipalização (LIBERATI; CYRINO, 2003). 
O Conselho Tutelar, portanto, é um órgão público municipal que tem sua origem na 
lei, integrando-se ao conjunto das instituições nacionais e subordinando-se ao ordenamento 
brasileiro. Diante disso, cabe salientar que é imprescindível que o Conselho Tutelar seja 
criado por lei e não por decreto, porque o serviço a ser desempenhado por ele é de natureza 
pública e de interesse local. 
O Conselho Tutelar “é a equipe ou comissão instituída pelo Município para zelar, caso 
a caso pela garantia dos direitos individuais de crianças e adolescentes e a cobrança eficaz dos 
deveres correspondentes” (SÊDA, 1997, p. 103). 
Reiterando este entendimento, Liberati e Cyrino (2003, p. 125) afirmam que o 
Conselho Tutelar é 
 
 
26
[...] um espaço que protege e garante os direitos das crianças e adolescentes, 
no âmbito municipal. É uma ferramenta e um instrumento de trabalho nas 
mãos da comunidade, que fiscalizará e tomara providências para impedir a 
ocorrência de situações de risco pessoal e social de crianças e adolescentes. 
 
Conforme citado anteriormente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 
seu Livro II, Parte Especial, Título V, refere-se especificamente ao Conselho Tutelar: 
Capítulo I – Disposições Gerais (arts. 131 a 135); Capítulo II – Das Atribuições do Conselho 
(arts. 136 a 137); Capítulo III – Da Competência (art. 138); Capítulo IV – Da Escolha dos 
Conselheiros (art. 139); Capítulo V – Dos Impedimentos (art. 140). 
No Capítulo I – Disposições Gerais, o artigo 131 conceitua e define a finalidade do 
Conselho Tutelar, estabelecendo que o Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, 
não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da 
criança e do adolescente, definidos nesta lei. De conformidade com o disposto neste artigo, 
estas três características do Conselho Tutelar – permanente e autônomo, não jurisdicional, e 
de natureza administrativa, compõem a esfera do cumprimento à Constituição Federal. 
O Conselho Tutelar tem a característica de ser permanente porque desenvolve uma 
ação contínua e ininterrupta. Isso significa que após sua implantação não pode ter interrupção 
devido às ocorrências que envolvem os direitos das crianças e dos adolescentes não ter dia 
certo para se manifestar, e as soluções devem ser imediatas. Outra característica é ser 
autônomo por ter liberdade e, principalmente, independência na atuação funcional, ou seja, 
toma decisões e age aplicando medidas práticas sem qualquer interferência externa. Suas 
decisões não dependem do âmbito administrativo; suas atribuições são de caráter não 
jurisdicional sendo de natureza executiva. Cabe salientar que sua função é fiscalizada pelo 
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, pela autoridade judiciária, do 
Ministério Público e das entidades civis que trabalham com a população infanto-juvenil, não 
estando ligado ou subordinado a outro órgão. 
Do ponto de vista financeiro, o Conselho Tutelar depende de verbas externas ou de 
uma Secretaria Municipal. O ECA prescreve, no art. 261, parágrafo único, que a União fica 
autorizada a repassar aos Estados e Municípios recursos referentes aos programas e atividades 
previstas nesta lei, tão logo estejam criados os Conselhos dos Direitos da Criança e do 
Adolescente. 
A característica não jurisdicional do Conselho Tutelar revela que se trata de órgão 
público, vinculado ao poder Executivo Municipal, ou seja, não tem poder para fazer cumprir 
 
 
27
determinações legais ou punir quem a infrinja, função esta própria do poder judiciário. Sua 
vital função é assegurar às crianças e adolescentes suas garantias e direitos individuais. 
O Conselho Tutelar não depende de autorização de ninguém, nem do Prefeito ou do 
Juiz para o exercício das suas atribuições legais que lhe foram conferidas pelo ECA: artigos 
136, 95, 101 (I a VII ) e 129 (I a VII ). Em matéria técnica de sua competência delibera e age 
aplicando as medidas práticas pertinentes, sem a interferência externa. Também exerce suas 
funções inclusive para denunciar e corrigir distorções existentes na própria administração 
municipal relativa ao atendimento às crianças e adolescentes. 
O art. 132 do ECA torna obrigatória a existência de pelo menos um Conselho Tutelar 
para cada município, fixando o número de seus membros e a forma de escolha. Como indica 
no referido artigo: em cada município haverá, no mínimo, um conselho tutelar composto de 
cinco membros, escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma 
recondução. No caso do não cumprimento o município poderá sofrer advertência e/ou 
penalidade mediante mandado de injunção ou ação civil pública para legitimar o processo 
(SOARES, 2002, p. 432). 
No art. 133 o ECA reconhece que cabe à comunidade cuidar de suas crianças e 
adolescentes; ninguém é mais conhecedor de seus problemas e de sua realidade do que a 
comunidade local. No decorrer do processo de implantação do Conselho Tutelar é preciso 
que se faça a escolha de representantes da comunidade que irão realizar o atendimento as 
crianças e adolescentes do município na forma de conselheiros. 
Com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, é a Lei Municipal que estabelece o 
processo de escolha dos conselheiros tutelares. O município fica autorizado a ampliar esses 
critérios de acordo com o art. 30, II, da Constituição Federal, ficando sob-responsabilidade do 
Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, em que a comunidade e o Poder 
Executivo e a Câmara Municipal deverão discutir amplamente os critérios e definir a forma de 
escolha. 
Para candidatar-se ao cargo de conselheiro, o art. 133 estabelece os requisitos mínimos 
para a escolha dos integrantes que farão parte do Conselho. Este novo órgão de proteção é 
composto por cinco conselheiros que serão selecionados com requisitos básicos: reconhecida 
idoneidade moral, idade superior a 21 anos e residir no município. Fica a critério da própria 
comunidade local, isto é, do corpo social, a sociedade como um todo, escolher o conselheiro 
nos termos do art. 139 do ECA. Este cargo, por estar relacionado diretamente à defesa de 
 
 
28
direitos e interesses de crianças e adolescentes, exige pessoas qualificadas. Estas pessoas 
escolhidas têm a obrigação de conhecer o ECA e a Constituição Federal naquilo que 
corresponde ao trabalho. 
O art. 134 refere-se à implantação dos Conselhos Tutelares. Neste sentido, o 
município define algumas funções por meio de Lei Municipal em relação ao seu local e seu 
horário de funcionamento, até mesmo quanto à eventual remuneração de seus membros e 
constará na lei orçamentária municipal a previsão dos recursos necessários ao funcionamento 
deste órgão.De acordo com o art.135, o conselheiro tutelar depois do processo de eleição e posse, 
quando do seu efetivo exercício da função de conselheiro, constituirá serviço público de 
relevância, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso 
de crime comum, até julgamento definitivo. Tendo este a responsabilidade de relacionar-se 
com as demandas que se apresentam, como juízes, promotores, delegados, professores, 
médicos, dirigentes de instituições particulares, padres, prefeitos, secretários municipais, 
lideres comunitários, no desempenho de suas atribuições legais, conforme o Capítulo II, art. 
136 a 137 do ECA. 
O Conselho Tutelar é um órgão que tem como prioridade zelar pelo cumprimento dos 
direitos da criança e do adolescente. Por isso, a criança ou adolescente na situação de maus 
tratos ou violência sexual necessita de medidas protetivas, o que deve ocorrer mediante a 
notificação por parte do atendimento médico e encaminhamento ao Conselho Tutelar, que 
tomará as devidas providencias cabíveis. Os conselheiros deverão executar as suas atribuições 
que lhe foram confiadas pela lei. 
Simões (2009) ressalta as atribuições do Conselho Tutelar que, de acordo com o art. 
136, é de realizar um trabalho educativo de atendimento, ajuda e aconselhamento aos pais ou 
responsáveis, a fim de superarem as dificuldades. Para tanto, deve estar baseado no ECA, cujo 
instrumento legal protege os direitos fundamentais da criança e do adolescente, promovendo a 
vida, a saúde, a educação, a integridade corporal e a dignidade humana. 
Diante disso, são atribuições do Conselho Tutelar: a) zelar contra a violação dos 
direitos das crianças e adolescentes, no caso de falta, omissão ou abuso dos pais ou 
responsável; ou em razão da conduta das próprias crianças e adolescente (art. 98); ou, ainda, 
em caso de ato infracional, quando praticado por crianças (art. 105), assegurando-lhes as 
medidas específicas de proteção, acima expostas (art. 101), com exceção da colocação em 
 
 
29
família substituta e abrigo; b) atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as 
medidas a eles referidas, acima expostas, com exceção da perda da guarda, destituição da 
tutela ou suspensão e destituição do poder familiar (art. 129); c) encaminhar ao Juizado da 
Infância e Juventude os casos que demandem medidas judiciais; em casos de emergência, 
encaminhar uma criança ou adolescente a um abrigo, mas informando em seguida o 
Ministério Público; d) promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: requisitar 
serviços públicos nas áreas de saúde, de educação, serviço social, previdência, trabalho e 
segurança; representar ao Juizado nos casos de descumprimento injustificado de deliberações; 
encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou 
penal contra os direitos da criança ou adolescente; expedir notificações, requisitar certidões de 
nascimento e de óbito de criança e adolescente; e) fiscalizar os programas de aprendizagem 
profissional (Resolução nº 74 do Conanda) (art.131), denunciando as irregularidades ao 
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e ao Ministério do 
Trabalho e Emprego (MTE); f) denunciar irregularidades nas entidades de atendimento; g) 
assessorar a Prefeitura na elaboração das propostas orçamentárias. 
O Conselho Tutelar não tem atribuições jurisdicionais e, por isso deve encaminhar ao 
juizado, as questões relativas à perda da guarda, tutela ou poder familiar. Ainda segundo 
Simões (2009), os casos mais comuns atendidos pelos Conselhos referem-se à falta de vaga 
em creches e escolas, envolvimento de adolescentes com drogas, espancamento ou maus 
tratos pelos pais ou responsáveis, abuso sexual e pais alcoolistas e drogaditos. 
Consta no art. 137 do ECA que as decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser 
revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse. Ou seja, só 
poderá ser questionada uma decisão do Conselho Tutelar por quem tem interesse direto na 
decisão, não basta o mero interesse moral ou religioso, é preciso que esse interesse seja 
legítimo. 
O art.138 do ECA aborda a competência deste órgão, informando que se aplica ao 
Conselho Tutelar a regra de competência constante no art. 147: “será determinada pelo 
domicílio dos pais ou responsável; pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, a 
falta dos pais ou responsável.” 
O art. 139 do Estatuto refere-se à escolha do conselheiro tutelar. Como abordado 
anteriormente, o Conselho Tutelar desenvolve uma ação contínua e ininterrupta. Uma vez 
instituído não desaparece, apenas renovam-se os seus membros. Desta maneira, cada 
município determina suas próprias normas em relação ao Conselho, estabelecido por lei 
 
 
30
municipal. Salienta-se que esta característica constitui um avanço, pois faculta a cada 
comunidade decidir entre um processo eleitoral universal, aberto à comunidade, ou entre um 
colegiado eleitoral, estabelecido pelo COMDCA, sendo as duas hipóteses legitimadoras de 
uma representação que se consolida em regras federais que devem ser respeitadas. Este 
processo é fiscalizado pelo Ministério Público (ANDRADE, 2010). 
Para Liberaty e Cyrino (1997, p. 15), os conselheiros são 
 
[...] fiscalizadores de todo o sistema de atendimento a infância e juventude, bem 
como, enquanto proposta de desjurisdicionalização, tratarem-se também de fruto 
desse anseio de abrir espaços para a sociedade civil na co-gestão dos interesses 
relacionados a população infanto-juvenil, demonstrado especialmente pelo fato de 
que os conselheiros são pessoas da comunidade e por ela escolhidos para o 
exercício de tão relevante função. 
 
Por estarem constantemente ligados aos problemas da criança e do adolescente, os 
conselheiros têm a tarefa de encaminhar e acompanhar os casos de maneira que ocorra um 
entrosamento com a sociedade, e não deixar antigos modelos da situação irregular interferir 
no cumprimento de seu papel, passando a adotar a Doutrina da Proteção Integral. 
O art. 140 do ECA trata dos impedimentos ao exercício desta função, ficando clara a 
impossibilidade de pessoas com grau de parentesco servirem no Conselho, como cônjuges, 
ascendentes ou descendentes, sogro, genro ou nora, irmãos, cunhados, tio, sobrinho, padrasto, 
madrasta e enteado. Nestes casos de impedimentos, as regras são taxativas, ou seja, não cabe 
interposição de qualquer medida judicial. 
O Conselho Tutelar, por ser um espaço legítimo da comunidade, por meio de seus 
representantes atende a suas crianças, adolescentes e famílias na defesa, orientação, 
encaminhamento das necessidades e demandas que apresentam. Este órgão tem liberdade e 
independência na atuação funcional. As funções exercidas são de natureza executiva, cabendo 
a ele estabelecer qualquer sansão para forçar o cumprimento de suas decisões. Quando 
necessário, pode representar ao poder judiciário e encaminhar junto à rede de serviços 
públicos e privados, quando estes não cumprem o dever para com as crianças e adolescentes e 
suas famílias. 
Quando uma criança ou adolescente tem seu direito privado, ameaçado ou violado, 
medidas de proteção devem ser acionadas. Elas podem ser identificadas por meio de queixas e 
reclamações, como reporta o art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são 
aplacáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados: por 
 
 
31
ação ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou 
responsável; em razão de sua conduta. 
O Conselho Tutelar tem a possibilidade de interagir com outros órgãos de proteção 
que constituem espaços necessários para o estabelecimento de novos mecanismos de ação 
política que se proponha a assegurar os direitos previstos no Estatuto. Sobre estas 
considerações, Martins (2004, p. 199) ressalta a importância de 
 
[...] implementara política de atenção à criança enquanto ação integrada, uma vez 
que as políticas sociais destinadas a crianças e adolescentes têm a necessidade de se 
articular às políticas das mais diversas áreas, como a saúde, educação, assistência 
social, trabalho e garantia de direitos, para haver um entendimento realmente efetivo 
para essa população. 
 
São incontestáveis os resultados positivos destes esforços que converteram à causa da 
proteção integral à infância e juventude. Rizzini e Pilotti (2011, p. 320) assinalam a 
importância do funcionamento de Conselhos Tutelares nos mais diversos recantos do país. O 
melhor impulso que pode ter a implantação do Estatuto virá, sem dúvida, de sua capacidade 
para revelar-se um instrumento eficiente na resolução da problemática social da infância e da 
juventude no país. Para demonstrar tal validade terá, pois, que produzir resultados a curto e 
médio prazo. Nisso, por sua vez, dependerá dos conselhos e fundos, que são os dispositivos 
de implementação no cotidiano da sociedade brasileira. 
De acordo com a temática proposta para este estudo, o item que segue apresenta o 
histórico, a organização e a atuação do Conselho Tutelar no município de Ijuí, RS. Apresenta 
também a forma como ocorre o processo de escolha dos conselheiros e as atribuições que lhes 
são pertinentes. 
 
2.2 O CONSELHO TUTELAR EM IJUÍ 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, como lei tutelar específica, concretiza, define 
e personifica o dever abstratamente imposto pela Constituição Federal na instituição do 
Conselho Tutelar, cujo órgão é encarregado pela sociedade para zelar pelo cumprimento dos 
direitos da criança e do adolescente. O Conselho Tutelar, portanto, não é apenas uma 
experiência, mas uma determinação constitucional. 
Como abordado no item anterior, é a lei municipal que estabelece o modo de 
funcionamento do Conselho Tutelar e o montante de recursos que será necessário para tanto. 
 
 
32
Ou seja, o Estatuto cumpre o instituído no art. 30 da Constituição Federal de 1988, em seu 
inciso II, em que define o nível administrativo local para suplementar a legislação federal e 
estadual no que couber. 
 O Conselho Tutelar hoje se localiza junto ao prédio do Centro de Referência da 
Assistência Social (CREAS), na Rua 7 de Setembro, 197, esquina com a Rua 14 de Julho, no 
Centro, em Ijuí, RS. Esta última eleição constitui-se na sétima eleição a Conselheiro Tutelar 
no município, sendo o atual mandato referente ao período 2011/2013, ou seja, de três anos, 
permitido uma reeleição. 
A especificidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente é 
assumir um caráter especial que lhe proporciona atribuição com a missão de deliberar sobre as 
políticas relacionadas à criança e ao adolescente. No município de Ijuí foi criado o Conselho 
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMDICA), pela lei municipal nº 
2.611/1991, alterada pela Lei nº 4.690, de 30 de maio de 2007 e, posteriormente, pela Lei nº 
5.305/2010. 
O Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de Ijuí foi criado por Lei Municipal, 
conforme dispõe o art. 1º da Lei nº 2.7271, sancionada em 03 de janeiro de 1992, sendo 
efetivamente implantado e integrado de forma definitiva no quadro das instituições 
municipais. Neste período o prefeito em exercício, Valdir Heck, oficializou o cumprimento 
no disposto nos arts. 30 e 38 da Lei Orgânica do Município, e a Câmara de Vereadores 
aprovou e sancionou esta Lei, que no total possui 16 artigos. 
Posteriormente, a Lei n° 5.305, de 20 de novembro de 2010, em seu capítulo II, art. 2°, 
afirma: 
 
O Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de Ijuí, criado pela Lei Municipal 
n° 2.727, de 03 de janeiro de 1992, pelas modificações impostas pela Resolução n° 
75, de 22 de outubro de 2001, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do 
Adolescente e a Lei Federal n° 8.242, de 12 de outubro de 1991, que cria o Conselho 
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), cumulado pela 
portaria n° 120/97 do Ministério da Justiça, passa a reger-se por esta Lei, em 
obediência às diretrizes da Lei Federal n° 8.069/90 – ECA e art. 30, inciso II, da 
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. 
 
As duas Leis Municipais que foram mencionadas – a Lei n° 2.727/92, que cria o 
Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de Ijuí, e a Lei nº 5.305/2010, que se refere à 
 
1 Para maior conhecimento, no Anexo E deste estudo tem-se uma cópia da referida Lei. 
 
 
33
organização, funcionamento e atuação do Conselho Tutelar de Ijuí – destacam-se em relação 
ao assunto tratado neste capítulo. 
Definida a origem e a instalação do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente no 
município de Ijuí, passa-se agora a relatar o processo de escolha dos conselheiros que fazem 
parte do seu quadro funcional e que desempenham as funções anteriormente descritas. 
 
2.2.1 Processo de escolha dos Conselheiros 
 
A Lei Municipal nº 5.305/2010, em vigor, dispõe sobre a organização, funcionamento 
e atuação do Conselho Tutelar dos Direitos da Criança e do Adolescente de Ijuí. Segundo sua 
orientação e com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme art. 139, é a Lei 
Municipal que estabelece o processo de escolha dos conselheiros. Para tanto, a comunidade, 
representada pelo Conselho Municipal de Direitos, bem como o Poder Executivo e a Câmara 
Municipal, deverão discutir amplamente os critérios e definir a forma de escolha, refletindo a 
realidade local. Deverão, ainda, ter a preocupação e o cuidado para que realmente sejam 
escolhidas pessoas de reconhecida atuação na promoção e defesa da criança e do adolescente. 
O art. 1º da Lei nº 5.305/2010, parágrafo único, estabelece que o Conselho Tutelar é 
composto por cinco membros titulares e cinco membros suplentes, com mandato de três 
anos, permitida uma reeleição. A escolha e a atuação dos seus componentes são 
regulamentadas pela lei federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto 
da Criança e do Adolescente e pelas disposições contidas na presente Lei e nas que 
eventualmente lhe seguirem. Observa-se que a candidatura é individual e independente de 
vínculo partidário. 
Para o pleito eleitoral do Conselho Tutelar o art. 31 da Lei Municipal nº 5.305/2010 
esclarece: 
 
o COMDICA indicará e nomeará a comissão Eleitoral responsável pela organização 
do pleito, bem como por toda a condução do processo eleitoral do município o 
COMDICA indicara e nomeara Comissão Eleitoral responsável pela organização do 
pleito, bom como por toda a conclusão do processo eleitoral. Como estabelece o 
ECA em seu Capítulo IV, art. 139 – Da escolha dos conselheiros, estabelecido por 
lei municipal, sob responsabilidade do conselho municipal e fiscalizado pelo 
Ministério Público. 
 
Por meio de edital o COMDICA, divulga o processo de escolha e posse do Conselho 
Tutelar da Criança e do Adolescente. Este órgão deliberativo de cooperação e assessoramento 
 
 
34
governamental ainda controla a Política Municipal de Atendimento à Criança e ao 
Adolescente no âmbito do Município de Ijuí, com a finalidade de auxiliar a administração na 
orientação, deliberação, fiscalização e controle das matérias de sua competência, com 
atribuição definida na presente lei. 
O COMDICA apresenta em, no máximo, 90 dias, as resoluções necessárias para 
regulamentar a eleição, tornando público o processo de inscrição dos interessados à 
candidatura a conselheiro tutelar. Também é divulgada a data da eleição dos conselheiros 
tutelares e de registros das candidaturas, assim como os documentos necessários à inscrição e 
o período de duração da campanha eleitoral. 
Para candidatura a membro do Conselho Tutelar, no município de Ijuí, são exigidos os 
seguintes requisitos: 
a) Reconhecida idoneidade moral; 
b) Ter idade superior a 21 anos, conforme

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