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SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO Heloisa Helena Fonseca do Nascimento Orientadora: Profª Draª Rosemeri Scalabrin Pará INSTITUTO FEDERAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO Heloisa Helena Fonseca do Nascimento Orientadora: Profª Draª Rosemeri Scalabrin Belém Dezembro de 2020 Título: SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASI- LEIRA E AFRICANA Autor(a) Heloisa Helena Fonseca do Nascimento Lócus de Implementação do projeto e sua localidade Instituto Federal do Pará/Campus Rural de Marabá- CRMB Município da Escola Marabá –Pará Professora Orientadora Drª Rosemeri Scalabrin Programa de Ensino Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica -PROFEPT Instituição Associada Instituto Federal do Pará- IFPA – Campus Belém Linha de pesquisa Práticas Educativas em Educação Profissio- nal e Tecnológica Palavras-chave Sequência Didática; Ensino de História e Cul- tura Afro-brasileira e Africana; Ensino Médio Integrado Formato do Material didático Sequência didática Público alvo Estudantes do Cursos técnico em Agropecu- ária Integrado ao Ensino Médio Designer Carol Mayer Emelentos gráficos Vetor criado por freepik - br.freepik.com Conteúdo (org.) Heloisa Fonseca e Rosemeri Scalabrin 4 APRESENTAÇÃO Esse produto é parte da pesquisa realizada no Mestrado do Programa da Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), intitulado: Ensino de Histó- ria e Cultura Afro-brasileira e Africana na Educação Profissional e Tecnológica: Experiências do Ensino Médio Integrado no IFPA, o qual foi aplicado em três turmas do curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio do Campus Rural de Marabá (CRMB), do Instituto Federal de Educação, Ciên- cia e Tecnologia do Pará (IFPA). Esse produto apresenta as práticas docentes por mim desenvolvidas nesta sequência didática, no período em que atuei como titular das disciplinas “História e Cultura Afro-brasileira” e “Sociologia” do referido Campus, organizadas a partir do projeto de pesquisa do mestrado sob a orientação da professora doutora Rosemeri Scalabrin, também profes- sora do CRMB. O produto foi elaborado e compartilhado nos encontros semestrais de pla- nejamento institucional, com os colegas da área das Humanidades, com vis- tas a exercitar a interdisciplinaridade. O eixo central abordado foi: Histórias de Vidas de Pessoas Negras em dife- rentes contextos, tomando como referência textos literários, materiais audiovisuais: clipes musicais, curta- metragens, filmes além de referen- cial teórico relevante na temática. Os autores e personagens desses materiais são negros e negras, como forma de valorizar o sujeito afro- descendente, sua história, seu protagonismo na sociedade e no proces- so de construção e sistematização de conhecimentos. O percurso formativo desenvolvido nas turmas priorizou a aprendizagem por meio dos gêneros textuais e outras expressões artísticas, mais especi- ficamente a literatura, a poesia, a música, fotografia e audiovisual. A escolha desses materiais, inicialmente, respondia à dificuldade de mate- rial de suporte pedagógico existente e a necessidade de ressignificar as aulas, bem como motivar os estudantes para a leitura e interpretação de produtos culturais que possam dar novos significados e interpretações à história do Brasil e entendimento dos processos de exclusão e reprodu- ção da desigualdade racial. As atividades foram desenvolvidas no decorrer do 2º semestre de 2018 e de junho a dezembro de 2019 por meio das aulas das disciplinas denomina- das: História e Cultura Afro-brasileira e africana e de Sociologia e que serviram de inspiração para a proposição dessa problemática, e também se esten- deu para início do 1º semestre de 2020, através de atividades remotas. 5 A ementa do eixo percorreu pelas seguintes temáticas: Diferentes Mode- los de Relações Raciais: Segregação Racial x Democracia Racial. Os casos do Brasil e do Sul dos Estados Unidos; Relação Indivíduo e Sociedade; Pobreza e Exclusão Social; Violência e Racismo; Personalidades Negras, bem como os temas transversais tais como Papéis sociais de gênero, Divisão Social e Sexual do trabalho, Trajetórias e Lugar de fala de indiví- duos subalternos e grupos sociais excluídos. A sequência didática se desenvolveu por uma prática interativa, envol- vendo três turmas do curso técnico em agropecuária integrado ao Ensi- no Médio do Campus Rural de Marabá na perspectiva de fomentar uma visão ético-crítica e reflexiva. As turmas envolvidas foram as que ingressaram nos anos de 2017, 2018 e 2019 no momento das intervenções estavam cursando o III, II e I ciclos do Curso respectivamente, sendo uma do III ciclo, uma no II ciclo, as tur- mas possuem em média 32 alunos cada. Essas turmas forma seleciona- das considerando que cada uma delas se apresentava em um momento distinto do percurso formativo presumindo, portanto, níveis distintos de familiaridade e entendimento da questão racial e reflexões de diferentes níveis acerca da história do Brasil e dos processos sociais que lhe consti- tuíram. É interessante frisar que algumas metodologias e recursos utili- zados com as turmas mais novas, já tinham sido experimentados com as turmas anteriores, de forma que as sequências didáticas com as turmas ingressantes se constituíram numa sistematização, síntese e aprimora- mento de práticas realizadas anteriormente. A metodologia baseada no modelo de sequência didática, proposta por (DOLZ & SCHNEUWLY, 2004), composta de apresentação do plano de aulas sequenciadas; sondagem sobre o conhecimento dos educandos sobre a temática; promoção de leituras críticas dos textos, filmes, músicas e outros materiais e reflexões acerca dos autores e seu contexto de produção. Os temas ou recortes temáticos foram pensados a partir da interação das ementas com levantamento realizado em duas coletâneas (MOU- RA, 2001) e (SANTOS, 2016), a primeira sistematiza bibliografias sobre o negro no Brasil de 1637 a 2016 e a segunda voltada mais diretamente para a implementação da Lei 10.639. Dessa forma, foi possível selecio- nar alguns temas de destaque a serem abordados em sala de aula tais como: Biografias de personagens significativas; Escravidão; Racismo e rela- ções raciais- Comparação entre Brasil e Estados Unidos; Mulheres Negras; Literatura; Violência e questão racial. A partir da ideia de Pedagogias das Emergências proposta por Boaven- tura de Souza Santos, a intelectual negra Nilma Lino Gomes (2017) pro- põe uma leitura do Movimento Negro como sujeito político educador destacando, foi possível discutir a prática política do engajamento como gatilho para mudanças no campo educacional. 6 A abordagem articulada ente temas, autores, experiências no desenvol- vimento da prática docente em sala de aula no decorrer dos dois semes- tres possibilitou ressignificar a atuação nas disciplinas História e Cultura Afro-brasileira e africana e Sociologia, inspirada nos diálogos anteriores com as disciplinas de Geografia e Artes, materializando o exercício inter- disciplinar. Esse processo demonstrou que não é possível pensar a Educação Profis- sional e Tecnológica descolada do contexto político cultural mais amplo, as questões relativas às políticas educacionais, como também os seus pontos de toque com as demandas de diversos grupos sociais, sobretu- do os marginalizados, pelo acesso, permanência e valorização dos seus saberes no âmbito escolar. 7 1. SEQUÊNCIA DIDÁTICA As abordagens apresentadas a seguir foram desenvolvidas a partir do eixo: Histórias de Vidas de Pessoas Negras em diferentes contextos, e das temáticas: Biografias de personagens significativas; Racismo e relações raciais; Mulheres Negras; Literatura, juntamente com os conteúdos e as metodologiasabaixo descritos: Eixo: Histórias de Vidas de Pessoas Negras em diferentes contextos his- tóricos e sociais. Ementa: Diferentes Modelos de Relações Raciais: Segregação Racial x Democracia Racial. Os casos do Brasil e do Sul dos Estados Unidos; Rela- ção Indivíduo e Sociedade. Temas transversais- Papéis sociais de Gênero, Divisão Social e Sexual do trabalho, Trajetórias e Lugar de fala de indivíduos subalternos e grupos sociais excluídos. ABORDAGEM 1: Introdução: Apresentação da proposta da aula e de atividade escrita. Material Motivador: Filme “Histórias Cruzadas” (The Help, Tate Taylor, 2011, EUA) Sinopse - Nos anos de 1960, no Mississippi, Skeeter é uma garota da sociedade que retorna determinada a se tornar escritora. Ela começa a entrevistar as mulheres negras da cidade, que deixaram suas vidas para trabalhar na criação dos filhos da elite branca, da qual a própria Skeeter faz parte. Aibileen Clark, a empregada da melhor amiga de Skeeter, é a primeira a conceder uma entrevista. Apesar das críticas, Skeeter e Aibileen continuam trabalhando juntas e, aos poucos, conseguem novas adesões. Metodologia: Aula Expositiva e Dialógica; Exercício de Produção Textual; Uso de Tecnologias de Informação e Comunicação TIC´s; Percurso pedagógico: Antes de iniciar a exibição do filme, a professora apresentou o contexto histórico, geográfico e político no qual a trama se desenvolve, chamando atenção para referências importantes como as Leis Jim Crow (1876 a 1965), que eram leis locais e estaduais que institu- cionalizaram a segregação racial nos EUA e o Movimento pelos Direitos Civis, representado por lideranças como Medgar Evers, morto em 1963 e Martin Luther King Jr., assassinado em 1968. Cada aluno, individualmente, escolheu, nos primeiros 30 minutos do fil- me umas das personagens com o objetivo de observá-la mais atenta- mente no desenrolar da trama. Ao final, produziam um texto, de 1 a 2 laudas, descrevendo a personagem, e apresentando os principais confli- tos e problemas vivenciados por ela. 8 Após a produção do texto pelos alunos foi realizado debate sobre os aspectos do filme que chamaram mais atenção dos e a partir daí a pro- fessora buscou apresentar as diferentes perspectivas de segregação racial a partir de situações retratadas no filme e como processos simi- lares se desenvolvem no Brasil, embora predominantemente de forma negada e diluída culturalmente, embora também em caráter estrutural e com aspectos institucionais. Atividade avaliativa: Produção de texto. Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Datashow, caixa de som. Sinopse Educativa Esse longa-metragem de ficção, protagonizado pela atriz negra norte-americana Viola Davis retrata o cotidiano da segregação racial no Sul dos EUA através das histórias de três empregadas domésticas negras. Como pano de fundo a trama apresenta a ascensão do movimento por direitos civis que se constitui um marco na luta do povo negro contra o racismo que se somou de forma significativa à revolta dos demais povos no contexto da diáspora negra. Trata-se de um material rico para abordar de forma compara- tiva os formatos históricos que assumiram as relações raciais a partir de realidades escravocratas e coloniais. Por esmiuçar as particularidades do racismo no âmbito privado e público, partindo da situação de trabalho doméstico esse pro- duto cinematográfico lança luz sobre a realidade brasileira em que o modelo de exploração no âmbito doméstico se constitui numa forte continuidade com o passado escravista. 10 ABORDAGEM 2: Introdução: Apresentação da proposta da aula e de atividade escrita. Material Motivador: Letra impressa e áudio da música “Canto das três raças” na voz da cantora Clara Nunes. Metodologia: Aula Expositiva e Dialógica; Exercício de Produção Textual; Uso de Tecnologias de Informação e Comunicação TIC´s; Percurso pedagógico: Cada educando recebeu a letra da música impres- sa. Num primeiro momento a turma foi convidada a apenas ouvir a músi- ca, acompanhando a letra através da leitura silenciosa, num segundo momento todos cantam juntos. Em seguida a professora apresentou de forma introdutória o que seria o “Mito da Democracia Racial”, uma ideologia nacional, construída no iní- cio do século XX que tem no livro “Casa grande e senzala” do intelectual pernambucano Gilberto Freyre um expoente. Nesse livro o autor cons- trói uma interpretação do Brasil, defendendo que as relações raciais por aqui teriam uma característica branda, de interdependência e convivên- cia próxima entre senhores e escravizados, dando lugar assim a uma sociedade harmoniosa, integrada e não cindida por conflitos raciais. Embora a letra da canção resguarde ainda esse foco nos três pilares da formação sócio-cultural brasileira ela apresenta o aspecto violento e conflituoso e de revolta do povo negro contra a escravidão. Dessa forma, é possível com esse material estabelecer um ponto de diá- logo entre a história da colonização do Brasil e as características contem- porâneas da segregação das populações afrodescendentes no âmbito, econômico, político e social. Canto das Três Raças Clara Nunes Ninguém ouviu Um soluçar de dor No canto do Brasil Um lamento triste Sempre ecoou Desde que o índio guerreiro Foi pro cativeiro E de lá cantou Negro entoou Um canto de revolta pelos ares No Quilombo dos Palmares Onde se refugiou Fora a luta dos Inconfidentes Pela quebra das correntes Nada adiantou E de guerra em paz De paz em guerra Todo o povo dessa terra Quando pode cantar Canta de dor Ô, ô, ô, ô, ô, ô Ô, ô, ô, ô, ô, ô “O ATO POLÍTICO DE ESCREVER VEM ACRESCIDO DO ATO POLÍTICO DE PUBLICAR, UMA VEZ QUE, PARA ALGUMAS, A OPORTUNIDADE DE PUBLICAÇÃO E RECONHECIMENTO DAS SUAS ESCRITAS, E OS ENTRAVES A SER VENCIDOS, NÃO SE LOCALIZAM APENAS NA CONDIÇÃO DE A AUTORA SER INÉDITA OU DESCONHECIDA. NÃO SÓ A CONDIÇÃO DE GÊNERO VAI INTERFERIR NAS OPORTUNIDADES DE PUBLICAÇÃO E NA INVISIBILIDADE DA AUTORIA DESSAS MULHERES, MAS TAMBÉM A CONDIÇÃO ÉTNICA E SOCIAL” (CONCEIÇÃO EVARISTO, FEV/2017) Atividade avaliativa: Produção de texto. Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Datashow, caixa de som. Avaliação: Produção de texto. 13 ABORDAGEM 3 Introdução: Apresentação da proposta da aula e de atividade escrita. Material Motivador: Livro “Quarto de despejo” de Carolina Maria de Jesus Metodologia: Aula Expositiva e Dialógica; Exercício de Produção Textual; Uso de Tecnologias de Informação e Comunicação TIC´s; Percurso pedagógico: A turma recebeu antes da aula pequenos fragmen- tos do livro contendo 3 ou 4 registros diários de Carolina para ler antes da aula. No primeiro momento da aula os estudantes responderam um questionário com perguntas objetivas relacionadas à leitura, conforme apresentação a seguir: Perguntas Motivadoras: Que tipo de história é contada nesse livro? O que mais lhe chamou atenção na narrativa da autora? Em que aspectos a realidade retratada no livro permanece atual? Atividade avaliativa: as respostas às perguntas foram utiliza- das para fomentar o debate sobre a obra. Numa perspectiva interdisciplinar com o conteúdo de Sociologia o tema trabalhado foi “Pobreza e Exclusão Social”. Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Datashow, caixa de som. 14 ABORDAGEM 4: EXIBIÇÃO DO DOCUMENTÁRIO “30 ANOS DEPOIS: EXCLUSÃO SOCIAL”, Introdução: Apresentação da proposta da aula Material Motivador: Documentário Metodologia: A aula iniciou com a apresentação do documentário como mote para estimular o debate sobre a exclusão social, em especial da população negra e relacionar com a realidade vivenciada pelos alunos, através do levantamento de situações vivenciadas por eles. Assim, após a apresentação do documentário os alunos foram estimulados a falar sobre sua compreensão sobre o tema exclusão social. Em seguida a professora fez um aprofundamento teórico através de uma exposição, em que estimulou a visão crítica sobre a definição de pobreza, apresentou os índices decaracterização desse fenômeno historicamente e diversos países, definição e aspectos da exclusão social e racial no Brasil; modelos de segregação urbana e regional: favelas, periferias, zona rural. Dando prosseguimento os alunos formaram pequenos grupos, com o objetivo de refletir sobre quais aspectos da exclusão social e racial estão mais presentes no cotidiano deles, seja na sua família, assentamento, vilas, bairro ou município. 15 Atividade avaliativa: Produção de texto. Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Datashow, caixa de som. ABORDAGEM 5: EXIBIÇÃO DO CLIP “DELINQUENTES” DO RAPPER PARAENSE BRUNO BO; Introdução: Apresentação da proposta da aula Material Motivador: Música Metodologia: A letra da música foi distribuída aos estudantes. Após ouvir a música os estudantes foram estimulados a refletir sobre o significado da letra de modo a estimular a visão crítica sobre como embora convi- vam num mesmo espaço como é o caso do Mercado Ver-o-Peso, ponto turístico da cidade de Belém, ambulantes, moradores de rua, mendigos compõem um cenário no qual a segregação é simbólica e marcada pela exclusão ou capacidade de inserção no universo do consumo de lazer e mercadorias que aquele espaço social oferece. Atividade avaliativa: Pesquisa em grupo (até cinco participantes) de músicas relacionadas ao tema da pobreza e exclusão a partir de gru- pos marginalizados, apresentação da música escolhida, dados da músi- ca (compositor, intérprete, letra, ano e principais aspectos abordados), apresentação da motivação e argumentação que fundamentou a esco- lha da música pelo grupo. Música trazida por um dos grupos para discutir a questão da exclusão social 16 Música: Cota não é esmola Arista: Bia Ferreira Ano: 2019 O que os motivou a escolher essa música para discutir a questão da exclusão social no Brasil nos dias atuais? Destacaram as dificuldades que os jovens de periferia, pobres tem para continuarem seus estudos. A desigualdade de oportunidades que é derivada da desigualdade econômica, a falta de recursos básicos como transporte, alimentação de qualidade, livros e incentivo para se desen- volver na vida. Injustiça apontada nessa “competição” com jovens de classe média e ricos. Ao final a professora fez comentários sobre a apresentação e encerrou com a apresentação do curta “O Papel e o Mar” (13’), inspirado na vida e obra de Carolina Maria de Jesus. Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Datashow, caixa de som. “NESSA TEIA, O AFRO-BRASILEIRO SE VÊ TOLHIDO DE TODOS OS LADOS, PRISIONEIRO DE UM CICLO VICIOSO DE DISCRIMINAÇÃO- NO EMPREGO, NA ESCOLA- E TRANCADAS AS OPORTUNIDADES QUE LHE PERMITIRIAM MELHORAR SUAS CONDIÇÕES DE VIDA, SUA MORADIA, INCLUSIVE. ALEGAÇÕES DE QUE ESSA ESTRATIFICAÇÃO É “NÃO-RACIAL” OU PURAMENTE “SOCIAL E ECONÔMICA” SÃO CHAVÕES QUE SE REPETEM E RACIONALIZAÇÕES BASICAMENTE RACISTAS: POIS O FATOR RACIAL DETERMINA A POSIÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA NA SOCIEDADE BRASILEIRA” (ABDIAS NASCIMENTO, 1976) Sinopse Educativa Esse curta metragem apresenta duas personagens importantes da histó- ria do Brasil, a escritora negra Carolina Maria e Jesus, autora de “Quarto de Despejo” e o marinheiro João Cândido, conhecido como Almirante Negro, um dos líderes da Revolta da Chibata que se contrapôs aos casti- gos físicos e péssimas condições de trabalho a que eram submetidos os marinheiros negros, numa das primeiras sublevações que tinha como foco a discriminação racial no mundo do trabalho. Material interessante para apresentar as histórias de heróis e artistas negros pouco conhecidos no ambiente escolar e discutir a transformações no papel das pessoas negras na sociedade brasileira no último século. Atividade avaliativa: Produção de texto. Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Datashow, caixa de som. Material motivador 6: O Papel e o Mar” (13’), inspirado na vida e obra de Carolina Maria de Jesus. Introdução: Apresentação da proposta da aula Material Motivador: Documentário Metodologia: Esse curta foi proposto como forma de aprofundar o conhecimento acerca da escritora Carolina Maria de Jesus, autora do livro que motivou essa abordagem. “OS MOVIMENTOS SOCIAIS SÃO PRODUTORES E ARTICULADORES DOS SABERES CONSTRUÍDOS PELOS GRUPOS NÃO HEGEMÔNICOS E CONTRA HEGEMÔNICOS NA NOSSA SOCIEDADE” (NILMA LINO GOMES, 2017) 20 ABORDAGEM 7: VIOLÊNCIA E RACISMO Introdução: Apresentação da proposta da aula Material Motivador: Manchetes e matérias de jornais e revistas que demonstrem aspectos da violência relacionada à questão racial no Brasil Metodologia: Os educandos foram convidados a pesquisar recortes de jor- nais nos quais aparecessem o tema da violência relacionada ao racismo. Atividade 1: Debate com a participação do estudante do curso de Histó- ria da Unifesspa Eduardo Silva e do Advogado Adebral Favacho ligado ao setor de Direitos Humanos da OAB Pará. Percurso pedagógico: O primeiro momento da aula foi de exposição acerca dos aspectos que evidenciam a interrelação histórica entre vio- lência e racismo no Brasil. Desde considerações acerca da dominação exercido através da violência física, cultural e simbólica que marcam o período da escravidão até a sua expressão contemporânea marcada pela violência policial que tem nas pessoas negras suas principais víti- mas, os crimes violentos, o encarceramento em massa e a violência sim- bólica que constitui o imaginário racista, a falta de representatividade, os estereótipos, a hiper sexualização dos corpos negros dentre outros. A partir disso, a atividade proposta foi que os estudantes pesquisassem, em jornais e revistas online ou impressas, matérias jornalísticas que evidencias- sem essa conjunção entre racismo e violência no Brasil. A proposta era criar um painel que estampasse essa realidade expressa nos jornais como forma de dar visibilidade e denunciar essa faceta do racismo no Brasil. Finalizamos esse conjunto de aulas com um debate acerca dos Direitos Humanos e Genocídio da Juventude Negra no Brasil. 21 Atividade avaliativa: Realização de pesquisa de manchetes e matérias de jornal que expressem a relação entre violência e racismo e participação no debate com os convidados. Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Material impresso, TNT preto. 22 ABORDAGEM 8: A PRESENÇA NEGRA NA HISTÓRIA DO BRASIL: BIOGRAFIA DE PERSONALIDADES Introdução: Apresentação da proposta da aula Material Motivador: Visita online ao conteúdo virtual do Museu Afro- Brasil, São Paulo. Metodologia: O Museu Vivo, no qual as salas de aulas, dos professores e dos setores administrativos da escola foram mudadas temporariamente para homenagear e dar a conhecer personalidades negras que marca- ram a história do Brasil. A partir disso, cada educando escolheu uma daquelas personalidades para dar aprofundamento, através de pesqui- sa dos dados biográficos, percebendo seu pioneirismo, seu legado, os obstáculos vivenciados e a sua importância histórica. Percurso pedagógico: Durante a semana da consciência negra a turma foi orientada a navegar pelo site do Museu AfroBrasil, instituição situada no Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Paralelo a isso, a profes- sora produziu uma intervenção que “batizou” todas as salas do Campus com nomes de personalidades negras em vários campos: artísticos, luta abolicionista, luta quilombola, científico, movimento negro, dentre outros. Após as atividades do Evento da Consciência negra, retomamos o deba- te sobre representatividade, orientando os estudantes a aprofundar as pesquisas sobre aquelas personalidades e entregar essas pesquisas por escrito. Atividade avaliativa: Atividade escrita com o resumo da pes- quisa acerca da personalidade negra escolhida. Interdisciplinaridade: História e Cultura Afro, História, Geografia e Física Duração: 08 aulas de 50 minutos. Recursos: Datashow, caixa de som. 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS A sequência didática contribuiu não somente para o processo de ensino- -aprendizagem dos estudantes,mas também para a ressignificação de cada educando como sujeito histórico - social, na medida em que pro- vocou mudança de comportamentos dos estudantes e dos professores envolvidos. No que se refere a ação discente, verificamos mudanças positivas, como alguns deles passaram a ter orgulho e assumir sua identidade como pes- soa negra, valorizando os cabelos afro, realizando transição capilar, ado- tando o estilo black power, e mudanças de atitude sendo mais participa- tivos e demonstrando mais envolvimento nas atividades em sala de aula. No que se refere a atuação docente, a sequência didática desenvolvida, possibilitou a ressignificar a disciplina, por meio da realização de ativi- dades interdisciplinares, bem como no aprofundamento da relação teó- rico-prática e o levantamento de material alternativo, que possibilitou a superação da a problemática vivenciada com a falta de material e de experiências de natureza metodológica. Essa proposta de compartilhar sequências didáticas, refletindo sobre processos de pensar as intervenções didáticas, partidas e chegadas, vivências e ideias de como fortalecer o aprendizado e a formação mul- tidimensional mostra a necessidade de uma prática integrada e de uma postura política diante dos desafios de superação de uma educação dua- lista e limitada ao aspecto da profissionalização. Os desafios colocados aos educandos e educandas mudam constante- mente, o próprio mundo do trabalho se transforma respondendo a lógicas que são fundamentadas em processos políticos, econômicos e culturais. Construir uma sociedade livre do racismo implica modificar as condições de participação da juventude na produção e distribuição dos bens econômicos, simbólicos e sociais. Sem transformação estrutural, eles não poderão alçar certos voos, sentirão o peso dos obstáculos sobre suas aspirações e sonhos gerando frustrações. A essa juventude negra e camponesa está colocado o desafio de abrir espaço de desenvolvimento em meio à uma conjuntura que os exclui. A desigualdade racial se torna mais extrema nas crises eco- nômicas, políticas e sociais. Portanto, a consciência histórica e crítica é uma ferramenta indispensável nos processos formativos . 24 3. REFERÊNCIAS BRASIL. Plano Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília, DF: SECAD; SEPPIR, jun, 2009. EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2017, 3ªed. GOMES, Nilma L. Educação e relações raciais: refletindo sobre algu- mas estratégias de atuação. MUNANGA, Kabengele. (Org.). Superan- do o racismo na escola. Brasília, DF: MEC, SECAD, 2005. ______. O movimento negro educador. Saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017. MOURA, Carlos E. M. de. AfroNegros, seus descendentes: Brasil uma bibliografia em construção (1637-2011). São Paulo: Museu Afro Brasil, 2012. SANTOS, B. S. (org.) Conhecimento prudente para uma vida decente. São Paulo: Cortez, 2004. NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 2017. SANTOS, José Rufino dos. O saber do negro. 1ed. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2015. ______. A questão do negro na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Global editora, 2016. RECK, D.N. Breve história da África e dos africanos e o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas: da historiografia africana à aplicação da Lei 10.639/03. Revista Latino-Americana, vol 2, nº.6, 2013.