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UNIDADE 3 Legislação tributária e sistema tributário Teoria Geral do Tributo imagem sem audiodescrição O nosso primeiro passo é quanto à Teoria Geral do Tributo. É preciso que entendamos o que significa a ciência do Direito Tributário, o que é um tributo, à luz da sua definição legal, com todos os seus elementos, a classificação dos tributos, assim como a importante noção da chamada regra-matriz de incidência tributária. A ciência do Direito Tributário constitui ramo autônomo da pesquisa jurídica (especialmente face ao Direito Financeiro) e, portanto, possui princípios e campo próprio de investigação. Importante lembrar que, embora seja uma ciência autônoma, essa é uma classificação meramente didática, até mesmo porque o Direito Tributário sempre irá dialogar com outras disciplinas, a exemplo do Direito Civil, quanto à definição de alguns institutos (como a propriedade), do Direito Penal (crimes contra a ordem tributária), do Direito Administrativo (processo administrativo tributário) e, sobretudo, do Direito Constitucional (AMARO, 2017; SCHOUERI, 2018). Como objeto, o Direito Tributário dedica-se ao estudo das características dos tributos instituídos pelo Estado, assim como a relação entre os entes tributantes (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), como sujeitos ativos da obrigação tributária e sujeitos passivos (contribuintes e responsáveis tributários), a partir da conjugação entre os interesses do Estado quanto à arrecadação de receitas e as limitações constitucionais impostas ao mesmo, por meio de normas de proteção (regras e princípios). A definição legal de tributo é encontrada no art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN), segundo o qual: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (BRASIL, 1966, [s.p.]). Devemos notar que a definição legal em comento apresenta uma série de elementos, cuja compreensão nos fornece importantes informações sobre o que está abrangido pelo Direito Tributário como um todo. Note, caro aluno, que o art. 3º do CTN (BRASIL, 1966) traz os seguintes elementos: Prestação pecuniária. Compulsoriedade. Tributo (não é sanção por ato ilícito). Instituído por meio de lei. Cobrado por atividade administrativa plenamente vinculada. Vamos saber um pouco mais sobre cada um desses elementos? A prestação é o próprio objeto da relação jurídico-tributária e podemos dividi-la em dois elementos para sua adequada compreensão. De um lado, a prestação é o valor do tributo, em si, que é pago e que chamaremos de prestação principal; de outro lado, a prestação também envolve o cumprimento dos chamados deveres formais, acessórios, instrumentais, como, por exemplo, a emissão de notas fiscais e a entrega das declarações do Imposto sobre a Renda (IR). A prestação principal, aliás, é de natureza pecuniária, isto é, em dinheiro, via de regra. Isso porque não é possível o pagamento do tributo por meio de bens móveis (cujo termo técnico é pagamento in natura) (NOVAIS, 2019). ______ Atenção Embora não seja possível o pagamento de tributo por meio de bens móveis (por exemplo, pagar o valor do Imposto sobre a Renda com a entrega de uma safra de soja), não se pode confundir esse impedimento com a possibilidade de extinção do crédito tributário por meio da dação em pagamento de bens imóveis (prevista no art. 156, inciso XI, do CTN) (BRASIL, 1966). Trata-se de uma alternativa quanto à forma de adimplemento (pagamento do tributo), que equivale ao pagamento feito em dinheiro. Então, se há um débito perante o fisco, é possível dar em pagamento um imóvel (uma casa, um apartamento). ______ Além do mais, a prestação tributária é compulsória, isto é, é uma obrigação que todos, enquanto contribuintes, têm perante o Estado. É inescapável, salvo em situações muito específicas ligadas ao tema do planejamento tributário, nas quais é possível reduzir a carga tributária. Quando essa redução decorrer dos próprios processos empresariais que visem à eficiência das operações, não há possibilidade de não efetuar o pagamento dos tributos (SCHOUERI, 2018). ______ Dica No que se refere ao planejamento tributário, o Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966) possui regra específica quanto ao tema, justamente para evitar que a eventual redução da carga tributária incidente sobre as operações de uma empresa, por exemplo, seja objeto de esforço próprio, com esta finalidade. Isso quer dizer que, atualmente, no Brasil, no campo empresarial, sobretudo, somente se admite a redução da carga tributária, que incidiria sobre determinadas operações, se essa redução for um resultado do empenho da empresa em melhorar e aperfeiçoar as suas operações. A empresa não pode querer simplesmente reduzir tributos. Neste caso, estaríamos diante de uma economia lícita de tributos, a chamada elisão fiscal. Para combater o abuso no planejamento tributário, há no CTN (BRASIL, 1966) a chamada norma geral antielisiva, prevista no art. 116, parágrafo único, segundo a qual a autoridade administrativa tributária poderá desconsiderar atos ou negócios praticados com a finalidade de dissimular a incidência de tributos, isto é, quando verificar que não ocorreu uma economia lícita, mas ilícita (proibida) de tributos. ______ O tributo também não constitui sanção (punição) pelo cometimento de ato ilícito, o que significa dizer que ninguém suporta a tributação como uma penalidade por si só, isto é, o ato de cumprir com as obrigações tributárias decorre de previsões legais predeterminadas, não podendo essas previsões serem utilizadas para efeito de punir alguém (COSTA, 2019). ______ Exemplificando O tributo deve ser razoável quanto ao valor e respeitar a capacidade contributiva dos cidadãos e das pessoas jurídicas. A finalidade do tributo não pode ser a de limitar, além do necessário, o patrimônio dos contribuintes. Se isso acontecer, estaremos diante do fenômeno do confisco, o que é expressamente vedado pelo art. 150, inciso IV da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Interessante mencionar que o Supremo Tribunal Federal possui entendimento majoritário segundo o qual eventual multa aplicada em decorrência do não pagamento do valor principal do tributo, desde que não supere em 100% o seu valor, não é considerado como caso de efeito confiscatório e sim de imposição tributária proporcional. No Estado de São Paulo, aliás, a legislação relativa ao Imposto sobre a Propriedade Veicular (IPVA) prevê multa de 100% no valor do imposto principal, caso haja a inscrição do débito em dívida ativa (uma espécie de cadastro administrativo que antecede o momento de cobrança judicial do tributo por parte do fisco). ______ O tributo decorre de uma previsão legal. Sem lei, via de regra, não há possibilidade de instituição (criação) ou majoração (aumento) do tributo. No geral, fala-se aqui de lei ordinária (que é a espécie legislativa mais comum). Note, porém, que há atenuações (flexibilizações), isto é, algumas situações, relativamente a alguns tributos, que não dependem, na questão tributária, de lei em sentido estrito para a modificação de alguns de seus elementos (como alíquota e base de cálculo, por exemplo). Tais tributos poderão ser modificados por atos infralegais, como um decreto do Poder Executivo. Então, um ato do prefeito municipal poderá, por exemplo, atualizar a base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) em virtude da inflação; um decreto do presidente da República poderá alterar o prazo de recolhimento dos tributos. Além disso, para a alteração da alíquota (percentual que incide sobre a base de cálculo) de alguns tributos, também se dispensaa lei em sentido estrito, bastando um ato infralegal, como visto, um decreto do Executivo, uma portaria do Ministério da Fazenda. O Imposto de Importação (II), Imposto de Exportação (IE), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico nos Combustíveis (CIDE-Combustíveis) e o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços incidente sobre combustíveis (ICMS-Combustíveis), são os tributos que poderão sofrer alteração (majoração) por atos dessa natureza. ______ Assimile Apesar de o tributo não consistir em uma sanção por ato ilícito, é perfeitamente possível que, em virtude de práticas ilícitas, como, por exemplo, a situação em que uma pessoa aufere renda proveniente do tráfico de drogas ou do jogo do bicho, seja obrigada a pagar o valor relativo ao imposto sobre a renda. Note que importa aqui o preenchimento da situação que a lei tributária entende como necessária para o surgimento da obrigação de pagamento do tributo. No caso, apesar de a renda ser decorrente de um ato ilícito (tráfico de drogas é crime e o jogo do bicho, contravenção penal), isso não interessa ao Direito Tributário. É o chamado princípio penunia non olet (o tributo não cheira). Isto é, independentemente da fonte, se houver o preenchimento da circunstância legal (como no exemplo dado, auferir renda), haverá a incidência do respectivo tributo. ______ Por fim, o tributo é cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada, o que significa dizer que a autoridade tributária não pode escolher se procede ou não à cobrança do tributo. Atividade administrativa vinculada é, basicamente, a estrita observância da legislação e da legalidade, não havendo margem de escolha por parte da autoridade. Esta age em prol do interesse público: afinal, a arrecadação de recursos por meio dos tributos é essencial para a manutenção das atividades estatais. O tributo, como já sabemos, decorre de uma atividade estatal, sobretudo de uma previsão legal. Somente com isso, via de regra, é que são instituídos os tributos e determinadas as circunstâncias da vida real que sofrerão a incidência da norma e a da atividade do Estado para fins de arrecadação. Com isso, deve-se saber que a norma tributária deve conter alguns elementos tidos como obrigatórios. Trata-se da chamada regra matriz de incidência tributária, hipótese de incidência tributária (BALEEIRO; DERZI, 2018). A regra matriz de incidência reúne os elementos que caracterizam o tributo, que são aqueles que indicam quais as situações (fatos da vida) nas quais incidirá a norma definidora de tributo, resultando numa obrigação, numa prestação, na necessidade de pagamento do fisco (federal, estadual ou municipal). A lei tributária é que trará essas situações, como a de auferir renda (incide o IR); de ser proprietário de um bem imóvel em área urbana (incide o IPTU); de ser proprietário de um veículo automotor (incide o IPVA). Mas não basta a lei prever a situação específica na qual incide determinado tributo, é preciso que ela apresente outros elementos, tais quais: A causa do tributo (renda, patrimônio, serviço). Quem deverá pagar (identificação do contribuinte ou responsável). Quanto deverá ser pago (alíquota e base de cálculo). Quando deverá ocorrer o pagamento (prazo). Onde deverá ocorrer o pagamento (local, espaço geográfico) (MACHADO SEGUNDO, 2019). ______ Exemplificando Suponha que você seja sócio em uma sociedade empresária que preste serviços de reformas residenciais. Como há prestação de serviços, haverá a necessidade de pagamento do respectivo tributo, que, no caso, é o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), de competência do município onde ocorrer a prestação efetiva. Assim, sobre o preço do serviço (base de cálculo), incidirá determinada alíquota (%), por meio do qual se chegará ao valor em si do imposto. Caso ele não seja pago no prazo determinado pela respectiva lei, haverá, ainda, a imposição de uma multa. Fontes do Direito Tributário imagem sem audiodescrição Entendidos os elementos preliminares da legislação tributária, pode surgir a pergunta: de onde surgem os tributos? Quais as fontes do Direito Tributário? Já comentamos sobre a previsão legal (via de regra em lei ordinária) e já até sabemos que existe um Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966). Mas será que é só isso que precisamos saber? Claro que não! Vamos aprofundar esse conhecimento! As fontes do Direito Tributário podem ser subdivididas em: Materiais Formais. As fontes materiais nada mais são do que as riquezas em geral, isto é, os fatos da vida utilizados pelo legislador como veículos da incidência tributária. O legislador faz uma opção pelos fatos que sofrerão a incidência dos tributos. Por exemplo, a renda é tributada pelo Imposto sobre a Renda, os bens, pelo IPVA, IPTU, ou os serviços pelo ISS, e assim por diante (CARNEIRO, 2019; SABBAG, 2018). Já as fontes formais revelam de onde se originam os tributos sob um ponto de vista legislativo. Quais são os instrumentos a partir dos quais os tributos são previstos? São várias as fontes formais em Direito Tributário que analisaremos a partir de agora. A primeira e mais importante fonte formal é a Constituição Federal de 1988, uma vez que nela encontram-se os fundamentos principiológicos no entorno das limitações constitucionais ao poder de tributar pelo Estado. Seguidamente, temos que, à luz do art. 150, inciso I, da CF/88, os entes federados não podem instituir ou majorar tributos sem lei que o estabeleça. Aqui fala-se na lei ordinária, o tipo mais comum, como já tivemos a oportunidade de comentar. Todavia, a lei complementar (que é espécie legislativa adequada para matérias mais complexas) servirá para o estabelecimento de normas gerais em matéria tributária, conforme art. 146 da CF/88. Tanto é assim que o CTN (BRASIL, 1966) foi recepcionado pela CF/88 como lei complementar. Eventualmente, também é possível a utilização de medidas provisórias (cuja competência para edição é do presidente da República, para casos de relevância e urgência) para a instituição de tributos (como o Imposto de Importação, o Imposto de Exportação, o Imposto sobre Produtos Industrializados, o Imposto sobre Operações Financeiras e o Imposto sobre Grandes Fortunas). Além disso, também constitui fonte formal a Legislação Tributária, que, segundo o art. 96 do Código Tributário Nacional (CTN), compreende as leis (ordinárias, complementares etc.), os tratados e as convenções internacionais em matéria tributária (que possuem status de norma legal), os decretos e as normas complementares (editados pelo chefe do Poder Executivo para o fiel cumprimento da lei – ex.: regulamento do Imposto de Renda, do ICMS etc.). Como fonte importante para o direito tributário, há também as chamadas normas complementares, discriminadas no art. 100 do CTN (BRASIL, 1966). São as seguintes: Atos Normativos: complementar às leis, tratados e decretos, ex.: Instruções Normativas, Resoluções do Ministério da Fazenda. Decisões administrativas: ex.: aquelas proferidas pelo Tribunal de Impostos e Taxas – TIT –, de SP, quanto ao ICMS / no plano federal, há o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF. Práticas reiteradas: praxe administrativa, ex.: contribuinte recolhe ISS ao invés de ICMS, presumindo ser aquele o imposto devido – neste caso, por ser uma conduta reiterada, não será instituído a ele condenação em multa, somente incidindo encargos depois de notificado do dever de pagar ICMS. Convênios: entre entes tributantes, por exemplo, no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ –, quanto ao estabelecimento da política de eventuais concessões de benefícios fiscais, como a isenção, no caso do ICMS. (SCHOUERI, 2018) Tributos segundoos entes federados imagem sem audiodescrição Agora que sabemos sobre as fontes, quais seriam os tributos de competência de cada um dos entes federados (União, Estado, Distrito Federal e Município)? Inicialmente, precisamos compreender que tributo é gênero. Como tal, comporta algumas espécies. Assim, são espécies tributárias: Impostos. Taxas. Contribuição de melhoria. Empréstimo compulsório. Contribuições especiais. O Supremo Tribunal Federal (STF) – órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro – estabeleceu a classificação pentapartite ou quinquipartida das espécies tributárias. Isso porque se considerou que o critério do art. 5º do CTN (BRASIL, 1966), que somente menciona imposto, taxa e contribuição de melhoria como espécies, está superado. Afinal de contas, o CTN (Lei nº 5.172/1966) é lei anterior à Constituição Federal de 1988, a qual consagrou outras espécies tributárias (empréstimo compulsório e contribuições especiais). Assim, tributo compreende as cinco espécies mencionadas. Vale ressaltar que o Sistema Tributário Nacional está previsto, primeiramente, na CF/88, entre os arts. 145 e 162. Assim, são estabelecidas as competências tributárias dos vários entes políticos, eis que no federalismo brasileiro há autonomia e independência relativas de tais entes, isso observando-se os parâmetros constitucionais fixados. Logo, a competência tributária é a titularidade indelegável que o ente possui para a matéria tributária (para a instituição e majoração de tributos). Cada ente possui a sua própria esfera de competências. Não pode, por exemplo, o estado instituir ou disciplinar um tributo que seja da competência do município. ______ Assimile Não se pode confundir a competência tributária para a instituição e majoração de tributos com a chamada capacidade tributária ativa, que se refere meramente à fiscalização e à arrecadação. Assim, determinado ente poderá transferir apenas essa parcela, para fiscalização e arrecadação de tributo da sua competência. Por exemplo, é bastante comum que a União, que é competente para instituir e majorar o Imposto Territorial Rural (ITR), celebre convênio com os municípios para que estes fiscalizem a arrecadem o referido tributo. Note que o município não pode instituir, tampouco majorar o ITR. Poderá, simplesmente, se houver tal convênio com a União, receber os valores em seu nome. ______ A União possui competência para instituir (BRASIL, 1988): Imposto de Importação (II). Imposto de Exportação (IE). Imposto sobre a Renda (IRPF e IRPJ). Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Imposto Territorial Rural (ITR). Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Impostos residuais. Imposto extraordinário de guerra. Taxas. Empréstimo compulsório. Contribuição de melhoria. Contribuições Especiais (Contribuição Patronal sobre a folha de pagamento, CIDE, PIS/PASEP [Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público], COFINS [Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social], Contribuição Social sobre o Lucro Líquido [CSLL], Contribuição de interesse das categorias profissionais ou econômicas). Aos estados e ao Distrito Federal compete (BRASIL, 1988): Imposto de transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens e direitos (ITCMD). Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Imposto sobre a circulação de mercadorias e sobre a prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e comunicação (ICMS). Taxas. Contribuição de melhoria. Contribuição especial previdenciária dos seus servidores. Aos municípios e ao Distrito Federal compete (BRASIL, 1988): Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Imposto de transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos à sua aquisição (ITBI). Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). Taxas. Contribuição de melhoria. Contribuição especial previdenciária dos seus servidores. Os impostos possuem a precípua finalidade de arrecadação de recursos para a manutenção das atividades estatais. A maioria dos tributos são compostos por impostos e, como tal, servem basicamente para que o Estado tenha condições de manter a sua estrutura administrativa, bem como para que possa empreender as prestações de caráter social geral, tal como previsto na Constituição Federal de 1988. Então, por exemplo, o Estado, de um modo geral, utilizará o produto da arrecadação para pagar aos seus servidores, a suas estruturas físicas, bem como para efeito de construir escolas, hospitais, estradas, promover a segurança pública etc. (SCHOUERI, 2018). ______ Reflita Nas últimas três décadas, desde o final do século XX, a globalização e a maior conectividade dos mercados, aumentou consideravelmente os fluxos de capitais, ampliando a competição fiscal entre os países. Os paraísos fiscais constituem, neste âmbito, uma forma veemente de atração de capitais. Disso, criou-se um ambiente de todo propício para a evasão fiscal ou, no mínimo, para um tipo de planejamento tributário bastante agressivo. Com o surgimento de crises econômicas generalizadas, e diante do quadro crescente de evasão de recursos fiscais para mantença e suprimentos dos países, diversas alternativas foram se somando no sentido de evitar que os capitais se encaminhassem para paraísos fiscais (locais de baixa ou nenhuma tributação ou burocracia). O quadro, no geral, é bastante complexo. Sobre isso, você já ouviu falar nos chamados paraísos fiscais e as empresas offshore? No que consistem? É possível utilizá-los do ponto de vista da legislação brasileira? ______ As taxas são tributos vinculados a uma contraprestação do Estado, como por exemplo uma taxa ambiental e uma taxa de emissão de passaporte. Nesse caso, o interesse primordial da tributação não é o de arrecadar fundos para os cofres públicos, mas sim o de custear determinado serviço que é colocado à disposição dos cidadãos. Por isso, as taxas dependem da individualização do serviço acessado pelo cidadão. No exemplo dado, a pessoa somente pagará a taxa de emissão do passaporte se, efetivamente, optar por tal serviço (AMARO, 2017). A contribuição de melhoria tem lugar quando são realizadas obras pelo poder público que resultem em valorização da propriedade imobiliária. Se o município, por exemplo, fizer uma obra viária que importe em aumento do valor de mercado de um imóvel situado às suas margens, poderá haver a instituição da referida contribuição (SCHOUERI, 2018). O empréstimo compulsório tanto pode ser para fins de custeio relacionado a despesas extraordinárias, como nos casos de calamidade pública ou guerra externa, quanto para suplantar a necessidade de investimento público de caráter urgente, que seja de interesse nacional. Neste caso, somente a União pode instituir tal tributo e, como se trata de um empréstimo, deverá ser posteriormente devolvido ao contribuinte, nas condições que a lei estabelecer (COSTA, 2019). Por derradeiro, é importante conhecer as contribuições especiais. Trata-se de um gênero que comporta uma série de espécies, isto é, contribuições com fatos geradores e finalidades distintas, consoante as previsões legais respectivas. Via de regra, tais contribuições são de competência da União para fins de instituição. Servem para o custeio da Seguridade Social (saúde, assistência social e previdência social), bem como forma de intervenção no domínio econômico, por intermédio das chamadas CIDE’S (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Há, ainda, a Contribuição Patronal sobre a folha de pagamento, a contribuição para o Programa de Integração Social e de Formaçãodo Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Os estados, o Distrito Federal e os municípios também poderão instituir contribuições sociais (previdenciárias) que incidirão sobre a remuneração dos seus próprios servidores, para fins de custeio do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) (CARNEIRO, 2019). Com isso, caro aluno, encerramos a primeira etapa dos nossos estudos tributários. Já aprendemos bastante, não é mesmo? Mas precisamos continuar e ainda há muito o que aprender! Conclusão imagem sem audiodescrição Depois de tudo o que estudamos quanto ao direito tributário, seus elementos introdutórios, os variados tributos e as respectivas competências de cada ente, é chegado o momento de nos dedicarmos a resolver a situação-problema proposta. Você já deve ter percebido que existe uma multiplicidade de tributos no sistema tributário brasileiro. A maior parte desses tributos é composta por impostos, sobretudo os de competência da União. Há também impostos dos estados e dos municípios. Além disso, há várias espécies de contribuições, especialmente aquelas instituídas pela União, que são as que mais nos interessaram no momento. Em relação à situação-problema em si, você foi contratado por uma empresa, que acabou de se estabelecer na cidade, e que tem como objeto social a prestação de serviços de jardinagem em domicílio. Da forma como lhe foi informado, trata-se de uma sociedade empresária limitada, não havendo nenhum dado acerca da opção desta quanto à adesão a algum regime diferenciado de tributação. Você foi contratado para elaborar um relatório pormenorizando dos tributos que porventura incidiriam em virtude das operações sociais da empresa em questão. A partir disso e do que foi estudado, você já tem condições de interpretar a legislação tributária e concluir que realmente haverá a incidência de diversos tributos no campo das atividades da empresa que o contratou. Em primeiro lugar, você pode perceber que, como se trata de uma pessoa jurídica, organizada sob a forma de uma sociedade empresária e com o objetivo de lucro, de imediato poderá concluir que haverá a incidência do Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), de competência da União. Ademais, ainda no campo da competência da União, haverá a incidência de contribuição patronal sobre a folha de pagamento, à medida que é provável que a empresa realize a admissão de empregados. Também será o caso de incidência de outras contribuições especiais, a exemplo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), a contribuição para o Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). No plano estadual, a depender do que a empresa adquirir de insumos (adubos, fertilizantes, plantas etc.) e instrumentos (cortadores, roçadeiras e outras máquinas) para empregar no âmbito dos serviços de jardinagem, haverá a incidência, principalmente, do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS). Finalmente, no plano municipal, tendo em vista que a empresa possui como objeto social a prestação de serviços, você já deve ter se lembrado que há um imposto especificamente para essa situação, que é o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). Com essa análise preliminar você identificou os principais tributos que incidirão sobre as operações da empresa que o contratou, podendo até mesmo ter uma ideia para efeito de prospectar alternativas lícitas de economia tributária, no rigor da elisão fiscal. Neste sentido, como é interessante concluir o relatório com uma opinião acerca do regime de tributação mais adequado para as operações da empresa, considerando que se trata de pequeno porte, certamente é mais indicado o enquadramento no Sistema Simples Nacional, que possui arrecadação facilitada, alíquotas mais favoráveis e redução na burocracia para efeito de cumprimento das obrigações tributárias acessórias. Esse modelo de análise, que identifica as operações da empresa a partir das suas respectivas hipóteses de incidência tributária (os fatos empresariais e/ou negociais que a lei tributária considera como relevante para fins de arrecadação e imposição de tributos) poderá ser utilizado por você em quaisquer situações análogas. Conhecidas as hipóteses de incidência dos variados tributos, basta analisar o objeto ou os objetos sociais do contribuinte, que é, no caso, uma pessoa jurídica, para se ter um caminho de transparência no que se refere à gestão tributária. AULA 2 Responsabilidade e obrigação tributária Responsabilidade tributária imagem sem audiodescrição Nesse primeiro momento estudaremos a responsabilidade tributária, isto é, sobre quem é identificado como sujeito passivo da relação jurídico-tributária, quem pratica efetivamente o fato gerador do tributo, assim como quem deverá suportar a obrigação do pagamento. A relação jurídico-tributária é o vínculo por meio do qual o Estado, o ente tributante, enquanto sujeito ativo, relaciona-se com o sujeito passivo, mediante previsão legal, atribuindo-lhe determinada carga tributária. A hipótese de incidência traz em si o fato material da vida que a lei tributária optou por considerar suficiente e necessário para efeito do nascimento do liame obrigacional. Assim é que se estabelece a estrutura basilar da relação jurídico-tributária para que o Estado esteja legitimado para a incidência tributária, avançando sobre o patrimônio e os bens dos sujeitos passivos (as pessoas, em geral). Mas, o Código Tributário Nacional (CTN), no art. 121 (BRASIL, 1966), estabelece uma distinção quanto ao sujeito passivo. Este será tanto o contribuinte, que é aquele que efetivamente pratica o fato gerador do tributo (p. ex., auferir renda para o IR, propriedade de veículo automotor para o IPVA e propriedade imobiliária para o IPTU), quanto o responsável, que poderá ser um terceiro que a lei tributária escolheu para, em algumas situações, suportar o dever de pagamento do tributo (AMARO, 2017). Assim, o responsável tributário será aquele incumbido, por lei, ao pagamento do tributo, sem que ele tenha, no entanto, alguma relação direta e pessoal com o fato gerador. ______ Exemplificando Note, por exemplo, a situação em que uma criança figura como proprietária de um imóvel urbano. Para todos os efeitos, essa criança será contribuinte do IPTU devido ao Município. No entanto, não é a criança que irá efetivamente pagar o valor do IPTU, mas sim o seu responsável legal (seu pai, sua mãe etc.). ______ Dessa maneira, fica bem fácil entender a diferença mencionada entre o contribuinte e o responsável. Importante lembrar que a responsabilidade tributária sempre decorre da lei, isto é, independe da vontade das partes, caso se queira opor ao Fisco eventual acordo particular bilateral. Afinal, as convenções particulares vinculam as partes, mas não podem ser opostas perante o Fisco, que seguirá, exclusivamente, os critérios legais (SCHOUERI, 2018). ______ Assimile O sujeito passivo da relação jurídico-tributária é o contribuinte ou o responsável. A depender da situação qualificada na lei tributária, um ou outro suportará o dever de pagamento do tributo, independentemente de ter praticado pessoalmente o fato gerador. ______ Tema da mais alta relevância no campo da responsabilidade tributária é quanto ao papel dos sócios de uma sociedade empresária. Diversas são as hipóteses de responsabilidade, porém vamos nos centrar, inicialmente, nesse caso especial, previsto no art. 134, VII, do CTN (BRASIL, 1966) e depois no art. 135, III, também do CTN (BRASIL, 1966). Trata-se, inicialmente, de os sócios terempraticado ato não-doloso, caso em que eles responderão subsidiariamente pela dívida da sociedade. Mais comum, no entanto, é a hipótese de o sócio ser responsabilizado por obrigações tributárias, quando praticar atos com violação de poderes, lei, contrato social ou estatuto. Quando o sócio-administrador pratica ato fraudulento, sua responsabilidade tributária será pessoal e não solidária (junto com a pessoa jurídica) ou subsidiária (depois de se avançar sobre o patrimônio da pessoa jurídica). Neste caso, portanto, o sócio que extrapolou os poderes foi além do que poderia, responderá pessoalmente pelas obrigações tributárias decorrentes do seu ato. O tema dos coobrigados (duas ou mais pessoas obrigadas ao adimplemento tributário) diz respeito à solidariedade. A matéria está prevista nos artigos 124 e 125 do CTN (BRASIL, 1966). Primeiro, ocorre quando mais de uma pessoa tenha interesse na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal e, depois, nos casos especificados em lei. No primeiro exemplo, temos a situação na qual duas pessoas figuram como proprietárias de um bem imóvel, sendo que ambas serão responsáveis pelo pagamento do IPTU respectivo. O Fisco municipal pode exigir, por se tratar de responsabilidade solidária, a integralidade do montante devido tanto de um quanto de outro, não havendo, inclusive, qualquer benefício de ordem (isto é, primeiro cobraria de um e depois do outro). No exemplo dado, caso um realize o pagamento, o outro se aproveitará. Igualmente, caso haja a instituição de algum benefício fiscal (isenção, por exemplo), este exonerará a todos os coobrigados, salvo se for benefício de caráter pessoal, hipótese em que subsistirá, em relação ao restante (ou os demais) a responsabilidade solidária pelo saldo do valor do tributo. Ademais, responsabilidade presumida, que surge no art. 134 do CTN (BRASIL, 1966), trata da circunstância segundo a qual a lei atribui a determinadas pessoas a responsabilidade pelo pagamento de tributos. Então, de acordo com a previsão legal, verifica-se que os pais são responsáveis pelos tributos devidos pelos filhos, como no exemplo dado quanto ao IPTU, caso o filho menor seja proprietário. Da mesma forma, e na mesma lógica, os tutores e os curadores são responsáveis pelos tributos devidos pelos tutelados e curatelados. Ademais, os administradores serão responsáveis pelo pagamento dos tributos que decorram dos bens porventura administrados. Por fim, no caso da sucessão, o inventariante será responsável pelo recolhimento dos tributos devidos pelo espólio (SCHOUERI, 2018). Situação que merece total atenção no campo do direito tributário aplicado às atividades empresariais é a responsabilidade tributária decorrente de operações societárias. Numa primeira hipótese, o art. 132 do CTN (BRASIL, 1966) diz que a pessoa jurídica que porventura resultar de processos de fusão, transformação ou incorporação, será responsável pelos tributos devidos até essa data. Por isso é muito comum neste tipo de operação o conhecimento detalhado dos tributos que já constituem passivo das pessoas jurídicas que serão objeto de tais atos (fusão, transformação ou incorporação), pois isso interferirá diretamente até mesmo nos custos do negócio (BALEEIRO; DERZI, 2018). Além disso, caso uma pessoa jurídica seja extinta e algum dos sócios desta continue, sob outra razão social, isto é, mediante a constituição de nova empresa, a praticar a mesma atividade econômica, também será responsável pelas dívidas tributárias da antiga empresa. Então, o fato de extinguir-se uma pessoa jurídica não faz com que os tributos devidos desapareçam, sobretudo quando o sócio da pessoa extinta continua na mesma atividade econômica a partir de uma nova empresa, em tese, sem dívidas. Esta responsabilização, aliás, encontra-se prevista no parágrafo único do art. 132 do CTN (BRASIL, 1966). Por fim, a responsabilidade que decorre da operação de venda de um estabelecimento comercial é muito importante ser conhecida, sobremodo no meio empresarial onde este tipo de negócio é frequente (SCHOUERI, 2018). De acordo com o disposto no art. 133 do CTN (BRASIL, 1966), a pessoa, seja ela jurídica ou natural, que adquirir de outro estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar sob mesma ou outra razão social a respectiva atividade econômica, responderá pelos tributos devidos pelo estabelecimento até a data do negócio. Porém, o CTN (BRASIL, 1966) estabelece algumas situações diferentes quanto a esta responsabilidade. Primeiramente, o adquirente do estabelecimento responderá integralmente pela dívida tributária caso o alienante cesse a exploração da atividade (COSTA, 2019). ______ Exemplificando A empresa A, do ramo de venda de automóveis, vendeu estabelecimento comercial (loja de veículos) para a empresa B, que assumiu tal atividade econômica. Havia tributos devidos em função da atividade realizada no estabelecimento comercial alienado. Como a Empresa A não mais explora referido campo de comércio, interrompendo suas atividades, segundo o art. 133, I, do CTN (BRASIL, 1966), a empresa B (adquirente) responderá pela integralidade dos tributos devidos até a data do negócio. Outra situação decorrente da alienação de estabelecimento comercial é a responsabilidade subsidiária. Neste caso, conforme o art. 133, II, do CTN (BRASIL, 1966), o adquirente responderá de maneira subsidiária com o alienante, caso esta prossiga na exploração da mesma atividade econômica ou na hipótese de o alienante iniciar dentro de 6 (seis) meses, contados da data da alienação, “nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão” (BRASIL, 1966, [s.p]). Se a empresa A vende estabelecimento comercial para a empresa B, continuando o mesmo ramo de atividade noutro lugar, em caso de dívida tributária a empresa A responderá primeiro e, só depois, responderá a empresa B. Obrigação tributária imagem sem audiodescrição Dando sequência aos nossos estudos, vamos tratar, a partir de agora, do nascimento da obrigação tributária. É no campo da incidência tributária que ocorrerá a formação da relação jurídica, de modo que, com isso, é preciso adentrar na seara de estudo da obrigação tributária e do crédito tributário. Isso se dá porque, com a prática do fato gerador, aciona-se a hipótese de incidência prevista abstratamente na lei, fazendo com que nasça aí, posteriormente, a obrigação tributária. Neste contexto, quando se pratica determinado fato gerador, a lei tributária incide nessa situação, tornando o sujeito-ativo (Estado, ente tributante) autorizado a deflagrar os procedimentos administrativos de cobrança e, de outro lado, o dever de o sujeito-passivo de pagar o tributo (MACHADO SEGUNDO, 2019). A obrigação tributária nasce com a prática do fato gerador. Quando um sujeito aufere renda (por exemplo), nasce para ele a obrigação de pagar o Imposto de Renda para a União. Assim, a obrigação tributária, na ótica da relação jurídico-tributária, é tanto o dever de pagamento pelo sujeito passivo, quanto a obrigação de o sujeito ativo exigi-lo. A obrigação tributária é aquela principal (o tributo em si) e acessória (os chamados deveres instrumentais). Por exemplo, no Imposto de Renda é preciso enviar a declaração anual, bem como, se for o caso, pagar o imposto respectivo. Caso haja descumprimento da obrigação acessória, o sujeito receberá uma penalidade, ou seja, uma multa. O valor dessa multa será acrescido ao montante principal do tributo (CARNEIRO, 2019). Dessa maneira, o descumprimento de uma obrigação acessória, vez que resultante na imposição de penalidade pecuniária, faz com que se torne tudo obrigação principal. Logo, se não houve a entrega de uma declaração, ou algum fazer ou não fazer que a lei tributária tenha exigido como obrigação acessóriapara aquele determinado caso, uma vez imposta a penalidade, o valor desta converte-se em obrigação principal, isto é, o contribuinte ou responsável deverá pagar a integralidade do tributo devido, o qual, neste caso, será tanto o valor principal quanto aquele decorrente da penalidade. Lembre-se que tributo não é sanção por ato ilícito, e o que estamos dizendo é que apenas o valor de eventual multa será acrescido ao dever de pagamento do montante principal. A multa poderá ser: moratória (demora no adimplemento do tributo), no máximo de 20%; ou punitiva (prática de atos fraudulentos), no máximo de 100% do valor do tributo, segundo entendimento majoritário do Supremo Tribunal Federal. Depois de originada a obrigação tributária a partir da prática do fato gerador, o tributo será cobrado pela constituição do chamado “crédito tributário”, que nada mais é do que o direito subjetivo do Fisco, do ente tributante, de cobrar o valor a partir da individualização respectiva, com a identificação do montante, o tributo referido e o momento do pagamento. O instituto do lançamento tributário e, assim, da constituição do crédito tributário será estudado posteriormente. É, sobretudo, por meio da arrecadação tributária que o Estado poderá amealhar recursos tanto para o custeio da máquina administrativa, quanto para a consecução das finalidades sociais previstas na Constituição Federal. Por essa razão, o crédito tributário precisa se revestir de proteções especiais, de modo a garantir que o Estado não fique sem recebê-lo. É o caso das chamadas garantias e privilégios do crédito tributário, previstas a partir do art. 183 do CTN (BRASIL, 1966). As garantias servem para fins de melhor efetividade da execução fiscal, que é a ação judicial por meio da qual o Fisco busca a satisfação do crédito. Já os privilégios dizem respeito à posição do crédito tributário relativamente às execuções coletivas, como numa falência (SCHOUERI, 2018). Alguns casos de garantias e privilégios relacionados ao crédito tributário precisam ser conhecidos. O primeiro aspecto é da responsabilidade patrimonial, isto é, responderá pelo pagamento do crédito tributário a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, ressalvados aqueles bens considerados absolutamente impenhoráveis, tal como descrito no art. 833 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). ______ Reflita Seria possível penhorar valores de aposentadoria de determinada pessoa para fins de cumprimento de obrigação tributária (quando o Judiciário, em processo, retira o bem da pessoa de maneira compulsória, para satisfação de um crédito)? ______ Ademais, presume-se que há fraude à execução fiscal, quando o sujeito passivo dilapida o seu patrimônio enquanto é devedor da Fazenda Pública, situação essa caracterizada quando o crédito (não pago) é inscrito em Dívida Ativa (nada mais do que um procedimento administrativo de inserção do nome do contribuinte em cadastro de inadimplência). Por fim, o crédito tributário terá preferência perante quaisquer outros, ressalvados os trabalhistas. Com isso, chegamos ao final de mais uma aula. Aprendemos muito até aqui, mas o trabalho ainda não acabou! Vamos em frente! AULA 3 Crédito tributário e sistema tributário diferenciado Crédito tributário imagem sem audiodescrição De início, precisamos revisitar a ideia de crédito tributário e sua constituição pelo lançamento. De acordo com o art. 142 do CTN (BRASIL, 1966, [s.p.]) o lançamento tributário é “o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível”. Trata-se de ato privativo da autoridade administrativa, porquanto importa na criação de obrigatoriedade de o sujeito passivo realizar o pagamento do tributo devido. O lançamento possui algumas espécies, que variarão conforme o contribuinte participe mais ou menos desse procedimento (SCHOUERI, 2018). É o que veremos a partir de agora. O lançamento de ofício é aquele que parte exclusivamente da autoridade administrativa, não havendo qualquer participação do contribuinte na apuração do tributo devido. O melhor exemplo é o caso do IPTU, no qual o município realiza o cálculo do imposto com base no valor venal do imóvel e simplesmente envia o carnê para o contribuinte pagá-lo. Importante dizer que o lançamento de ofício possui um caráter substitutivo em relação aos demais, isto é, sempre que o contribuinte lançar alguma informação de forma incorreta, o Fisco realizará de ofício, prestigiando a forma correta. Lançamento por declaração é quando há participação do contribuinte ou de terceiro. É com base nas declarações enviadas que o Fisco calculará o tributo devido. Por fim, no lançamento por homologação, há grande participação do contribuinte, que é a forma mais comum (ex. IPI, ICMS, ITCMD etc.). O contribuinte apura o valor, envia para o Fisco e já realiza o pagamento. Após, o Fisco irá homologar (validar) ou não aquilo que o contribuinte enviou e pagou (SABBAG, 2018). A homologação pode ser tácita ou expressa. A expressa será quando o Fisco se manifestar de modo inequívoco, validando as informações e o pagamento feito pelo contribuinte. Já a manifestação tácita ocorrerá pelo decurso de 5 (cinco) anos, no qual o Fisco não tenha se manifestado. Somente após esse prazo é que se considera feita a homologação. É preciso que se diga que a relação jurídico-tributária não é eterna. Realizado o fato gerador pelo contribuinte, o Fisco terá um determinado prazo para que se constitua o crédito tributário por meio do lançamento. Depois de vislumbrado o fato gerador e a obrigação tributária, o Fisco terá o prazo decadencial de 5 (cinco) anos para constituir o crédito tributário. Para cada tipo de lançamento o prazo é contado de maneira diferente (COSTA, 2019): No lançamento de ofício, são 5 (cinco) anos contados a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. No lançamento por declaração, 5 (cinco) anos a partir do envio da declaração pelo contribuinte ou terceiro. No lançamento por homologação, o prazo também será de 5 (cinco) anos a partir da ocorrência do fato gerador. A prescrição é o outro instituto, ao lado da decadência, que torna a relação jurídico-tributária limitada, quanto à sua exequibilidade, isto é, limitada no tempo. Quando da constituição do crédito tributário, se não houver pagamento ou impugnação ou, em havendo impugnação e tenha sido concluído eventual processo administrativo fiscal, esgotado o prazo para pagamento, começa a fluir o prazo prescricional de 5 anos para a Fazenda Pública propor a execução fiscal. Tais prazos existem para que a relação jurídico-tributária não seja eterna, o que geraria insegurança jurídica dos sujeitos passivos (AMARO, 2017; SCHOUERI, 2018). Tanto os institutos da decadência e da prescrição figuram como importantes mecanismos de controle do poder estatal em matéria tributária; inclusive são modalidades de extinção do crédito tributário, tal como consta no art. 156, V, do CTN (BRASIL, 1966). Suspensão de elegibilidade de crédito imagem sem audiodescrição A partir de agora, precisamos estudar como tal crédito, a princípio exigível, poderá ter sua exigibilidade suspensa. Isto é, muito embora constituído não poderá ser cobrado pelo Fisco. Uma vez constituído o crédito, o contribuinte pode não concordar com o lançamento efetuado numa dada situação. Outra possibilidade é quando o contribuinte se encontra inadimplente perante o Fisco e deseja buscar um parcelamento para regularizar tal estado. Assim, surgem as hipóteses de suspensãodo crédito tributário, previstas no art. 151 do CTN (BRASIL, 1966), que estudaremos a partir de agora. Segundo o art. 151 do CTN (BRASIL, 1966, [s.p.]), suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes. A moratória é algo muito parecido com o parcelamento, pois é também uma espécie de dilação, alargamento, de prazo para pagamento de tributo atrasado (vencido). Para tanto, é preciso previsão legal pelo Ente competente, na qual conste a forma de tal dilação (número de meses, juros, exigência ou não de garantias). A adesão do contribuinte em tal parcelamento importa em confissão de dívida. Durante o parcelamento (ou moratória) o Fisco não poderá cobrar (exigir) o tributo. No segundo caso, se o contribuinte não concordar com determinado lançamento, pode ingressar com uma ação judicial (uma anulatória, por exemplo). Mas isso não garante que o Fisco não poderá cobrá-lo ainda assim. Logo, ele tem a possibilidade de depositar em juízo o montante integral que está representado no crédito, suspendendo, assim, a exigibilidade pelo Fisco (BALEEIRO; DERZI, 2018). Quanto às reclamações e recursos administrativos, temos o seguinte: quando o contribuinte recebe a notificação de lançamento do tributo ou de auto de infração, ele poderá impugnar na esfera administrativa. Cada Ente tributante pode estabelecer um prazo para tal impugnação, por meio de lei, mas via de regra, o prazo é de 30 dias a contar do recebimento da notificação. Quando apresentada a impugnação, instaura-se o processo administrativo e a exigibilidade fica suspensa até o término do mesmo, de modo que, nesse período, o Fisco não poderá cobrar o respectivo tributo. Em primeira instância, o processo é julgado por uma delegacia de julgamento composta por pessoas ligadas à Administração Pública. Em segunda instância, por um Tribunal Administrativo. No plano Federal, este Tribunal é o CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Nos Estados, variará conforme a lei, assim como nos municípios. No Estado de São Paulo, por exemplo, é o TIT (Tribunal de Impostos e Taxas). Se o contribuinte vencer o processo administrativo, tem-se a chamada coisa julgada (não pode mais discutir nem na esfera judicial). Mas se a decisão for contrária, o contribuinte pode rediscutir integralmente no Judiciário, por meio da competente ação judicial (SABBAG, 2018). As hipóteses de concessão de medida liminar em Mandado de Segurança e de concessão de liminar ou tutela antecipada (tutela provisória de urgência em caráter antecipado, no novo Código de Processo Civil) em outras espécies de ação judicial, seguem, basicamente, a mesma lógica. No Direito Tributário, importam as liminares concedidas em Mandado de Segurança e em ações Declaratórias e Anulatórias. Como regra geral, os requisitos da liminar são o fumus boni iuris e o periculum in mora. O primeiro é o fato de o direito ser plausível, o segundo é a demonstração de urgência da medida (AMARO, 2017). ______ Exemplificando A empresa necessita participar de uma licitação e deve demonstrar regularidade fiscal, mas houve lançamento equivocado pelo Fisco (se for plausível a alegação e dada a urgência, poderá ser caso de cabimento da liminar). ______ Quanto ao parcelamento, vale o mesmo que já falamos sobre a moratória. Durante o pagamento parcelado, no prazo, a exigibilidade está suspensa e o Fisco não poderá cobrar o tributo. ______ Dica Nos atos da vida civil e empresarial, como uma compra e venda de imóvel, participação em licitações, arquivamento de alterações de contrato social na Junta Comercial, os contribuintes precisam apresentar certidão de regularidade fiscal. A primeira hipótese é a Certidão Negativa de Débitos Tributários, que é expedida pelo Ente Tributante relativamente aos tributos de sua competência, quando o contribuinte não apresentar qualquer tipo de débito fiscal. Mas, caso o contribuinte tenha conseguido a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, esta também é uma forma de obtenção de uma outra certidão. Esta é a chamada Certidão Positiva com Efeito de Negativa, prevista no art. 206 do CTN (BRASIL, 1966). Embora existam débitos tributários, o Fisco não as poderá cobrar (exigir); daí o cabimento da referida certidão. Extinção do crédito tributário imagem sem audiodescrição A partir de agora, estudaremos as causas de extinção do crédito tributário, previstas no art. 156 do CTN (BRASIL, 1966). De acordo com o art. 156 do CTN (BRASIL, 1966, [s.p.]), extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência; VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado; XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. [...] Vimos que diante da relação jurídico-tributária estabelecida entre o Ente tributante e o contribuinte, o caminho natural é o adimplemento do tributo. Esse tema adentra no campo das causas de extinção do crédito tributário, que fazem com que, naturalmente, a relação jurídico-tributária perca o seu objeto central, que é a própria cobrança do tributo. Essa cobrança pode estar suspensa, nas situações que já vislumbramos, mas não é automático que essa suspensão resulte em extinção. Há outras possibilidades e nuances, tal como previstas no art. 156 do CTN (BRASIL, 1966), as quais importam no desaparecimento da própria obrigação tributária, que passaremos a estudar a partir de agora (COSTA, 2019). O pagamento é a forma natural de extinção do crédito tributário, pois é, em princípio, o dever básico do contribuinte, diante do lançamento ou do auto de infração, desde que corretamente constituídos, segundo os parâmetros legais. A compensação é quando os sujeitos ativo e passivo da relação tributária são, ao mesmo tempo, credores e devedores uns dos outros. A compensação só é possível no Direito Tributário caso exista lei prevendo tal hipótese, e só cabe relativamente ao mesmo Ente Tributante (não posso compensar um crédito de ICMS em relação ao IPI, por exemplo). A transação é um acordo celebrado entre as partes da relação jurídico-tributária, para fins de extinção da obrigação tributária. Também, só é possível quando houver previsão legal (SCHOUERI, 2018). A remissão é o perdão do crédito tributário que o Fisco concede ao contribuinte. É o perdão do tributo em si e não da multa (cujo caso será estudado mais adiante). É preciso lei que autorize a remissão, sem a qual é impossível a utilização do instituto. A prescrição, para o Fisco, surge com o decurso do prazo de 5 anos a contar da constituição definitiva do crédito tributário para a cobrança judicial respectiva (Execução Fiscal). Para o contribuinte, por exemplo, na restituição do indébito o prazo também é de 5 anos, contados na forma do art. 165 do CTN (ex. pagou tributo a mais). A decadênciapara o Fisco é quanto ao prazo para o lançamento. Para o contribuinte, a decadência tem a ver com o prazo que ele dispõe para pleitear, na esfera administrativa, a restituição de valor pago a maior ou de forma indevida (no geral 30 dias). A conversão do depósito em renda, lembra a causa de suspensão vista anteriormente. Se o contribuinte perder a ação, o valor depositado servirá para quitação do tributo (CARNEIRO, 2019). O pagamento antecipado e a homologação dizem respeito aos tributos sujeitos a lançamento por homologação, como já visto, em que há grande participação do contribuinte na constituição do crédito tributário. O contribuinte apura o devido, preenche a guia de recolhimento e paga o tributo. O fisco poderá homologar posteriormente. Caso o faça, há aí a extinção do crédito tributário, na hipótese tratada. A consignação em pagamento se trata de ação judicial na qual o contribuinte deposita em juízo o valor do tributo devido, quando o Fisco se recusa a recebê-lo ou quando o contribuinte tem dúvida para qual Ente Tributante deverá efetuar o pagamento. Decidida a questão, o depósito feito em consignação será convertido em renda, extinguindo-se o crédito tributário respectivo (MACHADO SEGUNDO, 2019). Exemplificando Dois (2) municípios cobram IPTU de um imóvel que se encontra em ambos os territórios? Na dúvida, consignação em pagamento para decidir para quem é devido o IPTU. Também extinguem o crédito tributário a decisão administrativa irreformável e a sentença judicial que haja transitado em julgado. Como já vimos, o contribuinte diante da notificação do lançamento poderá questioná-lo na esfera administrativa do Ente tributante. Caso ele vença, há coisa julgada administrativa, extinguindo-se o crédito tributário. Da mesma forma, caso ele perca ou ajuíze diretamente com uma ação judicial, caso ele saia vencedor e ocorra o trânsito em julgado, haverá, igualmente, a extinção do crédito tributário. Por fim, a dação em pagamento em bens imóveis é quando a lei editada pelo Ente tributante autoriza que o contribuinte dê um bem imóvel para servir de pagamento. Por exemplo, se houver tal lei em um município, é possível que o contribuinte entregue seu imóvel para pagar eventual dívida de IPTU. Dica A extinção do crédito tributário faz com que o sujeito passivo da relação jurídico-tributária tenha direito à emissão de uma Certidão Negativa de Débitos Fiscais, na forma do art. 205 do CTN (BRASIL, 1966). Esta certidão será sempre expedida e deverá ser fornecida no prazo máximo de 10 (dez) dias contados do requerimento. Causas de exclusão do crédito tributário imagem sem audiodescrição fonte: Shutterstock. Falaremos, agora, das chamadas causas de exclusão do crédito tributário, previstas no art. 175 do CTN (BRASIL, 1966). As causas de exclusão do crédito tributário impedem que o tributo seja efetivamente constituído. Logo, atuam antes mesmo do lançamento. Há o fato gerador, há o nascimento da obrigação tributária, mas a lei, naquele caso, impede a constituição do crédito. São duas as hipóteses de exclusão: a isenção e a anistia (SCHOUERI, 2018). Isenção nada mais é do que a dispensa legal do pagamento do tributo concedida pelo Ente Tributante. Vale lembrar que somente o Ente competente poderá deliberar, por meio de lei, a concessão de isenção para o respectivo tributo. Já a Anistia, nada mais é do que o perdão relativamente à penalidade pecuniária incidente sobre o tributo. Uma multa, por exemplo. Vale lembrar que a anistia não se confunde com a remissão. A remissão é perdão do tributo em si que extingue o crédito tributário. Já a anistia recai somente na penalidade, de modo que caso haja anistia também pode ser o caso de ainda subsistir o dever de pagamento do tributo – exclui-se apenas as penalidades porventura impostas. Tanto na isenção quanto na anistia, o contribuinte ainda terá que cumprir com as obrigações tributárias acessórias. Por exemplo, embora isento ou anistiado, ainda deverá apresentar declarações, documentos acessórios etc. Um último comentário precisa ser feito quanto a algumas ações judiciais que são tipicamente utilizadas no âmbito tributário, de modo que é importante que você saiba um pouco sobre elas e para o que servem, à medida que, por meio delas, também é possível, conforme o caso, a obtenção da Certidão Negativa ou da Certidão Positiva com efeito de Negativa, já comentadas. São três as principais: ação declaratória; ação anulatória; e mandado de segurança. No geral, é por meio dessas ações que serão discutidas, no âmbito judicial, as questões da incidência tributária, como o cabimento e a extensão do tributo em si e das penalidades aplicadas, por exemplo (SCHOUERI, 2018). Essas são as ações mais importantes e recorrentes no Direito Tributário. As ações Declaratória e Anulatória seguem o rito comum do Direito Processual Civil Brasileiro, isto é, são mais extensas, complexas e marcadas por uma ampla possibilidade probatória (podem ser apresentados documentos, laudos técnicos periciais, prova testemunhal etc.). A Ação Declaratória serve justamente para a declaração da existência ou da inexistência de relação jurídico- -tributária, isto é, para dizer que, num caso, não houve incidência de determinado tributo, conforme o Fisco supôs inicialmente. Tal ação é manejada, geralmente, antes do lançamento tributário, ou seja, antes de constituído o crédito tributário (COSTA, 2019; MACHADO SEGUNDO, 2019). A Ação Anulatória, por sua vez, ocorre a partir do lançamento, pois tem o condão de anulá-lo em virtude da ocorrência de algum vício, como no exemplo de uma pessoa que recebe auto de infração por ocultamento de bens – se a pessoa demonstrar que não houve tal ocultamento, mas sim, um erro do Fisco, o lançamento será anulado (SCHOUERI, 2018). Sistema Simples Nacional imagem sem audiodescrição Agora, vamos falar sobre o Sistema Simples Nacional. O Sistema Simples Nacional está disciplinado na Lei Complementar nº 123/2006, que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Trata-se da criação de um sistema tributário diferenciado e simplificado para empresas que se enquadrem como Microempresas (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP). A referida lei trata de outros tantos aspectos ligados às ME e EPP, no entanto, aqui vamos nos concentrar na parte tributária (NOVAIS, 2019; SABBAG, 2018). O Simples Nacional diz respeito a um sistema tributário relativo à apuração e ao recolhimento de impostos e contribuições de competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, mediante um regime único de arrecadação, inclusive para as obrigações tributárias acessórias (BRASIL, 2006). Para que possamos conhecer melhor o Simples Nacional é preciso que saibamos, antes de tudo, no que consiste uma ME e uma EPP. De acordo com o art. 3º da Lei Complementar nº 123/2006 (BRASIL, 2006), microempresas ou empresas de pequeno porte podem ser a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) e o empresário descrito no art. 966 do CC/02 (BRASIL, 2002). ______ Reflita Seriam todas as atividades passíveis de serem enquadradas como ME ou EPP, para fins de adesão ao Sistema Simples Nacional? Há algum ramo ou atividade econômica ainda não contemplada pela Lei Complementar nº 123/2006? ______ Os conceitos de microempresa e empresa de pequeno porte têm a ver com o respectivo porte, isto é, a lei estabelecer um critério de aferição quanto ao enquadramento de uma pessoa jurídica nesta ou naquela categoria. O critério utilizado, o porte, como mencionado, é aferido com base na receita bruta anual. Para que uma empresa, por exemplo, seja qualificada como microempresa ou como empresa de pequeno porte, a receita bruta anual deve equivalerà previsão constante da Lei Complementar nº 123/2006. ______ Dica Conforme o §1º do art. 3º da Lei Complementar nº 123/2006, receita bruta é “o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos” (BRASIL, 2006, [s.p.]). ______ O Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional) está precisamente previsto no art. 12 da Lei Complementar nº 123/2006 (BRASIL, 2006). Trata-se de um recolhimento que é feito mensalmente, por intermédio de documento único de arrecadação, dos seguintes tributos: Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); Contribuição para o PIS/Pasep; Contribuição Patronal Previdenciária (CPP); Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); e Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). A opção pela inclusão no Simples deverá ser feita pela própria pessoa jurídica interessada e que esteja dentro das condições previstas na Lei Complementar nº 123/2006, valendo ressaltar que, feita a opção, esta será irretratável durante todo o exercício fiscal. A Lei Complementar nº 123/2006 (BRASIL, 2006) traz em seus Anexos as alíquotas que serão aplicadas às ME e EPP que aderirem ao sistema simplificado de recolhimento dos tributos mencionados. ______ Assimile A Microempresa (ME) e a Empresa de Pequeno Porte (EPP) dizem respeito ao tamanho da pessoa jurídica, considerando suas dimensões econômicas (faturamento bruto anual). A opção da Lei Complementar nº 123/2006 (BRASIL, 2006) é a de observar o crescimento médio dessas empresas, atualizando periodicamente as faixas de faturamento anual para cada uma, de modo que ainda possam optar pelo regime de tributação do SIMPLES Nacional, de acordo com o desenvolvimento econômico do país. ______ Questão interessante trazida pela Lei Complementar nº 123/2006 (BRASIL, 2006) diz respeito à previsão do chamado Microempreendedor Individual (MEI), o qual, para todos os efeitos, é aquele que atende à definição de empresário do art. 966 do CC/02 (BRASIL, 2002) ou que exerça atividades de industrialização, comercialização e prestação de serviços no âmbito rural, e não tenha faturamento anual que exorbite os limites previstos na respectiva lei. O Microempreendedor Individual (MEI) poderá enquadrar-se no Simples Nacional e, segundo o art. 18-A da Lei Complementar nº 123/2006 (BRASIL, 2006), recolherá os tributos abrangidos pelo sistema simplificado em valores fixos mensais. Com isso, chegamos ao final de mais uma etapa dos nossos estudos. Continuaremos nossos esforços para que você se sinta cada vez mais preparado para a atuação empresarial consciente dos principais mecanismos jurídicos envolvidos nesta seara. Conclusão imagem sem audiodescrição Depois de tudo o que estudamos, complementando nossos esforços para compreender a dinâmica da relação jurídico-tributária, você já deve estar pensando nas possibilidades de resolução da situação-problema apresentada, não é mesmo? No caso, você havia sido contratado como consultor de uma sociedade empresária, a qual, segundo lhe foi informado, tratava-se de uma empresa de pequeno porte, optante pelo Simples Nacional. Disso você já recorda, então, que o faturamento bruto anual dessa empresa deverá estar entre os limites previstos na Lei Complementar nº 123/2006, cuja atualização é periódica. Além disso, como optante do Simples, há o recolhimento simplificado de uma série de tributos federais, estaduais e municipais. Essa sociedade empresária está passando por muitas dificuldades financeiras e há um grande passivo tributário perante a União. Mas o problema é relativo a tributos cujos fatos geradores ocorreram cerca de um ano antes de a empresa ter optado pelo sistema simplificado de arrecadação do Simples Nacional. Também lhe foi informado que a empresa precisará participar de uma licitação pública perante determinado município, que demandou, no respectivo processo administrativo, a apresentação de Certidão Negativa de Débitos ou equivalente. A empresa informou, durante a consulta, que possui um terreno desocupado situado no centro da cidade onde fica a sua sede e que venderá para efeito de pagamento da dívida perante a União, havendo já um comprador interessado e disposto a realizar o respectivo pagamento à vista. No entanto, a empresa manifestou discordância quanto ao valor do tributo devido à União. Diante disso é que você foi indagado para elaborar um parecer e apresentar uma possível solução para a situação narrada, instruindo os sócios da empresa sobre como proceder. Como você deve ter percebido, o fato de a empresa atualmente estar inscrita no sistema do Simples Nacional nada interfere quanto aos tributos supostamente devidos à União, em virtude de fatos geradores anteriores à adesão ao regime simplificado da Lei Complementar nº 123/2006. No entanto, ter dado atenção a essa circunstância já lhe coloca em poder do conhecimento quanto às regras do referido regime. A empresa, portanto, possui passivo fiscal do qual a União é credora. Como há necessidade de discussão do passivo perante a União, considera-se que já houve o devido lançamento e assim a constituição definitiva do crédito tributário, motivo pelo qual você deve apontar o caminho para a propositura de uma Ação Anulatória. No entanto, é preciso que se obtenha, em caráter urgente, a Certidão Negativa de Débitos Fiscais. Mas, com efeito, como há débito, tal certidão será impossível de ser obtida. A opção é buscar uma Certidão Positiva com efeito de Negativa, que, é claro, possui os mesmos efeitos para fins de regularidade fiscal para participação em certames licitatórios perante o Poder Público. Assim, a empresa precisa que essa certidão se torne possível a partir do processo judicial intentado. Várias opções surgem a partir daqui. Como há um terreno que a empresa se disponibilizou a vender, supondo que esse negócio seja concretizado, a empresa poderá depositar em juízo o valor do débito perante a União e, dessa maneira, na forma do art. 151, II, do CTN (BRASIL, 1966) suspender a exigibilidade do crédito tributário e solicitar a emissão da Certidão Positiva com efeito de Negativa para apresentar no procedimento licitatório. Outra opção seria, caso não houvesse a venda do terreno e a disponibilidade do montante, a empresa justificar em juízo a situação emergencial e pleitear uma tutela antecipada (uma forma de liminar) que garantisse, independente de depósito no curso do processo, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário na forma do art. 151, V, do CTN (BRASIL, 1966). A impetração de um Mandado de Segurança com pedido de liminar também se mostraria possível, desde que houvesse prova pré-constituída do direito alegado pela empresa, isto é, algum vício demonstrável no lançamento tributário que pudesse ser comprovado desde logo ao juiz para decisão. Eventual liminar concedida nesse Mandado de Segurança também serviria para efeito de suspender a exigibilidade do crédito. Note, por conseguinte, que diversas opções surgem, calhando a escolha daquela que atenda modo mais célere aos propósitos e interesses da empresa.
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