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AULA 1 ANÁLISE DE CRÉDITO E RISCO Prof. Pedro Salanek Filho 2 TEMA 1 – PONTOS ELEMENTARES DO RISCO DE CRÉDITO 1.1 Risco de crédito e liquidez de recebíveis Vamos começar esse nosso módulo de uma forma muito prática e direta! É possível afirmarmos que a gestão de crédito e risco poderá ser medida com uma boa eficiência se a sua empresa não tiver problemas na geração de liquidez de recebíveis. Essa é uma forte premissa para este processo de risco de crédito. Podemos até travar (de forma muito simples, obviamente) que esse seria o melhor indicador até para medir o risco de crédito do seu negócio. Nesta linha de raciocínio, o foco ficaria direcionado para a gestão do caixa. É claro que ao olhar para a liquidez de caixa, que é a última etapa do processo, ficaria muito fácil avaliar por este momento final, entretanto, a tomada de decisão da concessão de crédito começa muito antes. A elaboração do planejamento financeiro e das definições orçamentárias é o momento em que você estabelece quais serão as políticas de crédito que a sua empresa irá adotar e, desse modo, a geração de caixa deverá ser uma consequência (positiva) de tudo isso. Estamos em um princípio de módulo e evoluindo em considerações básicas sobre a gestão de riscos. Nos próximos itens, abordaremos outras duas questões muito importantes quando são estabelecidas as políticas de crédito, que é o apetite ao risco e as respostas diante das situações de riscos. 1.2 Apetite ao risco O primeiro ponto relevante no momento do estabelecimento das políticas é a definição do seu “apetite ao risco”. Essa é uma premissa muito conhecida e usual no mercado de gestão de riscos, independentemente do tipo de risco que se deseja correr. Quando tratamos de apetite ao risco, falamos de uma referência, uma espécie de régua que irá balizar os gestores no patamar que podem chegar diante de estratégias em um processo ou mesmo no desenvolvimento de um projeto. É importante frisar também que sempre que falamos em risco, estamos falando de uma probabilidade de perdas (no item 1.4, ainda vamos trazer alguns conceitos sobre riscos). Podemos falar em risco de mercado, risco operacional, 3 risco de liquidez, riscos sistemáticos e não sistemáticos. Na política de riscos, sempre precisará ser estabelecido este parâmetro. Saiba mais: Assista aos vídeos a seguir para saber mais sobre o assunto: Qual a real importância do “Apetite ao Risco”?: <https://www.youtube.com/watch?v=t4_0xl3Cftg> e Conceitos de “Apetite ao Risco” | Risco no Ar #30: <https://www.youtube.com/watch?v=mmVAMpUTCtE>. 1.3 Resposta diante do risco Além de abordar o apetite ao risco, outro ponto relevante é a resposta diante de uma situação de risco. Em geral, podemos afirmar que existem quatro respostas diretas para uma situação de risco. O risco pode ser eliminado, reduzido, compartilhado ou aceito. Perceba que a primeira possibilidade de resposta ao risco é a eliminação. No caso do crédito, caso você queira eliminar os riscos, há forma muito simples de resolver isso: não efetue vendas a prazo, assim você não precisará estabelecer políticas de crédito e não precisará se preocupar com liquidez de recebíveis. Por outro lado, dependendo do mercado em que você atua, não será possível atingir suas metas orçamentárias e contemplar o planejamento financeiro. Essa situação não faz muito sentido na prática, mas seria uma forma de eliminar vários processos dentro da empresa (concessão de crédito, análise de crédito, comitê de crédito, contas a receber, cobrança, inadimplência, entre outros). Suas vendas teriam automaticamente a liquidez confirmada. A segunda opção tem uma influência interna e direta do gestor de crédito. Podemos afirmar que a resposta de reduzir o risco terá influência em todas as etapas do processo. As etapas que não seriam necessárias na “eliminação do risco” teriam que possuir forte poder de gestão e de liderança para a redução do risco de crédito. Podemos afirmar que é a resposta mais difícil de ser concretizada, visto que depende de uma gestão holística do crédito. A terceira seria o compartilhamento do risco de crédito. Nessa alternativa, teríamos a condição de “dividir com risco de crédito” com uma outra parte externa ao negócio. O seguro de crédito, apesar de não ser muito popular no Brasil, seria uma das formas de compartilhamento. Mas podemos trazer um exemplo bem prático nessa linha que são as vendas por meio de cartão de crédito. Essa 4 modelagem, que se popularizou nas últimas décadas, permite que um empresário possa efetuar as suas vendas e ter a garantia da liquidez, considerando um custo financeiro para essa operação, o qual precisa ser avaliado para verificar se seria mais alto ou mais baixo para toda uma gestão de crédito dentro do seu negócio. A última resposta seria em aceitar o risco. Nessa opção, o gestor não efetua muitas estratégias para mudar o cenário, até porque precisam ser estabelecidas estratégias. Desse modo, o gestor estaria automaticamente enquadrando o risco em uma das três respostas anteriores. 1.4 Riscos e incertezas Antes de darmos continuidade, vale também uma rápida reflexão entre os conceitos de risco e incerteza. Risco aplica-se a resultados que, embora incertos, têm probabilidades de ocorrer com base em uma base estatística e experiências anteriores. Os riscos podem ser mensurados. Já a incerteza está presente quando o impacto no negócio não pode ser previsto, nem mesmo em sentido probabilístico. Na prática, a incerteza está sempre presente, e qualquer análise deve testar suas suposições de risco que poderão ser mensuradas. Todos os negócios, de uma forma geral, estão submetidos a diversos tipos de riscos na sua gestão. Esses riscos podem ser divididos em risco sistemático e não sistemático. O sistemático é resultado do sistema político, econômico e social e das características de mercado, como taxas de juros e câmbio, que circundam todas as instituições, impactando-as de forma indiscriminada. Já o não sistemático, também denominado de risco próprio, é consequência direta dos aspectos financeiros, da administração e do setor de atuação, sendo específico dentro da posição de cada empresa. Assim, pode-se denominar a análise de risco como o estudo dos eventos que têm efeitos sobre o negócio (Gonçalves, 2005). Dessa forma, o conceito de risco é visto como uma consequência da decisão livre e consciente de expor-se a uma situação na qual há expectativa de ganho sabendo-se que há a possibilidade de perda ou de dano. Os riscos estão associados também à possibilidade de ocorrência de algum evento futuro que possa levar a uma perda. Os riscos consistem na geração de resultados inesperados e que normalmente impactam na redução de ativos ou na ampliação de passivos. Diante disso, podemos afirmar que o grande desafio da gestão de riscos consiste na 5 escolha e no controle da exposição aos riscos admissíveis. Tudo na vida e nos negócios é a administração do risco, e não a sua eliminação. Saiba mais Para ampliar seu conhecimento, assista ao vídeo a seguir: “Qual a diferença entre Incerteza e Risco?”, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VSYZMMpsAzg>. TEMA 2 – GERAÇÃO DE RECEBÍVEIS 2.1 Prazo médio de recebimento Nesse segundo tema, abordaremos como os valores a receber estão conectados com os fatores de risco de crédito. À medida que os volume de valores a receber aumenta em relação ao faturamento, o risco passa a ser considerado maior. A relação entre o volume faturado e o volume de valores a receber é um indicador financeiro monitorado com muita frequência na área financeira das empresas. Como existe uma relação direta com o tempo, o volume a receber é cruzado com volume faturado para determinar uma medida em dias, que é o prazo de recebimento. Esse índice passa a ser uma referência no acompanhamento dequantos dias de venda, em média, a empresa possui na sua carteira de recebíveis. Por exemplo, se a empresa efetua um cálculo anual e apresenta um prazo de 45 dias, isso representa que o faturamento de 45 dias (em média) da empresa ainda não foi recebido. O prazo de 45 dias representa 1,5 meses, o que não parece muito relevante quando se observa o parâmetro anual (360 dias – ano comercial). Diante dessa referência do prazo médio de recebimentos, é possível avaliar se a política de crédito vai demonstrando se a empresa possui boa capacidade de liquidez dos recebíveis. Considerando hipoteticamente que o prazo de 45 dias é suportável, a empresa poderá ir aumentando o seu faturamento mantendo a relação de 45 dias de média para os recebíveis. É importante frisar que, monetariamente, 45 dias de faturamento de R$ 100 milhões são bem mais significativos do que 45 dias de faturamento sobre R$ 50 milhões. Essa é outra etapa que gera um grande impacto financeiro na liquidez, ou seja, na capacidade de geração de caixa e o volume de valores a receber. Nesse 6 aspecto, podemos afirmar que não necessariamente existe problema de cadastro, problema na concessão de crédito ou mesmo patamares altos de inadimplência. O fato que preocupa é o prazo de recebimento alto, o qual fica desajustado com os prazos de pagamentos. Esses cálculos são muito utilizados em empresas comerciais (indústria, varejo e serviços). Já para as instituições financeiras, não são efetuados cálculos de prazos médios de recebimentos. Nessas instituições, é feita uma relação do risco de recebimento em relação ao enquadramento do tomador. Nessa base, uma parte percentual da carteira é lançada diretamente como provisão no resultado. São feitos acompanhamentos também do volume de concentração de crédito, em determinadas carteiras, em relação ao patrimônio de referência da instituição. 2.2 Relação entre metas de faturamento e geração de caixa Após a demonstração do índice de tempo medido pelo prazo médio de recebimento, abordaremos agora a relação de interesses entre o departamento comercial e o departamento financeiro. Nessas duas áreas, fica fácil de identificar que seus dois principais objetivos passam (ou deveriam passar) por uma boa gestão de crédito. Podemos afirmar que o departamento comercial deseja vender (de preferência, cada vez mais) e o departamento financeiro deseja receber (de preferência, o mais rápido possível). A área comercial está comprometida com a necessidade de atingir as metas orçamentárias por meio do volume de vendas. Para que o comercial possa sempre vender mais, será necessário que seja concedido crédito, certo? Essa concessão abre espaço para conexão com inúmeros outros processos que não possuem uma relação comercial tão forte, pois possuem relação mais efetiva como a capacidade de liquidez, de recebimento e de geração de caixa, ou seja, com os interesses do departamento financeiro. Existe um jargão muito forte nos negócios que diz: “O faturamento é o ego, a margem de lucro é conceito e o caixa é o rei do negócio”. É muito interessante refletirmos por alguns instantes sobre essa frase, visto que nela está, de forma implícita, a relação entre o comercial e o financeiro. Podemos ir até mais além e falar que a concessão de crédito poderá permitir que, apesar do ego do 7 faturamento, ocorra (no momento mais oportuno possível) a geração de liquidez de caixa. Saiba mais Assista ao vídeo a seguir para ampliar ainda mais seus conhecimentos. “Faturamento é Vaidade, Lucro é Sanidade e Dinheiro é Realidade”: <https://www.youtube.com/watch?v=1CGEPvnAVhc>. É possível que a margem de lucro (essa que foi mencionada como conceito ou mesmo sanidade anteriormente) possa justificar os prazos, entretanto, esse fato irá desajustar o ritmo de funcionamento do caixa da empresa. Quando as atividades comerciais vão gerando o faturamento e as metas orçamentárias vão sendo atingidas, a empresa vai gerando o resultado (lucro) e efetuando um comparativo entre previsto x realizado. O faturamento e o lucro possuem referência de avaliação em regime de competência, já a liquidação dos recebíveis possui relação com o regime de caixa. Quando não existe capital de giro para suportar a demora do recebimento, a empresa poderá buscar endividamento de curto prazo junto ao sistema financeiro, o que irá gerar despesas financeiras para suportar o serviço dessa dívida. Dessa forma, conseguimos perceber que o processo de risco de crédito precisa também acompanhar o ritmo dos prazos de recebimento. Enfatizamos esse ponto, pois se ocorrer um problema com inadimplência, o problema de caixa será potencializado devido a um histórico de altos prazos de recebimentos. TEMA 3 – RISCOS DE INADIMPLÊNCIA O risco de inadimplência é entendido no momento que ocorre a possibilidade de perdas para o credor. Esse fato se evidencia quando as condições negociadas passam a ser mais cumpridas, ou seja, não ocorre mais a pontualidade dos pagamentos. Vale ressaltar ainda que o conceito de crédito pode ser analisado sob diversas perspectivas. O crédito geralmente envolve a expectativa do recebimento de um valor em certo período de tempo. Nesse sentido, pode-se afirmar que o risco de crédito é a chance de que essa expectativa não se cumpra. De forma mais específica, o risco de crédito pode ser entendido como a possibilidade de o 8 credor incorrer em perdas, em razão de as obrigações assumidas pelo tomador não serem liquidadas nas condições pactuadas (Assaf Neto, 2010). O risco de crédito pode ser definido pelas perdas geradas por um evento do tomador ou pela deterioração da sua qualidade de crédito. Há diversas situações que podem caracterizar um evento de um tomador. O atraso no pagamento de uma obrigação, o descumprimento de uma cláusula contratual restritiva, o início de um procedimento legal como a concordata e a falência ou, ainda, a inadimplência de natureza econômica, que ocorre quando o valor econômico dos ativos da empresa se reduz a um nível inferior ao das suas dívidas, indicando que os fluxos de caixa esperados não são suficientes para liquidar as obrigações assumidas (Assaf Neto, 2010). A deterioração da qualidade de crédito do tomador não resulta em uma perda imediata para a instituição, mas sim no incremento da probabilidade de que um evento venha a ocorrer. Nos sistemas de classificação de risco, as alterações na qualidade de crédito dos tomadores dão origem às chamadas migrações de risco (Assaf Neto, 2010). O risco de crédito pode ser avaliado considerando os seus componentes, que compreendem o risco, o risco de exposição e o risco de recuperação. O risco está associado à probabilidade de ocorrer um evento com o tomador em certo período de tempo, o risco de exposição decorre da incerteza em relação ao valor do crédito no momento, já o risco de recuperação se refere à incerteza quanto ao valor que pode ser recuperado pelo credor (Assaf Neto, 2010). Saiba mais Assista aos vídeos a seguir para ampliar seu conhecimento a respeito do assunto tratado neste tema: “Como reduzir a inadimplência na sua empresa”: <https://www.youtube.com/watch?v=YSOF3OImCys> e “7 dicas para combater a inadimplência”: <https://www.youtube.com/watch?v=aNUTCU7leN4 >. TEMA 4 – COBRANÇA Quando tratamos de cobrança, esta representa o momento em que o prazo e as demais condições pactuadas não foram cumpridas pelo tomador do crédito. Nessa condição, começam a ser questionados os fatores que permitiram que aquela venda fosse realizada. O foco da venda a prazo não deve estar voltado ao passado (informações cadastrais e banco de dados), mas sim ao futuro, ou 9 seja, na capacidade de pagamento do tomador. Não necessariamente dados passados garantirão liquidez no futuro. O que dará maior confiabilidade ao processo é desenvolver ferramentas que demonstrem as tendênciasde determinados clientes, mostrando se serão bons ou maus pagadores no futuro. Esse é um dos maiores desafios na gestão de crédito, conceder o crédito no presente, com as informações do passado para receber no futuro. Toda essa reflexão é fundamental para reduzir a margem de erro na concessão de crédito e evitar problemas com inadimplência e cobrança posterior. A concessão de crédito deve contemplar a capacidade do tomador efetuar o pagamento dentro da programação, de forma que não venha a se tornar inadimplente dentro de um determinado período. Por meio de avaliação e estudos, deve-se assegurar a exposição ao risco que a operação registrou. Um crédito mal concedido provavelmente irá gerar sérios problemas na cobrança, gerando no mínimo demora na liquidação. Nesse momento, talvez o gestor entenda que o problema de cobrança e que não está conseguindo receber, quando na verdade esse problema ocorreu no início, por não avaliar adequadamente a concessão. Atualmente, nas negociações, as empresas (principalmente do varejo) estão utilizando muito a venda por meio de cartão de crédito, o que reduz sensivelmente o risco de inadimplência. Apesar dessa alternativa de transferência do risco (ou compartilhamento) de crédito para a administradora do cartão, a estruturação de um cadastro mínimo ainda é um procedimento muito comum no processo de vendas a prazo. Cada empresa possui uma forma particular de cobrança, que melhor se encaixe com o seu perfil de clientes. No entanto, o foco nunca deve ser nessa etapa e sim nas que antecedem a liberação do crédito. Esse é um bom parâmetro que deve sempre ser lembrado: quando a cobrança está sendo muito solicitada, ocorreu um problema no levantamento das informações para o cadastro e na liberação do crédito. No caso de um banco, a relação ocorre pelo processo “empréstimos ou financiamentos”, com a operação envolvendo diretamente os recursos financeiros. A contrapartida é o repasse em espécie, e não algum tipo de produtos que possa até ser recuperado posteriormente, exceto nos casos de financiamentos. 10 O tomador recebe diretamente da instituição financeira o dinheiro e deverá honrar os pagamentos à medida em que as parcelas forem vencendo. Nesses casos, o fator garantia geralmente é solicitado no processamento da operação. Por outro lado, podemos afirmar que as instituições financeiras são mais maduras para os processos de cobrança, visto que são especialistas no processo de gestão do crédito. Tabela 1 – Etapas dos processos de Cobrança a) Facilidades e comodidades oferecidas pelo mercado para facilitar o consumo do cliente Para o consumidor, as vendas feitas a prazo, parceladas com cartão de crédito, no crediário ou em boleto bancário são facilidades e comodidades oferecidas por vários tipos de comércio e aceitas em diversos negócios. Isso significa que o material é entregue ou o serviço é executado ao consumidor final, mas só será pago integralmente após dias, semanas ou até meses depois dessa entrega. b) Risco de inadimplência quando o cliente não paga Quando a parcela de pagamento com data fixada para recebimento não é paga, entra em cena a inadimplência desse pagamento acordado. Essa dívida pode ter arrolado por força de uma série de fatores e, precisa ser cobrada. A cobrança, até um tempo atrás, era uma abordagem agressiva e incisiva. Por meio de uma percepção do mercado, as empresas passaram a tratar a abordagem de forma mais cuidadosa, para não constranger o cliente. c) Tipos de procedimentos de cobrança (cobrança administrativa, processo de cobrança extrajudicial e o O processo de cobrança é um conjunto de procedimentos adotados pelas empresas, independentemente do tamanho delas, pois os recebimentos dos débitos estão diretamente relacionados aos seus negócios. Existem formas de realizar esta cobrança por meio do processo de cobrança administrativo, processo de cobrança extrajudicial e o processo de cobrança judicial. 11 processo de cobrança judicial) d) Cobrança no processo administrativo O processo de cobrança administrativo é a forma amigável de cobrar o cliente. São todas as dívidas que não são representadas por títulos judiciais, o que configura uma relação bilateral que, muitas vezes propõe negociações por meio de acordos, realizando os contatos por meio de ligações telefônicas, cartas de cobrança e notificações extrajudiciais. e) Cobrança extrajudicial Se após um determinado período a empresa não obter sucesso na cobrança da dívida por via administrativa, ela pode optar por recorrer ao processo de cobrança extrajudicial, na qual a dívida é registrada no Cartório de Protesto de Títulos. O processo de cobrança judicial, por sua vez, decorre sobre dívidas declaradas por atos judiciais e configura uma relação trilateral, em que um Juiz irá julgar o caso e a sentença é um título judicial. Para receber, o interessado deve ainda ajuizar um processo de cobrança do título judicial cobrando essa pessoa e executar a dívida. Se a execução da dívida reproduzir insolvência (situação em que o devedor não possui saldo, por algum motivo, para quitar a dívida executada) e o credor tiver certeza que o devedor possui bens suficientes para saldar a dívida, ele poderá entrar com o pedido de execução de penhora e penhorar esses bens. f) Patrimônio e garantias do tomador, por meio de uma pesquisa patrimonial O credor, para ter certeza de que o devedor tem bens em seu nome, pode realizar uma pesquisa patrimonial de bens móveis e imóveis. Os bens móveis consistem em carros, motos, entre outros. O levantamento pode ser feito nos departamentos de trânsito de cada Estado. A pesquisa de bens imóveis consiste em propriedades, terrenos, sítios, entre outros. O levantamento pode ser 12 feito nos Cartórios de Registro de Imóveis da cidade em que há interesse dessa pesquisa. Existem casos nos quais o devedor realiza fraude contra o credor, que consiste basicamente na sua diminuição patrimonial. Para que fique configurada a fraude, tal diminuição patrimonial deve ter como consequência o não cumprimento de sua obrigação com a dívida. Fonte: com base em Cartório 24 horas, 2020. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO – PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO Neste último tema, vamos tratar de um estudo de caso para evidenciar a relevância do prazo médio de recebimento na gestão do caixa de uma empresa. No Tema 2 desta aula, já tratamos desse assunto e da sua relação com o crédito. O objetivo aqui será aprofundar um pouco mais, por meio de uma demonstração de cálculos, como uma maior concessão de crédito com ampliação de valores e consequentemente de prazos impactará consideravelmente na gestão de liquidez de caixa. Tabela 2 – Prazo médio de recebimento em dias de vendas Período Valor faturado (Valor acumulado Últimos 12 meses) Valor a receber (Valor de saldo Para receber do período) Prazo médio de recebimento (Receber*360/faturado) Mês 1 340.000,00 58.000,00 61,4 Mês 2 350.000,00 69.000,00 71,0 Mês 3 370.000,00 75.000,00 73,0 Mês 4 380.000,00 85.000,00 80,5 Mês 5 400.000,00 95.000,00 85,5 Mês 6 420.000,00 102.000,00 87,4 Mês 7 580.000,00 150.000,00 93,1 Mês 8 720.000,00 190.000,00 95,0 Mês 9 810.000,00 250.000,00 111,1 Mês 10 850.000,00 350.000,00 148,2 Nesse caso, podemos observar que a empresa vem apresentando um crescimento expressivo do seu faturamento acumulado dos últimos 12 meses. 13 Esse crescimento possivelmente contempla as metas orçamentárias para o período, bem com a expansão de mercado da empresa. Para todo esse crescimento, fica evidente que a concessão de crédito, por meio de políticas mais arrojadas, ocorreu devido ao aumento registrado nos prazos de recebimento. A empresa trabalhava no primeiro mês com um prazo de recebimento de pouco maisde 60 dias, representando algo em torno de dois meses do que faturou nos últimos 12 meses que ainda não havia sido recebido. No quinto mês, esse volume já estava ultrapassando 80 dias. No último período (mês 10), o volume de valores a receber representava quase 150 dias de faturamento, ou seja, quase cinco meses daquilo que havia sido faturado, mas ainda não recebido. A nossa intenção aqui é apenas enfatizar o risco de crédito conjugado com o aumento do prazo de recebimento. Para ter uma análise mais profunda, teríamos que verificar, dentro desses valores, o volume de inadimplência que está existindo. Não foi feita nenhuma menção sobre possíveis valores a receber que já estão em atraso. Esse fato potencializaria ainda mais o risco de crédito da empresa, visto que o crescimento do faturamento não necessariamente está gerando liquidez de caixa. 14 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 3. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010. GONÇALVES, R. M. L. Condicionantes do risco de liquidez em cooperativas de economia e crédito mútuo do estado de Minas Gerais. 118 f. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Programa de pós-graduação em Economia Aplicada. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. 2005. ANÁLISE DE CRÉDITO E RISCO AULA 2 Prof. Pedro Salanek Filho 2 TEMA 1 – PERCEPÇÃO SISTÊMICA Vamos começar esta aula de uma forma diferente. Ao invés de já partirmos para os componentes conhecidos sobre o risco de crédito, como fizemos anteriormente, entendemos que uma abordagem mais ampla e estratégica é necessária, focada principalmente em mostrar um perfil mais ampliado do gestor de risco. Nessa linha de raciocínio, o primeiro ponto que vamos trabalhar é o desenvolvimento de uma percepção sistêmica sobre esse profissional. Talvez você esteja se questionando se está mesmo em uma aula sobre risco de crédito, certo? Ou se perguntando qual a relação da questão sistêmica com o nosso tema, visto que, geralmente, o gestor da área de crédito e risco está mais envolvido com o processo numérico, cercado de indicadores e planilhas eletrônicas, além de regras previamente estruturadas e com etapas operacionais rígidas. Sendo assim, são necessários mais alguns questionamentos: • O que queremos dizer com isso? • Por que a questão sistêmica está sendo mencionada logo na introdução desta aula? Enfim, ter uma percepção sistêmica será de grande importância para o desenvolvimento do nosso conteúdo daqui para frente, pois focará de uma forma diferente na atuação da gestão de riscos de crédito. Saiba mais Para entender mais a respeito de visão sistêmica, acesse os links a seguir. Visão sistêmica – metodologias e aplicações. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=qXKJfhdK-Ts>. Como desenvolver uma visão sistêmica da empresa. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=2PalLCtwXWE>. Provavelmente, será necessário também que façamos uma mudança de mind set (modelo mental), para que tenhamos uma melhor absorção e aceitação dessa perspectiva que será tratada. Consideramos também que a visão https://www.youtube.com/watch?v=qXKJfhdK-Ts 3 sistêmica é um conceito novo, que vem sendo aplicado de forma mais recente na gestão dos negócios como um todo. TEMA 2 – A VISÃO SISTÊMICA E O GESTOR DE RISCO DE CRÉDITO 2.1 Perfil do gestor de risco de crédito Geralmente, o perfil do gestor de crédito é apresentado com ênfase no raciocínio lógico, como sendo um profissional que desenvolve suas atividades dentro de um plano de indicadores e ferramentas de resultados numéricos, conforme mencionado anteriormente. Essa percepção é de grande relevância para contemplar as atividades operacionais desse profissional, que, inclusive, assume uma responsabilidade enorme de seguir processos lineares, solicitar e conferir documentos, além de validar a capacidade financeira dos clientes. Esses aspectos são, geralmente, definidos nos manuais de procedimentos de cada negócio, por isso recomenda-se que sejam seguidas todas as etapas operacionais em caso de função técnica. Em linhas gerais, podemos dizer que é esse profissional que define quem entra ou não na empresa sob a condição de potencial cliente para receber a concessão de crédito. Agora, vamos abordar aspectos mais estratégicos sobre a atuação do gestor de crédito, focando não apenas na amplitude operacional mencionada acima, mas, sobretudo, nos compostos estratégicos de observação e percepção dessa função. Para isso, abordaremos, paralelamente, os fatores estratégicos dentro de uma visão sistêmica e os fatores operacionais dentro de uma visão linear. 2.2 Visão sistêmica e visão linear Em um primeiro momento, iremos diferenciar visão sistêmica de visão linear, que também é chamada de mecanicista. Uma abordagem sistêmica é considerada contrária a uma abordagem linear. O sistêmico envolve a capacidade de “olhar o todo” e de fazer uma construção holística das partes que integram um sistema, ou seja, desenvolver uma compressão de funcionamento orgânico e de interdependência. É considerada uma visão que fortalece a necessidade de integração para o bom funcionamento de um sistema (como o processo de gestão de risco de crédito e 4 a sua relação com vários outros processos internos e externos do negócio, por exemplo). Por outro lado, um olhar linear já possui uma relação restrita, limitada e não integrativa, considerando que as partes funcionam de forma independente, geralmente isoladas, ou seja, não dependem necessariamente de uma interação. Ainda dentro das restrições da visão linear, quando um modelo de gestão é observado dentro de um ambiente empresarial, geralmente, ocorre uma percepção linear do seu funcionamento, procurando-se buscar um entendimento único para aquela situação. Esse entendimento do ambiente, normalmente, gera uma fragmentação para compreensão de cada uma das suas partes, existindo, assim, certas dificuldades de compreender a conexão com outras partes, bem como a busca de uma solução sistêmica e, sobretudo, ideal para aquele ambiente. Trazendo o conceito de percepção linear para o contexto do nosso conteúdo, é como se o risco de crédito fosse algo independente de outros processos dentro do negócio. E isso não é verdade, pois tudo está interligado. É exatamente nesse momento que começa o nosso desafio de integração e de conexões entre todas essas partes. Dando mais um passo nessa construção dos conceitos de visão sistêmica e de visão linear, trataremos agora de sistemas vivos e de sistemas não vivos. 2.3 Sistemas vivos e não vivos A fragmentação pode ser útil e eficiente (e também necessária) em alguns sistemas – denominados de não vivos (lineares) –, mas é extremamente limitada em outros sistemas – denominados de sistemas vivos (sistêmicos). Para continuar essa reflexão, é necessário compreendermos o que é um sistema vivo e um sistema não vivo, certo? Um sistema vivo pode ser representado por um sistema orgânico e que tem vontade própria. Nesse tipo de sistema as partes se relacionam continuamente e geram a sua própria dinâmica. Quando uma das partes não está funcionando bem, geralmente, compromete todo o sistema. Os sistemas não vivos, geralmente, são estáticos e não possuem uma inter-relação obrigatória. Suas etapas são independentes. Sendo assim, uma limitação em um dos componentes pode até interromper o funcionamento do 5 sistema, mas não prejudica a condição de funcionamento de outros componentes. Um sistema não vivo pode ser exemplificado por meio da representação de um circuito elétrico para o funcionamento de uma lâmpada em uma residência. Quando a lâmpada deixa de funcionar, o eletricista passa a observar separadamente os componentes que fazem parte desse sistema, tentando identificar qual deles impede que a lâmpada acenda. Para isso, ele segue uma espécie de checklist dos prováveismotivos: • Tem energia elétrica? • O interruptor está ligado? • A lâmpada está queimada? • Está com algum tipo de mau contato? • Algum outro componente está danificado? Analisando essas opções, o problema pode ser identificado e resolvido! É importante frisar que, quando um sistema não vivo não funciona no Brasil, nos Estados Unidos ou em qualquer outra parte do planeta, possivelmente, haverá uma mesma solução para o problema, visto que existe um “padrão de funcionamento” e também um “padrão para conserto”. Podemos perceber também que um sistema elétrico é independente, por exemplo, do sistema hidráulico, visto que não possuem interdependência direta para o seu funcionamento. Já para os sistemas vivos as soluções não são tão cartesianas assim! Nesse tipo de sistema estão incluídas as situações de gestão de recursos naturais, de segurança pública, de gestão de empresas, entre vários outros exemplos do nosso cotidiano. Observe, por exemplo, a gestão de uma equipe dentro de uma empresa. Vamos considerar que em um primeiro momento essa equipe atingia todas as suas metas, mas, após um determinado período, sua eficiência começa a cair e ela passa a não apresentar mais o mesmo patamar de performance. Analisando esse caso: • Qual deve ser a solução? • Haverá opções de melhoria por meio da aplicação simples de algum check-list? 6 • A solução será a mesma, independente da empresa ou do país onde o problema ocorreu? • A equipe pode ser separada (por partes) e o problema será facilmente solucionado de forma fragmentada? Ou seja, para sistemas vivos a solução não é tão fácil como parece! Uma empresa é um sistema vivo! Quando ocorre um problema em uma das partes, o reflexo impactará no funcionamento do todo. Portanto, fragmentar o departamento para tentar achar um defeito em uma das partes não será a melhor alternativa. Como já mencionado anteriormente, para os sistemas não vivos (sistemas não orgânicos) a separação é útil e eficaz, mas para os sistemas vivos (sistemas orgânicos) esse modelo de divisão não é o mais recomendado, pelo simples fato da necessidade de observação do todo. A relação entre as partes e os componentes – ou seja, as suas inter-relações – são fundamentais. Por isso, é tão necessário compreendermos os conceitos de olhar sistêmico e de olhar linear, para que possamos evoluir na compreensão dessa relação entre sistemas vivos e sistemas não vivos, em comparação com aquilo que será observado. Sendo assim, eis o motivo pelo qual o conteúdo desta aula está sendo tratado de forma tão detalhada. Após essas considerações profundas sobre os sistemas vivos e não vivos, bem como sobre a visão linaer e a visão sistêmica, abordaremos agora sobre o pensamento sistêmico. TEMA 3 – PENSAMENTO SISTÊMICO Esse tipo de pensamento é aquele que busca contemplar o todo e, assim, compreender que tudo está interagindo a cada momento. Essa compreensão é fundamental para o entendimento da integração de processos. Nessa linha de integração e conexão será possível formar um pensamento sistêmico. É fundamental, no pensamento sistêmico, aceitar que o todo é maior que a soma das suas partes. Como grande resultado do pensamento sistêmico, temos a criação de um sistema em rede. Vale também mencionar que no pensamento sistêmico as coisas não são vistas como elementos isolados, mas como partes integradas, conjuntos cheios de significados, cujas características mais importantes não estão em suas 7 partes, mas na maneira como essas partes se relacionam. A parte mais relevante dessa afirmação é o fato de que a gestão está nas conexões e não na existência das partes. Portanto, não basta apenas “existirem partes”, elas precisam interagir e se integrarem. Saiba mais Para entender mais a respeito de pensamento sistêmico, acesse os links a seguir. MENDES, J. O que é o pensamento sistêmico? Jerônimo Mendes, jan. 2011. Disponível em: <https://www.jeronimomendes.com.br/o-que-e-pensamento-siste mico/>. Acesso em: 12 mar. 2021. SANTOS, V. M. dos. Pensamento sistêmico: o que é e qual sua importância hoje? FM2S, jun. 2017. Disponível em: <https://www.fm2s.com.br/pensamento- sistemico/>. Acesso em: 12 mar. 2021. Para encerrar essa primeira reflexão, vale a seguinte citação: a abordagem linear “não é suficiente nos casos que envolvem sentimentos e emoções. Ou seja, não é capaz de tratar e entender a totalidade da vida humana. Assim, surgiu o pensamento sistêmico ou holístico que admite que as perguntas não possuem apenas uma única resposta” (Pasello, 2007). TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS DE ATUAÇÃO DO GESTOR DE RISCOS As competências exigidas para atuação de um profissional, como já destacado anteriormente, possuem relação com o desenvolvimento de atividades detalhadas para validar e aprovar as vendas a prazo para os clientes das empresas. Na amplitude da pessoa física, buscam-se informações de cunho pessoal, e da pessoa jurídica, buscam-se informações baseadas em documentos financeiros como o balanço, demonstração e resultados dos últimos períodos. O gestor de riscos irá atuar com base nas informações recebidas para expor ao mínimo a empresa ao risco de não recebimento do crédito concedido. É importante destacarmos que, quando um gestor de crédito sinaliza com uma análise negativa para uma concessão, vários processos que aconteceram antes também foram impactados. É obvio que se for para vender e não receber é melhor não vender! Entretanto, o questionamento aqui será mais direcionado https://www.jeronimomendes.com.br/o-que-e-pensamento-sistemico 8 para as falhas nos processos de levantamento das informações. Sendo assim, é oportuno questionar: • Os processos anteriores, geralmente efetuados por outras áreas, estão adequados? • Quais são os motivos que estão gerando tantos pareceres negativos? Saiba mais Para entender mais a respeito de gestor de crédito e risco, acesse os links a seguir. Como ser um gestor de risco? Disponível em: <https://www.youtube.com/w atch?v=UE8Bs-UV4KY&t=145s>. Quais são as características do gestor? Disponível em: <https://www.yout ube.com/watch?v=XzMoHOqCb3A>. NOVENTA, A. Qual o papel do gestor de crédito? B2e Group, mar. 2017. Disponível em: <https://b2egroup.com.br/2017/03/23/qual-o-papel-do-gestor-de- credito/>. Acesso em: 12 mar. 2021. Dentro dessa conexão da função do gestor de crédito com outras etapas do processo, recomendamos a leitura do artigo disponível no Saiba mais, acima. A autora desse artigo, Alcimere Noventa, traz um exemplo prático e destaca os pontos relevantes sobre o papel desse profissional. Dessa forma, será oportuno que algumas considerações sejam destacadas aqui no nosso conteúdo, conforme mostra o quadro 1, a seguir. Quadro 1 – Reavaliação de rejeições de pedido de concessão de crédito Etapas Ações Etapa 1 O estudo avaliou 70 mil pedidos que foram rejeitados por diversos motivos, menos por restrições. A partir da data da rejeição foi realizada uma reavaliação em dois momentos: no período de seis meses e, posteriormente, no período de 18 meses. Etapa 2 Por meio dessa nova avaliação se identificou que 53% dos clientes realmente pertenciam a um grupo de alto risco, demonstrando que a rejeição estava acertada. Entretanto, após seis meses, 17% e 36% apresentavam risco baixo e médio, respectivamente. Na outra avaliação, de 18 meses, os percentuais variaram para 13 e 34%, ou seja, quase metade estava dentro de um patamar de risco desejado pela empresa. https://www.youtube.com/watch?v=XzMoHOqCb3A https://www.youtube.com/watch?v=UE8Bs-UV4KY&t=145s 9 Etapa 3 Os motivos da rejeição passavam por questões relacionadas a documentos, referências e limite de crédito. O interessante desse exemplo é que muitos pontos estavam com procedimentos mal formulados na política de crédito. Para aproveitar melhor as oportunidades e melhorar a produtividade de toda a cadeia,foi trabalhado de forma mais holística nos procedimentos que diminuiriam o volume de rejeições, sem gerar maior inadimplência. Etapa 4 Passamos a divulgar esses acompanhamentos por períodos com a área comercial, reforçando nosso alinhamento, e desenvolvemos outros meios para nos certificar de que nossa política possuía critérios que, de fato, atendiam o seu objetivo de reduzir a exposição da empresa, e que cada item mencionado possuía um motivo muito sólido para estar ali. Fonte: Tabela elaborada com base no exemplo prático da autora Alcimere Noventa, disponível em: <https://b2egroup.com.br/2017/03/23/qual-o-papel-do-gestor-de-credito/>. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO: FORMAR UM SISTEMA EM REDE PARA O RISCO DE CRÉDITO Chegamos, agora, ao último tema desta aula. Tivemos uma conversa mais focada no desenvolvido do perfil do gestor de risco. A ideia geral foi tratar de uma mudança de visão e até de modelo mental sobre a atuação nessa área. Em geral, a função de gestor de risco exige características mais operacionais e preestabelecidas, porém, existe um problema em seguir modelos que não necessariamente trazem o melhor resultado para a empresa. O exemplo prático destacado no tópico anterior permitiu essa percepção, visto que quando as informações chegam de forma limitada e incompleta para a área de validação, fica muito fácil para esse profissional não conceder o crédito. Parece até que ele está fazendo a coisa certa! Dentro da sua função, podemos afirmar que sim, mas, no contexto geral do negócio, cada crédito que está sendo rejeitado gerou trabalho infrutífero para o negócio. A atuação da área de crédito pode (e deve) ser mais proativa. É necessário identificar os gargalos que existem durante todo o processo. Nessa linha de reflexão, destacamos uma atuação mais estratégica dessa área. Nesse formato existirão preocupações para melhorar processos e a atuação também será mais sistêmica. Sugestões para inovação, criatividade e mudanças são características mais adequadas para esse perfil estratégico. Com isso, um processo de liderança também será fortalecido e as decisões serão mais assertivas. Na gestão de talentos que as empresas desenvolvem hoje é 10 dito que um profissional com essas características, com foco mais no resultado do que no processo, é denominado de soft skill. Por outro lado, o desenvolvimento de técnicas de análise de crédito, de solicitação de documentação, de elaboração de relatórios de pareceres sobre a concessão ou não do crédito também são de fundamental importância, entretanto, contempla uma etapa mais operacional. O olhar fica mais voltado para a repetição de um procedimento, ou seja, a execução. Nesse parâmetro devem ser seguidos os padrões, o checklist e todos os demais fatores lineares desse processo. Na gestão de talento dos negócios, esse perfil é denominado de hard skill, visto que o foco está mais no processo do que no resultado. É importante destacarmos aqui que os dois perfis são importantes. Alguns profissionais irão executar e outros irão gerenciar. O executor tem, sim, a obrigatoriedade de seguir os procedimentos. O estrategista, por sua vez, que irá gerenciar, terá a finalidade de desenvolver uma percepção panorâmica e trabalhar não apenas para aplicar processos preestabelecidos, mas, sim, encontrar alternativas para seu melhoramento. Saiba mais Para entender mais a respeito de hard skills e soft skills, acesse os links a seguir. DIAS, G. Hard skills e soft skills: quais as principais diferenças? Gupy, fev. 2021. Disponível em: <https://www.gupy.io/blog/hard-skills-e-soft-skills>. Acesso em: 12 mar. 2021. CRISPINO, L. V. Qual é a diferença entre hard skills e soft skills? Exame, set. 2017. Disponível em: <https://exame.com/carreira/qual-e-a-diferenca-entre-hard- skills-e-soft-skills/>. Nessa abordagem holística, trabalharemos o desenvolvimento de uma atividade para a formação de uma rede entre as partes envolvidas na gestão de risco de crédito. Para avaliação desses cenários de combinação, recomenda-se o estudo pelos “mapas de rede”, que consistem na demonstração ilustrada da combinação entre os riscos. Hipoteticamente, podemos dizer que a combinação entre essas etapas, por exemplo, poderá impactar na gestão do negócio como um todo. A seguir 11 (figura 1), trazemos uma representação de conexão entre duas partes, demonstrando, assim, como a rede começa a se formar. Figura 1 – Diagrama de mapas de rede Fonte: Salanek Filho, 2021. Quando a seta é unilateral, representa que uma área possui influência na outra; quando é de mão dupla, a relação é recíproca; e quando a seta é pontilhada, representa que não está muito claro como funciona a relação entre essas duas áreas. A arquitetura da rede pode ser utilizada como um diagrama que sintetiza informações sistêmicas! Assim, essas articulações entre os diferentes agentes (players) locais são chamadas de “Mapa de Redes”, conforme demonstrado na figura 1, acima. Vale também aqui um breve destaque para a visão sistêmica dos mapas de redes. Essa concepção sistêmica não vê as coisas como elementos isolados, mas como partes integradas, conjuntos cheios de significados, cujas características mais importantes não estão em suas partes, mas na maneira como essas partes se relacionam. Para o nosso exemplo, demonstrado na figura 2, a seguir, serão pontuadas estas partes na formação da rede: • Cadastro • Concessão de crédito • Políticas de crédito • Orçamento • Faturamento • Inadimplência 12 • Cobrança • Vendas a prazo • Contas a receber • Garantias • Execução • Comitê de crédito • Análise de risco • Liquidez de caixa Figura 2 – Imagem ilustrativa do mapa de rede – gestão de crédito e risco Fonte: Salanek Filho, 2021 com base nas etapas da gestão de crédito e risco. 13 REFERÊNCIAS NOVENTA, A. Qual o papel do gestor de crédito? B2e Group, mar. 2017. Disponível em: <https://b2egroup.com.br/2017/03/23/qual-o-papel-do-gestor-de- credito/>. Acesso em: 12 mar. 2021. PASELLO, A. O que é pensamento sistêmico? Instituto Jetro, maio 2017. Disponível em: <http://www.institutojetro.com/artigos/12/administracao-geral/889/ o-que-e-pensamento-sistemico>. Acesso em: 15 dez. 2020. AULA 3 ANÁLISE DE CRÉDITO E RISCO Prof. Pedro Salanek Filho 2 TEMA 1 – POLÍTICAS DE CRÉDITO Anteriormente, trabalhamos muito a questão do perfil do profissional que atua com o risco de crédito. Inclusive na etapa final, por meio de uma visão sistêmica, foi realizada uma demonstração da integração das diversas etapas e processos, contemplando o desenvolvimento dessa área (políticas de crédito, cadastro, análise de crédito, concessão de crédito etc.). Agora vamos tratar de forma mais específica dessas etapas e processos prévios ligadas à concessão do crédito, iniciando pelas políticas de crédito. Quando falamos desse assunto, geralmente estamos trabalhando em um composto para alavancar as vendas do negócio e a geração de liquidez de caixa. A alavancagem é importante, pois é uma forma de expandir o negócio, conquistar mercados, atender clientes e aumentar o consumo. Esses fatores estão muito no contexto comercial da concessão de crédito. Pelo lado financeiro, a preocupação está na chegada dos recebimentos dos recursos no caixa para manter a sincronia com os momentos de pagamentos. As políticas de crédito podem ser classificadas de duas formas; flexíveis e rigorosas. Quando são classificadas como mais flexíveis a tendência da área comercial é vender mais, por outro lado, quando são mais rigorosas, a tendência é vender menos. Uma política de crédito mais flexível tende a gerar maiores problemas de cobrança; diante disso, podemos até afirmar que existe uma relação direta entre a política de crédito e a política de cobrança. Quando a empresa é mais flexível na liberação do crédito, ela terá que ser mais rigorosa naspolíticas de cobrança e vice-versa. É relevante destacar aqui que não existe um modelo certo ou errado, o posicionamento dessas políticas dependerá de cada momento e de cada interesse do negócio. A mesma empresa pode em um determinado período do ano ser mais arrojada em suas vendas e aliviar na política de crédito e em outro momento fazer exatamente o contrário. Dessa forma, podemos afirmar que a política de crédito não poder ser engessada. Outro ponto relevante, ainda nessa linha de raciocínio, é a existência dos chamados ciclos de crédito que compõem toda a parte de planejamento e também a formação de base de dados, para desenvolvimento das operações. A política de crédito também dependerá do tipo de atividade do negócio. Nessa estruturação, será necessário contemplar quem são os clientes, qual sua 3 estrutura, sua capacidade de pagamento e quais as probabilidades de entrarem em inadimplência, ou seja, precisamos definir uma metodologia. Lembrando também que a política de crédito é uma ferramenta e precisa ser calibrada dentro da realidade do negócio. É fundamental também que a política de crédito seja parametrizada dentro do ERP da empresa. Toda essa construção da política de crédito depende e muito de um bom alinhamento da área financeira com a área comercial, pois será por meio dela (política de crédito) que se dará a definição exata de quem (quais clientes) estará dentro da carteira de crédito da empresa. Esse alinhamento deve se expandir também para outras áreas (tecnologia, por exemplo), para que a implantação de políticas seja uma demonstração muito clara do funcionamento de forma sistêmica. Assim, será criada sincronia com as outras áreas e o processo funcionará de uma forma harmônica. Saiba mais • Regras de decisão da política de crédito. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Pymw1GhwSaA>. • Política de crédito e cobrança: melhores práticas. Disponível em: <https://empreendedoresdoparana.com.br/politica-de-credito-e-cobranca/>. • Como criar suas políticas de crédito. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hm2IRQCf1-0>. TEMA 2 – CADASTRO 2.1 Introdução à estrutura de cadastro Vamos entrar agora no ponto nevrálgico de todo o processo: o cadastro. Em todas as empresas as condições cadastrais e seus respectivos parâmetros apontam os gargalos do processo. Normalmente ocorrem erros de cadastros, como informações desatualizadas e incompletas. Sem contar a burocracia que um cadastro pode impor exigindo muito dados/documentos dos clientes. O cadastro pode ser mais simples quando a sua empresa consegue compartilhar o risco de crédito com uma outra parte. A venda pelo cartão de crédito, conforme já mencionado, é uma forma de transferir para a administradora o risco de crédito. Apesar dessa alternativa de transferência do https://www.youtube.com/watch?v=Pymw1GhwSaA https://empreendedoresdoparana.com.br/politica-de-credito-e-cobranca/ https://www.youtube.com/watch?v=hm2IRQCf1-0 4 risco para a administradora do cartão, a estruturação de um cadastro mínimo ainda é um procedimento muito comum no processo de vendas à prazo. 2.2 Estrutura de cadastro – pessoa física Iniciaremos com o cadastro de pessoa física. Na Tabela 1 são destacadas formas genéricas de estruturação deste cadastro. Tabela 1 – Estruturação de cadastro pessoa física Etapa Tipo de informação Descritivo Etapa 1 Nome e documentos Informações de nome e número de documento, já ocorre diretamente a verificação do registro de CPF (Cadastro Pessoa Física) junto aos órgãos oficiais ou mesmo aqueles órgãos de consulta, como o Serasa. Etapa 2 Verificação de regularidade Verificação de regularidade do documento, que poderá ser feita diretamente do site da Receita Federal. Geralmente, quando o documento apresenta problemas a situação cadastral estará enquadrado em uma das seguintes formas: a) pendência de regularização; b) suspensa; c) cancelado; e d) nula. Etapa 3 Comprovação de rendimentos Essa base é considerada de grande importância, pois vinculará com o limite de crédito que poderá ser estabelecido dentro do comprometimento de renda e. obviamente. da comprovação da capacidade de pagamento. Etapa 4 Comprovação de rendimentos adicionais Além da comprovação de rendimentos com base em origens de remuneração de trabalho (empregado, empresário, autônomo, entre outras) existem fontes de geração de renda por meio de pensão, aposentadoria, funcionalismo público, aluguéis etc. Etapa 5 Fonte de informações confiáveis Utiliza-se principalmente a declaração de imposto de renda, que além de agrupar informações de geração de renda, apresenta também a relação de patrimônio do cliente para eventuais garantias de empréstimos e financiamentos. Etapa 6 Informações de endereço A comprovação de endereço ocorre por meio da apresentação de faturas de serviços instalados e vinculados ao endereço do cliente. As mais comuns são as de telefonia, energia elétrica e água/saneamento. Etapa 7 Informações pessoais As informações de cunho pessoal dizem respeito ao contato com outras pessoas indicadas pelo próprio cliente, geralmente na amplitude de relações familiares, sociais ou mesmo profissionais. Além de confirmar o contato, também é destacado o tipo de vínculo que existe entre as 5 partes. Atualmente, as redes sociais permitem verificação das relações pessoais, inclusive na forma dessas relações bem de como outros dados de característica comportamental. Etapa 8 Informações comerciais As relações comerciais possuem vínculo mais voltado ao consumo do cliente. Geralmente são solicitados os locais que essa pessoa costuma efetuar compras (principalmente a prazo). Busca- se também, quando possível, descobrir volumes financeiros adquiridos, tempo de relacionamento e pontualidade de valores parcelados. Etapa 9 Informações bancárias Dizem respeito ao relacionamento do cliente com entidades financeiras em que possui movimentação. Diferentemente do tipo de consulta das relações comerciais, nas pesquisas das relações bancárias geralmente é confirmado se o cliente é correntista daquela instituição e há quanto tempo possui relação. Fonte: Elaborado com base em Salanek Filho, 2018. Após o levantamento dessas informações iniciais, a continuidade do cadastro não determina uma estrutura única para ser seguida. A própria empresa deverá desenvolver um modelo que venha sempre a se adaptar às suas necessidades. Não é recomendado que essa base inicial seja muito volumosa, com uma quantidade de informações que venha a gerar mais trabalho do que base relevante para tomada de decisão. Vale destacar também todos os aspectos relacionados à proteção de dados dos clientes, conforme a LGPD. 2.3 Estrutura de cadastro – pessoa jurídica Agora será realizada uma demonstração, também genérica, sobre a estruturação do cadastro para pessoa jurídica. Tabela 2 – Estruturação de cadastro pessoa física Etapa Tipo de informação Descritivo Etapa 1 Contrato social O primeiro passo do cadastro da pessoa jurídica é a solicitação do contrato social, que apresenta informações como: qualificação dos sócios; capital social e distribuição entre os sócios; administradores da sociedade; data da abertura da empresa. São solicitadas também, quando for o caso, as alterações de contrato social para verificar mudanças que ocorreram nas principais informações da sociedade empresarial. Etapa 2 Verificação do CNPJ O segundo passo é a verificação do cartão do CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). No momento da consulta do CNPJ a situação da 6 empresa deverá aparecer como ativa. Nessa situação a empresa está apta para exercer sua atividade e emissão de documentos fiscais válidos. Ainda dentro da questão de regularidade fiscal, outro ponto que pode ser incluído é a verificação fiscal do cliente por meio do Sintegra, que é o Sistema Integrado deInformações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços. Etapa 3 Certidões Negativas Para encerramento da estruturação do cadastro de pessoa jurídica do fator fiscal recomenda-se também a pesquisa da regularidade junto aos principais órgãos da esfera municipal, estadual e federal por meio da emissão de certidões. Essas certidões demonstraram sua regularidade se forem apresentadas, por meio de pesquisa e emissão na internet, se apresentar efeitos negativos demonstrando que não possui nenhuma pendência junto ao referido órgão. Etapa 4 Informações financeiras É a verificação das informações financeiras do cliente. A primeira informação diz respeito a uma declaração de faturamento mensal, geralmente dos últimos 12 meses. É uma informação importante, porém, sua veracidade precisa ser avaliada, se realmente expressam a realidade da empresa. Uma forma de aprofundar essas informações é a apresentação das informações de balanço (Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido e Demonstração de Resultados do Exercício). Esses documentos, de origem contábil, possibilitam demonstrar a situação de liquidez, endividamento, lucratividade e da rentabilidade da atividade do cliente. As informações contábeis são apresentadas seguindo a ordem que a legislação determina. Etapa 5 Informações comerciais e bancárias A próxima e última etapa é a verificação das referências comerciais e bancárias. Dentro das informações comerciais contemplam a consulta do número do CNPJ para confirmar que é a empresa referida e em seguida seguir uma espécie de checklist questionando há quanto tempo o cliente é cadastrado na empresa; pontualidade; datas e volumes de compras efetuadas; opinião da empresa consultada sobre a relação e comportamento da empresa. Outra pesquisa é relativa às informações bancárias que seguem uma busca de dados básicos sobre a relação do cliente com a referida instituição financeira. Além das consultas às referências comerciais e bancárias, a consulta a um banco de dados (Serasa) que apresenta informações sobre protesto de títulos em cartório, pagamentos não realizados, cheques devolvidos ou outras informações relevantes sobre a trajetória da empresa cliente. Fonte: Elaborado com base em Salanek Filho, 2018. Após a apresentação desse grupo de informações para pessoa física e para pessoa jurídica, partiremos agora para a etapa da análise de crédito. 7 TEMA 3 – ANÁLISE DE CRÉDITO Um dos pontos relevantes para a análise de crédito é a estruturação do banco de dados que forma ao cadastro, conforme já mencionado. Na análise de crédito é efetuada a classificação do nível de risco, parâmetro que a empresa detentora do crédito efetua com base nos critérios pré-estabelecidos. Nesse processo de classificação do risco são considerados fatores como: situação econômico-financeira; volume de dívidas; geração de resultados; fluxo de caixa; setor de atividade; limite de crédito, entre outros. Esses são fatores para a análise de crédito de uma pessoa jurídica. Empresas com maior risco nos itens mencionados, tanto na questão das características do tomador como também nas características da operação, serão classificadas em níveis de resultados inferiores. Dessa forma, o credor terá um retrato mais evidenciado da combinação de fatores, ao invés de avaliar individualmente cada um dos itens. Saiba mais • Sua empresa tem uma boa análise de crédito?. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=a-K2WOvKW0s>. A empresa deve desenvolver um bom processo de análise de crédito, bem como montar uma equipe com bons analistas. O processo de análise deverá contemplar a possibilidade de avaliar o potencial e os riscos dos clientes. Em caso de problemas de geração e caixa, o processo também deverá identificar rapidamente quais são os clientes e os motivos que estão gerando essa dificuldade. O processo deverá compor parâmetros de baixo, médio e alto riscos da carteira. A análise também considera fatores objetivos e subjetivos para sinalizar possíveis clientes potenciais para inadimplência. De forma geral, esses parâmetros e fatores serão filtros que validarão condições para conceder crédito. TEMA 4 – CONCESSÃO DE CRÉDITO Além de estabelecer regras, precisamos mapear adequadamente as principais informações de nossos clientes e ordená-las de forma que possamos tomar decisões sobre elas, ou seja formatar um perfil com suas principais https://www.youtube.com/watch?v=a-K2WOvKW0s 8 características. Um cuidado especial é com o histórico. Geralmente nos processos de análise de concessão de crédito, as características de trajetória da relação entre a empresa e o cliente são evidenciadas muito naquela condição de que determinado cliente nunca atrasou um pagamento. Sempre a relação foi muito positiva, tendendo a levar a um relacionamento duradouro. Entretanto, é necessário tomar muito cuidado nessa hora, visto que um histórico positivo, não necessariamente será motivo para aliviar a análise em uma nova concessão. O histórico positivo é muito importante, porém não deve ser o principal fator para a tomada de decisão e jamais ser o único. O processo de concessão de crédito é dinâmico, o que leva a uma condição de que, aquilo que ocorreu no passado não necessariamente irá ocorrer no futuro. Na verdade, o foco para concessão de crédito não deve estar voltado ao passado (cadastro e banco de dados), mas, sim, ao futuro, ou seja, à capacidade de pagamento do tomador. O que dará maior confiabilidade ao processo é desenvolver ferramentas que demonstrem tendências de determinados clientes, mostrando se serão bons ou maus pagadores no futuro. Toda essa reflexão é fundamental para reduzir a margem de erro na concessão de crédito e evitar problemas com inadimplência e cobrança posterior. Saiba mais • Errar na concessão de crédito. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=47BFs2BXocg>. • Dicas imperdíveis para concessão de crédito no varejo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=f8nv0tosygm>. TEMA 5 – RELATÓRIOS DE VISITAS Esse tipo de relatório tem finalidade de apresentar mais uma base de dados para a tomada de decisão na concessão do crédito. O documento registra informações que serão utilizadas pelos demais responsáveis pelo processo de análise. Em formato de relatos de memória ou por meio do preenchimento de campos específicos dos principais aspectos observados durante a visita. Após os processos de verificação, seja com a documentação que contempla mais o entendimento da pessoa física ou o processo in loco (visita) que contempla mais o cliente empresarial, o profissional que conheceu melhor a https://www.youtube.com/watch?v=47BFs2BXocg https://www.youtube.com/watch?v=f8nV0TosygM 9 realidade do cliente poderá efetuar um cruzamento de informações. A consolidação desse cruzamento de informações é a elaboração deste relatório. Vale ainda destacar que o relatório precisa ter característica de fator prático, tendo claramente evidenciada a forma com que será utilizado, quem da empresa irá utilizá-lo e os resultados efetivos que serão atingidos com a utilização deste relatório. Sua linguagem deve ser clara e objetiva, além de facilitar o entendimento para as demais áreas que terão acesso a ele. As informações devem ser diretas e úteis. A seguir, estão estruturados alguns tópicos que estar no relatório. Tabela 3 – Estrutura básica de relatório de visita Informações gerais Nome da empresa, CNPJ, código interno e outros dados para fácil localização do cliente no sistema da empresa. Endereço Endereço da matriz e do local visitado (caso a visita tenha sido em parque fabril ou unidade de produção, isso deve ser bem especificado no relatório, caso o endereço citado nos documentos não tenha sido o mesmo). Profissional para contato (nome, cargo e telefone direto) Essa é a pessoa que acompanha o visitante e passaas informações solicitas. Seu cargo é importante no relatório, para saber o grau de confiabilidade das informações. Contato Telefone, e-mail, site, rede social etc. (meios de comunicação ágeis para o esclarecimento de quaisquer dúvidas que surjam). Localização estratégica da empresa Verificação se a empresa estiver longe dos seus fornecedores ou clientes; se custos com aquisição e distribuição são demasiadamente altos, portanto, sua margem de lucro estará reduzida para competir com os demais em seu setor. Qualidade de instalações e equipamentos Verificação deste item está na qualidade dos equipamentos quanto à sua adequação à linha de produção. Clima organizacional Satisfação das pessoas encontradas no local. Encontrar funcionários com feições tristes ou aborrecidas significa que os salários e/ou outros direitos podem estar atrasados, e que o nível de exigências é demasiadamente alto, talvez insuportável. Isso tem grande significado em nossa análise, porque uma empresa difícil de ser suportada pelos seus colaboradores deve ser difícil com seus fornecedores, clientes e credores. Estoques Altos estoques de produtos acabados podem representar dificuldades nas vendas, prejuízos com excesso de armazenagem dependendo do tipo de produto que está estocado. Fornecedores O ideal para empresas seria não depender de um único fornecedor, pois caso ele tenha problemas, seu dependente poderá ser afetado comprometendo sua produção e entrega. Clientes O mesmo citado acima se aplica neste caso. Uma empresa dependente de um único cliente pode ter sérios problemas caso 10 ela escolha outro fornecedor. Distribuição Quanto, como e para quem a empresa vende. Possui representantes, distribuidores, comercializa no varejo, enfim, sua estratégia para garantir as vendas. Tecnologia Fatores relacionados à capacidade de inovação da empresa. Itens como criatividade, gestão do conhecimento e gestão da mudança estão entre os pontos importantes. Modus operandi (modo de operação) Como são feitos os produtos da empresa e qual seu prazo de entrega. Com isso, podemos medir a eficiência desta empresa. Fonte: Elaborado com base no Portal Educação, [S.d.]. 11 REFERÊNCIAS SALANEK FILHO, P. Gestão de Crédito e Risco. Curitiba: Editora InterSaberes. 2018 AULA 4 ANÁLISE DE CRÉDITO E RISCO Prof. Pedro Salanek Filho 2 TEMA 1 – CS DO CRÉDITO Existe uma etapa bem técnica que merece uma breve menção para o processo de análise, que são os “Cs” do crédito. A denominação dos Cs do crédito é antiga e obrigatória para a estruturação das etapas, pois visa agrupar informações que serão enviadas para aprovação. Podemos classificar os Cs do crédito como uma ferramenta para concretizar fatores relevantes do perfil do tomador. Essa classificação propõe uma análise que visa contemplar seis fatores que começam com a letra “C” e que devem ser detalhadamente observados. Estes estão apresentados de forma sequencial e sintetizada no Quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Descrição dos Cs do crédito Tipo Descrição Caráter Essa etapa diz respeito às características de índole do tomador, visando avaliar a predisposição de honrar com os compromissos assumidos. Outra forma de definir esse fator é ao lidar com a reputação do tomador, ou seja, se este estará determinado a pagar seus compromissos. Consultas aos órgãos de proteção ao crédito também são uma das formas de se avaliar o fator caráter. Capacidade Esse fator está ligado à competência do tomador em retornar o valor do crédito negociado. Quando se avalia a capacidade, é necessário observar se a atividade tem condições de gerar resultado para devolver o valor cedido. Entra nessa avaliação também se o tomador apresenta um perfil de endividamento alto, visto que o seu grau de endividamento já é um componente que poderá comprometer suas possibilidades de honrar os compromissos. Capital O potencial da empresa está expresso nesse fator, demonstrando a condição que a empresa apresenta de gerar capital e fortalecer o seu patrimônio. Para se mensurar o volume de capital gerado, normalmente são buscados indicadores de avaliação de lucratividade e de rentabilidade. Condição Essa etapa visa observar todo o contexto de cenário e o comportamento da empresa diante das tendências. Apesar de questões consideradas imprevisíveis, são buscados fatores que visam elucidar variáveis de riscos para aquela atividade do tomador. Até fatores relacionados à capacidade do negócio continuar existindo, em razão de mudanças tecnológicas e de paradigmas de produtos/serviços, são exemplos de fatores que entram nessa análise. Colateral Fatores de garantias que podem ser oferecidos em garantia da concessão. Geralmente é efetuada uma vinculação do volume disponibilizado com o volume de garantias, porém, é importante ressaltar que uma empresa com alto patrimônio (garantias) e sem capacidade (terceiro dos itens estudados), já demonstrará indícios de execução da garantia. Podemos novamente afirmar que a garantia é importante, porém, não deve ser o fator principal de concessão do crédito. Coletivo É quando o tomador faz parte de um conglomerado empresarial e seu risco de crédito pode ser avaliado em grupo. Nessa situação, podem existir alguns benefícios alinhados ao patrimônio do todo, como redução das exigências, simplificação dos processos e custos de negociação (juros, se for o caso). Fonte: elaborado com base em Salanek Filho, 2018. 3 É importante destacar que todos esses fatores devem ser observados no processo de concessão de crédito. TEMA 2 – ANÁLISE DE CRÉDITO: PESSOA FÍSICA E JURÍDICA Em momento anterior, foram apresentados grupos de informações que devem ser buscados para construir um cadastro de pessoa física e de pessoa jurídica. Na pessoa física, o grupo de informações objetiva conhecer as características principais do tomador. Com base nessas informações são construídos parâmetros para validação do crédito. É muito comum também na pessoa física a validação do crédito por meio de métricas de pontuação, as quais são encaixadas nas modelagens de credit score. Essas modelagens geralmente são técnicas estatísticas que efetuam todo um mapeamento do perfil do tomador do crédito, visando reduzir o risco e aumentar a segurança da concessão do crédito. Para Salanek Filho (2018), “técnicas como análise discriminante, regressão linear, árvores de decisão, programação matemática, redes neurais, entre outras, foram evoluindo ao longo do tempo para procurar medir, com maior precisão, fatores que envolviam qualidade e comportamento”. É importante destacar que, além das técnicas de credit score, existem também o behaviour score. No Quadro 2 a seguir, são destacados os principais pontos de cada uma dessas medidas. Quadro 2 – Características do credit score e behaviour score Modalidades Descritivos Credit score Ferramenta que estabelece uma espécie de pontuação de crédito, sendo muito utilizada pelas entidades financeiras. No Brasil, utiliza-se uma escala que efetua uma medição de 300 até 900 pontos. Esse parâmetro possibilita ao mercado compreender melhor o perfil do cliente e a comprovação do seu histórico. Até 300 pontos é considerado um tomador de alto risco de inadimplência; entre 301 e 700 pontos é considerado de risco médio; e acima de 700 pontos já passa a ser considerado um risco baixo. A aplicação desse modelo é considerada básica para ter uma referência de como esse tomador está classificado no mercado financeiro. As informações são coletadas dentro dos parâmetros aprovados em lei, e trabalhadas juntamente com empresas como o Serasa e o SPC. (continua) 4 (Quadro 2 – conclusão) Modalidades Descritivos Behaviour score O termo forte para definir essa ferramenta é a palavra relacionamento. Por meio do relacionamento será possível mapear e rastreara relação do cliente com a empresa que concede o crédito. Na tradução livre, teria relação com “avaliação comportamental”. Behaviour score é uma medição de nível de escore da carteira da empresa, visto que toda a avaliação é em cima de tomadores com quem aquela já tem um relacionamento. Na sua aplicação, é dito que o behaviour score procura criar uma base de padrão de interesse. Podemos destacar como exemplo uma relação de comprou/não comprou; atrasou/não atrasou; renegociou/não renegociou. O passo seguinte será a aplicação de alguma equação estatística como a análise discriminante ou a regressão linear para a formação de um algoritmo. Esse algoritmo será o fator de saída do behaviour score que possibilitará a identificação do parâmetro de avaliação do tomador. Foco em desenvolver uma relação de formatação da ferramenta com a criação de um banco de dados próprio de seus clientes. Fonte: elaborado com base em Salanek Filho, 2018. Vídeos O que é e como funciona o credit score. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5o3Zo-AM5eo>. Acesso em: 28 mar. 2021. O que é e como funciona o behavior score. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i8t8endIX3c>. Acesso em: 28 mar. 2021. Na pessoa jurídica, além das avaliações por meio de medidas de crédito destacadas anteriormente, utiliza-se muito a análise com base nas informações de balanço. Esse processo será tratado no tópico seguinte. TEMA 3 – ANÁLISE DE CRÉDITO COM BASE NAS INFORMAÇÕES DE BALANÇO Trabalharemos agora na construção de estudo de caso para avaliação de concessão de crédito para pessoa jurídica. Nesse tipo de análise, a base de cálculo passa pela solicitação dos balanços patrimoniais desse cliente. Sempre é importante destacar que esses documentos trazem uma visão do passado daquele negócio. São informações daquilo que já aconteceu com a empresa. É uma ótima fonte de dados, mas não deve ser a única. Além da análise desses balanços, será necessário também realizar uma visita e efetuar um levantamento das condições atuais e futuras desse negócio. 5 A análise de balanço contempla um grupo de informações necessárias para a compreensão do histórico financeiro do negócio. O balanço patrimonial traz as informações de todos os saldos de contas de ativos e passivos, contas a realizar e a pagar, respectivamente. O balanço mostra também como o capital da empresa está distribuído, bem como qual o volume de recursos que está destinado para ativos circulantes e para ativos não circulantes. Em relação ao passivo, qual o perfil de capital próprio e de capital de terceiros. O capital próprio está demonstrado no patrimônio líquido (PL), enquanto que o capital de terceiros está representado no passivo circulante e não circulante (curto e longo prazo). Na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), temos expresso por período qual foi o resultado gerado a cada período, com o descritivo das receitas totais (vendas), os gastos (custos e despesas) e o volume de margem e lucro gerada. Vídeos Análise de Crédito – pessoa jurídica (1). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=n__ykqJdK34>. Acesso em: 28 mar. 2021. Análise de Crédito – pessoa jurídica (20). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TDKNgvb-xV8>. Acesso em: 28 mar. 2021. Após o recebimento dessas informações, devem ser efetuadas as primeiras interpretações, que começam com as análises (horizontal e vertical) do balanço. Nesse momento, é feita uma relativização dos números, ou seja, são transformados em percentuais. Após essa etapa, observa-se as contas que tiveram maiores variações em cada período. A próxima etapa é a realização de uma análise econômico- financeira por meio de indicadores de liquidez, endividamento, ciclo de atividade etc. 3.1 Informações de balanço Vamos trabalhar agora um exemplo hipotético de estudo de caso. Vamos considerar que tivemos acesso aos três últimos períodos de fechamento. Na prática, geralmente é um período mínimo de informações necessárias para avaliar os balanços e DREs. 6 Tabela 1 – Balanço patrimonial e DRE Crédito: Salanek Filho, 2021. Podemos observar nas informações anteriores que estão apresentadas de forma resumida as informações necessárias. É importante que a base de dados tenha confiabilidade, ou seja, essas informações realmente representem a realidade da empresa em análise nos últimos três períodos. Não faz o menor sentido efetuar análise com base em informações irreais. TEMA 4 – INFORMAÇÕES DE BALANÇO: ANÁLISE HORIZONTAL E ANÁLISE VERTICAL A próxima etapa agora será efetuar a análise horizontal e vertical, conforme destacadas na tabela 4. ATIVO ano 1 ano 2 ano 3 CIRCULANTE 377.000 410.000 464.000 DISPONÍVEL (CX.BCO.APLICAÇÕES) 50.000 42.000 31.000 CONTAS A RECEBER 124.000 138.000 169.000 ESTOQUES 201.000 227.000 260.000 OUTROS ATIVOS CIRCULANTE 2.000 3.000 4.000 TOTAL REAL. LONGO PRAZO 25.000 30.000 33.000 TOTAL PERMANENTE 450.000 585.000 692.000 TOTAL ATIVO 852.000 1.025.000 1.189.000 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO ano 1 ano 2 ano 3 CIRCULANTE 322.000 419.000 495.000 FINANCIAMENTOS 142.000 229.000 311.000 CONTAS PAGAR/ASSOCIADOS 75.000 78.000 80.000 OUTROS PASSIVOS CIRCULANTES 105.000 112.000 104.000 TOTAL EXIGíVEL L. PRAZO 306.000 354.000 427.000 TOTAL PATR. LÍQUIDO 224.000 252.000 267.000 TOTAL PASSIVO 852.000 1.025.000 1.189.000 CONTAS DE RESULTADO ano 1 ano 2 ano 3 RECEITAS 794.000 836.000 917.000 DEDUÇÕES DE VENDAS (6.000) (7.000) (9.000) RECEITAS LÍQUIDAS 788.000 829.000 908.000 CUSTOS DOS SERVIÇOS PRESTADOS (552.000) (615.000) (702.000) LUCRO BRUTO 236.000 214.000 206.000 DESPESAS GERAIS E ADMINISTRATIVAS (181.000) (169.000) (169.000) LUCRO OPERACIONAL 55.000 45.000 37.000 RESULTADO FINANCEIRO (12.000) (14.000) (18.000) LUCRO OPERAC. APÓS FINANCEIRO 43.000 31.000 19.000 OUTROS (15.000) (16.000) (11.000) LUCRO LIQUIDA DO PERÍODO 28.000 15.000 8.000 BALANÇO PATRIMONIAL - ESTUDO DE CASO (R$ MIL) DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS 7 Tabela 2 – Análises (horizontal e vertical) Crédito: Salanek, 2021. ATIVO Ano 1 Ano 2 Ano 3 CIRCULANTE 377.000 100,0% 410.000 8,8% 464.000 23,1% DISPONÍVEL (CX.BCO.APLICAÇÕES) 50.000 100,0% 42.000 -16,0% 31.000 -38,0% CONTAS A RECEBER 124.000 100,0% 138.000 11,3% 169.000 36,3% ESTOQUES 201.000 100,0% 227.000 0,0% 260.000 0,0% OUTROS ATIVOS CIRCULANTE 2.000 100,0% 3.000 50,0% 4.000 100,0% TOTAL REAL. LONGO PRAZO 25.000 100,0% 30.000 20,0% 33.000 32,0% TOTAL PERMANENTE
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