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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DE UM MODELO CONCEITUAL DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE GESTÃO ESTRATÉGICA WELINGTON ROCHA Orientador: Prof. Dr. Masayuki Nakagawa SÃO PAULO, JULHO DE 1999 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DE UM MODELO CONCEITUAL DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE GESTÃO ESTRATÉGICA Welington Rocha Orientador: Dr. Masayuki Nakagawa Tese apresentada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências Contábeis. SÃO PAULO, JULHO DE 1999 Reitor: Prof. Dr. Jacques Marcovitch Diretor: Prof. Dr. Eliseu Martins Chefe do Departamento: Prof. Dr. Reinaldo Guerreiro “Ciência é saber, tecnologia fazer, e pesquisa é a busca do desconhecido.” JACQUES MARCOVITCH À Celia Agradecimentos Ao Prof. Nakagawa, pela orientação. À FIPECAFI, pelo apoio logístico e financeiro. RESUMO O produto final desta obra é a proposta de um modelo conceitual de sistema de informação específico para dar suporte ao processo de gestão estratégica das organizações. Esse sistema de informação visa a facilitar o processo de concepção, formulação, desenvolvimento, monitoramento e sustentação de estratégias, que assegure vantagens competitivas às organizações usuárias, contribuindo, assim, para a otimização do seu grau de eficácia. O modelo proposto começa com a definição de Sistema de Informação de Gestão Estratégica, seu escopo e seus objetivos; propõe sua integração conceitual e sistêmica aos demais subsistemas organizacionais, e termina com a caracterização de seus principais módulos. Trata-se de um modelo que vai além do intuito dos tradicionais sistemas contábeis e de informação gerenciais: ao contemplar entidades e variáveis relevantes do ambiente próximo das empresas ou instituições, avança um passo em direção à aplicação prática do conceito de Contabilidade Gerencial Estratégica. ABSTRACT The final result of this study is the proposal of a specific conceptual model of an information system to support the strategic management process of the organizations. This information system aims at aiding conception, formulation, development, monitoring and supporting of the strategy process, to assure competitive advantages to the organizations, in order to help them optimize their degree of effectiveness. The proposed model starts defining Strategic Management Information System, its scope and objectives; It is intended to be conceptually and systemically integrated into the other organizational subsystems, and it concludes by defining its main modules. The model goes beyond the purpose of traditional accounting and management information systems. Considering relevant entities and variables of environment adjacent to the organizations, such model is headed toward the practical application of Strategic Management Accounting concept. SUMÁRIO 1 Caracterização da situação-problema objeto do estudo, resultado esperado e formulação da premissa .................................................................... 1 1.1 Antecedentes ............................................................................... 1.2 Razões e justificativas do estudo .................................................... 1.3 Problema de pesquisa ................................................................... 1.4 Objetivos .................................................................................... 1.5 Resultado esperado ...................................................................... 1 2 4 6 7 2 Características do trabalho e do processo de investigação ........................ 8 2.1 Natureza do trabalho .................................................................... 2.2 Metodologia da pesquisa ................................................................ 8 9 3 Referencial teórico .............................................................................. 11 3.1 Estratégia e gestão estratégica ....................................................... 3.2 Gestão estratégica da cadeia de suprimento ..................................... 3.3 Ameaça de substituição ................................................................. 3.4 Produtos complementares .............................................................. 3.5 Custeio-alvo e custo total de uso e de propriedade ............................ 3.6 Determinantes de custos ............................................................... 11 27 36 38 40 41 4 Estrutura Conceitual de Gestão Estratégica ............................................ 44 4.1 Vantagem Competitiva .................................................................. 4.2 Gestão Estratégica ........................................................................ 4.3 Área de Eficácia da Gestão Estratégica: Eventos Objeto de Decisões Estratégicas ................................................................................. 4.4 Modelo de Decisão de Gestão Estratégica ......................................... 4.5 Fases do Processo de Gestão Estratégica ......................................... 4.6 Implicações Econômicas da Gestão Estratégica ................................. 4.7 Necessidade de sistema de informação específico para gestão estratégica .................................................................................. 4.8 Características de um sistema de informação de gestão estratégica ..... 44 45 51 53 57 59 61 68 5 Modelo de Sistema de Informação de Gestão Estratégica ......................... 86 5.1 Modelo ........................................................................................ 5.2 Sistema ...................................................................................... 5.3 Dado e Informação ....................................................................... 5.4 Sistema de Informação de Gestão .................................................. 5.5 Sistema de Informação de Gestão Estratégica .................................. 5.6 Integração Conceitual e Sistêmica .................................................. 5.7 Subsistemas do Sistema de Informação de Gestão Estratégica ........... 5.8 O Sistema de Informação de Gestão Estratégica é diferente do Sistema de Informação sobre Variáveis Ambientais ....................................... 5.9 Sistema de Informação de Gestão Estratégica e Apoio ao Processo de Gestão Estratégica ........................................................................ 5.10 Requisitos para Validação do Modelo Proposto ................................ 86 87 87 88 88 96 98 129 132 132 6 Conclusões e Recomendações .............................................................. 135 6.1 Deve haver um Sistema de Informação Formal e Específico para dar Suporte ao Processo de Gestão Estratégica ........................................ 6.2 O Sistema de Informação de Gestão Estratégica Proposto Nesta Pesquisa é Destinado à Organização e às Unidades Organizacionais ...... 6.3 O controller deve Administrar o Sistema de Informação de Gestão Estratégica .................................................................................... 6.4 O Modelo Proposto é um Ponto Inicial, Não Final ................................ 6.5 Recomendação de EstudosPosteriores .............................................. 6.6 Comentários Finais ......................................................................... 135 137 137 138 138 139 Referências Bibliográficas ........................................................................ 141 Bibliografia Consultada ........................................................................... 146 1 CAPÍTULO 1: CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA OBJETO DO ESTUDO, RESULTADO ESPERADO E FORMULAÇÃO DA PREMISSA 1.1 Antecedentes GUERREIRO (1995: 56) inclui a “satisfação dos agentes envolvidos na cadeia de relacionamentos” entre os fatores determinantes da eficácia empresarial. SAKURAI (1997: 20-8) descreve a necessidade da alteração dos objetivos empresariais e das técnicas de contabilidade gerencial, com base numa retrospectiva do ambiente de negócios, nos últimos cinqüenta anos. Quanto aos objetivos empresariais, SAKURAI (1997) refere-se à mudança de ênfase: da eficiência, para a eficácia. Neste sentido, para ele, o modelo de eficácia deve englobar, além dos produtos e serviços gerados, um fator — por ele denominado α — que representa benefícios sociais e satisfação de todas as partes envolvidas, direta ou indiretamente, com a empresa (clientes, fornecedores, comunidade etc.). Quanto às técnicas de contabilidade gerencial SAKURAI (1997: 24-5), enfatiza a necessidade de informações que dêem suporte ao processo de gerenciamento integrado de custos, que ele define como “uma abordagem abrangente de toda a cadeia de valores...”. Essas considerações ressaltam a importância da formulação de estratégias que garantam não só a sobrevivência da empresa em um ambiente volátil e competitivo, mas a sobrevivência com vantagem sobre os concorrentes. Tanto na literatura quanto na prática, é pacífico o entendimento de que o planejamento estratégico é apenas uma das etapas do processo administrativo das organizações; além dele há que haver planejamento operacional, programação etc. e controle permanente, para verificar se as ações estão ocorrendo em conformidade com os planos. Porém, na visão de RICHERS (1981), antes de darem início ao processo de formulação de estratégias, os administradores precisam analisar a situação de suas organizações no contexto de um ambiente (A) volátil e competitivo. É somente após e a partir dessa análise que eles estarão em condições de escolher as 2 estratégias (E1) que lhes permitirão conviver com o ambiente em que estão inseridas. A essa análise de posicionamento estratégico, através da qual as organizações empresariais escolhem estratégias que lhes permitam conviver adequadamente com o ambiente, dá-se o nome de “ajuste para o equilíbrio dinâmico”: ajuste para o equilíbrio dinâmico = ƒ(A, E1) Na fase que se segue ao ajuste das organizações ao ambiente, deve-se buscar uma forma adequada de ajuste entre as estratégias escolhidas (E1) e a estrutura organizacional (E2). Surge, então, o “equilíbrio estacionário”: equilíbrio estacionário = ƒ(E1, E2) A preocupação, única e exclusiva, de dar suporte ao processo de busca do equilíbrio estacionário, tem caracterizado os sistemas de informações gerenciais, em geral, e o de contabilidade, em particular. Sistemas de informação para dar apoio ao processo de gestão econômica vêm sendo estudados ao longo do tempo; e a tese de GUERREIRO (1989) é um marco histórico nesses estudos. Embora esteja consagrada, na prática e na literatura, a necessidade da análise do ambiente, para se dar início ao processo de planejamento estratégico, não há registro de proposta concreta de um modelo específico de sistema integrado de informação para esta finalidade; e, menos ainda, para dar suporte a todo o processo de gestão estratégica. 1.2 Razões e justificativas do estudo Os tradicionais sistemas de informações gerenciais, em geral, e os de informações contábeis, em particular, caracterizam-se por concentrar-se em questões relativas à alocação eficiente e eficaz de recursos, à necessidade de avaliar resultados de unidades e desempenhos de gestores, sob a óptica dos aspectos operacional, econômico, financeiro e patrimonial das atividades desenvolvidas nas organizações. Esses sistemas raramente fornecem um conjunto organizado de informações que dê efetivo suporte ao processo de formulação de estratégias. 3 Em 1981, SILVA apresentou sua tese de doutoramento, intitulada Contribuição à identificação da informação gerencial (FEA-USP, São Paulo, Brasil). Nessa tese, com o objetivo de possibilitar o desenvolvimento e a implantação de sistemas de informações gerenciais, o autor apresenta uma metodologia de identificação e caracterização de problemas decisórios. Esses problemas, segundo Ansoff, citado por SILVA, são de três categorias: estratégicos, administrativos (ou integrativos) e operacionais, assim definidos: Problemas estratégicos dizem respeito às interações entre a empresa e o ambiente. Problemas integrativos são os que se referem a questões relativas a autoridade e responsabilidade, fluxo de informações e de trabalho, canais de distribuição, localização da empresa, fontes de matéria-prima, treinamento e desenvolvimento de pessoal, financiamento e aquisição de instalações, máquinas e equipamentos. Operacionais são os problemas relacionados a: alocação de recursos entre áreas funcionais e entre linhas de produtos; programação de operações; acompanhamento da execução; controle 1. Analisando-se esses conceitos à luz dos de equilíbrio dinâmico e equilíbrio estacionário, observa-se que os problemas estratégicos são equivalentes ao primeiro, e os integrativos, ao segundo. Analisando-se, agora, esses mesmos conceitos à luz das características predominantes nos sistemas de informações gerenciais, em geral, e nos de Contabilidade Gerencial, em particular, observa-se que informações usadas para dar suporte à solução de problemas estratégicos não costumam ser explicitadas. A maior parte da literatura, quando muito, menciona vagamente a necessidade de tais informações, conforme se pode ver no item 3.4, do capítulo 3; 1 Embora o autor se refira dessa forma à idéia de Ansoff, o final da sentença é redundante, pois controlar, no contexto da Controladoria, significa acompanhar a execução. 4 alguns poucos autores citam exemplos; porém não há registro de proposta de um modelo conceitual, completo, de sistema de informação específico, para dar suporte ao processo de gestão estratégica. Na prática, conforme observações empíricas do autor, os profissionais de Controladoria, pelo menos no Brasil, na sua quase totalidade, reagem com estranheza, com surpresa e ceticismo, à idéia de que seus sistemas de informação possam captar dados e gerar informações sobre o meio ambiente. Se os analisarmos sob a óptica da tripla categorização de ANSOFF (1977), veremos que os tradicionais sistemas de informações gerenciais voltam-se para a solução de problemas integrativos e operacionais. 1.3 Problema de pesquisa Resumindo: a situação-problema objeto deste trabalho é a constatação da necessidade de um adequado sistema de informação, formal, que dê suporte aos gestores e os auxilie no processo de concepção, desenvolvimento, implementação, monitoramento e sustentação de estratégias. Os tradicionais sistemas de informações gerenciais, com seus subsistemas de contabilidade, custos e orçamentos, são concebidos e implementados para dar apoio ao processo de busca do equilíbrio estacionário, e se caracterizam por: . dar suporte às etapas de planejamento e controle operacionais; . fundamentarem-se preponderantemente no registro de transações; . não contemplar variáveis ambientais que afetem o desempenho da empresa; . apoiarem-se quase exclusivamente no sistema de informação contábil; . não contemplar variáveisqualitativas; . utilizar linguagem preponderantemente contábil e financeira, nem sempre compreendida por gestores das áreas de produção e afins, mais familiarizados com a linguagem físico-operacional própria dos processos e atividades, o que compromete a eficácia do processo de comunicação; . dar suporte, apenas, à resolução de problemas estruturados; . enfatizar aspectos relativos à tecnologia de processamento de dados (tecnologia de informação) em prejuízo do esmero conceitual da informação em si mesma; 5 . reportar “informações” que já são de conhecimento do receptor, por observação direta dos eventos, por serem recorrentes e repetitivas, ou por estarem defasadas e não provocarem, nele, surpresa. A pesquisa bibliográfica e a observação empírica revelam que os sistemas de informações gerenciais são projetados e implementados para dar suporte à solução de problemas estruturados, recorrentes. Embora vários autores mencionem a necessidade de sistemas de informações estratégicas, o que se lê são vagas e esparsas referências à necessidade de contemplar dados sobre variáveis ambientais; mas não se propõe, efetivamente, um modelo conceitual pormenorizado. WATERMAN, PETERS e PHILLIPS, por exemplo, no reading denominado The 7-S Framework (1988: 271-6), discorrem sobre as relações entre estrutura e estratégia (tal como em CHANDLER JUNIOR, 1962); fazem-no, porém, ressaltando sua necessária interação com outras cinco variáveis, para que a empresa atinja a eficácia; a primeira são os sistemas — e se referem, explicitamente, ao sistema de informações gerenciais. Os autores mencionam dois exemplos segundo os quais o sistema de informações gerenciais não dava suporte à implementação de estratégias: o primeiro, por não prover dados confiáveis de custos por segmento;2 o segundo, por limitar-se às atividades internas da empresa. Esta última inadequação vem bem ao encontro da preocupação de CUSTÓDIO (1981, cap. 4), quando afirma que “... o administrador vê expandido seu campo decisório para fora ou nos limites que separam a empresa de seu sistema maior ou ambiente”. É pacífico, na prática e na literatura, que esses sistemas de informação são incompletos, por não fornecerem informações estratégicas; logo, há uma espécie de “vácuo”, um espaço aberto, que precisa ser preenchido. O objetivo desta tese é ajudar a preencher esse espaço. 2 A expressão é um tanto vaga. 6 1.4 Objetivos O escopo desta pesquisa delineia-se e se torna claro a partir da constatação, conforme se demonstra no capítulo 3, de que a maioria dos atuais sistemas de informação não atendem às necessidades dos administradores, para fins de gestão estratégica. O trabalho se desenvolve, portanto, no sentido de responder às seguintes questões: . Que significa gestão estratégica? . Que informações são estratégicas para a empresa? . Quais são as características do processo de gestão estratégica? . Deve haver um sistema de informação específico, formal, para dar apoio ao processo de gestão estratégica? . Quais seriam suas características? A resposta se inicia com a conceituação dos termos estratégia e gestão estratégica, para chegar ao de sistema de informação de gestão estratégica. O que se pretende, pois, é: 1. conceituar estratégia e gestão estratégica; 2. caracterizar bem o processo de gestão estratégica, definindo: a) os principais eventos objeto de decisões estratégicas; b) o modelo ou modelos de decisões estratégicas; c) as fases do processo de gestão estratégica; d) as implicações econômicas de decisões estratégicas; 3. estabelecer bases conceituais que fundamentem a necessidade de um sistema de informação específico para gestão estratégica; 4. caracterizar, inventariar e listar as informações necessárias ao processo de gestão estratégica; 5. propor um modelo conceitual de sistema de informação com base em conceitos, princípios e fundamentos de gestão estratégica; 7 6. sugerir um conjunto básico dos principais módulos (subsistemas) do sistema proposto; 7. discutir sobre quem devem ser os usuários das informações estratégicas; e 8. discutir sobre quem deve ser o gestor do sistema de informação proposto. Não é objetivo do autor, neste trabalho, tecer considerações relativas à implementação do sistema proposto, mas tão-somente à sua modelagem conceitual. O objetivo principal é identificar informações necessárias ao processo de gestão estratégica e não tratar de aspectos físicos de processamento de dados; assim, questões relacionadas a tecnologia de informação não são abordadas. Também não pretende o autor, neste tese, tratar do processo de gestão operacional, por entender que sistemas gerenciais de informação, para lhe dar suporte, já vêm sendo objeto de estudos há muito tempo. 1.5 Resultado esperado Todo o estudo a ser desenvolvido nesta obra, tendo em vista os objetivos definidos no item anterior, baseia-se na seguinte premissa: deve existir, nas organizações, um sistema de informação formal e específico, para dar suporte adequado ao processo de gestão estratégica. Parte-se do princípio de que a maioria dos atuais sistemas de informação não atende adequadamente às necessidades informativas para aquela finalidade, especialmente no que se refere a informações sobre entidades e variáveis do ambiente próximo à empresa. O resultado esperado, portanto, é um modelo conceitual de sistema de informação específico que seja eficaz ao assistir os gestores no processo de gestão estratégica. 8 CAPÍTULO 2: CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO E DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO O método da abordagem científica para se desenvolver uma teoria consiste numa seqüência lógica de três etapas, a saber: 1ª) definição do problema, do resultado esperado e das hipóteses e/ou premissas de trabalho; 2ª) estabelecimento da estrutura conceitual que dá suporte ao estudo; e 3ª) desenvolvimento de testes empíricos, ou de argumentação e comprovação teóricas. A primeira etapa foi contemplada no Capítulo 1; as duas últimas serão abordadas no Capítulo 3. O Capítulo 4 apresenta o primeiro resultado da pesquisa, que é a formulação conceitual da estrutura do processo de gestão estratégica. No Capítulo 5 descreve-se o modelo conceitual do sistema proposto (segundo resultado do estudo) e no Capítulo 6 formulam-se considerações finais e recomendações. 2.1 Natureza do trabalho Esta obra é de caráter preponderantemente normativo, pois seu objetivo é prescrever um modelo conceitual de sistema de informação; porém o autor se apóia em considerações positivistas presentes na literatura por ele avaliada, e em suas próprias observações, empíricas. Neste sentido, o autor assume a postura histórico-estrutural de equilíbrio “... entre condições objetivas e subjetivas... onde a realidade... em parte é dada, em parte é feita” (DEMO, 1995: 84). São estas, pois, as fontes que guiam as linhas de raciocínio deste trabalho de pesquisa e investigação. 9 2.1.1 Nível teórico Considerando-se os três níveis de predição das teorias contábeis descritos por HENDRIKSEN & BREDA (1992) e KAM (1990), esta tese se caracteriza como sintática e pragmática. Sintática, ou lógica, porque estuda a estrutura formal de relações entre duas teorias: a de gestão econômica e a de gestão estratégica (e seus respectivos sistemas de informação); pragmática, porque analisa a estrutura relacional entre a teoria proposta (Sistema de Informação de Gestão Estratégica) e seu ambiente no mundo real, que é o ambiente de negócios. Esta última particularidade reflete a preocupação em gerar informações relevantes para o usuário, induzindo-o e ajudando-o a tomar decisões, característica própria da Contabilidade e da Controladoria. 2.1.2 Abordagem pragmática Quanto às cinco abordagens pragmáticas da teoria contábil comentadaspor HENDRIKSEN & BREDA (1992) e IUDÍCIBUS (1993), o trabalho adapta-se a todas elas: ética, sociológica, macroeconômica, semiótica e comportamental. Porém duas devem ser ressaltadas: A primeira, mais importante, é a questão ética. O Sistema de Informação deve utilizar dados obtidos por meios éticos; e as informações devem ser verdadeiras, justas e não enviesadas. A segunda refere-se à Semiótica e à Teoria da Comunicação: o Sistema de Informação de Gestão Estratégica deve contribuir para a otimização do grau de eficácia do processo de comunicação da empresa; nesse sentido ele mesmo deve ser um eficaz veículo de comunicação. 2.2 Metodologia da pesquisa A investigação seguiu o método dedutivo: partiu de constatações genéricas detectadas na análise bibliográfica sobre estratégia e gestão estratégica, para construir o modelo conceitual proposto. 10 DEMO (1995) trata da construção de modelos como método. Segundo esse autor, O modelo é sempre simplificador, pois tenta cristalizar em núcleo concatenado e estável a superfície complexa da realidade... (p.186) E conclui, à p.188: Com efeito, a construção de modelos é parte essencial do método, encontrando suporte lógico e real, além de vir ao encontro da expectativa científica dominante: explicar é fazer um modelo de explicação. A seleção das obras que constituem a bibliografia básica, analisada e avaliada no Capítulo 3, foi realizada com base nos seguintes critérios: a) teses de doutoramento, artigos publicados em periódicos de prestígio, dissertações de mestrado e livros; foi essa a ordem de importância adotada; b) no caso de artigos e livros publicados, privilegiou-se a titulação dos autores e o renome das instituições a que pertencem, ou pertenciam, à época da publicação; c) em todos os casos o fator determinante da seleção foi a coerência e a lógica das idéias expostas pelos autores. 11 CAPÍTULO 3: REFERENCIAL TEÓRICO O que se pretende, neste capítulo, é discutir as bases conceituais do processo de gestão estratégica e, a partir daí, delinear as principais características de que deve revestir-se o sistema de informação que lhe proporcione adequado suporte. Serão expostas, analisadas, avaliadas e por fim aceitas ou rejeitadas as idéias e proposições de vários estudiosos, relacionadas ao modelo conceitual do sistema de informação proposto. 3.1 Estratégia e gestão estratégica A correta compreensão destes dois termos é necessária para conceituar e caracterizar o processo de gestão estratégica (Capítulo 4) e para estruturar o sistema de informação (Capítulo 5). Sobre os conceitos de estratégia e de gestão estratégica a pesquisa bibliográfica levou à seleção dos seguintes autores, considerados mais relevantes: CHANDLER JUNIOR (1962: 13) diz que Estratégia pode ser definida como a determinação das metas e objetivos básicos de longo prazo de uma empresa, e a adoção de cursos de ação e alocação de recursos necessários para pôr em prática essas metas. Em relação a esse conceito, um comentário deve ser feito, considerando-se o escopo desta tese: refere-se à associação entre estratégia e longo prazo. A aceleração do ritmo de mudança das variáveis ambientais — macroeconômicas, políticas, sociais, culturais e demográficas, científicas e tecnológicas, legais e regulatórias — não invalida tal tipo de ligação. É verdade que decisões estratégicas não mais significam, necessariamente, decisões de longo prazo, já que as estratégias passaram a ter ciclos de vida menores; porém a perpetuação ao longo do tempo continua sendo o objetivo maior das organizações. Estratégico é um adjetivo que qualifica algo que é absolutamente necessário ao alcance de um objetivo; no que se refere às organizações, o objetivo maior é o cumprimento de uma missão, para garantir a continuidade do negócio. 12 Decisões e ações estratégicas, para a finalidade a que se destina este trabalho, referem-se à obtenção e manutenção de vantagens competitivas das empresas, tal como definido no item 4.1; portanto, estão relacionadas, sempre, ao ambiente e suas variáveis, e a entidades ambientais — sobretudo os concorrentes, fornecedores, clientes e consumidores.3 Quanto à determinação de metas, trata-se já de aspectos de operacionalização, quando as estratégias já devem, então, ter sido estabelecidas. À luz dessas considerações, pode-se afirmar que o conceito de estratégia, de CHANDLER JUNIOR, apenas deve ser aceito em parte, quando se refere à adoção de cursos de ação; e rejeitado no vincular-se a metas.4 CHANDLER JUNIOR (1962: 14) inicia a discussão da polêmica questão sobre a precedência da estratégia sobre a estrutura, ao afirmar que “... a estrutura segue a estratégia e (...) o mais complexo tipo de estrutura é o resultado da concatenação de várias estratégias básicas”. Quanto ao conceito de estrutura, CHANDLER JUNIOR (1962: 14) diz que pode ser definida como “... o projeto de organização através do qual a empresa é administrada”. O autor afirma que esse “projeto de organização” possui dois aspectos: “... primeiro, as linhas de autoridade e comunicação entre os diferentes níveis administrativos e gestores; e, segundo, os dados e informações que fluem através dessas linhas de comunicação e autoridade”. Essa definição de estrutura contempla dois subsistemas do sistema empresa: o organizacional (linhas de autoridade) e o de informação (dados, informações e linhas de comunicação). O que se pretende ressalvar, aqui, é que a estrutura empresarial inclui, além dos dois subsistemas citados por CHANDLER JUNIOR (1962), o subsistema institucional, o social, o físico e o de gestão (GUERREIRO, 1995: 37-48). 3 O pressuposto é que, para cumprir a missão e assegurar a continuidade, é necessário estar à frente dos competidores. 4 Entretanto, não há consenso entre os estudiosos sobre se a definição de metas faz parte do plano estratégico ou do operacional. Veja-se, a propósito, MINTZBERG et al. (1988). O autor entende correto o segundo enfoque. 13 A principal conclusão de CHANDLER JUNIOR (1962) é a de que o grau de eficácia (E3) de uma organização é função da estratégia por ela adotada (E1) e da sua estrutura (E2); daí a formulação: E3 = ƒ(E1, E2) Essa visão foi ampliada por RICHERS (1981), conforme se verá adiante. ANSOFF (1977), um clássico da literatura sobre administração estratégica, define estratégia empresarial como “a área relativa ao ajustamento da empresa ao seu ambiente...”. ANSOFF (1977: 4) afirma que decisões estratégicas “preocupam-se principalmente com problemas externos (...) e especificamente com o composto de produtos a ser fabricado e dos mercados em que serão vendidos.” O autor utiliza um termo próprio dos fenômenos elétricos para dizer que o problema estratégico diz respeito ao estabelecimento de um “equilíbrio de impedância” entre a empresa e o ambiente. O conceito de estratégia empresarial, de ANSOFF, é acolhido integralmente no desenvolvimento do modelo conceitual de sistema de informação de gestão estratégica, que é voltado, exclusivamente, à captação de dados e à geração de informações sobre entidades e variáveis do ambiente próximo à empresa. ANSOFF (1977) acredita que os problemas estratégicos exigem maior atenção dos administradores, porque é mais difícil identificá-los; as empresas aplicam incorretamente seus esforços na busca de maior eficiência operacional, quando maior preocupação com oportunidades e ameaças poderia levar a melhorias mais significativas e imediatas do nível de desempenho. Ao finalizar o primeiro capítulo de sua obra, ANSOFF (1977: 5-9) enfatiza a interação entre decisões estratégicas e operacionais para mostrar que, conforme CHANDLER JUNIOR (1962), “a estrutura segue a estratégia”. Conclui dizendo que uma ampla teoria do processo de tomada de decisão deve incluir asinterações das principais categorias de decisões. Todo o capítulo 6 da obra de ANSOFF (1977) é dedicado à discussão do conceito de estratégia; ao finalizá-lo o autor resume suas idéias nos seguintes 14 tópicos (p.101): a) estratégia significa “regras de decisão em condições de desconhecimento parcial”; b) decisões estratégicas são aquelas que dizem respeito “ao que se relaciona ao ajustamento entre a empresa e o seu ecossistema”; c) decisões estratégicas ocorrem em todas as categorias de problemas: estratégicos, administrativos e operacionais (porém é nos problemas estratégicos que predominam condições de desconhecimento parcial); d) todos os tipos básicos de decisões podem ser aplicáveis a níveis organizacionais inferiores ao da empresa como um todo. Assim, por exemplo, áreas de pesquisa e desenvolvimento, finanças e marketing, possuem um relacionamento interno com o ambiente externo, e freqüentemente enfrentarão condições de ignorância parcial, que exigirão estratégias apropriadas. MARCOVITCH (1978: 98-9) define estratégia como ... uma série de diretrizes administrativas que especificam a posição da organização no seu ambiente; as direções em que esta procura crescer e mudar; os instrumentos competitivos que emprega; os meios pelos quais penetrará nos novos mercados; a maneira pela qual levantará os recursos de que necessitar; os pontos fortes que procurará explorar e, inversamente, as fraquezas que procurará evitar. Note-se que a estratégia adotada por uma organização decorre da análise do seu escossistema. Essa frase final do conceito de estratégia, de MARCOVITCH (1978), é a base conceitual em que se apóia a proposta desta tese: a estratégia decorre da análise do ecossistema. O modelo conceitual de Sistema de Informação de Gestão Estratégica deve materializar-se através da aplicação de conceitos de contabilidade e custos às entidades e variáveis do ambiente que mais diretamente influenciam o desempenho da empresa. A originalidade do sistema de informação aqui proposto — o fato de contemplar, exclusivamente, entidades e variáveis do ambiente próximo, aplicando conceitos de contabilidade e custos — baseia-se na constatação de que essa é a maior carência das empresas, no que se refere a sistemas de informação, conforme foi exposto no Capítulo 1 e será demonstrado ao longo desta obra. 15 RICHERS (1981) parte de considerações sobre a obra de CHANDLER JUNIOR (1962) para acrescentar, à função da eficácia organizacional, a variável relativa ao ambiente; e o faz formulando a seguinte pergunta (p.22): “Se a estratégia determina a estrutura, o que determina a estratégia?”. E conclui (p.22): “... a estratégia é uma função do ambiente.” O autor argumenta que a estratégia (E1) é formulada a partir da análise das forças e tendências ambientais (A); logo, a função da eficácia (E3) fica assim formulada (E2 = estrutura): E3 = ƒ(A, E1, E2) RICHERS (1981: 25) afirma que o conjunto de forças e tendências ambientais exerce influência sobre os destinos das empresas, e Quanto mais a empresa consegue decifrar os sinais deixados no meio ambiente por esse conjunto de forças, tanto maior será a sua chance de avaliar o ambiente mais corretamente. Decifrar sinais das forças ambientais, e decodificá-los, é o que caracteriza o Sistema de Informação de Gestão Estratégica, proposto nesta tese, porque sua finalidade é mensurar e informar atributos relativos aos eventos, entidades e variáveis do ambiente próximo, para dar suporte ao processo de gestão estratégica. De fato, RICHERS (1981: 28) afirma que, para se formularem as estratégias de adaptação ao ambiente, é necessário um conjunto de instrumentos, e o primeiro é a coleta e o uso de informações. Fica evidente, então, a total aceitação dessas idéias de RICHERS para o desenvolvimento desta obra. HAX & MAJLUF (1984: 72), embora ainda sem conceituar explicitamente gestão estratégica, afirmam que o objetivo maior desta é desenvolver valores corporativos, capacidades gerenciais, responsabilidades organizacionais e sistemas administrativos que vinculem tomadas de decisão estratégicas e operacionais, a todos os níveis hierárquicos e através de todas as linhas de autoridade. Na opinião desses autores, instituições que atingiram esse estágio de desenvolvimento gerencial eliminaram conflitos entre as concepções de desenvolvimento a longo prazo e lucratividade a curto; e essa conciliação decorre essencialmente da gestão estratégica. 16 Observe-se que essas duas necessidades — desenvolvimento e lucratividade — são contempladas e estão incluídas dentre os cinco fatores que, segundo GUERREIRO (1995), conduzem à eficácia empresarial.5 À página 94, os autores definem estratégia como sendo “um conjunto coerente de ações direcionadas à obtenção de vantagem sustentável sobre a concorrência, melhoria de posição vis-a-vis aos clientes, e alocação de recursos.” Essa definição de estratégia é fundamental para que se possa conceituar o processo de gestão estratégica, conforme consta no Capítulo 4, item 4.2 desta obra. Das obras até aqui comentadas é esta, de HAX & MAJLUF, a que melhor atende e dá fundamento ao sistema de informação de gestão estratégica, cujo objetivo é dar apoio à busca de vantagem sustentável sobre a concorrência. SHARPLIN (1985: 5) induz ao entendimento da palavra estratégia como tendo conotação voltada às relações com o ambiente; e o faz ao citar HIGGINS, para quem Gestão estratégica é o processo de conduzir a organização ao cumprimento da sua missão através da gestão da sua relação com o ambiente. SHARPLIN (1985: 6) define gestão estratégica como ... a formulação e a implementação de planos e a prática de atividades relacionadas a assuntos que são de importância vital, geral ou contínua para a organização como um todo. e completa o entendimento da definição dizendo que Qualquer assunto que seja de grande importância, ou vital para a organização como um todo, é estratégico. Tanto é assim que o próprio SHARPLIN (1985: 190) afirma Considerando-se os pontos fortes e fracos, as oportunidades e ameaças, é possível sintetizar a verdadeira essência da gestão estratégica. A tarefa do estrategista é potencializar os pontos fortes da organização e minimizar o efeito dos 5 Esses fatores são produtividade, eficiência, satisfação, adaptabilidade e desenvolvimento. 17 fracos, de modo a tirar vantagem das oportunidades e evitar ou superar as ameaças do ambiente. Observe-se, portanto, mais uma vez, que o que caracteriza o processo de gestão estratégica é a constante preocupação com o ambiente. Mesmo quando se avaliam as potencialidades e as vulnerabilidades do sistema organizacional — o que poderia sugerir um enfoque interno —, a avaliação é realizada à luz das entidades e variáveis ambientais, e tem por objetivo encontrar a maneira mais adequada de lidar com elas. Essa interação com o ambiente visa à sobrevivência da entidade, o que é a essência do Postulado da Continuidade. Porém o que se pretende caracterizar, nesta tese, é que o objetivo da gestão estratégica empresarial vai além da simples sobrevivência: é necessário obter vantagem em relação aos concorrentes.6 SHARPLIN (1985: 119-20) também comenta o tradicional debate sobre se é a estrutura que segue a estratégia ou vice-versa. Cita CHANDLER JUNIOR (1962), que conclui pela primeira hipótese, CYERT & MARCH (1963), MARCH & SIMON (1958) e LINDBLOM (1959), que afirmaram exatamente o oposto, e BURGELMAN (1983), que acredita serem, estratégia e estrutura interativas e reflexivas. Ele próprio (SHARPLIN, 1985: 119) acredita que “... a resposta depende, talvez, da perspectiva...”. Um animal que acaba de nascer, de chegar ao mundo, antes de estruturar-se (no sentido de se estabelecer fisicamente, construir sua moradia e nela fazer instalações etc.) precisaconhecer o ambiente que o cerca, os perigos a que está exposto e as ameaças que pairam sobre o seu habitat, para, só então, definir sua estrutura de vida, visando à sobrevivência. Analogamente, uma empresa, antes de definir sua estrutura, precisa diagnosticar as ameaças de entidades e variáveis ambientais e formular a estratégia para enfrentá-las. Nesse sentido, de preparar-se para enfrentar ameaças e aproveitar oportunidades, a estrutura segue a estratégia. Considerando-se, agora, uma entidade em funcionamento, com estruturas física e formal já definidas, adotar uma estratégia passa a ser como 6 O conceito de vantagem competitiva e a razão da importância da sua busca constante, além de simplesmente garantir a continuidade da organização, são expostos no Capítulo 4. 18 diagnosticar fraquezas e potencialidades, minimizando as primeiras e maximizando as segundas. Nesse sentido, de minimizar os efeitos dos pontos fracos e potencializar os dos fortes, a estratégia depende da estrutura. Porém o que ocorre é um processo de dupla direção: ao mesmo tempo em que uma empresa avalia o ambiente, para então estruturar-se, avalia a sua estrutura, para formular estratégias. Esse debate é relevante, no contexto desta tese, na medida em que se pretende caracterizar o seguinte: Os sistemas gerenciais de informação, em geral, e os de informação contábil, em particular, vêm sendo concebidos e implementados como se a única preocupação fosse lidar com questões relativas a alocação eficiente e eficaz de recursos, mensuração e avaliação de resultados e desempenhos etc. Ora, se a estratégia precede a estrutura, é compreensível que se desenvolvam esforços no sentido de conceber sistemas de informação que dêem suporte ao processo estratégico. O modelo conceitual de Sistema de Informação de Gestão Estratégica, proposto nesta tese e descrito no Capítulo 5, é voltado, exclusivamente, à captação de dados e à geração de informações sobre o ambiente; logo, sua preocupação é com a estratégia, e não com a estrutura, embora se reconheça, como foi exposto, que a estratégia influencia a estrutura e é por ela influenciada. GAJ (1986: 6) afirma que, no entendimento dos estudiosos da Universidade da Califórnia — Los Angeles — o termo estratégia, do ponto de vista econômico, significa “manutenção do sistema em funcionamento, com vantagem.” Em condições ambientais de grande concorrência não basta cumprir a missão e garantir a continuidade: é necessário, também — talvez seja condição necessária para tal — estar à frente dos competidores. Quanto ao conceito de administração estratégica, GAJ (1986) diz: ... é uma forma de pensar de todas as áreas... voltada para o ambiente... (p.170) ... é um enfoque dinâmico, uma forma de ver e incorporar nas atitudes e no comportamento dos administradores ação estratégica explícita (p.172) 19 Quanto ao termo estratégia competitiva, GAJ (1986: 279) conceitua-o como sendo a estratégia voltada para analisar a forma de situar a empresa em um mercado competitivo, com destaque às formas de conseguir vantagens competitivas destinadas a assegurar sobrevivência. Esta tese acolhe totalmente os conceitos acima; eles são fundamentais no desenvolvimento dos Capítulos 4 e 5, e vão ao encontro dos demais, citados anteriormente. NAGAGAWA (1987: 52-60) discorre, sobre os subsistemas empresariais estratégico e operacional. Os conceitos utilizados são baseados na tese de doutoramento de MARCOVITCH (1972); e os principais são: . os subsistemas do sistema-empresa são constituídos de dois grupos: subsistema de estratégia e subsistema operacional; . o subsistema de estratégia tem por objetivo garantir o equilíbrio dinâmico da organização, isto é, garantir a melhor forma, a maneira ótima, de interagir com o ambiente externo; . o subsistema operacional tem por objetivo garantir o equilíbrio estacionário dos seus elementos, para otimizar o processo de transformação de inputs em outputs. O subsistema de estratégia lida com questões relacionadas às oportunidades e ameaças do ambiente, e as organizações procuram extrair proveito das primeiras e preparar-se para enfrentar e contornar as segundas. O operacional trata de assuntos relativos à adequação do fluxo de produção, metodologias de gestão e mensuração de custos e resultados, políticas de estocagem etc.; aqui estão as fraquezas e as potencialidades. O subsistema de estratégia refere-se, portanto, ao processo de gestão estratégica, que se destina a garantir o equilíbrio dinâmico; e o Sistema de 20 Informação de Gestão Estratégica tem a função de lhe dar apoio.7 No que se refere à tese de Marcovitch, citada por NAKAGAWA, e ao seu aproveitamento neste trabalho, o processo de gestão estratégica (Capítulo 4) e o sistema de informação proposto para lhe dar suporte (Capítulo 5) têm a preocupação única de garantir o equilíbrio dinâmico das organizações.8 Segundo NAKAGAWA (1987), “pode surgir a necessidade da existência de um terceiro subsistema, o de integração, cuja função primordial é traduzir a estratégia elaborada pelo primeiro subsistema para o subsistema operacional”. Esses conceitos podem ser ilustrados através das Figuras 1 e 2: 7 Veja-se a Figura 8, à p. 132. 8 Não é objetivo do autor, nesta obra, tratar do subsistema operacional nem de gestão operacional. 21 Fonte: MARCOVITCH, J. - Contribuição ao estudo da eficácia organizacional. São Paulo: FEA-USP, 1972, p.98 (com adaptações). FIGURA 1: Modelo de Eficácia. Fonte: MARCOVITCH, J. - Contribuição ao estudo da eficácia organizacional. São Paulo: FEA-USP, 1972 (com adaptações). FIGURA 2: Sistema Núcleo, onde E = Estratégia, I = Integração e O = Operacional. EQUILÍBRIOEQUILÍBRIO DINÂMICODINÂMICO EQUILÍBRIOEQUILÍBRIO ESTACIO-ESTACIO- NÁRIONÁRIO INTEGRAÇÃOINTEGRAÇÃO CONJUNTOCONJUNTO DEDE METASMETAS DADA EMPRESAEMPRESA SISTEMA EMPRESASISTEMA EMPRESA CONJUNTO DECONJUNTO DE VARIÁVEIS QUEVARIÁVEIS QUE CONDICIONAM ACONDICIONAM A RELAÇÃO DARELAÇÃO DA EMPRESA COMEMPRESA COM SEU AMBIENTESEU AMBIENTE CONJUNTO DECONJUNTO DE VARIÁVEIS QUEVARIÁVEIS QUE CONDICIONAM ASCONDICIONAM AS RELAÇÕES DARELAÇÕES DA DINÂMICADINÂMICA INTERNA DAINTERNA DA EMPRESAEMPRESA MODELO DE EFICÁCIAMODELO DE EFICÁCIA EE II OO RECURSOS MATERIAISRECURSOS MATERIAIS RECURSOS HUMANOSRECURSOS HUMANOS RECURSOS TECNOLÓG.RECURSOS TECNOLÓG. PRODUTOSPRODUTOS SERVIÇOSSERVIÇOS SISTEMA NÚCLEOSISTEMA NÚCLEO PROCESSAMENTOPROCESSAMENTO AMBIENTE INTERNOAMBIENTE INTERNOAMBIENTEAMBIENTE EXTERNOEXTERNO 22 ANDRADE (1988), apresenta importante contribuição ao desenvolvimento desta tese, especialmente quanto ao entendimento dos conceitos de estratégia e de gestão estratégica; por essa razão suas observações são analisadas a seguir. Sobre estratégia, ANDRADE (1988: 16-7) diz que ela existe desde que o homem luta para sobreviver diante de forças naturais e não naturais em seu meio ambiente (...) Estendendo este conceito ao âmbito de uma organização, (...) implicaria a sua existência ao longo do tempo... sobressaindo-se aos fatores competitivos naturais e não naturais e contribuindo para a própria existência plena do sistema maior (...) Assim, a estratégia deve ser alguma coisa que o homem faz diante de forças exteriores — não apenas as da concorrência — para sobreviver. À página 24 ANDRADE (1988) define estratégia como uma medida administrativa interveniente na relação entre a empresa e as forças ambientais externas, sob pressão das forças internas, visando assegurar a sobrevivência a longo prazo da empresa. Citando PORTER, diz que “a essência da formulação estratégica consiste em lidar com a concorrência...”, e, com base em Bourgeois III, entende que “a tomada de decisão estratégica é, no fundo, um processo de co-alinhamento organização-ambiente”.Porém às páginas 34-5, ANDRADE (1988) reconhece que o problema estratégico relaciona-se, também, com o ambiente interno. Citando White, diz que o comportamento organizacional é explicitável em termos de metas dos indivíduos e das restrições impostas pela utilização de recursos; que a escolha de dados e recursos escassos e os padrões de utilização entre alternativas possíveis são determinados por decisões individuais e coletivas, seqüenciais, e essas alternativas são uma conseqüência das características dos recursos existentes. Observe-se que as questões relacionadas às decisões sobre o uso de recursos escassos caracterizam o processo de gestão econômica; daí sua natural integração conceitual e sistêmica com o processo de gestão estratégica. MINTZBERG é referência unânime entre os especialistas quando se fala sobre estratégia; sua obra The strategy process (1988) — na realidade um conjunto de readings — é um clássico da literatura. A seguir serão abordados e comentados trechos desse livro que mais diretamente contribuem para a formulação do sistema de informação de gestão estratégica; todas as idéias 23 expostas são consideradas válidas e aceitas. Sobre o conceito de estratégia MINTZBERG et al. (1988: 1) afirmam: Não há uma definição única, aceita universalmente. Diferentes autores e gerentes utilizam o termo (estratégia) diferentemente; por exemplo, alguns incluem metas e objetivos como parte da estratégia, enquanto outros fazem firme distinção entre eles... será útil pensar sobre o significado de estratégia... para ver se certas definições se encaixam melhor em certos contextos. O capítulo 1 da obra de MINTZBERG et al. traz, para ilustrar o conceito de estratégia, três readings de autores que abordam de formas diferentes o assunto. A saber: 3.1.1 Primeira abordagem: James Brian Quinn QUINN inicia sua explanação descrevendo o conceito de estratégia sob os pontos de vista militar, diplomático, político, governamental e esportivo. Em seguida tece comentários sobre a analogia entre esses pontos de vista e o conceito de estratégia nos negócios. Finaliza dizendo que: uma estratégia é o modelo ou o plano que integra as principais políticas, metas e seqüências de ações de uma organização em um todo coeso. Sobre decisões estratégicas QUINN afirma que ... são aquelas que determinam a direção geral de uma empresa e sua viabilidade à luz das mudanças predizíveis, impredizíveis e das não conhecíveis, que podem ocorrer em seu mais importante ambiente próximo. Deve ser fortemente enfatizada a aceitação desse aspecto do conceito de decisão estratégica: diz respeito ao mais importante ambiente próximo. As entidades mais importantes do ambiente próximo são os clientes, fornecedores, consumidores e concorrentes! Esse é o campo de ação da gestão estratégica e nele ocorrem os eventos objeto de decisões estratégicas! Observe-se que ao se aceitar aquele conceito de Quinn, de que decisões estratégicas estão relacionadas ao mais importante ambiente próximo, inicia-se o processo de concepção e formatação dos principais módulos do Sistema de Informação de Gestão Estratégica: subitens 5.7.1 a 5.7.6 do Capítulo 5; é sua 24 “espinha dorsal”. Sabe-se que o comportamento destas entidades, assim como o da própria empresa, é fortemente influenciado pelas entidades e variáveis do ambiente remoto: governo, legislação, comportamento da economia, progresso científico e tecnológico, demandas sociais e tantas outras. Porém o grau de influência em sentido contrário — a influência da empresa sobre aquelas variáveis e entidades mais remotas — é pequeno; daí a conclusão de que a verdadeira essência da gestão estratégica são as decisões relativas ao ambiente próximo.9 Segundo o autor, as decisões estratégicas determinam a eficácia da empresa, ao indicar a correta direção dos negócios; já a eficiência no uso dos recursos, juntamente com outras decisões necessárias ao cotidiano, pertencem ao campo operacional. No entendimento de QUINN, há estratégias nos mais diversos níveis: do corporativo aos departamentais.10 Uma verdadeira estratégia só é necessária quando há oposição aos objetivos — e é isso que distingue formulação estratégica de simples planejamento programático. Uma estratégia genuína é sempre necessária quando ações ou respostas potenciais de adversários possam afetar seriamente os resultados desejados, independentemente do nível organizacional em que os esforços estejam sendo realizados. Essa estratégia quase sempre emerge da alta administração, ou é implementada por ela. Esta última observação é que permite deduzir que os principais usuários do Sistema de Informação de Gestão Estratégica (Capítulo 5) são os membros da cúpula da organização. 9 Não obstante, o processo de gestão estratégica se inicia com a análise ambiental e com a construção de cenários; por isso todas as variáveis devem ser consideradas, a começar pelas do ambiente remoto. 10 Passando, conforme analisado em GOLDENBERG (1994), por unidades de negócio e por outros fatores que caracterizem áreas de responsabilidade. 25 3.1.2 Segunda abordagem: H. Igor Ansoff A obra de ANSOFF (1977) já foi analisada no item 3.1; por essa razão, sua abordagem, contida em MINTZBERG et al. (1988), deixa de ser aqui mencionada. 3.1.3 Terceira abordagem: Henry Mintzberg Sobre o conceito de estratégia MINTZBERG propõe cinco diferentes abordagens e comenta como elas se relacionam.11 Inicialmente, estratégia como sinônimo de plano, uma espécie de curso de ação conscientemente pretendido; assim, é elaborada antes que as ações ocorram e é desenvolvida de maneira consciente e proposital. Com freqüência é declarada explicitamente em documentos formais conhecidos como planos, mas também pode permanecer formalmente não declarada, guardada apenas na mente de alguém. Enquanto plano, estratégia pode ser entendida, também, como sinônimo de estratagema. Estratégia, como sinônimo de modelo ou padrão de comportamento, é uma espécie de curso de ação efetivamente realizado; assim, é um comportamento consistente, independentemente de sua execução ter sido intencional ou não. O autor afirma que essas definições de estratégia — enquanto plano e como modelo de comportamento — podem ser independentes uma da outra: planos podem não ser realizados e atos podem ocorrer sem terem sido planejados. Estratégia como sinônimo de posição, isto é, “a estratégia de uma pessoa é a tática de outra”;12 tudo depende de em que plano ela está situada (MINTZBERG diz que depende, também, de quando: o que hoje parece tático pode 11 Trata-se dos “5P’s”: plan, ploy, pattern, position e perspective. 12 Por esta visão, os planos estratégicos das diversas áreas de uma empresa são táticos para a organização como um todo. 26 revelar-se estratégico, amanhã). Estratégia como sinônimo de perspectiva, isto é, como uma maneira única de perceber o mundo. Para o autor, é como a personalidade de um indivíduo. Essa perspectiva é compartilhada pelos membros de uma organização, através das suas ações ou intenções. MINTZBERG conclui comentando que essas definições de estratégia se relacionam, mas que nenhuma se sobrepõe às demais; às vezes umas concorrem com outras; porém, na maioria das vezes se complementam. Importante distinção é explicitada quanto ao uso dos termos estratégia corporativa, estratégia de negócio, estratégia coletiva, estratégia genérica e estratégia competitiva, sendo estas duas últimas tratadas a seguir. 3.1.4 Estratégia genérica e estratégia competitiva Ainda na obra de MINTZBERG et al. (1988) encontra-se o reading de Richard Rumelt (p.51-3), que discorre sobre princípios de avaliação de estratégias. Um dos princípios é o da Consonância, que diz respeito à harmonia que deve haverentre a organização e o ambiente externo; por esse princípio, a estratégia deve representar uma “resposta adaptativa” ao ambiente externo e às suas mudanças.13 Para Rumelt, essa relação da entidade com o ambiente pode ocorrer sob dois aspectos: por um lado, ela adapta-se a ele (ambiente), por outro, compete com outras entidades, que também tentam, igualmente, adaptar-se. O primeiro refere-se ao cumprimento da missão, isto é, à efetivação do escopo do negócio, e sua análise requer uma visão das condições sociais e econômicas ao longo do tempo. Rumelt o denomina aspecto “genérico” da estratégia.14 O segundo refere-se ao posicionamento em relação à concorrência, e sua análise requer uma visão das diferenças entre empresas em dado momento. A este, o autor denomina 13 Observe-se a postura reativa que, em princípio, deve ser criticada. 14 Observe-se a semelhança com o conceito de “Declaração de Filosofia” de Steiner apud NAKAGAWA (1987: 32). 27 estratégia “competitiva”. Este aspecto de posicionamento da organização em relação aos competidores (observado por Rumelt) que requer a análise dos concorrentes para se formularem estratégias competitivas, fornece a base conceitual de um dos módulos do Sistema de Informação de Gestão Estratégica, o Subsistema de Informação sobre Concorrentes (subitem 5.7.3). Outro princípio de avaliação de estratégias descrito por Rumelt é o da Vantagem, que diz respeito à necessidade de que a estratégia possibilite gerar e/ou manter vantagens competitivas. PORTER (1989: 1) define estratégia competitiva como “a busca de uma posição competitiva favorável em um setor” e o objetivo dessa busca é “estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra as forças que determinam a concorrência no setor”. A vantagem competitiva sustentável é a base fundamental para que uma empresa tenha desempenho acima da média, a longo prazo (PORTER, 1989: 9). PORTER (1989: 4) menciona as cinco forças competitivas que determinam a rentabilidade de um setor: . poder de negociação dos clientes; . poder de negociação dos fornecedores; . poder de competição dos concorrentes; . ameaça de entrada de novos concorrentes; . ameaça de produtos e serviços substitutos. Os seis módulos do Sistema de Informação de Gestão Estratégica, objeto desta tese, contemplam todas essas entidades, além de tratar de produtos e serviços complementares e de custo-alvo. 3.2 Gestão estratégica da cadeia de suprimento Conforme foi estudado no subitem 3.1.4, a estratégia competitiva é a “... busca de uma posição competitiva favorável em um setor” (PORTER, 1989: 1); então, para poderem posicionar-se estrategicamente, as empresas precisam administrar não só a si mesmas mas é necessário, também, entender e influenciar, 28 deliberadamente, o comportamento de todas as entidades com que se relaciona. Conclui-se, portanto, que a eficácia do processo de gestão estratégica requer o monitoramento das principais entidades da cadeia de relacionamento das organizações. PORTER (1989) trata da análise do que denomina “cadeia de valores” e sua relação com a obtenção de vantagem competitiva. Em seu modo de ver, cadeia de valores é “... uma reunião de atividades que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar e sustentar seu produto”. Para conceber e implantar estratégias é necessário, segundo PORTER (1989: 48), analisar as cadeias de valor dos fornecedores, dos clientes — e também das famílias, pois os produtos são utilizados de acordo com o fluxo de atividades dos consumidores. Assim, para encontrar oportunidades de diferenciação o estrategista deve estudar amostras representativas dessas famílias, para entender como os produtos são utilizados. Essas informações também são úteis para se idealizar formas de redução do custo total de propriedade e conquistar a liderança em custo, se esse for o posicionamento estratégico da empresa.15 PORTER (1991: 40-1) discorre sobre o poder de negociação dos compradores. Um dos itens abordados refere-se ao volume de compras dos clientes, à relevância do produto da empresa em seus custos e na qualidade de seus produtos, fatores que podem representar risco ou ameaça. Outro item é a taxa de retorno do cliente. Segundo PORTER (1991), lucros reduzidos (dos clientes) incentivam demanda por redução de preços, e altos lucros podem significar menor sensibilidade do cliente aos preços; porém isso tudo depende da relevância do custo do item fornecido no custo total e na qualidade do produto do cliente. Essa constatação demonstra a importância e a necessidade de se acompanhar, permanentemente, as margens de lucro e a rentabilidade dos clientes; as empresas, geralmente, só se preocupam com isso quando precisam decidir sobre concessão ou alteração de limites de crédito. Logo, um modelo conceitual de Sistema de Informação de Gestão Estratégica deve contemplar dados 15 Segundo PORTER (1991: 50), nesse tipo de posicionamento, o “custo baixo em relação aos concorrentes torna-se o tema central de toda a estratégia, embora a qualidade, a assistência e outras áreas não possam ser ignoradas.” 29 e informações sobre o desempenho econômico, financeiro, operacional e patrimonial dos clientes. Veja-se o subitem 5.7.1 — Subsistema de Informação sobre Clientes. Segundo PORTER (1989: 85), o comportamento dos custos dos fornecedores influencia fortemente o custo dos insumos e a habilidade de uma empresa para explorar ligações com eles. Assim, a compreensão do comportamento dos custos dos principais fornecedores permite que uma empresa estabeleça políticas mais adequadas de compras, além de reconhecer e valorizar tais elos. À p.98 o autor volta ao assunto, dizendo que a empresa deve investir em sistemas de informações para compreender melhor as condições do mercado e os custos dos fornecedores. PORTER (1991: 43-4) discorre sobre o poder de negociação dos fornecedores. Aqui, analogamente à avaliação do poder dos compradores, é necessário verificar: a) a relevância do volume de vendas do fornecedor à empresa, em relação às vendas totais do fornecedor; b) a relevância do custo do insumo adquirido do fornecedor, comparado ao do produto fabricado pela empresa; c) a relevância do insumo adquirido do fornecedor em relação à qualidade do produto fabricado pela empresa; d) a taxa de retorno do fornecedor; e) a ameaça de integração para a frente; etc. Essas constatações demonstram a necessidade e a importância de se acompanhar, permanentemente, a margem de lucro e a rentabilidade dos fornecedores; as empresas raramente se preocupam com isso. Logo, um modelo conceitual de Sistema de Informação de Gestão Estratégica deve contemplar dados e informações sobre o desempenho econômico, financeiro, operacional e patrimonial dos fornecedores. Veja-se o subitem 5.7.2 — Subsistema de Informação sobre Fornecedores. 30 BOWERSOX & CLOSS (1996: 33-4) alertam: visualizar apenas as operações internas, isoladamente, embora seja útil para integrar todas as funções, atividades e tarefas, não é suficiente para garantir que a empresa atinja seus objetivos. Esta idéia vem bem ao encontro da tese que vem sendo defendida neste trabalho: a de que gestão estratégica é um conceito ligado, preponderantemente, ao ambiente. Realmente, para BOWERSOX & CLOSS (1996: 34), Para serem completamente eficazes, no atual ambiente competitivo, as empresas devem estender seu comportamento integrado para incorporar clientes e fornecedores. Essa extensão, através de integração externa, é denominada gestão da cadeia de suprimento. Esses mesmos autores (1996: 100) mais uma vez deixam muito clara a importância da gestão da cadeia de suprimento, ao afirmar: Dado que, a longo prazo, cada participante desfruta das recompensas ou sofreos prejuízos resultantes do grau de realização dos objetivos de toda a cadeia, há um crescente reconhecimento dos benefícios de cooperar com clientes e fornecedores no desenvolvimento de planos da cadeia de suprimento. A noção básica de gestão da cadeia de suprimento repousa na crença de que a eficiência pode ser melhorada compartilhando-se informações e formulando planos em conjunto.16 16 RADHAKRISHNAN & SRINIDHI, no trabalho intitulado Information exchange in a value chain: implications for pricing and profitability (1997, Management Accounting Conference, AAA), demonstram as circunstâncias e as condições em que os diversos elos da cadeia estarão mais propensos, ou menos, a trocar informações entre si. 31 Essa visão é ilustrada através da Figura 3: Fonte: Adaptado de BOWERSOX & CLOSS (1996: 34). FIGURA 3: Integração com Clientes e Fornecedores. Essas considerações permitem deduzir que, assim como o ser humano não é uma ilha, nenhuma organização social é auto-suficiente, e o grau de eficácia de uma empresa depende do de toda a cadeia em que ela atua. Do ponto de vista da gestão estratégica, para fins de se conceber um sistema de informação que lhe dê suporte adequado, deve-se “transitar”, ou melhor, “evoluir” da visão sistêmica de empresa para a visão sistêmica de cadeia de valor, enfatizando-se a nova dimensão do fluxo e do sistema de informação. Todas essas constatações de BOWERSOX & CLOSS (1996) reforçam as evidências de que um sistema de informação de gestão estratégica deve possuir módulos específicos para contemplar informações sobre clientes, fornecedores e consumidores; de fato, o modelo proposto no Capítulo 5 atende a essa necessidade. O IMA (Institute of Management Accountants) e o CAM-I (Consortium for Advanced Manufacturing-International) (1996) expõem conceitos e ilustrações sobre a compreensão da abordagem de cadeia de valor como valioso instrumento para as empresas conquistarem vantagem competitiva. O trabalho parte do conceito restrito de cadeia de valor de PORTER (1989), e é incorporado pelo de SHANK & GOVINDARAJAN (1997), mais amplo. Na página 7, é mencionada a importância dessa análise: FornecedoresFornecedores SuprimentoSuprimento ProduçãoProdução DistribuiçãoDistribuição ClientesClientes Fluxo de materiais, produtos e serviçosFluxo de materiais, produtos e serviços Fluxo de informaçõesFluxo de informações EmpresaEmpresa 32 Essas empresas utilizam a abordagem de cadeia de valor para melhor entender que segmento (...) e que configurações irão lhes proporcionar a maior vantagem competitiva. A maneira como isso é conduzido se dá através de três tipos de análise: . análise interna de custos; . análise interna de diferenciação; e . análise de ligações verticais, sendo esta última a mais relevante para os objetivos desta tese, pois trata de “entender as relações e custos associados entre fornecedores e clientes externos, de modo a maximizar o valor e a minimizar o custo” (p.7). A análise das ligações verticais é uma aplicação muito mais abrangente que a análise interna de custos e diferenciação, pois inclui todos os processos, acima e abaixo, através do setor. (p.19) À página 29 o IMA e o CAM-I ressaltam os benefícios obtidos com o exercício de valoração das variáveis da cadeia de valor: O modelo de PORTER às vezes é criticado por negligenciar a dificuldade de obtenção e manutenção das informações requeridas para desenvolver uma análise da estrutura do setor. Embora tal exercício possa consumir tempo, é essencial obter (formar) um detalhado banco de dados de modo a compreender completamente o ambiente de competição da empresa. Rejeitar a tarefa, por ser muito difícil, é tentador, e pode levar a tomadas de decisão inapropriadas. Finalmente, às páginas 39-40, são comentadas as principais limitações à abordagem da análise da cadeia de valor, que podem assim ser resumidas: . A análise da cadeia de valor não é uma ciência exata nem é fácil de ser praticada. Ela é uma “arte”, mais do que uma atividade rotineira de preparar relatórios contábeis precisos. . É necessário assegurar-se de que a análise é válida para períodos futuros. Caso contrário, deve-se repetir os cálculos sob novas condições. . Desmembrar um estágio da cadeia em dois ou mais, sem que pelo menos uma empresa atue nesses estágios, é uma questão de discernimento de cada empresa, e cada caso deve ser estudado separadamente. Essas considerações do IMA e do CAM-I também vêm ao encontro da 33 proposta desta tese, a de um modelo conceitual de sistema de informação que contemple todas as entidades e variáveis relevantes da cadeia de relacionamentos, tal como demonstrado no Capítulo 5. Conforme se verá a seguir, SHANK & GOVINDARAJAN (1997) também discutem a questão das condições determinantes do grau de detalhe do desmembramento da cadeia. Nessa obra os autores se propõem a expor metodologias de uso de informações de custos, com o objetivo explícito de dar suporte à gestão estratégica; por esta razão, os dois conceitos mais importantes serão agora abordados e analisados, para que possam ser incorporados ao modelo conceitual proposto nesta tese, sempre que se provarem coerentes e úteis. SHANK & GOVINDARAJAN (1997: capítulo 2) iniciam a abordagem do que denominam cadeia de valor, que para eles é ... o conjunto de atividades criadoras de valor desde as fontes de matérias-primas básicas, passando por fornecedores de componentes, até o produto final entregue nas mãos do consumidor. Este enfoque é externo à empresa, vendo cada empresa no contexto da cadeia global (...) da qual é apenas uma parte... Este conceito é mais amplo que o de PORTER (1989: 59), pois inclui atividades de fornecedores, fornecedores de fornecedores etc. e de clientes, clientes de clientes etc., até o consumidor final, o descarte e a reciclagem do produto após o término de sua vida útil. PORTER utiliza o termo “cadeia de valores” para se referir, quase sempre, às atividades de cada empresa ou família, individualmente consideradas. Porém, para SHANK & GOVINDARAJAN (1997: 59), Gerenciar custos eficazmente exige um enfoque amplo, externo à empresa... Cada empresa é parte, mas apenas parte, de uma cadeia de valor que existe o tempo todo desde a tabela periódica dos elementos até a última poeira e, no mundo de hoje, passando talvez pela reciclagem para o início de um novo ciclo de cadeia de valor. Essa afirmação reforça a constatação de que a eficácia da empresa depende da eficácia de toda a cadeia, e justifica a importância de módulos do sistema de informação de gestão estratégica que contemplem dados e informações sobre os principais elos da cadeia. Nem PORTER (1989) nem SHANK & GOVINDARAJAN (1997) são 34 absolutamente claros em seus conceitos de cadeia de valor, porém o primeiro enfatiza a empresa como uma cadeia de atividades de valor, atribuindo-lhe um enfoque mais interno; já os últimos são explícitos quanto à maior amplitude do conceito, que para eles abrange clientes, fornecedores etc. Porém em alguns trechos do livro utilizam exemplos como o conceito, restrito, elaborado por Porter às páginas 77 e 87. Logo, o conceito de cadeia de valor pode (em pelo menos três níveis de abstração) ser aplicado: a) ao setor como um todo: os elos da cadeia são seus vários estágios17 (cada empresa ou unidade de negócio pode explorar um, mais de um ou parte de um estágio); b) ao setor como um todo: cada empresa ou unidade de negócio é um elo da cadeia, independentemente dos estágios em que atue; c) a cada empresa, unidade de negócio ou família individualmente considerada: os elos da cadeia-empresa são suas várias atividades. A abordagem de SHANK & GOVINDARAJAN (1997) é mais condizente com o primeiro nível (item a), enquanto a de PORTER (1989) se identifica mais com o terceiro(item c). Embora os três níveis sejam importantes, o terceiro já vem sendo, há décadas, objeto de estudo, das contabilidades de custos e gerencial. Os sistemas de informação gerenciais tradicionais contemplam eventos e transações do sistema empresa e apenas vagamente mencionam a necessidade de “rastrear” variáveis ambientais; e quando o fazem é para associar o rastreamento ao processo de planejamento estratégico. O modelo conceitual de sistema de informação de gestão estratégica, proposto nesta tese, elege, em princípio, o segundo nível de cadeia de valor: 17 Um estágio é um conjunto específico de atividades com custos significativos, podendo apresentar oportunidade de diferenciação e de mudança do grau de integração vertical. 35 entende cada empresa ou unidade de negócio como um elo significativo. A razão dessa escolha é a concepção de que cada empresa, simples e isoladamente (cliente, fornecedor etc.), representa (e atua em) um elo da cadeia; assim, a entidade econômica e os eventos objeto de mensuração coincidem com as pessoas jurídicas que se relacionam com a empresa. Entretanto, caso alguns desses parceiros (ou a própria empresa) explorem atividades tais que se justifique seu desmembramento, então o enfoque passa a ser o indicado na alínea a, da p.34.18 SHANK & GOVINDARAJAN (1997: 73) descrevem a importância estratégica de se analisarem as ligações na cadeia com as seguintes palavras: ... conquistar e manter vantagem competitiva requer que a empresa compreenda todo o sistema de distribuição de valor, não apenas a porção da cadeia de valor de que ela participa. Fornecedores e clientes, fornecedores de fornecedores, clientes de clientes, têm margens de lucro que são importantes para identificar e entender o posicionamento de custo/diferenciação da empresa, pois os consumidores, ao final da linha, pagam por todas as margens de lucro ao longo da cadeia de valor. A compreensão da cadeia de valor e a otimização do relacionamento entre as entidades que a compõem constituem uma questão estratégica; logo, entender e otimizar essas relações contribui para a elevação do grau de eficácia de toda a cadeia. Consideram-se válidas e aceitas todas as ponderações dos autores comentadas neste item 3.2, no que se refere à importância estratégica de se acompanhar o desempenho das principais entidades que se relacionam com a empresa. Assim, justifica-se a necessidade de que o sistema de informação de gestão estratégica possua módulos específicos para contemplar informações sobre toda a cadeia, suas entidades e variáveis mais relevantes. KAPLAN & NORTON (1997) propõem um modelo de implementação e acompanhamento de estratégias. 18 Segundo SHANK & GOVINDARAJAN (1997: 73) o desmembramento deve ser feito se as atividades do estágio segregado: a) representarem proporção significativa dos custos; b) o comportamento do custo for diferente; c) são realizadas de forma diferente pelos concorrentes; ou d) oferecem oportunidade de se criar diferenciação. 36 O capítulo 4 daquela obra é dedicado ao estudo da perspectiva dos clientes; às páginas 94-5 os autores discorrem sobre como os clientes distinguem preço de custo, no que se refere às relações com seus fornecedores. O custo de adquirir e utilizar um bem ou serviço inclui (mas vai além do) preço pago; veja-se, a propósito, o subitem 5.7.4.2 desta tese. Para KAPLAN & NORTON, até mesmo clientes sensíveis a preços poderão preferir fornecedores que ofereçam não apenas preços baixos, mas custos baixos de aquisição e utilização do serviço ou produto. Os principais custos de aquisição e de utilização, segundo os autores, são os relativos a espaço para estocagem, inspeção e recebimento, manuseio, custo de oportunidade de estocagem, custo financeiro (relativo a prazo de pagamento), devoluções, atrasos, colocação de pedidos, pagamento, reprogramação, retrabalho etc. Essa distinção é importante no contexto desta tese, pois proporciona o fundamento que justifica a inclusão, no modelo conceitual de Sistema de Informação de Gestão Estratégica, do subsistema de informação do valor dos produtos, que inclui custos de aquisição e de utilização, importantes variáveis do valor econômico. Esse fundamento também se encontra em PORTER (1989). 3.3 Ameaça de substituição PORTER (1989), no capítulo 8, trata de uma das cinco variáveis a influenciar o ambiente de competição e a rentabilidade de uma empresa, ou de todo um setor: a ameaça de substituição de um produto ou serviço por outro, de concorrente. Analisar trechos desse capítulo é importante, pois eles fornecem subsídios valiosos para a construção de dois subsistemas do Sistema de Informação de Gestão Estratégica, conforme se pode ver no Capítulo 5 deste trabalho: o Subsistema de Informação sobre o Valor dos Produtos e o de Produtos e Serviços Complementares. A substituição, segundo o autor, “é o processo pelo qual um produto ou serviço suplanta outro ao desempenhar funções particulares para um cliente.” (p.251). A substituição de um produto, numa empresa, afeta seus fornecedores, e a substituição de produto de um cliente afeta a empresa; logo, a estratégia da empresa deve incluir o monitoramento da ameaça de substituição, nos principais elos da cadeia. As empresas devem estar preparadas para defender-se (no caso de concretização da ameaça) ou lançar-se à ofensiva, promovendo, elas, as 37 substituições. Para o autor, a ameaça de substituição depende de três fatores: . relação valor/preço do produto substituto, comparada à mesma relação, do produto substituído; . custo de mudar; . propensão do comprador à mudança. Quanto ao primeiro fator, é necessário mensurar o custo total de uso e propriedade e o grau de utilidade para o consumidor; e as principais variáveis são: . índice de consumo; . custo de transporte, entrega e instalação; . custo do financiamento; . custo de utilização; . desempenho (grau de satisfação das necessidades). O custo total de uso e propriedade é uma das variáveis a influenciar o valor dos produtos e serviços; daí sua importância para fins de gestão estratégica; por isso sua mensuração é analisada, em maiores detalhes, nos itens 3.5 e 5.7.4 desta tese. Quanto ao custo de mudar, os principais itens são: . custo de reprojetar o arranjo físico das instalações; . custo de reformular processos e atividades; . custo de reciclagem ou de reaprendizagem. Finalmente, em relação à propensão do comprador à mudança, PORTER tece diversas considerações (p.264-5), que não serão aqui citadas, por não afetarem diretamente o processo de concepção do modelo conceitual do SIGE. Esta tese valida e aceita as idéias de PORTER referentes à ameaça de substituição; como conseqüência, recomenda que as empresas mensurem e avaliem o custo de mudança; eis o conceito: Custo de mudança é o custo em que uma empresa irá incorrer caso haja 38 alteração: a) no projeto de um produto ou serviço; b) no projeto de produtos ou serviços complementares; ou c) no processo de produção dos produtos ou serviços citados em a e b. Esse conceito deve ser aplicado: a) à própria empresa, caso haja alteração no produto ou no processo de produção de clientes; b) à própria empresa, caso haja alteração no produto ou no processo de produção de fornecedores; e c) a clientes e a fornecedores, caso haja alteração no produto ou no processo de produção da própria empresa. Os custos de mudança devem ser reportados nos subsistemas de informação sobre clientes (subitem 5.7.1) e sobre fornecedores (5.7.2).19 3.4 Produtos Complementares No capítulo 12 PORTER (1989: 385-407) analisa aspectos relativos à importância estratégica de produtos complementares. Produtos complementares são aqueles utilizados pelos consumidores juntamente
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