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TEMA 8 CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Aula I Peculato

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MÓDULO 9: CRIMES EM ESPÉCIE 
 
TEMA 8 – CRIMES PRATICADOS POR 
FUNCIONÁRIOS CONTRA A 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RESUMO 
 
O Título XI da Parte Especial do Código Penal regula os crimes contra a Administração Pública, 
contemplando cinco capítulos: Capítulo I – Dos crimes praticados por funcionário público contra 
a Administração em geral; Capítulo II – Dos crimes praticados por particular contra a 
Administração em geral; Capítulo II-A - Dos crimes praticados por particular contra a 
Administração Pública estrangeira; Capítulo III – Dos crimes contra a Administração da Justiça; 
Capítulo IV – Dos crimes contra as finanças públicas. 
 
Os crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral, portanto, é uma 
das espécies do gênero “Crimes contra a Administração Pública”, denominados de crimes 
funcionais, cujo conceito de funcionário público, para fins penais, encontra-se no artigo 327, do 
CP. 
 
Os crimes funcionais, quanto ao sujeito ativo, são classificados em próprios e impróprios. Os 
delitos funcionais próprios exigem a condição de funcionário público, de modo que, se ausente, 
resultará na atipicidade da conduta. No crime de prevaricação, por exemplo, se o agente não 
for funcionário público, não haverá prática de qualquer infração penal. Por outro lado, nos 
crimes funcionais impróprios, ausente a condição de funcionário público, a conduta será 
desclassificada para outro crime. No peculato-apropriação, se o autor não for funcionário 
público, a sua conduta será desclassificada para o delito de apropriação indébita. Assim como 
no peculato-furto, previsto no artigo 312, § 1º, do CP, que encontra semelhança com o artigo 
155 do mesmo diploma legal. 
 
É preciso se recordar da previsão constante no artigo 30 do CP, segundo a qual “não se 
comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do 
crime”. Disso extrai-se que o particular pode responder por crime funcional, já que a 
circunstância “funcionário público”, indispensável para a caracterização desses crimes, se 
comunica. É preciso, no entanto, que o particular esteja ciente dessa circunstância. 
 
Ilustrando, se um funcionário público convida um particular, seu amigo, para em concurso 
subtraírem um computador que se encontra na repartição pública em que trabalha, 
aproveitando-se das facilidades proporcionadas pelo seu cargo, ambos responderão por 
peculato-furto ou peculato impróprio, pois a elementar funcionário público transmite-se ao 
particular, punido na condição coautor1. 
 
1 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 627. 
Aula I – Peculato 
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Peculato próprio: Peculato-apropriação & Peculato-desvio 
 
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem 
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em 
proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do 
dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito 
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de 
funcionário. 
 
O peculato doloso tem três modalidades: peculato-apropriação e peculato-desvio, previstos no 
caput do artigo 312, também chamados de peculato próprio, haja vista ter o agente a posse ou 
a detenção do bem, e o peculato-furto, contemplado no § 1º do artigo em estudo, conhecido 
como peculato impróprio. 
 
Verbos nucleares – peculato próprio: apropriar e desviar 
 
O caput do artigo 312 prevê duas condutas típicas: apropriar-se e desviar. 
 
A conduta núcleo, constante da primeira parte do artigo 312, do CP, é o verbo “apropriar”, que 
deve ser entendido no sentido de tomar como propriedade, tomar para si, apoderar-se 
indevidamente de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que 
tem a posse ou a detenção, em razão do cargo. O agente inverte ilegalmente o título da posse, 
agindo como se proprietário fosse2. O sujeito comporta-se como se fosse dono do objeto 
material, retendo-o, consumindo-o, destruindo-o, alienando-o3. 
 
A segunda parte do artigo 312 do CP prevê o verbo nuclear “desviar”, que significa alterar o 
destino ou desencaminhar dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, em proveito próprio ou 
alheio. O sujeito confere à coisa destinação diversa da inicialmente prevista, ou seja, ao 
contrário do destino certo e determinado do bem de que tem a posse, o funcionário público lhe 
dá outro, em proveito próprio ou de terceiro4. 
 
O peculato próprio, abrangendo as modalidades constantes no caput do artigo 312 do CP, são 
crimes funcionais impróprios, pois, retirando-se a qualidade de funcionário público, a conduta 
criminosa enquadra-se no delito de apropriação indébita, artigo 168, do CP. 
 
 
2 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Parte Especial, Vol. IV. RJ: Ímpetus, 4ª ed., pág. 366. 
3 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 649. 
4 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 649. 
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O peculato, em sua essência, nada mais é do que a apropriação indébita cometida por 
funcionário público como decorrência do abuso do cargo ou infidelidade a este. É o crime do 
funcionário público que arbitrariamente faz seu ou desvia em proveito próprio ou alheio o bem 
móvel, pertencente ao Estado ou sob sua guarda ou vigilância (bens particulares), de que tem 
a posse em razão do cargo. Caso excluída a condição de funcionário público do agente, afasta-
se o peculato, mas pune-se por apropriação indébita5. 
 
Posse e cargo devem ter uma relação direta, ou seja, uma relação de causa e efeito. Não é 
pelo fato de ser funcionário público que o sujeito deve responder pelo delito de peculato se 
houver se apropriado, por exemplo, de uma coisa móvel, mas, sim, pela conjugação do fato de 
que somente obteve a posse da coisa em virtude do cargo por ele ocupado. Aquele que não 
tinha atribuição legal para ter a posse sobre a res pode praticar outra infração penal que não o 
delito de peculato, podendo, até mesmo, responder pelo delito de apropriação indébita, furto ou 
mesmo peculato-furto, já que, se não tinha qualquer poder sobre a coisa, pois que ocupante de 
cargo que não lhe proporcionava essa condição, a liberdade sobre ela exercida poderá ser 
considerada como vigiada, importando, dependendo da hipótese concreta a ser apresentada, 
em subtração e não em apropriação6.Ilustrando, há peculato quando um escrevente judicial se apropria de bens apreendidos nos 
autos de uma ação penal. Entretanto, há apropriação indébita, e não peculato, quando o 
mesmo funcionário público se apropria de um livro que tomara emprestado de um advogado. 
Fica nítida, portanto, que somente a condição de funcionário público não acarreta, 
necessariamente, a configuração do peculato. Exige-se também a natureza da coisa, que há 
de ser pública ou, se particular, deve encontrar-se sob os cuidados da Administração Pública. 
 
Verbos nucleares – peculato impróprio: subtrair e concorrer 
 
O peculato furto, previsto no § 1º do CP, diferencia-se do caput à medida que o funcionário 
público não possui a posse da coisa móvel, pública ou particular. 
 
Ao contrário do que ocorre com as modalidades de peculato próprio (peculato-apropriação e 
peculato-desvio), no peculato impróprio basta que o agente, funcionário público, tenha se 
valido dessa qualidade para fins de praticar a subtração ou concorrido para que terceiro a 
praticasse7. 
 
O sujeito ativo não tem a posse do bem, mas a sua posição de funcionário público lhe 
proporciona uma posição favorável para praticar a subtração. Imagine um policial rodoviário 
 
5 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 649. 
6 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Parte Especial, Vol. IV. RJ: Ímpetus, 4ª ed., pág. 367. 
7 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Parte Especial, Vol. IV. RJ: Ímpetus, 4ª ed., pág. 369. 
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que subtrai peças de um veículo apreendido por falta de documentação. 
 
Pune-se, igualmente, o funcionário público que, embora não subtraia diretamente o dinheiro, 
valor ou qualquer outro bem móvel, concorre para que terceiro o faça. Trata-se de crime de 
concurso necessário, pois reclama a presença de ao menos duas pessoas: o particular que 
subtrai a coisa móvel, ciente da colaboração do funcionário público, e o agente público, que 
conscientemente concorre para a subtração alheia. Imagine que um policial militar responsável 
pela sala de armas de um quartel propositalmente deixa de trancar a porta do recinto, vindo o 
particular, com ele previamente ajustado, a subtrair durante a madrugada uma metralhadora 
que ali se encontra8. 
 
Entretanto, é imprescindível à configuração do peculato-furto que a colaboração do funcionário 
público seja dolosa. Se ocorrer colaboração por imprudência ou negligência, haverá peculato 
culposo para o funcionário público e furto para o particular, pois ausente o vínculo subjetivo 
entre os envolvidos. É o que se dá, por exemplo, quando um funcionário público esquece de 
trancar a porta da repartição pública e um particular se aproveita da situação para subtrair bens 
do seu interior9. 
 
Elemento normativo do tipo: “valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de 
funcionário”. Essa condição é o ponto fulcral que distingue o peculato-furto do crime de furto 
praticado por funcionário público. 
 
É imprescindível que a subtração tenha sido realizada em decorrência da facilidade que a 
qualidade de funcionário lhe confere. Se o agente, mesmo pertencendo ao escalão público, 
não se vale do seu cargo nem das comodidades por ele proporcionadas para subtrair um bem 
móvel da Administração Pública, ou de particular que estava sob a guarda pública, o crime será 
de furto, e não de peculato-furto10. 
 
Objeto material: “dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular”. 
 
Dinheiro é a moeda em vigor, destinada a proporcionar a aquisição de bens e serviços. Valor é 
tudo aquilo que pode ser convertido em dinheiro, possuindo poder de compra e trazendo para 
alguém, mesmo que indiretamente, benefícios materiais, tais como ações, letras de câmbio, 
apólices. Outro bem móvel é fruto da interpretação analógica, isto é, ofertada fórmulas 
casuísticas, “dinheiro e valor”, o tipo penal amplia a possibilidade de qualquer outro bem, 
semelhante aos primeiros, poder constituir a figura de peculato, como computadores, veículos, 
aparelhos eletrônicos, etc11. 
 
 
8 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 651. 
9 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 651. 
10 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 652. 
11 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal – Vol. 2. RJ: Forense, 2017, pag. 466. 
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A natureza do objeto material, se público ou particular, não importa à configuração típica. O 
delito em questão protege tanto os bens materiais pertencentes à Administração Pública 
quanto os bens de particulares que estejam sob a guarda da Administração. Imprescindível é 
que, seja público, seja particular, o bem esteja em poder do funcionário público em razão de 
seu cargo. 
 
Sujeito Ativo: crime próprio, exigindo-se a qualidade de funcionário público. Ressalta-se, 
contudo, a possibilidade de o particular também responder por peculato, em virtude da norma 
constante do artigo 30, do CP. 
 
Sujeito Passivo: Estado e a pessoa jurídica ou o particular lesado. 
 
Objeto Jurídico: Administração Pública. 
 
Elemento subjetivo: as três modalidades de peculato (peculato-apropriação, peculato-desvio e 
peculato-furto) reclamam o dolo do agente. 
 
No peculato-apropriação, o Superior Tribunal de Justiça exige a presença também de um 
elemento subjetivo específico, consistente na intenção definitiva de não restituir o objeto 
material ao seu titular. 
 
Em relação ao peculato-desvio e ao peculato-furto, além do dolo, reclama-se o elemento 
subjetivo específico, representado pelas expressões “em proveito próprio ou alheio”. Caso o 
funcionário público desvie o destino da coisa em proveito da própria Administração, o crime em 
apreço será o constante do artigo 315, do CP – emprego irregular de verbas ou rendas 
públicas. 
 
Consumação e tentativa: nas três modalidades de peculato, o crime é material, consumando-
se com a produção do resultado naturalístico, consistente no efetivo benefício auferido pelo 
agente. 
 
No peculato-apropriação, consuma-se no instante em que o funcionário público passa a se 
comportar como proprietário da coisa móvel, isto é, quando ele transforma em domínio a posse 
ou detenção sobre dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel (ex: alienação, disposição ou 
retenção do bem, etc). É nesse momento que o Estado suporta a lesão patrimonial, pois deixa 
de ter a livre disponibilidade sobre a coisa de sua titularidade12. 
 
 
 
12 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 659. 
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No peculato-desvio, consuma-se o crime quando o funcionário público confere à coisa 
destinação diversa da legalmente prevista, pouco importando se a vantagem almejada é por 
ele alcançada13. 
 
Por fim, no peculato-furto, consuma-se com a efetiva inversão da posse, que sai da esfera de 
vigilância da AdministraçãoPública e ingressa na livre disponibilidade do agente, ainda que por 
breve período. 
 
Peculato Culposo 
 
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
Conforme ensinamento de Guilherme de Souza Nucci, criou-se nesse dispositivo autêntica 
participação culposa em ação dolosa alheia. O funcionário, para ser punido, insere-se na figura 
do garante, prevista no art. 13, § 2º, do CP. Assim, tem ele o dever de agir, impedindo o 
resultado de ação delituosa de outrem. Não o fazendo, responde por peculato culposo. Se um 
vigia de prédio público se desvia de sua função de guarda, por negligência, permitindo, pois, 
que terceiros invadam o lugar e de lá subtraiam bens, responde por peculato culposo. O 
funcionário, nesse caso, infringe o dever de cuidado objetivo, inerente aos crimes culposos, 
deixando de vigiar, como deveria, os bens da Administração que estão sob sua tutela14. 
 
Prossegue o jurista ao ressaltar que essa modalidade de peculato é sempre plurissubjetiva, isto 
é, necessita da concorrência de pelo menos duas pessoas: o funcionário (garante) e terceiro 
que comete o crime para o qual o primeiro concorre culposamente. É impossível que um só 
indivíduo seja autor de peculato culposo15. 
 
Importante lembrar que, como não se admite a participação culposa em crime doloso, não há 
falar em concurso de pessoas, na forma disciplinada pelo artigo 29, caput, do CP, que adotou a 
teoria monista. Logo, uma vez concretizada a subtração, o funcionário público relapso 
responde pelo peculato culposo, ao passo que ao terceiro será imputado delito diverso 
(peculato, se também ostentar a condição funcional, ou, se particular, por crime de outra 
natureza, notadamente o furto)16. 
 
Como não se admite tentativa em crime culposo, caso o delito doloso praticado pelo terceiro 
não atinja a consumação, o funcionário não responderá por peculato culposo. Assim, o 
funcionário público somente responderá pelo peculato culposo na hipótese de consumação do 
 
13 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 660 
14 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal – Vol. 2. RJ: Forense, 2017, pag. 472. 
15 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal – Vol. 2. RJ: Forense, 2017, pag. 473. 
16 MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial, Vol. 3. RJ: Forense, 7ª ed., página 665. 
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crime doloso cometido por terceiro. 
 
Reparação do dano no crime culposo 
 
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença 
irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 
 
Essa norma é especial em relação ao artigo 16, do CP, que prevê o instituto do arrependimento 
posterior. Se o funcionário negligente vier a reparar o dano antes mesmo do recebimento da 
denúncia, será aplicado o § 3º do artigo 312 do CP, com a consequente extinção da 
punibilidade, e não o artigo 16, que possibilita, tão-somente, a redução de um a dois terços na 
pena aplicada 17 . Essa reparação deve se dar até o trânsito em julgado da sentença 
condenatória. 
 
A sentença irrecorrível representa o divisor de águas para a extinção da punibilidade ou 
redução da pena. 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
“O presente artigo aborda os problemas existentes na realidade jurídica nacional em torno do 
conceito de funcionário público presente no Código Penal, artigo 327 e parágrafos. Demonstra-
se que o estudo do conceito de funcionário público da lei penal na dogmática pátria é carente 
sob diversos aspectos, especialmente quando em confronto com as disciplinas do direito 
constitucional, do direito administrativo e do próprio direito penal. (...)”. 
 
Para a íntegra do texto, segue link abaixo: 
O conceito de funcionário público na lei penal. 
 
JURISPRUDÊNCIA 
 
PROCESSUAL PENAL. INSERÇÃO DE DADO FALSO EM CURRÍCULO LATTES. 
FALSIDADE IDEOLÓGICA. ATIPICIDADE. OCORRÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO 
PENAL. PECULATO-FURTO POR OMISSÃO RELEVANTE. DESCRIÇÃO FÁTICA 
INSUFICIENTE. INÉPCIA DA DENÚNCIA. 
1 - Documento digital que pode ter a sua higidez aferida e, pois, produzir efeitos jurídicos, é 
aquele assinado digitalmente, conforme a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-
Brasil). 
2 - O currículo inserido na página digital Lattes do CNPq não é assinado digitalmente, mas 
decorrente da inserção de dados, mediante imposição de login e senha, não ostentando, 
portanto, a qualidade de "documento digital" para fins penais. 
 
17 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal, Parte Especial, Vol. IV. RJ: Ímpetus, 4ª ed., pág. 372. 
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https://jus.com.br/artigos/18250/o-conceito-de-funcionario-publico-na-lei-penal
3 - Além disso, como qualquer currículo, material ou virtual, necessita ser averiguado por quem 
tem nele tem interesse, o que, consoante consagradas doutrina e jurisprudência, denota 
atipicidade na conduta do crime de falsidade ideológica. 
4 - A consumação do crime de peculato-furto por meio de omissão (crime comissivo por 
omissão) é excepcional e, como tal, há de constar na denúncia narrativa de como a atuação do 
recorrente ou, melhor, de como a sua falta de ação deu causa à figura do ilícito penal. 
5 - Descrição, na espécie, insuficiente que limita-se a fazer constar ser o recorrente 
Procurador-Geral da Universidade, o que, por óbvio, não é possível aceitar. Inépcia da 
incoativa. 
6 - Recurso provido para trancar a ação penal quanto ao crime de falsidade ideológica, por falta 
de justa causa, ante a constatada atipicidade e para declarar nula a denúncia, por inépcia, no 
tocante ao crime de peculato, sem prejuízo de que outra peça acusatória seja apresentada com 
observância da lei processual penal. (STJ, RHC 81.451/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE 
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe 31/08/2017). 
 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PECULATO-DESVIO E QUADRILHA. 
COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR O FEITO. CONSUMAÇÃO DO CRIME 
PREVISTO NO ARTIGO 312 DO CÓDIGO PENAL NO MOMENTO EM QUE O FUNCIONÁRIO 
EFETIVAMENTE DESVIA O DINHEIRO, VALOR OU OUTRO BEM MÓVEL. CONDUTAS 
IMPUTADAS AO RECORRENTE PRATICADAS EM BRASÍLIA. TRANSFERÊNCIA INDEVIDA 
DOS RECURSOS OCORRIDA NO AMAPÁ. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO 
CARACTERIZADO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 
1. O crime de peculato-desvio consuma-se no momento em que o funcionário efetivamente 
desvia o dinheiro, valor ou outro bem móvel. Precedente. 
2. No caso dos autos, embora a assinatura do convênio e o repasse das respectivas verbas 
tenha se dado em Brasília, o certo é que o desvio dos valores ocorreu com a sua efetiva 
transferência, sem a execução do objeto do acordo, à IBRASA, localizada no Amapá, o que 
revela a competência do Juízo Federal neste último Estado para processar e julgar o feito. 
3. Recurso desprovido. 
(RHC 36.755/AP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 16/12/2014, DJe 
03/02/2015). 
 
Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. 
PECULATO. MODALIDADE DESVIO. ATIPICIDADE. INOCORRÊNCIA. DOLO ESPECÍFICO. 
FUNCIONÁRIO PÚBLICO. CONCEITO. 1. O peculato desvio caracteriza-se na hipótese em 
que terceiro recebe armas emprestadas pelo juiz, depositário fiel dos instrumentos do crime, 
acautelados ao magistrado parafins penais, enquadrando-se no conceito de funcionário 
público. 2. In casu, Juiz Federal detinha em seu poder duas pistolas apreendidas no curso de 
processo-crime em tramitação perante a Vara da qual era titular. Ao entregar os armamentos a 
policial federal desviou bem de que tinha posse em razão da função em proveito deste, 
emprestando-lhe finalidade diversa da pretendida ao assumir a função de depositário fiel. 3. O 
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artigo 312 do Código Penal dispõe: “Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, 
valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do 
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e 
multa”. 4. É cediço que “o verbo núcleo desviar tem o significado, nesse dispositivo legal, de 
alterar o destino natural do objeto material ou dar-lhe outro encaminhamento, ou, em outros 
termos no peculato-desvio o funcionário público dá ao objeto material aplicação diversa da que 
lhe foi determinada, em benefício próprio ou de outrem. Nessa figura não há o propósito de 
apropriar-se, que é identificado como animus rem sibi habendi, podendo ser caracterizado o 
desvio proibido pelo tipo, com simples uso irregular da coisa pública, objeto material do 
peculato.” (BITTENCOURT, Cezar. Tratado de direito penal. v. 5. Saraiva, São Paulo: 2013, 7ª 
Ed. p. 47). 3. É possível a atribuição do conceito de funcionário público contida no artigo 327 do 
Código Penal a Juiz Federal. É que a função jurisdicional é função pública, pois consiste 
atividade privativa do Estado-Juiz, sistematizada pela Constituição e normas processuais 
respectivas. Consequentemente, aquele que atua na prestação jurisdicional ou a pretexto de 
exercê-la é funcionário público para fins penais. Precedente: (RHC 110.432, Relator Min. Luiz 
Fux, Primeira Turma, julgado em 18/12/2012). 4. A via estreita do Habeas Corpus não se preza 
à discussão acerca da valoração da prova produzida em ação penal. É que, nos termos da 
Constituição esta ação se destina a afastar restrição à liberdade de locomoção por ilegalidade 
ou por abuso de poder. 5. Recurso desprovido. (STF, RHC 103559, Relator(a): Min. LUIZ FUX, 
Primeira Turma, julgado em 19/08/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-190 DIVULG 29-09-
2014 PUBLIC 30-09-2014). 
 
FONTE BIBLIOGRÁFICA 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2017. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Vol. 
1. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4. 
ed. Rio de janeiro: Forense, 2015. 
 
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