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A Proclamação da República e o povo: “bestializados ou bilontras?” 2a SÉRIE Nivelamento 1 2o bimestre História Etapa Ensino Médio ● Proclamação da República. ● Primeira República (1889-1930). ● Constituição de 1891. ● Retomar o contexto histórico da Proclamação da República e seus primeiros desdobramentos: principais aspectos sociais, econômicos e políticos. Conteúdo Objetivo Você acha que seria possível hoje, em nosso país, mudarmos a nossa forma de governo e nosso sistema político? O que isso quer dizer? Haveria participação popular? Você sabia que, em abril de 1993, no Brasil, um plebiscito foi realizado para determinar a forma e o sistema de governo do país? Após a redemocratização do Brasil, uma emenda da nova Constituição (1988) determinava a realização de um plebiscito para decidir se o país deveria ter uma forma de governo republicana ou monarquista e se o sistema de governo seria presidencialista ou parlamentarista. Para começar VOCABULÁRIO Plebiscito: consulta sobre um assunto específico, feita por meio da convocação dos eleitores, que pretende saber a opinião do povo, por meio de uma votação. O Natal Republicano Vozes: – Papai, papai, as nossas festas? O que nos trouxe? O chefe da família: – Trouxe-lhes as maiores novidades do dia, tudo quanto achei de mais republicano. Também aderi! Revista Illustrada, nº 572, de 1889. Charge de Angelo Agostini (1843-1910). Na prática Observem as charges a seguir e levantem hipóteses sobre seu contexto histórico! Na prática “Pobre Pedro II: Depois de 50 e tantos anos de reino, tem que marchar com a música em outra parte!” Charge da Revista Argentina El Mosquito, ano XXVII, n. 1402, 24/11/1889, sobre a Proclamação da República no Brasil. Acervo da Livraria do Congresso dos EUA. Discutam em sala suas conclusões e depois registrem! Na prática ● Como você compreende a relação, na atualidade, entre a República e o povo? ● O que é possível afirmar sobre a mudança de regime político no Brasil pela charge da Revista Illustrada (Natal republicano)? ● A charge sobre a expulsão de Pedro II revela participação popular no advento da República no Brasil? Quem são os personagens? ● A população tinha, pela imagem, uma visão de que poderia participar das decisões políticas ou de que o Estado a representava? República (res publica) significa “coisa pública”, assim sendo, os governos sob um regime republicano representativo devem exercer suas funções para o povo. Do outro lado, cabe ao povo a função de fiscalizar constantemente os atos que são praticados em seu nome, para garantir que quem está governando não tome decisões que visem apenas ao bem próprio. Foco no conteúdo A Proclamação da República no Brasil, em 15 de novembro de 1889, foi resultado de um levante militar que marcou a retirada da monarquia do poder. O movimento liderado por Marechal Deodoro da Fonseca pretendia derrubar apenas o gabinete do primeiro-ministro, Visconde de Ouro Preto, mas a proclamação de um novo regime foi feita por receio de represália do então governo monárquico contra os republicanos. A charge da Revista Illustrada revela como a população ficou alheia ao evento, assim como à ideia de cidadania. Não havia distinção para o povo entre ser “súdito” ou “cidadão”. Foco no conteúdo A charge produzida pela revista argentina (primeiro país a reconhecer a república brasileira) El Mosquito, em 1989, ironiza o fim do Império brasileiro. Representação de Deodoro da Fonseca (a cavalo empunhando a bandeira republicana), acompanhado de Quintino Bocaiúva (líder do partido republicano paulista e ministro), Ruy Barbosa (constituinte e ministro) e Antônio Silva Jardim (político abolicionista). Não há menção ao povo! Do lado do Império observam-se: Dom Pedro II, acompanhado do Visconde de Ouro Preto (no chão, ministro no 2º reinado), Conde D’Eu e sua esposa, a Princesa Isabel. Foco no conteúdo A República, 1896. Obra de Manuel Lopes Rodrigues. Óleo sobre tela, 228 × 118,5 cm. Museu de Arte da Bahia, Salvador, BA. PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA Golpe militar: a Primeira República (ou República da Espada, pelo caráter militar) começou com um golpe militar liderado por Deodoro da Fonseca, que culminou com a derrubada do Império. Centralização do poder: durante o contexto, houve uma forte centralização do poder nas mãos dos militares, com a criação de um governo autoritário e centralizador. Histórias do Brasil: A Proclamação da República. TV Senado. Foco no conteúdo http://www.youtube.com/watch?v=T2gMKpADSQU ● Fortalecimento do exército: com o objetivo de consolidar o poder militar, houve a modernização e o fortalecimento do exército, criando uma estrutura militar mais profissional e organizada. ● Perseguição política: marcada pela perseguição política aos opositores do regime, especialmente aos antigos membros do Império e aos republicanos que defendiam uma república mais democrática. ● Intervenção na economia: promoção da industrialização do país, atraindo investimentos estrangeiros para o Brasil. ● Imposição do voto: criada uma nova Constituição (1891), que impôs o voto obrigatório e a criação de um sistema eleitoral que restringia o acesso das camadas populares ao poder político. Foco no conteúdo Foco no conteúdo Promulgada a 1ª Constituição Republicana, assumem o poder os marechais Manuel Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Juramento da Constituição, c. 1891. Obra de Aurélio de Figueiredo. Óleo sobre tela, 330 × 257 cm. Museu da República, Rio de Janeiro. CARACTERÍSTICAS: República Federativa: composta por estados que detinham ampla autonomia (forças militares próprias, fazer leis, eleger governador, criar e cobrar impostos etc.). Foco no conteúdo ● Três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário (o Poder Executivo, no plano federal, era exercido por um presidente eleito para um mandato de quatro anos, com vice-presidente, não havendo direito de reeleição. Os estados eram governados por “presidentes”, também eleitos em cada uma das unidades da federação; o Poder Legislativo era bicameral – Senado (três senadores por estado) e Câmara dos Deputados (um deputado para cada 70 mil habitantes que o estado possuísse, o que garantiu maior representação política aos estados mais populosos, destacando-se Minas Gerais, com 37 deputados). Foco no conteúdo ● Sufrágio masculino reservado aos maiores de 21 anos alfabetizados. O voto não era secreto e não foi instituída a Justiça Eleitoral. ● Economia: determinação de que o subsolo pertencia ao proprietário do solo, característica acentuadamente liberal, mas sem ações no sentido social. ● Laicização do Estado: por meio da separação do Estado e a Igreja Católica. Instituiu-se o casamento civil e deixou de existir uma religião oficial. CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1891 POPULAÇÃO RURAL CORONÉIS GOVERNADOR PRESIDENTE VOTO VOTO VOTO APOIO APOIO AMEAÇA Foco no conteúdo ATENÇÃO AO TEMPO ESTIPULADO! Na prática Observem a pintura histórica de Benedito Calixto, leiam os fragmentos de textos/documentos e, em duplas, realizem a análise da temática estudada. Observando a obra de Benedito Calixto, o que é possível inferir sobre a intencionalidade do artista (que teve a obra encomendada) em relação ao evento de 15 de novembro nos campos de Santana no Rio de Janeiro? Proclamação da República. Benedito Calixto, 1893. Óleo sobre tela, 123,5 × 200 cm. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Na prática SAIBA MAIS: O gênero da pintura histórica é caracterizado pela celebração da memória de determinados episódios ou personagens, de maneira a nobilitá-los e glorificá-los. Geralmente possuem grandes dimensões, existindo intencionalidade por parte dos autores e/ou encomendantes de tornar essas representações símbolos de um determinado momento/evento histórico, passando a ser percebidas enquanto referências do passado. Geralmente essastelas são encomendadas e compostas por muitos elementos pictóricos em uma mesma imagem que evidenciam algum tipo de ação. Na prática O Manifesto afirma que o povo e as forças militares decretaram a deposição da Monarquia em uma revolução nacional. Essa interpretação do evento trazida pelo discurso republicano corresponde inteiramente ao que ocorreu em 15 de novembro de 1889, tendo em vista as demais fontes históricas? Na prática “Concidadãos! O povo, o Exército e a Armada Nacional, em perfeita comunhão de sentimentos com os nossos concidadãos residentes nas províncias, acabam de decretar a deposição da dinastia imperial e consequentemente a extinção do sistema monárquico representativo. Como resultado imediato dessa revolução nacional, de caráter essencialmente patriótico, acaba de ser instituído um Governo Provisório, cuja principal missão é garantir, com a ordem pública, a liberdade e os direitos dos cidadãos”. Manifesto da Proclamação da República de 16 de novembro de 1889. (CASALECCHI, 1986, p. 90). Aristides da Silveira Lobo (1838 -1896) foi um jurista, político e jornalista republicano e abolicionista brasileiro, ao tempo do Império. O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada. — cf. artigo escrito no dia 15 e publicado no Diário Popular de 18 de novembro de 1889. Na prática ANALISEM: O que o texto revela sobre a participação popular no advento da República brasileira? No que se assemelha ou diferencia da pintura histórica observada? Na prática Segundo Aristides Lobo, numa frase que ficou famosa, o povo assistiu à Proclamação da República completamente “bestializado”. Mas, como bem observou José Murilo [de Carvalho], mais do que “bestializado” o povo foi “bilontra” (esperto), já que, de algum modo, percebeu o sentido histórico de um ato que mudava o regime, mas mantinha a exclusão e a desigualdade na sociedade [...]. (ENGEL, 2002, p. 633). Na prática Obra encomendada pela elite oligárquica paulista para criar uma representação da Proclamação da República. A intencionalidade foi a de construir uma memória sobre o evento, um símbolo que revelasse o protagonismo militar e a participação da alta oficialidade do exército, tendo como foco central Deodoro da Fonseca (que enfrentava no contexto da produção da pintura, em 1893, duas revoltas: da Armada e a Federalista). Da mesma forma, o Manifesto reitera a ideia de uma “revolução nacional” oriunda da deposição da Monarquia, alegando a participação ativa do povo. Na prática A frase do jornalista à época, Aristides Lobo, trazida pelo historiador José Murilo de Carvalho, pode, em conjunto, trazer a compreensão de que, mais que “bestializado” ou ausente, diante dos eventos no campo de Santana, o povo foi esperto (bilontra), pois percebeu que o regime mudou, mas a exclusão e a desigualdade social se mantiveram. Sendo Monarquia ou República, as relações de dominação continuaram as mesmas para grande parte da população, que não era mais “súdita”, mas também não se tornou “cidadã”. Literatura e HistóriaAplicando O caso da tabuleta da Confeitaria (Machado de Assis) – Mas o que é que há? – perguntou Aires. – A República está proclamada. – Já há governo? – Penso que já [...]. Ajude-me a sair deste embaraço. A tabuleta está pronta, o nome todo pintado. – “Confeitaria do Império”, a tinta é viva e bonita. [...] V. Exa. crê que, se ficar “Império”, venham quebrar-me as vidraças? [...] – Mas pode pôr “Confeitaria da República”... – Lembrou-me isso, em caminho, mas também me lembrou que, se daqui a um ou dois meses, houver nova reviravolta, fico no ponto em que estou hoje, e perco outra vez o dinheiro. Literatura e HistóriaAplicando O caso da tabuleta da Confeitaria (Machado de Assis) – Tem razão... Sente-se. [...] Aires propôs-lhe um meio-termo, um título que iria com ambas as hipóteses, – “Confeitaria do Governo”. – Tanto serve para um regime como para outro. [...] Disse-lhe então que o melhor seria pagar a despesa feita e não pôr nada, a não ser que preferisse o seu próprio nome: Confeitaria do Custódio. Literatura e HistóriaAplicando Muita gente certamente lhe não conhecia a casa por outra designação. Um nome, o próprio nome do dono, não tinha significação política ou figuração histórica, ódio nem amor, nada que chamasse a atenção dos dois regimes, e conseguintemente que pusesse em perigo os seus pastéis de Santa Clara, menos ainda a vida do proprietário e dos empregados. Por que é que não adotava esse alvitre? Gastava alguma coisa com a troca de uma palavra por outra, Custódio em vez de Império, mas as revoluções trazem sempre despesas. – Sim, vou pensar, Excelentíssimo. Talvez convenha esperar um ou dois dias, a ver em que param as modas, disse Custódio agradecendo. ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. [1904]. São Paulo: Ática, 1998. Com a aula de hoje mais a leitura do texto de Machado de Assis, qual a sua conclusão: o povo foi bestializado ou bilontra no contexto da proclamação da República? Literatura e HistóriaAplicando Retomamos o contexto histórico da proclamação da República e seus primeiros desdobramentos: O que aprendemos hoje? ● O regime republicano não apresentou alterações significativas na vida da população. Monarquia ou República, o sistema político era dominado pelas oligarquias estaduais, cujos interesses prevaleciam no cenário político e econômico de seus respectivos estados. ● A Constituição de 1891 não trouxe ampliação de direitos. Apenas os homens com mais de 21 anos e alfabetizados votavam, ou seja, uma minoria. Não havia justiça eleitoral. Referências ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Ática, 1998. CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo, Companhia das Letras, 1987. CASALECCHI. José E. A proclamação da República. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Coleção Tudo é História.) FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O tempo do liberalismo excludente: da proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. (O Brasil republicano, v. 1). LEMOV, Doug. Aula nota 10 3.0: 63 técnicas para melhorar a gestão da sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2023. SCHWARCZ, L.M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. Lista de imagens e vídeos Slides 4 e 5 – Revista Illustrada, nº 572, de 1889. Charge de Angelo Agostini (1843-1910). Disponível em: https://cutt.ly/s8DJmMv. Acesso em: 7 mar. 2023. Da esquerda para direita: representantes da República, Quintino Antônio Ferreira de Sousa Bocaiúva; Deodoro da Fonseca, Ruy Barbosa e Antônio da Silva Jardim. Império: no chão Visconde de Ouro Preto, e na sequência, Conde D’Eu, Dom Pedro II e Princesa Isabel. Imagem disponível em: https://cutt.ly/k307Oap. Acesso em: 16 fev. 2023. Slide 10 – A República, 1896. Obra de Manuel Lopes Rodrigues. Óleo sobre tela, 228 X 118,5 cm. Museu de Arte da Bahia, Salvador, BA. Imagem disponível em: https://cutt.ly/Q32tyy6 Acesso em: 16 fev. 2023. Histórias do Brasil: A Proclamação da República. TV Senado. https://cutt.ly/U8Fkzcs Acesso em: 7 mar. 2023. Slide 12 – Juramento da Constituição, c. 1891. Obra de Aurélio de Figueiredo. Óleo sobre tela, 330 x 257 cm. Museu da República, Rio de Janeiro. Disponível em: https://cutt.ly/P8FlWWx Acesso em: 07 mar. 2023. Slide 17 – Proclamação da República. 1893. Benedito Calixto. Óleo sobre tela, 123,5 x 200 cm. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Disponível em: https://cutt.ly/g8FWvWd Acesso em: 7 mar. 2023. Slide 20 – José Murilo de Carvalho (1939-), é um cientista político e historiador, membro da Academia Brasileira de Letras. Imagem de Aristides Lobo, disponível em: https://cutt.ly/U8Fbsol. Acesso em: 7 mar.2023. Referências Material Digital
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