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Introdução ao Direito Cibernético

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DIREITO CIBERNÉTICO 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Jailson de Souza Araújo 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Esta aula pretende apresentar a interdisciplinaridade do Direito com a 
informática, permitindo compreender relevantes interações com áreas 
específicas do Direito. 
Para tanto, analisaremos a lei de introdução às normas do Direito 
brasileiro e questões inerentes ao Direito Penal, Direito Civil, Direito do 
Consumidor e Direito do Trabalho, trazendo conceitos e situações que 
contextualizam as referidas áreas com o uso da tecnologia da informação e 
comunicação. A escolha destas disciplinas jurídicas para o estudo decorre de 
grande relevância social e da presença de forte interação com as tecnologias da 
informação e comunicação, inclusive em situações cotidianas dos cidadãos e 
das empresas. 
Nesta aula, abordaremos questões que demonstram pontos de contato 
entre o Direito e a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), trazendo 
exemplos cotidianos atuais que ilustram a presente abordagem. 
TEMA 1 – LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO 
Antes de iniciarmos a interdisciplinaridade do Direito Cibernético, é 
fundamental conhecermos o Decreto-Lei n. 4.647, de 4 de setembro de 1942, 
conhecido como Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ou LINDB. 
Trata-se de uma legislação criada com o objetivo de estabelecer princípios gerais 
para todas as leis e ramos do Direito, sendo a “lei das leis”. 
A LINDB aborda temáticas relativas a: 
• vigência das leis; 
• revogação de leis; 
• conflito de leis no tempo; 
• conflito de leis no espaço (município, estado e União); 
• critérios de interpretação jurídica; 
• critérios de integração entre as leis no ordenamento jurídico brasileiro. 
A LINDB traz conceitos estruturantes para a adequada interpretação e 
aplicação do Direito. Dentre eles, destacamos os seguintes artigos, dada a sua 
relevância para o nosso estudo: 
 
 
3 
Art. 3º “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a 
conhece.” 
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
[…] 
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país 
em que se constituírem. 
Parágrafo 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e 
dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as 
peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do 
ato. 
Parágrafo 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída 
no lugar em que residir o proponente. 
O art. 3º é estruturante para adequada compreensão do Direito e da 
Legislação, pois não se pode alegar ignorância para deixar de cumprir deveres 
legais. Este tema diz respeito a todo ordenamento jurídico, inclusive as que 
regulamentam as relações comerciais, pois de nada valeria a existência de leis 
se qualquer um pudesse justiçar seu descumprimento com base no 
desconhecimento das regras que regulamentam a sociedade? 
O art. 4º é fundamental para que o Direito sempre possa dar uma 
adequada solução para os conflitos de interesse que surgem na vida em 
sociedade, pois ainda que não exista lei específica para lidar com determinado 
fato social ou econômico novo, certamente existem princípios aptos a viabilizar 
a adequada interpretação e aplicação do Direito. Um exemplo pertinente é o 
princípio da boa-fé, que corresponde a um padrão de conduta esperado em 
todas as relações contratuais, mesmo aquelas que, em virtude de inovação 
tecnológica, não esteja descrita em nenhuma legislação. 
Finalmente, o art. 9º é relevante para estabelecer a legislação aplicável 
nas hipóteses de comércio internacional, algo muito corriqueiro quando tratamos 
de contratos e comércio eletrônicos. 
Todos estes temas serão tratados a seguir, à medida que analisarmos a 
interdisciplinaridade do Direito Cibernético. 
TEMA 2 – DIREITO PENAL 
O desenvolvimento da Tecnologia da Comunicação e Informação (TIC) 
facilitou o acesso e a difusão de informação, o comércio de produtos e serviços, 
inclusive via internet, eliminando barreiras geográficas e facilitando o acesso a 
 
 
4 
produtos e serviços disponíveis no Brasil e no exterior. Não por acaso, o 
desenvolvimento do comércio eletrônico está diretamente relacionado a 
disseminação do uso comercial da internet, a partir da década de 1990. 
Entretanto, junto com as facilidades trazidas pelo desenvolvimento da 
tecnologia da comunicação e informação, surgem novas formas de 
criminalidade, amparados pela nova realidade proporcionada pelas relações 
virtuais, no âmbito da internet. 
Para Guilherme de Souza Nucci (2021), o Direito Penal corresponde ao 
corpo de normas jurídicas destinado ao combate à criminalidade, garantindo a 
defesa da sociedade, de acordo com o texto de Leis penais, como o Código 
Penal. O Direito Penal corresponde a um poder soberano do Estado, que se 
efetiva pela lei penal, permitindo ao Estado cumprir sua função originária, que é 
assegurar as condições de existência e continuidade da organização social. 
O Código Penal Brasileiro é fruto do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940. Sua redação tem sido atualizada e aperfeiçoada desde 
então. Entretanto, seu texto base remonta a uma época em que a sociedade era 
“analógica”, ou seja, a comunicação se dava por mídia impressa, rádio, televisão, 
as relações negociais eram essencialmente presenciais. O ritmo das inovações 
tecnológicas era mais lento, se comparado aos tempos atuais, e os conceitos 
relacionados à dignidade da pessoa humana e a privacidade eram bem 
diferentes da forma como os conhecemos atualmente. 
Com o surgimento da sociedade da informação, que Manuel Castels 
(1999) define como a organização social em que há geração, processamento e 
comunicação da informação como fontes fundamentais de produtividade e 
poder, propiciadas por novas tecnologias, facilidades são proporcionadas pela 
internet, como a oferta do comércio eletrônico, internet banking, pagamentos 
digitais on-line (PayPal, PagSeguro, PicPay, Mercado Pago, Pix, Apple Pay, 
TED, DOC, dentre outros), pagamento via QR Code, por aproximação via NFC, 
que dispensam o uso de dinheiro em espécie (portamos cada vez menos 
dinheiro), cheque (usamos cada vez menos), ou mesmo a utilização de cartão 
de crédito de plástico, bem como a contratação de produtos e serviços via 
aplicativos, que também incentivam o uso de pagamento por meio eletrônico. 
Por sua vez, empresas têm sido vítimas de quadrilhas especializadas em 
roubo de informações de clientes (senhas, cartão de crédito e dados pessoais), 
clonagem de página (phishing), induzindo clientes e consumidores ao erro e 
 
 
5 
recebendo pagamentos em nome da empresa clonada, furto de base dados de 
clientes, fornecedores e colaboradores e sequestro de dados via criptografia 
(ransomware). 
Neste contexto, a pandemia da Covid-19 acelerou a adesão de meios de 
pagamento eletrônicos, notadamente por aqueles que nunca haviam realizado 
compras pela internet ou utilizado meio de pagamento eletrônicos, influenciando 
hábitos de consumo. 
O Capterra realizou um estudo sobre o uso de carteiras digitais com 1.002 
entrevistados com mais de 18 anos, de diferentes faixas de renda (até 1 salário-
mínimo, de 1 a 3, de 3 a 7, de 7 a 15, de 15 a 20 e mais de 20), de todas as 
regiões do país, entre os dias 14 e 21 de julho de 2020, e de todas as regiões do 
país. 
Os entrevistados deveriam ser trabalhadores em tempo integral ou 
parcial, freelancers/autônomos, estudantes em tempo integral, aposentados ou 
terem perdido o emprego durante a crise. O painel contou com 50% dos 
entrevistados do sexo feminino e 50% do sexo masculino. 
O estudo apontou um crescimento de 32% no volume de pagamentos 
frequentes por dispositivos móveis entre aqueles que possuem carteiras digitais, 
que permitem realizar as chamadas transações contactless,instaladas nos seus 
celulares ou relógios inteligentes. 
Figura 1 – O uso de carteira digital para pagar antes e depois da Covid-19 
 
Fonte: Capterra, 2021. 
 
 
6 
Ao mesmo tempo em que a Tecnologia da Comunicação e Informação 
aproxima as pessoas, reduz barreiras e promove facilidades para o dia a dia, ela 
também promove reflexos sociais extremamente negativos, pois traz consigo 
novas formas de criminalidade capaz de comprometer a segurança do cidadão. 
Com um dispositivo informático devidamente conectado à internet, a 
criminalidade é capaz de realizar crimes contra o patrimônio. 
Quadrilhas estão se especializando em crimes que envolvem o uso de 
carteiras digitais, inclusive com a presença da vítima, como é o caso de 
sequestros-relâmpago para coagir a vítima a realizar pagamentos via PIX, 
modalidade de crime que voltou ao noticiário, catalisada pela possibilidade de 
transferir rapidamente significativas quantidades de dinheiro, bastando que a 
vítima tenha um celular e saldo bancário. 
Por sua vez, o crime de estelionato, definido no art. 171 do Código Penal: 
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo 
alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, 
ou qualquer outro meio fraudulento: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a 
dez contos de réis. 
Tal tipo penal recebeu novos contornos, pois a cada dia surgem novos 
golpes proporcionados pelo uso do e-mail e do WhatsApp. O mais corriqueiro é 
a clonagem de celular, em que o estelionatário clona o número de celular da 
vítima, assumindo o controle de seu WhatsApp e solicita dinheiro emprestado 
para amigos e familiares da vítima, que de boa-fé, fazem transferências para a 
conta bancária indicada pelo estelionatário. 
Evidentemente, diante destes novos fatos sociais e do aprimoramento dos 
meios utilizados pela criminalidade, a sociedade precisa da adequada proteção 
do Direito Penal, que por sua vez, necessita ser repensado e atualizado para 
atender adequadamente a sociedade, por meio da proteção do cidadão, evitando 
que seus bens jurídicos mais relevantes, quais sejam, sua vida, sua liberdade, 
sua dignidade e seu patrimônio, sejam lesados. 
Evidentemente, há inúmeras outras formas de criminalidade alavancada 
pela tecnologia da informação e comunicação, como fraudes bancárias, fraudes 
em compras públicas, fraudes fiscais, lavagem de dinheiro, clonagem de cartões 
de crédito, crimes raciais praticados em redes sociais, disseminação de 
pornografia infantil, dentre outras condutas que ferem a dignidade da pessoa 
humana e violam os direitos humanos. 
 
 
7 
Tal contexto demanda inclusive o aperfeiçoamento das estruturas de 
atuação do Estado, notadamente dos órgãos responsáveis pela investigação 
criminal, como é o caso da Polícia Civil e da Polícia Federal. 
Não por acaso vemos a criação de delegacias especializadas em 
combater a cibercriminalidade. 
No âmbito Estadual, o Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber), 
órgão específico da Polícia Civil do Estado do Paraná criado para o combate aos 
crimes cometidos por meios eletrônicos, responsável pela investigação das 
infrações penais cometidas com o uso ou emprego de meios ou recursos 
tecnológicos de informação computadorizada (hardware, software, redes de 
computadores e sistemas móveis de telefonia), bem como auxiliar os demais 
órgãos da Polícia Civil nas investigações e inquéritos policiais ou administrativos 
em crimes da mesma natureza. 
Já na esfera federal, a Polícia Federal conta com uma Diretoria 
especializada em crimes cibernéticos, o Serviço de Repressão a Crimes 
Cibernéticos (SRCC). 
Importante destacar que a Polícia Federal, diferentemente da atuação da 
Polícia Civil (estadual), assume a responsabilidade pela investigação de crimes 
de natureza transnacional em que o Brasil se comprometeu por meio de tratados 
internacionais e pelos crimes que atentem contra a Administração Pública 
Federal Direta ou Indireta. Para tanto, de acordo com o Delegado Federal Marco 
Aurélio de Macedo Coelho, para atuar da melhor forma possível, a PF necessita 
de ferramentas que auxiliem a corporação a acompanhar o avanço tecnológico, 
mas que em muitos casos a corporação precisa adquirir as tecnologias. 
“As ferramentas de investigação são essenciais para uma efetiva 
apuração de crimes cibernéticos em tempo razoável. Quando há o 
desenvolvimento de ferramentas pela própria PF uma das vantagens é que não 
há necessidade de se pagar pela atualização delas”, de acordo com o Delegado 
Federal Marco Coelho (ADPF, 2017). 
Coelho também esclarece que, mesmo quando a PF possui as 
ferramentas, são necessárias parcerias público-privadas, em especial com as 
empresas que oferecem as plataformas onde os crimes são cometidos. “Nas 
investigações de crimes cibernéticos é necessária a parceria com a iniciativa 
privada, até porque a maioria dos dados estão com eles. Acordos com empresas 
 
 
8 
como a Microsoft e a Google possibilitam que os investigadores consigam as 
informações em tempo hábil”, destaca (ADPF, 2017). 
Coelho sustenta que na luta contra o cibercrime, a Polícia Federal tem 
tomado várias iniciativas no combate ao cibercrime. Algumas tecnologias e 
plataformas vêm auxiliando a corporação a identificar criminosos com mais 
rapidez. Neste sentido, a plataforma Orus permite que o policial insira uma 
requisição de dados judicial ou extrajudicial. A partir dela são enviadas para as 
duas empresas aderentes ao projeto (Google e Microsoft), que respondem 
diretamente ao policial sem a necessidade de passar por escritórios de 
advocacia, o que facilita os procedimentos. 
De acordo com o princípio da Anterioridade da Lei, previsto no art. 1º do 
Código Penal, “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem 
prévia cominação legal”. 
Para lidar com a crescente criminalidade digital, a legislação penal precisa 
se manter em constante atualização, criando tipos penais que contemplem as 
novas modalidades de delitos informáticos. 
A Lei n. 12.737, de 30 de novembro de 2012, apelidada de Lei Carolina 
Dieckmann, atualizou o Código Penal e estabeleceu como crimes os seguintes 
delitos informáticos: 
1) Art. 154-A - Invasão de dispositivo informático alheio, conectado ou 
não à rede de computadores, mediante violação indevida de 
mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir 
dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do 
dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 
2) Art. 266 - Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, 
telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública 
- Pena - detenção, de um a três anos, e multa. 
3) Art. 298 - Falsificação de documento particular/cartão - Pena - 
reclusão, de um a cinco anos e multa. 
Por sua vez, a Lei n. 14.155, de 27 de maio de 2021, alterou o Código 
Penal, para tornar mais graves os crimes de violação de dispositivo informático, 
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização 
expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para 
obter vantagem ilícita, bem como o furto e estelionato cometidos de forma 
eletrônica ou pela internet, modalidades de crimes que, infelizmente estão se 
tornado cada vez mais frequentes, demandando inclusive a atuação das 
delegacias especializadas em cibercriminalidade. 
 
 
9 
TEMA 3 – DIREITO CIVIL 
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, o Direito Civil é o ramo do 
Direito responsável por reger as relações entre os particulares, disciplinando a 
vida das pessoas desde a concepção até depois de sua morte, ao reconhecer o 
respeito às disposições de última vontade registradas em testamento e ao exigir 
o respeito à memória dos mortos. 
Portanto, para o autor, compete aoDireito Civil a regulamentação das 
relações de família e as relações patrimoniais que surgem entre os indivíduos 
membros de uma sociedade, disciplinando as relações contratuais, os direitos e 
deveres das pessoas, na qualidade de membros de uma família, credores, 
devedores, proprietários, possuidores, herdeiros, condôminos, vizinhos, 
compradores, vendedores, regulando as relações sociais cotidianas. 
 Percebe-se o uso cada mais vez mais abrangente da tecnologia da 
comunicação e informação nas relações contratuais, que cada vez se tornam 
mais conectadas em pelo menos uma das etapas da negociação, seja pré-
contratual (publicidade on-line), contratual (tratativas por e-mail, aplicativo ou 
redes pessoais) ou pós-contratual (garantia e suporte pós-venda on-line). 
A internet tem favorecido o surgimento de negócios on-line que 
proporcionam ao cidadão produtos e serviços disponibilizados inclusive em 
aplicativos de celular que facilitam a vida cotidiana. Serviço de taxi (Uber e 99 
Taxis, serviço de hospedagem (Airbnb), serviço bancário (Nubank), imobiliárias 
(QuintoAndar), marketplaces, como o grupo B2W (Submarino, Lojas Americanas 
e Shoptime), bibliotecas virtuais, serviço de assinaturas de jornais e revistas 
digitais, dentre outras plataformas de serviços digitais, estão em franco 
crescimento e superando a concorrência tradicional, estabelecida fisicamente. 
A Uber é considerada a maior rede de táxis do mundo, em que pese não 
possuir nenhum veículo. O mesmo ocorre em relação à Airbnb, considerada a 
maior imobiliária do mundo, mesmo sem possuir um imóvel sequer. Diversos 
jornais e revistas estão deixando de oferecer exemplares físicos, mantendo 
apenas suas versões digitais correspondentes, oferecendo uma nova 
experiência de leitura em dispositivos eletrônicos, notadamente, smartphones, 
mediante assinatura periódica. São novos modelos de negócios que se 
amparam numa economia fortemente amparada (e dependente) da Tecnologia 
da Comunicação e Informação. 
 
 
10 
A revista Business Week alertava em 22 de junho de 1998 que 
Sem dúvida, a internet está conduzindo uma era de mudanças que não 
deixará nenhum negócio ou indústria intocada. Em apenas três anos, 
a rede cresceu, de um playground para nerds, para um vasto centro de 
comunicações e comércio, onde cerca de 90 milhões de pessoas 
trocam informações ou fazem negócios ao redor do mundo. Imagine: o 
rádio levou mais de 30 anos para alcançar 60 milhões de pessoas, e a 
televisão precisou de 15. Nunca uma tecnologia se espalhou tão 
rapidamente. 
Inúmeras startups estão aproximando pessoas com interesses e 
necessidades comuns para proporcionar oportunidades de uso compartilhado, 
com economia financeira e comodidade, revolucionando a maneira de se 
consumir produtos e serviços. 
A economia do compartilhamento tem ganhado expressão recentemente 
e se tornado um símbolo de consumo consciente e sustentável, tornando o uso 
compartilhado de bens de consumo uma alternativa em detrimento de sua 
aquisição, para uso individual, não raro, subutilizado, como é o caso dos carros 
particulares de passeio, em que, na maior parte do dia, permanece ocioso, 
estacionado e ocupando espaço. Não por acaso, Uber e Airbnb são casos de 
sucesso mundial, sendo que o uso do transporte compartilhado tem gerado a 
diminuição do interesse de jovens em adquirir um automóvel, preferindo utilizar 
o dinheiro para adquirir novas experiências de vida, inclusive com diversas 
modalidades de turismo. 
Evidentemente, a economia compartilhada demanda novas formas de 
contratar e negociar, com intensivo uso de contratos de seguro de acidentes e 
de responsabilidade civil por danos, utilizando novas regras que permitam que o 
uso compartilhado seja seguro, inclusive em virtude da pandemia de Covid-19, 
sendo todas as etapas intermediadas pelo uso da tecnologia da comunicação e 
informação, com intensivo uso de aplicativos de celular. 
Um elemento indispensável para o crescimento de novas formas de 
contratar bens e serviços é a proteção da confiança que deve sempre existir 
entre as partes contratantes. 
Não por acaso, o art. 422 do Código Civil brasileiro estabelece que os 
contratantes são obrigados a agir de boa-fé, em todas em todas as etapas de 
uma contratação, desde a oferta, que deve sempre corresponder a realidade, 
sem esconder fatos relevantes, que poderiam interferir nas condições de 
negociação, ou mesmo gerar sua desistência, até as obrigações pós-venda. 
 
 
11 
As modalidades de negociação e contratação on-line não dispensam o 
rigoroso atendimento dos deveres de lealdade e boa-fé que devem sempre 
existir entre as partes, não importando se o contrato convencional ou eletrônico. 
Esta é a razão para que a fase negocial seja sempre transparente para 
ambas as partes, notadamente quando a relação negocial não ocorre de maneira 
presencial, mas por plataforma de venda digital. As cláusulas contratuais devem 
ser elaboradas de forma clara, objetiva, coerente e sem o uso de expressões 
desnecessariamente complexas ou com redação inacessível para o cidadão que 
a interpreta. 
Isso significa que quem oferta produtos e serviços tem o dever de 
descrever adequadamente as características, condições de uso, limitações 
técnicas daquilo que anuncia, não exagerando ao informar as qualidades, 
tampouco omitindo informações relevantes que eventualmente possam interferir 
negativamente na avaliação do produto ou serviço, na composição do preço ou 
mesmo na decisão do comprador de adquirir ou não. 
Os termos de uso e a política de privacidade de serviços e produtos 
ofertados on-line devem ser elaborados de forma clara e transparente, 
especialmente quando abordam as regras e condições com destaque para 
cláusulas que definam os direitos, deveres e responsabilidades de ambas as 
partes, multas ou limitações ou exclusão de responsabilidade. 
Deve existir um canal de fácil contato, que aproxime as partes e viabilize 
um diálogo que oportunize o esclarecimento de dúvidas e a adequada 
manifestação de vontade, sobre o negócio que se pretende realizar (fase pré-
contratual), e para o adequado atendimento pós-venda (fase pós-contratual). 
Convém disponibilizar recursos como o Frequently Asked Questions (FAQ) e um 
glossário, que permita a compreensão de termos técnicos mencionados ou de 
significativa relevância na contratação. 
Em relação à política de privacidade, o aumento do uso de tecnologia da 
informação e comunicação nas nossas rotinas e contratos gera dúvidas 
relacionadas à privacidade e à proteção dos dados pessoais, tema que será 
objeto de estudo de aulas futuras, em ocasião em que estudaremos a Lei Geral 
de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). 
Finalmente, tornou-se relevante a proteção do patrimônio digital, 
composto pelos bens que são criados ou adquiridos digitalmente, leia-se: perfis 
em redes sociais que são monetizados, mídias digitais e até mesmo 
 
 
12 
criptomoedas, como é o caso do bitcoin. Tais bens podem ser negociados e são 
sucessíveis de serem transferidos inclusive por herança, exceto quando envolver 
conteúdo que diga respeito à intimidade e a honra, inclusive de terceiros, que o 
falecido tenha se comunicado, por se tratar da necessidade de proteger os 
direitos da personalidade do falecido. 
TEMA 4 – DIREITO DO CONSUMIDOR 
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi sancionado em 11 de 
setembro de 1990, no teor da Lei n. 8.078, época em que a internet no Brasil 
estava confinada ao uso acadêmico e sua existência era conhecida por um 
percentual irrisório de brasileiros. Mesmo no meio acadêmico, a internet era 
apenas utilizada por poucos pesquisadores das tradicionais universidades 
brasileiras que enfatizam pesquisas, como Unicamp e USP, onde professores e 
pesquisadores trocavam informações com colegas de universidades 
estrangeiras, principalmente da América do Norte e Europa. 
Tendo em vista o contexto históricoda internet na época da publicação do 
CDC, não havia como se prever relações de consumo por meio da internet, até 
porque em 1990, ela ainda não possuía a interface gráfica intuitiva e amigável 
que temos hoje. 
Nas palavras o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Ruy Rosado 
Aguiar, apesar de o Código de Defesa do Consumidor não previsto (nem 
poderia) na internet, na verdade possui ele possui é composto de normas, 
princípios gerais e cláusulas abertas. 
O CDC estabelece normas de proteção e defesa do consumidor. Para 
tanto, há que se analisar preliminarmente se a contratação em questão possui 
natureza cível ou consumerista, pois a depender da classificação, serão 
aplicados os dispositivos legais que regem as relações civis ou as relações de 
consumo. 
Existindo relação de consumo, serão adotadas as regras protetivas do 
Código de Defesa do Consumidor, notadamente aquelas que visam o 
atendimento das necessidades dos consumidores o respeito à sua dignidade, 
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da 
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de 
consumo. 
 
 
13 
De acordo com os arts. 2 e 3 do CDC, apresentam o conceito de 
consumidor e fornecedor, respectivamente: 
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou 
utiliza produto ou serviço como destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, 
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de 
consumo. 
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou 
comercialização de produtos ou prestação de serviços. 
Parágrafo 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou 
imaterial. 
Parágrafo 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de 
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, 
financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações 
de caráter trabalhista. 
O consumidor está muito mais exposto no “consumo virtual” em relação 
ao tradicional, devido às facilidades encontradas na internet, que também 
possibilitam agir de má-fé com práticas ilícitas ou abusivas, como publicidade 
enganosa ou descumprimento contratual. Portanto, os vícios e as irregularidades 
que se percebem nas relações de consumo tradicional também podem ser 
cometidas no consumo virtual. Para não haver prejuízo na aplicação da lei e 
preservação da justiça, as relações de consumo, não importando o meio 
utilizado, deverão ser submetidas ao rigor da lei. 
Isso posto, segundo o Ministro Ruy Rosado de Aguiar, ao regular a 
relação de consumo do meio físico, de algum modo também regula a relação de 
consumo no meio eletrônico. Ele não trata de questões específicas do comércio 
eletrônico, mas tudo que estiver relacionado a contratos está relacionado no 
código. 
Estando caracterizada a relação de consumo entre fornecedor e cliente, 
aplicam-se as normas do Código de Defesa do Consumidor, além das demais 
codificações e diplomas legais pertinentes. 
O Decreto n. 7.962, de 15 de março de 2013 regulamentou o Código de 
Defesa do Consumidor, especificamente na matéria relativa à contratação via 
comércio eletrônico. Dentre suas disposições mais relevantes, destacamos o 
dever do fornecedor em prestar informações claras a respeito do produto, serviço 
e do fornecedor; prestar atendimento facilitado ao consumidor; e assegurar ao 
 
 
14 
consumidor o respeito ao direito de arrependimento, pelo prazo de 7 dias, 
contados a partir da data do recebimento do produto ou serviço, conforme prevê 
o art. 49 do CDC, que será detalhado adiante. 
O Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Ruy Aguiar esclarece que em 
caso de dúvidas, a responsabilidade de comprovar a veracidade de uma 
transação on-line de consumo será do fornecedor. 
A observância destes procedimentos garantem um nível mínimo de 
segurança para a celebração do contrato. A indústria da tecnologia da 
informação e comunicação trabalha velozmente para a solução destes 
problemas, adotando tecnologias que utilizam protocolos de segurança, senhas 
personalizadas, criptografia e entidades certificadoras. 
Note-se que o legislador deixa clara a obrigação do fornecedor de concluir 
o contrato após a oferta, não podendo revogá-la após sua publicação. Em outras 
palavras, se determinado site de comércio eletrônico anuncia uma coleção rara 
de discos de vinil, não poderá esquivar-se de cumprir sua obrigação, podendo o 
consumidor escolher dentre as possibilidades previstas no art. 35 do Código de 
defesa do consumidor, que são respectivamente: 
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, 
apresentação ou publicidade; 
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; 
III - rescindir o contrato, com direito à restituição da quantia 
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e 
danos. 
De acordo com o professor Carlos Roberto Gonçalves, o regime de oferta 
no Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 9.078/90), apresenta algumas 
distinções em relação ao disposto no Código Civil, vide os arts. 30 a 35 – da 
proposta nos contratos que tratam de relações de consumo. A oferta no Código 
de Defesa do Consumidor é mais abrangente, já que na maioria das vezes é 
dirigida a pessoas indeterminadas, e os efeitos também são mais abrangentes, 
pois no regime do Código Civil a recusa indevida de dar cumprimento à proposta 
resolve-se em perdas e danos. 
A oferta anunciada no contexto de uma relação de consumo dá ensejo à 
execução específica (arts. 35, inciso I e 84, parágrafo 1º), consistindo opção 
exclusiva do consumidor a resolução em perdas e danos. Além de poder preferir 
a execução específica (CDC, art. 35, inciso I), o consumidor pode optar por, em 
 
 
15 
seu lugar, “aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente” (II) ou, 
ainda, por “rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia 
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e perdas e danos” (III). 
A vinculação do fornecedor à oferta é a regra em nosso ordenamento 
jurídico. Sobre oferta, o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo, Carlos Roberto Gonçalves, afirma: “a proposta, desde que séria e 
consciente, vincula o proponente, podendo ser provada por testemunhas, 
qualquer que seja o seu valor. A sua retirada sujeita o proponente ao pagamento 
das perdas e danos”. 
É importante ressaltar a importância do dever de informação na oferta, 
que deverá ser clara e precisa, ou seja, sem “pegadinhas”, apresentando dados 
relevantes, capazes de alterar a base do negócio, de modo que, ao se conhecê-
los, não se contratará ou se fará em outras condições, principalmente nas 
relações de consumo, onde a oferta deverá estar em consonância com o 
estabelecido no art. 31 do Código de defesa do consumidor que estabelece: 
Art. 31º. A oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem 
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em 
língua portuguesa sobre características, qualidades, quantidade, 
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros 
dados, bem como sobre os riscos que apresentem à saúde e 
segurança dos consumidores. 
A observância do artigo retrocitado é essencial, devido a alguns 
inconvenientes típicos dos contratos a distância, os quais destacamos: 
a) O fato dos consumidores estarem sujeitos a técnicas agressivas de 
contratação; 
b) O consumidor, ao contratar, corre o risco de não ter suas 
expectativas em relação objeto da relação contratual atendidas, haja 
vista que sua manifestação de vontade se baseia em imagens e 
descrições. Como se diz na cultura popular: “levar gato por lebre”; 
c) Entre a celebração docontrato e a efetiva entrega do bem existe a 
possibilidade de decorrer lapso temporal superior ao estabelecido no 
contrato; 
d) Possibilidade real para o consumidor de fazer valer seus direitos em 
face de um vendedor à distância, em caso de defeito do objeto; 
e) E finalmente, em casos extremos, há a possibilidade de, após a 
celebração do contrato e pagamento da quantia acordada, o 
consumidor simplesmente não receber a mercadoria contratada, além 
de não poder sequer se reembolsar, em virtude da insolvência ou 
mesmo do desaparecimento do vendedor. 
 
 
 
16 
O Código de Defesa do Consumidor estabelece no art. 49 que: 
O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de sete dias a contar 
de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, 
sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços 
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone 
ou a domicílio. 
Conforme o estudado no item anterior (validade jurídica dos atos 
negociais por meios eletrônicos), sendo observados os requisitos formais, a 
capacidade dos agentes contratantes, a licitude da contratação e a não defesa 
em lei, o contrato celebrado virtualmente é perfeitamente válido, gerando, 
portanto, efeitos jurídicos, sendo aplicável o disposto no referido artigo do CDC. 
De acordo com o referido artigo, quando um contrato for celebrado fora 
do estabelecimento comercial tradicional, considerando que o e-commerce 
ocorre fora do estabelecimento comercial, e que este contrato é celebrado entre 
ausentes, o prazo para desistência será de sete dias. 
Tendo em vista esses fatores que desencorajam a contratação virtual, é 
essencial que haja a confiança do público. A desconfiança ainda é uma barreira 
para a expansão do e-commerce, o que significa, ressaltamos mais uma vez, a 
necessidade da observância da boa-fé objetiva, que corresponde a um dever de 
conduta contratual, no tocante ao cumprimento da respectiva obrigação por 
ambas as partes, ou seja, a entrega da coisa prometida por parte do vendedor e 
o pagamento do preço a cargo do consumidor na compra e venda, por exemplo, 
além da observância dos deveres secundários, laterais, anexos ou instrumentais 
de conduta, tais quais os de informação correta, esclarecimento, lealdade e 
assistência, dentre outros. 
Para a plena aplicação dos preceitos pertinentes a oferta, é necessário 
num primeiro plano observar se no conteúdo do site existe realmente uma oferta, 
haja vista existirem elementos essenciais e suficientes para sua constituição. Há 
que se analisar ainda se a oferta, caso exista, será pública ou dirigida a pessoas 
específicas, obrigando o ofertante desde o anúncio ao cumprimento da proposta 
exposta, inclusive vinculando o ofertante ao cumprimento de sua oferta se for um 
contrato de consumo, o que se conclui quando o usuário transmite a declaração 
de aceitação. 
Finalmente, existe a possibilidade de o site anunciar simples convite a 
contratar, como é o caso de leilões virtuais. Neste caso, a relação entre 
consumidor e fornecedor se inverte, pois o internauta assume o status de 
 
 
17 
fornecedor e o contrato se completa a partir do momento em que ele recebe a 
aceitação da outra parte. Esta situação peculiar está localizada no âmbito das 
negociações preliminares, com distinta caracterização jurídica, como ensina 
César Viterbo Matos Santolim. 
Futuramente, teremos a oportunidade de aprofundar o estudo do 
Comércio Eletrônico e dos Contratos Eletrônicos, sob a perspectiva do Código 
Civil e do Código de Defesa do Consumidor. 
TEMA 5 – DIREITO DO TRABALHO 
Segundo Carlos Henrique Bezerra, o Direito do Trabalho pode ser 
conceituado como o ramo da ciência jurídica formado por um conjunto de 
princípios, regras, valores e institutos destinados à regulação das relações 
individuais e coletivas entre empregados e empregadores, bem como de outras 
relações de trabalho normativamente equiparadas à relação empregatícia, tendo 
por objetivo a progressividade da proteção da dignidade humana e das 
condições sociais, econômicas, culturais e ambientais dos trabalhadores. 
Novas formas de trabalho surgiram juntamente com o desenvolvimento 
da tecnologia da comunicação e informação. A chamada 4ª Revolução Industrial, 
também conhecida como Indústria 4.0, mudou significativamente a nossa rotina 
de vida, em virtude da evolução tecnológica proporcionada pelo surgimento de 
produtos e serviços digitais, que alteraram a forma como contratamos, 
consumimos, nos relacionamos em sociedade e como trabalhamos. 
Baseada fortemente em tecnologias de automação, Internet das Coisas 
(IoT), Internet dos Serviços (IoS), Big Data Analytics, intensivo uso de 
inteligência artificial e computação em nuvem, a Indústria 4.0 objetiva aumentar 
a eficiência de processos produtivos, otimizando custos, reduzindo desperdícios 
e perda de tempo, por meio da substituição de postos de trabalhos de baixa 
complexidade e intensa repetição, e demandando novas habilidades e 
competências para uma nova geração de empregos que demandam qualificação 
e proficiência no uso de ferramentas digitais. 
Se, por um lado, inúmeros empregos e profissões desapareceram, como 
os datilógrafos, telefonistas, vendedores de enciclopédia, ascensoristas e 
telegrafistas, outras profissões surgiram e tiverem grande crescimento 
notadamente por causa da internet, como web designer, programador, analista 
de sistema, consultor de e-business, analista de marketing digital, influenciador 
 
 
18 
digital, gestor de mídia social, arquiteto de informação, analista de segurança da 
informação, analista de Big Data, para citar apenas alguns exemplos desta nova 
economia fortemente baseada em tecnologia da informação e comunicação. 
Importante, neste momento, conceituar trabalhador e empregador. De 
acordo com art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), “considera-se 
empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a 
empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. Por sua vez, de 
acordo com o art. 2º da CLT: 
Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, 
que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e 
dirige a prestação pessoal de serviço. 
Parágrafo 1º - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos 
da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de 
beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem 
fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados. 
Junto com as novas demandas do mercado de trabalho, surgem 
implicações jurídicas tanto para o empregado quanto para o empregador, no que 
tange à forma de trabalhar. 
Um dos aspectos jurídicos mais relevantes relacionados ao trabalho 
baseado em meios digitais, notadamente no trabalho à distância, é o respeito ao 
direito à privacidade e a intimidade do trabalhador, em virtude da possibilidade 
no monitoramento realizado pelo empregador. Nesta hipótese, os referidos 
direitos, inseridos na categoria dos direitos de personalidade, podem ser 
ameaçados, especialmente quando inexistir uma política clara em relação ao uso 
da internet no ambiente de trabalho. 
Evidente que o empregador possui o direito de monitorar, disciplinar e 
regular o uso de ferramentas informáticas por este concedidas, enquanto 
instrumentos de trabalho, inclusive para assegurar o uso não apropriado (ou até 
mesmo criminoso) destas ferramentas no ambiente de trabalho. Mas há normas 
e critérios jurídicos que devem ser observados para disciplinar corretamente o 
monitoramento que o empregador pode realizar durante a realização do trabalho 
do empregado. 
A Constituição Federal brasileira de 1988 estabelece, dentre os direitos e 
garantias fundamentais previstos no art. 5º, o direito à privacidade. E, por óbvio, 
essa privacidade se estende às relações de emprego. 
 
 
19 
Entretanto, esse direito não é absoluto,encontrando seu limite em seu 
inter-relacionamento com as demais normas que regulamentam a relação de 
emprego, inclusive as que permitem ao empregador o direito de organizar, 
regular e disciplinar as atividades do empregado, nos termos do art. 2º da CLT. 
No exercício do poder de direção do empregador, a lei faculta a ele 
fiscalizar e monitorar a forma como o empregado realiza seu trabalho, podendo 
ainda aplicar, em caso de desconformidades, sanções disciplinares, no exercício 
de seu poder disciplinador, sanções estas previstas em lei ou de outras fontes 
do direito do trabalho, como acordos e convenções coletivas ou mesmo por meio 
de previsão expressa no regulamento interno da empresa e no contrato de 
trabalho, desde que a aplicação de tais sanções não violem as demais normas 
do ordenamento jurídico pátrio, especialmente a Constituição Federal. 
Para os empregadores, a constante vigilância sobre as ferramentas de 
comunicação, notadamente o e-mail de uso corporativo, se justifica na medida 
em que estes possuem o direito de fiscalizar o uso adequado dos recursos 
colocados à disposição de seus empregados, como ocorre no uso de veículos 
(cadastro de motorista, com horário, itinerário e quilometragem rodada), uso de 
telefone (liberação do telefone por meio de senha do funcionário, registro do 
número discado, duração e custo da chamada), controle sobre reembolso de 
despesas com passagens aéreas, hospedagem, alimentação e mesmo com 
material de almoxarifado, principalmente os de maior valor. 
No caso específico das ferramentas de comunicação via internet, o 
monitoramento se justifica pelo receio da prática de violação de segredos da 
empresa, negociação não autorizada pela empresa que lhe cause prejuízo ou 
concorrência, incontinência de conduta ou mau procedimento, desídia no 
desempenho das respectivas funções, ato de indisciplina, ou de insubordinação 
ou ato lesivo da honra ou da boa fama, hipóteses que amparam a demissão por 
justa causa, conforme previsão do art. 482 da CLT. 
Além disso, pretende-se evitar o uso recreacional da rede, minimizar a 
exposição da rede corporativa a vírus e demais ameaças presentes no mundo 
virtual, como trojans, spywares, adwares, phishing, keyloggers etc., o que, 
poderia causar desde lentidão no tráfego de informações, passando pela 
indisponibilidade de sistemas (que geraria prejuízos significativos) até mesmo a 
destruição de dados e informações corporativas. 
 
 
20 
Além disso, de acordo com o art. 932, inciso III, do Código Civil brasileiro, 
que estabelece a responsabilidade civil por ato do preposto, a empresa que 
fornece as mencionadas ferramentas de comunicação via internet é diretamente 
responsável pelo uso que seus empregados fazem, principalmente quando o 
funcionário utiliza esses meios, no ambiente de trabalho, para realizar atos 
ilícitos, podendo a empresa, nos termos do referido inciso, responder civilmente 
pelos danos porventura causados, em razão de sua conduta culposa, justamente 
por não fiscalizar, vigiar e disciplinar adequadamente o exercício das atividades 
realizadas por seus funcionários. 
Portanto, diante dos riscos apresentados, torna-se necessário que o 
empregador, por questão de segurança, utilize seu poder de direção no sentido 
de orientar o correto uso das ferramentas de comunicação via internet utilizadas 
pelos empregados, e realizar varreduras impessoais rotineiras, tendo controle e 
conhecimento sobre as informações que entram e saem de seus sistemas 
informáticos, não com o propósito de devassar a privacidade de seus 
funcionários, mas com o exclusivo intuito de coibir o uso imoral e evitar 
transtornos decorrentes de fraudes que possam, inclusive, causar danos à 
terceiros. 
Em 1996, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou um 
Repertório de Recomendações sobre a Proteção dos Dados Pessoais dos 
Trabalhadores (RRP-OIT), apresentando diretrizes para a melhor prática de 
proteção de dados no contexto laboral com o objetivo de evitar a interferência 
arbitrária do empregador na vida privada do trabalhador, conforme especificam 
os títulos Objetivo e Princípios Gerais do referido repertório: 
5.1. O tratamento de dados pessoais dos trabalhadores deve ser 
realizado em forma justa e legal e limitada exclusivamente a questões 
diretamente relevantes para a relação de trabalho do trabalhador. 
5.2. Em princípio, os dados pessoais devem ser usados apenas para 
essa finalidade para o qual foram coletados. 
5.3. Quando os dados pessoais são explorados para fins diferentes 
daqueles para aqueles que foram coletados, o empregador deve 
garantir que eles não sejam usados de forma incompatível com aquele 
propósito inicial e adotar as medidas necessário para evitar qualquer 
má interpretação devido à sua aplicação em outro contexto. 
5.4. Dados pessoais coletados com base em disposições técnicas ou 
organização que visa garantir a segurança e o funcionamento 
adequado de sistemas de informação automatizados não devem ser 
usados para controlar o comportamento do trabalhador. 
 
 
21 
Portanto, em se tratando de ferramentas de comunicação de internet 
ofertadas pelo empregador (computadores e notebooks – hardware, e licenças 
de programas de computador – software), as informações trafegadas por tais 
vias, como regra, não dispõem da mesma proteção ao sigilo e privacidade a que 
teria direito, como se fosse uma extensão de seu computador pessoal, na 
privacidade e intimidade de seu domicílio, pois o local de trabalho não pode ser 
visto como um ambiente privado e particular do empregado. 
Atualmente, o entendimento predominante nos tribunais brasileiros é que 
as mensagens que trafegam nas redes corporativas pertencem à empresa, 
sendo, portanto, tais contas serem passíveis de monitoramento e fiscalização 
pelo empregador. 
Finalmente, é fundamental que o empregador esclareça seus 
empregados, através de meios inequívocos de ciência, que as ferramentas de 
comunicação via internet, sob nenhuma hipótese, deverão ser utilizadas com 
expectativa de privacidade e intimidade, em razão do monitoramento e 
fiscalização realizados, por ser questão inerente à indispensável transparência, 
lealdade e boa-fé nas relações de trabalho, mormente quando as atividades 
estão se desenvolvendo de forma preponderante em sistema de tele trabalho, 
em face da pandemia do Covid-19. 
Essa comunicação deve estar prevista de forma clara, de preferência no 
regulamento da empresa, sendo redigido de forma objetiva uma política 
específica referente à utilização das ferramentas de internet, podendo, por 
exemplo, ser elaborada uma cartilha de orientação ao uso da internet, e vincular 
o cumprimento de tais políticas ao contrato individual de trabalho. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, analisamos a Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro e sua importância para a adequada compreensão do Direito e da 
Legislação, para, em seguida, apresentar questões que relacionam Direito 
Penal, Direito Civil, Direito do Consumidor e Direito do Trabalho com a tecnologia 
da informação e comunicação no Brasil. 
Com base nas diretrizes constantes da Constituição Federal brasileira de 
1988, do Código Penal, do Código Civil, do Código de Defesa do Consumidor e 
da Consolidação das Leis do Trabalho, estudamos questões que envolvem 
desde crimes virtuais, passando pela contração via internet, o amparo ao 
 
 
22 
consumidor de produtos e serviços na internet até as novas relações de trabalho, 
fortemente amparadas no uso de tecnologia da informação e comunicação. 
Esses conhecimentos serão particularmente úteis para auxiliar a 
compreensão das próximas aulas, ocasião em que serão analisados o Marco 
Civil da Internet e a responsabilidade civil de provedores de aplicações de 
internet. 
 
 
 
23 
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24 
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NUCCI, G. de S. Manual de Direito Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
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