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PRODUÇÃO E TECNOLOGIA DE SEMENTES Tatiane Freitas Horta Trindade Produção de sementes Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o papel das sementes na pesquisa e no desenvolvimento da agricultura. Reconhecer principais leis e regulamentos sobre o uso de sementes no Brasil. Descrever os requisitos de um programa de certificação de sementes. Introdução A semente é responsável por todo o potencial genético de um cultivar, pois nela se encontram os genes responsáveis pela caracterização da espécie, determinando seu comportamento. Quando um cultivar é lan- çado no mercado, significa que já passou por diversas pesquisas, sendo recomendado de acordo com as condições de clima, solo e tecnologia agrícola da região. O processo de produção de sementes não pode ser realizado sem o devido controle, e deve atender aos requisitos mínimos de qualidade para comercialização. Nesse sentido, a certificação de sementes e mudas representa uma prática fundamental na cadeia produtiva. Neste capítulo, você estudará a origem e a importância das sementes, conhecerá as principais legislações vigentes sobre produção de semen- tes no Brasil e acompanhará as etapas do processo de certificação de sementes. 1 Histórico e importância da produção de sementes No período Neolítico, cerca de 10 mil anos atrás, o ser humano constatou que, quando uma semente é plantada, acaba originando uma planta igual àquela que a formou. A capacidade de multiplicar plantas mudou nossa relação com a natureza e teve grande impacto no comportamento dos povos, proporcionando a transição da subsistência pela caça e coleta para a agricultura sedentária, pois as sementes passaram a ser material de segurança e prosperidade para as comunidades (BARROS NETO et al., 2014). A divisão de trabalho na agricultura sempre foi uma necessidade presente. Logo, alguns produtores passaram a produzir sementes, enquanto outros produziam grãos. Grande parte dos produtores de grãos, como até os dias de hoje, produziam ao mesmo tempo material para consumo, os grãos, e material para plantio, as sementes. Os produtores de sementes as comercializavam com os vizinhos à medida que os negócios se expandiam (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). A produção de sementes sofreu um grande progresso com o advento da Revolução Industrial. Passou a ser necessária uma maior produção de alimentos e de matéria-prima para as indústrias, devido à rápida colonização de novos continentes e à concentração urbana, além da crescente mecanização dos meios de produção e de transporte. A partir do século XIX, foram tomadas as primeiras providências para coibir fraudes no processo de produção de sementes. A criação de órgãos responsáveis por verificar se a lei estava sendo cumprida foi logo necessária. Em laboratórios, as sementes passaram a ser analisadas para verificar se de fato se enquadravam nos padrões de qualidade impostos pela lei. Em 1869, em Tharandt, na Saxônia, Alemanha, surgiu o primeiro laboratório de análise de sementes, chefiado por Friedrich Nobbe, botânico e geneticista alemão. Logo começou a surgiu novos laboratórios em vários países da Europa, tornando necessária a criação de regras para análises de sementes. Em 1876, Nobbe criou um manual que orientou os trabalhos dos laboratórios de sementes por aproximadamente 50 anos. Apenas em 1897 surgiu um novo manual, desen- volvido pelo norte-americano Jenkins. Grande parte do que foi estabelecido então é seguido até os dias de hoje (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). Com o passar dos anos, ocorreu um rápido aumento no número de la- boratórios de análise de sementes. Logo o rígido cumprimento das regras e sua padronização para o comércio de sementes já era de conhecimento dos produtores, compradores, analistas e pesquisadores do ramo. Dessa forma, tornou-se necessário, paralelamente, que as medidas fossem mais dinâmicas e menos ultrapassadas, para possibilitar a incorporação periódica de resultados de pesquisa que evoluíam rapidamente. Para atingir esses e outros objetivos, analistas e profissionais norte-ame- ricanos ligados a sementes fundaram em 1908 a Association of Official Seed Analysty (AOSA). Em 1906, em Hamburgo, Alemanha, foi realizada a Con- ferência Europeia para Análises de Sementes. Em 1921, foi consolidada uma Produção de sementes2 Associação Europeia, com base nas decisões tomadas durante a conferência. Posteriormente, essa associação foi transformada na International Seed Testing Association (ISTA). Em 1931, essa entidade editou pela primeira vez regras internacionais para análises de sementes (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). No Brasil, mediante uma iniciativa da Divisão de Sementes e Mudas da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, em 1956, pela primeira vez foi organizado um Manual de Regras para Análises de Sementes, que desde então vem sendo atualizado periodicamente. Em 1967, foi lançando o Plano Nacional de Sementes (Planasem), responsável pela criação da Política Nacional de Sementes, com o estabelecimento das principais diretrizes de competência dos órgãos governamentais para o setor produtivo. Além disso, a partir da edição de 1967, as Regras para Análise de Sementes (RAS) passaram a vigorar em todo o território nacional (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SEMENTES E MUDAS, 2015). Importância da semente Provavelmente há cerca de 350 milhões de anos, no fi m do período Devo- niano, surgiram as plantas produtoras de sementes. Em resposta às pressões ambientais, as sementes teriam surgido como a extensão da heterosporia, fenômeno que consiste no desenvolvimento de esporos de dois tamanhos e sexos diferentes, em esporófi tos de plantas terrestres com sementes (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). A semente é um órgão de perpetuação e disseminação das espécies vegetais, sendo o principal veículo de reprodução das plantas através do tempo e do espaço, e responsá- vel por distribuir as informações genéticas às sucessivas gerações. Essas características se devem, em grande parte, à sua capacidade de distribuição da germinação no tempo e no espaço, por meio dos mecanismos de dormência e dos mecanismos de dispersão, respectivamente (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). A dormência de sementes pode ser entendida como um fenômeno que determina a ausência momentânea ou a lenta germinação de sementes viáveis. É um recurso pelo qual a natureza distribui a germinação das sementes ao 3Produção de sementes longo do tempo. Esse mecanismo impede que as sementes germinem todas ao mesmo tempo após a maturação, ajudando na formação de bancos de sementes no solo (BARROS NETO et al., 2014). Trata-se, portanto, uma vantagem adaptativa para a espécie, evitando condições que prejudicam o estabelecimento das mudas. Já os mecanismos de dispersão são importantes para as plantas, uma vez que permitem a colonização de novas áreas (Figura 1). A capacidade de distri- buição aleatória da germinação no espaço pelos dos mecanismos de dispersão é um fator fundamental para a sobrevivência de novos indivíduos e para a heterogeneidade das populações vegetais (BARROS NETO et al., 2014). A heterogeneidade teria sido o fator mais importante para a manutenção e expansão das espécies vegetais na Terra. Figura 1. Diferentes mecanismos de dispersão de sementes. Fonte: Dispersão... (2017, documento on-line). Durante milhares de anos, o ser humano apresentou comportamento nô- made, deslocando-se atrás da sua caça. É provável que em certa medida o ser humano sempre tenha se alimentado de grãos, juntamente com produtos de origem animal. Porém, há mais ou menos 10 mil anos, nossa relação com a natureza sofreu profundas modificações, quando foi compreendida a possi- bilidade de multiplicação das sementes. A partir disso, a semente se tornou uma fonte mais segura de alimento, e as populações humanas começaram a se agrupar, formando comunidades, passando da vida nômade para a vida sedentária (CARVALHO; NAKAGAWA,2012). A semente é constituída por três tipos de tecido: meristemático (eixo em- brionário), de reserva (endospermático, cotiledonar ou perispermático) e de proteção mecânica (cobertura protetora) (Figura 2) (BARROS NETO et al., 2014). Produção de sementes4 Figura 2. Sementes de monocotiledônea e dicotiledônea Fonte: Adaptada de Barros Neto et al. (2014). O tecido de reserva é o tecido nutritivo da semente, rico em carboidratos, lipídios e proteínas. As sementes são classificas em amiláceas, proteicas ou oleaginosas, dependendo da quantidade de cada uma dessas substâncias. As gramíneas, normalmente ricas em carboidratos, constituíram a base da alimentação humana ao longo da história. Espécies de gramíneas como o trigo serviram como pilar da alimentação das civilizações da Mesopotâmia e do Nilo, além das que se desenvolveram posteriormente na Europa. Provavel- mente, o trigo é a espécie cultivada há mais tempo pelo ser humano (BARROS NETO et al., 2014). O arroz foi a base da alimentação de civilizações asiáticas; o sorgo, na África; e o milho, nas Américas. A importância das gramíneas no desenvolvimento das grandes civilizações se deve à alta proporção de carboidratos nas sementes, entre 70 e 75%. Os carboidratos são substâncias facilmente submetidas a processos de industrialização, além de ser um alimento rico em calorias, com função energética (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). Ao lado das gramíneas, espécies como as leguminosas serviram para fornecer complemento em proteínas e lipídios na alimentação dos povos. A soja, por exemplo, devido à sua composição, é muito utilizada como matéria- -prima em diferentes setores da indústria. Nesse sentido, o óleo de soja apre- senta grande versatilidade e alto valor nutricional, sendo usado em muitos produtos que servem para a alimentação humana. Além disso, também é usado na fabricação de cosméticos, na indústria farmacêutica e veterinária e 5Produção de sementes na fabricação de vernizes, tintas e plásticos. Hoje, o óleo de soja se tornou a principal matéria-prima para a produção do biodiesel, representando mais de 80% de sua demanda total da fabricação no Brasil (KOHLHEPP, 2010). Na alimentação animal, as sementes são uma importante fonte alimentar na forma de rações. O farelo de soja, juntamente com o milho, é usado para fabricação de rações destinadas à alimentação animal, como de aves, suínos e aquacultura. Normalmente, as sementes são pequenas, permitindo o armazenamento de grande quantidade em espaços relativamente pequenos, facilitando a repetição de experimentos quando necessário. Sua forma, geralmente arredondada, permite seu manejo diretamente com as mãos ou com pinças (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). Por ser um órgão que se beneficia da desidratação, quando armazenada de forma adequada a semente pode ser conservada em bom estado por longos períodos (BARROS NETO et al., 2014). Essa característica é de grande impor- tância para as unidades de pesquisa, já que vários estudos são programados para diferentes épocas, permitindo que cada experimento seja realizado em um momento mais adequado. O mercado de sementes brasileiro representa a terceira maior indústria do mundo no setor. Os mercados de sementes de soja e milho permanecem entre os principais no país, respondendo juntos por 74% do mercado (Figura 3). As empresas privadas são responsáveis por grande aporte financeiro em pesquisas, melhoramento genético e cultivares resistentes a doenças e pragas, aumentando a competitividade dos cultivares disponíveis no mercado. Figura 3. Evolução da produção de sementes no Brasil. Fonte: Adaptada de Croplife (2019). Produção de sementes6 Apesar de tantas características favoráveis, a semente pode ser considerada um inimigo do ser humano. Os mecanismos que a tornam um eficiente órgão de perpetuação da espécie —seus mecanismos de dispersão e de dormência — também são eficientes meios de disseminação de pragas e doenças, tornando difícil e caro o controle de plantas daninhas (BARROS NETO et al., 2014). As sementes vêm suprindo inúmeras de nossas necessidades há milhares de anos, reflexo de sua importância na história do progresso das civilizações. Em função de todo seu potencial, o investimento em pesquisas e desenvolvimento de sementes cada vez mais produtivas e adaptadas não para de aumentar. 2 Legislação de sementes no Brasil Nos últimos 30 anos, ocorreram progressos na legislação brasileira nessa área, com grandes modifi cações nas normas regulatórias (Figura 4). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) teve grande participa- ção no desenvolvimento de leis, decretos, instruções normativas, registros e credenciamentos nacionais, com o objetivo fi scalizar e controlar os diversos setores envolvidos na pesquisa, produção e comercialização de sementes no país (LONDRES, 2006). Figura 4. Ordem cronológica dos principais marcos regulatórios envolvendo os direitos dos obtentores no Brasil. No que diz respeito à proteção por patentes, a partir da Lei da Propriedade Industrial (LPI), Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996, foram observadas mu- danças mais significativas no agronegócio brasileiro, que apresentaram maior impacto sobre as questões relacionadas à produção de sementes. A LPI exclui expressamente a possibilidade de patentear em todo ou em parte seres vivos, exceto os microrganismos transgênicos. Dessa forma, descartou-se no Brasil a possibilidade de proteger variedades vegetais por meio de patentes. Em 25 de abril de 1997, o país validou a sua opção pela utilização de um mecanismo sui generis de proteção: a primeira legislação que garantiu os direitos dos 7Produção de sementes obtentores de novas variedades vegetais foi a Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997, conhecida como Lei de Proteção de Cultivares (LPC) (BRASIL, 1997). A LPC impulsionou maiores investimentos em pesquisa e tecnologia na área de sementes, pois garante o retorno financeiro por meio de royalties aos pesquisadores, ou seja, a lei embasa a proteção e a recompensa da propriedade intelectual no país. A legislação atualmente em vigência no Brasil relativa à produção e comer- cialização de sementes diz respeito ao Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM), regido pela Lei nº 10.711, de 05 de agosto de 2003, regulamentada pelo Decreto nº 5.153, de 23 de julho de 2004. O SNSM tem por objetivo ga- rantir a identidade e a qualidade do material de multiplicação e de reprodução vegetal produzido, comercializado e utilizado em todo o território nacional. A qualidade do material compreende o conjunto de atributos que permite comprovar a origem genética e o estado físico, fisiológico e fitossanitário das sementes e das mudas (BRASIL, 2003). De acordo com a Lei n.º 10.711/2003, cabe ao MAPA auditar e fiscalizar as ações decorrentes da legislação e de seu regulamento, cabendo aos estados e ao Distrito Federal exercer a fiscalização do comércio estadual (BRASIL, 2003), promovendo a organização do sistema de produção de sementes e mudas em todo o território nacional, incluindo o processo de certificação. O Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), instituído pela Lei nº 10.711/2003, tem como objetivo a inscrição e cadastro de pessoas físicas e jurídi- cas que exerçam as atividades previstas pelo SNSM. Dessa forma, a inscrição é obrigatória a toda pessoa física ou jurídica que exerça as atividades de produção, beneficiamento, reembalagem, armazenagem, comércio, análise, importação ou exportação de sementes e o credenciamento para as atividades de responsabilidade técnica, certificação, certificação de produção própria, amostragem e análise de sementes (BRASIL, 2003). Ficam isentos da inscrição no Renasem os agricultores familiares, os assentados da reforma agrária e os indígenas que multipliquem sementes ou mudas para distribuição, troca ou comercialização entre si. Por sua vez, o RNC, também instituído pela Lei nº 10.711/03, tem como finali- dade habilitar novos cultivares paraprodução, beneficiamento e comercialização de sementes e mudas no Brasil, independentemente do grupo a que pertencem. A inscrição de qualquer cultivar no RNC deverá ser requerida por pessoa física ou jurídica que obtenha a nova cultivar ou cultivar essencialmente derivada, introduza nova cultivar no país, detenha o direito de proteção, seja legalmente autorizada pelo obtentor e, no caso de cultivar de domínio, mantenha disponível um estoque mínimo de material de propagação de um cultivar (BRASIL, 2003). O requerimento de inscrição de um novo cultivar no RNC deverá ser apresentado em um formulário próprio elaborado pelo MAPA, acompanhado Produção de sementes8 obrigatoriamente de seus descritores mínimos, relatório técnico com os resul- tados dos ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) e declaração da existência de um estoque mínimo do material básico. Cada cultivar pode apresentar uma única inscrição, com sua permanência condicionada a um único mantenedor (BRASIL, 2003). Após estabelecido o RNC, o agricultor pode contar com uma nova ordem de mercado, com o objetivo principal de protegê-lo contra vendas indiscriminadas de sementes e mudas derivadas de cultivares não registrados. A inscrição no RNC não é obrigatória para cultivar local, tradicional ou crioulo, utilizado por agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou indígenas, nem para cultivar importada para fins de pesquisa ou realização de ensaios de VCU e cultivar importada com o objetivo exclusivo de reexportação, conforme o Decreto 5.153/2004 (BRASIL, 2004). A Lei nº 11.105, de 24/3/2005 (Lei de Biossegurança), estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam Or- ganismos Geneticamente Modificados (OGM) e seus derivados. A produção de sementes sempre foi um setor muito importante e estraté- gico no agronegócio brasileiro. Nesse sentido, o estabelecimento dos marcos regulatórios tiveram grande impacto e foram determinantes na reestruturação da indústria de sementes no Brasil. 3 Programa de sementes São vários os componentes de um programa de sementes, todos eles interli- gados para que o resultado fi nal seja uma semente de qualidade (Figura 5). Figura 5. Componentes de um programa de sementes. 9Produção de sementes Para criação e liberação de um novo cultivar no mercado, os investimentos necessários em tempo e dinheiro são grandes. A pesquisa apresenta papel importante no programa de sementes, pois, para a liberação de um cultivar com características superiores, é necessário que seja registrado com base em resultados obtidos de diferentes locais, anos e tipos de ensaios realizados (PESKE; LUCCA FILHO; BARROS, 2006). O processo de produção de sementes é executado mediante controle de qualidade em todas as etapas do seu ciclo, incluindo o conhecimento da origem genética e o controle de gerações. As sementes podem ser produzidas nas seguintes categorias: semente genética, semente básica, semente certificada de primeira geração (C1), semente certificada de segunda geração (C2), semente S1 e semente S2 (BRASIL, 2004). Produção de sementes comerciais O produtor de sementes, de acordo com a Lei 10.711/2003, é defi nido como a pessoa física ou jurídica que, assessorada por responsável técnico (RT), produz sementes destinadas à comercialização (BRASIL, 2003). O produtor tem por obrigação disponibilizar aos consumidores de sementes material vegetal de propagação com garantia de identidade e de qualidade (BRASIL, 2005). Os produtores de sementes podem ser classifi cados como empresa produtora, produtor individual ou cooperante. Controle de qualidade Os programas de controle de qualidade foram desenvolvidos com o objetivo de supervisionar todo processo de produção e tecnologia de sementes. Há dois tipos de controle de qualidade de sementes: o interno e o externo (PESKE; LUCCA FILHO; BARROS, 2006). O Controle Interno de Qualidade (CIQ) consiste nos parâmetros que o produtor de sementes utiliza para conhecer cada lote de sementes, com o objetivo de obter sementes de alta qualidade com um mínimo de perdas e custos. O CIQ envolve escolha da semente, seleção da terra, descontaminação da lavoura, determinação de umidade e testes rápidos de viabilidade, ger- minação, vigor, eficiência e eficácia do equipamento, entre outros registros. O CIQ não é requerido por lei. Por sua vez, o Controle Externo de Qualidade (CEQ) é executado por uma entidade privada ou pelo governo. Segundo Peske, Lucca Filho e Barros (2006), o CEQ, em geral, se dá de duas formas: Produção de sementes10 sistema de certificação de sementes, caracterizado principalmente por ter um controle de geração de sementes produzidas e por acompanhar todo o processo tecnológico envolvido na obtenção de cada lote de sementes produzido; fiscalização do comércio de sementes, realizado quando as sementes são colocadas à venda, atuando na verificação de sua documentação e qualidade. Processo de produção e certificação de sementes Os participantes do processo de produção e certifi cação de sementes são: pro- dutor de sementes; responsável técnico; cooperante; certifi cador; certifi cador de sementes de produção própria; órgão de fi scalização (BRASIL, 2005). O processo de certificação de sementes é composto pelas seguintes etapas: inscrição dos campos, comprovação da origem genética, inspeção (vistorias), apro- vação dos campos, amostragem, análise das sementes e emissão dos certificados. Inscrição dos campos de produção A inscrição de campo de produção de sementes (Figura 6) e mudas de cultivar protegido nos termos da LPC somente poderá ser feita mediante autorização do detentor do direito de propriedade do cultivar (BRASIL, 2011). A inscrição pode ser realizada no Sistema de Gestão da Fiscalização (Sigef). Figura 6. Campo de produção de sementes de milho. Fonte: Nunes (2020, documento on-line). 11Produção de sementes Comprovação da origem genética A produção de sementes e mudas será de responsabilidade do produtor de sementes e mudas inscrito no Renasem, competindo-lhe zelar pelo controle de identidade e qualidade. O produtor deve apresentar o comprovante da origem do material de reprodução. No caso de semente genética, deve apresentar o atestado de origem genética (emitido pelo melhorista); no caso de sementes básicas e certifi cadas, o certifi cado de semente (emitido por uma certifi cadora ou certifi cador de produção própria); e no caso de sementes não certifi cada, o termo de conformidade (emitido pelo responsável técnico) (BRASIL, 2003). Padrões para produção e comercialização de sementes O padrão de sementes é o conjunto dos atributos de qualidade que permitem garantir a qualidade genética, física, fi siológica e sanitária, além de apresentar informações que são necessárias à identifi cação de sementes, incluindo a identidade genética (BRASIL, 2003). Os atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários determinam o poten- cial de desempenho das sementes. A qualidade genética abrange características como pureza varietal, homogeneidade, potencial de rendimento, resistência a doenças e insetos, precocidade, estatura, estrutura de plantas e qualidade de produto, entre outras. A qualidade sanitária compreende a presença e grau de ocorrência de fungos, bactérias, vírus, nematoides e insetos que causam danos às sementes. A qualidade física é expressa pela pureza e pela condição física da semente (teor de umidade, tamanho, cor, densidade, danos mecânicos e causados por insetos). Inspeção de campo A inspeção de campo é um passo importante para a obtenção de sementes da mais alta qualidade em termos de pureza genética, física e sanitária de um cultivar. Nessa etapa, é verifi cado o cumprimento das normas, padrões e procedimentos estabelecidos para cada cultura, com a emissão do respectivo laudo de vistoria. Durante o desenvolvimento de uma cultura, existem alguns estádios em que as características agronômicas e morfológicas deum culti- var fi cam mais evidentes. Dessa forma, as inspeções devem ser priorizadas nessas fases. Para fi ns de inspeção, as fases de crescimento das culturas de propagação sexuada são: período de pós-emergência, fl oração, pré-colheita e colheita (BRASIL, 2011). Produção de sementes12 Num campo de produção, os contaminantes podem ser classificados, em princípio, como (BRASIL, 2011): plantas atípicas — plantas da mesma espécie da cultura, mas que se diferenciam dela por uma ou mais características; plantas atípicas de difícil separação das sementes no beneficiamento — plantas de outras espécies que podem prejudicar a qualidade das sementes no campo ou no lote; plantas contaminadas por pragas e doenças — nesse caso, deve-se veri- ficar sintomas de pragas, como fungos, bactérias, vírus ou nematoides, pois esses agentes podem ser disseminados pelas sementes. Na inspeção, os laudos são utilizados para recomendar técnicas agrícolas, para registrar as não conformidades e determinar as medidas corretivas, para condenar, parcial ou totalmente, os campos de produção de sementes fora dos padrões estabelecidos e para aprovar os campos de produção de sementes (BRASIL, 2011). Os campos de produção de sementes são aprovados desde de que atendam às normas e aos padrões estabelecidos. O produtor de sementes deve manter à disposição do órgão de fiscalização o projeto técnico de produção, laudos de vistoria de campo, controle de beneficia- mento, termo de conformidade e certificado de sementes, contrato de prestação de serviço (quando o beneficiamento e o armazenamento foram executados por terceiros) e demais documentos referentes à produção de sementes (BRASIL, 2005). A inspeção de campos de produção de sementes tem por finalidade comparar a qualidade dos campos com os padrões de lavoura previamente estabelecidos pelo MAPA. Consulte o Guia de Inspeção de Campos para Produção de Sementes (BRASIL, 2011), que disponibiliza informações e procedimentos para auxiliar o inspetor no desempenho de suas atividades de inspeção. Amostragem, análise de sementes e emissão de certificados A amostragem tem como fi nalidade obter uma quantidade representativa do lote ou parte deste, quando se apresenta subdividido, para verifi car, por meio de análise, se está de acordo com as normas e os padrões de identidade 13Produção de sementes e qualidade estabelecidos pelo MAPA (BRASIL, 2009). As amostras devem apresentar tamanho adequado e ter a mesma proporção dos componentes do lote. Após a amostragem, as análises de identidade e qualidade de sementes e de mudas são realizadas em laboratórios ofi ciais de análise ou em outros laboratórios de análise credenciados pelo MAPA (Figura 7) (BRASIL, 2003). Tais análises envolvem procedimentos técnicos para avaliar a qualidade e a identidade da amostra representativa de um lote de sementes. Os certifi cados de sementes são comprovantes de que o lote foi produzido de acordo com as normas e os padrões de certifi cação estabelecidos. Já o termo de confor- midade é um registro para sementes de classe não certifi cada, emitido por um responsável técnico (BRASIL, 2005). Figura 7. Testes de germinação em rolos de papel. Fonte: Brasil (2011, documento on-line). Comercialização A comercialização de sementes é realizada pelo próprio produtor ou por comerciante inscrito no Renasem (BRASIL, 2004). Na comercialização, a semente deve estar identifi cada e acompanhada da respectiva nota fi scal Produção de sementes14 e de cópia do atestado de origem genética ou do certifi cado de semente ou do termo de conformidade, em função de sua classe e categoria (BRASIL, 2004). Para a exportação, as sementes devem atender às exigências dos organismos que regem o comércio internacional. Quando se trata de cultivar protegido no Brasil, a exportação somente será permitida mediante autorização do detentor do direito de proteção. Em relação à importação, somente poderão ser importadas sementes ou mudas de cultivares inscritos no RNC. Estão isentas desse registro cultivares destinados a pesquisa, ensaios de VCU ou de reexportação (BRASIL, 2003). Identificação de sementes Na embalagem das sementes, devem ser expressas em lugar visível no mínimo as seguintes informações (BRASIL, 2004): nome da espécie, cultivar e categoria; identificação do lote; padrão nacional de sementes puras, em porcentagem; padrão nacional de germinação ou de sementes viáveis, em percentagem, conforme o caso; classificação por peneira, quando for o caso; safra da produção; validade em mês e ano do teste de germinação, ou, quando for o caso, da viabilidade; peso líquido ou número de sementes contidas na embalagem, conforme o caso; outras informações exigidas por normas específicas. Utilização Toda pessoa que queira usar sementes e mudas com fi nalidade de semeadura ou plantio deverá adquiri-las de produtor ou comerciante inscrito no Renasem. O usuário poderá, a cada safra, reservar parte de sua produção como sementes para uso próprio (BRASIL, 2004). Sementes para uso próprio devem ser utilizadas somente em sua propriedade, em quantidade compatível com a área a ser plantada na safra seguinte e ser provenientes de áreas inscritas no MAPA, quando se tratar de cultivar protegido. 15Produção de sementes Fiscalização As ações de fi scalização serão exercidas nas seguintes etapas: produção, benefi ciamento, amostragem, análise, certifi cação, reembalagem, armaze- namento, transporte e comercialização de sementes (BRASIL, 2003). Tais ações têm por objetivo garantir o cumprimento da legislação, pelo exercício do poder da polícia. O fi scal, no exercício de suas funções, tem livre acesso aos estabelecimentos, produtos e documentos previstos na legislação de sementes. A fi scalização é de responsabilidade do MAPA e de órgãos estaduais. Comissão de Sementes e Mudas Toda unidade federativa conta com uma Comissão de Sementes e Mudas. Cada comissão é composta por representantes de entidades federais, estaduais e distritais, municipais e da iniciativa privada, que tenham vinculação com fi scalização, pesquisa, ensino, assistência técnica e extensão rural, produção, comércio e utilização de sementes e de mudas (BRASIL, 2004). As funções das comissões são: propor diretrizes para a política a ser adotada na sua respectiva unidade federativa, no que concerne ao SNSM; propor normas, padrões e procedimentos para a produção e a comer- cialização de sementes e de mudas; manter permanente articulação com os órgãos componentes do SNSM; propor medidas para solucionar casos omissos e dúvidas na execução de procedimentos referentes ao SNSM; rever as normas de produção de sementes e mudas; criar comissões técnicas e designar as entidades que delas farão parte; identificar demandas e propor a inserção de novas espécies no SNSM, além de propor seus respectivos padrões; solicitar auditoria sobre o ente público com delegação de competên- cia para o exercício da fiscalização da produção, mediante denuncia fundamentada. Produção de sementes16 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SEMENTES E MUDAS (ABRASEM), 2015. 5p. Disponível em: http://www.abrasem.com.br/wpcontent/uploads/2016/01/Mat%C3%A9ria-ABRASEM- -Agroanalyses-2015.pdf. Acesso em: 14 nov. 2020. BARROS NETO, J. J. S. et al. Sementes: estudos tecnológicos. Aracaju: IFS, 2014. BRASIL. Decreto nº 5.153, de 23 de julho de 2004. Aprova o Regulamento da Lei Nº 10.711, de 5 de agosto de 2003, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas — SNSM, e Dá Outras Providências. Brasília: Presidência da República, 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5153.htm. Acesso em: 2 dez. 2020. BRASIL. Instrução Normativa nº 9, de 2 de junho de 2005. Brasília: Ministério da Agricultura, Pe- cuária e Abastecimento, 2005. Disponível em: http://www.abrasem.com.br/wp-content/ uploads/2012/10/Instru%C3%A7%C3%A3o-Normativa-n%C2%BA-9-de-2-de-junho-de-2005-Normas-para-a-Produ%C3%A7%C3%A3o-Comercializa%C3%A7%C3%A3o- e-Utiliza%C3%A7%C3%A3o-de-Sementes1.pdf. Acesso em: 2 dez. 2020. BRASIL. Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997. Institui a Lei de Proteção de Cultivares e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1997. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9456.htm. Acesso em: 2 dez. 2020. BRASIL. Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.711.htm. Acesso em: 2 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Guia de inspeção de cam- pos para produção de sementes. 3. ed. Brasília: Mapa/ACS, 2011. Disponível em: https:// www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/arquivos-publicacoes- -insumos/3494_guia_de_inspecao_sementes.pdf. Acesso em: 2 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para ánalise de sementes. Brasília: MAPA, 2009. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/ assuntos/insumos-agropecuarios/arquivos-publicacoes-insumos/2946_regras_ana- lise__sementes.pdf. 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Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/ assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/protecao-de-cultivar/informacoes- -publicacoes/livro-protecao-de-cultivares.pdf. Acesso em: 2 dez. 2020. Produção de sementes18
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