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1 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1 PERSONALIDADE ........................................................................................... 4 1.1 O desenvolvimento da personalidade ............................................................... 5 1.2 Um breve conceito da teoria da personalidade do ponto de vista teórico ......... 9 2 PERSONALIDADE NORMAL ......................................................................... 11 2.1 Mudança da personalidade ............................................................................. 12 2.2 A Personalidade e sua mudança em psicoterapia .......................................... 18 2.3 Estudos no âmbito das mudanças nos sintomas e na estrutura ..................... 20 3 NOTA HISTÓRICA SOBRE AS PERTURBAÇÕES DE PERSONALIDADE NO DSM............................................................................................................................24 3.1 Integração dos Modelos Dimensionais ........................................................... 27 4 A ABORDAGEM COGNITIVA-COMPORTAMENTAL E TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE .................................................................................................... 31 4.1 Transtorno da personalidade .......................................................................... 31 4.2 Teoria de personalidade de Aaron Beck ......................................................... 35 4.3 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade ............................. 37 4.4 Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) ...................................................... 38 4.5 A terapia cognitiva .......................................................................................... 40 4.6 Terapia focada no esquema ........................................................................... 42 4.6.1 Esquemas Iniciais Desadaptativos ................................................................. 44 5 REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS ............................................................... 49 3 INTRODUÇÃO Prezado aluno! A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 PERSONALIDADE Em geral, uma concepção errônea envolvendo o conceito de personalidade tem sido difundida entre as pessoas, de que a personalidade é um termo usado para descrever características marcantes de alguém. Nesse sentido, quando as pessoas falam sobre personalidade, elas não percebem que estão falando de variedade de fatores relacionados à pessoa e não somente de um único traço. Personalidade se refere aos padrões característicos de pensamentos, sentimentos e comportamentos que surgem dentro do indivíduo que o tornam uma pessoa única e tendem a ser consistentes para o resto da vida. (SILVA; NAKANO, 2011 apud SILVA L; et al., 2018) O conceito de personalidade é polissêmico, ou seja, é amplo, pois abrange aspectos como traços, estados, qualidades e atributos, todos diferindo em constância ou mudanças de comportamento. Estes se relacionam, por exemplo, a motivações, estilos de atenção, manifestações emocionais ou eficácia (AUWEELE; CUYPER; MELE; RZEWNICKL, 1993. apud SILVA; et al., 2018), englobando a interação, organização e individualidade, fazendo com que nos conheçamos através do convívio com os outros. Tudo isso faz com que o indivíduo seja quem ele é: um ser que pode mudar, se aprimorar e se respeitar constantemente. De acordo com SILVA; et al. (2018), a personalidade é desenvolvida através de uma estrutura de componentes hereditários, pessoais e ambientais. Forma-se até a adolescência, por meio de experiências familiares, escolares, culturais, religiosas e sociais, que resultam nos detalhes do acabamento pessoal. Fomentar a personalidade irá permitir ao indivíduo se desenvolver enquanto ser humano e compreender sua existência através de opiniões, valores e sentimentos. Nenhum ser humano mostrará características que já não estejam presentes em outros indivíduos como um tipo de “herança humana”, isto é, todos os indivíduos da mesma espécie recebem os traços característicos dessa espécie. A combinação individual dessas características em diferentes proporções em uma determinada 5 pessoa irá caracterizar sua personalidade ou sua maneira de ser. (AUWEELE, CUYPER; MELE; RZEWNICKL, 1993 apud SILVA; et al., 2018) Os traços de personalidade não agem independentemente uns dos outros. Uma pessoa é a combinação e interação de muitas características e traços, cujo número ainda não é determinado. O conceito de traço é a peça fundamental da construção da personalidade de um indivíduo, tendo em vista que os traços psicológicos podem ser definidos como estruturas internas estáveis que servem como comportamento predisponente e, consequentemente, podem ser "indicadores" de futuros comportamentos. (AUWEELE; CUYPER; MELE; RZEWNICKL, 1993. apud SILVA; et al., 2018) Segundo Silva e Nakano (2011. apud SILVA; et al., 2018), os traços de personalidade podem ser usados para resumir, prever e explicar o comportamento de uma pessoa. Ao avaliar essas características, as respostas e motivações de uma pessoa para certos comportamentos, seriam encontradas em sua personalidade, mas, assim como existem vários conceitos para o assunto, também existem várias teorias analíticas, e a avaliação da personalidade depende da teoria que o pesquisador adota. 1.1 O desenvolvimento da personalidade Para Nascimento (2012) o homem-macaco aprendeu desde cedo que certos membros são bons ou maus, estúpidos ou espertos, insensíveis ou reagem rapidamente diante as emoções. Definir o que é personalidade pode criar um problema que é o de delimitar um aspecto tão individual, porém tão imenso. Talvez possa ser uma série em conjunto, organizada de processos e estados psicológicos do indivíduo, mas nesta definição algumas influências e / ou fenômenos, naturais e / ou físicos, são ignorados. Vários autores tentam explicar o que podemos entender por personalidade. Para Vallaldon (1988. apud NASCIMENTO, 2012), a personalidade requer, antes de mais nada, a compreensão do próprio conceito como um elemento que 6 distingue ou se assemelha ao ser humano, por antropomorfismo, mas também há um sentido positivamente qualificado em dizer que um indivíduo pode ou não ter uma personalidade. Ao mesmo tempo, a palavra é usada para denotar o núcleo central e profundo do ser. A personalidade é uma estrutura dinâmica integrativa e integrante, que assegura uma unidade relativa e a continuidade no tempo do conjunto dos sistemas que explicam as particularidades próprias de um indivíduo, de sua maneira de sentir, de pensar, de agir e reagir em situações concretas. (VALLADON, 1988. apud NASCIMENTO, 2012) Jung (1981. apud NASCIMENTO,2012) afirma que uma personalidade implica em uma totalidade psicológica dotada de determinação, perseverança, resistência e força. Sem determinação, integridade e maturidade, não há personalidade que não possa e não deva ser exigida da criança, uma vez que isso faria com que perdesse sua infantilidade, que lhe é própria. Mas se a criança puder ver isso em um adulto que a está criando e a eduque, ela crescerá estimulada por suas realizações. Quando o indivíduo atinge a personalidade, significa que o mesmo irá construir o melhor desenvolvimento possível em sua totalidade. Não é possível calcular o número de condições que devem ser atendidas para isso, pois se trata do desenvolvimento de aspectos, bio, psico, sociais e espirituais (JUNG. 1981 apud NASCIMENTO, 2012). A personalidade é a obra que se faz com a máxima coragem para enfrentar a vida, através da afirmação absoluta do ser individual e da melhor adaptação possível a tudo que existe em geral, e tudo isso junto com a máxima liberdade de escolha. A personalidade se desenvolve no curso da vida e é apenas por meio de nossas ações e da maneira como agimos que podemos descobri-la. A princípio, não sabemos o que está escondido dentro de nós, que fatos sublimes ou que crimes existem em nós, que é uma espécie do que é bom ou mal. Ninguém desenvolve sua personalidade porque alguém disse que isso era certo ou pelo o que precisa ser feito, a natureza não se deixa impressionar por conversas e falatórios. (JUNG, 1981. apud NASCIMENTO, 2012) 7 Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) trata do tema da personalidade a partir dos processos psicológicos de cada indivíduo. A autora lembra que o reflexo psicológico: Desenvolve-se com a complexificação estrutural dos organismos por meio da atividade que a sustenta. [...] parte da tese do materialismo da existência dos fenômenos fora e independentemente da consciência humana, pressupondo a apreensão criativa da realidade objetiva que é então, refletida, isto é, (re) construída no plano da subjetividade. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) A unidade entre o real e o ideal é garantida pela atividade vital humana, que ao mesmo tempo é mediatizada e mediatizadora do reflexo psicológico. Essa discussão se baseia na produção da psicologia cultural histórica desenvolvida por um grupo de pesquisadores russos no século XX. Leontiev (1978. apud NASCIMENTO, 2012) afirma que a atividade em seus estágios iniciais de desenvolvimento “assume a forma de processos externos pelos quais a imagem psíquica aparece como produto desse processo.” No entanto, atividade é uma manifestação em ações pelas quais o homem se fixa na realidade objetiva e a transforma em realidade subjetiva. Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) traz de Rubinstein (1960. apud NASCIMENTO, 2012) três teses básicas para a caracterização da consciência no contexto da concepção histórico-social. A primeira é: “A consciência é a forma específica de reflexão sobre a realidade objetiva que existe fora e independentemente da consciência.“ A autora afirma que tal tese assume: Que a consciência não se determina unilateralmente no contato imediato com o objetivo, mas, sim, na relação sujeito-objeto, sendo, portanto, expressão do sujeito na construção dos reflexos do objeto e expressão do objeto na construção da consciência. A consciência revela-se como manifestação do sujeito e do objeto. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) A segunda tese é: “A experiência psíquica é algo dado imediatamente, mas é reconhecido e valorizado através da relação com o objeto. O fenômeno psíquico é a unidade do imediato e do mediado” (RUBINSTEIN, 1960. MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012). Ou seja: 8 Os processos psíquicos embora dados diretamente à consciência, incluem conexões para além do mundo interno da consciência. A vivência psíquica, a experiência configuradora da vida do indivíduo, é produzida pela relação com o mundo objetivo externo e só pode ser determinada com base nessa relação. A consciência como componente derivado e ao mesmo tempo confirmação da existência social e real do homem, evidencia todo o seu ser, constituindo- se pela contextura de sua vida, pelos seus atos e realizações. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) E a terceira tese consiste em: A consciência do homem não é um mundo interno e isolado em si, no seu estudo interior propriamente dito, pois, determina-se pela sua relação com o mundo objetivo. A consciência do indivíduo não é redutível a uma subjetividade pura, isto é, abstrata, que se defronte externamente com tudo o que seja objetivo. (RUBINSTEIN, 1960. MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) Portanto, A consciência não pode ser identificada exclusivamente com o mundo das vivências internas, mas, sim, aprendida com o ato psíquico experienciado pelo indivíduo e ao mesmo tempo expressão de suas relações com os outros homens e com o mundo. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) Para Leontiev (1978. apud NASCIMENTO, 2012), a consciência é a expressão de uma forma superior da psique que surge como resultado da transformação evolutiva, a complexificação e humanização do cérebro humano, e o trabalho e o desenvolvimento da linguagem, desempenham um papel decisivo neste processo de transformação histórica. Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) assevera que, para Vásquez (1977. apud NASCIMENTO, 2012), Podem-se distinguir duas formas de expressão da atividade consciente. Uma, abarcando a produção de conhecimentos, isso é, elaboração de conceitos, hipóteses, leis, teorias pelas quais o homem conhece a realidade, a outra forma de expressão se revela na produção de finalidades, dos objetivos que procedem e orientam as ações humanas. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) A partir das definições desses autores, Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) define consciência como um sistema de conhecimento que se desenvolve no homem "enquanto ele aprende a realidade, relacionando suas impressões diretas a 9 significados socialmente elaborados, articulados e vinculados pela linguagem, expressando as primeiras através das segundas.” Por essa relação em que a atividade de transformação da realidade é um fator objetivo, o indivíduo estabelece uma conexão com o universo, firmando-o como dado de sua subjetividade ao desenvolver consciência. Este processo é acompanhado de reações emocionais e sentimentos. (NASCIMENTO, 2012) 1.2 Um breve conceito da teoria da personalidade do ponto de vista teórico As teorias da personalidade buscam compreender a pessoa como um todo, para tanto, consideram os diversos fatores que compõem o funcionamento de um indivíduo como estando constantemente inter-relacionados, avaliando de que maneira estas relações ocorrem e geram um funcionamento total, isto é, os teóricos da personalidade estão interessados em saber quais são os aspectos constituintes do funcionamento das pessoas e como se dá a interação entre os processos que geram este funcionamento de forma integral. Isto requer mais do que o estudo de cada fator ou de cada processo separado, exige um estudo da complexidade que surge de suas inter-relações e a organização dessa rede enquanto um todo organizado e em funcionamento. Afinal, é desta forma que as pessoas realizam, na vida real, suas tarefas cotidianas. (PERVIN; JOHN, 2004. apud ROCHA, 2013) O teórico da personalidade aceitou uma responsabilidade pelo menos parcial de reunir e organizar os diversos achados dos especialistas. O experimentalista poderia saber muito sobre habilidades motoras, audição, percepção ou visão, mas em geral sabia relativamente pouco sobre como essas funções especiais se relacionavam umas com as outras. O psicólogo da personalidade estava, nesse sentido, mais preocupado com reconstrução ou integração do que com análise ou estudo segmental do comportamento. (HALL; et al., 2000. apud ROCHA, 2013) Deacordo com os teóricos da personalidade, as teorias da personalidade servem para juntar e sistematizar uma gama de observações e achados além de 10 sugerir o caminho para novas descobertas. Assim sendo, uma teoria da personalidade está em constante busca de explicar o que, como e por que os indivíduos são e agem de determinada maneira. Refere-se às características da pessoa, ou como diz respeito aos determinantes da personalidade, por exemplo: qual grau de influência e de interação entre fatores genéticos e ambientais no comportamento das pessoas. Já o porquê está relacionado às razões ou aos aspectos motivacionais que conduzem ou geram determinado comportamento e não outro. (PERVIN; JOHN, 2004. apud ROCHA, 2013) As teorias da personalidade diferem quanto aos tipos de unidades ou conceitos estruturais que utilizam, elas também diferem na forma como conceitualizam a organização dessas unidades. Algumas teorias envolvem um sistema estrutural complexo, segundo o qual muitos componentes estão ligados entre si de diversas maneiras. Outras teorias envolvem um sistema estrutural simples, segundo o qual alguns componentes apresentam poucas conexões entre si. [...] de maneira semelhante, as teorias da personalidade diferem em relação aos números e tipos de unidades estruturais que enfatizam, e em que medida enfatizam a complexidade ou a organização dentro do sistema. (PERVIN; JOHN. 2004. apud ROCHA, 2013) O que é possível afirmar é que, assim como outras teorias da personalidade, Beck buscava explicitar os aspectos em que deveriam conter um conceito atual de personalidade para atingir princípios básicos como o de unificação e organização, requisitos de uma teoria abrangente e geral de personalidade. Tal teoria abrangente deveria, segundo o autor, descrever o funcionamento da personalidade de forma integral, ou seja, deveria explicar como os sistemas interrelacionam-se, como evoluíram para adaptar-se ao ambiente, como operam os mecanismos de estabilidade e mudança, entre outros aspectos. Dessa forma, torna-se como uma condição básica dentro da teoria da personalidade as seguintes formas de análises: a) os critérios de uma teoria científica geral, pois como busca ser uma teoria científica, as teorias da personalidade precisam se submeter às mesmas exigências de clareza, abrangência, utilidade e parcimônia; 11 b) critérios básicos que constituem uma teoria da personalidade, quais sejam: estrutura, processo, crescimento e desenvolvimento, psicopatologia e mudança; c) requisitos que uma teoria da personalidade completa deve apresentar seu parecer, ou seja, sua perspectiva quanto à concepção de homem, motivação humana, aos determinantes internos e externos, os processos conscientes e inconscientes e a relação entre cognição, afeto e comportamento. (BECK; ALFORD, 2000. apud ROCHA, 2013) 2 PERSONALIDADE NORMAL Segundo Kernberg (2006. apud SÁ, 2010), a personalidade normal é baseada em quatro aspectos estruturais. Em primeiro lugar, é caracterizado por um conceito integrado de si mesmo, o self, em conjunto com outros significativos, que se refletem "na consciência interna e na aparência externa da coerência do eu (self) e constituem um pré-requisito como forma de condição básica para uma autoestima normal, levando ao prazer a sensação de alegria em si mesmo e gosto pela vida". Para Sá (2010), essa sensação de integração possibilita um investimento emocional no outro, o que requer uma dependência que irá permitir a maturidade associada a uma consciência sólida sobre a autonomia. Em segundo lugar, deriva da identidade e força do self (ego), especificamente mostra a capacidade de sentir afeto e controlar impulsos, confiar, construir relacionamentos mútuos, o que é determinado pelas funções superegóicas. Terceiro, uma personalidade normalmente requer um superego maduro e integrado que se manifesta numa consciência de responsabilidade, habilidade para uma autocrítica realista, flexibilidade na tomada de decisões e compromisso com normas, valores e ideias. Quarto, torna-se necessária a condução adequada dos impulsos libidinais e agressivos, o que requer a plena expressão das necessidades sexuais e a sublimação 12 dos impulsos agressivos com assertividade, resistindo aos ataques sem exagero de uma reação excessiva e sem voltar-se a agressividade contra si mesmo (self) (KERNBERG, 2006. apud SÁ, 2010). Para Coleman (2005. apud SÁ, 2010), a normalidade baseia-se na flexibilidade no uso de mecanismos de defesa, a maioria de forma madura, apesar da possibilidade (reduzida) de usar mecanismos de defesa de forma imatura. Para Bergeret (2004. apud SÁ, 2010), a personalidade normal “corresponde a uma estrutura profunda, neurótica ou psicótica, não descompensada (e que talvez nunca o venham a estar), estruturas estáveis e definitivas em si que se defendem contra a descompensarão por uma adaptação à sua originalidade.” 2.1 Mudança da personalidade A mudança de personalidade é atualmente definida no contexto terapêutico (ROGERS, 2007. apud SÁ, 2010) como uma mudança em nível estrutural, tanto superficial quanto profundo, em direção a uma estrutura mais madura, com maior integração de si e menos conflito interno. Rogers continua, no seu artigo original de 1957 e que continua a ser relevante nos paradigmas psicoterapêuticos de hoje, certificando que essa mudança só ocorre no contexto relacional da psicoterapia e posteriormente se estende às relações externas. (SILBERSCHATZ, 2007. apud SÁ, 2010) Como caracteriza Sá (2010), no debate sobre esta questão, surge uma questão que divide os teóricos em dois grupos: se é possível ou não mudar a personalidade de um paciente, dentro do contexto psicoterapêutico, existem aqueles que argumentam que é possível mudar a personalidade básica de um sujeito e aqueles que argumentam que tal mudança não é possível. Para esclarecer este problema, tentaremos responder a duas questões que parecem essenciais na abordagem deste tema. 13 A personalidade está sujeita a mudanças? Em caso afirmativo, quais são os efeitos dessa mudança? Uma pesquisa recente sugere que os tratamentos psicodinâmicos e cognitivos, comportamental e farmacológico, promovem mudanças de personalidade (PIPER; JOYCE, 2001; PARIS, 2005. apud SÁ, 2010). De acordo com um estudo de Coleman (2005. apud SÁ, 2010), a terapia psicanalítica e cognitiva- comportamental, tem efeitos sobre as mudanças nas cognições e defesas. Carl Rogers (2007. apud SÁ, 2010) sugere seis condições necessárias e suficientes para o processo de mudança de personalidade no contexto da Psicoterapia: I. É imprescindível que a relação seja estabelecida, no sentido de que seus dois intervenientes estarem em contato psicológico (sem relação, não há mudança); II. É preciso que o paciente esteja a vivenciar um estado de incongruência, sentindo-se vulnerável ou ansioso (ou seja, há uma discrepância entre a experiência atual e a forma como o indivíduo representa essa experiência). III. Apenas o terapeuta deve mostrar-se congruente, genuíno e integrado no contexto relacional; IV. O terapeuta deve aceitar os aspectos do paciente de forma incondicional, implicando em uma disposição para cuidar do outro, como uma pessoa separada, não possessiva ou como satisfação própria. V. O terapeuta deve experimentar uma compreensão empática do quadro de referência interno do paciente e encorajar a comunicação dessa experiência com o ele. Ou seja, o terapeuta deve ser capaz de sentir o mundo de seu paciente como se fosse seu, sem perder sua identidade. Somente se o terapeuta puder acessar livremente este mundo e percebê-lo genuinamente e empaticamente, é que ele consegue comunicar com o paciente estes aspectos, partilhando a linguagem e compreensão do mesmo; VI. A comunicação da compreensão empática do terapeuta e da aceitação incondicionalao paciente deve ocorrer em um nível mínimo, uma vez que 14 está presente no comportamento, palavras e atitude do terapeuta e é entendida, quando de uma boa relação, pelo paciente. Como aponta Sá (2010) nesta proposta, o autor sublinha que é necessária alguma persistência temporária desta relação e coloca as possibilidades de mudança nos fatores dessa relação em detrimento das técnicas utilizadas pelos diferentes modelos. Silberschatz critica Rogers no sentido da convicção de que com alguns pacientes é necessário concentrar-se nas técnicas utilizadas e que a mudança de personalidade em psicoterapia depende também das próprias características do paciente, seja diretamente pela motivação para a mudança, por exemplo, ou pelo que essas características pessoais sejam reativadas no terapeuta (processos contratransferenciais). Alguns estudos relacionados a mudança de personalidade (ROBERTS; MROCZEK, 2008. apud SÁ, 2010) têm mostrado que isso acontece de forma única e pessoal em diferentes fases da vida e combinada com diferentes experiências vividas. Quando comparados em estudos cross-sectional e longitudinais, adultos de meia- idade apresentam valores mais altos de amabilidade e conscienciosidade do que adultos mais jovens e têm valores mais baixos na Extroversão, Neuroticismo e Abertura. Num outro estudo (ROBERTS; WALTON; VIECHBAUER, 2006. cit in ROBERTS & MROCZEK, 2008; ASENDORPF, 2008 apud SÁ, 2010), que utilizou o modelo dos Big Five, verificou-se que nos jovens adultos (20-40 anos) aumentou a extroversão (na sua dimensão de domínio social), a conscienciosidade e a estabilidade emocional, diminuindo o neuroticismo; a amabilidade aumenta significativamente entre os 50 e 60 anos e a abertura à experiência aumenta depois dos 22 anos, diminuindo aos 60 anos. A maior variação dos traços ocorre entre os 18 e os 30 anos, estabilizando entre os 40 e os 50 e voltando a mudar entre os 50 e os 60. A maioria dos estudos relatados pelos autores descobriu que as mudanças foram positivas. Para McWilliams (2005. apud SÁ, 2010) do ponto de vista 15 psicanalítico, a personalidade pode ser significativamente alterada pela terapia, mas não pode ser transformada. As pessoas retêm seus roteiros e guias principais, conflitos, expectativas e defesas internas, embora mantenham a oportunidade de expandir sua autonomia e autoestima quando os componentes de sua personalidade básica são esclarecidos, independentemente de o contrato terapêutico conter ou não um acordo para mudar a personalidade, a consideração de sua natureza por ambas as partes facilitará o trabalho do relacionamento terapêutico. Segundo Debray e Nollet (2004. apud SÁ, 2010), os esquemas de transtorno de personalidade, ou seja, as perturbações existentes da personalidade são muito difíceis de mudar, sugerindo que a personalidade de um paciente não pode ser mudada. De acordo com estes autores, o que é possível fazer é reforçar um esquema alternativo ou orientar para uma perspectiva socialmente proveitosa para o cliente. Como tentativa para responder à nossa segunda pergunta, em relação a personalidade, se a mesma mudar, qual seria o aspecto que iria incidir nessa mudança? Livesley (2007. apud SÁ, 2010) compreendendo a personalidade como um sistema organizado de componentes e subsistemas, confirma que cada um dá origem a diferentes áreas da psicopatologia. Ele reconhece seis áreas de personalidade alterada/perturbada, como o componente sintomático (por exemplo, medo, ansiedade, depressão, impulsividade), mecanismos de controle que regulam emoções e impulsos, predisposições genéticas e o sistema interpessoal (que consistem em representações do outro, crenças, expectativas e estratégias comportamentais que influenciam o relacionamento), sistema do self (conjunto de esquemas utilizados para organizar a autoconsciência e autoconhecimento de forma coerente, o que confere estabilidade e direcionamento à experiência e direção à ação). Conforme a base desses dois últimos domínios interconectados é desencadeada a compreensão das regras que governam o comportamento humano (como a teoria da mente, o que irá sugerir um trabalho de mentalização). 16 Por fim, a última área está relacionada ao meio ambiente, pois o indivíduo seleciona, projeta e estrutura seu contexto para apoiar sua personalidade. Portanto, é necessário que o autor leve esses aspectos em consideração ao tentar intervir no contexto terapêutico dos transtornos de personalidade. Livesley (2007. apud SÁ, 2010) define cinco fases que compõem o processo de mudança: Segurança: Ocorre no início do tratamento e respeita o momento de crise (perda do controle emocional, comportamento desorganizado, agressão a si mesmo, ou seja, virando-se para o self ou a para o outro), oferecendo uma estrutura de apoio e suporte. Contenção: Em conjunto com o anterior, visa conter impulsos e afetos e restaurar a capacidade de controlar o comportamento, o que requer forte aliança, afirmação, validação e compreensão empática. Controle e regulação: Essa fase continua após a superação da crise com o objetivo de reduzir os sintomas, a violência e os ataques ao self por meio da aquisição de habilidades e competências de autocontrole que compensem os déficits nos mecanismos reguladores do self. Exploração e mudança: O tratamento leva à exploração e modificação dos processos cognitivos, afetivos e motivacionais que estão por trás do problema do paciente. Integração e síntese: Quando se chega ao fim do tratamento, o mesmo irá exigir a integração de fragmentos da personalidade e a síntese de uma nova estrutura, nomeadamente dos limites interpessoais, de um Eu/self mais coerente e de uma representação mais integrada do outro. Para Livesley (2007. apud SÁ, 2010), por um lado, trabalhar no tratamento de personalidades perturbadas envolve construir uma relação de colaboração, manter um processo de tratamento consistente, promover a validação e construir a motivação e o compromisso com a mudança. Estas intervenções gerais permitem ao paciente a experiência a uma vivência de um self estável em sua relação (com o terapeuta), o que contribui para a construção de um self mais coerente. 17 Como descrito por Sá (2010), em relação a intervenções mais específicas, reitera-se a importância de aumentar a autoconsciência para levar ao autoconhecimento (ampliando a visão dos pacientes sobre seus problemas e aspectos de si mesmos (self), especialmente aqueles com transtornos de personalidade, em que o conhecimento de si mesmo é limitado, desorganizado e compartilhado ou suprimido), proporcionar novas experiências (dentro e fora do contexto terapêutico, ou seja, experiências emocionais corretivas com o terapeuta que podem ser assimiladas e estendidas a outros contextos) e também novas aprendizagens. Para o autor, é impensável esperar que os pacientes façam mudanças profundas sem ajuda na criação de um novo roteiro de vida que os capacitará a entender o que está acontecendo com eles. Por outro lado, também é importante trabalhar com o paciente a questão da manipulação que leve a mudança em seu ambiente. A intervenção cognitiva desempenha um papel importante na modulação de padrões e esquemas de modos e pensamentos mal adaptativos. As intervenções psicodinâmicas são úteis na modificação de padrões cíclicos de comportamentos interpessoais e na manipulação do evitamento e outras estratégias que criam resistências ao tratamento. (LIVESLEY, 2008. apud SÁ, 2010) Como alega Sá (2010), dois níveis importantes de mecanismos de mudança são aqueles que envolvem o paciente e os que envolvem o processo terapêutico, incluindo as técnicas utilizadas pelo terapeuta. O nível dos mecanismos cognitivos e de defesa do paciente é um aspecto importante: na terapia cognitivo-comportamental, a incidência de intervenções paraalcançar mudanças está em cognições distorcidas. Na terapia psicanalítica, a intervenção passa por mecanismos de defesa. Do ponto de vista cognitivo-comportamental, os sintomas são causados por pensamentos automáticos desadaptativos o que chamamos de mal adaptativos que refletem a estrutura cognitiva. Este modelo teórico utiliza como técnicas o questionamento socrático, a psicoeducação e o coaching para observar e modificar padrões de pensamento, afeto 18 e comportamento. Do ponto de vista psicanalítico, a intervenção nos mecanismos de mudança é feita através das defesas, do tornar consciente o inconsciente ou da relação objetal, pela internalização do self e do outro. Neste modelo teórico, a relação é por si só uma ferramenta que estimula o uso de defesas mais maduras e promove o insight, através de técnicas interpretativas. (COLEMAN, 2005. apud SÁ, 2010) 2.2 A Personalidade e sua mudança em psicoterapia O estudo da personalidade sempre despertou um interesse especial na área social e humana, o que levou a vários conceitos de personalidade que sofreram mudanças significativas desde a sua introdução. A complexidade desse tema levou a múltiplas definições, mas parece consensual que haja algo característico que torna cada indivíduo único. A personalidade, portanto, parece representar uma unidade integradora da pessoa, o que implica uma organização dinâmica dos aspectos cognitivos, afetivos, fisiológicos e morfológicos do indivíduo. (DIAS, 2004. apud GOMES, 2014) Assim, pode ser entendido como uma série de padrões rígidos de sentimentos, pensamentos e comportamentos em cada indivíduo. Na mesma linha Pervin e John (2004; cit in MARTINS; LOPES, 2010. apud GOMES, 2014) propõem uma definição centralizadora na qual assumem e consideram que a personalidade são as características da pessoa que explicam padrões consistentes de sentimentos, pensamentos e comportamentos. É de particular interesse como esses pensamentos, sentimentos e comportamentos se relacionam entre si para formar o indivíduo único e peculiar. Em outras palavras, são as características psicológicas que determinam a singularidade pessoal e social de cada indivíduo. (McMARTIN, 1995. apud GOMES, 2014) Já Eysenck (1976; cit. in Dias, 2004 apud SILVA ANA; 2014) definiu personalidade como “a organização mais ou menos estável e persistente do carácter, temperamento, intelecto e físico do indivíduo, que permite o seu ajustamento único ao meio”. Deste modo, a personalidade assume uma linha de padrões básicos de comportamento, que vão sofrendo alterações ao longo do seu processo evolutivo através da aprendizagem, desenvolvimento e meio ambiente. (SAVASTANO, 1980. apud GOMES, 2014) 19 Todas as teorias da personalidade surgiram da tentativa de descrever e explicar como os indivíduos diferem em seu comportamento, em sua personalidade (JOHN, 1999. apud GOMES, 2014). Do ponto de vista de um dos conceitos, a personalidade é vista como a integração dinâmica dos padrões de comportamento do sujeito com base no temperamento, caráter, sistema de valores internalizados e habilidades cognitivas (KERNBERG, 2006. apud GOMES, 2014). Existem vários modelos teóricos com base psicanalítica, mas todos eles se relacionam com processos dinâmicos, em contraste com os traços de personalidade, que neste caso são vistos como atributos estáticos. Assim, “as pessoas se organizam em dimensões que são significativas para si mesmas e apresentam características emblemáticas que expressam ambas as polaridades de uma dimensão proeminente e saliente” (McWILLIAMS, 2005. apud GOMES, 2014). Em contraste com as teorias psicológicas e cognitivas, a personalidade é percebida como uma série de padrões que permanecem estáveis ao longo do tempo, resultante de uma combinação de influências genéticas e do meio ao longo do desenvolvimento. Assim, a personalidade é percebida como uma série de características específicas que proporcionam um perfil individual estável. (ASENDORPF, 2008. apud GOMES, 2014) Portanto, faz sentido distinguir o conceito de personalidade de traços de personalidade, em que os últimos são definidos como uma unidade de análise comportamental, no entanto, a forma como eles estão relacionados não é semelhante. Assim, o caráter único e distinto que a personalidade confere a cada indivíduo inclui traços gerais semelhantes aos de outras pessoas. Portanto, duas pessoas com personalidades diferentes podem se comportar de forma semelhante. Dessa forma, o paradigma de traços é baseado na identificação das características de personalidade que são responsáveis pela consistência comportamental. (PAIM, 2002. apud SILVA, 2014) Atendendo às várias definições de Personalidade, é indiscutível de que se trata de uma construção complexa, individual, que apresenta um desenvolvimento gradual. É assim entendida como um conjunto de traços que permitem diferenciar as pessoas entre si, no modo como agem e se 20 relacionam com a sociedade e com elas mesmas. (DORON; PAROT, 2001. apud SILVA, 2014) Quando se trata de mudanças de personalidade, Rogers (2007. apud SILVA, 2014) a definiu como uma mudança que pode ser estrutural, superficial ou profunda, no sentido de que se pretende uma estrutura mais madura, com maior integração do eu/self, e isso significa menos conflito interno. No entanto, a mudança de personalidade no processo psicoterapêutico é um tema controverso, na medida em que alguns autores defendem essa possibilidade, outros consideram tal mudança impossível. Mas hoje sabemos que há estudos que mostram que tanto a terapia psicanalítica quanto a cognitivo-comportamental causam mudanças na personalidade. (LIVESLEY, 2008. apud SILVA, 2014) 2.3 Estudos no âmbito das mudanças nos sintomas e na estrutura Para Silva (2014), por meio dos estudos do processo psicoterapêutico, é possível compreender como ocorrem as mudanças durante o tratamento e possibilitar identificar os mecanismos de ação terapêutica, bem como as variáveis que dependem da eficácia da psicoterapia. Estudos experimentais possibilitam estratégias de mudança terapêutica, nesse sentido, são apresentados alguns estudos que utilizaram instrumentos de avaliação para poder comparar a mudança em termos de sintomas e estrutura, no decorrer do processo terapêutico. Lingiardi e colaboradores (2010. apud SILVA,; 2014) conduziram um estudo de caso que descreve o curso de uma análise usando algumas ferramentas de instrumentos de avaliação, Shedler-Westen Assessment Procedure-200 - SWAP-200 (SHEDLER; WESTEN, 2006. apud SILVA, 2014), a Defense Mechanism Rating Scale - DMRS (PERRY, 1990. apud SILVA, 2014) e a Analytic Process Scales - APS (WALDRON; SCHARF; CROUSE; FIRESTEIN; BURTON, 2004. e WALDRON; SCHARF; HURST; et al., 2004. apud SILVA, 2014) para estudar transcrições integrais de sessões. Essa avaliação foi realizada tanto pelo terapeuta, como por avaliadores independentes. 21 Como caracteriza Silva (2014), as transcrições foram avaliadas por dois anos, com a DMRS e a APS no início da análise e a cada seis meses, e com o SWAP-200 a cada doze meses, porque não há mudanças na avaliação da personalidade antes do primeiro ano de terapia. No início, a paciente evidenciava traços obsessivos, paranoides e hostis, e de externalização. No que se refere à avaliação da capacidade funcional, ela se apresentou em um nível médio em comparação a uma amostra de pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade. No nível de defesa, estava localizado no nível neurótico e enfatizava a defesa contra a intelectualização e deslocamento. Ao fim do primeiro ano, assistiu-se a uma elevação na personalidade saudável, pela avaliação do SWAP-200, não apresentando critérios para um diagnóstico de perturbação de personalidade. Conforme Silva (2014), ao mesmo tempo houve um aumento na função geral de defesa avaliadacom a DMRS. Do ponto de vista analítico, a produtividade geral da contribuição do paciente para a terapia melhorou em aproximadamente 12,5%. No final do segundo ano, obteve um ganho adicional de 2,9 pontos na classificação de alto desempenho do SWAP-200, resultando em um aumento geral de 49,34 para 60,81, valores muito diferentes dos valores originais comparando com os nos iniciais. No nível de defesa, não houve mudança em seu estilo de defesa no domínio neurótico, mas houve diminuição na defesa neurótica e obsessiva e um aumento na defesa madura, com o desempenho geral da defesa sendo ligeiramente maior do que no final do primeiro ano de psicoterapia. Hersoug e colaboradores (2002. apud SILVA, 2014) conduziram um estudo com o objetivo de compreender se as mudanças observadas nos mecanismos de defesa predizem os resultados durante a psicoterapia psicodinâmica breve. Assim, eles compararam a mudança nos sintomas e nas defesas, sendo esta última avaliada por meio da escala DMRS e do questionário DSQ sobre estilo defensivo em uma amostra de 43 pacientes. Os autores deste estudo concluíram que o funcionamento geral defensivo teve melhorias só a partir da 16ª sessão, ao passo que os sintomas apresentaram uma melhoria logo no início da terapia. 22 Moreno e colaboradores (2005. apud SILVA, 2014) apresentaram um estudo de caso de 2 anos em psicoterapia psicodinâmica para avaliar o diagnóstico psicodinâmico e sua evolução. Para tal, os teóricos utilizaram material nas sessões de supervisão com as seguintes técnicas e instrumentos empíricos: o tema central da relação de conflito, ou seja, núcleo do relacionamento conflituoso (Core Conflitual Relationship Theme) (Luborsky; Crits-Christoph, 1990. apud SILVA, 2014), a Symptom Checklist-90-Revised (DEROGATIS, 1983. apud SILVA, 2014), e Elementos Diferenciais para um Diagnóstico Psicodinâmico (MORENO; et al., 1998. apud SILVA, 2014). Assim, foi possível o reconhecimento de alguns fatores responsáveis pela mudança psíquica ao longo do processo psicoterapêutico, mostrando os benefícios da utilização de vários instrumentos de avaliação possibilitando uma análise mais completa acerca da evolução do paciente durante o tratamento. Por Malheiro (2012. apud SILVA, 2014), a personalidade e o mecanismos de defesa foram avaliados por meio de gravações de áudio de reuniões a cada seis meses com Shedler-Westen Assessment Procedure (SWAP-200) e o Defense Mechanism Rating Scales (DMRS), respetivamente, e o Symptom Checklist-90- Revised (SCL-90-R) aplicado em três momentos distintos ao longo do processo psicoterapêutico. Com este estudo, a intenção era investigar as ligações entre as alterações da personalidade, o uso de determinados mecanismos de defesa e a redução dos sintomas em dois pacientes, seguido de psicoterapia pelo mesmo terapeuta durante um período de 2 anos. Dos resultados obtidos concluiu que em ambos os casos analisados, a mudança sintomática ocorreu de uma forma mais rápida do que ao nível estrutural, isto é, ao nível da personalidade e dos mecanismos de defesa. Loureiro (2012. apud SILVA, 2014) também realizou um estudo que teve como objetivo, observar a relação entre mudanças nos mecanismos de defesa e traços de personalidade durante todo o processo terapêutico em dois pacientes com personalidades diferentes. Para a avaliação dos mecanismos de defesa foi utilizada a escala Defense Mechanisms Rating Scales (DMRS) e, na avaliação das características de personalidade, o The Shedler-Westen Assessment Procedure 23 (SWAP-200). Foram analisadas 33 gravações áudio de sessões de duas pacientes do mesmo terapeuta sob psicoterapia de inspiração psicanalítica. De acordo com Silva (2014), os resultados mostraram que diferentes pacientes e grupos de patologia levaram a uma taxa característica de mudança nos mecanismos de defesa. Os níveis globais de funcionamento defensivo na DMRS e os indicadores de saúde mental do SWAP-200 variaram no mesmo sentido em ambas as pacientes. A partir disso, concluiu-se que as flutuações na personalidade do paciente e na função de defesa estão relacionadas, o que é um forte indicador das mudanças estruturais encontradas ao longo do processo terapêutico. O estudo realizado por Marques (2012. apud SILVA, 2014) consistia em observar como as atitudes, comportamentos e interações do terapeuta mudam quando influenciados pelos traços de personalidade de seus pacientes. Para tal, analisou gravações áudio de sessões de duas pacientes em psicoterapia psicanalítica com o mesmo terapeuta durante dois anos e avaliadas utilizando o Psychotherapy Process Q-Set - PQS no início, 6, 12, 18 e 24 meses de terapia. A personalidade dos pacientes foi avaliada através do ShedlerWesten Assessment Procedure - SWAP-200 (SHEDLER; WESTEN, 1998. apud SILVA, 2014) e os resultados das terapias foram obtidos através do SCL-90-R (DEROGATIS; SAVITZ, 2000. apud SILVA, 2014). Dos resultados obtidos, foi constatado que o terapeuta foi mais claro, seguro e paternalista, com a paciente neurótica obsessiva, aderindo mais fortemente ao protótipo psicodinâmico com a paciente borderline e dependente, com quem foi adaptando mais a sua adesão a diferentes técnicas ao longo do tempo. 24 3 NOTA HISTÓRICA SOBRE AS PERTURBAÇÕES DE PERSONALIDADE NO DSM Conforme Gomes (2013), os transtornos de personalidade foram descritos pela primeira vez em uma publicação oficial como entidades diagnósticas separadas e distintas na primeira edição do DSM em 1952, e são definidas como defeitos de desenvolvimento ou tendências patológicas na estrutura da personalidade e foram divididas em três grupos: perturbações de padrão de personalidade, perturbações de traço de personalidade e perturbações de personalidade sociopática, seção que incluía diagnósticos de desvio sexual e abuso de substâncias. Cada um dos grupos referidos continha quatro categorias diagnósticas. Como destaca Gomes (2013), os principais pontos de crítica a este primeiro sistema de classificação foram a falta de critérios de diagnósticos essenciais e a falta de evidências empíricas. A descrição geral das perturbações de personalidade no DSM-II, publicado em 1968, quase não apresentou alterações em relação a publicação anterior e apenas acrescentou que essas patologias são muitas vezes identificáveis na adolescência ou até mesmo antes. Neste volume eram consagradas 10 perturbações de personalidade específicas, bem como as categorias de diagnóstico “Outras perturbações de personalidade especificadas” e “Perturbação de personalidade não especificada”. De acordo com Gomes (2013), a publicação da 3ª edição do DSM, em 1980, introduziu o sistema multiaxial de organização da psicopatologia, estando as perturbações de personalidade incluídas no Eixo II, considerando-as em entidades nosológicas distintas das principais síndromes clínicas em Psiquiatria, podendo coexistir com estes mesmos. A definição geral de transtorno de personalidade esclareceu a distinção entre traços e transtornos de personalidade, enfatizando a necessidade de inflexibilidade, desajustamento e interrupção do funcionamento do indivíduo para que o diagnóstico do transtorno de perturbação fosse aplicado. 25 De acordo com Gomes (2013), este volume forneceu uma descrição mais abrangente de cada uma dessas patologias, para as quais os critérios diagnósticos politéticos foram estabelecidos pela primeira vez e 11 diagnósticos específicos foram definidos, organizados em 3 grupos ou “clusters”, bem como uma categoria residual reservada para perturbações de personalidade atípicas, mistas ou outras, conforme tabela: Fonte: eg.uc.pt Essas mudanças levaram a uma melhoria significativa na validade e confiabilidade dos diagnósticos em patologia de personalidade. A versão revista do DSM-III, publicada em 1987, foi publicada e orientadapor uma maior estabilidade na seção de transtornos de personalidade em relação as perturbações fazendo uma comparação com as edições anteriores. Bem como algumas mudanças de nome, incluindo a atribuição das letras A B e C aos diferentes “clusters/ aglomerados”, certos critérios diagnósticos, baseados na literatura e pesquisas empíricas disponíveis até o 26 momento, também foram modificados para alcançar maior objetividade e validade científica. Como relata Gomes (2013), no apêndice A foram adicionados dois novos diagnósticos em relação aos transtornos de personalidade sobre a questão das perturbações como por exemplo a personalidade sádica e autodestrutiva, tendo em vista que foram incluídos no apêndice A, tornando-se assim alvos para investigação futura no sentido de esclarecer a sua validade e utilidade clínica. No DSM-IV, publicado em 1994, a definição geral de transtornos de personalidade das perturbações foi expandida e os pré-requisitos para diagnosticar esses transtornos são apresentados na forma dos seguintes critérios diagnósticos gerais. A - Padrões persistentes de experiências e comportamentos internos que diferem significativamente do que é esperado na cultura do indivíduo em pelo menos duas das seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal e controle de impulsos. B - A rigidez desse padrão global se manifesta em uma ampla gama de situações pessoais e sociais. C - Estresse e sofrimento clinicamente significativo ou deficiência em áreas sociais, ocupacionais ou outras áreas funcionais importantes que podem ser atribuídas a este padrão. D - Estabilidade, longa duração e início da adolescência ou também início da idade adulta. E - O padrão não pode ser melhor explicado como uma manifestação ou consequência de outro transtorno de personalidade das perturbações. F - O padrão não se deve ao efeito fisiológico direto de uma substância ou de uma doença geral. Gomes (2013) aduz que nesta publicação apenas 10 diagnósticos específicos de transtornos de personalidade no eixo II foram definidos. Tendo a perturbação de personalidade passivo-agressiva sido transferida para o Apêndice B com a nova designação de perturbação de personalidade negativista, por não cumprir requisitos 27 de validade e utilidade clínica. O Apêndice B contou ainda com a inclusão da perturbação de personalidade depressiva. Transtornos de personalidade sádicos e autodestrutivos foram excluídos desta publicação. Os demais transtornos de personalidade permaneceram conceitualmente idênticos às suas versões na publicação anterior, sem prejuízo da inclusão de um maior número de informações empíricas relativas a cada categoria diagnóstica e mudanças nos critérios diagnósticos. Ainda de acordo com Gomes, também digno de nota é a inclusão de uma referência à possibilidade de conceituar a personalidade de um ponto de vista dimensional na nota introdutória à seção sobre patologia da personalidade, descrevendo brevemente alguns dos modelos mais importantes. Da revisão do DSM- IV, publicada em 2000, resultaram apenas alterações pontuais ao texto de alguns dos diagnósticos específicos de perturbações de personalidade, bem como uma atualização da nota referente aos modelos dimensionais. 3.1 Integração dos Modelos Dimensionais A tarefa de fornecer uma integração entre a nomenclatura no campo da psiquiatria relacionada aos transtornos de personalidade e os modelos dimensionais é algo que sofre uma considerável resistência. Como resultado dessa tentativa, uma série de problemas podem surgir como grandes preocupações. São elas: consenso, em termos estruturais, implementação e aplicabilidade/utilidade clínica. (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019) Existem, ao todo, 18 propostas de modelos dimensionais para os transtornos de personalidade. Esses modelos são bem diferentes entre si, ao ponto de dificultar o surgimento de um consenso para definições estruturais (WIDIGER, 2007 apud GOMES A; 2019). Uma alternativa proposta foi a de fornecer uma conversão de cada categoria diagnóstica em uma escala de 5 pontos/domínios, possibilitando seu uso para a descrição dos perfis de personalidade. Porém, isso teria uma grande limitação: grande sobreposição diagnóstica de várias categorias diagnósticas. 28 No entanto, parece que implementar um modelo hierárquico unificado é possível, uma vez que os modelos têm objetivos comuns. A solução ideal seria não escolher entre um ou outro, mas obter um modelo que represente de forma integrativa as propostas existentes e que combine as contribuições e vantagens de cada um. (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019) O principal objetivo da introdução de uma nomenclatura oficial é criar uma linguagem comum e facilitar o desenvolvimento de um sistema de diagnóstico universal. Este seria um passo importante para uma maior integração da psicologia e da psiquiatria (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019). Além disso, outro sistema de avaliação do comprometimento e funcionamento da personalidade é necessário para obter os vários graus de possíveis gravidades. (FEW, 2013. apud GOMES, 2019) Para Gomes (2019), a forma como ocorreria a implementação de um modelo dimensional na prática clínica é motivo de grande preocupação. Um benefício importante do uso de uma classificação dimensional seria a inclusão de vários valores limites que poderiam orientar as decisões na prática clínica (por exemplo, fornecer uma medicação particular, hospitalizar um paciente). Essa mudança na nomenclatura psiquiátrica ainda é considerada radical. No entanto, já existe um precedente no DSM- IV-TR, no diagnóstico de retardo mental. A inteligência é um domínio que, como a personalidade, se distribui em uma gradação hierárquica e multifatorial, uma vez que os níveis de inteligência são derivados de uma interação complexa de vários fatores (genéticos, fetais, do desenvolvimento, do ambiente). O ponto de definição do diagnóstico é um QI de 70 ou menor, que é associado a um comprometimento significativo. O principal argumento contrário a uma classificação dimensional dos transtornos de personalidade é sua utilidade clínica, constituindo o obstáculo mais importante no caminho de sua implementação. (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019) A proposta dimensional não foi aceita como um sistema de diagnóstico oficial, tendo sido incluída na seção III (emerging measures and models - medidas e modelos emergentes) para encorajar estudos futuros, esta decisão foi tomada devido ao apoio 29 limitado à pesquisa e a uma mudança muito repentina na prática clínica, no entanto, os componentes do modelo alternativo para transtornos de personalidade provavelmente desempenharão um papel importante nas novas versões do DSM. (FEW, 2013. apud GOMES, 2019) O termo personalidade traz diversas controvérsias em sua definição. O teórico Gordon Alport sugeriu que a personalidade pode ser entendida simplesmente como “O que a pessoa realmente é”. De acordo com o DSM-5, o transtorno de personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia fortemente das expectativas da cultura de um indivíduo, sendo este difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da idade adulta, permanece estável ao longo do tempo e leva a um considerável sofrimento e / ou restrições de prejuízos funcionais. (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014. apud GOMES, 2019) Os seguintes transtornos de personalidade estão incluídos no DSM-5: - Transtorno de personalidade paranoide: Esse tipo de transtorno de personalidade leva à desconfiança ou grande suspeita que as motivações dos outros são interpretadas como maliciosas. (GOMES, 2019) - Transtorno de personalidade esquizoide: São padrões que fazem com que o indivíduo se distancie das relações sociais e também adquira uma faixa restrita de prejuízo da expressão emocional. (GOMES,2019) - Transtorno da personalidade esquizotípica: Padrões de estresse e desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou perceptivas e excentricidades comportamentais. (GOMES, 2019) - Transtorno de personalidade antissocial: Diz respeito a comportamentos divergentes com outras pessoas, incluindo um sentimento exagerado da própria importância, bem como antipatia insensível em relação aos outros, englobando os traços de manipulação, insensibilidade, desonestidade e hostilidade. (JESUÍNO, 2019) 30 - Transtornos de personalidade borderline: O transtorno da personalidade borderline (TPB) pode ser caracterizado pela notável instabilidade em muitos, se não em todos, os aspectos do funcionamento da pessoa, incluindo relacionamentos, autoimagem, afeto e comportamento. (BECK; FREEMAN; DAVIS; et al., 2005. apud SILVA, 2018) - Transtorno de personalidade histriônica (TPH): Padrão predominante de procura por atenção e emocionalidade em excesso. As principais características são a necessidade de ser o centro das atenções, sentindo desconforto quando não o é, o uso de atributos físicos e vestimenta para chamar a atenção, os comportamentos excessivamente dramáticos e de teatralidade, a mudança rápida e superficial das emoções, e o estilo impressionista e carente de detalhes no discurso. (APA, 2013 apud SETTE, 2019) - Transtorno de personalidade narcisista (TPN): Padrão invasivo de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Outras características presentes no diagnóstico são fantasias de sucesso ilimitado e poder, senso inflado de auto importância, crença de ser especial e merecedor de privilégios e de tratamento especial, comportamentos de manipulação para ganho próprio, e arrogância. Pessoas diagnosticadas com TPN também podem apresentar autoestima vulnerável, sentimento de vazio e sentimentos de angustia e tédio. (APA, 2013. CALIGOR; LEVY; YEOMANS, 2015. apud SETTE, 2019) - Transtorno de personalidade evitativa: É caracterizada sobretudo por uma evitação comportamental, emocional e cognitiva generalizada, que se explica por um medo intenso da avaliação negativa dos outros. (FONTES, 1997) - Transtorno de personalidade dependente: Se caracteriza, sobretudo, por uma excessiva necessidade de cuidado e proteção, que, pelo medo da separação, leva à submissão e a um intenso vínculo com o outro. (FONTES, 1997) - Transtorno de personalidade obsessivo–compulsivo (TPOC): Possui como principais características a preocupação com a organização e o perfeccionismo. Pessoas diagnosticadas com esse transtorno de personalidade dedicam-se excessivamente ao 31 trabalho, são conscienciosas, escrupulosas e inflexíveis com questões morais, éticas ou de valores; a dificuldade em descartar objetos também pode se fazer presente. O TPOC é um dos transtornos de personalidades mais prevalentes de todos, afetando aproximadamente de 2,1% a 7,9% da população; sendo que, nos homens, é duas vezes mais comum. (APA, 2013. apud MELCA, 2015) - Mudança de personalidade devido a outra condição médica: É uma perturbação persistente da personalidade entendida como decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica (ex: lesão do lobo frontal). (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014. apud GOMES, 2019) 4 A ABORDAGEM COGNITIVA-COMPORTAMENTAL E TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE 4.1 Transtorno da personalidade A possibilidade de tratamentos de transtornos de personalidade através da terapia cognitiva remonta desde Beck. A terapia cognitiva comportamental considera que os afetos desorganizados e a frequência de comportamentos e pensamentos autodepreciativos advêm de esquemas de pensamento disfuncionais, buscando alterá-los através de modificações na consciência do sujeito. (BECK, 2004. apud COSTA; VALÉRIO, 2008. apud PEREIRA, 2020) A personalidade é um dos construtos cognitivos de maior complexidade devido ao seu caráter tão multifacetado. Ressalta-se que a teoria cognitiva indicou uma importante direção no desenvolvimento adicional e abrangente da teoria da personalidade. Em Beck e Alford (2000. apud FIORAVANTE, 2014), encontra-se a seguinte definição de personalidade: [...] personalidade é o termo que aplicamos a padrões específicos de processos sociais, motivacionais e cognitivo-afetivos, cujos estudos individuais consistem as diferentes áreas de especialização de pesquisa psicológica [...] a formulação acima expressa uma visão um tanto nova de quais elementos devem ser incluídos em uma conceitualização científica 32 contemporânea de personalidade como um constructo unificador ou organizador para o comportamento humano complexo. (apud FIORAVANTE, 2014) De acordo com Beck (2004. apud PEREIRA, 2020), as pessoas constroem esquemas cognitivos a partir da sua experiência de vida, essas estruturas são adaptáveis conforme o valor que tiveram para o sujeito ao longo da sua vida. Entretanto, suas estruturas cognitivas não são verdades absolutas para lidar com o cotidiano, e podem na verdade se tornar disfuncionais ao longo das suas novas possibilidades de vivência. É através dos esquemas que o sujeito se comporta, sente e interpreta novas realidades. Beck; et al. (2012. apud FIORAVANTE, 2014) sugeriram que os processos cognitivos, afetivos e motivacionais são determinados pelos esquemas idiossincrásicos que constituem os elementos básicos da personalidade. Em geral, pacientes apresentam transtornos cujas apresentações clínicas podem ser um pouco enganosas em virtude da prática de insistir em fixar um diagnóstico único ou principal. Porém, muitas pesquisas indicam que a maioria das pessoas apresentam, pelo menos, duas ou três comorbidades mentais associadas, categorizando-se em múltiplos diagnósticos (BECK, 1992. apud FIORAVANTE, 2014). O tratamento de cada transtorno necessita de competências diferenciadas, o que implica em dizer que as estratégias e técnicas cognitivas utilizadas em transtornos clínicos leves e moderados não podem ser empregadas de maneira semelhante nos casos graves (BECK, 2000. apud FIORAVANTE, 2014). Um número crescente de diferentes transtornos e transtornos mais graves são tratados, atualmente, com terapia cognitiva. (BUTLER; BROWN; BECK & GRISHAM, 2002. BUTLER; et al., 2006. BECK, 2000. BECK, 1997-1998. STUART; et al., 1997. apud FIORAVANTE, 2014) Quando a pessoa passa constantemente por traumas ou eventos de muita agressividade, é possível que ocorra distorções nas estruturas, as chamadas distorções cognitivas, que consequente irão modificar sua forma de agir diante das 33 situações cotidianas, podendo ser, inclusive, mais prejudiciais para os outros e para si. (BECK, 1997. FORATO; BELUCO, 2019. apud PEREIRA, 2020) Grande parte do interesse renovado nos transtornos de personalidade decorre de pesquisas que demonstram que um diagnóstico de transtorno de personalidade é um bom preditor de má resposta ao tratamento psicológico e farmacológico por parte de pacientes com transtornos de ansiedade (BECK, 1994). Diversos estudos têm encontrado altas taxas de diagnóstico de transtorno de personalidade entre os pacientes com transtornos do Eixo I (transtorno de pânico, transtorno obsessivo- compulsivo, ansiedade generalizada). (BECK, 1994. BECK, et al., 2001. apud FIORAVANTE, 2014) A teoria cognitiva propõe que as crenças relacionadas aos transtornos de personalidade perpetuam os comportamentos desses transtornos. (BECK; et al., 2001 apud FIORAVANTE, 2014) Esses são explicados por esquemas negativos e disfuncionais que se desenvolvem cedo como estratégias de adaptação à vida e produzem julgamentos tendenciosos e erros cognitivos de forma consistente e em todos os aspectos da vida do indivíduo (BECK, 1998. apud FIORAVANTE, 2014). A combinação dessas estratégias promovidas pelo processamento de informações disfuncional e crenças negativassobre o self, os outros e as relações interpessoais gera afetos e influências motivacionais que estreitam os tipos de resposta do indivíduo diante das situações vivenciadas por ele. (BECK; FREEMAN, 1990; BECK,1998. apud FIORAVANTE, 2014) As estruturas que estariam na base da personalidade têm características como amplitude (estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são energizados) (MARTINS, 2010. BUTLER; et al., 2002). Pode-se afirmar que os esquemas nos transtornos de personalidade seriam amplos, rígidos, densos e hipervalentes. Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo que o estímulo seja inócuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais 34 adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento da informação. (BECK; DAVIS, 2005. apud FIORAVANTE, 2014) No livro “Terapia Cognitiva para os Transtornos de Personalidade”, Beck et al. (2012 apud FIORAVANTE, 2014) publicou uma lista de crenças disfuncionais as que foram associadas a transtornos de personalidade específicos. Essas crenças foram derivadas de conceituações individualizadas dos problemas do paciente e na geração, implementação e avaliação de estratégias de tratamento baseadas em conceituações de caso. A avaliação de crenças é um componente importante da terapia cognitiva dos transtornos de personalidade. Crenças disfuncionais formam o componente central das conceituações cognitivas, sendo o principal alvo de intervenção. Quando identificadas corretamente, as principais crenças disfuncionais refletem um ou mais temas conceituais que ligam o paciente à sua história de desenvolvimento, estratégias compensatórias e reações disfuncionais à atual situação de vida do paciente (BHAR; BECK; BUTLER, 2012. BUTLER; BROWN; DAHLSGAARD; NEWMAN; BECK, 2001. apud FIORAVANTE, 2014). Além disso, a avaliação de tais crenças também pode ter uma função diagnóstica. De acordo com Breschi (2013), a terapia cognitiva comportamental observa e percebe o transtorno de personalidade a partir do momento em que entra em contato com a história de vida do indivíduo e dessa maneira começa a conhecer como este estabeleceu os seus padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos. A TCC se relaciona com os esquemas, pois é a partir deles que o indivíduo estrutura as suas crenças e vão servir como base para interpretação das experiências vivenciadas por ele. Contudo, as crenças do indivíduo interferem principalmente nos pensamentos, afetos e comportamentos. As percepções das aprendizagens podem ser modificadas a depender dos esquemas da pessoa quando estes se tornam rígidos, ou seja, são pouco afetados pelas experiências vividas e podem afirmar e até sustentar a manifestação e surgimento de transtornos de personalidade ou esquemas disfuncionais. 35 4.2 Teoria de personalidade de Aaron Beck De acordo com Martins (2010), no campo da terapia cognitiva procuramos compreender a relação entre o que chamamos de personalidade e a adaptação do indivíduo ao meio em que está inserido. Neste sentido, a compreensão da personalidade não pode prescindir das teorias da herança filogenética. Claramente, como acontece em todas as espécies, as estratégias que favoreciam a sobrevivência e a reprodução foram mantidas pela seleção natural. Em relação a tais estratégias, quando pensamos na espécie humana, podemos dizer que nos ajudaram a chegar a este ponto, que podemos controlar razoavelmente a natureza e manipulá-la até certo ponto a nosso favor. Sabemos que quando relacionamos a questão das estratégias que favorecem a sobrevivência e a reprodução, as mesmas devem ser a base do que chamamos de personalidade. A discussão sobre personalidade dentro da Teoria Cognitiva avança desde estratégias baseadas na evolução, até uma consideração de como o processamento da informação, incluindo processos afetivos, antecede a operação destas estratégias. (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS, 2010) Uma vez que o requisito e a demanda ambiental ocorrem, o indivíduo avalia as necessidades específicas para atender a esse requisito e ativa automaticamente uma estratégia que pode ou não ser adaptada ao contexto. Dessa forma, para Beck, Shaw, Rush e Emery (2005. apud MARTINS, 2010) como uma situação é avaliada depende, pelo menos em parte, das crenças subjacentes relevantes que são integradas em estruturas mais ou menos estáveis, os chamados “esquemas”, que selecionam e sintetizam informações. Para Martins (2010), portanto, a sequência psicológica vai da avaliação ao estímulo afetivo e motivacional e, finalmente, à seleção e implementação da estratégia adequada. Os esquemas são considerados para a abordagem cognitiva, como sendo partes fundamentais da personalidade. E ele a define como uma organização relativamente estável de sistemas e padrões que são compostas por moldes. O sistema de estrutura interconectada (esquemas), responde por uma sequência que se 36 alonga a recepção do determinado estímulo ao ponto final de resposta comportamental. Segundo Beck; et al. (2005. apud MARTINS, 2010), traços de personalidade identificados por adjetivos como “dependente”, “isolado”, “arrogante” ou “extrovertido” são conceituados como uma expressão óbvia dessas estruturas subjacentes. Por sua vez, atribuímos os padrões de comportamento a traços (honesto, tímido, comunicativo), e que representa uma estratégia de relacionamento interpessoal desenvolvida a partir da interação entre os padrões genéticos e ao meio em que o indivíduo está inserido. Todos os perfis de personalidade têm suas raízes na história evolutiva de nossa espécie, e assim como todas as outras sofreram os efeitos da seleção natural, permanecendo no ambiente os representantes de cada uma delas que fossem mais aptos a se manter vivos e reproduzir. Portanto, o que chamamos de perfis de personalidade são o produto de estratégias mais eficazes que favoreceram a evolução da espécie humana. (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS, 2010) O comportamento dramático que atrai a atenção da personalidade histriônica pode ter suas raízes em rituais de exibição em animais não humanos; em todo o reino animal são observados o comportamento predatório e dependente, essa observação acontece pelo comportamento de apego (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS, 2010). Todos os outros perfis estão de acordo no que diz respeito a comportamentos que foram e muitas vezes continuam a ser extremamente importantes para a adaptação do indivíduo. Para Beck; et al. (2005. apud MARTINS, 2010) embora os organismos não tenham consciência do objetivo final dessas estratégias biológicas, eles conhecem os estados subjetivos que refletem seu funcionamento de operação: fome, medo, estimulação sexual e recompensas ou punições. Todas elas orientadas para garantir a sobrevivência e a reprodução, ou seja, contribuindo para a adaptação do organismo. 37 4.3 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade Conforme Martins (2010), quando se parte da ideia de que os perfis de personalidade são o resultado de estratégias que foram importantes na adaptação da espécie ao meio ambiente, resta responder como pode ocorrer os transtornos de personalidade. As estratégias que colaboram para a adaptação do sujeito também são o foco das psicopatologias. Mais especificamente, neste caso de transtornos de personalidade. Uma vez que os esquemas, essas estruturas que estariam na base da personalidade de cada um de nós, têm características estruturais como amplitude (estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), e densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são energizados), pode-se afirmar que os esquemas nos transtornos de personalidade, seriam amplos, rígidos,densos e hipervalentes. Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo que o estímulo seja inócuo, esses esquemas inibem outros esquemas mais adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento da informação (BECK; DAVIS 2005. apud MARTINS, 2010). Apesar da semelhança entre os esquemas dos transtornos de personalidade e os das síndromes sintomáticas, os primeiros operam sobre o processamento de informação em uma base mais contínua. Um esquema no transtorno de personalidade será ativado quase sempre e será parte do processamento da informação, normal e cotidiano, do indivíduo. A partir de semelhanças descritivas, os transtornos de personalidade são divididos em três grupos: - Grupo A: Transtornos de Personalidade Paranoide, Esquizoide e Esquizotípica. - Grupo B: Transtornos Antissocial, Borderline, Histriônico e Narcisista. - Grupo C: Transtornos de Personalidade Esquiva, Dependente e Obsessivo- compulsiva. (APA, 2002. apud MARTINS, 2010) 38 Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002. apud MARTINS, 2010) o traço de personalidade é um padrão persistente de perceber, relacionar-se com e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo, que se manifesta em vários contextos sociais e pessoais. Esses traços, quando inflexíveis e desadaptativos, causam mal-estar subjetivo e prejuízo funcional significativo, caracterizando assim um transtorno de personalidade. 4.4 Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) Com o desenvolvimento de uma terapia cognitiva para o tratamento da depressão em meados da década de 1960, Aaron Beck deu uma importante contribuição para a compreensão e o tratamento de doenças psiquiátricas; no entanto, seu plano sempre foi que o modelo cognitivo se adaptasse a outros transtornos e, ao fazer isso, provou ser bem-sucedido, principalmente no tratamento de transtornos de humor, ansiedade e abuso de substâncias e dependência. (KNAPP; BECK, 2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016) A TC identifica e trabalha três níveis de cognição: pensamentos automáticos (PA), pressupostos subjacentes ou crenças intermediárias e crenças nucleares ou crenças centrais. É importante enfatizar que, todos nós temos crenças, pressupostos e PA tanto positivos quanto negativos, e o trabalho se refere aos disfuncionais. (KNAPP; BECK, 2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016) Pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes, crenças nucleares e o impacto do humor na cognição combinam-se para configurar um ciclo auto perpetuador observável em todos os transtornos. Um indivíduo pode ter crenças disfuncionais que o predispõem para a psicopatologia mesmo sem ter algum efeito perceptível, até que surge uma situação relevante que ativa essas crenças. Estas, por sua vez, ativam os PA, evocando um humor correspondente, cuja natureza depende deles. Esse humor, então, leva o indivíduo a tendenciar as memórias de tal forma que ele experiência mais PA disfuncionais, intensificando seu humor disfuncional. (KANAP; et al., 2004. CAVALCANTI; et al., 2016) Beck enfatiza a importância em estabelecer o empirismo colaborativo com o paciente, onde paciente e terapeuta irão trabalhar juntos para avaliar as crenças, 39 verificando se estão corretas ou não, e modificando-as de acordo com a realidade. Sendo também uma terapia psicoeducativa no sentido de fornecer conhecimento ao paciente para: 1) monitorar e identificar pensamentos automáticos; 2) reconhecer as relações entre cognição, afeto e comportamento; 3) testar a validade de pensamentos automáticos e crenças nucleares; 4) corrigir conceitualizações tendenciosas, substituindo pensamentos distorcidos por cognições mais realistas; 5) identificar e alterar crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes a padrões disfuncionais de pensamento. (KNAPP; BECK, 2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016) Para Cavalcanti; et al. (2016), a terapia cognitiva (que consiste em avaliação, diagnóstico e plano de terapia) foi revolucionária, pois deu ao paciente autonomia para praticar a terapia fora das sessões. Com base na hipótese de que a cognição tem um grande impacto nas emoções e no comportamento, a TCC busca a reestruturação a partir de uma conceituação cognitiva do paciente e seus problemas. Inicialmente visa restaurar a flexibilidade, intervindo em suas cognições para encorajar mudanças nas emoções e comportamentos associados. Porém, ao longo do processo terapêutico, atua diretamente sobre os esquemas e crenças do paciente para estimular sua reestruturação. O terapeuta cognitivo também usa a resolução de problemas em paralelo à reestruturação cognitiva (BECK 1964. apud BECK, 2013. apud CAVALCANTI; et al., 2016). De acordo com Beck (2013. apud CAVALCANTI; et al., 2016) a conceituação cognitiva é a formulação do caso com base na concepção dos transtornos emocionais do paciente. É a ferramenta mais importante que o terapeuta deve dominar, sendo este fundamental para um planejamento terapêutico adequado e eficaz, uma boa compreensão dos vieses cognitivos e dos consequentes comportamentos desajustados ou seja, mal adaptativos resultantes do paciente. 40 De acordo com Knapp e Beck (2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016), o princípio básico do TC de Aaron Beck é pautado em como as pessoas percebem e processam a realidade, já que nossas cognições têm uma influência controladora sobre nossas emoções e nosso comportamento, bem como agimos e nos comportamos. A terapia cognitiva é uma abordagem ativa, diretiva e estruturada que se concentra no aqui e agora, mas reverte ao passado quando se torna necessário examinar, concentra seu trabalho em reconhecer e corrigir crenças e padrões de pensamento disfuncionais e ajuda com soluções formais para trazer melhorias e mudanças no indivíduo. 4.5 A terapia cognitiva Conforme Tavares (2005), o termo ´cognição’ é polissêmico e pode ser relacionado ao conteúdo do pensamento do ser humano, que leva ao desenvolvimento do mesmo e que é compreendido no ato de pensar. Dessa forma, é referência para a cognição os aspectos das maneiras de perceber e processar as informações, os mecanismos e conteúdo de memórias e lembranças, estratégicas e atitudes na resolução de problemas. A origem da terapia cognitiva é baseada em corretes filosóficas e em religiões antigas como o estoicismo grego, taoísmo e budismo que suplicavam a influência dos pensamentos onde formava as ideias sobre as emoções que eram geradas pelo mesmo. Contudo, a terapia Cognitiva é baseada na estimativa teórica de que os afetos e os comportamentos de um sujeito podem ser determinados em grande medida pelo seu modo de estruturar o mundo. Isso significa que a perspectiva sobre a visão do mundo dominada por uma pessoa, influencia a maneira como pensa, sente e age. Rangé (2001. apud TAVARES, 2005) frisa o fato de que, historicamente a Terapia Cognitiva teve como precursora a terapia racional-emotiva de Ellis, mas foi justamente Aaron T. Beck que lhe deu os contornos atuais. Nossos pensamentos agem diretamente na forma como nos sentimos e agimos, sendo assim, uma das formas de melhorarmos nosso estado de humor é 41 controlarmos nossos pensamentos, no sentido de que exerçam um efeito realista sobre a forma como nos sentimentos perante nós mesmos, ao mundo e a nosso futuro (tríade cognitiva). A forma como percebemos e avaliamos os acontecimentos externos e internos a nós irá determinar a forma como iremos nos sentir e consequentemente agir perante esses acontecimentos. Observando e descrevendo as emoções que sentimos, e fazendo uma conexão entre elas e o que vem previamente a esses sentimentos, podemos buscar fazer uma avaliação realística de nossos pensamentos, para que assim confrontemos os distorcidos e os sentimentos desagradáveis gratuitos, substituindo-os por pensamentos condizentes com a realidade. (BECK; et al., 1997 apud TAVARES, 2005) A
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