Buscar

CONCEPÇOES-PSICOLOGICAS-NA-FORMAÇÃO-DA-PERSONALIDADE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
1 PERSONALIDADE ........................................................................................... 4 
1.1 O desenvolvimento da personalidade ............................................................... 5 
1.2 Um breve conceito da teoria da personalidade do ponto de vista teórico ......... 9 
2 PERSONALIDADE NORMAL ......................................................................... 11 
2.1 Mudança da personalidade ............................................................................. 12 
2.2 A Personalidade e sua mudança em psicoterapia .......................................... 18 
2.3 Estudos no âmbito das mudanças nos sintomas e na estrutura ..................... 20 
3 NOTA HISTÓRICA SOBRE AS PERTURBAÇÕES DE PERSONALIDADE NO 
DSM............................................................................................................................24 
3.1 Integração dos Modelos Dimensionais ........................................................... 27 
4 A ABORDAGEM COGNITIVA-COMPORTAMENTAL E TRANSTORNOS DE 
PERSONALIDADE .................................................................................................... 31 
4.1 Transtorno da personalidade .......................................................................... 31 
4.2 Teoria de personalidade de Aaron Beck ......................................................... 35 
4.3 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade ............................. 37 
4.4 Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) ...................................................... 38 
4.5 A terapia cognitiva .......................................................................................... 40 
4.6 Terapia focada no esquema ........................................................................... 42 
4.6.1 Esquemas Iniciais Desadaptativos ................................................................. 44 
5 REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS ............................................................... 49 
 
 
 
 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, 
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse 
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. 
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão 
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 PERSONALIDADE 
Em geral, uma concepção errônea envolvendo o conceito de personalidade tem 
sido difundida entre as pessoas, de que a personalidade é um termo usado para 
descrever características marcantes de alguém. Nesse sentido, quando as pessoas 
falam sobre personalidade, elas não percebem que estão falando de variedade de 
fatores relacionados à pessoa e não somente de um único traço. Personalidade se 
refere aos padrões característicos de pensamentos, sentimentos e comportamentos 
que surgem dentro do indivíduo que o tornam uma pessoa única e tendem a ser 
consistentes para o resto da vida. (SILVA; NAKANO, 2011 apud SILVA L; et al., 2018) 
O conceito de personalidade é polissêmico, ou seja, é amplo, pois abrange 
aspectos como traços, estados, qualidades e atributos, todos diferindo em constância 
ou mudanças de comportamento. Estes se relacionam, por exemplo, a motivações, 
estilos de atenção, manifestações emocionais ou eficácia (AUWEELE; CUYPER; 
MELE; RZEWNICKL, 1993. apud SILVA; et al., 2018), englobando a interação, 
organização e individualidade, fazendo com que nos conheçamos através do convívio 
com os outros. Tudo isso faz com que o indivíduo seja quem ele é: um ser que pode 
mudar, se aprimorar e se respeitar constantemente. 
 De acordo com SILVA; et al. (2018), a personalidade é desenvolvida através 
de uma estrutura de componentes hereditários, pessoais e ambientais. Forma-se até 
a adolescência, por meio de experiências familiares, escolares, culturais, religiosas e 
sociais, que resultam nos detalhes do acabamento pessoal. Fomentar a personalidade 
irá permitir ao indivíduo se desenvolver enquanto ser humano e compreender sua 
existência através de opiniões, valores e sentimentos. 
Nenhum ser humano mostrará características que já não estejam presentes em 
outros indivíduos como um tipo de “herança humana”, isto é, todos os indivíduos da 
mesma espécie recebem os traços característicos dessa espécie. A combinação 
individual dessas características em diferentes proporções em uma determinada 
 
 
5 
 
pessoa irá caracterizar sua personalidade ou sua maneira de ser. (AUWEELE, 
CUYPER; MELE; RZEWNICKL, 1993 apud SILVA; et al., 2018) 
Os traços de personalidade não agem independentemente uns dos outros. 
Uma pessoa é a combinação e interação de muitas características e traços, cujo 
número ainda não é determinado. O conceito de traço é a peça fundamental da 
construção da personalidade de um indivíduo, tendo em vista que os traços 
psicológicos podem ser definidos como estruturas internas estáveis que servem como 
comportamento predisponente e, consequentemente, podem ser "indicadores" de 
futuros comportamentos. (AUWEELE; CUYPER; MELE; RZEWNICKL, 1993. apud 
SILVA; et al., 2018) 
Segundo Silva e Nakano (2011. apud SILVA; et al., 2018), os traços de 
personalidade podem ser usados para resumir, prever e explicar o comportamento de 
uma pessoa. Ao avaliar essas características, as respostas e motivações de uma 
pessoa para certos comportamentos, seriam encontradas em sua personalidade, mas, 
assim como existem vários conceitos para o assunto, também existem várias teorias 
analíticas, e a avaliação da personalidade depende da teoria que o pesquisador adota. 
1.1 O desenvolvimento da personalidade 
Para Nascimento (2012) o homem-macaco aprendeu desde cedo que certos 
membros são bons ou maus, estúpidos ou espertos, insensíveis ou reagem 
rapidamente diante as emoções. Definir o que é personalidade pode criar um 
problema que é o de delimitar um aspecto tão individual, porém tão imenso. Talvez 
possa ser uma série em conjunto, organizada de processos e estados psicológicos do 
indivíduo, mas nesta definição algumas influências e / ou fenômenos, naturais e / ou 
físicos, são ignorados. Vários autores tentam explicar o que podemos entender por 
personalidade. 
Para Vallaldon (1988. apud NASCIMENTO, 2012), a personalidade requer, 
antes de mais nada, a compreensão do próprio conceito como um elemento que 
 
 
6 
 
distingue ou se assemelha ao ser humano, por antropomorfismo, mas também há um 
sentido positivamente qualificado em dizer que um indivíduo pode ou não ter uma 
personalidade. Ao mesmo tempo, a palavra é usada para denotar o núcleo central e 
profundo do ser. 
A personalidade é uma estrutura dinâmica integrativa e integrante, que 
assegura uma unidade relativa e a continuidade no tempo do conjunto dos 
sistemas que explicam as particularidades próprias de um indivíduo, de sua 
maneira de sentir, de pensar, de agir e reagir em situações concretas. 
(VALLADON, 1988. apud NASCIMENTO, 2012) 
Jung (1981. apud NASCIMENTO,2012) afirma que uma personalidade implica 
em uma totalidade psicológica dotada de determinação, perseverança, resistência e 
força. Sem determinação, integridade e maturidade, não há personalidade que não 
possa e não deva ser exigida da criança, uma vez que isso faria com que perdesse 
sua infantilidade, que lhe é própria. Mas se a criança puder ver isso em um adulto que 
a está criando e a eduque, ela crescerá estimulada por suas realizações. 
Quando o indivíduo atinge a personalidade, significa que o mesmo irá construir 
o melhor desenvolvimento possível em sua totalidade. Não é possível calcular o 
número de condições que devem ser atendidas para isso, pois se trata do 
desenvolvimento de aspectos, bio, psico, sociais e espirituais (JUNG. 1981 apud 
NASCIMENTO, 2012). A personalidade é a obra que se faz com a máxima coragem 
para enfrentar a vida, através da afirmação absoluta do ser individual e da melhor 
adaptação possível a tudo que existe em geral, e tudo isso junto com a máxima 
liberdade de escolha. 
A personalidade se desenvolve no curso da vida e é apenas por meio de nossas 
ações e da maneira como agimos que podemos descobri-la. A princípio, não sabemos 
o que está escondido dentro de nós, que fatos sublimes ou que crimes existem em 
nós, que é uma espécie do que é bom ou mal. Ninguém desenvolve sua personalidade 
porque alguém disse que isso era certo ou pelo o que precisa ser feito, a natureza não 
se deixa impressionar por conversas e falatórios. (JUNG, 1981. apud NASCIMENTO, 
2012) 
 
 
7 
 
Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) trata do tema da personalidade a 
partir dos processos psicológicos de cada indivíduo. A autora lembra que o reflexo 
psicológico: 
Desenvolve-se com a complexificação estrutural dos organismos por meio da 
atividade que a sustenta. [...] parte da tese do materialismo da existência dos 
fenômenos fora e independentemente da consciência humana, pressupondo 
a apreensão criativa da realidade objetiva que é então, refletida, isto é, (re) 
construída no plano da subjetividade. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 
2012) 
A unidade entre o real e o ideal é garantida pela atividade vital humana, que ao 
mesmo tempo é mediatizada e mediatizadora do reflexo psicológico. Essa discussão 
se baseia na produção da psicologia cultural histórica desenvolvida por um grupo de 
pesquisadores russos no século XX. Leontiev (1978. apud NASCIMENTO, 2012) 
afirma que a atividade em seus estágios iniciais de desenvolvimento “assume a forma 
de processos externos pelos quais a imagem psíquica aparece como produto desse 
processo.” No entanto, atividade é uma manifestação em ações pelas quais o homem 
se fixa na realidade objetiva e a transforma em realidade subjetiva. 
Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) traz de Rubinstein (1960. apud 
NASCIMENTO, 2012) três teses básicas para a caracterização da consciência no 
contexto da concepção histórico-social. A primeira é: “A consciência é a forma 
específica de reflexão sobre a realidade objetiva que existe fora e independentemente 
da consciência.“ A autora afirma que tal tese assume: 
Que a consciência não se determina unilateralmente no contato imediato com 
o objetivo, mas, sim, na relação sujeito-objeto, sendo, portanto, expressão do 
sujeito na construção dos reflexos do objeto e expressão do objeto na 
construção da consciência. A consciência revela-se como manifestação do 
sujeito e do objeto. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) 
A segunda tese é: “A experiência psíquica é algo dado imediatamente, mas é 
reconhecido e valorizado através da relação com o objeto. O fenômeno psíquico é a 
unidade do imediato e do mediado” (RUBINSTEIN, 1960. MARTINS, 2011. apud 
NASCIMENTO, 2012). Ou seja: 
 
 
8 
 
Os processos psíquicos embora dados diretamente à consciência, incluem 
conexões para além do mundo interno da consciência. A vivência psíquica, a 
experiência configuradora da vida do indivíduo, é produzida pela relação com 
o mundo objetivo externo e só pode ser determinada com base nessa relação. 
A consciência como componente derivado e ao mesmo tempo confirmação 
da existência social e real do homem, evidencia todo o seu ser, constituindo-
se pela contextura de sua vida, pelos seus atos e realizações. (MARTINS, 
2011. apud NASCIMENTO, 2012) 
E a terceira tese consiste em: 
A consciência do homem não é um mundo interno e isolado em si, no seu 
estudo interior propriamente dito, pois, determina-se pela sua relação com o 
mundo objetivo. A consciência do indivíduo não é redutível a uma 
subjetividade pura, isto é, abstrata, que se defronte externamente com tudo 
o que seja objetivo. (RUBINSTEIN, 1960. MARTINS, 2011. apud 
NASCIMENTO, 2012) 
Portanto, 
A consciência não pode ser identificada exclusivamente com o mundo das 
vivências internas, mas, sim, aprendida com o ato psíquico experienciado 
pelo indivíduo e ao mesmo tempo expressão de suas relações com os outros 
homens e com o mundo. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012) 
Para Leontiev (1978. apud NASCIMENTO, 2012), a consciência é a expressão 
de uma forma superior da psique que surge como resultado da transformação 
evolutiva, a complexificação e humanização do cérebro humano, e o trabalho e o 
desenvolvimento da linguagem, desempenham um papel decisivo neste processo de 
transformação histórica. 
Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) assevera que, para Vásquez (1977. 
apud NASCIMENTO, 2012), 
Podem-se distinguir duas formas de expressão da atividade consciente. Uma, 
abarcando a produção de conhecimentos, isso é, elaboração de conceitos, 
hipóteses, leis, teorias pelas quais o homem conhece a realidade, a outra 
forma de expressão se revela na produção de finalidades, dos objetivos que 
procedem e orientam as ações humanas. (MARTINS, 2011. apud 
NASCIMENTO, 2012) 
A partir das definições desses autores, Martins (2011. apud NASCIMENTO, 
2012) define consciência como um sistema de conhecimento que se desenvolve no 
homem "enquanto ele aprende a realidade, relacionando suas impressões diretas a 
 
 
9 
 
significados socialmente elaborados, articulados e vinculados pela linguagem, 
expressando as primeiras através das segundas.” 
Por essa relação em que a atividade de transformação da realidade é um fator 
objetivo, o indivíduo estabelece uma conexão com o universo, firmando-o como dado 
de sua subjetividade ao desenvolver consciência. Este processo é acompanhado de 
reações emocionais e sentimentos. (NASCIMENTO, 2012) 
1.2 Um breve conceito da teoria da personalidade do ponto de vista teórico 
As teorias da personalidade buscam compreender a pessoa como um todo, 
para tanto, consideram os diversos fatores que compõem o funcionamento de um 
indivíduo como estando constantemente inter-relacionados, avaliando de que maneira 
estas relações ocorrem e geram um funcionamento total, isto é, os teóricos da 
personalidade estão interessados em saber quais são os aspectos constituintes do 
funcionamento das pessoas e como se dá a interação entre os processos que geram 
este funcionamento de forma integral. Isto requer mais do que o estudo de cada fator 
ou de cada processo separado, exige um estudo da complexidade que surge de suas 
inter-relações e a organização dessa rede enquanto um todo organizado e em 
funcionamento. Afinal, é desta forma que as pessoas realizam, na vida real, suas 
tarefas cotidianas. (PERVIN; JOHN, 2004. apud ROCHA, 2013) 
O teórico da personalidade aceitou uma responsabilidade pelo menos parcial 
de reunir e organizar os diversos achados dos especialistas. O experimentalista 
poderia saber muito sobre habilidades motoras, audição, percepção ou visão, mas em 
geral sabia relativamente pouco sobre como essas funções especiais se relacionavam 
umas com as outras. O psicólogo da personalidade estava, nesse sentido, mais 
preocupado com reconstrução ou integração do que com análise ou estudo segmental 
do comportamento. (HALL; et al., 2000. apud ROCHA, 2013) 
Deacordo com os teóricos da personalidade, as teorias da personalidade 
servem para juntar e sistematizar uma gama de observações e achados além de 
 
 
10 
 
sugerir o caminho para novas descobertas. Assim sendo, uma teoria da personalidade 
está em constante busca de explicar o que, como e por que os indivíduos são e agem 
de determinada maneira. Refere-se às características da pessoa, ou como diz respeito 
aos determinantes da personalidade, por exemplo: qual grau de influência e de 
interação entre fatores genéticos e ambientais no comportamento das pessoas. Já o 
porquê está relacionado às razões ou aos aspectos motivacionais que conduzem ou 
geram determinado comportamento e não outro. (PERVIN; JOHN, 2004. apud 
ROCHA, 2013) 
As teorias da personalidade diferem quanto aos tipos de unidades ou 
conceitos estruturais que utilizam, elas também diferem na forma como 
conceitualizam a organização dessas unidades. Algumas teorias envolvem 
um sistema estrutural complexo, segundo o qual muitos componentes estão 
ligados entre si de diversas maneiras. Outras teorias envolvem um sistema 
estrutural simples, segundo o qual alguns componentes apresentam poucas 
conexões entre si. [...] de maneira semelhante, as teorias da personalidade 
diferem em relação aos números e tipos de unidades estruturais que 
enfatizam, e em que medida enfatizam a complexidade ou a organização 
dentro do sistema. (PERVIN; JOHN. 2004. apud ROCHA, 2013) 
O que é possível afirmar é que, assim como outras teorias da personalidade, 
Beck buscava explicitar os aspectos em que deveriam conter um conceito atual de 
personalidade para atingir princípios básicos como o de unificação e organização, 
requisitos de uma teoria abrangente e geral de personalidade. Tal teoria abrangente 
deveria, segundo o autor, descrever o funcionamento da personalidade de forma 
integral, ou seja, deveria explicar como os sistemas interrelacionam-se, como 
evoluíram para adaptar-se ao ambiente, como operam os mecanismos de estabilidade 
e mudança, entre outros aspectos. 
Dessa forma, torna-se como uma condição básica dentro da teoria da 
personalidade as seguintes formas de análises: 
a) os critérios de uma teoria científica geral, pois como busca ser uma teoria científica, 
as teorias da personalidade precisam se submeter às mesmas exigências de clareza, 
abrangência, utilidade e parcimônia; 
 
 
11 
 
b) critérios básicos que constituem uma teoria da personalidade, quais sejam: 
estrutura, processo, crescimento e desenvolvimento, psicopatologia e mudança; 
c) requisitos que uma teoria da personalidade completa deve apresentar seu parecer, 
ou seja, sua perspectiva quanto à concepção de homem, motivação humana, aos 
determinantes internos e externos, os processos conscientes e inconscientes e a 
relação entre cognição, afeto e comportamento. (BECK; ALFORD, 2000. apud 
ROCHA, 2013) 
2 PERSONALIDADE NORMAL 
Segundo Kernberg (2006. apud SÁ, 2010), a personalidade normal é baseada 
em quatro aspectos estruturais. Em primeiro lugar, é caracterizado por um conceito 
integrado de si mesmo, o self, em conjunto com outros significativos, que se refletem 
"na consciência interna e na aparência externa da coerência do eu (self) e constituem 
um pré-requisito como forma de condição básica para uma autoestima normal, 
levando ao prazer a sensação de alegria em si mesmo e gosto pela vida". 
Para Sá (2010), essa sensação de integração possibilita um investimento 
emocional no outro, o que requer uma dependência que irá permitir a maturidade 
associada a uma consciência sólida sobre a autonomia. 
Em segundo lugar, deriva da identidade e força do self (ego), especificamente 
mostra a capacidade de sentir afeto e controlar impulsos, confiar, construir 
relacionamentos mútuos, o que é determinado pelas funções superegóicas. 
Terceiro, uma personalidade normalmente requer um superego maduro e 
integrado que se manifesta numa consciência de responsabilidade, habilidade para 
uma autocrítica realista, flexibilidade na tomada de decisões e compromisso com 
normas, valores e ideias. 
Quarto, torna-se necessária a condução adequada dos impulsos libidinais e 
agressivos, o que requer a plena expressão das necessidades sexuais e a sublimação 
 
 
12 
 
dos impulsos agressivos com assertividade, resistindo aos ataques sem exagero de 
uma reação excessiva e sem voltar-se a agressividade contra si mesmo (self) 
(KERNBERG, 2006. apud SÁ, 2010). Para Coleman (2005. apud SÁ, 2010), a 
normalidade baseia-se na flexibilidade no uso de mecanismos de defesa, a maioria 
de forma madura, apesar da possibilidade (reduzida) de usar mecanismos de defesa 
de forma imatura. 
Para Bergeret (2004. apud SÁ, 2010), a personalidade normal “corresponde a 
uma estrutura profunda, neurótica ou psicótica, não descompensada (e que talvez 
nunca o venham a estar), estruturas estáveis e definitivas em si que se defendem 
contra a descompensarão por uma adaptação à sua originalidade.” 
2.1 Mudança da personalidade 
A mudança de personalidade é atualmente definida no contexto terapêutico 
(ROGERS, 2007. apud SÁ, 2010) como uma mudança em nível estrutural, tanto 
superficial quanto profundo, em direção a uma estrutura mais madura, com maior 
integração de si e menos conflito interno. 
Rogers continua, no seu artigo original de 1957 e que continua a ser relevante 
nos paradigmas psicoterapêuticos de hoje, certificando que essa mudança só ocorre 
no contexto relacional da psicoterapia e posteriormente se estende às relações 
externas. (SILBERSCHATZ, 2007. apud SÁ, 2010) 
 Como caracteriza Sá (2010), no debate sobre esta questão, surge uma 
questão que divide os teóricos em dois grupos: se é possível ou não mudar a 
personalidade de um paciente, dentro do contexto psicoterapêutico, existem aqueles 
que argumentam que é possível mudar a personalidade básica de um sujeito e 
aqueles que argumentam que tal mudança não é possível. Para esclarecer este 
problema, tentaremos responder a duas questões que parecem essenciais na 
abordagem deste tema. 
 
 
13 
 
A personalidade está sujeita a mudanças? Em caso afirmativo, quais são os 
efeitos dessa mudança? Uma pesquisa recente sugere que os tratamentos 
psicodinâmicos e cognitivos, comportamental e farmacológico, promovem mudanças 
de personalidade (PIPER; JOYCE, 2001; PARIS, 2005. apud SÁ, 2010). De acordo 
com um estudo de Coleman (2005. apud SÁ, 2010), a terapia psicanalítica e cognitiva-
comportamental, tem efeitos sobre as mudanças nas cognições e defesas. 
Carl Rogers (2007. apud SÁ, 2010) sugere seis condições necessárias e 
suficientes para o processo de mudança de personalidade no contexto da 
Psicoterapia: 
I. É imprescindível que a relação seja estabelecida, no sentido de que seus 
dois intervenientes estarem em contato psicológico (sem relação, não há 
mudança); 
II. É preciso que o paciente esteja a vivenciar um estado de incongruência, 
sentindo-se vulnerável ou ansioso (ou seja, há uma discrepância entre a 
experiência atual e a forma como o indivíduo representa essa experiência). 
III. Apenas o terapeuta deve mostrar-se congruente, genuíno e integrado no 
contexto relacional; 
IV. O terapeuta deve aceitar os aspectos do paciente de forma incondicional, 
implicando em uma disposição para cuidar do outro, como uma pessoa 
separada, não possessiva ou como satisfação própria. 
V. O terapeuta deve experimentar uma compreensão empática do quadro de 
referência interno do paciente e encorajar a comunicação dessa experiência 
com o ele. Ou seja, o terapeuta deve ser capaz de sentir o mundo de seu 
paciente como se fosse seu, sem perder sua identidade. Somente se o 
terapeuta puder acessar livremente este mundo e percebê-lo genuinamente 
e empaticamente, é que ele consegue comunicar com o paciente estes 
aspectos, partilhando a linguagem e compreensão do mesmo; 
VI. A comunicação da compreensão empática do terapeuta e da aceitação 
incondicionalao paciente deve ocorrer em um nível mínimo, uma vez que 
 
 
14 
 
está presente no comportamento, palavras e atitude do terapeuta e é 
entendida, quando de uma boa relação, pelo paciente. 
Como aponta Sá (2010) nesta proposta, o autor sublinha que é necessária 
alguma persistência temporária desta relação e coloca as possibilidades de mudança 
nos fatores dessa relação em detrimento das técnicas utilizadas pelos diferentes 
modelos. Silberschatz critica Rogers no sentido da convicção de que com alguns 
pacientes é necessário concentrar-se nas técnicas utilizadas e que a mudança de 
personalidade em psicoterapia depende também das próprias características do 
paciente, seja diretamente pela motivação para a mudança, por exemplo, ou pelo que 
essas características pessoais sejam reativadas no terapeuta (processos 
contratransferenciais). 
Alguns estudos relacionados a mudança de personalidade (ROBERTS; 
MROCZEK, 2008. apud SÁ, 2010) têm mostrado que isso acontece de forma única e 
pessoal em diferentes fases da vida e combinada com diferentes experiências vividas. 
Quando comparados em estudos cross-sectional e longitudinais, adultos de meia-
idade apresentam valores mais altos de amabilidade e conscienciosidade do que 
adultos mais jovens e têm valores mais baixos na Extroversão, Neuroticismo e 
Abertura. 
Num outro estudo (ROBERTS; WALTON; VIECHBAUER, 2006. cit in 
ROBERTS & MROCZEK, 2008; ASENDORPF, 2008 apud SÁ, 2010), que utilizou o 
modelo dos Big Five, verificou-se que nos jovens adultos (20-40 anos) aumentou a 
extroversão (na sua dimensão de domínio social), a conscienciosidade e a 
estabilidade emocional, diminuindo o neuroticismo; a amabilidade aumenta 
significativamente entre os 50 e 60 anos e a abertura à experiência aumenta depois 
dos 22 anos, diminuindo aos 60 anos. A maior variação dos traços ocorre entre os 18 
e os 30 anos, estabilizando entre os 40 e os 50 e voltando a mudar entre os 50 e os 
60. 
 A maioria dos estudos relatados pelos autores descobriu que as mudanças 
foram positivas. Para McWilliams (2005. apud SÁ, 2010) do ponto de vista 
 
 
15 
 
psicanalítico, a personalidade pode ser significativamente alterada pela terapia, mas 
não pode ser transformada. As pessoas retêm seus roteiros e guias principais, 
conflitos, expectativas e defesas internas, embora mantenham a oportunidade de 
expandir sua autonomia e autoestima quando os componentes de sua personalidade 
básica são esclarecidos, independentemente de o contrato terapêutico conter ou não 
um acordo para mudar a personalidade, a consideração de sua natureza por ambas 
as partes facilitará o trabalho do relacionamento terapêutico. 
Segundo Debray e Nollet (2004. apud SÁ, 2010), os esquemas de transtorno 
de personalidade, ou seja, as perturbações existentes da personalidade são muito 
difíceis de mudar, sugerindo que a personalidade de um paciente não pode ser 
mudada. De acordo com estes autores, o que é possível fazer é reforçar um esquema 
alternativo ou orientar para uma perspectiva socialmente proveitosa para o cliente. 
Como tentativa para responder à nossa segunda pergunta, em relação a 
personalidade, se a mesma mudar, qual seria o aspecto que iria incidir nessa 
mudança? Livesley (2007. apud SÁ, 2010) compreendendo a personalidade como 
um sistema organizado de componentes e subsistemas, confirma que cada um dá 
origem a diferentes áreas da psicopatologia. Ele reconhece seis áreas de 
personalidade alterada/perturbada, como o componente sintomático (por exemplo, 
medo, ansiedade, depressão, impulsividade), mecanismos de controle que regulam 
emoções e impulsos, predisposições genéticas e o sistema interpessoal (que 
consistem em representações do outro, crenças, expectativas e estratégias 
comportamentais que influenciam o relacionamento), sistema do self (conjunto de 
esquemas utilizados para organizar a autoconsciência e autoconhecimento de forma 
coerente, o que confere estabilidade e direcionamento à experiência e direção à 
ação). 
Conforme a base desses dois últimos domínios interconectados é 
desencadeada a compreensão das regras que governam o comportamento humano 
(como a teoria da mente, o que irá sugerir um trabalho de mentalização). 
 
 
16 
 
Por fim, a última área está relacionada ao meio ambiente, pois o indivíduo 
seleciona, projeta e estrutura seu contexto para apoiar sua personalidade. Portanto, é 
necessário que o autor leve esses aspectos em consideração ao tentar intervir no 
contexto terapêutico dos transtornos de personalidade. Livesley (2007. apud SÁ, 
2010) define cinco fases que compõem o processo de mudança: 
Segurança: Ocorre no início do tratamento e respeita o momento de crise (perda do 
controle emocional, comportamento desorganizado, agressão a si mesmo, ou seja, 
virando-se para o self ou a para o outro), oferecendo uma estrutura de apoio e suporte. 
Contenção: Em conjunto com o anterior, visa conter impulsos e afetos e restaurar a 
capacidade de controlar o comportamento, o que requer forte aliança, afirmação, 
validação e compreensão empática. 
Controle e regulação: Essa fase continua após a superação da crise com o objetivo 
de reduzir os sintomas, a violência e os ataques ao self por meio da aquisição de 
habilidades e competências de autocontrole que compensem os déficits nos 
mecanismos reguladores do self. 
Exploração e mudança: O tratamento leva à exploração e modificação dos processos 
cognitivos, afetivos e motivacionais que estão por trás do problema do paciente. 
Integração e síntese: Quando se chega ao fim do tratamento, o mesmo irá exigir a 
integração de fragmentos da personalidade e a síntese de uma nova estrutura, 
nomeadamente dos limites interpessoais, de um Eu/self mais coerente e de uma 
representação mais integrada do outro. 
Para Livesley (2007. apud SÁ, 2010), por um lado, trabalhar no tratamento de 
personalidades perturbadas envolve construir uma relação de colaboração, manter 
um processo de tratamento consistente, promover a validação e construir a motivação 
e o compromisso com a mudança. Estas intervenções gerais permitem ao paciente a 
experiência a uma vivência de um self estável em sua relação (com o terapeuta), o 
que contribui para a construção de um self mais coerente. 
 
 
17 
 
 Como descrito por Sá (2010), em relação a intervenções mais específicas, 
reitera-se a importância de aumentar a autoconsciência para levar ao 
autoconhecimento (ampliando a visão dos pacientes sobre seus problemas e 
aspectos de si mesmos (self), especialmente aqueles com transtornos de 
personalidade, em que o conhecimento de si mesmo é limitado, desorganizado e 
compartilhado ou suprimido), proporcionar novas experiências (dentro e fora do 
contexto terapêutico, ou seja, experiências emocionais corretivas com o terapeuta que 
podem ser assimiladas e estendidas a outros contextos) e também novas 
aprendizagens. 
Para o autor, é impensável esperar que os pacientes façam mudanças 
profundas sem ajuda na criação de um novo roteiro de vida que os capacitará a 
entender o que está acontecendo com eles. Por outro lado, também é importante 
trabalhar com o paciente a questão da manipulação que leve a mudança em seu 
ambiente. A intervenção cognitiva desempenha um papel importante na modulação 
de padrões e esquemas de modos e pensamentos mal adaptativos. As intervenções 
psicodinâmicas são úteis na modificação de padrões cíclicos de comportamentos 
interpessoais e na manipulação do evitamento e outras estratégias que criam 
resistências ao tratamento. (LIVESLEY, 2008. apud SÁ, 2010) 
Como alega Sá (2010), dois níveis importantes de mecanismos de mudança 
são aqueles que envolvem o paciente e os que envolvem o processo terapêutico, 
incluindo as técnicas utilizadas pelo terapeuta. O nível dos mecanismos cognitivos e 
de defesa do paciente é um aspecto importante: na terapia cognitivo-comportamental, 
a incidência de intervenções paraalcançar mudanças está em cognições distorcidas. 
Na terapia psicanalítica, a intervenção passa por mecanismos de defesa. Do ponto de 
vista cognitivo-comportamental, os sintomas são causados por pensamentos 
automáticos desadaptativos o que chamamos de mal adaptativos que refletem a 
estrutura cognitiva. 
Este modelo teórico utiliza como técnicas o questionamento socrático, a 
psicoeducação e o coaching para observar e modificar padrões de pensamento, afeto 
 
 
18 
 
e comportamento. Do ponto de vista psicanalítico, a intervenção nos mecanismos de 
mudança é feita através das defesas, do tornar consciente o inconsciente ou da 
relação objetal, pela internalização do self e do outro. Neste modelo teórico, a relação 
é por si só uma ferramenta que estimula o uso de defesas mais maduras e promove 
o insight, através de técnicas interpretativas. (COLEMAN, 2005. apud SÁ, 2010) 
2.2 A Personalidade e sua mudança em psicoterapia 
O estudo da personalidade sempre despertou um interesse especial na área 
social e humana, o que levou a vários conceitos de personalidade que sofreram 
mudanças significativas desde a sua introdução. A complexidade desse tema levou a 
múltiplas definições, mas parece consensual que haja algo característico que torna 
cada indivíduo único. A personalidade, portanto, parece representar uma unidade 
integradora da pessoa, o que implica uma organização dinâmica dos aspectos 
cognitivos, afetivos, fisiológicos e morfológicos do indivíduo. (DIAS, 2004. apud 
GOMES, 2014) 
Assim, pode ser entendido como uma série de padrões rígidos de sentimentos, 
pensamentos e comportamentos em cada indivíduo. Na mesma linha Pervin e John 
(2004; cit in MARTINS; LOPES, 2010. apud GOMES, 2014) propõem uma definição 
centralizadora na qual assumem e consideram que a personalidade são as 
características da pessoa que explicam padrões consistentes de sentimentos, 
pensamentos e comportamentos. É de particular interesse como esses pensamentos, 
sentimentos e comportamentos se relacionam entre si para formar o indivíduo único e 
peculiar. Em outras palavras, são as características psicológicas que determinam a 
singularidade pessoal e social de cada indivíduo. (McMARTIN, 1995. apud GOMES, 
2014) 
Já Eysenck (1976; cit. in Dias, 2004 apud SILVA ANA; 2014) definiu 
personalidade como “a organização mais ou menos estável e persistente do 
carácter, temperamento, intelecto e físico do indivíduo, que permite o seu 
ajustamento único ao meio”. Deste modo, a personalidade assume uma linha 
de padrões básicos de comportamento, que vão sofrendo alterações ao longo 
do seu processo evolutivo através da aprendizagem, desenvolvimento e meio 
ambiente. (SAVASTANO, 1980. apud GOMES, 2014) 
 
 
19 
 
Todas as teorias da personalidade surgiram da tentativa de descrever e explicar 
como os indivíduos diferem em seu comportamento, em sua personalidade (JOHN, 
1999. apud GOMES, 2014). Do ponto de vista de um dos conceitos, a personalidade 
é vista como a integração dinâmica dos padrões de comportamento do sujeito com 
base no temperamento, caráter, sistema de valores internalizados e habilidades 
cognitivas (KERNBERG, 2006. apud GOMES, 2014). Existem vários modelos teóricos 
com base psicanalítica, mas todos eles se relacionam com processos dinâmicos, em 
contraste com os traços de personalidade, que neste caso são vistos como atributos 
estáticos. 
Assim, “as pessoas se organizam em dimensões que são significativas para si 
mesmas e apresentam características emblemáticas que expressam ambas as 
polaridades de uma dimensão proeminente e saliente” (McWILLIAMS, 2005. apud 
GOMES, 2014). Em contraste com as teorias psicológicas e cognitivas, a 
personalidade é percebida como uma série de padrões que permanecem estáveis ao 
longo do tempo, resultante de uma combinação de influências genéticas e do meio ao 
longo do desenvolvimento. Assim, a personalidade é percebida como uma série de 
características específicas que proporcionam um perfil individual estável. 
(ASENDORPF, 2008. apud GOMES, 2014) 
Portanto, faz sentido distinguir o conceito de personalidade de traços de 
personalidade, em que os últimos são definidos como uma unidade de análise 
comportamental, no entanto, a forma como eles estão relacionados não é semelhante. 
Assim, o caráter único e distinto que a personalidade confere a cada indivíduo inclui 
traços gerais semelhantes aos de outras pessoas. Portanto, duas pessoas com 
personalidades diferentes podem se comportar de forma semelhante. Dessa forma, o 
paradigma de traços é baseado na identificação das características de personalidade 
que são responsáveis pela consistência comportamental. (PAIM, 2002. apud SILVA, 
2014) 
Atendendo às várias definições de Personalidade, é indiscutível de que se 
trata de uma construção complexa, individual, que apresenta um 
desenvolvimento gradual. É assim entendida como um conjunto de traços que 
permitem diferenciar as pessoas entre si, no modo como agem e se 
 
 
20 
 
relacionam com a sociedade e com elas mesmas. (DORON; PAROT, 2001. 
apud SILVA, 2014) 
Quando se trata de mudanças de personalidade, Rogers (2007. apud SILVA, 
2014) a definiu como uma mudança que pode ser estrutural, superficial ou profunda, 
no sentido de que se pretende uma estrutura mais madura, com maior integração do 
eu/self, e isso significa menos conflito interno. No entanto, a mudança de 
personalidade no processo psicoterapêutico é um tema controverso, na medida em 
que alguns autores defendem essa possibilidade, outros consideram tal mudança 
impossível. Mas hoje sabemos que há estudos que mostram que tanto a terapia 
psicanalítica quanto a cognitivo-comportamental causam mudanças na 
personalidade. (LIVESLEY, 2008. apud SILVA, 2014) 
2.3 Estudos no âmbito das mudanças nos sintomas e na estrutura 
Para Silva (2014), por meio dos estudos do processo psicoterapêutico, é 
possível compreender como ocorrem as mudanças durante o tratamento e possibilitar 
identificar os mecanismos de ação terapêutica, bem como as variáveis que dependem 
da eficácia da psicoterapia. Estudos experimentais possibilitam estratégias de 
mudança terapêutica, nesse sentido, são apresentados alguns estudos que utilizaram 
instrumentos de avaliação para poder comparar a mudança em termos de sintomas e 
estrutura, no decorrer do processo terapêutico. 
Lingiardi e colaboradores (2010. apud SILVA,; 2014) conduziram um estudo de 
caso que descreve o curso de uma análise usando algumas ferramentas de 
instrumentos de avaliação, Shedler-Westen Assessment Procedure-200 - SWAP-200 
(SHEDLER; WESTEN, 2006. apud SILVA, 2014), a Defense Mechanism Rating Scale 
- DMRS (PERRY, 1990. apud SILVA, 2014) e a Analytic Process Scales - APS 
(WALDRON; SCHARF; CROUSE; FIRESTEIN; BURTON, 2004. e WALDRON; 
SCHARF; HURST; et al., 2004. apud SILVA, 2014) para estudar transcrições integrais 
de sessões. Essa avaliação foi realizada tanto pelo terapeuta, como por avaliadores 
independentes. 
 
 
21 
 
Como caracteriza Silva (2014), as transcrições foram avaliadas por dois anos, 
com a DMRS e a APS no início da análise e a cada seis meses, e com o SWAP-200 
a cada doze meses, porque não há mudanças na avaliação da personalidade antes 
do primeiro ano de terapia. No início, a paciente evidenciava traços obsessivos, 
paranoides e hostis, e de externalização. No que se refere à avaliação da capacidade 
funcional, ela se apresentou em um nível médio em comparação a uma amostra de 
pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade. No nível de defesa, estava 
localizado no nível neurótico e enfatizava a defesa contra a intelectualização e 
deslocamento. Ao fim do primeiro ano, assistiu-se a uma elevação na personalidade 
saudável, pela avaliação do SWAP-200, não apresentando critérios para um 
diagnóstico de perturbação de personalidade. 
 Conforme Silva (2014), ao mesmo tempo houve um aumento na função geral 
de defesa avaliadacom a DMRS. Do ponto de vista analítico, a produtividade geral da 
contribuição do paciente para a terapia melhorou em aproximadamente 12,5%. No 
final do segundo ano, obteve um ganho adicional de 2,9 pontos na classificação de 
alto desempenho do SWAP-200, resultando em um aumento geral de 49,34 para 
60,81, valores muito diferentes dos valores originais comparando com os nos iniciais. 
No nível de defesa, não houve mudança em seu estilo de defesa no domínio neurótico, 
mas houve diminuição na defesa neurótica e obsessiva e um aumento na defesa 
madura, com o desempenho geral da defesa sendo ligeiramente maior do que no final 
do primeiro ano de psicoterapia. 
Hersoug e colaboradores (2002. apud SILVA, 2014) conduziram um estudo 
com o objetivo de compreender se as mudanças observadas nos mecanismos de 
defesa predizem os resultados durante a psicoterapia psicodinâmica breve. Assim, 
eles compararam a mudança nos sintomas e nas defesas, sendo esta última avaliada 
por meio da escala DMRS e do questionário DSQ sobre estilo defensivo em uma 
amostra de 43 pacientes. Os autores deste estudo concluíram que o funcionamento 
geral defensivo teve melhorias só a partir da 16ª sessão, ao passo que os sintomas 
apresentaram uma melhoria logo no início da terapia. 
 
 
22 
 
Moreno e colaboradores (2005. apud SILVA, 2014) apresentaram um estudo 
de caso de 2 anos em psicoterapia psicodinâmica para avaliar o diagnóstico 
psicodinâmico e sua evolução. Para tal, os teóricos utilizaram material nas sessões 
de supervisão com as seguintes técnicas e instrumentos empíricos: o tema central da 
relação de conflito, ou seja, núcleo do relacionamento conflituoso (Core Conflitual 
Relationship Theme) (Luborsky; Crits-Christoph, 1990. apud SILVA, 2014), a 
Symptom Checklist-90-Revised (DEROGATIS, 1983. apud SILVA, 2014), e Elementos 
Diferenciais para um Diagnóstico Psicodinâmico (MORENO; et al., 1998. apud SILVA, 
2014). Assim, foi possível o reconhecimento de alguns fatores responsáveis pela 
mudança psíquica ao longo do processo psicoterapêutico, mostrando os benefícios 
da utilização de vários instrumentos de avaliação possibilitando uma análise mais 
completa acerca da evolução do paciente durante o tratamento. 
Por Malheiro (2012. apud SILVA, 2014), a personalidade e o mecanismos de 
defesa foram avaliados por meio de gravações de áudio de reuniões a cada seis 
meses com Shedler-Westen Assessment Procedure (SWAP-200) e o Defense 
Mechanism Rating Scales (DMRS), respetivamente, e o Symptom Checklist-90-
Revised (SCL-90-R) aplicado em três momentos distintos ao longo do processo 
psicoterapêutico. Com este estudo, a intenção era investigar as ligações entre as 
alterações da personalidade, o uso de determinados mecanismos de defesa e a 
redução dos sintomas em dois pacientes, seguido de psicoterapia pelo mesmo 
terapeuta durante um período de 2 anos. Dos resultados obtidos concluiu que em 
ambos os casos analisados, a mudança sintomática ocorreu de uma forma mais 
rápida do que ao nível estrutural, isto é, ao nível da personalidade e dos mecanismos 
de defesa. 
Loureiro (2012. apud SILVA, 2014) também realizou um estudo que teve como 
objetivo, observar a relação entre mudanças nos mecanismos de defesa e traços de 
personalidade durante todo o processo terapêutico em dois pacientes com 
personalidades diferentes. Para a avaliação dos mecanismos de defesa foi utilizada a 
escala Defense Mechanisms Rating Scales (DMRS) e, na avaliação das 
características de personalidade, o The Shedler-Westen Assessment Procedure 
 
 
23 
 
(SWAP-200). Foram analisadas 33 gravações áudio de sessões de duas pacientes do 
mesmo terapeuta sob psicoterapia de inspiração psicanalítica. 
 De acordo com Silva (2014), os resultados mostraram que diferentes pacientes 
e grupos de patologia levaram a uma taxa característica de mudança nos mecanismos 
de defesa. Os níveis globais de funcionamento defensivo na DMRS e os indicadores 
de saúde mental do SWAP-200 variaram no mesmo sentido em ambas as pacientes. 
A partir disso, concluiu-se que as flutuações na personalidade do paciente e na função 
de defesa estão relacionadas, o que é um forte indicador das mudanças estruturais 
encontradas ao longo do processo terapêutico. 
O estudo realizado por Marques (2012. apud SILVA, 2014) consistia em 
observar como as atitudes, comportamentos e interações do terapeuta mudam 
quando influenciados pelos traços de personalidade de seus pacientes. Para tal, 
analisou gravações áudio de sessões de duas pacientes em psicoterapia psicanalítica 
com o mesmo terapeuta durante dois anos e avaliadas utilizando o Psychotherapy 
Process Q-Set - PQS no início, 6, 12, 18 e 24 meses de terapia. 
A personalidade dos pacientes foi avaliada através do ShedlerWesten 
Assessment Procedure - SWAP-200 (SHEDLER; WESTEN, 1998. apud SILVA, 2014) 
e os resultados das terapias foram obtidos através do SCL-90-R (DEROGATIS; 
SAVITZ, 2000. apud SILVA, 2014). Dos resultados obtidos, foi constatado que o 
terapeuta foi mais claro, seguro e paternalista, com a paciente neurótica obsessiva, 
aderindo mais fortemente ao protótipo psicodinâmico com a paciente borderline e 
dependente, com quem foi adaptando mais a sua adesão a diferentes técnicas ao 
longo do tempo. 
 
 
 
24 
 
3 NOTA HISTÓRICA SOBRE AS PERTURBAÇÕES DE PERSONALIDADE NO 
DSM 
Conforme Gomes (2013), os transtornos de personalidade foram descritos pela 
primeira vez em uma publicação oficial como entidades diagnósticas separadas e 
distintas na primeira edição do DSM em 1952, e são definidas como defeitos de 
desenvolvimento ou tendências patológicas na estrutura da personalidade e foram 
divididas em três grupos: perturbações de padrão de personalidade, perturbações de 
traço de personalidade e perturbações de personalidade sociopática, seção que 
incluía diagnósticos de desvio sexual e abuso de substâncias. Cada um dos grupos 
referidos continha quatro categorias diagnósticas. 
Como destaca Gomes (2013), os principais pontos de crítica a este primeiro 
sistema de classificação foram a falta de critérios de diagnósticos essenciais e a falta 
de evidências empíricas. A descrição geral das perturbações de personalidade no 
DSM-II, publicado em 1968, quase não apresentou alterações em relação a 
publicação anterior e apenas acrescentou que essas patologias são muitas vezes 
identificáveis na adolescência ou até mesmo antes. Neste volume eram consagradas 
10 perturbações de personalidade específicas, bem como as categorias de 
diagnóstico “Outras perturbações de personalidade especificadas” e “Perturbação de 
personalidade não especificada”. 
De acordo com Gomes (2013), a publicação da 3ª edição do DSM, em 1980, 
introduziu o sistema multiaxial de organização da psicopatologia, estando as 
perturbações de personalidade incluídas no Eixo II, considerando-as em entidades 
nosológicas distintas das principais síndromes clínicas em Psiquiatria, podendo 
coexistir com estes mesmos. A definição geral de transtorno de personalidade 
esclareceu a distinção entre traços e transtornos de personalidade, enfatizando a 
necessidade de inflexibilidade, desajustamento e interrupção do funcionamento do 
indivíduo para que o diagnóstico do transtorno de perturbação fosse aplicado. 
 
 
25 
 
De acordo com Gomes (2013), este volume forneceu uma descrição mais 
abrangente de cada uma dessas patologias, para as quais os critérios diagnósticos 
politéticos foram estabelecidos pela primeira vez e 11 diagnósticos específicos foram 
definidos, organizados em 3 grupos ou “clusters”, bem como uma categoria residual 
reservada para perturbações de personalidade atípicas, mistas ou outras, conforme 
tabela: 
Fonte: eg.uc.pt 
Essas mudanças levaram a uma melhoria significativa na validade e 
confiabilidade dos diagnósticos em patologia de personalidade. A versão revista do 
DSM-III, publicada em 1987, foi publicada e orientadapor uma maior estabilidade na 
seção de transtornos de personalidade em relação as perturbações fazendo uma 
comparação com as edições anteriores. Bem como algumas mudanças de nome, 
incluindo a atribuição das letras A B e C aos diferentes “clusters/ aglomerados”, certos 
critérios diagnósticos, baseados na literatura e pesquisas empíricas disponíveis até o 
 
 
26 
 
momento, também foram modificados para alcançar maior objetividade e validade 
científica. 
Como relata Gomes (2013), no apêndice A foram adicionados dois novos 
diagnósticos em relação aos transtornos de personalidade sobre a questão das 
perturbações como por exemplo a personalidade sádica e autodestrutiva, tendo em 
vista que foram incluídos no apêndice A, tornando-se assim alvos para investigação 
futura no sentido de esclarecer a sua validade e utilidade clínica. No DSM-IV, 
publicado em 1994, a definição geral de transtornos de personalidade das 
perturbações foi expandida e os pré-requisitos para diagnosticar esses transtornos 
são apresentados na forma dos seguintes critérios diagnósticos gerais. 
A - Padrões persistentes de experiências e comportamentos internos que diferem 
significativamente do que é esperado na cultura do indivíduo em pelo menos duas das 
seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal e controle de 
impulsos. 
B - A rigidez desse padrão global se manifesta em uma ampla gama de situações 
pessoais e sociais. 
C - Estresse e sofrimento clinicamente significativo ou deficiência em áreas sociais, 
ocupacionais ou outras áreas funcionais importantes que podem ser atribuídas a este 
padrão. 
D - Estabilidade, longa duração e início da adolescência ou também início da idade 
adulta. 
E - O padrão não pode ser melhor explicado como uma manifestação ou consequência 
de outro transtorno de personalidade das perturbações. 
F - O padrão não se deve ao efeito fisiológico direto de uma substância ou de uma 
doença geral. 
Gomes (2013) aduz que nesta publicação apenas 10 diagnósticos específicos 
de transtornos de personalidade no eixo II foram definidos. Tendo a perturbação de 
personalidade passivo-agressiva sido transferida para o Apêndice B com a nova 
designação de perturbação de personalidade negativista, por não cumprir requisitos 
 
 
27 
 
de validade e utilidade clínica. O Apêndice B contou ainda com a inclusão da 
perturbação de personalidade depressiva. Transtornos de personalidade sádicos e 
autodestrutivos foram excluídos desta publicação. Os demais transtornos de 
personalidade permaneceram conceitualmente idênticos às suas versões na 
publicação anterior, sem prejuízo da inclusão de um maior número de informações 
empíricas relativas a cada categoria diagnóstica e mudanças nos critérios 
diagnósticos. 
Ainda de acordo com Gomes, também digno de nota é a inclusão de uma 
referência à possibilidade de conceituar a personalidade de um ponto de vista 
dimensional na nota introdutória à seção sobre patologia da personalidade, 
descrevendo brevemente alguns dos modelos mais importantes. Da revisão do DSM-
IV, publicada em 2000, resultaram apenas alterações pontuais ao texto de alguns dos 
diagnósticos específicos de perturbações de personalidade, bem como uma 
atualização da nota referente aos modelos dimensionais. 
3.1 Integração dos Modelos Dimensionais 
A tarefa de fornecer uma integração entre a nomenclatura no campo da 
psiquiatria relacionada aos transtornos de personalidade e os modelos dimensionais 
é algo que sofre uma considerável resistência. Como resultado dessa tentativa, uma 
série de problemas podem surgir como grandes preocupações. São elas: consenso, 
em termos estruturais, implementação e aplicabilidade/utilidade clínica. (WIDIGER, 
2007. apud GOMES, 2019) 
Existem, ao todo, 18 propostas de modelos dimensionais para os transtornos 
de personalidade. Esses modelos são bem diferentes entre si, ao ponto de 
dificultar o surgimento de um consenso para definições estruturais 
(WIDIGER, 2007 apud GOMES A; 2019). Uma alternativa proposta foi a de 
fornecer uma conversão de cada categoria diagnóstica em uma escala de 5 
pontos/domínios, possibilitando seu uso para a descrição dos perfis de 
personalidade. Porém, isso teria uma grande limitação: grande sobreposição 
diagnóstica de várias categorias diagnósticas. 
 
 
28 
 
No entanto, parece que implementar um modelo hierárquico unificado é 
possível, uma vez que os modelos têm objetivos comuns. A solução ideal seria não 
escolher entre um ou outro, mas obter um modelo que represente de forma integrativa 
as propostas existentes e que combine as contribuições e vantagens de cada um. 
(WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019) 
O principal objetivo da introdução de uma nomenclatura oficial é criar uma 
linguagem comum e facilitar o desenvolvimento de um sistema de diagnóstico 
universal. Este seria um passo importante para uma maior integração da psicologia e 
da psiquiatria (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019). Além disso, outro sistema de 
avaliação do comprometimento e funcionamento da personalidade é necessário para 
obter os vários graus de possíveis gravidades. (FEW, 2013. apud GOMES, 2019) 
Para Gomes (2019), a forma como ocorreria a implementação de um modelo 
dimensional na prática clínica é motivo de grande preocupação. Um benefício 
importante do uso de uma classificação dimensional seria a inclusão de vários valores 
limites que poderiam orientar as decisões na prática clínica (por exemplo, fornecer 
uma medicação particular, hospitalizar um paciente). Essa mudança na nomenclatura 
psiquiátrica ainda é considerada radical. No entanto, já existe um precedente no DSM-
IV-TR, no diagnóstico de retardo mental. 
A inteligência é um domínio que, como a personalidade, se distribui em uma 
gradação hierárquica e multifatorial, uma vez que os níveis de inteligência são 
derivados de uma interação complexa de vários fatores (genéticos, fetais, do 
desenvolvimento, do ambiente). O ponto de definição do diagnóstico é um QI de 70 
ou menor, que é associado a um comprometimento significativo. O principal 
argumento contrário a uma classificação dimensional dos transtornos de 
personalidade é sua utilidade clínica, constituindo o obstáculo mais importante no 
caminho de sua implementação. (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019) 
A proposta dimensional não foi aceita como um sistema de diagnóstico oficial, 
tendo sido incluída na seção III (emerging measures and models - medidas e modelos 
emergentes) para encorajar estudos futuros, esta decisão foi tomada devido ao apoio 
 
 
29 
 
limitado à pesquisa e a uma mudança muito repentina na prática clínica, no entanto, 
os componentes do modelo alternativo para transtornos de personalidade 
provavelmente desempenharão um papel importante nas novas versões do DSM. 
(FEW, 2013. apud GOMES, 2019) 
O termo personalidade traz diversas controvérsias em sua definição. O teórico 
Gordon Alport sugeriu que a personalidade pode ser entendida simplesmente como 
“O que a pessoa realmente é”. De acordo com o DSM-5, o transtorno de personalidade 
é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia 
fortemente das expectativas da cultura de um indivíduo, sendo este difuso e inflexível, 
começa na adolescência ou no início da idade adulta, permanece estável ao longo do 
tempo e leva a um considerável sofrimento e / ou restrições de prejuízos funcionais. 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014. apud GOMES, 2019) 
Os seguintes transtornos de personalidade estão incluídos no DSM-5: 
- Transtorno de personalidade paranoide: Esse tipo de transtorno de personalidade 
leva à desconfiança ou grande suspeita que as motivações dos outros são 
interpretadas como maliciosas. (GOMES, 2019) 
- Transtorno de personalidade esquizoide: São padrões que fazem com que o 
indivíduo se distancie das relações sociais e também adquira uma faixa restrita de 
prejuízo da expressão emocional. (GOMES,2019) 
- Transtorno da personalidade esquizotípica: Padrões de estresse e desconforto 
agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou perceptivas e 
excentricidades comportamentais. (GOMES, 2019) 
- Transtorno de personalidade antissocial: Diz respeito a comportamentos divergentes 
com outras pessoas, incluindo um sentimento exagerado da própria importância, bem 
como antipatia insensível em relação aos outros, englobando os traços de 
manipulação, insensibilidade, desonestidade e hostilidade. (JESUÍNO, 2019) 
 
 
30 
 
- Transtornos de personalidade borderline: O transtorno da personalidade borderline 
(TPB) pode ser caracterizado pela notável instabilidade em muitos, se não em todos, 
os aspectos do funcionamento da pessoa, incluindo relacionamentos, autoimagem, 
afeto e comportamento. (BECK; FREEMAN; DAVIS; et al., 2005. apud SILVA, 2018) 
- Transtorno de personalidade histriônica (TPH): Padrão predominante de procura por 
atenção e emocionalidade em excesso. As principais características são a 
necessidade de ser o centro das atenções, sentindo desconforto quando não o é, o 
uso de atributos físicos e vestimenta para chamar a atenção, os comportamentos 
excessivamente dramáticos e de teatralidade, a mudança rápida e superficial das 
emoções, e o estilo impressionista e carente de detalhes no discurso. (APA, 2013 
apud SETTE, 2019) 
- Transtorno de personalidade narcisista (TPN): Padrão invasivo de grandiosidade, 
necessidade de admiração e falta de empatia. Outras características presentes no 
diagnóstico são fantasias de sucesso ilimitado e poder, senso inflado de auto 
importância, crença de ser especial e merecedor de privilégios e de tratamento 
especial, comportamentos de manipulação para ganho próprio, e arrogância. Pessoas 
diagnosticadas com TPN também podem apresentar autoestima vulnerável, 
sentimento de vazio e sentimentos de angustia e tédio. (APA, 2013. CALIGOR; LEVY; 
YEOMANS, 2015. apud SETTE, 2019) 
- Transtorno de personalidade evitativa: É caracterizada sobretudo por uma evitação 
comportamental, emocional e cognitiva generalizada, que se explica por um medo 
intenso da avaliação negativa dos outros. (FONTES, 1997) 
- Transtorno de personalidade dependente: Se caracteriza, sobretudo, por uma 
excessiva necessidade de cuidado e proteção, que, pelo medo da separação, leva à 
submissão e a um intenso vínculo com o outro. (FONTES, 1997) 
- Transtorno de personalidade obsessivo–compulsivo (TPOC): Possui como principais 
características a preocupação com a organização e o perfeccionismo. Pessoas 
diagnosticadas com esse transtorno de personalidade dedicam-se excessivamente ao 
 
 
31 
 
trabalho, são conscienciosas, escrupulosas e inflexíveis com questões morais, éticas 
ou de valores; a dificuldade em descartar objetos também pode se fazer presente. O 
TPOC é um dos transtornos de personalidades mais prevalentes de todos, afetando 
aproximadamente de 2,1% a 7,9% da população; sendo que, nos homens, é duas 
vezes mais comum. (APA, 2013. apud MELCA, 2015) 
- Mudança de personalidade devido a outra condição médica: É uma perturbação 
persistente da personalidade entendida como decorrente dos efeitos fisiológicos 
diretos de uma condição médica (ex: lesão do lobo frontal). (AMERICAN 
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014. apud GOMES, 2019) 
4 A ABORDAGEM COGNITIVA-COMPORTAMENTAL E TRANSTORNOS DE 
PERSONALIDADE 
4.1 Transtorno da personalidade 
A possibilidade de tratamentos de transtornos de personalidade através da 
terapia cognitiva remonta desde Beck. A terapia cognitiva comportamental considera 
que os afetos desorganizados e a frequência de comportamentos e pensamentos 
autodepreciativos advêm de esquemas de pensamento disfuncionais, buscando 
alterá-los através de modificações na consciência do sujeito. (BECK, 2004. apud 
COSTA; VALÉRIO, 2008. apud PEREIRA, 2020) 
A personalidade é um dos construtos cognitivos de maior complexidade devido 
ao seu caráter tão multifacetado. Ressalta-se que a teoria cognitiva indicou uma 
importante direção no desenvolvimento adicional e abrangente da teoria da 
personalidade. Em Beck e Alford (2000. apud FIORAVANTE, 2014), encontra-se a 
seguinte definição de personalidade: 
[...] personalidade é o termo que aplicamos a padrões específicos de 
processos sociais, motivacionais e cognitivo-afetivos, cujos estudos 
individuais consistem as diferentes áreas de especialização de pesquisa 
psicológica [...] a formulação acima expressa uma visão um tanto nova de 
quais elementos devem ser incluídos em uma conceitualização científica 
 
 
32 
 
contemporânea de personalidade como um constructo unificador ou 
organizador para o comportamento humano complexo. (apud FIORAVANTE, 
2014) 
De acordo com Beck (2004. apud PEREIRA, 2020), as pessoas constroem 
esquemas cognitivos a partir da sua experiência de vida, essas estruturas são 
adaptáveis conforme o valor que tiveram para o sujeito ao longo da sua vida. 
Entretanto, suas estruturas cognitivas não são verdades absolutas para lidar com o 
cotidiano, e podem na verdade se tornar disfuncionais ao longo das suas novas 
possibilidades de vivência. É através dos esquemas que o sujeito se comporta, sente 
e interpreta novas realidades. 
Beck; et al. (2012. apud FIORAVANTE, 2014) sugeriram que os processos 
cognitivos, afetivos e motivacionais são determinados pelos esquemas 
idiossincrásicos que constituem os elementos básicos da personalidade. 
Em geral, pacientes apresentam transtornos cujas apresentações clínicas 
podem ser um pouco enganosas em virtude da prática de insistir em fixar um 
diagnóstico único ou principal. Porém, muitas pesquisas indicam que a maioria das 
pessoas apresentam, pelo menos, duas ou três comorbidades mentais associadas, 
categorizando-se em múltiplos diagnósticos (BECK, 1992. apud FIORAVANTE, 
2014). O tratamento de cada transtorno necessita de competências diferenciadas, o 
que implica em dizer que as estratégias e técnicas cognitivas utilizadas em transtornos 
clínicos leves e moderados não podem ser empregadas de maneira semelhante nos 
casos graves (BECK, 2000. apud FIORAVANTE, 2014). Um número crescente de 
diferentes transtornos e transtornos mais graves são tratados, atualmente, com 
terapia cognitiva. (BUTLER; BROWN; BECK & GRISHAM, 2002. BUTLER; et al., 
2006. BECK, 2000. BECK, 1997-1998. STUART; et al., 1997. apud FIORAVANTE, 
2014) 
Quando a pessoa passa constantemente por traumas ou eventos de muita 
agressividade, é possível que ocorra distorções nas estruturas, as chamadas 
distorções cognitivas, que consequente irão modificar sua forma de agir diante das 
 
 
33 
 
situações cotidianas, podendo ser, inclusive, mais prejudiciais para os outros e para 
si. (BECK, 1997. FORATO; BELUCO, 2019. apud PEREIRA, 2020) 
Grande parte do interesse renovado nos transtornos de personalidade decorre 
de pesquisas que demonstram que um diagnóstico de transtorno de personalidade é 
um bom preditor de má resposta ao tratamento psicológico e farmacológico por parte 
de pacientes com transtornos de ansiedade (BECK, 1994). Diversos estudos têm 
encontrado altas taxas de diagnóstico de transtorno de personalidade entre os 
pacientes com transtornos do Eixo I (transtorno de pânico, transtorno obsessivo-
compulsivo, ansiedade generalizada). (BECK, 1994. BECK, et al., 2001. apud 
FIORAVANTE, 2014) 
A teoria cognitiva propõe que as crenças relacionadas aos transtornos de 
personalidade perpetuam os comportamentos desses transtornos. (BECK; et al., 2001 
apud FIORAVANTE, 2014) 
Esses são explicados por esquemas negativos e disfuncionais que se 
desenvolvem cedo como estratégias de adaptação à vida e produzem julgamentos 
tendenciosos e erros cognitivos de forma consistente e em todos os aspectos da vida 
do indivíduo (BECK, 1998. apud FIORAVANTE, 2014). A combinação dessas 
estratégias promovidas pelo processamento de informações disfuncional e crenças 
negativassobre o self, os outros e as relações interpessoais gera afetos e influências 
motivacionais que estreitam os tipos de resposta do indivíduo diante das situações 
vivenciadas por ele. (BECK; FREEMAN, 1990; BECK,1998. apud FIORAVANTE, 
2014) 
As estruturas que estariam na base da personalidade têm características como 
amplitude (estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), 
densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são 
energizados) (MARTINS, 2010. BUTLER; et al., 2002). Pode-se afirmar que os 
esquemas nos transtornos de personalidade seriam amplos, rígidos, densos e 
hipervalentes. Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo 
que o estímulo seja inócuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais 
 
 
34 
 
adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento 
da informação. (BECK; DAVIS, 2005. apud FIORAVANTE, 2014) 
No livro “Terapia Cognitiva para os Transtornos de Personalidade”, Beck et al. 
(2012 apud FIORAVANTE, 2014) publicou uma lista de crenças disfuncionais as que 
foram associadas a transtornos de personalidade específicos. Essas crenças foram 
derivadas de conceituações individualizadas dos problemas do paciente e na geração, 
implementação e avaliação de estratégias de tratamento baseadas em conceituações 
de caso. A avaliação de crenças é um componente importante da terapia cognitiva 
dos transtornos de personalidade. Crenças disfuncionais formam o componente 
central das conceituações cognitivas, sendo o principal alvo de intervenção. Quando 
identificadas corretamente, as principais crenças disfuncionais refletem um ou mais 
temas conceituais que ligam o paciente à sua história de desenvolvimento, estratégias 
compensatórias e reações disfuncionais à atual situação de vida do paciente (BHAR; 
BECK; BUTLER, 2012. BUTLER; BROWN; DAHLSGAARD; NEWMAN; BECK, 2001. 
apud FIORAVANTE, 2014). Além disso, a avaliação de tais crenças também pode ter 
uma função diagnóstica. 
De acordo com Breschi (2013), a terapia cognitiva comportamental observa e 
percebe o transtorno de personalidade a partir do momento em que entra em contato 
com a história de vida do indivíduo e dessa maneira começa a conhecer como este 
estabeleceu os seus padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos. A 
TCC se relaciona com os esquemas, pois é a partir deles que o indivíduo estrutura as 
suas crenças e vão servir como base para interpretação das experiências vivenciadas 
por ele. Contudo, as crenças do indivíduo interferem principalmente nos pensamentos, 
afetos e comportamentos. As percepções das aprendizagens podem ser modificadas 
a depender dos esquemas da pessoa quando estes se tornam rígidos, ou seja, são 
pouco afetados pelas experiências vividas e podem afirmar e até sustentar a 
manifestação e surgimento de transtornos de personalidade ou esquemas 
disfuncionais. 
 
 
35 
 
4.2 Teoria de personalidade de Aaron Beck 
De acordo com Martins (2010), no campo da terapia cognitiva procuramos 
compreender a relação entre o que chamamos de personalidade e a adaptação do 
indivíduo ao meio em que está inserido. Neste sentido, a compreensão da 
personalidade não pode prescindir das teorias da herança filogenética. Claramente, 
como acontece em todas as espécies, as estratégias que favoreciam a sobrevivência 
e a reprodução foram mantidas pela seleção natural. Em relação a tais estratégias, 
quando pensamos na espécie humana, podemos dizer que nos ajudaram a chegar a 
este ponto, que podemos controlar razoavelmente a natureza e manipulá-la até certo 
ponto a nosso favor. Sabemos que quando relacionamos a questão das estratégias 
que favorecem a sobrevivência e a reprodução, as mesmas devem ser a base do que 
chamamos de personalidade. 
A discussão sobre personalidade dentro da Teoria Cognitiva avança desde 
estratégias baseadas na evolução, até uma consideração de como o 
processamento da informação, incluindo processos afetivos, antecede a 
operação destas estratégias. (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS, 
2010) 
Uma vez que o requisito e a demanda ambiental ocorrem, o indivíduo avalia as 
necessidades específicas para atender a esse requisito e ativa automaticamente uma 
estratégia que pode ou não ser adaptada ao contexto. Dessa forma, para Beck, Shaw, 
Rush e Emery (2005. apud MARTINS, 2010) como uma situação é avaliada depende, 
pelo menos em parte, das crenças subjacentes relevantes que são integradas em 
estruturas mais ou menos estáveis, os chamados “esquemas”, que selecionam e 
sintetizam informações. 
 Para Martins (2010), portanto, a sequência psicológica vai da avaliação ao 
estímulo afetivo e motivacional e, finalmente, à seleção e implementação da estratégia 
adequada. Os esquemas são considerados para a abordagem cognitiva, como sendo 
partes fundamentais da personalidade. E ele a define como uma organização 
relativamente estável de sistemas e padrões que são compostas por moldes. O 
sistema de estrutura interconectada (esquemas), responde por uma sequência que se 
 
 
36 
 
alonga a recepção do determinado estímulo ao ponto final de resposta 
comportamental. 
Segundo Beck; et al. (2005. apud MARTINS, 2010), traços de personalidade 
identificados por adjetivos como “dependente”, “isolado”, “arrogante” ou “extrovertido” 
são conceituados como uma expressão óbvia dessas estruturas subjacentes. Por sua 
vez, atribuímos os padrões de comportamento a traços (honesto, tímido, 
comunicativo), e que representa uma estratégia de relacionamento interpessoal 
desenvolvida a partir da interação entre os padrões genéticos e ao meio em que o 
indivíduo está inserido. 
Todos os perfis de personalidade têm suas raízes na história evolutiva de nossa 
espécie, e assim como todas as outras sofreram os efeitos da seleção natural, 
permanecendo no ambiente os representantes de cada uma delas que fossem mais 
aptos a se manter vivos e reproduzir. Portanto, o que chamamos de perfis de 
personalidade são o produto de estratégias mais eficazes que favoreceram a evolução 
da espécie humana. (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS, 2010) 
O comportamento dramático que atrai a atenção da personalidade histriônica 
pode ter suas raízes em rituais de exibição em animais não humanos; em todo o reino 
animal são observados o comportamento predatório e dependente, essa observação 
acontece pelo comportamento de apego (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS, 
2010). Todos os outros perfis estão de acordo no que diz respeito a comportamentos 
que foram e muitas vezes continuam a ser extremamente importantes para a 
adaptação do indivíduo. 
Para Beck; et al. (2005. apud MARTINS, 2010) embora os organismos não 
tenham consciência do objetivo final dessas estratégias biológicas, eles conhecem os 
estados subjetivos que refletem seu funcionamento de operação: fome, medo, 
estimulação sexual e recompensas ou punições. Todas elas orientadas para garantir 
a sobrevivência e a reprodução, ou seja, contribuindo para a adaptação do organismo. 
 
 
37 
 
4.3 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade 
 Conforme Martins (2010), quando se parte da ideia de que os perfis de 
personalidade são o resultado de estratégias que foram importantes na adaptação da 
espécie ao meio ambiente, resta responder como pode ocorrer os transtornos de 
personalidade. As estratégias que colaboram para a adaptação do sujeito também 
são o foco das psicopatologias. Mais especificamente, neste caso de transtornos de 
personalidade. 
Uma vez que os esquemas, essas estruturas que estariam na base da 
personalidade de cada um de nós, têm características estruturais como amplitude 
(estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), e 
densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são 
energizados), pode-se afirmar que os esquemas nos transtornos de personalidade, 
seriam amplos, rígidos,densos e hipervalentes. Uma vez hipervalentes, os esquemas 
são facilmente ativados, mesmo que o estímulo seja inócuo, esses esquemas inibem 
outros esquemas mais adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés 
sistemático no processamento da informação (BECK; DAVIS 2005. apud MARTINS, 
2010). Apesar da semelhança entre os esquemas dos transtornos de personalidade e 
os das síndromes sintomáticas, os primeiros operam sobre o processamento de 
informação em uma base mais contínua. 
Um esquema no transtorno de personalidade será ativado quase sempre e será 
parte do processamento da informação, normal e cotidiano, do indivíduo. A partir de 
semelhanças descritivas, os transtornos de personalidade são divididos em três 
grupos: 
- Grupo A: Transtornos de Personalidade Paranoide, Esquizoide e Esquizotípica. 
- Grupo B: Transtornos Antissocial, Borderline, Histriônico e Narcisista. 
- Grupo C: Transtornos de Personalidade Esquiva, Dependente e Obsessivo-
compulsiva. (APA, 2002. apud MARTINS, 2010) 
 
 
38 
 
Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002. apud MARTINS, 2010) o traço de 
personalidade é um padrão persistente de perceber, relacionar-se com e pensar sobre 
o ambiente e sobre si mesmo, que se manifesta em vários contextos sociais e 
pessoais. Esses traços, quando inflexíveis e desadaptativos, causam mal-estar 
subjetivo e prejuízo funcional significativo, caracterizando assim um transtorno de 
personalidade. 
4.4 Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) 
Com o desenvolvimento de uma terapia cognitiva para o tratamento da 
depressão em meados da década de 1960, Aaron Beck deu uma importante 
contribuição para a compreensão e o tratamento de doenças psiquiátricas; no entanto, 
seu plano sempre foi que o modelo cognitivo se adaptasse a outros transtornos e, ao 
fazer isso, provou ser bem-sucedido, principalmente no tratamento de transtornos de 
humor, ansiedade e abuso de substâncias e dependência. (KNAPP; BECK, 2008. 
apud CAVALCANTI; et al., 2016) 
A TC identifica e trabalha três níveis de cognição: pensamentos automáticos 
(PA), pressupostos subjacentes ou crenças intermediárias e crenças nucleares ou 
crenças centrais. É importante enfatizar que, todos nós temos crenças, pressupostos 
e PA tanto positivos quanto negativos, e o trabalho se refere aos disfuncionais. 
(KNAPP; BECK, 2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016) 
Pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes, crenças nucleares e o 
impacto do humor na cognição combinam-se para configurar um ciclo auto 
perpetuador observável em todos os transtornos. Um indivíduo pode ter 
crenças disfuncionais que o predispõem para a psicopatologia mesmo sem 
ter algum efeito perceptível, até que surge uma situação relevante que ativa 
essas crenças. Estas, por sua vez, ativam os PA, evocando um humor 
correspondente, cuja natureza depende deles. Esse humor, então, leva o 
indivíduo a tendenciar as memórias de tal forma que ele experiência mais PA 
disfuncionais, intensificando seu humor disfuncional. (KANAP; et al., 2004. 
CAVALCANTI; et al., 2016) 
Beck enfatiza a importância em estabelecer o empirismo colaborativo com o 
paciente, onde paciente e terapeuta irão trabalhar juntos para avaliar as crenças, 
 
 
39 
 
verificando se estão corretas ou não, e modificando-as de acordo com a realidade. 
Sendo também uma terapia psicoeducativa no sentido de fornecer conhecimento ao 
paciente para: 
1) monitorar e identificar pensamentos automáticos; 
2) reconhecer as relações entre cognição, afeto e comportamento; 
3) testar a validade de pensamentos automáticos e crenças nucleares; 
4) corrigir conceitualizações tendenciosas, substituindo pensamentos distorcidos por 
cognições mais realistas; 
5) identificar e alterar crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes a padrões 
disfuncionais de pensamento. (KNAPP; BECK, 2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016) 
Para Cavalcanti; et al. (2016), a terapia cognitiva (que consiste em avaliação, 
diagnóstico e plano de terapia) foi revolucionária, pois deu ao paciente autonomia para 
praticar a terapia fora das sessões. Com base na hipótese de que a cognição tem um 
grande impacto nas emoções e no comportamento, a TCC busca a reestruturação a 
partir de uma conceituação cognitiva do paciente e seus problemas. Inicialmente visa 
restaurar a flexibilidade, intervindo em suas cognições para encorajar mudanças nas 
emoções e comportamentos associados. 
Porém, ao longo do processo terapêutico, atua diretamente sobre os esquemas 
e crenças do paciente para estimular sua reestruturação. O terapeuta cognitivo 
também usa a resolução de problemas em paralelo à reestruturação cognitiva (BECK 
1964. apud BECK, 2013. apud CAVALCANTI; et al., 2016). De acordo com Beck 
(2013. apud CAVALCANTI; et al., 2016) a conceituação cognitiva é a formulação do 
caso com base na concepção dos transtornos emocionais do paciente. É a ferramenta 
mais importante que o terapeuta deve dominar, sendo este fundamental para um 
planejamento terapêutico adequado e eficaz, uma boa compreensão dos vieses 
cognitivos e dos consequentes comportamentos desajustados ou seja, mal 
adaptativos resultantes do paciente. 
 
 
40 
 
De acordo com Knapp e Beck (2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016), o 
princípio básico do TC de Aaron Beck é pautado em como as pessoas percebem e 
processam a realidade, já que nossas cognições têm uma influência controladora 
sobre nossas emoções e nosso comportamento, bem como agimos e nos 
comportamos. A terapia cognitiva é uma abordagem ativa, diretiva e estruturada que 
se concentra no aqui e agora, mas reverte ao passado quando se torna necessário 
examinar, concentra seu trabalho em reconhecer e corrigir crenças e padrões de 
pensamento disfuncionais e ajuda com soluções formais para trazer melhorias e 
mudanças no indivíduo. 
4.5 A terapia cognitiva 
Conforme Tavares (2005), o termo ´cognição’ é polissêmico e pode ser 
relacionado ao conteúdo do pensamento do ser humano, que leva ao 
desenvolvimento do mesmo e que é compreendido no ato de pensar. Dessa forma, 
é referência para a cognição os aspectos das maneiras de perceber e processar 
as informações, os mecanismos e conteúdo de memórias e lembranças, 
estratégicas e atitudes na resolução de problemas. A origem da terapia cognitiva 
é baseada em corretes filosóficas e em religiões antigas como o estoicismo grego, 
taoísmo e budismo que suplicavam a influência dos pensamentos onde formava 
as ideias sobre as emoções que eram geradas pelo mesmo. Contudo, a terapia 
Cognitiva é baseada na estimativa teórica de que os afetos e os comportamentos 
de um sujeito podem ser determinados em grande medida pelo seu modo de 
estruturar o mundo. Isso significa que a perspectiva sobre a visão do mundo 
dominada por uma pessoa, influencia a maneira como pensa, sente e age. 
Rangé (2001. apud TAVARES, 2005) frisa o fato de que, historicamente a 
Terapia Cognitiva teve como precursora a terapia racional-emotiva de Ellis, mas foi 
justamente Aaron T. Beck que lhe deu os contornos atuais. 
Nossos pensamentos agem diretamente na forma como nos sentimos e 
agimos, sendo assim, uma das formas de melhorarmos nosso estado de humor é 
 
 
41 
 
controlarmos nossos pensamentos, no sentido de que exerçam um efeito realista 
sobre a forma como nos sentimentos perante nós mesmos, ao mundo e a nosso futuro 
(tríade cognitiva). A forma como percebemos e avaliamos os acontecimentos externos 
e internos a nós irá determinar a forma como iremos nos sentir e consequentemente 
agir perante esses acontecimentos. Observando e descrevendo as emoções que 
sentimos, e fazendo uma conexão entre elas e o que vem previamente a esses 
sentimentos, podemos buscar fazer uma avaliação realística de nossos pensamentos, 
para que assim confrontemos os distorcidos e os sentimentos desagradáveis 
gratuitos, substituindo-os por pensamentos condizentes com a realidade. (BECK; et 
al., 1997 apud TAVARES, 2005) 
A

Continue navegando