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INTRODUÇÃO-A-TCC

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5 
2 INTRODUÇÃO A TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL ............... 6 
2.1 O contexto histórico da terapia cognitiva .............................................. 8 
2.2 Origens da terapia cognitiva ............................................................... 13 
2.3 A revolução cognitiva ......................................................................... 15 
2.4 A natureza da cognição ...................................................................... 17 
2.5 A terapia cognitivo-comportamental (TCC) ........................................ 18 
2.6 Fundamentos ..................................................................................... 19 
3 PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS ........................................................... 21 
3.1 Erros cognitivos: pensamentos automáticos distorcidos .................... 23 
4 AS CRENÇAS CENTRAIS ........................................................................ 25 
4.1 Crenças intermediárias ....................................................................... 27 
4.2 Princípios da terapia cognitiva para todos os pacientes ..................... 29 
4.3 Características básicas ...................................................................... 30 
4.4 Intervenção clínica em terapia cognitiva............................................. 32 
4.5 O princípio básico da terapia cognitiva e o modelo cognitivo de 
psicopatologia ........................................................................................................ 33 
4.6 Princípios, técnicas e estratégias de intervenção clínica.................... 36 
4.7 Técnica do questionamento socrático ................................................ 38 
4.8 Estratégias para a formulação de perguntas no questionamento 
socrático 39 
4.9 Observações clínicas do fenômeno cognitivo .................................... 40 
4.10 Esquemas ....................................................................................... 46 
4.11 Tipos de esquemas ......................................................................... 50 
4.12 O modelo cognitivo em uma versão inicial ...................................... 51 
4.13 A teoria de modos ........................................................................... 53 
 
3 
 
5 RELAÇÃO TERAPÊUTICA ....................................................................... 58 
5.1 Características e habilidades fundamentais do terapeuta .................. 59 
5.2 O funcionamento da relação terapêutica ............................................ 61 
5.3 Fim da relação .................................................................................... 66 
6 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA ............. 67 
6.1 Aliança em geral ................................................................................. 67 
6.2 Aliança terapêutica ............................................................................. 67 
6.3 Aliança na terapia cognitivo-comportamental ..................................... 69 
6.4 Vinculação .......................................................................................... 71 
6.5 Resistência ......................................................................................... 73 
6.6 Resistência de validação .................................................................... 73 
6.7 Resistência da vítima ......................................................................... 74 
6.8 Resistência moral ............................................................................... 74 
6.9 Resistência esquemática .................................................................... 75 
6.10 Autoconsciência .............................................................................. 75 
6.11 Risco aversão ................................................................................. 76 
6.12 Autosistema de desvantagens ........................................................ 77 
6.13 Competências do terapeuta ............................................................ 78 
6.14 Micro competências ........................................................................ 82 
6.15 Capacidades ................................................................................... 83 
6.16 Competências terapêuticas na condução da terapia cognitiva ....... 86 
6.17 Sequência interpessoal ................................................................... 87 
6.18 A empatia como facilitador da relação terapêutica .......................... 90 
7 NO PROCESSO TERAPÊUTICO ............................................................. 95 
7.1 Evoluindo no processo terapêutico .................................................... 97 
8 CHEGANDO ÀS CRENÇAS CENTRAIS ................................................ 100 
9 FINALIZANDO O PROCESSO ............................................................... 103 
 
4 
 
10 AVALIAÇÃO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ............................... 103 
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................... 106 
12 BILBIOGRAFIA .................................................................................... 109 
 
 
 
 
 
5 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
2 INTRODUÇÃO A TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL 
 
Fonte: actinstitute.org 
A Terapia Cognitiva é uma prática que pode ser considerada recente no 
universo terapêutico, tendo sido extensamente testada desde o primeiro estudo de 
resultado em 1977 (Beck, 1997b; apud GONÇALVES C; 2014). A partir dos primeiros 
movimentos exploratórios de Aaron Beck, e ao longo de todo o material já 
desenvolvido até a época atual, nota-se o foco de sua teoria e prática terapêutica 
voltado para os estudos da psicopatologia e elaboração de modelos psicoterapêuticos 
(Beck, Rush, Shaw, e Emery, G., 1997a; Knapp e Beck, 2008 apud GONÇALVES C; 
2014). 
Como afirma Knapp (2004 apud GONÇALVES C; 2014), os primeiros estudos 
importantes e as primeiras abordagens cognitivo-comportamentais para o tratamento 
dos transtornos emocionais começaram a surgir na década de 60 com autores como 
Aaron Beck (1963, 1967, 1976; apud GONÇALVES C; 2014), Albert Ellis (1994; apud 
GONÇALVES C; 2014), Lazarus (1966; apud GONÇALVES C; 2014), Meichenbaum 
(1973; apud GONÇALVES C; 2014) e Mahoney (1974; apud GONÇALVES C; 2014), 
entre outros. 
 
 
http://actinstitute.org/
 
7 
 
Tal movimento se deu em prosseguimento a um período em que, para alguns 
pesquisadores e historiadores (Gardner, 1996; Baars, 1986; apud GONÇALVES C; 
2014) ocorreu a chamada “revolução cognitiva”, a partir da qual processos cognitivos 
como pensamentos, percepções, crenças, memórias, etc., começaram a ser 
investigados cientificamente, em confronto com a hegemonia do movimento 
behaviorista,que considerava qualquer investigação com conteúdos mentais não 
científica. 
Segundo Dobson (2001; apud GONÇALVES C; 2014), todas as terapias 
cognitivo-comportamentais derivam de um modelo cognitivo prototípico e 
compartilham alguns pressupostos básicos, mesmo quando apresentam diferentes 
abordagens conceituais e estratégicas nos diversos transtornos. 
Sendo assim existem algumas proposições fundamentais que definiriam 
as características que estão no núcleo das terapias cognitivo-comportamentais: 
 A atividade cognitiva influencia o comportamento; 
 A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada e; 
 O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança 
cognitiva. 
 Pensamentos automáticos; 
 Identifica comportamentos negativos e limitantes – especialmente por 
trás de doenças, sem olhar a doença em si, mas analisando os 
comportamentos da pessoa doente; 
 Cria estratégias para trocar comportamentos disfuncionais por 
comportamentos benéficos; 
 Identifica quais sentimentos, emoções e pensamentos estão 
relacionados a esses comportamentos; 
 Busca uma reestruturação cognitiva, elaborando pensamentos 
alternativos e flexíveis; 
 Identifica as distorções cognitivas, elaborando pensamentos alternativos 
e flexíveis; 
 Identifica as distorções cognitivas que prejudicam a forma saudável de 
pensar (generalização, vitimização, personalização, catastrofização, 
entre outros); 
 
8 
 
 Busca as crenças que fazem a pessoa pensar de determinadas 
maneiras, reformulando o sistema de esquemas e crenças; 
 Busca a raiz das crenças, o evento ou experiência que gerou essa 
crença, resinificando essas memórias de dor e amenizando o impacto 
emocional. 
Em 1956, Aaron Beck (Beck e Alford, 2000; apud GONÇALVES C; 2014) dá 
início à história da Terapia Cognitiva na tentativa de fornecer apoio empírico para 
certas formulações psicodinâmicas de depressão, que Beck entendia como certas na 
época, encontrando alguns fenômenos inconsistentes com o modelo psicanalítico, 
especificamente a conceitualização psicanalítica de Freud que afirma que pacientes 
deprimidos manifestam hostilidade retrofletida, expressada como masoquismo, ou 
uma necessidade de sofrer. 
 Entretanto, diante de respostas de sucesso em atribuições de tarefa graduada 
em ambiente controlado, os pacientes deprimidos pareciam melhorar em vez de 
resistir a tais experiências. Após novos estudos empíricos o resultado foi a 
reformulação da depressão como um transtorno caracterizado por uma profunda 
tendência negativa. A teoria cognitiva de psicopatologia e psicoterapia vai então 
considerar a cognição como a chave para os transtornos psicológicos. 
Dessa forma, segundo Beck (1964; apud GONÇALVES C; 2014) e Ellis (1994; 
apud GONÇALVES C; 2014), a Terapia Cognitiva baseia-se no modelo cognitivo, que 
levanta a hipótese de que as emoções e comportamentos das pessoas são 
influenciados por sua percepção de eventos. Não é uma situação por si só que 
determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam e 
pensam sobre a situação. 
A Psicologia Cognitivo-comportamental vem ganhando espaço entre as 
diversas abordagens teóricas, principalmente pela sua objetividade e eficácia 
terapêutica, o que pode ser considerado uma vantagem no tratamento de 
diversos problemas, bem como de alguns transtornos psiquiátricos 
(NEUFELD; CAVENAGE, 2010; apud Karbonara K; 2014). 
2.1 O contexto histórico da terapia cognitiva 
A terapia cognitiva foi desenvolvida por Aaron T. Beck, na Universidade da 
Pensilvânia no início da década de 60, como uma psicoterapia breve, estruturada, 
orientada ao presente, para depressão, direcionada a resolver problemas atuais e a 
 
9 
 
modificar os pensamentos e os comportamentos e os comportamentos disfuncionais 
(Beck, 1964;). 
Desde aquela época, Beck e outros vêm adaptando com sucesso essa terapia 
para um conjunto surpreendentemente diverso de populações e desordens 
psiquiátricas (ver, por exemplo, Freeman & Beck, 1989;). Essas adaptações mudaram 
o foco, a tecnologia e a duração do tratamento, porém os pressupostos teóricos em si 
permaneceram constantes. 
Resumidamente, o modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou 
disfuncional (que influencia o humor e o comportamento do paciente) seja comum a 
todos os distúrbios psicológicos. 
A avaliação realista e a modificação no pensamento produzem uma melhora 
no humor e no comportamento. A melhora duradoura resulta da modificação das 
crenças disfuncionais básicas dos pacientes. 
Diversas formas de terapia cognitivo – comportamental foram desenvolvidas 
por outros teóricos importantes, notadamente a terapia racional – emotiva de Albert 
Ellis (Ellis, 1962), a modificação cognitiva – comportamental de Donald Meichenbaum 
(Meichenbaum, 1977) e a terapia multimodal de Arnold Lazarus (Lazarus, 1076). 
Contribuições importantes foram feitas por muitos outros, incluindo Michael 
Mahoney (1991), Vittorio Guidano e Giovanni Liotti (1983;). Panoramas históricos da 
área fornecem uma rica descrição de como as diferentes correntes da terapia 
cognitiva se originaram e cresceram (Arnkoff & Glass, 1992; Hollon & Beck, 1993;). 
A terapia cognitiva, conforme desenvolve e refinada por Aaron Beck, é 
enfatizada como singular no sentido de que é um sistema de psicoterapia com uma 
teoria da personalidade e da psicopatologia unificadas, apoiadas por evidências 
empíricas substanciais. 
Ela tem uma terapia operacionalizada com uma ampla gama de aplicações 
também apoiadas por dados empíricos, que são prontamente derivados da teoria. A 
terapia cognitiva foi extensamente testada desde a publicação do primeiro estudo de 
resultado, em 1977 (Rush, Beck, Kovacs & Hollon, 1977). 
 
 
 
 
10 
 
Estudos controlados demonstraram sua eficácia no tratamento do transtorno 
depressivo maior ( Ver Dobson, 1989 apud GONÇALVES C; 2014, para uma meta-
análise), transtorno de ansiedade generalizada ( Butler, Fennell, Robson & Gelder, 
1991;), transtorno do pânico (Barlow, Craske, Cerney & Klosko, 1989; Beck, Sokol, 
Clark, Berchick & Wright, 1992; Clarck, Salkovski, Hacmann, Middleton & Geider, 
1992), fobia social ( Gelernter et al., Heimberg et al., 1990;), abuso de substância ( 
Woody et al, 1983), transtornos alimentares ( Agras et. Al., 1992; Fairburn, Jones, 
Peveler, Hope & Doll, 1991; Garner et al., 1993), problemas de casais (Baucom, Syers 
& Scher, 1990; apud GONÇALVES C; 2014) e depressão de pacientes internados 
(Bowers, 1990; Miller, Norman, Keitner, Bishop & Dow, 1989; Thase, Bowler & Harden, 
1991). 
A terapia cognitiva está correntemente sendo aplicada no mundo inteiro como 
o único tratamento ou como um tratamento adjuntivo para outros transtornos. Alguns 
exemplos são transtorno obsessivo- compulsivo (Salkovskis & Kirk, 1989;), 
transtornos de estresse pós-traumático (Dancu & Foa1992; Parrot & Howes, 1991;), 
transtorno da personalidade (Beck et al.., 1990; Layden, Newman, Freeman & Morse, 
1993; Youg, 1990), depressão recorrente (R. DeRubeis, comunicação pessoal, 
outubro 1993), dor crônica, (Miller, 1991; Turk, Meichenbaum & Genest 1983), 
Hipocondríase ( Warwick & Salkovskis, 1989) e esquizofrenia ( Chadwick & Lowe, 
1990; Kingdon & Turknington, 1994; Perris, Ingelson & Johnson, 1993). 
A terapia cognitiva para populações diferentes de pacientes psiquiátricos está 
sendo estudada: internos em prisões, crianças escolares, pacientes médicos com uma 
ampla variedade de doenças, entre muitos outros. 
Persons, Burns e Perloff (1988) verificaram que a terapia cognitiva é efetiva 
para pacientes com diferentes níveis de educação, renda e background. Ela foi 
adaptada para trabalho com pacientes de todas as idades, da pré-escola (Knell,1993;) 
até os idosos (Casey & Grant, 1993; Thopson, Davies, Gallagher & Krantz, 1986;). 
A terapia cognitiva tem o tratamento individual, e também foi modificada para 
terapia de grupo(Beutler et al., 1987; Freeman, Schrodt, Gilson & Ludgate, 1993;), 
para problemas de casais (Baucom & Epstein, 1990; Dattilio & Padesky, 1990) e para 
a terapia familiar (Bedrosian & Bozicas, 1994; Epstein, Schlesinger & Dryden, 1988;). 
 
 
11 
 
Com tantas aplicações, como a terapia cognitiva permanece 
reconhecível? 
Em todas as formas de terapia cognitiva que fora derivada do modelo BECK, o 
tratamento baseia-se tanto em uma formulação cognitiva de um transtorno específico 
como em sua aplicação á conceituação ou entendimento do paciente individual. 
 O terapeuta busca, de uma variedade de formas, produzir a mudança 
cognitiva- mudanças no pensamento e no sistema de crenças do paciente, visando 
promover mudança emocional e comportamental duradoura. 
Para um melhor entendimento do caminhar evolutivo da Terapia Cognitiva, 
faz-se necessário observar os estudos relacionados ao desenvolvimento na 
teoria e tratamento da depressão, iniciado por Beck na década de 60. O 
modelo cognitivo do tratamento da depressão surgiu como uma alternativa 
aos modelos psicanalítico e behaviorista, preponderantes na época (Beck, 
Clark e Alford, 1999 apud; Gonçalves Carlos 2014). 
Descontentamentos relacionados aos dois modelos surgiram por estes não se 
mostrarem mais suficientes para a tarefa de explicar o fenômeno da depressão. É 
neste contexto que a Terapia Cognitiva de Beck surge como uma abordagem 
alternativa de teoria e tratamento, observando-se a transição de uma teoria radical 
behaviorista estímulo-resposta para uma perspectiva cognitiva de processamento de 
informação. Entretanto, a Terapia Cognitiva não foi um mero resultado de um 
emergente zeitgeist cognitivo por volta dos anos 70. O fator de maior influência para 
o desenvolvimento do modelo cognitivo foram os experimentos de Beck e suas 
observações clínicas. 
Segundo Beck, Alford e Clark (1999ª), nos anos 60, a teoria e terapia 
psicanalítica dominavam a perspectiva psicológica da depressão. Esta era baseada 
na formulação psicanalítica freudiana publicada em Luto e Melancolia (Freud, 1917;), 
que caracterizava a depressão como raiva retrofletida resultado de perda de objetos 
próximos que se tornaram parte do ego da pessoa depressiva. 
A noção real ou imaginária de perda de um objeto amado junto com o conceito 
de raiva retrofletida formavam a pedra fundamental do entendimento psicanalítico da 
depressão, e os psicanalistas viam os sintomas como a autocrítica ou a auto 
discriminação, muito característicos na depressão, como confirmadores do conceito 
de hostilidade retrofletida. 
 
 
12 
 
Conceitos posteriores como a proeminência de características da fase anal 
(obsessividade) e oral (dependência) presentes na personalidade do depressivo, ou a 
perda da autoestima, onde o ego vê-se em uma situação sem esperança e 
desamparada, dentre outros, também tomaram lugar na perspectiva psicanalítica mais 
do que o conceito de processos intrapsíquicos como a depressão retrofletida. 
Apesar da influência dos conceitos psicanalíticos em evolução, havia uma 
considerável insatisfação com a teoria e tratamento psicanalíticos uma vez que muitos 
dos conceitos centrais do modelo não podiam ser operacionalmente definidos com 
suficiente precisão para permitir investigações empíricas. 
 Além do mais, quando pesquisas experimentais eram realizadas, predições 
derivadas do modelo não eram validadas. Pelo lado behaviorista, o modelo de 
depressão nos anos de 1960 e início de 1970 era primariamente baseado no 
condicionamento operante da teoria da aprendizagem, que via a depressão como uma 
resposta super generalizada (perda de interesse e prazer em uma gama de 
atividades), acionada por um determinado estímulo ou evento, e teorias recentes 
consideram a redução na efetividade de reforço positivo como o problema central da 
depressão. 
Apesar da evolução de modelos da depressão, e da compatibilidade com o 
método experimental, a deficiência destas teorizações continuou a ser questionada 
com relação à validade como modelo clínico da depressão. 
Como era de se supor, as teorias e terapias behavioristas e psicanalistas da 
depressão sofreram intensas críticas em meados dos anos 70. A teoria mais influente 
adotada por behavioristas, a Teoria do Desamparo Aprendido de Martin Seligman 
(1975) era na verdade uma teoria que não se baseava exclusivamente em conceitos 
comportamentais, e usava construtos cognitivos para explicar os fenômenos da 
depressão ou da ansiedade. 
Foi durante este período de descontentamento que prevalecia nos modelos 
psicológicos da época, que a abordagem de Beck sobre a depressão como transtorno 
do pensamento, ganhou o interesse de clínicos e pesquisadores com orientação 
behaviorista (Beck et al., 1999ª). 
 
13 
 
2.2 Origens da terapia cognitiva 
De acordo com Sternberg (2010 apud GONÇALVES C; 2014), por mais longe 
que os registros possam ir na direção do passado, esses relatos documentados não 
registram os primeiros esforços para compreender como os seres humanos pensam. 
Entretanto de uma forma geral atribui-se as origens das bases mais antigas da 
psicologia cognitiva à filosofia e à fisiologia. Os problemas levantados nesses dois 
campos continuam a influenciar a maneira pela qual a psicologia cognitiva se 
desenvolve. 
Sternberg (2010 apud GONÇALVES C; 2014) acredita que a oposição entre as 
ideias de Platão e Aristóteles continuam a influenciar o modo de conceber a cognição. 
Aristóteles, um naturalista e biólogo tanto quanto um filósofo, acreditava que a 
adquirimos conhecimento pela evidência empírica, obtida por meio da observação. 
Por sua vez, Platão achava que métodos empíricos têm pouco mérito, pois a 
verdadeira realidade situa-se nas formas abstratas, e não nas cópias imperfeitas da 
realidade observáveis no mundo externo as nossas mentes. 
É uma discussão presente nos dias atuais entre psicólogos cognitivos, as 
capacidades e aptidões, como a habilidade linguística ou a inteligência, são inatas, 
como uma posição platônica sustenta, ou adquiridas por meio de interações com o 
ambiente, como sustenta Aristóteles. Muitos psicólogos cognitivos contemporâneos 
buscam uma síntese que permita uma combinação entre essas duas visões. 
Sternberg (2010 apud GONÇALVES C; 2014) acredita que esta oposição entre 
as ideias contrastantes do Racionalismo e Empirismo, se acentua a partir das obras 
do racionalista francês René Descartes (1596-1650 apud GONÇALVES C; 2014), que 
considerava o método introspectivo e reflexivo como superior aos métodos empíricos 
para se encontrar a verdade; e do empirista inglês John Locke (1632 – 1704 apud 
GONÇALVES C; 2014), adepto do método da observação empírica, acreditando que 
os seres humanos nasciam sem qualquer conhecimento e precisando busca-lo 
através da experiência empírica, cunhando o termo tábula rasa que se referiria à 
mente humana nascida vazia que seria preenchida pelos caracteres inscritos pela vida 
e a experiência. No século XVIII surge o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804 
apud GONÇALVES C; 2014), que tenta sintetizar as posições do Racionalismo e do 
Empirismo. 
 
14 
 
Para Kant, inatas são as estruturas da mente, as do pensamento e as dos 
sentidos, e adquiridos são os dados captados pelos sentidos. Ou seja, para Kant a 
forma do conhecimento é inata, mas o conteúdo vem da experiência. Mais à frente, 
Wilhelm Wundt (1832-1920 apud GONÇALVES C; 2014) contribuiu com suas ideias 
para o desenvolvimento do Estruturalismo, considerado a primeira grande escola de 
pensamento na Psicologia, que tem como característica básica buscar entender a 
estrutura da mente e suas percepções pela análise dessas percepções em seus 
componentes construtivos. 
 Wundt, considerado o fundador da Psicologia Experimental, utilizava uma 
grande variedade de métodos em suas pesquisas, sendo uma delas a introspecção 
experimental, que consiste em um olhar interior pelas informaçõesque passam pela 
consciência. 
Como alternativa ao Estruturalismo, surge o Funcionalismo, sugerindo que os 
psicólogos devessem se concentrar mais nos processos de pensamentos do que em 
seus conteúdos, buscando entender o que as pessoas fazem, e por que as pessoas 
fazem. Willian James (1842-1910 apud GONÇALVES C; 2014) foi personagem 
importante nesse processo. 
Assim como o Funcionalismo, o Associacionismo foi mais uma escola influente 
na Psicologia, e consistia em investigar como os eventos e as ideias podem se 
associar na mente propiciando a aprendizagem. Hermann Ebbinghaus (1850-1909 
apud GONÇALVES C; 2014) foi o primeiro pesquisador a aplicar os princípios do 
associacionismo de maneira sistemática. 
Em rejeição ao behaviorismo radical que não via qualquer utilidade para os 
conteúdos ou mecanismos mentais e que orientava os psicólogos a se concentrar no 
estudo do comportamento observável, surgem alguns trabalhos de psicólogos 
chamados neobehavioristas, dentre eles Edward Tolman (1886-1959; apud 
GONÇALVES C; 2014), que acreditava que para entender o comportamento era 
necessário se levar em conta o propósito e o plano para o comportamento, sendo o 
comportamento dirigido a algum objetivo. Para alguns, Tolman é considerado como o 
precursor da Psicologia Cognitiva. 
 
 
 
15 
 
E por último nesse relato histórico, não se pode deixar de comentar o 
movimento da Gestalt, também crítica ao behaviorismo, pois em sua visão não se 
compreende totalmente um comportamento quando se desmembram os fenômenos 
em partes menores. 
Para a Gestalt, dentro de sua máxima: o todo é diferente da soma de suas 
partes, compreendem-se melhor os fenômenos psicológicos quando se olha para eles 
como todos organizados e estruturados. 
O Cognitivismo é uma abordagem mais recente, que acredita que grande 
parte do comportamento humano pode ser compreendida a partir de como as 
pessoas pensam, sendo o Cognitivismo, em parte, uma síntese das formas 
anteriores de análise como o Gestaltismo e o Behaviorismo (Sternberg, 2010 
apud Gonçalves Carlos 2014). 
2.3 A revolução cognitiva 
Por volta dos anos 20, 30 e 40, um intenso direcionamento de estudos voltados 
a cognição, possibilitou desafiar a hegemonia do movimento behaviorista, que não 
considerava como científica qualquer investigação que tivesse como objetos 
conteúdos mentalistas, tais como pensamentos, percepções, crenças, memórias, 
desejos etc. 
 Avanços tecnológicos das ciências da informação e da computação, e novas 
pesquisas sobre o modelo neural do comportamento, levaram pesquisadores como o 
matemático e neurofisiologista Warren MacCulloch, o matemático John Von Newmann 
e o psicólogo Karl Lashley a se reunirem em um simpósio, em 1948, sobre 
Mecanismos Cerebrais do Comportamento, realizado no California Institute of 
Technology com o intuito de compartilhar suas pesquisas que tinham em comum o 
impacto sobre as concepções do funcionamento da mente. 
Outro simpósio ocorre em 1956 sobre a Teoria da Informação e reúne cientistas 
como Allen Newel, Herbert Simon, Noam Chomsky, George Miller, entre outros, 
constituindo-se como marco histórico do surgimento de uma nova ciência chamada 
Ciência Cognitiva (Gardner, 1996; apud GONÇALVES C; 2014). 
 
 
 
 
16 
 
A segunda metade dos anos cinquenta é um momento histórico que define com 
claridade a natureza da psicologia cognitiva, tendo como influência decisiva nesse 
processo a publicação de Noam Chomsky, em 1957, Syntactc Structures, e sua crítica, 
em 1957, com relação à posição de Skinner sobre a linguagem em Verbal Behavior 
(Rivière, 1991; apud GONÇALVES C; 2014). 
Castañon (2007; apud GONÇALVES C; 2014) defende a tese de que o 
surgimento do Racionalismo Crítico teve papel fundamental no surgimento da ciência 
cognitiva e do cognitivismo, afirmando que a aplicação do método científico ao estudo 
da mente só se tornou possível quando o próprio conceito da ciência sofreu alteração 
dramática, que começou a acontecer após o surgimento da obra de Karl Popper. 
Ainda de acordo com Castañon, a forma com que o Racionalismo Crítico critica 
o Positivismo Lógico e o método indutivo na ciência modificou a forma como se 
compreende o empreendimento científico, estabelecendo-se como posição central na 
Filosofia da Ciência contemporânea, e tornando evidente a conclusão de que o 
Racionalismo Crítico é a filosofia da ciência que melhor oferece suporte ao 
Cognitivismo e a psicologia cognitiva. 
 Tal movimento teve início em 1934 com a publicação de A Lógica da 
Investigação Científica de Popper. Aaron Beck (Beck e Alford, 2000; apud 
GONÇALVES C; 2014) revela ser um dos cognitivistas que apoia o desenvolvimento 
de sua teoria nas ideias de Popper. 
Muito embora os primeiros textos centrais sobre modificação cognitiva tenham 
aparecido na década de 70, já na década de 60 uma atenção maior aos conteúdos 
cognitivos começa a emergir. O modelo comportamental tradicional, disponível até 
então, apontava limitações de uma abordagem comportamental não mediacional para 
explicar o comportamento humano. 
 Um número crescente de teóricos e terapeutas começaram a se identificar 
como cognitivos ou cognitivo-comportamentais em termos de orientação, entre os 
quais podemos citar: Beck, Ellis, Cautela, Meichenbaum e Mahoney, surgindo, desde 
então, uma diversidade de abordagens cognitivo-comportamentais, atingindo vários 
graus de aplicação e sucesso (Knapp e Beck, 2008; apud GONÇALVES C; 2014). 
 
 
 
17 
 
Modelos terapêuticos derivam seus nomes dos seus objetos de estudo ou de 
sua metodologia. É o caso do Behaviorismo, que pelo aspecto prático consiste da 
análise e modificação do comportamento, e é também o caso das terapias cognitivas 
clássicas que analisam e visam modificar as estruturas cognitivas (Balbi, 2008; apud 
GONÇALVES C; 2014). 
2.4 A natureza da cognição 
Para Beck e Alford (2000; apud GONÇALVES C; 2014), a teoria cognitiva tem 
a função de explicar o papel da cognição nos inter-relacionamentos entre variáveis 
clinicamente relevantes, como a emoção, o comportamento e os relacionamentos 
interpessoais. 
A teoria cognitiva forneceria então instrumentos conceituais para a ação ou 
prática efetiva em contextos clínicos que incluiriam sistemas interativos em muitos 
níveis, particularmente interpessoais e sociais (Beck et al., 1997a; apud GONÇALVES 
C; 2014). 
Beck e Alford (2000) fazem uma apresentação formal da teoria cognitiva e 
apresenta uma definição de cognição: 
A teoria cognitiva de psicopatologia e psicoterapia considera a cognição a 
chave para os transtornos psicológicos. “Cognição” é definida como aquela função 
que envolve deduções sobre nossas experiências e sobre a ocorrência e o controle 
de eventos futuros. 
A teoria cognitiva sugere a importância da percepção fenomenológica das 
relações entre os eventos; na teoria cognitiva clínica, a cognição inclui o processo de 
identificar e prever relações complexas entre eventos, de modo a facilitar a adaptação 
a ambientes passíveis de mudanças. 
Ainda segundo Beck e Alford (2000; apud GONÇALVES C; 2014), a cognição 
inclui todas as estruturas teóricas necessárias no apoio do processamento de 
informações, podendo incluir o processo metacognitivo de pensar sobre o 
pensamento, juntamente com os objetos ou eventos que constituem o conteúdo do 
pensamento, constituindo. 
 
 
18 
 
O organismo humano teria a propriedade de agir com a intenção e propósito de 
modificar seu ambiente ou a sua própria resposta a este ambiente, e nesse aspecto, 
a teoria cognitiva reconhece a cognição como mecanismo que pode, em parte, ser 
determinado ou controlado por variáveis externas, ao mesmo tempo, a natureza da 
consciência humana inclui o potencial para causalidades e criatividade. 
A teoria cognitiva, de acordo com Beck e Alford (2000; apud GONÇALVES C; 
2014), não sugere que o aparato cognitivo seja capaz de captar, ou representardiretamente a realidade, ou seja, a experiência humana não construiria o mundo 
unilateralmente, mas consistiria de uma interação com o mundo ou o ambiente, onde 
fenômenos internos e externos invadiriam o sistema nervoso humano interagindo com 
o sistema cognitivo. 
Visto de outra perspectiva, a cognição faz a mediação entre o ambiente e o 
organismo humano, que Beck e Alford (2000; apud GONÇALVES C; 2014) presumem 
ser uma característica evolutiva resultado da seleção natural. 
 Ao adaptar-se efetivamente ao mundo, o sistema cognitivo humano 
desenvolveu-se em transações com o ambiente natural, demonstrando que, diferente 
do “comportamento do computador”, a teoria cognitiva incorpora princípios ou 
características ecológicas bem como de processamento de informação. 
2.5 A terapia cognitivo-comportamental (TCC) 
“Psicoterapia cognitivo-comportamental é uma prática de ajuda psicológica que 
se baseia em uma ciência e uma filosofia do comportamento caracterizada por uma 
concepção naturalista e determinista do comportamento humano, pela adesão a um 
empirismo e a uma metodologia experimental como suporte do conhecimento e por 
uma atitude pragmática quanto aos problemas psicológicos” (RANGÉ, 2001 apud 
SANTANA K; MARTINS M; 2015). 
A denominada "revolução cognitiva", como coloca CABALLO (1996 apud 
BARRETO J; TOBIAS J; 2001), iniciada dentre outros, com Mahoney e Beck, 
constituiu um grande marco na terapia comportamental, o que pode-se dizer por sua 
vez, que deu início à Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), em certo sentido, uma 
junção entre a Terapia Comportamental e a Terapia Cognitiva. 
 
19 
 
 Desde seu surgimento, a TCC evoluiu muito e, atualmente encontra-se como 
uma das abordagens centrais em diversas áreas de atuação da Psicologia, tendo 
conquistado sua aceitação e admiração pelas práticas e resultados que produz, e pela 
singularidade de seu enfoque. 
Basicamente a terapia cognitiva visa a identificação de pensamentos 
distorcidos, sua averiguação na realidade e a correção dos mesmos com um objetivo 
de maior magnitude, ou seja, a mudança de crenças disfuncionais que se encontram 
subjacentes a estes pensamentos distorcidos. Para isto ela utiliza-se de diversas 
técnicas cognitivas, como a reestruturação cognitiva, distração, parada do 
pensamento, etc. Já a terapia comportamental faz uso de princípios de aprendizagem, 
estabelecidos experimentalmente, para enfraquecer e eliminar comportamentos 
inapropriados e mal adaptativos. 
Diversas técnicas comportamentais são utilizadas, tais como, a exposição ao 
vivo, dessensibilização sistemática, exposição e prevenção de resposta, etc. Utiliza-
se a expressão terapia cognitivo-comportamental (TCC), para se designar a junção 
da terapia cognitiva e da terapia comportamental. Segundo o modelo cognitivo-
comportamental, a psicoterapia deverá atuar sobre os pensamentos deflagrados por 
uma dada situação estimulante, uma vez que tais pensamentos geram os sentimentos 
e os comportamentos que caracterizam a relação do indivíduo com o ambiente que o 
cerca. 
2.6 Fundamentos 
Nessa atmosfera, Aaron Beck inicia movimentos exploratórios, que irão servir 
de início para o desenvolvimento da Terapia Cognitiva. Como ele próprio narra (Beck, 
2006; apud GONÇALVES C; 2014), depois de sua pós-graduação em psicanálise, no 
Philadelphia Psychoanalytic Society, em 1956: 
Depois que me graduei no Instituto de Psicanálise, eu estava ansioso 
para validar os conceitos psicanalíticos para torná-los mais aceitáveis a 
sociedade científica. Como a depressão era o transtorno mais comum em 
minha prática, decidi focar nesse transtorno. 
De acordo com a psicanálise, indivíduos depressivos experimentam uma raiva 
inconsciente contra pessoas próximas, mas essa raiva é inaceitável, sendo reprimida 
e retornando contra seu self. 
 
20 
 
 Então a questão era validar esse construto de hostilidade retrofletida. Como, 
segundo a teoria Freudiana, os sonhos são a “estrada real” para o inconsciente, Beck 
teve a ideia de procurar por material de hostilidade no conteúdo dos sonhos de 
pessoas deprimidas, utilizando-se de uma escala de hostilidade nos sonhos. Para a 
surpresa de Beck, ele descobriu que os sonhos de pessoas deprimidas continham 
menos hostilidade do que pessoas não deprimidas (Beck, 2006; apud GONÇALVES 
C; 2014). 
Essa descoberta inesperada, ainda segundo Beck (2006; apud GONÇALVES 
C; 2014) parecia contradizer o modelo motivacional da psicanálise que postulava que 
os sonhos, assim como os sintomas, eram expressões de desejos proibidos, porém 
inconscientes. Beck reexamina os sonhos e observa uma anomalia nos sonhos dos 
depressivos, longe de expressarem hostilidade, viam-se como vítimas da ação de 
outras pessoas ou circunstâncias; eram rejeitados, abandonados ou frustrados. 
Novamente, Beck volta-se às experiências com a hipótese de que os sonhos 
eram expressões de necessidade de sofrer, derivada de sentimento de culpa sobre a 
hostilidade inconsciente. Esta série de experimentos resultou no desenvolvimento de 
um instrumento para medição da profundidade e severidade da depressão, chamado 
Beck Depression Inventory (BDI), permitindo a ampliação dos experimentos, ainda 
sob a hipótese da autoagressão, não foi validada, fazendo com que Beck começasse 
a questionar a necessidade da existência de um profundo construto motivacional 
como necessidade de sofrer (Beck e Clark, 1988; apud GONÇALVES C; 2014). 
Como resultado conclusivo diante da série de experimentos realizados originou 
a seguinte questão: Poderiam o conteúdo manifesto dos sonhos, expectativas 
negativas, e sensibilidade ao fracasso simplesmente refletirem como os pacientes 
viam a si mesmos e suas experiências? (Beck et al., 1999a). O resultado dos estudos 
pode ser observado no relato de Beck (1967): 
...levado à conclusão que certos padrões cognitivos podem ser 
responsáveis pela tendência dos pacientes em fazerem julgamentos com 
tendências negativas de si, do mundo e do futuro. Os padrões cognitivos, 
embora menos proeminentes em períodos de não depressão, se tornam 
ativados durante a depressão. 
 
21 
 
3 PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS 
Pensamentos automáticos são um fluxo de pensamento que coexiste com um 
fluxo de pensamento mais manifesto (Beck, 1964). A maior parte do tempo mal 
estamos ciente destes pensamentos, embora com apenas um pouquinho de 
treinamento possamos facilmente trazer estes pensamentos à consciência (Judith S. 
Beck - Terapia Cognitiva). 
Exemplo: Ao atravessar a rua você, com certeza, olha para os dois lados, 
mesmo que esteja em rua de mão única. Isso porque, sem que você perceba, passa 
automaticamente a ideia que se deve olhar sempre para os dois lados antes de 
atravessar a rua. 
Muitos dos nossos pensamentos automáticos não causam problema algum, 
muito pelo contrário, precisamos de rapidez de raciocínio, e são os pensamentos 
automáticos que possibilitam isso. O problema aparece quando esses pensamentos 
automáticos não correspondem à realidade. 
Por exemplo, quando em depressão as pessoas costumam ter uma série de 
pensamentos automáticos negativos e falsos, como por exemplo: “Não adianta sair 
da cama, nada de bom pode acontecer na minha vida”. 
O modelo cognitivo afirma que a interpretação de uma situação (em vez da 
situação em si), frequentemente expressa em pensamentos automáticos, influencia 
as respostas emocional, comportamental, e fisiológica subsequentes. Evidentemente, 
determinados eventos são quase universalmente aflitivos: um ataque pessoal, 
rejeição ou fracasso. 
Pessoas com transtornos psicológicos, no entanto, com frequência interpretam 
erroneamente situações neutras ou até mesmo positivas e, desse modo, seus 
pensamentos automáticos são tendenciosos. Examinado criticamente e corrigindo 
erros de seu pensamento, muitas vezes os pacientes sentem – se melhor. 
Embora os pensamentos automáticos pareçam surgir espontaneamente,eles 
se tornam bastante previsíveis, uma vez que as crenças subjacentes do paciente 
sejam identificadas. O terapeuta cognitivo está preocupado em identificar os 
pensamentos que são disfuncionais, ou seja, os que distorcem a realidade, que são 
emocionalmente aflitivos e/ou interferem com a habilidade do paciente de atingir suas 
metas. 
 
22 
 
Pensamentos automáticos disfuncionais são quase sempre negativos, a menos 
que o paciente seja maníaco ou hipomaníaco, tenham um transtorno de personalidade 
narcisístico ou seja um viciado em drogas. 
Os pensamentos automáticos são usualmente breves, e o paciente com 
frequência está mais ciente da emoção que sente em decorrência do pensamento do 
que do pensamento em si. Sentando –se na sessão, por exemplo, um paciente pode 
estar um pouco ciente de sentir-se ansioso, triste, irritado ou embaraçado, porém 
inconsciente dos seus pensamentos automáticos até que o terapeuta o questione. A 
emoção que o paciente sente é logicamente conectada ao conteúdo do pensamento 
automático. 
Os pensamentos automáticos estão comumente em uma forma “ abreviada”, 
mas podem, com facilidade, ser soletrados quando o terapeuta pergunta pelo sentido 
do pensamento, os pensamentos podem estar em uma forma verbal, visual (imagem) 
ou em ambas as formas. Os pensamentos podem ser avaliados de acordo com a sua 
validade e a sua utilidade. 
O tipo mais comum de pensamento automático é distorcido de algum modo e 
ocorre apesar das evidências objetivas em contrário. O segundo tipo de pensamento 
automático é preciso, porém a conclusão que o paciente extrai pode ser distorcida. 
Por exemplo, “ Eu não fiz o que eu prometi para a minha colega de quarto” é um 
pensamento válido, mas a conclusão, “ Portanto, eu sou uma má pessoa” e não é. 
Um terceiro tipo de pensamento automático é também preciso, porém 
decididamente disfuncional. Então os pensamentos automáticos coexistem com um 
fluxo mais manifesto de pensamentos, surgem espontaneamente e não são 
embasados em reflexão ou deliberação. As pessoas estão usualmente mais cientes 
da emoção associada, porém, com um pouco de treinamento, podem tornar-se cientes 
do seu pensamento. 
Os pensamentos são relevantes a problemas pessoais estão associados a 
emoções específicas, dependendo de seu conteúdo e significado. Elas são 
frequentemente breve e fugazes, em forma abreviada e podem ocorrer em uma forma 
verbal e/ou imaginária. As pessoas com frequência aceitam seus pensamentos 
automáticos como verdadeiros, sem reflexão ou avaliação. Identificar, avaliar e 
responder a pensamentos automáticos (de uma forma mais adaptativa) usualmente 
produz uma mudança positiva em afeto. 
 
23 
 
3.1 Erros cognitivos: pensamentos automáticos distorcidos 
Ao longo da vida, o ser humano cria estratégias para provar para ele mesmo 
que seu sistema de crenças está correto, desenvolvendo pensamentos distorcidos e 
disfuncionais que viram automáticos. Os pacientes tendem a cometer erros em seu 
pensamento. Com frequência, há uma tendência sistemática negativa no 
processamento cognitivo dos pacientes que sofrem de um transtorno psiquiátrico 
(Beck, 1976). 
Quando o paciente expressa um pensamento automático, o terapeuta anota 
(mentalmente, verbalmente ou por escrito) o tipo de erro que ele parece estar 
cometendo. Embora alguns pensamentos automáticos sejam verdadeiros, muitos são 
falsos ou apenas possuem algumas parcelas de verdade. Erros típicos de 
pensamento incluem: 
 Pensamento do tipo tudo – ou – nada (também chamado de 
pensamento preto – e – branco, polarizado ou dicotômico): você vê 
uma situação em apenas duas categorias em vez de em um contínuo. 
Exemplo: “ Se eu não for um sucesso total, eu sou um fracasso” 
 Catastrofizando: (também denominado adivinhação): você prevê o 
futuro negativamente sem considerar outros resultados mais prováveis. 
Exemplo: “ Eu ficarei tão aborrecida que não serei capaz de agir direito” 
 Desqualificando ou desconsiderando o positivo: você 
irrazoavelmente diz para si mesmo que experiências, atos ou 
qualidades positivas não contam. Exemplo: Eu fiz bem aquele projeto, 
mas isso não significa que eu seja competente; eu apenas tive sorte”. 
 Argumentação emocional: Você pensa que algo deve ser verdade 
porque você “sente” (em realidade, acredita) isso de maneira tão 
convincente que acaba por ignorar ou desconsiderar evidências 
contrárias. Exemplo: “ Eu sei que faço muitas coisas certas no trabalho, 
mas eu ainda me sinto como se eu fosse um fracasso”. 
 Rotulando: Você coloca um rótulo global e fixo sobre si mesmo ou 
sobre os outros sem considerar que as evidências poderiam ser mais 
razoavelmente conduzidas a uma conclusão menos desastrosa. 
Exemplo: “ Eu sou um perdedor. Ele não presta”. 
 
24 
 
 Magnificação/minimização: quando você avalia a si mesmo, outra 
pessoa ou situação, você magnifica irracionalmente o negativo e/u 
minimiza o positivo. Exemplo: “ Receber uma nota medíocre prova quão 
inadequada eu sou. Obter notas altas não significa que eu sou 
inteligente”. 
 Filtro mental (também denominado abstração seletiva): você presta 
atenção indevida a um detalhe negativo em vez de considerar o quadro 
geral. Exemplo: “ Porque eu tirei uma nota baixa na minha avaliação [ 
que também continha várias notas altas] isso significa que eu estou 
fazendo um trabalho deplorável”. 
 Leitura mental: você acha que sabe o que os outros estão pensando, 
falhando assim ao considerar outras possibilidades mais prováveis. 
Exemplo: “ ele está pensando que eu não sei nada sobre esse projeto”. 
 Supergeneralização: você tira uma conclusão negativa radical que vai 
muito além da situação atual. Exemplo: “ [ porque eu me senti 
desconfortável no encontro] eu não tenho o que é necessário para fazer 
amigos. ” 
 Personalização: você acredita que os outros estão se comportando 
negativamente devido a você, sem considerar explicações mais 
plausíveis para o seu comportamento. Exemplo: “ o encanador foi rude 
comigo porque eu fiz algo errado”. 
 Declarações do tipo “ eu deveria” e “ eu devo” (também chamadas 
imperativas): Você tem uma ideia exata estabelecida de como você 
ou os outros deveriam comportar – se você superestima quão ruim é 
que essas expectativas não sejam preenchidas. Exemplo: “ É terrível 
que eu tenha cometido um erro. Eu deveria sempre dá o melhor de 
mim”. 
 Visão em túnel: você vê apenas os aspectos negativos de uma 
situação. Exemplo: “ O professor do meu filho não sabe fazer nada 
direito. Ele é crítico, insensível e ensina mal”. 
E uma outra opção é oferecer a lista de distorções para o paciente mas verificar 
apenas uns dois ou três erros mais comuns a esse paciente para que ele não se torne 
confuso tentando focalizar todos. 
 
25 
 
Quando o paciente pode determinar o tipo de distorção que está fazendo, ele 
pode amiúde avaliar mais objetivamente a validade do seu pensamento. 
4 AS CRENÇAS CENTRAIS 
As crenças centrais, são ideias mais centrais da pessoa a respeito do self, e 
alguns autores referem-se a elas pela denominação de esquemas. Beck (1964) 
diferencia os dois conceitos sugerindo que os esquemas são estruturas cognitivas 
dentro do pensamento, cujo o conteúdo específico são as crenças centrais. 
Ademais, ele teoriza ainda que as crenças centrais negativas essencialmente 
se encaixam em duas categorias amplas; as associadas a desamparo e as associadas 
ao fato de não ser amado (Beck, no prelo). Alguns pacientes têm crenças centrais que 
se encaixam em uma das categorias, enquanto outros tem crenças centrais que se 
encaixam em ambas as classes. Essas crenças se desenvolvem na infância à medida 
que a criança interage com outras pessoas significativas e encontra uma série de 
situações que confirmem essa ideia. 
 Durante grande parte de suas vidas, a maioria das pessoas pode manter as 
crenças centrais relativamente positivas (por exemplo,“ Eu estou substancialmente 
em controle”; “ Eu posso fazer a maioria das coisas de forma competente”; “ Eu sou 
um ser humano funcional “; “ Eu sou amável”; “ Eu sou digno”). 
As crenças centrais negativas podem vir à tona apenas durante momentos de 
aflição psicológica. (Alguns pacientes com transtorno de personalidade, no entanto, 
podem ter as crenças centrais negativas quase que continuamente ativadas). 
Frequentemente, ao contrário dos pensamentos automáticos, a crença central que os 
pacientes “ sabem” ser verdade sobre si mesmos não é totalmente percebida até que 
o terapeuta descasque as camadas, continuando a perguntar pelo sentido dos 
pensamentos do paciente como no exercício da flecha descendente. 
É importante também observar que os pacientes também podem ter as crenças 
centrais negativas sobre outras pessoas e seus mundos, como, por exemplo, “ As 
outras pessoas não são confiáveis”; “ As outras pessoas vão magoar-me”; “ O mundo 
é um lugar corrompido”. Ideias supergeneralizadas, estabelecidas, como essas, com 
frequência precisam ser avaliadas e modificadas além das crenças centrais sobre o 
eu. As crenças centrais negativas são usualmente globais, supergenarilzadas e 
 
26 
 
absolutistas. Quando uma crença central é ativada, o paciente é facilmente capaz de 
processar informações que apoiam, mas ele frequentemente falha em reconhecer 
distorce as informações que são contrárias à crença central. 
 O terapeuta começa a formular uma conceituação (incluindo as crenças 
centrais) desde o início da terapia, fazendo isso a princípio mentalmente ou 
particularmente no papel. 
Em algum momento na terapia, ele partilha sua conceituação com o paciente, 
apresentando –a em forma de hipótese e perguntando se isso “ parece ser verdadeiro” 
para ele. 
A fim de decidir quando e quanto de sua conceituação partilha com um 
paciente, o terapeuta considera o seguinte: 
 Quão forte é a sua aliança terapêutica, quão fortemente o paciente acredita no 
modelo cognitivo, quão ativadas estão suas crenças centrais na sessão, o quanto de 
insight ele já tem, quão concreto é o seu pensamento, e assim por diante. Então, 
embora o terapeuta tenha estado conceituando as crenças centrais do paciente desde 
o início, ele cuidadosamente escolhe quando e como tentará começar a modificar a 
crença central. 
Os terapeutas em geral ensinam os pacientes a aprender as ferramentas de 
identificar, avaliar e adaptativamente responder aos pensamentos automáticos e 
crenças intermediarias utilizando as mesmas ferramentas para as crenças centrais. 
Ás vezes, no entanto, o terapeuta e o paciente automaticamente tentam avaliar, no 
início da terapia, uma crença central pelo fato de ela ter sido expressa em forma de 
um pensamento automático, e tal avaliação frequentemente exerce pouco efeito. 
 Em um outro caso, o terapeuta pode intencionalmente testar a modificabilidade 
de uma crença central mesmo antes que eles tenham feito muito trabalho em nível de 
pensamento automático e de crença intermediária. 
O grau de dificuldade para identificar e modificar as crenças centrais varia de 
paciente para paciente. Em geral, os pacientes que estão em aflição emocional 
significativa são os mais facilmente capazes (do que os outros) de expressar as suas 
crenças centrais pelo fato de essas crenças estarem ativadas na sessão. 
 
27 
 
4.1 Crenças intermediárias 
Composta por atitudes, regras, e suposições criadas para que o indivíduo 
consiga se adaptar e sobreviver à ideia absoluta e negativa que ele tem a respeito de 
si mesmo e também são mecanismos de sobrevivência para adaptação do indivíduo. 
As crenças intermediárias correspondem ao segundo nível de pensamento e não são 
diretamente relacionadas às situações, ocorrendo sob a forma de suposições ou 
regras, derivam e reforçam as crenças centrais. 
As crenças nucleares são nossas ideias e conceitos mais enraizados e 
cristalizados acerca de nós mesmo, dos outros e do mundo, são constituídas desde 
as nossas experiências ainda na infância e se solidificam e se fortalecem ao longo da 
vida, moldando desta maneira o jeito de ser e agir do ser humano. 
O que não é modificando ou corrigido em fase desadaptativa, tratando –se de 
crenças disfuncionais, pode chegar à fase adulta como verdades absolutas (KNAPP. 
2004). 
Judith Beck (1997) propõe que, as crenças centrais disfuncionais podem 
ser divididas em três grupos: 
 Crenças nucleares de desamparo (Helpless-ness): Crenças 
sobre impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado, 
necessitado. 
 Crenças nucleares de desamor (Unlovability): Crenças sobre 
ser indesejável, incapaz de ser gostado, incapaz de ser amado, 
sem atrativos, rejeitado, abandonado, sozinho. 
 Crenças nucleares de desvalor (Unworthness): Crenças 
sobre ser incapaz, incompetente, inadequado, ineficiente, falho, 
defeituoso, enganador, fracassado, sem valor. 
O modelo básico da TCC se baseia na premissa da inter-relação entre 
cognição, emoção e comportamento. Para cada situação diferente há um pensamento 
relacionado à mesma, para cada pensamento há uma emoção e subsequente um 
comportamento, o que justifica diferentes pessoas (WRIGHT, 2008). 
 
28 
 
Dessa forma, os eventos ativam os pensamentos, que geram como 
consequência, emoções e comportamento, como mostra a figura: 
 Fonte: docplayer.com 
Os indivíduos também possuem crenças nucleares disfuncionais a respeito dos 
outros e do mundo. As crenças nucleares são absolutistas, generalistas e 
cristalizadas, podendo permanecer latente o tempo todo, e ativadas nos transtornos 
emocionais, com isso, o processo da informação torna –se tendencioso no sentido de 
extrair da realidade apenas informações que confirmam a crença disfuncional. 
(KNAPP, 2004). 
Por fim, segundo (CAMINHA, 2003) o sucesso da terapia começa quando o 
paciente torna-se capaz de anotar, perceber e responder aos pensamentos 
automáticos, realizando assim, exercícios de metacognição, pensar sobre o que se 
está pensando. Desta maneira se quebra a sequência do esquema, e em última 
instância, altera o sentido estrutural, fazendo com que haja diminuição de valência da 
crença central. 
O paciente aprende a questionar os pensamentos e chegar junto com o 
problema, se auto monitorando, para intervir antes de o problema se manifestar, 
tornando-se assim seu próprio terapeuta. 
Em suma, as crenças centrais requerem um trabalho sistemático consistente. 
Algumas técnicas, aplicáveis à reestruturação de pensamentos automáticos 
e crenças intermediárias, podem ser usadas em combinação com técnicas 
mais especializadas orientadas especificamente em direção a crenças 
centrais (beck, 1997, pg. 199, apud alvarenga r.2008). 
 
29 
 
4.2 Princípios da terapia cognitiva para todos os pacientes 
 A terapia cognitiva se baseia em uma formulação em contínuo 
desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos 
cognitivos. 
 A terapia requer uma aliança terapêutica segura, o terapeuta deve fazer 
com que o paciente tenha confiança, também tem que criar a 
cordialidade, empatia, atenção, respeito genuíno e tenha competência 
para com o paciente. 
 A terapia cognitiva enfatiza colaboração e participação ativa. A princípio 
o terapeuta é mais ativo em sugerir uma direção para as sessões de 
terapia e em resumir o que o paciente e ele irão discuti durante uma 
sessão. O terapeuta tem a função de tornar-se crescentemente ativa na 
sessão de terapia: decidir sobre que tópicos falar, identificar as 
distorções de pensamentos no do paciente, resumir pontos importantes 
e projetar tarefas de casa. 
 A terapia cognitiva é orientada em meta e focalizada em problemas. 
 A terapia cognitiva inicialmente enfatiza o presente, o tratamento da 
maioria dos pacientes envolve um forte foco sobre problemas atuais e 
sobre situações específicas que são aflitivas para o paciente. 
 A terapia cognitiva éeducativa, visa ensinar o paciente a ser seu próprio 
terapeuta e enfatiza prevenção de recaída. 
 A terapia cognitiva visa ter um tempo limitado, no entanto nem todos os 
pacientes fazem progresso suficiente em apenas alguns meses. Alguns 
pacientes requerem um ou dois anos de terapia ou possivelmente mais, 
para modificar as crenças disfuncionais muito rígidas e os padrões de 
comportamento que contribuem para a sua angústia crônica 
 As sessões de terapia cognitiva são estruturadas, não importa qual o 
diagnóstico ou estágio do tratamento, o terapeuta cognitivo tende a 
aderi, a uma estrutura estabelecida em cada sessão. 
 A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder 
a seus pensamentos e crenças disfuncionais. O terapeuta ajuda focalizar 
um problema específico, identificar seu pensamento disfuncional, avaliar 
 
30 
 
a validade do pensamento, e projetar um plano de ação e ele faz isso 
através de questionamento socrático ou descoberta orientada, através 
de questionamento, ele também a orienta em avaliar a validade e a 
funcionalidade das suas crenças. 
 A terapia cognitiva utiliza uma variedade de técnicas para mudar 
pensamento, humor e comportamento. Embora as estratégicas 
cognitivas como questionamento socrático e descoberta orientada sejam 
centrais a terapia cognitiva, técnicas de outras orientações 
(especialmente terapia comportamental e terapia Gestalt) são também 
usadas dentro de uma estrutura cognitiva. O terapeuta seleciona 
técnicas com base em sua formulação de caso e seus objetivos em 
sessões específicas. Esses princípios básicos se aplicam a todos os 
pacientes. A terapia, no, entanto, varia consideravelmente de acordo 
com o paciente individual, a natureza de suas dificuldades, suas metas, 
sua habilidade de formar um vínculo terapêutico forte, sua motivação 
para mudar, sua experiência prévia com terapia e suas preferências de 
tratamento. A ênfase no tratamento depende do transtorno (s) particular 
do paciente. A terapia cognitiva para transtorno de ansiedade 
generalizada, por exemplo, enfatiza a reavaliação de risco em situações 
particulares e os recursos de pessoa para lidar com ameaça (Beck & 
Emery, 1985). Tratamento para transtornos de pânico envolve a 
testagem das interpretações errôneas catastróficas do paciente 
(usualmente previsões errôneas ameaçadoras da sanidade ou a vida) 
de sensações corporais ou mentais (Clark, 1989). Anorexia requer uma 
modificação de crenças sobre valor pessoal e controle (Garner & Bemis, 
1985). O tratamento para abuso de substância focaliza-se em crenças 
negativas sobre o eu e crenças facilitadoras ou permissivas em relação 
ao uso de substância (Beck, Wright, Newman & Liese, 1993). 
4.3 Características básicas 
As principais características da Terapia Cognitiva, como um sistema de 
psicoterapia, são: 
 
31 
 
 Constitui um sistema de psicoterapia integrado. Combina o modelo 
cognitivo de personalidade e de psicopatologia a um modelo aplicado, 
que reúne um conjunto de princípios, técnicas e estratégias terapêuticas 
fundamentado diretamente em seu modelo teórico. Conta, ainda, com 
comprovação empírica através de um volume respeitável de estudos 
controlados de eficácia. Em outras palavras, satisfaz os critérios básicos 
que lhe conferem o status de sistema de psicoterapia. 
 Demonstra aplicabilidade eficaz, segundo estudos controlados, em 
várias áreas: na área tradicional da Psicologia Clínica, em que TCC é 
aplicada à depressão, aos transtornos de ansiedade (ansiedade 
generalizada, fobias, pânico, hipocondria, transtorno obsessivo-
compulsivo), à dependência química, aos transtornos alimentares, aos 
transtornos de stress pós-traumático, aos transtornos de personalidade, 
à terapia com casais e em grupo etc., com adultos, crianças e 
adolescentes. A Terapia Cognitiva padrão, reunindo técnicas e 
estratégias terapêuticas destinadas à realização de seus objetivos 
básicos, é modificada para aplicação a diferentes áreas de 
especialidade, refletindo modelos teóricos e aplicados particulares para 
cada classe de transtorno. 
 Aplica-se ainda às áreas de educação, esportes e organizações, sendo 
também utilizada com sucesso como coadjuvante no tratamento de 
distúrbios orgânicos, área em que conta com um grande volume de 
estudos científicos. E, no caso particular das psicoses, as publicações 
se avolumam nas áreas de esquizofrenia e transtorno bipolar, indicando 
resultados encorajadores. Representa um processo terapêutico diretivo 
e semiestruturado, orientado à resolução de problemas. É colaborativa, 
ou seja, reflete um processo em que ambos, terapeuta e paciente, têm 
um papel ativo e estabelecem colaborativamente metas terapêuticas, as 
agendas de cada sessão, tarefas entre sessões etc. Requer a 
socialização do paciente ao modelo, a fim de que ele possa 
desempenhar seu papel como colaborador ativo. Envolve uma relação 
genuína entre terapeuta e paciente, baseada em empatia terapêutica, 
em que o terapeuta é amigável, caloroso e genuíno. 
 
32 
 
 As sessões, bem como o processo terapêutico, são semiestruturadas, 
envolvendo tarefas entre as sessões. É focal, requerendo uma definição 
concreta e específica dos problemas do paciente e das metas 
terapêuticas. 
 Tem um caráter didático, em que o objetivo não é unicamente ajudar o 
paciente com seus problemas, mas dotá-lo de um novo instrumental 
cognitivo e comportamental, através de prática regular, a fim de que ele 
possa perceber e responder ao real de forma funcional, sendo o 
funcional definido como aquilo que concorre para a realização de suas 
metas. Nesse sentido, as intervenções são explícitas, envolvendo 
feedback recíproco entre o terapeuta e o paciente. É um processo 
terapêutico de tempo curto e limitado, podendo sua aplicação variar 
entre aproximadamente 12 e 24 sessões, tornando-a apropriada ao 
contexto socioeconômico atual, e possibilitando sua utilização pelo 
sistema de saúde público, bem como pelos convênios e seguros de 
saúde. 
Mostra-se eficaz para diferentes populações, independentemente de cultura 
e níveis socioeconômico e educacional (Serra et al., 2001 apud, 2014). 
A reunião de todas essas características seguramente nos permite afirmar que 
a terapia cognitiva representa uma mudança de paradigma no campo das 
psicoterapias. 
4.4 Intervenção clínica em terapia cognitiva 
Destacamos diversas fases. Na primeira, enfatiza-se a definição da estratégia 
de intervenção, ou seja, a conceituação cognitiva do paciente e de seus problemas, a 
definição de metas terapêuticas e do planejamento do processo de intervenção. Na 
segunda fase, a terapeuta objetiva a normalização das emoções do paciente, a fim de 
promover a motivação do paciente para o trabalho terapêutico e sua vinculação ao 
processo. 
 
 
 
33 
 
Nesse sentido, o terapeuta prioriza o que podemos chamar de intervenção em 
nível funcional, concentrando-se no desafio de cognições disfuncionais, iniciando os 
primeiros esforços em resolução de problemas, e encorajando o desenvolvimento, 
pelo paciente, de habilidades próprias para a resolução de problemas. 
 Na terceira fase, o terapeuta enfatiza a intervenção em nível estrutural, ou seja, 
o desafio de crenças e esquemas disfuncionais, objetivando promover a 
reestruturação cognitiva do paciente. 
Na quarta fase, de terminação, promove-se, através de várias técnicas, a 
assimilação e generalização dos ganhos terapêuticos bem como a prevenção de 
recaídas. O objetivo último dos esforços terapêuticos é dotar o paciente de estratégias 
cognitivas e comportamentais, a fim de capacitá-lo para a promoção e preservação 
continuadas de uma estrutura cognitiva funcional. 
4.5 O princípio básico da terapia cognitiva e o modelo cognitivo de 
psicopatologia 
O princípio básico da Terapia Cognitiva pode ser resumido da seguinte 
forma: 
Nossas respostas emocionais e comportamentais,bem como nossa motivação, 
não são influenciadas diretamente por situações, mas sim pela forma como 
processamos essas situações, em outras palavras, pelas interpretações que fazemos 
dessas situações, por nossa representação dessas situações, ou pelo significado que 
atribuímos a elas. As nossas interpretações, representações ou atribuições de 
significado, por sua vez, refletem-se no conteúdo de nossos pensamentos 
automáticos, contidos em vários fluxos paralelos de processamento cognitivo que 
ocorrem em nível pré-consciente. 
O conteúdo de nossos pensamentos automáticos, pré-conscientes, reflete a 
ativação de estruturas básicas inconscientes, os esquemas e crenças, e o significado 
atribuído pelo sujeito ao real. 
Um exemplo simples para ilustrar esse princípio: 
Suponhamos que nos encontremos casualmente com um amigo que não nos 
cumprimenta. Se pensarmos “ele não quer mais ser meu amigo”, nossa emoção será 
tristeza e nosso comportamento será possivelmente afastarmo-nos do amigo. 
 
34 
 
Se, porém, pensarmos “oh, será que ele está aborrecido comigo? ”, nossa 
emoção será apreensão e nosso comportamento será procurar o amigo e perguntar o 
que está havendo. Ou ainda, se pensarmos “quem ele pensa que é para não me 
cumprimentar? Ele que me aguarde! ”, nossa emoção poderia ser raiva e o 
comportamento, confrontaríamos o amigo. 
Porém, diante da mesma situação, podemos ainda pensar “não me 
cumprimentou... acho que não me viu”; e, nesse caso, nossas emoções e 
comportamentos seguiriam inalterados. 
Este exemplo ilustra, portanto, que nossas interpretações, representações, ou 
atribuições de significado atuam como variável mediacional entre o real e as nossas 
respostas emocionais e comportamentais. 
Daí decorre que, para modificar emoções e comportamentos, intervimos sobre 
a forma do indivíduo processar informações, ou seja, interpretar, representar ou 
atribuir significado a eventos, em uma tentativa de promover mudanças em seu 
sistema de esquemas e crenças. Essas intervenções objetivariam uma reestruturação 
cognitiva do paciente, o que o levará a processar informação no futuro de novas 
formas. 
O modelo cognitivo de personalidade pode ser resumido como segue: 
Através de sua história, e com base em experiências relevantes desde a 
infância, desenvolvemos um sistema de esquemas, localizado em nível inconsciente 
ou, utilizando conceitos da Psicologia cognitiva, em nossa memória implícita. 
Esquemas, nesse sentido, podem ser definidos como superestruturas 
cognitivas, que refletem regularidades passadas, conforme percebidas pelo sujeito. 
Ao processarmos eventos, os esquemas implicitamente organizam os elementos da 
percepção sensorial, ao mesmo tempo em que são atualizados por eles, em uma 
relação circular. 
Os esquemas ainda dirigem o foco de nossa atenção, incorporadas aos 
esquemas, desenvolvemos crenças básicas e pressuposições intermediárias 
específicas para diferentes classes de eventos, as quais são ativadas em vista de 
eventos críticos elicitadores. 
A ativação dessas crenças reflete-se em nosso pré-consciente, nos conteúdos 
dos pensamentos automáticos, que representam nossa interpretação do evento, ou o 
significado atribuído a ele. 
 
35 
 
Estes, por sua vez, influenciam a qualidade e intensidade de nossa emoção e 
a forma de nosso comportamento, frente a essa determinada situação. 
Daí decorre que a teoria cognitiva básica reflete um paradigma de 
processamento de informação, baseado em esquemas, como um modelo de 
funcionamento humano. Quanto ao sistema de processamento de informação, este 
envolve estruturas, processos e produtos, envolvidos na representação e 
transformação de significado, com base em dados sensoriais derivados do ambiente 
interno e externo. 
 As estruturas e processos do sistema atuariam a fim de selecionar, 
transformar, classificar, armazenar, evocar e regenerar informação, segundo uma 
forma que faça sentido para o indivíduo em sua adaptação e funcionamento. Central, 
portanto, para o modelo cognitivo é a capacidade para atribuição de significado. 
Quanto ao modelo cognitivo de psicopatologia, de forma semelhante, este 
propõe que, durante o desenvolvimento e em vista de regularidades do real interno e 
externo, indivíduos podem gradualmente perder sua flexibilidade cognitiva, isto é, a 
capacidade para atualizar continuamente seus esquemas em vista de novas 
regularidades. 
Estes esquemas enrijecendo-se se tornariam disfuncionais, predispondo o 
indivíduo a distorções cognitivas e à resistência ao reconhecimento de interpretações 
alternativas, que, em conjunto com fatores biológicos, motivacionais e sociais, 
originariam os transtornos emocionais. 
Fundamental, portanto, para o modelo cognitivo de psicopatologia e o modelo 
aplicado de intervenção clínica é a hipótese da vulnerabilidade cognitiva, segundo a 
qual indivíduos portadores de transtornos emocionais apresentam uma rigidez, ou 
uma tendência aumentada a distorcer eventos, no momento de processá-los. 
E, uma vez feita uma atribuição, resistem ao reconhecimento de interpretações 
alternativas. Outra hipótese básica para o modelo da Terapia Cognitiva refere-se à 
primazia das cognições, segundo a qual as cognições têm primazia sobre as emoções 
e comportamentos, embora não de uma forma rigidamente causal e temporal. 
 
36 
 
4.6 Princípios, técnicas e estratégias de intervenção clínica 
Para se promover o que classificamos anteriormente de intervenção funcional 
sobre o conteúdo das cognições, com o objetivo de possibilitar ao paciente a 
modulação de suas emoções, necessitamos primeiramente levá-lo a identificar as 
cognições pré-conscientes que representam a base das emoções adversas, as 
chamadas “cognições quentes”. 
As pessoas naturalmente não entram em contato com seus pensamentos 
automáticos negativos no momento em que experienciam emoções adversas. É, 
portanto, necessário treinar pacientes para identificar seus pensamentos automáticos, 
encorajando, através de questionamento, uma reencenação mental da situação, até 
finalmente fazermos a pergunta-chave: “o que estava passando por sua mente, 
pensamentos e imagens, no momento em que começou a sentir a emoção? ”. 
É importante identificarmos pensamentos ou imagens que correspondam à 
qualidade e intensidade da emoção relatada. Identificada a cognição, passamos ao 
seu desafio, avaliando inicialmente o nível de crença na cognição e a intensidade da 
emoção associada. 
Para desafiar a cognição, podemos buscar evidências que a apoiem ou a 
contrariem, interpretações alternativas, por exemplo, “de que forma alternativa você 
poderia pensar? ”, ou “como outro pensaria diante da mesma situação? ”, ou ainda 
“como aconselharia outro na mesma situação? ”. ” Podemos ainda recorrer a um 
desafio mais pragmático, perguntando “qual a sua meta nessa situação? ”, “a cognição 
ajuda ou atrapalha na realização de sua meta? ”, e “qual o efeito de se crer em uma 
interpretação alternativa? ”. 
Utilizamos enfim formas, apropriadas à situação, de questionamento socrático, 
ou seja, formas aparentemente imparciais, a fim de encorajar nosso paciente a 
resinificar ou reinterpretar a situação, utilizando outras linhas de raciocínio e outras 
perspectivas diante das mesmas classes de eventos. 
Ao final, solicitamos ao paciente que reavalie agora seus pensamentos e 
emoções originais, encorajando-o a definir planos de ação para lidar com os 
mesmos eventos no futuro: 
Como pensar, sentir e agir diferentemente? Além dessas técnicas de 
intervenção funcionais, podemos utilizar ainda técnicas de distanciamento ou 
deslocamento de atenção, visando a normalização das emoções, apenas mantendo 
 
37 
 
em mente que tais técnicas promovem apenas alívio emocional temporário, devendo 
ser utilizadas com parcimônia e em alternância com tentativas efetivas de 
reestruturação cognitiva. 
Inicialmente, conduzimos a identificação e osdesafios de cognições em 
sessão; gradualmente, porém, encorajamos o paciente a realizar o mesmo entre as 
sessões, utilizando inclusive formulários para registro e desafio de pensamentos 
automáticos negativos, encontrados em manuais de TCC. 
Na fase intermediária da terapia, ou seja, de intervenção sobre esquemas e 
crenças, objetivamos a reestruturação cognitiva do indivíduo, que o levará a processar 
o real de uma nova forma. 
Focalizamos, nessa fase, a identificação e desafio de crenças disfuncionais. 
Crenças representam os esquemas traduzidos em palavras. São consideradas 
disfuncionais quando predispõem a transtornos emocionais. Caracterizam-se por 
refletir rigidez, estarem associadas a emoções muito fortes, denotarem um caráter 
excessivo, supergeneralizado, extremo e irracional, podendo, muitas delas, ser 
culturalmente reforçadas. 
Podem ser inferidas por corresponder a temas recorrentes durante o 
tratamento, tipos de erros cognitivos frequentes, avaliações globais, por exemplo, “sou 
incapaz”, ou “ninguém me entende”, ou ainda “o mundo é cheio de perigos”, e 
memórias ou ditos familiares, por exemplo “tal pai, tal filho” ou “tirar 10 não é mais que 
obrigação”. 
A identificação de crenças requer um cuidado maior do que dos pensamentos 
automáticos, pois, se abordarmos uma crença precocemente, poderemos ativar a 
resistência do paciente, dificultando referências futuras à mesma crença. 
Necessitamos, portanto, através de esforços consistentes de conceituação 
cognitiva, baseados em toda a informação que conseguirmos coletar, refinar 
continuamente as nossas hipóteses de crenças disfuncionais, abordando-as apenas 
quando já se tornaram evidentes para o indivíduo. 
 Em outras palavras, devemos abordar as crenças disfuncionais apenas 
quando já houver um volume considerável de evidências, que possibilitem ao paciente 
estar preparado para reconhecê-las como disfuncionais e estar motivados a substituí-
las por crenças mais funcionais. 
 
38 
 
Na última fase, de terminação, conforme anteriormente indicado, empregamos 
uma variedade de técnicas para promover a generalização das estratégias adquiridas 
durante o processo clínico e das novas formas de perceber e responder ao real, 
reforçando-se o novo sistema de esquemas e crenças, em uma tentativa de se 
prevenir recaídas e garantir a preservação de uma estrutura cognitiva funcional. 
4.7 Técnica do questionamento socrático 
Apontado como essencial para o andamento das sessões em terapia cognitivo-
comportamental, o uso do questionamento socrático se destina a identificação de 
problemas e ao direcionamento de metas, que devem sempre ser planejadas e 
centradas firmemente na linha do questionamento. 
Os terapeutas cognitivistas costumeiramente usam algumas questões básicas 
ou suas variações para ajudar os pacientes no ponderamento de seus pensamentos. 
As perguntas realizadas são direcionadas ao paciente com propósito de estimular a 
curiosidade e o desejo de indagar, proporcionando que o mesmo seja envolvido no 
processo de aprendizagem. 
A utilização de tal técnica deve ser feita segundo a identificação e registro dos 
pensamentos disfuncionais e do encorajamento do paciente a avaliá-los, por meio de 
perguntas que o levem a pensar, e dessa forma, ter verdadeira compreensão na 
tomada de decisões racionais, segundo suas próprias conclusões. 
Desta forma, paciente e terapeuta fazem juntos um exame das evidências que 
apoiam seu pensamento e das evidências que são contrárias ao seu pensamento, de 
modo a encontrar novas possibilidades na interpretação de suas sensações físicas. 
Ao se utilizar o modo guiado do questionamento, o terapeuta maximiza o 
envolvimento do paciente nas sessões e em todo o processo terapêutico de modo a 
reduzir a possibilidade de o terapeuta impor suas ideias e conceitos. Ademais, essa 
formulação socrática pretende que o paciente aprenda a entender e solucionar seus 
problemas, equipando -se com as habilidades necessárias para lidar com eventuais 
problemas que possam vir a ocorrer. 
Entretanto, com o aumento das habilidades de solução de problemas por parte 
do paciente, o terapeuta se desvia mais ativamente em guiar o tratamento, 
proporcionando assim que paciente se torna seu próprio terapeuta. 
 
39 
 
 Isso acontece devido ao processo colaborativo da descoberta guiada, em que 
o paciente sai da posição passiva e adota uma postura proativa. 
4.8 Estratégias para a formulação de perguntas no questionamento socrático 
Ao utilizar o questionamento socrático para a modificação dos pensamentos 
automáticos, os terapeutas devem levar em consideração as seguintes estratégias 
abaixo na elaboração de perguntas (p.86). 
 Faça perguntas que revelem oportunidades de mudança. As boas 
perguntas socráticas geralmente abrem um leque de possibilidades, 
desta forma, tente fazer perguntas que ajudem os pacientes a repararem 
no quanto a modificação do pensamento pode reduzir emoções 
dolorosas ou melhorar sua capacidade de enfrentamento. 
 Faça perguntas que tragam resultados. As melhores perguntas 
socráticas ocorrem quando rompem um padrão de pensamento 
desadaptativo rígido e apresentam aos pacientes alternativas razoáveis 
e produtivas. Ou seja, quando são desenvolvidas novas percepções, e 
a modificação do pensamento institui uma mudança emocional positiva. 
Se seu questionamento socrático parecer não estar produzindo qualquer 
resultado emocional ou comportamental, deve-se revisar a formulação 
de caso e consequentemente sua estratégia. 
 Faça perguntas que envolvam os pacientes no processo de 
aprendizagem. Como o propósito de ajudar os pacientes a se 
especializarem em “pensar sobre o pensamento”. As perguntas do 
questionamento socrático devem estimular a curiosidade dos pacientes 
e incentivá-los a olharem a partir de novas perspectivas. Possibilitando 
assim que o paciente possa fazer perguntas a si mesmos. 
 Elabore perguntas de forma que seja produtivo para o paciente. Formule 
perguntas que sejam um desafio suficiente para fazer com que o 
paciente pense, mas que não o faça sentir-se pressionado ou intimidado, 
assim deve-se levar em consideração o nível de funcionamento 
cognitivo, os sintomas e a capacidade de concentração do paciente, com 
 
40 
 
o intuito de fazer com que o mesmo tenha boas chances de ser capaz 
de responder. 
 Evite fazer perguntas de comando. Não se deve usar o questionamento 
socrático como um meio hierárquico entre paciente e terapeuta, mas sim 
como um método para aumentar a capacidade de o paciente pensar de 
maneira flexível e criativa. (Certamente, você terá alguma ideia sobre 
onde o questionamento socrático pode levar e quais resultados você 
espera obter, mas faça perguntas que respeite a capacidade de os 
pacientes pensarem por si mesmos. Deixe os pacientes responderem as 
perguntas sempre que possível). 
 Use perguntas de múltipla escolha. O bom questionamento socrático é 
feito de perguntas abertas, de forma a permitir um grande número de 
respostas ou mudanças nas respostas. Embora as perguntas do tipo sim 
ou não ou de múltipla escolha possam ser eficazes em algumas 
ocasiões, a maioria das perguntas socráticas devem deixar espaço para 
várias respostas. 
Desta forma, o paciente inserido nesta abordagem terapêutica é 
constantemente estimulado a segmentar seu sofrimento psíquico para auto 
exploração, em consequência de seus aprendizados adquiridos. 
Assim sendo, a técnica do questionamento socrático apesar de simples e 
polivalente, abrange inúmeras vantagens nesse processo, compreendendo desde a 
intensificação da relação terapêutica, estimulação da indagação, maior entendimento 
das cognições e comportamentos importantes, bem como, a acessão do engajamento 
ativo do paciente na terapia. 
Além do mais, ao se utilizar essa técnica, os benefícios obtidos além de serem 
conservados, são acrescidos, de forma que o paciente tende a ganhar mais

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