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Livro-texto - Unidade I (1)

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Autor: Prof. Vinícius Carneiro de Albuquerque
Colaboradora: Profa. Christiane Mazur Doi
Patrimônio, 
Memória e Museus
Professor conteudista: Vinícius Carneiro de Albuquerque 
Historiador, formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) 
e licenciado pela Faculdade de Educação da mesma universidade. Obteve o título de mestre pelo programa de História 
Social. Atualmente é professor do colégio e curso pré‑vestibular Objetivo, instituição na qual atua há mais de 15 anos. 
É também professor da Universidade Paulista (UNIP), na qual trabalha com especial interesse na área de Ensino a 
Distância voltada para a formação de professores de História.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A345p Albuquerque, Vinícius Carneiro de.
Patrimônio, Memória e Museus / Vinícius Carneiro de Albuquerque. – 
São Paulo: Editora Sol, 2023.
252 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230.
1. Patrimônio. 2. Memória. 3. Museu. I. Título
CDU 727.7
U517.63 – 23
Profa. Sandra Miessa
Reitora
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice-Reitora de Administração e Finanças
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice-Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora das Unidades Universitárias
Profa. Silvia Gomes Miessa
Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal
Profa. Laura Ancona Lee
Vice-Reitora de Relações Internacionais
Prof. Marcus Vinícius Mathias
Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
 Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
 Aline Ricciardi
 Vera Saad
Sumário
Patrimônio, Memória e Museus
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 INTRODUÇÃO: QUAL A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS SOBRE PATRIMÔNIO, 
MEMÓRIA E MUSEUS? ...................................................................................................................................... 11
1.1 Patrimônio – usos e definições ....................................................................................................... 26
1.2 Cultura é patrimônio .......................................................................................................................... 32
1.3 Educação patrimonial: introdução ................................................................................................ 42
2 SPHAN/IPHAN ................................................................................................................................................... 51
3 CARTAS PATRIMONIAIS ................................................................................................................................ 61
3.1 Origens das cartas patrimoniais ..................................................................................................... 62
3.2 Cartas patrimoniais: alguns documentos .................................................................................. 70
3.3 Icomos/Unesco ...................................................................................................................................... 76
4 DICIONÁRIO TEMÁTICO DO PATRIMÔNIO: USOS E TEMAS FUNDAMENTAIS .......................... 82
4.1 Diferentes expressões do patrimônio ........................................................................................... 89
4.2 Debates contemporâneos sobre o patrimônio material e imaterial .............................103
Unidade II
5 MEMÓRIA – DEFINIÇÕES............................................................................................................................118
5.1 Como diferenciar história e memória? ......................................................................................126
5.2 Usos da memória e esquecimentos ............................................................................................136
6 CELEBRAÇÕES E EFEMÉRIDES: FESTAS CÍVICAS E A CONSTRUÇÃO DE 
MEMÓRIAS SOCIAIS .........................................................................................................................................144
6.1 Os 500 anos do “Descobrimento”: Exposição Brasil +500 Mostra 
do Redescobrimento .................................................................................................................................161
6.2 O caso das derrubadas das estátuas: problemas, debates e significados ....................167
7 MUSEUS – IMPORTÂNCIA E FUNÇÕES .................................................................................................189
7.1 Conhecer as instituições – museus e possibilidades de ensino de história ................198
7.2 O mundo digital contribuindo para o conhecimento .........................................................207
7.3 Alguns museus digitais ou virtuais do Brasil e do mundo que podem 
ser conhecidos ............................................................................................................................................216
8 DESTRUIÇÃO DE MUSEUS E PATRIMÔNIO: TRAGÉDIAS ANUNCIADAS? ................................219
7
APRESENTAÇÃO
A escolha de trabalhar as ideias de patrimônio, memória e museus em nosso curso de licenciatura 
em História se justifica por sua importância na construção da consciência social, da cidadania e da 
compreensão da formação dos sujeitos sociais.
Em diversos momentos de nosso curso discutiremos as memórias produzidas socialmente, falaremos 
de instituições ou da preocupação em preservar obras ou objetos ou, ainda, analisaremos o que constitui 
o patrimônio material e imaterial de diversas sociedades. Nossa escolha é organizar os conceitos, 
apresentar as principais questões referentes ao patrimônio, como foi pensado no passado e como estão 
os debates na atualidade, além de trazer algumas contribuições mundiais e principalmente analisar as 
representações do Brasil como expressão de sua diversidade.
Em nossa disciplina vamos abordar a questão da memória, tanto em seu aspecto mais geral – como 
se apresenta no senso comum – quanto no debate científico e nas contribuições no campo da história 
e da historiografia. A importância da memória é indiscutível nas sociedades, estudaremos como ela é 
formada, alterada e disputada.
Como é comum em diversas disciplinas, devemos reconhecer que escolhemos uma visão crítica nas 
abordagens, pois contribui para a formação do pensamento científico. Ao contrário da imposição de 
dogmatismos e verdades absolutas, estamos interessados em trazer os questionamentos produzidos em 
diversas áreas do conhecimento que estabelecem relações com a história. Se pensarmos no patrimônio, 
podemos mobilizar aspectos da geografia, da arquitetura, da arte e, é claro, da história. Quando 
falamos da memória, vamos problematizar seus usos e também os esquecimentos, como as memórias 
sociais surgem e são elaboradas. Apresentaros museus também nos traz o desafio de fazer escolhas, 
selecionar alguns exemplos e casos que consideramos emblemáticos sem desprezar a importância de 
muitas outras instituições.
Se considerarmos que o Brasil tem mais de 3.800 museus, temos uma pequena dimensão dos desafios 
que envolvem o tema, não apenas pelo número, mas pela variedade das discussões.
Para que nosso percurso possa ser desenvolvido, vamos passar pela constituição do Sphan/Iphan 
no Brasil; pela elaboração das cartas patrimoniais; pelos diversos casos de derrubadas de estátuas; por 
estarrecedores incêndios de museus e pela apresentação de grupos e movimentos sociais que reivindicam 
o direito de existir, manifestando‑se e lutando pela construção de novas histórias e memórias sociais.
Versamos sobre os temas patrimônio, memória e museus quando tratamos de casos como as 
manifestações coletivas intensificadas nos anos iniciais do século XXI contra determinadas estátuas e 
símbolos; analisamos as contestações às representações percebidas como preconceituosas e excludentes; 
observamos o esforço pelo direito ao reconhecimento e existência social de certos grupos, formas de viver 
e de estabelecer relações sociais; procuramos entender o que se perde quando uma das mais importantes 
instituições do país, o Museu Nacional, arde em chamas ou mesmo quando a famosa catedral de Notre 
Dame de Paris pega fogo. Como isso pode entrar nas salas de aula também é um debate importante.
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Vamos analisar alguns casos envolvendo a memória da sociedade brasileira, por exemplo, a criação do 
Livro dos heróis do Brasil, as festas cívicas em torno de efemérides como o centenário da Independência 
em 1922, o sesquicentenário em 1972 e o bicentenário em 2022. Momentos considerados bastante 
expressivos para a construção da memória nacional. Vamos também abordar o período que sucede 
a ditadura civil militar (1964‑1985), a Nova República, quando diversos grupos passaram a lutar 
pelo reconhecimento social de sua existência – tais como os quilombolas com seus modos de vida 
específicos – e quando houve a discussão nacional relacionada ao projeto Brasil: Nunca Mais, em 1985, 
uma pesquisa sobre os crimes cometidos durante a repressão.
Para que esses debates possam avançar, precisaremos abordar as concepções de memória, o sentido 
social e o uso científico nas ciências humanas e também as suas especificidades e diferenças em relação 
ao termo história. Como chegar a definições que podem ser úteis aos professores de história é um 
ponto muito importante. Casos como os relatos da repressão ou o estudo da vala de Perus em São Paulo 
podem contribuir para a compressão da memória social.
Ao trabalharmos com o termo memória, precisaremos diferenciar o senso comum dos usos acadêmicos 
e científicos e, além disso, utilizar esses debates para abordar a ideia da construção do documento/
monumento problematizando o conceito de história e os usos da memória no sentido de construir 
uma aprendizagem significativa e propiciar elementos para a constituição de atitude historiadora por 
parte dos alunos.
INTRODUÇÃO
A importância dos significados dos termos patrimônio, memória e museus tem ganhado destaque 
nos últimos anos. Podemos notar um crescente interesse do público em geral por esses temas e o 
reconhecimento de sua relevância pela comunidade acadêmica. Cada vez mais temos contato com 
reportagens e notícias nas mais diversas plataformas que envolvem o domínio de seus sentidos; no 
âmbito escolar, também, as publicações que relacionam os temas à educação e ao trabalho de professores 
e professoras têm se tornado cada vez mais numerosas e expressivas.
Ao desenvolver qualquer pesquisa – quer em sites de busca, quer em bibliotecas e acervos – sobre 
patrimônio, memória e museus, muitas e diferentes definições podem surgir, que abrangem desde 
aspectos mais gerais relacionados à compreensão dos termos até as definições mais específicas, técnicas 
e científicas – as últimas nos interessam de maneira mais pontual.
Reconhecendo que, de maneira geral, os debates mais específicos estiveram por muito tempo 
ausentes da educação básica, desde o ensino fundamental até o ensino médio, e que isso certamente 
prejudica a aprendizagem da história, estudaremos algumas das mais importantes definições dos 
termos e conceitos. Abordaremos casos de usos dos conceitos e suas aplicações, além de questões mais 
contemporâneas que surgem na sociedade e que de alguma maneira penetram nas escolas. Precisamos 
ter elementos e ferramentas para lidar com tais usos.
Avaliaremos a produção mais recente sobre os três temas, indicando textos e autores importantes 
e como pesquisá‑los. Assim, pretendemos construir possibilidades de reflexões críticas que nos afastem 
9
de simples achismos, palpites ou opiniões originadas no senso comum e que podem comprometer a 
compreensão dos sentidos mais apropriados.
Os temas são importantes em muitas dimensões, isso é o que pretendemos demonstrar neste 
livro‑texto. Às vezes podemos partir de aspectos de nosso cotidiano para buscar compreender melhor 
seus significados. Uma reportagem breve num telejornal, uma manchete em um site de notícias ou 
mesmo em uma rede social, uma postagem ou uma imagem já podem servir de mote, de inspiração, 
para se começar a pensar sobre o assunto.
Neste livro‑texto buscamos abordar casos contemporâneos, ou um pouco mais distantes no tempo, de 
eventos que chamaram a atenção do público em geral e que podem contribuir para o desenvolvimento da 
aprendizagem da história e em alguma medida despertar nosso interesse para a reflexão crítica no dia a dia.
O tratamento do patrimônio nos leva a debates contemporâneos que problematizam a paisagem 
cultural; o patrimônio arqueológico; o patrimônio arquitetônico; os centros históricos; o problema do 
patrimônio na Constituição de 1988; a educação patrimonial e, também, de questões relacionadas 
ao patrimônio material e imaterial. Veremos como esses conceitos surgiram, os seus usos, as políticas 
públicas na atualidade e também como foi constituído o processo histórico de criação, organização e 
reestruturação do Sphan/Iphan, chegando então aos museus e instituições culturais no Brasil e no mundo.
Procuramos atualizar os debates, falar, apresentar algumas reflexões sobre o patrimônio afro‑brasileiro; 
turismo e patrimônio; patrimônio digital e memória na internet além de alguns outros exemplos. Na 
apresentação do patrimônio, vamos analisar também as questões internacionais abrangendo desde a 
Carta de Atenas (1931), passando pela Carta de Veneza (1964), que tratou de monumentos e sítios, até 
a Convenção de Paris (1972), que discutiu patrimônio mundial. Abordamos também outros documentos 
e declarações que contribuíram para a construção das modernas concepções relacionadas à ideia de 
salvaguardar o patrimônio cultural imaterial e material das mais diversas sociedades.
O passado, a memória, o esquecimento e a história precisam ser estudados tanto em seus pontos de 
contato como nos elementos e conceitos que os diferenciam e pensam suas especificidades; por isso as 
relações entre história e memória também serão objeto de nossas reflexões. Devido ao fato de o trabalho 
dos professores e professores de história envolver práticas interdisciplinares, abordaremos a questão 
do patrimônio ambiental e do patrimônio histórico; dos lugares de memória como possibilidades de 
abordagem em aulas e construção de situações de aprendizagem da história.
Vale ressaltar que os três diferentes eixos escolhidos têm especificidades, mas também pontos de 
contato e intersecção entre si. Para cada um desses temas, precisamos propor os questionamentos 
de seus campos específicos de conhecimento, mas sempre estabelecendo as relações com a história, 
com o ensino da história e da constituição dos sujeitos sociais.
Por fim, ressaltamos a importância de estudar o patrimônio, a memória e os museus como forma de 
contribuição para o aperfeiçoamento do ensino de história, com a preocupação da formaçãode uma 
atitude historiadora que permita aos alunos desenvolverem maior capacidade de reflexão e de produção 
de pensamento crítico sobre a história e suas próprias realidades.
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PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
Unidade I
Nesta unidade apresentaremos, primeiro, os usos e definições do termo patrimônio. Vamos refletir 
sobre o papel da cultura na sociedade contemporânea, a importância da preservação patrimonial e de 
como podemos desenvolver nas escolas noções de educação patrimonial. Em seguida, vamos trabalhar 
a história, as políticas de constituição e preservação do patrimônio no Brasil com o Sphan e o Iphan, 
passando pelas cartas patrimoniais, com importância mundial pela Unesco. Vamos trazer também 
algumas das mais importantes definições relacionadas ao patrimônio material e imaterial. Por fim, serão 
discutidas questões contemporâneas relacionadas aos temas abordados como forma de atualização e do 
fornecimento de subsídios para discussões que podem surgir no ensino de história na educação básica. 
Vamos também apresentar diferentes expressões do patrimônio e conhecer as polêmicas relativas às 
noções de patrimônio material e imaterial.
1 INTRODUÇÃO: QUAL A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS SOBRE PATRIMÔNIO, 
MEMÓRIA E MUSEUS?
Ao procurar em dicionários comuns o termo patrimônio, encontramos como definições:
 
conjunto de bens de família, transmitidos por herança; conjunto dos bens de 
uma pessoa, instituição ou empresa, herdados ou adquiridos; conjunto dos 
bens materiais e imateriais de uma nação, estado, cidade, que constituem 
herança coletiva e são transmitidos de geração a geração: o patrimônio 
cultural brasileiro (PATRIMÔNIO, [s.d.])
Ou ainda:
 
herança familiar; conjunto dos bens familiares; grande abundância; riqueza, 
profusão; bem ou conjunto de bens naturais ou culturais de importância 
reconhecida para determinado lugar, região, país ou mesmo para a 
humanidade, que passa(m) por um processo de tombamento para que 
seja(m) protegido(s) e preservado(s) “Ouro Preto é uma das cidades históricas 
brasileiras tombadas pelo p. da Unesco” “o samba de roda foi reconhecido 
como obra‑prima do p. oral e imaterial”; conjunto dos bens, direitos e 
obrigações economicamente apreciáveis, pertencentes a uma pessoa ou a 
uma empresa (PATRIMÔNIO, 2009).
Reconhecemos a importância dessas contribuições e explicações e verificamos que nas duas fontes 
de consulta temos presente a ideia de patrimônio cultural como algo importante, citando‑se inclusive 
conceitos como bens materiais e imateriais.
12
Unidade I
Tais informações são pistas importantes para se começar a problematizar as concepções acerca da 
ideia de patrimônio, mas devemos indicar também que, pensando na qualidade de uma pesquisa, é 
necessário procurar fontes acadêmicas; precisamos consultar dicionários do campo teórico, segundo 
critérios de áreas como história, geografia, turismo, arqueologia, arquitetura. Indicaremos aqui uma lista 
das várias formas de apresentação dos patrimônios, escolheremos alguns dos exemplos mais expressivos 
para elaborar um pouco mais os questionamentos e chegaremos também à educação patrimonial, ou seja, 
de como a ideia de patrimônio cultural pode entrar na vida escolar nas mais diversas regiões do Brasil.
A questão do patrimônio envolve muitas polêmicas, debates e discussões que abrangem as relações 
internacionais. Existem muitas disputas sobre posse, propriedade e devolução de peças consideradas 
importantes. Devemos recordar que no movimento da expansão colonial europeia e, de maneira ainda 
mais acentuada e agressiva, no neocolonialismo do século XIX – em que as potências do Velho Mundo 
reforçaram as conquistas e obtenção de colônias, protetorados e similares (principalmente em áreas da 
África e da Ásia) –, a transferência de relíquias aos museus europeus se acentuou. O problema é que, 
com a descolonização, os questionamentos sobre quem é o verdadeiro proprietário dessas peças ganhou 
força e repercussão na mídia mundial.
O início do século XX foi importante para essa contestação. Países como a Grécia e o Egito, alvos 
importantes da busca por “tesouros arqueológicos” no século XIX, enfrentam essa mesma realidade.
A título de exemplo podemos indicar as reivindicações gregas relativas às peças retiradas do Partenon 
no século XIX, as esculturas denominadas Mármores de Elgin, uma vez que foram levadas do país de 
origem pelo diplomata inglês Lorde Elgin quando atuava junto ao Império Otomano (atualmente parte 
da Turquia), que dominava a Grécia. O conjunto é grande e foi retirado de um lugar de importância 
indiscutível, o Partenon é composto por diversas peças que estavam nos frisos. Dessa maneira pode‑se 
discutir se o mais correto seria dizer mármores de Elgin ou mármores do Partenon. A guarda das 
esculturas é do Museu Britânico (British Museum) em Londres. As peças estão na Inglaterra desde 1832 
e a disputa aumentou quando, em 2021, o governo grego formalizou um pedido de devolução.
No dia 4 de janeiro de 2023 o museu anunciou na imprensa que realizava “discussões” construtivas 
com o governo grego a respeito da devolução das peças à Atenas. Foi noticiado na imprensa britânica 
que o presidente da instituição inglesa, George Osborne, ex‑ministro de finanças, assinou um acordo 
para a devolução. Dessa maneira surgiu a polêmica se seria uma devolução de fato ou empréstimo, 
uma vez que as leis inglesas não permitiriam a entrega permanente, pois, segundo elas, as peças foram 
legalmente adquiridas. Além disso discute‑se se a totalidade ou apenas partes serão restituídas.
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PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
Figura 1 – Archibald Archer (1791‑1848). Representação da 
Sala Temporária dos Mármores de Elgin no museu, em 1819
Disponível em: https://bit.ly/40ewHMS. Acesso em: 16 mar. 2023.
E em detalhe representamos a seguir um dos mármores levados da Grécia:
Figura 2 – Mármore de Elgin (Torso)
Disponível em: https://bit.ly/42gml0F. Acesso em: 16 mar. 2023.
14
Unidade I
Nos desenhos a seguir, temos a localização de algumas das peças no friso do Partenon.
Figura 3 – Frontão ocidental, Burrow John Edward – 1837
Disponível em: https://bit.ly/3Lugwqy. Acesso em: 16 mar. 2023.
Figura 4 – Frontão oriental, Burrow John Edward – 1837
Disponível em: https://bit.ly/3Tmt7Ob. Acesso em: 16 mar. 2023.
Note que no trecho superior do Partenon, na figura a seguir, está faltando a parte do friso, levada da 
Grécia para museus de outros países europeus.
Figura 5 – Partenon – vista oeste
Disponível em: https://bit.ly/3LtCPMV. Acesso em: 16 mar. 2023.
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PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
 Saiba mais
Para conhecer melhor o assunto, você pode consultar as seguintes 
reportagens:
BBC NEWS BRASIL. Como os britânicos levaram as esculturas do 
Partenon, que a Grécia tenta recuperar. 1º jan. 2022. Disponível em: 
https://bbc.in/3mVVcQm. Acesso em: 16 mar. 2023.
MUSEU Britânico discute devolver mármores de 2.500 anos para Grécia. 
TV Cultura, 5 jan. 2023. Disponível em: https://bit.ly/3yJi4Fj. Acesso em: 
16 mar. 2023.
Ainda tratando de algumas discussões contemporâneas sobre a propriedade de peças consideradas 
como patrimônio de determinados povos, temos o caso em que a arte, ou, de maneira mais específica, 
o cinema, parece emular as discussões presentes na sociedade.
Em um filme recente – ícone da cultura pop, que levou para as salas de cinema o HQ de sucesso 
da Marvel, Pantera Negra –, logo nos primeiros minutos surge uma discussão que nos parece bastante 
simbólica. A cena se passa no interior de um museu, quando um homem negro observa artefatos que 
remetem à cultura africana e é interpelado por uma mulher branca, especialista no assunto. O homem 
começa dizendo que os objetos são bonitos e pergunta sobre sua origem, ao que ela afirma alguns serem 
do Bobo Ashanti e outros do povo Ido, de Benim (atualmente parte da Nigéria), século XVI. Em frente a 
um objeto considerado especial, novamente, ela diz que é de Benim, na tribo Fula, século XVII. O homem 
a corrige dizendo que, apesar de os soldadosbritânicos terem‑no levado de Benim, o objeto era de outro 
lugar. Ele afirma que o levaria embora e ela explica que não está à venda, quando então ele questiona à 
mulher se ela sabia como seus ancestrais tinham conseguido o objeto.
Esse breve relato, incompleto e que resume muito rapidamente alguns aspectos de uma obra 
cinematográfica, serve para observamos como o tema está circulando em meio à cultura pop e que, 
com um pouco de atenção, podemos verificar muitas outras referências da importância do debate sobre 
patrimônio, memória e museus no mundo contemporâneo.
 Saiba mais
O filme Pantera Negra, da Marvel, foi indicado ao Oscar. Além dos 
aspectos apontados anteriormente, traz referências estéticas e culturais 
que remetem à ancestralidade africana e à luta por direitos e igualdade.
PANTERA negra. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos: Marvel Studios, 
2018. 134 min.
16
Unidade I
Um aspecto que deve ser ressaltado é nossa preocupação em superar a visão tão difundida no senso 
comum, e há muito superada nos debates acadêmicos, que considera artefatos, vestígios e objetos, além 
dos museus em si, como símbolos de reverência ao passado. Tanto na pesquisa quanto na produção 
científica, podemos questionar o que deve ser mais ou menos explorado em uma investigação, e não 
simplesmente ceder ao aspecto de culto.
Devemos pontuar que não estamos questionando a preservação, guarda e tratamento especial dos 
objetos, apenas buscamos apresentar critérios para a seleção, valorização e reconhecimento de alguns 
deles. Um objeto não se torna especial apenas por ser antigo, ou dito de maneira mais frequente, “velho”. 
É preciso que seja representativo de algo, de uma sociedade, cultura, expressões, e sua preservação deve 
ser justificada segundo critérios difundidos na comunidade científica e por especialistas no assunto.
Convém notar que cada vez mais é reconhecida a importância de manifestações culturais que não 
remetam às classes sociais dominantes. Objetos, rituais e as mais diversas práticas têm recebido o devido 
reconhecimento de sua importância no Brasil e no mundo, e a lista se amplia constantemente.
Procuramos selecionar alguns dos critérios mais difundidos para que algo possa ser considerado um 
“patrimônio”. Iniciamos a apresentação recorrendo à obra Patrimônio histórico e cultural, de Pedro Paulo 
Funari e Sandra C. A. Pelegrini:
 
Hoje, quando falamos em patrimônio, duas ideias diferentes, mas 
relacionadas, vêm à nossa mente. Em primeiro lugar, pensamos nos bens 
que transmitimos aos nossos herdeiros – e que podem ser materiais, como 
uma casa ou uma joia, com valor monetário determinado pelo mercado. 
Legamos, também, bens materiais de pouco valor comercial, mas de grande 
significado emocional, como uma foto, um livro autografado ou uma imagem 
religiosa do nosso altar doméstico. Tudo isso pode ser mencionado em um 
testamento e constitui o patrimônio de um indivíduo. A esse sentido legal 
do termo, devemos acrescentar outro, não menos importante: o patrimônio 
espiritual. Quando pensamos no que recebemos de nossos antepassados, 
lembramo‑nos não apenas dos bens materiais, mas também da infinidade 
de ensinamentos e lições de vida que eles nos deixaram. A maneira de fazer 
nhoques – que não se resume à receita, guardada com cuidado no caderno 
com a letra da nossa querida mãe ou avó –, o modo como sambamos (algo 
que nunca estará em um caderninho!), os ditados e provérbios que sabemos 
de cor e que nos guiam por toda a vida são exemplos de um patrimônio 
imaterial inestimável (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 8).
Destacamos no trecho citado a ideia de que muitas vezes atribuímos valor a determinados objetos 
e conhecimentos, mas isso não passa necessariamente pelo lado econômico, ou seja, são muitas vezes 
experiências humanas recebidas e passadas adiante e que nos constituem como indivíduos com uma 
trajetória familiar e social. Os autores continuam:
 
17
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
Até agora, tratamos do patrimônio como algo individual, de cada um de 
nós, mas, a partir de nossas percepções e sentimentos, podemos entender 
o uso do mesmo termo para se referir àquilo que é coletivo. Há uma 
diferença essencial, contudo. O patrimônio individual depende de nós, que 
decidimos o que nos interessa. Já o coletivo é sempre algo mais distante, 
pois é definido e determinado por outras pessoas, mesmo quando essa 
coletividade nos é próxima. Se dez pessoas diferentes forem listar o 
patrimônio de seu condomínio ou de seu bairro, chegarão a listas muito 
díspares. A associação de moradores pode determinar que constituem 
o patrimônio comum, por exemplo, uma árvore e o hino do bairro (isso 
existe!). Se é assim em uma comunidade pequena, tanto maior será a 
distância entre o indivíduo e as grandes coletividades, como o município, 
o estado, a nação ou a humanidade como um todo. Para entender o 
patrimônio coletivo, é necessário, antes, refletirmos sobre a própria vida 
coletiva (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 8).
A leitura desse trecho acrescenta a importante noção de coletividade, algo que é comum, 
compartilhado e que confere algum valor, alguma importância. Consideramos que os grupos humanos 
são complexos, bem como a formação de seu sistema de valores e de sua cultura, como os autores 
nos lembram,
 
as coletividades são constituídas por grupos diversos, em constante mutação, 
com interesses distintos e, não raro, conflitantes. Uma mesma pessoa pode 
pertencer a diversos grupos e, no decorrer do tempo, mudar para outros. 
Passamos, assim, por grupos de faixa etária: crianças, adolescentes, adultos, 
idosos. Passamos ainda de estudantes a profissionais, e, em seguida, a 
aposentados. São, portanto, inúmeras as coletividades que convivem em 
constante interação e mudança (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 8).
Dessa maneira é importante compreender que estamos tratando de construções sociais passíveis de 
mudanças no decorrer dos tempos. A própria noção de patrimônio tem sua historicidade, mas trataremos 
disso mais adiante. Além do patrimônio, os outros termos, memória e museus, que aparecerão diversas 
vezes em nosso curso e também merecem algumas reflexões introdutórias.
Podemos considerar que algumas noções de senso comum relativas à memória e aos museus acabam 
distanciando bastante as pessoas interessadas das definições mais adequadas. Pensar na memória 
como nossa capacidade de lembrar individualmente, desde dados até informações, nos distancia da 
compreensão do caráter social e histórico que ela apresenta. Além disso, perde‑se também a importante 
noção de que memória é uma construção bastante dinâmica.
18
Unidade I
 Saiba mais
Para começar a discussão sobre memória em sala de aula, pode‑se 
recorrer à animação:
DIVERTIDAMENTE. Direção: Pete Docter. Estados Unidos: Pixar Animation 
Studios, 2015. 94 min.
Com ela, podemos discutir a percepção que cada qual desenvolve da 
realidade e como nossos registros são complexos.
Ainda pensando sobre a memória, muito provavelmente você já deve ter escutado a frase “brasileiro 
não tem memória”, não é mesmo? Mas será correto afirmar isso? De que memória se está tratando? Se 
considerarmos que nossa abordagem deve se distanciar de memória como lembrança estática de um 
fato do passado, essa frase sobre os brasileiros passa a ser bastante problemática; aliás, os estereótipos 
incorretamente generalizam e simplificam características próprias.
 Observação
Estereótipo é observar ou entender uma pessoa ou algo de modo 
muito generalizado, não respeitando características específicas, próprias. 
Dessa maneira, formam‑se padrões equivocados que podem originar 
incompreensões, preconceitos e distorções, levando ao lugar‑comum.
Devemos considerar que memória pode envolver uma pessoa, um grupo, um país e ajuda na formação 
de uma espécie de base, de arcabouço comum, para a existência da identidade. Se deixamos de lado a 
ideia de memória, não conseguimos debater o passado, não acessamos os elementos que formam essa 
base. Antes – com opositivismo no século XIX – pensava‑se em resgatar as coisas tal como ocorreram, 
documentos eram a revelação exata do passado, a ideia de fatos objetivos que pudessem ser conhecidos 
sem nenhuma influência de nossa subjetividade. Não podemos nos ater a apenas uma informação, um 
dado ou ao aspecto político para explicar situações que são complexas. No campo da história e das 
ciências sociais, temos que observar um uso bastante ampliado da ideia de memória. Interpretamos os 
fatos e elaboramos memórias de maneira social, coletiva e histórica.
19
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
 Saiba mais
Positivismo é uma filosofia determinista criada por Auguste Comte no 
século XIX adotando como lema “O Amor por princípios, a Ordem por base; o 
Progresso por fim”. A filosofia instava o uso de ciência para a construção do 
conhecimento humano, mas no campo da história provocou uma excessiva 
valorização de documentos oficiais em detrimento de outras manifestações. 
Para conhecer mais o positivismo, recomendamos como introdução a obra:
RIBEIRO JÚNIOR, J. O que é positivismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 
1994. (Coleção Primeiros Passos, n. 72).
Segundo o sociólogo que se dedicou a compreender as nuances por trás da ideia de memória 
coletiva, Maurice Halbwachs, “cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva” 
(2013,  p. 30), pois considera a importância de rememorar, mas não a separa de forma absoluta do 
coletivo, ao contrário,
 
lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros, 
ainda que trate de eventos em que somente nós estivemos envolvidos e 
objetos que somente nós vimos. Isso acontece porque jamais estamos sós 
(HALBWACHS, 2013, p. 30).
Rememorar, portanto, pode ser pensado como
 
Uma ou mais pessoas juntando suas lembranças conseguem descrever com 
muita exatidão fatos ou objetos que vimos ao mesmo tempo em que elas, 
e conseguem até reconstituir toda a sequência de nossos atos e nossas 
palavras em circunstâncias definidas, sem que nos lembremos de nada de 
tudo isso (HALBWACHS, 2013, p. 31).
Tal contribuição valoriza a atuação do coletivo, nossa inserção no grupo que nos forma e ao qual 
recorremos na reconstrução e reconhecimento desse processo de recordar.
 
Não basta reconstituir pedaço por pedaço a imagem de um acontecimento 
passado para obter uma lembrança. É preciso que esta reconstituição 
funcione a partir de dados ou de noções comuns que estejam em nosso 
espírito e também no dos outros, porque elas estão sempre passando destes 
para aqueles e vice‑versa, o que será possível se somente tiverem feito e 
continuarem fazendo parte de uma mesma sociedade, de um mesmo grupo 
(HALBWACHS, 2013, p. 39).
20
Unidade I
No entanto, vale lembrar que existe uma dupla dimensão da memória que precisa ser ressaltada, 
pois, além de coletiva, ela é também individual.
para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que 
estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha 
deixado de concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos 
de contato entre uma e outras para que a lembrança que nos fazem recordar 
venha a ser constituída sobre uma base comum (HALBWACHS, 2013, p. 39).
Sendo assim, nossas características individuais, autobiográficas estão relacionadas com nossa 
experiência histórica, que é social, e mais uma vez se estabelece a importância das experiências. A obra 
de Maurice Halbwachs (2013) se torna uma importante contribuição, pois constata que a memória não 
está pronta e estática, não permanece guardada inalterada em algum lugar para ser utilizada quando 
for conveniente, ela passa por processos de ressignificação, pois é do presente que a acessamos. Existe 
sempre uma reelaboração.
Recorrendo à obra fundamental sobre o tema, História e memória, de Jacques Le Goff, observamos 
que:
 
O conceito de memória é crucial. Embora o presente ensaio seja 
exclusivamente dedicado à memória tal como ela surge nas ciências 
humanas (fundamentalmente na história e na antropologia), e se ocupe 
mais da memória coletiva que das memórias individuais, é importante 
descrever sumariamente a nebulosa memória no campo científico global. A 
memória, como propriedade de conservar certas informações, remete‑nos 
em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o 
homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele 
representa como passadas. Desse ponto de vista, o estudo da memória 
abarca a psicologia, a psico‑fisiologia, a neurofisiologia, a biologia e, quanto 
às perturbações da memória, das quais a amnésia é a principal, a psiquiatria 
[…]. Certos aspectos do estudo da memória, no interior de qualquer uma 
dessas ciências, podem evocar, de forma metafórica ou concreta, traços e 
problemas da memória histórica e da memória social (LE GOFF, 2013, p. 387).
Destacamos que o autor valoriza a memória em sua dimensão social, coletiva. E continua:
 
A noção de aprendizagem, importante na fase de aquisição da memória, 
desperta o interesse pelos diversos sistemas de educação da memória que 
existiram nas várias sociedades e em diferentes épocas: as mnemotécnicas. 
Todas as teorias que conduzem de algum modo à ideia de uma atualização 
mais ou menos mecânica de vestígios mnemônicos foram abandonadas, em 
favor de concepções mais complexas da atividade mnemônica do cérebro 
e do sistema nervoso: “O processo da memória no homem faz intervir não 
só a ordenação de vestígios, mas também a releitura desses vestígios” e “Os 
21
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
processos de releitura podem fazer intervir centros nervosos muito complexos 
e uma grande parte do córtex”, mas existe “um certo número de centros 
cerebrais especializados na fixação do percurso mnésico” (CHANGEUX apud 
LE GOFF, 2013, p. 388).
Ele problematiza qual tratamento seria importante para o campo da história:
 
Descendem daqui diversas concepções recentes da memória, que põem a 
tônica nos aspectos de estruturação, nas atividades de auto‑organização. 
Os fenômenos da memória, tanto nos seus aspectos biológicos como nos 
psicológicos, mais não são do que os resultados de sistemas dinâmicos de 
organização e apenas existem “na medida em que a organização os mantém 
ou os reconstitui”. Alguns cientistas foram, assim, levados a aproximar a 
memória de fenômenos diretamente ligados à esfera das ciências humanas 
e sociais. Assim, Pierre Janet considera que o ato mnemônico fundamental 
é o “comportamento narrativo”, que se caracteriza antes de mais nada 
pela sua função social, pois se trata de comunicação a outrem de uma 
informação, na ausência do acontecimento ou do objeto que constitui o seu 
motivo” […]. Aqui intervém a “linguagem, ela própria produto da sociedade”. 
Desse modo, Henri Atlan, estudando os sistemas auto‑organizadores, 
aproxima “linguagens e memórias”. A utilização de uma linguagem falada, 
depois escrita, é de fato uma extensão fundamental das possibilidades de 
armazenamento da nossa memória que, graças a isso, pode sair dos limites 
físicos do nosso corpo para se interpor quer nos outros, quer nas bibliotecas. 
Isso significa que, antes de ser falada ou escrita, existe uma certa linguagem 
sob a forma de armazenamento de informações na nossa memória (LE GOFF, 
2013, p. 388‑389).
A relação entre a linguagem e a construção da sociedade passa, dessa maneira, pela elaboração 
das memórias. E como grande historiador que é, Le Goff acrescenta camadas de informações e 
problematizações que nos distanciam cada vez mais das compreensões rápidas e simplificadoras da 
ideia de memória.
 
As ligações entre as diferentes formas de memória podem, aliás, apresentar 
caracteres não metafóricos, mas reais. Goody, por exemplo, observa: “Em 
todas as sociedades, os indivíduos detêm uma grande quantidade de 
informações no seu patrimônio genético, na sua memória de longo prazo e, 
temporariamente, na memória ativa” (1977a, p. 35). Leroi‑Gourhan considera 
a memória em sentido lato e distingue três tipos de memória:memória 
específica, memória étnica, memória artificial. Memória é entendida, nesta 
obra, em sentido muito lato. Não é uma propriedade da inteligência, mas 
a base, seja ela qual for, sobre a qual se inscrevem as concatenações de 
atos. Podemos a esse título falar de uma “memória específica” para definir a 
fixação dos comportamentos de espécies animais, de uma memória “étnica” 
22
Unidade I
que assegura a reprodução dos comportamentos nas sociedades humanas e, 
no mesmo sentido, de uma memória “artificial”, eletrônica em sua forma mais 
recente, que assegura, sem recurso ao instinto ou à reflexão, a reprodução 
de atos mecânicos encadeados (1964‑1965, p. 269) (LE GOFF, 2013, p. 389).
O autor reconhece então diferentes características da memória que vão do aspecto “animal” para o 
social e para aquilo que é criação humana.
 
Numa época muito recente, os desenvolvimentos da cibernética e da biologia 
enriqueceram consideravelmente, sobretudo metaforicamente e em relação 
com a memória humana consciente, a noção de memória. Fala‑se da 
memória central dos computadores, e o código genético é apresentado 
como uma memória da hereditariedade (cf. Jacob, 1970). […] “A partir de 
1950, os interesses mudaram radicalmente, em parte por influência de novas 
ciências como a cibernética e a linguística, para tomarem uma opção mais 
decisivamente teórica” (LE GOFF, 2013, p. 389).
 Observação
Cibernética é o estudo organizado de sistemas de informação e controles 
de processos complexos naturais ou artificiais em sistemas que se regulam 
e aprendem trocando informações. O dicionário Caldas Aulete Digital 
nos informa que o termo vem do inglês cybernetics (termo cunhado em 
meados do século XX), calcado diretamente no grego tekhné kybernetiké 
“arte/técnica de pilotar, de governar embarcação” (CIBERNÉTICA, [s.d.]).
E aborda o aspecto dos esquecimentos:
 
Finalmente, os psicanalistas e os psicólogos insistiram, quer a propósito 
da recordação, quer a propósito do esquecimento […] nas manipulações 
conscientes ou inconscientes que o interesse, a afetividade, o desejo, a 
inibição, a censura exercem sobre a memória individual. Do mesmo modo, 
a memória coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças 
sociais pelo poder. Tornarem‑se senhores da memória e do esquecimento é 
uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que 
dominaram e dominam as sociedades históricas. Os  esquecimentos e os 
silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da 
memória coletiva. O estudo da memória social é um dos meios fundamentais 
de abordar os problemas do tempo e da história, relativamente aos quais a 
memória está ora atrasada, ora adiantada. No estudo histórico da memória 
histórica é necessário dar uma importância especial às diferenças entre 
sociedades de memória essencialmente oral e sociedades de memória 
essencialmente escrita (LE GOFF, 2013, p. 390).
23
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
Em sua conclusão, Le Goff (2013, p. 435) afirma:
 
A evolução das sociedades, na segunda metade do século XX, elucida a 
importância do papel que a memória coletiva desempenha. Exorbitando 
a história como ciência e como culto público, ao mesmo tempo a 
montante, enquanto reservatório (móvel) da história, rico em arquivos e 
em documentos/monumentos, e aval, eco sonoro (e vivo) do trabalho 
histórico, a memória coletiva faz parte das grandes questões das sociedades 
desenvolvidas e das sociedades em vias de desenvolvimento, das classes 
dominantes e das classes dominadas, lutando, todas, pelo poder ou pela vida, 
pela sobrevivência e pela promoção. Mais do que nunca, são verdadeiras 
as palavras de Leroi‑Gourhan: “A partir do Homo sapiens, a constituição 
de um aparato da memória social domina todos os problemas da evolução 
humana” (1964‑1965, p. 24); e ainda: “A tradição é biologicamente tão 
indispensável à espécie humana como o condicionamento genético o é às 
sociedades de insetos: a sobrevivência étnica funda‑se na rotina, o diálogo 
que se estabelece suscita o equilíbrio entre rotina e progresso, simbolizando 
a rotina o capital necessário à sobrevivência do grupo, o progresso, a 
intervenção das inovações individuais para uma sobrevivência melhorada” 
(LE GOFF, 2013, p. 435).
Ele acrescenta na sequência aspectos além dos biológicos, pois a compreensão da identidade torna‑se 
essencial nas sociedades humanas.
 
A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, 
individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais 
dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia. Mas a memória 
coletiva é não somente uma conquista, é também um instrumento e um 
objeto de poder. São as sociedades cuja memória social é, sobretudo, oral, ou 
que estão em vias de constituir uma memória coletiva escrita, aquelas que 
melhor permitem compreender esta luta pela dominação da recordação e da 
tradição, esta manifestação da memória. […] Nas sociedades desenvolvidas, 
os novos arquivos orais e audiovisuais não escaparam à vigilância dos 
governantes, mesmo que possam controlar esta memória tão estreitamente 
como os novos utensílios de produção desta memória, nomeadamente a 
do rádio e a da televisão. Cabe, com efeito, aos profissionais científicos da 
memória, antropólogos, historiadores, jornalistas, sociólogos, fazer da luta 
pela democratização da memória social um dos imperativos prioritários da 
sua objetividade cientifica. […] A memória, na qual cresce a história, que 
por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e 
ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a 
libertação, e não para a servidão dos homens (LE GOFF, 2013, p. 436‑437).
24
Unidade I
Le Goff (2013) consegue nos trazer nessa abordagem a necessidade de problematizar 
características históricas, sociais, coletivas que estão em relação com outros campos, mas que, para 
serem compreendidos, necessitam de conhecimentos de diversas ciências e profissões. Não podemos 
desconsiderar aspectos biológicos de nossa humanização, mas também não podemos simplesmente 
subordinar todas as características sociais a isso, à herança genética. Os estudos de antropologia nos 
ensinam que somos dotados daquilo que genericamente podemos denominar de cultura. E isso torna 
tudo mais complexo, e rico.
Além disso, poderíamos trazer as abordagens de Jöel Candau na obra Memória e identidade, que 
trabalha esses conceitos para entender como vamos das formas individuais para as formas coletivas 
de memória e identidade. Relacionando a obra de Candau às nossas discussões aqui, temos a seguinte 
afirmação do autor “o patrimônio é uma dimensão da memória” (2012, p. 16) e também que “o 
patrimônio é menos um conteúdo que uma prática da memória obedecendo a um projeto de afirmação 
de si mesma” (2012, p. 163). Ou ainda temos o instigante título da obra de Lucia Lippi Oliveira, Cultura 
é patrimônio: um guia (OLIVEIRA, 2008).
 Saiba mais
Para saber mais sobre cultura, recomendamos como obra de introdução:
SANTOS, J. L. O que é cultura? São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção 
Primeiros Passos, n. 110).
Passando à questão dos museus, recordamos que já mencionamos aqui algumas disputas sobre a 
guarda de objetos africanos ou mesmo a questão dos mármores de Elgin. Agora vamos resgatar alguns 
aspectos que nos auxiliam na compreensão do que seriam os museus e qual a sua importância e, para 
isso, recorremos à obra de Lucia Lippi Oliveira. A autora afirma que:
 
As mais antigas e reconhecidas intuições do campo da cultura e do patrimônio 
cultural são os museus. O significado original da palavra museu, um lugar na 
cidade de Alexandria onde se reuniam homens sábios, aparece mencionado 
na famosa Enciclopédia, cujos volumes foram sendo publicados ao longo 
da segunda metade do século XVIII. Diderot e D’Alembert mencionam que, 
nesse local, as nove musas, filhas de Zeus e de Mnemósine (memória), eram 
reverenciadas. Cada uma delas tinhapor função presidir uma atividade 
criadora. O museu era, assim, a casa ou o templo das musas. A casa dispunha 
de biblioteca, jardim botânico e zoológico, observatório astronômico, 
laboratório anatômico, tudo a serviço dos sábios. Era então no templo 
das musas que se reuniam matemáticos, astrônomos, geógrafos, filósofos 
e poetas. Na época da publicação da Enciclopédia, o museu já mudara de 
perfil; passara a ser o lugar onde estavam reunidas coisas ligadas às artes 
e onde eram guardadas as coleções. Vejamos como isso aconteceu. Antes 
25
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
do Renascimento, havia a prática de colecionar coisas antigas. A cultura 
da curiosidade deu origem aos gabinetes de curiosidades, que guardavam 
peças antigas e históricas, curiosidades naturais, fósseis, corais, flores, frutos 
e animais vindos de lugares distantes, enfim as chamadas “bizarrices”. 
Havia também os gabinetes de história natural, onde se faziam estudos 
de plantas, minerais, animais, sendo ali acolhido tudo o que os chamados 
naturalistas queriam estudar. Foram os precursores dos museus de ciências 
naturais (2008, p. 140).
No trecho destacamos que podemos considerar a importância da origem dessa instituição como 
lugar de preservação, de reunião para o conhecimento. Ao contrário do que muitas pessoas julgam, 
até a atualidade, os museus são lugares de produção de conhecimento, e não apenas depósitos. 
Retornando a Oliveira,
 
As coleções que compunham os gabinetes ganharam impulso a partir do 
século XV com o interesse e a busca de vestígios da Antiguidade em geral 
e da romana, em particular – objetos, fragmentos de esculturas, medalhas, 
moedas comemorativas. A partir da Renascença cresceu muito o interesse 
pelas coisas greco‑romanas e proliferaram a celebração da arte e o estudo 
da história antiga. Isso significou afirmar o laço entre aquela época e a 
Antiguidade. […] Essa paixão pelas esculturas levou seus amantes a considerar 
a escultura a encarnação da superioridade artística da civilização antiga. As 
esculturas antigas se tornaram o modelo do belo. Esse padrão foi consagrado 
pela produção de réplicas em bronze, que foram sendo espalhadas pelos 
espaços internos e externos dos palácios e castelos. Nos espaços externos, 
destacavam‑se os jardins – a natureza domada […] exposições de peças de 
valor. O gosto pela procura de vestígios da Grécia e de Roma nos séculos 
XVII e XVIII levou eruditos europeus a fazerem o levantamento das ruínas 
romanas, a encontrarem antiguidades nacionais. Assim descobriram e 
passaram a reconhecer o gótico, a arquitetura religiosa cristã do século V ao 
XV como símbolo de antiguidades nacionais (2008, p. 141).
O caráter de estudo começou a se destacar e o de reunião de acervos também. Passaram a ser 
valorizados determinados padrões estéticos relacionados ao pensamento clássico.
 
O gosto por curiosidades, que se difundiu no século XVII, conferia prestígio 
às raridades de uma coleção e reconhecimento social a seu proprietário. 
O significativo interesse por objetos levou à publicação de catálogos, que, por 
sua vez, valorizavam as pinturas e esculturas neles incluídas. Esse mercado 
em expansão produziu uma migração de objetos do sul para o norte da 
Europa. A valorização da arte antiga, o interesse despertado por ela, a busca 
de vestígios dessa arte e o costume de colecionar propiciaram o surgimento 
de novos profissionais – os antiquários – e a abertura de novos espaços – os 
museus. Mas como se forma uma coleção? K. Pomian (1984) escreveu na 
26
Unidade I
Enciclopédia Einaudi que a coleção reúne bens, objetos mantidos fora do 
circuito das atividades econômicas. Tais objetos estão privados de utilidade, 
mas não de valor de troca. E esse valor depende dos significados atribuídos 
aos objetos pelos mitos (permuta entre deuses e homens, heróis e homens 
comuns, o mundo sobrenatural e o comum, o tempo das origens e o presente 
e/ou pelas tradições) (OLIVEIRA, 2008, p.141).
As coleções das instituições têm diferentes origens, são formadas de acordo com diferentes critérios 
e assim os objetos recolhidos são colocados em novos contextos, formando acervos que expressam um 
desejo de guarda em locais específicos, alguns iniciados como grandes depósitos a partir da reunião de 
coleções privadas menores.
Na atualidade outras questões são engendradas, por exemplo, a digitalização e a virtualização como 
maneiras de acesso mais democratizado, pois em diversas instituições o acesso via rede de computadores 
permite interações, ainda mais quando existe o uso de realidades aumentadas ou 3D. As instituições 
anteriormente vistas como depositárias apenas de coisas antigas e em prédios também antigos passaram 
no início do século XXI por atualizações importantes. Mas nem sempre tudo ocorreu da melhor maneira. 
Instituições eram relegadas ao segundo plano, ou terceiro, quando se tratava de receber verbas, de fazer 
manutenção preventiva e isso teve consequências que também observaremos mais adiante. Estamos 
falando da destruição de acervos, quer por deterioração das instalações, quer por negligência de algum 
responsável, quer por grandes incêndios que, em algumas instituições, como a Cinemateca de São Paulo, 
tornaram‑se recorrentes.
As coleções que guardavam objetos reverenciando o passado, como antiquários, passam por 
atualizações promovendo debates com o mundo em que estão inseridas, tornando‑se importantes 
como lugares de pesquisa e de aprendizagem, e não apenas de guarda. Estabeleceremos mais 
adiante diálogos com o campo da museologia, mas abordaremos antes as problematizações 
contemporâneas. Iniciamos nosso texto mencionando as disputas por patrimônios, por objetos 
e mármores que são levados por outros povos e que repousam em grandes instituições. Essas 
questões serão retomadas.
1.1 Patrimônio – usos e definições
As principais noções, usos e definições sobre o patrimônio estão localizadas no logos dos itens e 
capítulos, uma vez que, dependendo do debate, precisamos recorrer a um aspecto. Reconhecemos a 
necessidade de nos aproximarmos do tema patrimônio e também a sua multiplicidade de sentidos:
 
O que para uns é patrimônio, para outros não é. Além disso, os valores 
sociais mudam com o tempo. Por tudo isso, convém analisar como o 
patrimônio foi visto ao longo dos tempos e dos grupos sociais (FUNARI; 
PELEGRINI, 2006, p. 9).
Devemos considerar que o conceito de patrimônio está interligado a outros conceitos que o 
influenciam e que são por ele influenciados, uma vez que memória e identidade; preservação e lugares 
27
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
de memória; bem comum e legado contêm elementos importantes que contribuem para os debates 
relacionados ao patrimônio.
E assim,
 
A ideia de posse coletiva como parte do exercício da cidadania inspirou a 
utilização do termo patrimônio para designar o conjunto de bens de valor 
cultural que passaram a ser propriedade da nação, ou seja, do conjunto 
de todos os cidadãos. A construção do que chamamos de patrimônio 
histórico e artístico nacional partiu, portanto, de uma motivação 
prática – o novo estatuto de propriedade dos bens confiscados – e de 
uma motivação ideológica – a necessidade de ressemantizar esses bens 
(FONSECA, 2005, p. 58).
De acordo com Márcia Chuva,
 
Na acepção dicionarizada do começo do século XX, no Brasil, a palavra 
patrimônio significava: “Herança paterna. Bens de família. Bens necessários 
para a ordenação de um eclesiástico” (Figueiredo, 1925). Hoje em dia, deu‑se 
uma relativa ampliação ao termo. Embora mantendo sua característica 
essencial de bem passível de posse, passou a incluir também, por um lado, 
a noção de bens cujo valor pode ser apenas econômico, ou, ainda, bens 
imateriais, cujo valor é exclusivamente simbólico (1998, p. 34).
As acepções de patrimônio podem ser muitas e continuam em transformação na atualidade, pois, 
se são expressão de experiências humanas, elas não podem ficar “paradas no tempo”, estagnadas. 
O processo é dinâmico e deve ser constantementeatualizado, conforme nos indica o Dicionário temático 
de patrimônio: debates contemporâneos, organizado por Aline Carvalho e Cristina Meneguello (2020), 
que observaremos com mais cuidado em outra parte do texto.
Buscando sobre o tema patrimônio no portal do Iphan, que possui dicionários e muitas e 
relevantes publicações, encontramos como temas relacionados: patrimônio artístico; patrimônio 
cultural brasileiro; patrimônio cultural nacional; patrimônio nacional; patrimônio cultural; patrimônio 
histórico; patrimônio histórico e artístico nacional; patrimônio monumental consagrado e com 
subverbetes; patrimônio arqueológico; patrimônio cultural da humanidade; patrimônio documental; 
patrimônio genético; patrimônio imaterial; patrimônio material e patrimônio natural.
A partir dessa breve lista, podemos perceber que existem nuances, variações, que precisam 
ser consideradas, pois, se tomarmos como exemplo o patrimônio arqueológico no Iphan, ele esteve 
inicialmente ligado a valores artísticos e excepcionais – os primeiros tombamentos foram de coleções 
arqueológicas e a gestão do patrimônio arqueológico passou a ser obrigação do Estado a partir de 1961, 
com a Lei n. 3.924/61 (DICIONÁRIO IPHAN…, 2008).
28
Unidade I
Recorrendo a André Köhler, temos que
Foi apenas no final do século XVIII, na França tomada pela revolução, que surgiu 
uma verdadeira política pública patrimonial, com um Estado interessado – 
pelo menos em teoria – em preservar materialmente os bens imóveis da 
Idade Média e Antiguidade – a Revolução Francesa marca a passagem do 
registro iconográfico para a preservação real. A Revolução Francesa trouxe 
dois fatores importantes para a tomada de consciência relativa à preservação 
real dos monumentos do passado. Primeiro, a passagem da propriedade de 
bens móveis e imóveis do clero, da aristocracia e dos emigrados para o Estado 
transforma esse patrimônio em nacional – sentimento nacional. Segundo, 
o vandalismo revolucionário, principalmente após a tentativa de fuga do 
rei, colocava a permanência dos monumentos do país em risco, devido às 
destruições generalizadas (Choay, 2006). Desse modo, é no contexto da 
Revolução Francesa, no final do século XVIII, que se formou, pela primeira 
vez, uma efetiva política pública patrimonial (KÖHLER, 2019, p. 141).
Percebemos a presença das mudanças e necessidades de adaptação e recriação de ideias e conceitos 
relacionadas à época histórica, portanto com historicidades específicas.
Procurando compreender a origem do termo,
 
A palavra patrimônio é de origem latina – patrimonium – e, no princípio, 
constituía o domínio do chefe familiar sobre os bens materiais, além da esposa, 
dos filhos, dos servos e dos escravos. Na Idade Contemporânea, o termo 
passou a significar a herança cultural e natural preservada por determinado 
povo ou pela humanidade. Patrimônio na área das ciências sociais, muitas 
vezes, é associado ao termo histórico, daí patrimônio histórico. Para Françoise 
Choay, esta expressão designa um bem para usufruto de uma comunidade 
que tomou uma amplitude planetária, constituindo‑se de uma diversidade de 
objetos que se congregam por um passado em comum: “obras e obras‑primas 
das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes 
e savoir‑faire dos seres humanos” (Choay, 2006, p. 11). Este conceito focava 
na materialidade, mas foi, aos poucos, sendo substituído por um termo mais 
abrangente, o chamado patrimônio cultural, envolvendo, agora, o conjunto 
dos bens culturais referentes às identidades coletivas. A noção de patrimônio 
é enriquecida com múltiplas paisagens, arquiteturas, tradições, gastronomia, 
expressões de arte, documentos, sítios arqueológicos, os quais passaram a ser 
valorizados nas políticas públicas para o patrimônio. Vamos retomar, então, 
a ideia de o patrimônio significar a rememoração ou a lembrança da própria 
ação humana em diferentes tempos e lugares. Em geral, as pessoas trazem 
consigo numerosas relações com algumas partes de sua cidade, um teatro, 
um cais ou uma praça, por exemplo, e estas imagens estão impregnadas de 
memórias e significações (MACHADO; RIBEIRO; RIBEIRO, 2020, p. 84).
29
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
Surgindo assim a necessidade de avançar no sentido da existência de bens e de uma multiplicidade 
de patrimônios. Já o patrimônio cultural
 apresenta‑se como o conjunto de manifestações, realizações e representações 
de um povo, de uma comunidade. Ele está presente em todos os lugares e 
atividades: nas ruas, em nossas casas, em nossas danças e músicas, nas artes, 
nos museus e em escolas, igrejas e praças. Também, nos nossos modos de 
fazer, criar e trabalhar. Nos livros que escrevemos, na poesia que recitamos, 
nas brincadeiras que organizamos, nos cultos que professamos. Ele faz parte 
do nosso cotidiano e estabelece as identidades que determinam os valores 
que defendemos. É ele, o patrimônio cultural, que nos faz ser o que somos. 
Nesse sentido, o patrimônio cultural de cada comunidade é importante na 
formação da Identidade de todos nós. Ainda neste tema, é importante 
falarmos sobre a importância fundamental de participarmos das escolhas e 
das decisões concernentes ao futuro das políticas para o patrimônio cultural 
de nosso país, questão importante para tratar nas atividades pedagógicas 
(MACHADO; RIBEIRO; RIBEIRO, 2020, p. 84).
O portal do Iphan nos traz importantes definições sobre patrimônio cultural,
 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 216, ampliou o conceito 
de patrimônio estabelecido pelo Decreto‑lei n. 25, de 30 de novembro de 
1937, substituindo a nominação Patrimônio Histórico e Artístico, por 
Patrimônio Cultural Brasileiro. Essa alteração incorporou o conceito de 
referência cultural e a definição dos bens passíveis de reconhecimento, 
sobretudo os de caráter imaterial. A Constituição estabelece ainda a parceria 
entre o poder público e as comunidades para a promoção e proteção do 
Patrimônio Cultural Brasileiro, no entanto mantém a gestão do patrimônio 
e da documentação relativa aos bens sob responsabilidade da administração 
pública (PATRIMÔNIO CULTURAL, [s.d.]).
E continua,
 
Enquanto o Decreto de 1937 estabelece como patrimônio “o conjunto de 
bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse 
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, 
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou 
artístico”, o artigo 216 da Constituição conceitua patrimônio cultural como 
sendo os bens “de natureza material e imaterial, tomados individualmente 
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória 
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Nessa redefinição 
promovida pela Constituição, estão as formas de expressão; os modos 
de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as 
obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 
30
Unidade I
manifestações artístico‑culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor 
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e 
científico (PATRIMÔNIO CULTURAL, [s.d.]).
A gestão do patrimônio, elaborada no Brasil pelo Iphan, é efetivada segundo as características de 
cada grupo: patrimônio material, patrimônio imaterial, patrimônio arqueológico e patrimônio mundial.
Assim temos que o patrimônio material é:
 
O patrimônio material protegido pelo Iphan é composto por um conjunto 
de bens culturais classificados segundo sua natureza, conforme os quatro 
Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; 
belas artes; e das artes aplicadas. A Constituição Federal de 1988, em seus 
artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a 
existência de  bens culturais de natureza material e imaterial e, também, 
ao estabelecer outras formas de preservação – como o Registro e o 
Inventário – além do Tombamento, instituído pelo Decreto‑Lei n. 25, de30 
de novembro de 1937, que é adequado, principalmente, à proteção de 
edificações, paisagens e conjuntos históricos urbanos. Os bens tombados 
de natureza material podem ser imóveis como as cidades históricas, 
sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; ou móveis, como 
coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, 
arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos (PATRIMÔNIO 
MATERIAL, [s.d.]).
Já o patrimônio mundial:
 
A Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, adotada em 1972 pela 
Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (Unesco), tem como 
objetivo incentivar a preservação de bens culturais e naturais considerados 
significativos para a humanidade. Trata‑se de um esforço internacional de 
valorização de bens que, por sua importância como referência e identidade 
das nações, possam ser considerados patrimônio de todos os povos.
Cabe aos países signatários desse acordo indicar bens culturais e naturais 
a serem inscritos na Lista do Patrimônio Mundial. As informações sobre 
cada candidatura são avaliadas pelos órgãos assessores da Convenção 
(Icomos e IUCN) e sua aprovação final é feita, anualmente, pelo Comitê 
do Patrimônio Mundial, composto por representantes de 21 países. O Brasil 
ratificou a Convenção, em 1978. De acordo com a classificação da Unesco, 
o Patrimônio Cultural é composto por monumentos, grupos de edifícios 
ou sítios que tenham valor universal excepcional do ponto de vista 
histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. 
Incluem obras de arquitetura, escultura e pintura monumentais ou de 
31
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
caráter arqueológico, e, ainda, obras isoladas ou conjugadas do homem e 
da natureza. São denominadas Patrimônio Natural as formações físicas, 
biológicas e geológicas excepcionais, habitats de espécies animais e vegetais 
ameaçadas e áreas que tenham valor científico, de conservação ou estético 
excepcional e universal (PATRIMÔNIO MATERIAL, [s.d.]).
E o patrimônio imaterial:
 
contempla os saberes, práticas, representações, expressões, conhecimentos 
e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que 
lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os 
indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. 
Uma das formas de proteção dessa porção imaterial da herança cultural é a 
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, adotada pela 
Unesco em 2003. Para estimular governos, organizações não governamentais 
(ONGs) e comunidades locais a reconhecer, valorizar, identificar e preservar 
o seu patrimônio intangível, a Unesco criou um título internacional que 
destaca espaços e manifestações da cultura imaterial, a chamada Lista 
Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, prevista 
pela respectiva Convenção (PATRIMÔNIO MUNDIAL, [s.d.]).
Para o patrimônio arqueológico:
 
Reconhecidos como parte integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro 
pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 216, os bens de natureza 
material de valor arqueológico são definidos e protegidos pela Lei n. 3.924, 
de 26 de julho de 1961, sendo considerados bens patrimoniais da União. 
Também são considerados sítios arqueológicos os locais onde se encontram 
vestígios positivos de ocupação humana, os sítios identificados como 
cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, 
“estações” e “cerâmicos”, as grutas, lapas e abrigos sob rocha. Além das 
inscrições rupestres ou locais com sulcos de polimento, os sambaquis e 
outros vestígios de atividade humana.
São passíveis de processo judicial por danos ao patrimônio da União e 
omissão, por exemplo, os proprietários de terras que encontrarem qualquer 
achado arqueológico e não comunicarem ao Iphan no prazo de 60 dias. 
Todos os sítios arqueológicos têm proteção legal e quando são reconhecidos 
devem ser cadastrados no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos 
(CNSA). Com a criação do Centro Nacional de Arqueologia (CNA), o Iphan 
atendeu à necessidade de fortalecimento institucional da gestão desse 
patrimônio, normatizada pelo Decreto n. 6.844, de 7 de maio de 2009. 
Cabe ao CNA, a elaboração de políticas e estratégias para a gestão do 
patrimônio arqueológico, a modernização dos instrumentos normativos e 
32
Unidade I
de acompanhamento das pesquisas arqueológicas que, em duas décadas, 
aumentaram de cinco para quase mil ações por ano (PATRIMÔNIO 
ARQUEOLÓGICO, [s.d.]).
O Iphan mantém o Dicionário Iphan de patrimônio cultural:
 
O Dicionário é uma obra de caráter coletivo, desenvolvida pela 
Coordenação‑Geral de Documentação e Pesquisa do Departamento de 
Articulação e Fomento do Iphan, e também um projeto de pesquisa do 
Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural do Iphan 
(PEP/MP). Seu objetivo é dotar o campo da preservação do patrimônio 
cultural de uma obra de referência dinâmica e crítica, que privilegie, a partir 
da experiência institucional, as práticas, discursos e conceitos fundamentais 
que caracterizam a história desse campo no Brasil. A obra foi concebida 
em duas partes: uma enciclopédica, composta pelos artigos; e outra, 
dicionarizada, composta pelos verbetes. Estes, de caráter mais sucinto, 
resultam de análises sobre as dimensões da prática e do saber relacionadas à 
preservação do patrimônio cultural. Os artigos, por sua vez, são textos mais 
extensos, cujos autores abordam termos‑chave considerados fundamentais 
para a compreensão da trajetória das práticas de preservação no Brasil. 
O Dicionário é uma obra dinâmica e em constante elaboração.
Para melhor entendimento da obra, sugere‑se a leitura da parte introdutória 
composta por textos sobre o Histórico do Dicionário, a Proposta de Organização 
e a Base Teórica que norteou essa proposição, assim como a consulta à 
Nominata (DICIONÁRIO IPHAN…, 2008).
Dessa maneira, ressaltamos que aqui nossa intenção era demonstrar algumas das abordagens 
que traremos em nossa disciplina e também a multiplicidade de sentidos atribuídos ao patrimônio, 
percebidos em diferentes épocas. Outras definições, mais questionamentos e recomendações estão 
presentes no decorrer do texto, em diversos itens. Não esgotamos os itens aqui, pois a intenção era 
fazer uma introdução e demonstrar como pode ser rica a análise.
1.2 Cultura é patrimônio
Devemos considerar que as discussões relacionadas ao patrimônio, à cultura, à preservação – e a 
como estes são tratados pelas sociedades – têm sua historicidade, ou seja, não devemos naturalizar 
a constituição dos patrimônios como algo dado pela essência dos objetos ou monumentos. 
São sociedades históricas que fazem escolhas e, por isso, variam no tempo e nos lugares. Desde sempre 
e em todos os lugares, essas noções existiram e foram iguais? Nossa resposta é não. Claro que essa é 
uma constatação simples, inicial, mas precisa ser registrada para valorizarmos os autores e autoras 
que se propõem a debater e nos ensinar um pouco mais sobre o patrimônio.
 
33
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
Segundo Choay (2006, p. 44), o conceito de patrimônio cultural (monumento 
histórico) surgiu apenas no século XV, no Quattrocento italiano: “Numerosos 
testemunhos permitem fixar por volta de 1430 o excepcional despertar 
do olhar distanciado e esteta, despojado das paixões medievais, que, pousado 
sobre os edifícios antigos, metamorfoseia‑os em objetos de reflexão e de 
contemplação (KÖHLER, 2019, p. 141).
Trata‑se, portanto, do período considerado como de transição do mundo medieval para a modernidade, 
no qual se desenvolveu o chamado Renascimento italiano e que procurava no passado clássico europeu 
referências para valorizar sua cultura e as realizações humanas. Mas, com o tempo, isso obtém novos 
contornos, inclusive no Brasil,
 
Inicialmente, o patrimônio cultural confundia‑se com os resquícios da 
Antiguidade (bens móveis e imóveis), a partir da periodização tripartite de 
FrancescoPetrarca: bela Antiguidade, idade/período obscuro e renascimento 
moderno (KÖHLER, 2019, p. 141).
Ou seja, como dissemos anteriormente, a época é um elemento importante para a constituição 
das noções de patrimônio, pois o que é valorizado e desvalorizado varia, os critérios variam como 
está demonstrado na Europa, e também no Brasil. É importante notar como no início dos trabalhos 
do  Iphan existiam critérios e discussões que seriam alterados em razão de diferentes elementos. 
Os critérios e as noções de colecionismo mudaram também a relação com o patrimônio, pois,
 
No que tange a preservação, os bens móveis – a exemplo de pinturas e 
esculturas – foram colecionados em espaços privados, como studioli, 
antecâmaras, cortile (pátio) e jardins. Já os bens imóveis, apesar da 
tomada de consciência de seu valor como patrimônio cultural, não foram 
alvo de iniciativas de preservação, dada a falta de conhecimento técnico e 
de instrumentos de preservação, assim como pelas pressões ainda existentes 
para sua utilização – que, às vezes, envolvia sua própria destruição (por 
exemplo, como matéria‑prima para fornos de cal) (Choay, 2006; Tung, 2001). 
Como bem coloca Choay (2006), o trabalho feito pelos antiquários – “Segundo 
o Dictionnaire de l’Académie française, ela designa aquele que é ‘especialista 
no conhecimento de objetos de arte antiga e curioso deles’” (Choay, 2006, 
p. 62) –, com a catalogação, pesquisa histórica e desenho de incontáveis 
monumentos da Antiguidade, não teve quase nenhum impacto sobre a 
preservação material desses monumentos – o trabalho resumiu‑se, durante 
três séculos, à publicação de volumes com gravuras (KÖHLER, 2019, p. 141).
Considerando a perspectiva no decorrer da história, é útil procurar compreender em que momento 
ocorreram mudanças mais significativas na construção da ideia de patrimônio. Para os autores, existe 
um marco, a Revolução Francesa, conforme indicamos anteriormente. O surgimento de uma política 
pública patrimonial envolveu os seguintes pontos,
34
Unidade I
a) cunhagem do termo “monumento histórico”; b) construção de um corpo 
de conhecimento acerca desses monumentos, na França (Antiguidade e 
Idade Média); c) criação de uma estrutura administrativa própria para 
questões patrimoniais; e d) criação de instrumentos jurídicos e técnicos, 
inclusive disposições penais (CHOAY; FONSECA apud KÖHLER, 2019, p. 142).
Para o caso do Brasil, a organização do Iphan pode ser pensada como influenciada pelos debates 
originados na França.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a Revolução Francesa e observar como os impulsos 
de destruição e criação estão representados no cinema, recomendamos o 
filme A revolução em Paris, que reconstrói simbolicamente o momento em 
que o povo de Paris destrói a prisão da Bastilha para simbolizar o fim do 
Antigo Regime.
A REVOLUÇÃO em Paris (Un peuple et son roi). Direção: Pierre Schoeller. 
França: StudioCanal, 2018. 122 min.
Na França os debates remontam ao século XVIII, durante a própria Revolução, chegando ao século 
XIX e ao XX com bastante força. No Brasil, até a década de 1930, portanto já no século XX, não havia 
órgão governamental relacionado ao patrimônio cultural. Lucio Costa, arquiteto, já no início do século 
passado, apresentou debates sobre a necessidade de valorizar a arquitetura barroca luso‑brasileira, 
portanto, colonial. Os anos iniciais da Primeira República no Brasil foram marcados por reformas como a 
reurbanização do Rio de Janeiro e também a demolição do conjunto arquitetônico de igreja e colégio no 
Morro do Castelo, nos anos 1920, no Rio de Janeiro – inclusive com a supressão desse acidente geográfico – 
e a destruição da Sé Primacial do Brasil, em 1933, em Salvador (TIRAPELI apud KÖHLER, 2019, p. 142).
A reforma do Rio de Janeiro pelo prefeito Pereira Passos, durante a presidência de Rodrigues Alves, 
foi apelidada pelas pessoas de “Bota Abaixo”, tamanho impacto provocado na vida da população das 
regiões mais pobres e de cortiços.
 Saiba mais
Para compreender como vivviam os grupos marginalizados habitantes 
dos cortiços na capital do Brasil, no final do século XIX, recomendamos a 
leitura da obra:
AZEVEDO, A. O cortiço. Rio de Janeiro: Antofágica, 2022 [1890].
35
PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E MUSEUS
A política higienista procurava apagar as marcas do passado imperial demolindo seus edifícios, 
retificando ruas e passeios, pois o passado monárquico era visto como o atraso, algo retrógrado, insalubre, 
sujo. Não apenas o Rio de Janeiro como também Porto Alegre, Salvador, Recife e São Paulo passaram por 
modificações, algumas delas influenciadas pelas reformas urbanas que ocorriam na Europa, com cidades 
como Paris e Londres.
No Brasil, as políticas públicas patrimoniais tornaram‑se efetivas apenas 
no primeiro período Vargas (1930‑1945); Weffort (2004) deixa claro que o 
Estado Moderno (Estado Nacional) surgiu no Brasil apenas nos anos 1930, 
já que o Estado da República Velha era do tipo oligárquico e patrimonialista. 
Não apenas no Brasil, a criação do Estado Nacional demanda a formação 
e reconhecimento de um patrimônio histórico e artístico nacional 
(KÖHLER, 2019, p. 143).
O processo de organização do patrimônio acaba sendo impulsionado, ao menos em parte, pela 
construção de mitologias nacionais, de projeções relativas ao passado, mas que partem de questões do 
presente, tais como contar a “verdadeira” história da nação.
 
Ortiz (2006) defende que não existe uma identidade nacional autêntica e 
verdadeira; ela é sempre um discurso de segunda ordem, cujo objeto de 
seleção e interpretação é a cultura popular, múltipla e particularizada. Ou 
seja, a construção de uma identidade nacional única requer a reunião, 
seleção e interpretação de memórias e culturas populares diversas e 
particularizadas espalhadas por vários grupos sociais; a identidade 
nacional não é apenas um conjunto dessas culturas populares, mas uma 
construção que as une e as transcendem como ideologia de Estado. 
A construção da identidade nacional requer um trabalho de mediação – 
daí a importância dos intelectuais nesse processo –, que impõe definições, 
fronteiras e discursos para os diversos grupos sociais que formam a 
sociedade, e que permite que políticas públicas patrimoniais se apresentem 
como hegemônicas e legítimas. O que se considera como cultura brasileira 
e identidade nacional não é o simples acúmulo de valores espirituais e 
materiais do país, mas uma construção que oculta as relações de poder 
entre os grupos sociais e sua relação com o Estado. O patrimônio cultural 
cumpre quatro funções principais, a saber:
a) reforçar a noção de cidadania, dado que o acervo salvaguardado é de 
propriedade de todos, e exige, por isso, o envolvimento da sociedade 
em sua preservação;
b) o acervo salvaguardado materializa a nação, demarcando‑a no 
tempo e no espaço;
36
Unidade I
c) os bens patrimoniais marcam a presença da nação em um território, 
servindo como provas materiais da história oficial e de seus 
mitos de origem;
d) o patrimônio cultural é um instrumento pedagógico, a serviço 
da educação dos cidadãos (ANDRADE; CHOAY; FONSECA apud 
KÖHLER, 2019, p. 143).
A construção da noção de patrimônio teve nas cartas um ponto importante, pois desde as 
primeiras fica evidente a preocupação em definir a própria noção de monumento e seu entorno, depois 
os próprios conjuntos arquitetônicos passaram a ser objeto de debates, e de preservação, seguindo 
discussões da área da arquitetura e do urbanismo. Os debates utilizando a arqueologia ganharam força, 
bem como os relacionados à restauração. Nos anos finais do século XX, debates sobre qualidade de 
vida, proteção ao meio ambiente, elementos da história das populações, fatores e contextos culturais 
ganharam relevância. A cultura popular, o patrimônio imaterial e as formas de viver de diversos grupos 
receberem reconhecimento e importância.
Sandra Pelegrini e Pedro Paulo Funari (2008) produziram uma pequena obra muito acessível e útil para 
professores e professoras

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