Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO CAPI�TULO 4 - COMO DEVO PROCEDER PARA NEGOCIAR E EMBARCAR MINHA MERCADORIA PARA UM MERCADO DE DESTINO? Giovana Gavioli Ribeiro da Silva Introdução Ouvimos falar constantemente que os produtos importados são mais caros, mas você sabe calcular o quanto eles in�luenciam no preço �inal do produto? Quais impostos e tributos podem ser considerados na importação? E� possı́vel negociar diferentes modalidades de pagamento em uma operação de compra ou venda internacional? Existem facilidades de crédito e outros incentivos ou regimes especiais que possam ser utilizados por importadores ou exportadores e que facilitem a operação para empresas que desejam ingressar no mercado internacional? Diante de tantas opções e escolhas diferentes, tornar-se um pro�issional que atue dentro desse contexto é um desa�io. Existem inúmeros mercados e diferentes procedimentos à disposição, e buscar as melhores oportunidades — tanto no âmbito das operações de importação como nas exportações — exige bastante conhecimento. Este capı́tulo, portanto, tem como objetivo capacitar o pro�issional atuante no comércio internacional a realizar uma análise de custos que seja global, considerando o cálculo dos tributos, os diferentes benefı́cios das modalidades de pagamento, os �inanciamentos à exportação e as caracterı́sticas dos regimes especiais, tanto de importação quanto de exportação. Ao �inal da leitura, você estará apto a assessorar empresas públicas e privadas a importar e exportar da melhor forma seus produtos e serviços, se tornando um pro�issional consciente de seu papel de agente gerador e negociador dentro do comércio internacional. 4.1 Aspectos tributários, econômicos e financeiros – Parte I A carga tributária tem como consequência aumentar o custo do material ou do serviço. Segundo Nyegray (2016, p. 118), a tributação da importação brasileira faz com que o material importado seja “mais caro” com relação aos demais. Assim, é de extrema urgência resigni�icar os impostos do comércio exterior brasileiro, mediante uma reforma tributária atual. Neste tópico, aprofundaremos nossos conhecimentos em tributação aduaneira. Fique atento! 4.1.1 Passo a passo da tributação aduaneira O pro�issional de Comércio Exterior deve considerar fazer uma análise global de custos, considerando, além do preço da matéria-prima, fabricação e mão de obra, também o custo de toda a operação, incluindo os tributos. E por onde devemos começar a avaliar a carga tributária? Bem, primeiramente é necessário saber qual a classi�icação �iscal do material. Aqui no Brasil, a classi�icação �iscal determina a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), numeração que identi�ica o produto em sua menor unidade e que também identi�icará as alı́quotas aplicadas, tanto na importação quanto na exportação. Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, ou MDIC, (s/d), a partir da NCM é possı́vel identi�icar a Tarifa Externa Comum (TEC), que foi criada em janeiro de 1995 e aprovada por todos os paı́ses membros do bloco do Mercosul. A TEC determina as alı́quotas a serem aplicadas para a cobrança do imposto de importação (II) para qualquer paı́s membro do bloco, ou seja, qualquer produto importado pelo Brasil possui o mesmo percentual de II em qualquer outro paı́s membro. Mas o que isso impacta? Principalmente na competitividade entre os paı́ses membros. Ao importar produtos com a mesma alı́quota em todos os paı́ses-membros, é possı́vel assegurar que nenhum seja mais ou menos competitivo que o outro, uni�icando ainda mais o bloco econômico formado. E� a partir da elaboração e adoção da TEC que a intenção de solidi�icar a união entre os paı́ses �ica mais evidente, de forma a tornar-se um mercado único. O imposto é uma forma de tributo e, diferente da exportação, que tem somente a apuração do imposto de exportação, as importações sofrem cobrança de diversos tributos, sendo estes os principais: Imposto de Importação (II); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Programa de Integração Social (PIS na modalidade importação); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), também na modalidade importação; Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS). VOCÊ O CONHECE? A polıt́ica de comércio internacional brasileira, segundo Bizelli (2002), teve inıćio na década de 1990 com o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Nascido em 12 de agosto de 1949, Collor governou entre 1990 e 1992, tendo posteriormente renunciado à presidência, após o processo de impeachment em setembro de 1992. A polıt́ica feita por Collor teve como diretriz principal o desenvolvimento econômico do paıś. Os impostos de importação, que possuıám alıq́uotas entre 3% e 100%, foram reduzidos para uma faixa de 0% a 20%. • • • • • Agora que sabemos quais tributos incidem no processo, vamos conhecer o passo a passo para calculá-los. A tributação de importação e de exportação é realizada em cima do valor aduaneiro da mercadoria, determinado a partir dos acordos realizados por intermédio do General Agreement os Tariffs and Trade (GATT-Acordo Geral de Tarifas) (WTO, 2018). Segundo Sousa (2010), determina-se o valor aduaneiro de uma mercadoria, ou seja, o valor que será considerado para a aplicação dos impostos de importação, um dos seis métodos de valoração aduaneira, que são aplicados sequencialmente, ou seja, sempre que o anterior não puder ser aplicado. Con�ira no quadro a seguir. VOCÊ QUER LER? Conheça mais sobre as de�inições de tributos, fatos geradores e sujeitos ativos e passivos da obrigação tributária lendo o quarto capıt́ulo de Nyegray “Legislação Aduaneira. Comércio Exterior e Negócios Internacionais”. Quadro 1 - Métodos de determinação do valor aduaneiro. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em SOUSA, 2010, p. 64. Independentemente do método de determinação utilizado, e segundo Bizelli (2002), deve-se acrescentar ao valor aduaneiro, e antes da aplicação dos impostos de importação, os seguintes elementos, dependendo do Incoterms utilizado na operação: o custo de transporte internacional; o custo do seguro das mercadorias; os gastos relativos à carga, descarga, manuseio, associados ao transporte da carga, quando no transporte marítimo. Uma vez determinado o valor aduaneiro, é hora de calcular os impostos de importação. Vamos entendê-los melhor? 4.1.2 Cálculo dos impostos de importação A seguir, clique e acompanhe como são realizados os cálculos dos impostos de importação. 4.1.3 Simulador de cálculo dos impostos de importação da RFB • • • O primeiro imposto é o II – Imposto de Importação, determinado pela TEC, que é identi�icado pela sua classi�icação �iscal. A fórmula para o cálculo do II é: II = Valor aduaneiro * alı́quota constante na TEC O segundo imposto é o IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, determinado pela tabela TIPI e atrelado à classi�icação �iscal. Sua fórmula para cálculo é: IPI = (Valor aduaneiro + II) * alı́quota constante na TIPI Os próximos impostos aplicados são o PIS (importação) e a COFINS (importação), com ambas alı́quotas determinadas pelo MDIC e pela RFB, respectivamente, e dependendo do tipo de produto. O cálculo de ambos os impostos é feito da seguinte forma: PIS (importação) = Valor aduaneiro * alı́quota COFINS (importação) = Valor aduaneiro * alı́quota • • • II IPI PIS e COFINS E� possı́vel testar previamente a aplicação e o cálculo dos impostos utilizando o simulador do tratamento tributário e administrativo da RFB. Vamos fazer juntos uma simulação? Acesse o link indicado e siga o passo a passo do exemplo. Passo 1: vamos imaginar um importador que traga camisetas de algodão com valor aduaneiro de US$ 20.000,00. Na tabela TEC, encontramos que a NCM desse produto é a 6109.10.00. Este código deve ser colocado no campo especı́�ico do simulador. Depois, preenchemos o valor aduaneiro de US$ 20.000,00.Escolhemos a moeda e digitamos os caracteres. O simulador �icará como a �igura a seguir. Observe. VOCÊ SABIA? A RFB criou um simulador de impostos, que pode ser acessado em: <http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/ (http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/)>. A partir da classi�icação �iscal do produto, do valor aduaneiro total a ser importado e da moeda, é possıv́el identi�icar rapidamente os impostos existentes a serem aplicados na importação do material. Dessa forma, você poderá saber de antemão o valor a ser pago em uma mercadoria, de forma a preparar o caixa da empresa para os gastos. http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/ Aperte agora o botão consultar, e teremos a tela seguinte, já com os cálculos dos impostos, conforme a �igura a seguir: Figura 1 - Exemplo do simulador do tratamento tributário e administrativo. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. Figura 2 - Exemplo do simulador do tratamento tributário e administrativo. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. Passo 2: vamos entender como os valores são calculados? Primeiro, temos a conversão do valor aduaneiro, que utiliza a taxa do dia. Pode ser que no dia em que �izemos esta simulação, a taxa seja diferente do dia que você �izer, portanto, con�ira primeiramente qual a taxa de câmbio que o simulador considera. Nesse exemplo, temos uma taxa de câmbio de R$ 3,8629. Nossa importação de camisetas de algodão terá, portanto, o seguinte valor aduaneiro convertido: Valor aduaneiro = US$ 20.000,00 * taxa de câmbio R$ 3,8629 = R$ 77.258,00 Passo 3: para aplicar os impostos, começamos pelo II. Ao aplicar na fórmula, o cálculo do II será, portanto: II = 77.258,00 * 0,35 = R$ 27.040,30 Partimos agora para o cálculo do IPI. Aplicando na fórmula, temos: IPI = (77.258,00 + 27.040,30) * 0,00 = R$ 0,00 Na sequência, calculamos o PIS e a COFINS (importação), considerando as alı́quotas dadas de 2,10% para o PIS e 10,65% para a COFINS. PIS (importação) = R$ 77.258,00 * 0,021 = R$ 1.622,42 COFINS (importação) = R$ 77.258,00 * 0,1065 = R$ 8.227,98 Para essa importação, nessa taxa de câmbio, teremos um valor total de tributos de R$ 36.890,70 (II + IPI + PIS + COFINS). Agora que sabemos como funciona a tributação, vamos nos aprofundar nas diferentes modalidades de pagamento e conhecer os �inanciamentos das exportações. Continue conosco! 4.2 Aspectos Tributários, Econômicos e Financeiros – Parte II Existem diferentes modalidades de pagamento que podem ser utilizadas no comércio internacional. Cada uma possui procedimentos e riscos inerentes ao seu processo, maiores ou menores, tanto para o importador como para o exportador. No Brasil, os documentos obrigatórios no processo de despacho são: Invoice, Packing List e Conhecimento de Embarque, que vamos chamar aqui de “pacote de documentos”. Diferentes alfândegas podem exigir outros documentos além desses, que deverão ser providenciados pelo importador ou pelo exportador, para o desembaraço dos materiais e de acordo com a legislação de seu paı́s. E� fundamental, portanto, consultar o comprador da mercadoria e seu despachante, que conduzirá o processo de liberação e poderá dar melhores orientações sobre quais documentos devem ser emitidos. 4.2.1 Modalidades de pagamento Vamos detalhar cada uma dessas modalidades, assim como seus riscos. Pagamento antecipado e pagamento à vista (At Sight): O pagamento antecipado é feito pelo importador ao exportador antes do embarque dos materiais. No pagamento antecipado, o exportador envia, junto com a mercadoria ou por correio, o pacote de documentos, necessários para a liberação do material na alfândega. Veja a sequência das ações na �igura a seguir. • O pagamento antecipado pode ser feito antes da fabricação dos materiais, �inanciando a compra de matéria- prima por parte do exportador e a sua produção. Entretanto, quando esse pagamento é feito posteriormente à produção, assim que as mercadorias �iquem prontas para o embarque, ele é chamado de Pagamento à vista ou At Sight. Fica a critério da relação comercial estabelecida entre exportador e importador em que momento o pagamento antecipado será realizado. Algumas empresas, por exemplo, podem solicitar que parte do pagamento seja antecipado ou à vista e a outra parte seja alocada em outra modalidade de pagamento, combinação extremamente comum entre empresas importadoras e exportadoras. Geralmente se utiliza esse pagamento para empresas que estão iniciando a sua relação comercial, ainda não tendo estabelecido con�iança entre comprador e vendedor. Entendemos que esse pagamento é o que melhor se adequa às necessidades do exportador, mas outras modalidades também apresentam as suas vantagens e riscos, vamos conhecê-las. Remessa Ao contrário do pagamento antecipado, na remessa o exportador produz e embarca a mercadoria, enviando o pacote de documentos diretamente para o importador, que realizará a liberação dos materiais e posteriormente efetuará o câmbio, utilizando a Invoice para o pagamento. Veja o passo a passo na �igura a seguir: Figura 3 - Passo a passo do pagamento antecipado. Fonte: Elaborada pela autora, baseada em TRIPOLI, 2016, p. 207. • Na remessa, o risco �ica totalmente do lado do exportador, que pode não receber o pagamento, uma vez que o importador pode liberar a mercadoria, já que recebeu o pacote de documentos diretamente, e, posteriormente ao desembaraço, não efetuar o câmbio. Caso o importador não efetue o pagamento, o exportador perde o valor e a mercadoria, uma vez que pode �icar mais caro trazer o material de volta para o seu paı́s. Quando isso acontece, alguns exportadores conseguem redirecionar a mercadoria para outro importador, reemitindo o pacote de documentos para a nova empresa compradora. Por ter um risco muito grande, geralmente essa forma de pagamento é feita somente em transações entre matriz e �ilial, ou com apoio de agentes e distribuidores no paı́s comprador. Cobrança documentária: à vista ou a prazo Existem diversas formas de reduzir o risco nas formas de pagamento, tanto para importador como para exportador. Uma delas é utilizar os bancos de origem e de destino para a intermediação da documentação entre as empresas. A cobrança documentária tem exatamente essa função. Nessa forma de pagamento, o exportador produz a mercadoria, envia a mesma ao comprador, mas, em vez de enviar a documentação diretamente ao importador, ele a submete ao banco no seu paı́s. Esse banco irá contatar o banco do importador e enviará a documentação a ele. O banco do importador, ao receber a documentação, o contata, con�irmando possuir o pacote de documentos. O importador, para liberar a mercadoria, deverá, portanto, se dirigir ao seu banco e efetuar o pagamento ou comprometer-se a fazê-lo, retirando a documentação e procedendo ao processo de desembaraço. Clique para entender a diferença entre a cobrança à vista e a prazo. Figura 4 - Passo a passo da remessa. Fonte: Elaborada pela autora, baseada em TRIPOLI, 2016, p. 211. • Cobrança à vista Neste tipo de cobrança, o importador primeiro efetua o pagamento ao seu banco e depois recebe o pacote de documentos. Veja a �igura a seguir. Para Tripoli (2016), a cobrança documentária também apresenta riscos tanto para o exportador como para o importador. Contudo, o processo é feito entre os respectivos bancos, portanto, o importador passa a dever ao banco em seu paı́s de origem, que poderá recorrer a meios legais, caso não receba o pagamento. O mesmo pode ser feito também pelo exportador. Carta de crédito Cobrança a prazo Neste caso, o importador assina um documento chamado de “Saque”, ou “Cambial”, similar à uma nota promissória, para, posteriormente, conseguir retirar o pacote de documentos e liberar a mercadoria. Figura 5 - Passo a passo da cobrança. Fonte: Elaborada pela autora, baseada em TRIPOLI, 2016, p. 211. • Tripoli (2016) destaca a carta de crédito como a forma de pagamento maissegura e, portanto, a mais cara, tanto para o exportador como para o importador. Para o importador, ela garante que o material e a documentação emitida estarão de acordo com a legislação de seu paı́s e possuirão todas as informações necessárias para a liberação do material. Já para o exportador, ela garante o recebimento do valor da mercadoria. Ela sempre se inicia com o importador. Veja a sequência de ações na �igura a seguir. A carta de crédito também pode ser à vista ou a prazo, podendo ter seus prazos negociados entre importador e exportador e entre seus respectivos bancos. Por conta dessa redução de riscos, as formas que pagamento que envolvem a intermediação entre bancos, como a cobrança documentária e a carta de crédito, possuem custos maiores, uma vez que a agência bancária cobrará pela realização do processo. Estima-se que a cobrança documentária tenha, em média, um custo de US$ 100,00, e a carta de crédito um custo de US$ 500,00 por processo. Figura 6 - Passo a passo da carta de crédito. Fonte: Elaborada pela autora, baseada em TRIPOLI, 2016, p. 213. Assim como a escolha da modalidade de pagamento que melhor se adeque às operações, os �inanciamentos às exportações representam uma importante forma de viabilizar a exportação e dar maior poder de resposta do exportador, principalmente das micro e pequenas empresas, às mudanças dos mercados internacionais. Vamos juntos conhecer os tipos de �inanciamento? 4.2.2 Financiamento das exportações brasileiras O �inanciamento das exportações brasileiras visa proporcionar às empresas uma igualdade de condições para que os produtos exportados possam competir junto ao mercado internacional, não só em qualidade como em custo também. Vamos conhecer os incentivos �iscais e cambiais da exportação. Podemos dividir os incentivos em dois grupos, conforme o quadro a seguir. Comecemos detalhando os incentivos �inanceiros. VOCÊ QUER LER? Quer aprofundar seu entendimento sobre carta de crédito? A Câmara de Comércio Internacional (Internacional Chamber of Commerce – ICC) faz publicações frequentes quanto aos costumes e práticas de créditos documentários. A mais recente e vigente desde 2007 é a UCP 600, que traz uma visão em Português e em Inglês de todos os termos utilizados na carta de crédito e sua interpretação. Quadro 2 - Tipos de �inanciamento às exportações. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em GARCIA, 2005, p. 115. Incentivos financeiros Garcia (2005) identi�ica que a empresa exportadora pode utilizar os incentivos �inanceiros de duas formas, ou na fase de aquisição de insumos para a produção dos bens ou prestação de serviços, ou na fase de comercialização internacional. Como incentivos �inanceiros, é possı́vel destacar diversas linhas de crédito oferecidas tanto pelo governo como por instituições privadas autorizadas, que contam com juros reduzidos para empréstimos adquiridos. O objetivo é comprar materiais para a exportação ou montar um escritório ou uma fábrica que destinará parte da sua produção ou prestação de serviços para o mercado internacional. Programas governamentais especı́�icos, oferecidos por meio do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) e do Banco do Brasil, voltados para exportadores, como o BNDES-EXIM pré e pós- embarque e o PROEX, também oferecem melhores condições para �inanciamento do ingresso no mercado internacional. Borges (2012, p. 140) detalha o Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER), como “um conjunto de linhas de crédito destinadas a �inanciar quem queira iniciar ou incrementar seus negócios”. Dentro dessas linhas, existe uma voltada para empesas exportadoras que determina um limite máximo de R$ 250.000,00 e prazo de pagamento de até 12 meses. O programa utiliza recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), e, para as empresas que o utilizam, pode ser aplicado para as despesas com promoção à exportação e para a compra de matéria-prima e produção dos bens, antes de seu embarque. Outros incentivos são os adiantamentos de pagamentos (câmbio) feitos por instituições �inanceiras autorizadas pelo Banco Central do Brasil (BACEN) para a empresa exportadora. Eles podem ser realizados de duas formas: adiantamento sobre contrato de câmbio e adiantamento sobre cambiais entregues. Conheça as duas formas clicando a seguir. • VOCÊ QUER LER? Que tal se aprofundar nos detalhes das linhas de apoio à exportação oferecidas pelo BNDES? O livro “Financiamento ao Comércio Exterior”, de Borges (2012) traz uma visão ampla das principais vantagens na obtenção de linhas de crédito que podem ser obtidas por empresas brasileiras que já estejam ou que desejam incrementar a sua participação no Comércio Internacional. • 1. Adiantamento sobre contrato de câmbio – ACC Segundo Tripoli (2016, p. 240), o ACC e o ACE representam “alternativas que permitem às empresas exportadoras maximizar o seu capital de giro e otimizar o seu �luxo de caixa”. Nos dois casos, caso o importador não cumpra com as suas obrigações de pagamento, o exportador deverá retornar o valor que foi adiantado pela instituição �inanceira. Incentivos fiscais Os incentivos �iscais se tornam presentes, de forma a dissociar os tributos de seu preço interno. O primeiro incentivo �iscal se relaciona ao imposto de exportação. No Brasil, as alı́quotas variam de 30% até o limite de 150%, mas somente em alguns casos especiais de produtos e serviços controlados. Atrelada à polı́tica de incentivo às exportações, a maioria das exportações brasileiras é isenta do pagamento do imposto de exportação. Outras formas de incentivos �iscais para a empresa exportadora é a isenção e suspensão de diversos impostos, como o IPI, ICMS, PIS e COFINS na compra de materiais que sejam parte do produto �inal que será exportado. Esses casos também podem ser aplicados para exportações em consignação e temporárias, que tenham sido enviadas para participação de feiras e eventos, veja um resumo no quadro a seguir, adaptado de Castro (2007). Consiste em uma antecipação parcial ou total ao exportador do valor que será recebido pelo comprador (importador). Pode ser feito em até 360 dias antes da data prevista para o embarque da mercadoria. Sua principal �inalidade é auxiliar na compra de matéria-prima e componentes e na fabricação do material a ser exportado. Consiste no mesmo adiantamento de valores, mas solicitado ao banco depois do embarque da mercadoria ou da prestação do serviço. Seu objetivo é facilitar ao exportador a comercialização da mercadoria no paı́s de destino da exportação. Ele pode ser solicitado em até 210 dias após o envio. • • Quadro 3 - Incentivos �iscais. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em CASTRO, 2007, p. 94. 2. Adiantamento sobre cambiais entregues - ACE Outro incentivo ao exportador, as Zonas de Processamento de Exportação, também conhecida como ZPE, são áreas estabelecidas dentro do território nacional destinadas à fabricação de produtos a serem exportados. Empresas instaladas nessas áreas possuem benefı́cios �iscais como suspensão de impostos, além de condições especiais de instalações e custos de terrenos, material de construção etc. Atualmente, existem 22 ZPEs em diferentes fases de constituição, divididas entre 18 estados brasileiros. As empresas que desejam participar do comércio internacional também possuem uma diversidade de regimes aduaneiros, tanto de importação, quanto de exportação. Os próximos itens aprofundarão esse tema. 4.3 Regimes Especiais Aduaneiros de Importação Tenha em mente que para que o produto importado não possua um custo �inal proibitivo, em algumas ocasiões especı́�icas, os importadores podem utilizar algumas regras especiais, criadas pela RFB, Secex ou pelos próprios Estados. O objetivo é obter benefı́cios sobre as mercadorias importadas. Esses regimes são conhecidos como “especiais” e “atı́picos”. E� sobre eles que falaremos neste tópico. 4.3.1Regimes especiais Cada um deles está identi�icado no quadro a seguir e, na sequência, de�inimos suas respectivas regras. Os regimes especiais se aplicam ao tratamento �iscal dado ao material importado, propriamente dito. Vamos explicar cada um deles. Acompanhe! Regime especial de trânsito aduaneiro Quadro 4 - Regimes especiais e atı́picos de importação. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em TRIPOLI, 2016, p. 270. • O trânsito aduaneiro é concedido quando a mercadoria ainda não tenha passado pelo processo de desembaraço aduaneiro, portanto, ainda não pagou à União os devidos impostos e não está nacionalizada, mas que precisa ser transportada entre diferentes localidades. Existem algumas classes de trânsito aduaneiro. Veja quais são elas clicando a seguir. Classe A (entrada) Autoriza o transporte de mercadoria vinda do exterior do ponto de entrada da zona primár até o ponto em que ocorrerá o despacho aduaneiro, sendo esse em local diferente e que pod ser dentro da zona primária ou secundária. Classe B (saída) Transporte de mercadoria que já tenha passado pelo despacho de exportação em algum pon da zona secundária e que segue para embarque ao exterior em zona primária. Classe C (passagem) Transporte de mercadoria estrangeira, ou seja, importada e não nacionalizada, pa reexportação ou armazenamento para posterior exportação. Classe D (transferência) Transporte de mercadoria de zona secundária para outro de zona primária ou secundária, se para desembaraço ou para armazenamento. Classe E (especial) Mercadoria que esteja em passagem pelo território aduaneiro, ou seja, procedente do exteri e a ele destinada. Regime especial de admissão temporária Uma das formas mais e�icientes de promover o seu produto é participando de feiras e exposições do ramo. O regime especial de admissão temporária permite a importação de bens que permaneçam no paı́s por tempo determinando, com o pagamento de impostos suspenso (II, IPI, PIS, COFINS e ICMS). A admissão é solicitada pelo despachante aduaneiro por meio do Siscomex e o processo possui algumas condições básicas para que seja utilizado. Importação deve ser sem cobertura cambial, ou seja, o importador não precisa mandar o valor da mercadoria ao exportador. Adequação à finalidade para a qual o bem foi importado, por exemplo, um produto importado para uma feira deve estar exposto nela. Utilização conforme o prazo de permanência autorizado. O quadro a seguir destaca outras situações em que o regime especial de admissão temporária pode ser utilizado. • • • • • • • • • O regime de admissão temporária também é utilizado para bens que sejam importados temporariamente para reparos e consertos. O regime aplicado passa a ser o de admissão temporária para aperfeiçoamento ativo. Após efetuado o conserto, os bens consertados são, então, reexportados. Quadro 5 - Utilização do regime de admissão temporária. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em RFB, 2015. A RFB pode solicitar comprovações de uso do material antes de autorizar o regime de admissão temporária e a importação do material. Podem ser solicitados catálogos, reserva de stand em feiras e exposições, projetos de arquitetura que levem em conta a exposição do material a ser importado e quaisquer outros documentos que atestem o caráter temporário do material. O tempo de permanência autorizado gira em torno de 90 dias, mas pode ser alterado, dependendo da análise de cada caso. O tempo inicial pode ser prorrogado e, após o seu encerramento, a empresa terá duas opções: Devolver o material importado sob o regime de admissão temporária, providenciando todos os trâmites para a sua reexportação. Formalizar uma importação, convertendo a admissão temporária para uma importação formal e prosseguindo com o desembaraço dos materiais e a devida arrecadação dos impostos. Nesse caso, os documentos de importação também devem ser trocados, de “sem cobertura cambial” para “com cobertura cambial”. Também é possı́vel converter a admissão temporária para outro regime especial, como o entreposto aduaneiro, por exemplo. CASO Eventos de grandes proporções como o Salão Internacional do Automóvel ou a Fórmula 1 possuem carros e equipamentos que são importados utilizando o regime de admissão temporária e exportados após a �inalização do evento. Monteiro (2017) a�irma que um dos grandes desa�ios é fazer tudo a tempo para que o evento ocorra sem problemas. Segundo a autora, desde 2004 a empresa DHL é responsável pela movimentação dos equipamentos e os números são impressionantes. Para transportar todo o equipamento, incluindo os carros, peças, cabos, computadores, móveis, material promocional e todos os demais itens, que somam mais de 600 toneladas de material, utilizam-se cerca de 100 caminhões, isso em corridas realizadas somente na Europa. Para outros continentes, a empresa utiliza aviões de carga Boeing 747 especialmente adaptados para este tipo de material. São transportados 2.500 litros de combustıv́el por equipe, para cada corrida, mais 140 litros de óleo do motor, 40 litros de óleo de engrenagem e 90 litros de refrigerante do motor. Mas não para por aı,́ após o término do evento, todo o material deve ser realocado para a sua origem, fazendo com que o que tenha entrado pelo regime de admissão temporária seja devidamente retornado, extinguindo o regime. • • Regime especial entreposto aduaneiro O entreposto aduaneiro consiste no depósito de mercadorias em local determinado dentro do paı́s de destino, ou seja, no Brasil, dentro da zona primária ou da zona secundária, com suspensão do pagamento de impostos (II, IPI, PIS, COFINS e ICMS). A mercadoria é trazida até o Brasil, mas não é nacionalizada, �icando conhecida como “entrepostada” e sob responsabilidade do terminal ou armazém alfandegado, que cobra uma taxa mensal ao importador, pelo seu armazenamento e manuseio. O tempo de permanência de um material entrepostado é de um ano, prorrogável por mais um ano. Em alguns casos, a RFB autoriza um prazo maior, não ultrapassando o limite máximo de três anos, contudo. O regime é extinto caso a mercadoria seja reexportada, nacionalizada, com o devido pagamento dos impostos ou caso o importador não renove o seu prazo. No último caso, a mercadoria passa a ser da RFB, que de�inirá a sua destinação (leilão ou destruição). Quando isso ocorre, ou seja, quando o importador não manifesta seu interesse pela mercadoria, dá-se o nome de “perdimento”. O entreposto pode ter sua nacionalização parcial, ou seja, parte do material entrepostado pode ser liberado em pequenas quantidades. Nesse caso, o importador fará um processo de nacionalização para cada lote, apresentando os documentos para as quantidades a serem liberadas e pagando os impostos correspondentes. O entreposto, nesse caso, proporciona maior �lexibilidade ao �luxo de caixa da empresa importadora, uma vez que a empresa pode evitar pagar todos os tributos de uma vez só no momento da nacionalização. Ela administra, portanto, de forma otimizada o seu caixa, nacionalizando os materiais à medida que tem capital disponı́vel para realizar o processo de desembaraço. Regime especial entreposto industrial / Recof Esse regime permite ao importador trazer mercadorias que passarão por um processo de industrialização para posterior exportação. A entrada dessas mercadorias será com suspensão de impostos. Caso a mercadoria seja vendida para o mercado interno, o importador deverá, então, apurar e pagar os devidos tributos suspensos na importação. Para que a RFB autorize um entreposto industrial, o importador deve apresentar os documentos que você confere clicando a seguir. • • Um plano de industrialização (ou seja, como a empresa pretende fabricar o material a ser exportado, indicando seu processo de montagem e como as mercadorias nacionais e importadas são inseridas). Estoques máximos e mı́nimos. Prazo para exportação.Detalhamento das mercadorias importadas. Produto �inal a ser obtido no processo de industrialização. Uma variação do entreposto industrial é o Entreposto Industrial sob Controle Informatizado, também conhecido como Recof. No caso do Recof, são suspensos somente o II e o IPI, para mercadorias a serem destinadas para o mercado interno ou para a exportação. O importador, portanto, paga os demais impostos (PIS, COFINS e ICMS na importação) e não é obrigado a recolher os demais tributos, mesmo que o material seja vendido ao mercado interno, desde que a quantidade comercializada seja de até 20% do valor total da sua industrialização. Regime especial de Drawback Mais associado à exportação do que à importação, o regime especial de Drawback permite a importação de materiais, com suspensão de impostos, que servirão para compor produtos acabados que serão, posteriormente, exportados. Comprovada a exportação, a empresa passa, então, a ter os impostos de importação isentos. Mais adiante vamos detalhar melhor esse regime ao falarmos de exportação. Regime especial de Linha Azul O Regime de Linha Azul é concedido a algumas empresas que se habilitam, de forma voluntária, a ter suas operações totalmente transparentes junto à RFB, permitindo o monitoramento constante por parte da �iscalização aduaneira. Em troca dessa completa abertura de portas à RFB, os processos de importação de empresas de Linha Azul são direcionados para a parametrização verde, ou seja, com liberação automática do despacho aduaneiro. A cada dois anos da autorização do regime, a empresa deve apresentar à RFB uma auditoria que demonstre a qualidade dos seus controles internos, o cumprimento das suas obrigações aduaneiras, tributárias, documentais e �iscais, assim como manter, a qualquer solicitação da RFB, acesso direto e irrestrito aos seus sistemas informatizados e de controle. • • VOCÊ QUER LER? Alguns regimes especiais são especı�́icos para determinados tipos de indústrias, como o Recom, destinado ao desenvolvimento da indústria automotiva, o Repetro e Repex, destinados para a pesquisa e importação de petróleo e o Reporto, destinado à modernização e ampliação da estrutura portuária brasileira. Para saber mais sobre eles, leia o capıt́ulo 4, páginas 38 a 40 de “Gestão do comércio exterior: exportação/importação”, de Sousa (2010). Vamos conhecer agora os regimes atı́picos. 4.3.2 Regimes atípicos Diferente dos regimes especiais, os regimes atı́picos se referem ao local da aplicação, isto é, onde �isicamente o tratamento �iscal preferencial será aplicado. Vamos conhecê-los melhor clicando a seguir. A Zona Franca de Manaus foi criada em 1957 com a �inalidade de criar um centro industrial, comercial e agropecuário no interior da Amazônia, com condições para seu desenvolvimento. Empresas que estejam na ZFM podem importar com redução de até 88% do II e isenção do IPI para produtos que sejam produzidos dentro da ZFM e destinados para venda em qualquer ponto do território nacional. Conforme aprovação da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), as empresas também possuem redução de 75% do Imposto de Renda de Pessoa Jurı́dica e suspensão do PIS/Pasep e da Co�ins nas operações dentro da ZFM. Tributos estaduais, como o ICMS também são diferenciados. As empresas da ZFM, dependendo do projeto, podem ter uma restituição parcial ou total do ICMS. O percentual varia entre 55% a 100%. Os demais tributos municipais, como IPTU e taxas de lixo e licenças são isentos. Também conhecida como Free Shop ou Duty Free, as lojas francas operam sob um regime atı́pico e estão localizadas nas zonas primárias de portos e aeroportos. São autorizadas a vender mercadorias, nacionais ou importadas, sem adição de impostos, desde que feitas exclusivamente aos passageiros de viagens internacionais. Para adquirir qualquer produto em uma loja franca, é necessário apresentar, além do passaporte, o cartão de embarque ou desembarque. Para possuir uma loja franca, é necessário passar por um processo de pré-quali�icação da RFB. Os tripulantes de aeronaves também podem adquirir produtos nas lojas francas, desde que devidamente identi�icados. Locais instalados especi�icamente para atender o �luxo comercial de paı́ses que fazem fronteira com o Brasil e outros paı́ses, geralmente sem saı́da para o mar. As regras do regime atı́pico são estabelecidas entre o Brasil e o paı́s interessado. Estão em atividade no Brasil quatro depósitos francos: do Paraguai, em Santos (carga geral) e Paranaguá (carga geral e granéis sólidos); da Bolı́via, em Santos (carga geral), Corumbá e Porto Velho; do Peru, em Belém; do Equador, em Manaus. O Brasil tem um depósito Franco estabelecido em Concepción, no Paraguai, e outro em Georgetown na Guiana. • • • • Zona Franca de Manaus – ZFM Loja Franca Depósito Franco A seguir, vamos conhecer uma curiosidade sobre as lojas francas. Segundo Sousa (2010), as áreas de livre comércio são administradas pela Suframa e destinadas a promover o desenvolvimento do comércio transfronteiriço. Mercadorias importadas para essas áreas possuem suspensão do II e do IPI. VOCÊ SABIA? De acordo com a Receita Federal Brasileira (RFB, 2014), existem limites de aquisição por produto em lojas francas. Em valor o limite é de US$ 500,00 e em quantidade para bens especı�́icos, conforme detalhamento abaixo: 24 unidades de bebidas alcoólicas (máximo de 12 unidades por tipo de bebida); 20 maços de cigarro de fabricação estrangeira; 25 unidades de charutos ou cigarrilhas; 10 unidades de artigos de toucador; 3 unidades de relógios, máquinas, aparelhos, equipamentos, brinquedos, jogos ou instrumentos elétricos ou eletrônicos. • • • • • 4.4 Regimes Especiais Aduaneiros de Exportação O processo de exportação consiste em vender e embarcar uma mercadoria ao exterior, recebendo o valor da transação antes, durante ou depois da conclusão da operação, conforme combinado entre vendedor e comprador. Qualquer operação que seja diferente desse �luxo recebe o nome de regime especial. Apesar de serem mais comuns na importação, os regimes de exportação caracterizam outras situações que podem proporcionar condições especı́�icas para a operação e que visam adaptar as práticas comerciais adotadas pelas empresas. Área de Livre Comércio Ao adotar um regime especial aduaneiro, a empresa cria condições para realizar a sua operação, dentro da legislação prevista. E� importante, portanto, saber como cada um deles funciona e em qual situação ele poderá ser aplicado. Vamos conhecê-los? 4.4.1 Exportação temporária Representa a saı́da de mercadorias do paı́s condicionada ao seu posterior retorno, sem que nesse sejam cobrados os impostos de importação, desde que regressem no mesmo estado e valor em que foram enviadas. Alguns exemplos de exportações temporárias são o envio de mercadorias para feiras, exposições, competições esportivas, mercadorias para ensaios, testes etc. Geralmente o prazo de retorno é determinado pelo �iscal que libera a exportação, e pode ser de um ano, prorrogável por mais um ano. Dependendo do produto ou do material, o prazo autorizado pode chegar a até cinco anos. No caso de mercadorias que sejam enviadas para conserto, montagem, aperfeiçoamento ou bene�iciamento, por meio da exportação temporária, caso tenham uma agregação de valor ou de peças, elas devem ter essa adição destacada quando do seu retorno. Os impostos de importação serão cobrados somente da parte excedente. Dá-se a esse processo o nome de exportação temporária para aperfeiçoamento passivo. Caso o material seja vendido no exterior, o que signi�ica que ele não irá regressar, situação muito comum com produtos que participam de feiras e exposições, a empresa então informa à RFB e transforma a exportação temporária em uma exportação normal. 4.4.2 Exportação em consignação Muito utilizada por empresas que trabalham com agentes oudistribuidores no exterior. Os materiais são exportados para esses parceiros para que sejam estocados, testados e vendidos. Nesse caso, a exportação �ica consignada ao responsável e deve ser convertida em uma exportação formal ao cliente comprador, quando da sua venda. A empresa exportadora tem até 720 dias para comprovar o pagamento do material, efetivando sua venda, ou para retornar a mercadoria, contados da data de seu embarque. Produtos que voltam ao paı́s nesse tipo de exportação, por conta de não terem sido vendidos, não pagam impostos de importação nessa operação de retorno. E� extremamente necessário que exportador e agente ou distribuidor respeitam as regras na exportação consignada, determinando a responsabilidade pelo seguro, armazenagem, ações promocionais, compromissos de venda e de retorno, caso o material não seja comercializado. A relação deve ser de con�iança, mas pautada por um documento como um acordo ou um contrato. Caso o exportador e o agente ou distribuidor não vejam vantagem em retornar a mercadoria para o paı́s, por conta da desvalorização do material e dos custos de frete, ambos podem optar por não retornar a mercadoria. Neste caso, o exportador tem um prazo de até 210 dias após o envio ao exterior para contatar a Secex – Secretaria de Comércio Exterior e informar o perdimento do seu material, ou seja, que o mesmo não será retornado. Um dos regimes especiais que teve grande impacto tanto no desenvolvimento do mercado nacional como na exportação, foi o regime especial de Drawback. Na sequência, vamos explorar com mais detalhes as suas caracterı́sticas. 4.4.3 Drawback O Drawback é considerado um incentivo à exportação que funciona por meio da restituição, isenção ou suspensão de tributos que incidam na importação de mercadoria, desde que ela seja (comprovadamente) utilizada na industrialização de produto exportado ou a exportar. A intenção do Drawback, criado em 1966 (TRIPOLI, 2016), é reduzir o custo do material a ser exportado, tornando o mesmo mais competitivo no mercado internacional. O regime pode ser concedido à operação que se caracterize como transformação, bene�iciamento, montagem, renovação, recondicionamento ou acondicionamento, desde que altere a apresentação do produto, com agregação de valor mercadológico. Tripoli (2016) dá alguns exemplos de como a aplicação do Drawback pode ser realizada. Clique a seguir e con�ira! Transformação Bene�iciamento Montagem Renovação ou recondicionamento Utilização da matéria-prima ou produto intermediário para gerar um novo bem. Exemplo: tecido em camiseta. Modi�ica ou aperfeiçoa a utilização, acabamento ou aparência. Exemplo: tecido cru para tecido tingido. União de peças ou partes que resultem em um novo produto. Exemplo: peças de um automóvel (motor, carroceria, pneus). Produto usado ou parte de um produto deteriorado que tenha sido restaurado para utilização. Exemplo: recondicionamento de máquinas industriais. O Drawback pode ser realizado em três modalidades: restituição, isenção e suspensão. Drawback Restituição: a empresa já realizou a exportação de forma normal e, posteriormente, ela entra com um pedido de restituição dos seus impostos pagos na entrada dos componentes importados. A solicitação de restituição dos impostos deve ser apresentada à Receita Federal do Brasil em até 90 dias da exportação do produto final. Drawback Isenção: também é solicitado depois que a importação dos componentes já foi realizada e que a exportação do produto final tenha sido finalizada, contudo, neste caso, a empresa solicita a isenção dos impostos em uma nova importação, na mesma quantidade e valor, que tem como objetivo repor o seu estoque de componentes. O regime é autorizado pelo Decex (Departamento de Comércio Exterior) e a empresa, então, poderá importar a reposição sem pagar imposto na entrada dos materiais no Brasil. Nesse caso, os produtos importados na reposição não precisam necessariamente ser utilizados em um novo processo de exportação. Eles podem ser utilizados para compor produtos acabados que sejam comercializados no mercado nacional. Caso eles façam parte de uma nova exportação, a empresa pode solicitar, novamente, a isenção da próxima importação de reposição de estoque. Drawback Suspensão: diferente dos anteriores, a solicitação é feita antes da importação dos componentes a serem utilizados no produto acabado que será exportado. A solicitação deve acompanhar um plano de exportação, preferencialmente com o contrato entre vendedor e comprador devidamente assinado Acondicionamento Colocação da embalagem, exceto embalagens exclusivas para transporte. Exemplo: embalagens plásticas de salgadinhos, envase de produtos lı́quidos, entre outros. • • • pelas partes, afirmando o compromisso entre os mesmos. Uma vez autorizado, a empresa tem até dois anos para realizar a compra e importação dos materiais, a fabricação, montagem, beneficiamento ou acondicionamento e a exportação propriamente dita. A escolha de cada uma das modalidades de Drawback dependerá da disponibilidade de �luxo de caixa que a empresa possui. Se ela possui caixa para arcar com os custos de importação para depois solicitar o Drawback, pode solicitar as modalidades restituição ou isenção. Caso ela não tenha dinheiro e queira �inanciar o processo, o Drawback suspensão será a melhor escolha. Con�ira, no vı́deo a seguir, um exemplo prático de como a escolha do Drawback afeta nos custos da empresa e a importância de conhecê-los. Segundo Sousa (2010, p. 32), “o mecanismo funciona como um incentivo às exportações ao reduzir os custos de produção de produtos exportáveis, possibilitando às empresas redução do valor investido em insumos, tornando os produtos mais competitivos no mercado internacional”. Existe uma modalidade também chamada de Drawback Interno ou Verde-Amarelo, que entrou em vigor no Brasil a partir de 2008, segundo Sousa (2010). Ele consiste no Drawback Suspensão, porém para a aquisição nacional dos insumos a serem inseridos na composição ou acondicionamento dos produtos �inais a serem exportados. Empresas que utilizam o Drawback Interno conseguem suspender os impostos, melhorando seu �luxo de caixa, assim como o valor �inal do produto. Devemos destacar que a utilização do Drawback não exime a empresa de obedecer às regras dos tipos de exportação, já mencionados anteriormente. A concessão do regime de Drawback não assegura obtenção de cotas de exportação, por exemplo, nem autoriza a exportação de um produto ou serviço que esteja sujeito a VOCÊ QUER VER? Percebemos como o comércio exterior é regido por regras e práticas que estão em constante mudança à medida que as negociações e as pessoas também alteram a sua forma de se comunicar e entender. Um �ilme que destaca como é fácil se perder em meio a diferentes culturas e formas de negociar é Negócio das Arábias, com Tom Hanks. Ele retrata as preocupações e o choque cultural de um executivo de TI. Vale a pipoca! contingenciamento. Da mesma forma, a empresa não se exime de obter uma autorização prévia tanto para a importação como para a exportação de produtos especı́�icos e que demandem tal prática. Síntese Fizemos nossa jornada neste capı́tulo. Agora, já sabemos quais são os passos para negociar e embarcar a mercadoria, assim como importar materiais e serviços e sua carga tributária. Os conhecimentos aqui discutidos podem auxiliar sua jornada pro�issional, tornando-o peça-chave na negociação, tanto da importação como da exportação. Tendo esse conhecimento, é possı́vel assessorar a empresa de forma que ela realize o melhor caminho para a sua operação, conseguindo obter importantes vantagens competitivas. Neste capı́tulo, você teve a oportunidade de: entender a aplicação da tarifa externa comum e dos impostos, gerados pelo processo de importação; compreender o uso do simulador de tratamento tributário da receita federal; aplicar as diferentesmodalidades de pagamento para cada relação comercial dentro do comércio internacional, considerando suas diferentes relações de riscos e custos; escolher dentre cada regime aduaneiro, tanto de importação quanto de exportação, aquele que melhor se adeque à operação, de forma a obter o melhor custo/benefício, otimizando a relação de custos com o consumidor final, e, consequentemente, aumentando a competitividade. • • • • Bibliografia BIZELLI, J. dos S. Noções básicas de importação. 9. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2002. BORGES, J. T. Financiamento ao Comércio Exterior: O que uma empresa precisa saber. Curitiba: Intersaberes, 2012. BROGINI, G. Tributação e Bene�ícios Fiscais no Comércio Exterior. Curitiba: Intersaberes, 2013. CA� MARA DE COME�RCIO INTERNACIONAL. Créditos Documentários – revisão 2007. Publicação nº 600. Rio de Janeiro: ICC Brasil, 2007. CASTRO, J. A. de C. Exportação – aspectos práticos e operacionais. São Paulo: Aduaneiras, 2007. GARCIA, L. M. Exportar – rotinas, procedimentos, incentivos e formação de preços. São Paulo: Aduaneiras, 2005. MINISTE�RIO DA INDU� STRIA, COME�RCIO EXTERIOR E SERVIÇOS. Tabela TEC. Disponı́vel em: <http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais (http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos- atuais)>. Acesso em: 05/02/2019. MONTEIRO, F. A logística da F1, 24 mar. 2017. Disponı́vel em: http://www.ilos.com.br/web/a-logistica-da- f1/ (http://www.ilos.com.br/web/a-logistica-da-f1/). Acesso em: 05/02/2019. NEGO� CIO DAS ARA� BIAS. A Hologram for the King. Direção: Tom Tykwer. Produção: X-Filme Creative Pool, 22h22, Fábrica de Cine. 2016. Longa-metragem. Estados Unidos. Duração: 98min. NYEGRAY, J. A. L. Legislação Aduaneira, Comércio Exterior e Negócios Internacionais. Curitiba: Intersaberes, 2016. RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Simulador do Tratamento Tributário e Administrativo das Importações. Disponı́vel em: <http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/ (http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/)>. Acesso em: 05/02/2019. ______. Manual de Admissão Temporária. 24 mar. 2015. Disponı́vel em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/admissao-temporaria (http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/admissao-temporaria)>. Acesso em: 05/02/2019. ______. Loja Franca. 01 dez. 2014. Disponı́vel em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/regimes-e-controles-especiais/regimes-aduaneiros- especiais/loja-franca (http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/regimes-e-controles- especiais/regimes-aduaneiros-especiais/loja-franca)>. Acesso em: 05/02/2019. SOUSA, J. M. de. Gestão do Comércio Exterior: exportação/importação. São Paulo: Saraiva, 2010. TRIPOLI, A. C. K. Comércio Internacional: Teoria e Prática. Curitiba: Intersaberes, 2016. WORLD TRADE ORGANIZATION. GATT – General Agreement of Tariffs and Trade. Disponı́vel em: <https://www.wto.org/english/docs_e/gattdocs_e.htm (https://www.wto.org/english/docs_e/gattdocs_e.htm)>. Acesso em: 08/02/2019. http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais http://www.ilos.com.br/web/a-logistica-da-f1/ http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/ http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/manuais/admissao-temporaria http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/aduaneira/regimes-e-controles-especiais/regimes-aduaneiros-especiais/loja-franca https://www.wto.org/english/docs_e/gattdocs_e.htm
Compartilhar