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UNIDADE 1 
A trajetória sócio-histórica do Serviço Social e os marcos do processo 
de institucionalização 
 
Nessa unidade você reconhecerá os principais marcos do surgimento da profissão 
de Serviço Social no Brasil, ampliando a noção da respectiva profissionalização, os 
fundamentos e a institucionalização dos serviços sociais como parte do processo 
de afirmação do espaço ocupacional e histórico do Serviço Social na sociedade. 
Essa abordagem constituirá o conteúdo introdutório da disciplina, contribuindo 
para a formação do seu conhecimento acerca dos aspectos históricos que 
conformaram uma atuação conservadora da profissão. Por este motivo, nesta 
unidade, retomaremos a trajetória profissional a partir da década de 1940 para, 
posteriormente, avançar no tempo social. 
Objetivo 
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: 
• Refletir acerca da institucionalização do Serviço Social e dos fundamentos 
sócio-históricos a partir da década de 1940 
 
 
Conteúdo Programático 
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas: 
• Tema 1 - A trajetória histórica do processo de institucionalização do 
Serviço Social. 
• Tema 2 - A institucionalização do Serviço Social e os fundamentos sócio-
históricos da intervenção profissional 
• Tema 3 - A constituição dos serviços sociais sob reproduções 
imediatistas 
 
 
Você seria capaz de interpretar esta figura? 
 
Lanço o seguinte desafio: construa a sua interpretação acerca da relação entre 
essas imagens e o processo de institucionalização do Serviço Social ao final desta 
unidade. Considere a conjuntura política para o surgimento da profissão, e reflita 
como seria possível descrever a função da igreja e o papel assumido pelo Estado 
nesse contexto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 1 
A trajetória histórica do processo de institucionalização do Serviço 
Social 
 
Como o Estado e a Igreja, contribuíram para a institucionalização do Serviço Social? 
A profissão de Serviço Social desde o seu surgimento sempre esteve inserida numa 
correlação de forças políticas, conforme o período da história da sociedade. 
Compreender o seu processo de institucionalização significa conhecer a relação 
estabelecida entre Estado, o setor econômico da sociedade, a classe dominante 
burguesa e setor popular nos respectivos tempos sociais. Dessa forma, o termo 
“correlação de forças”, fundamentalmente nesse contexto, refere-se à relação 
estabelecida entre esses atores sociais que se interrelacionam, influenciam-se, 
determinam-se numa dinâmica não estanque e não finalista, ao contrário, dinâmica 
e ativa. Entretanto, estabelece uma mola propulsora e diretiva constituída a partir 
do poder político que se desenvolve numa teia de interesses pertencentes a esse 
cenário social. Em outras palavras, tal correlação de forças se movimenta a partir 
do processo político característico e formado no tempo social. 
 
Dessa forma, as bases de implantação do Serviço Social do país são 
perpendiculares ao surgimento da questão social constituída na formação 
econômico-social brasileira na qual crescia, de modo peculiar, um protótipo de 
economia mercantil em meio ao término de uma economia sustentada por formas 
de trabalho escravo. Com o desenvolvimento da divisão social do trabalho, a partir 
do momento que os trabalhadores vendem as suas forças de trabalho como 
mercadorias aos proprietários dos meios de produção, acirram-se as condições 
precárias com as quais sobrevivem e se mantêm na sociedade. A reprodução social 
dos trabalhadores restringiu-se às condições pífias de autossustentação. 
Assim, a especialização do trabalho sob o advento do desenvolvimento das formas 
capitalistas de produção no Brasil apresentou a sociedade o crescimento do 
abismo entre aqueles que detinham a propriedade privada de produção e aqueles 
estrangeiros que procuravam vender a força de trabalho no nosso mercado, e, 
ainda, aqueles ex-escravos que a vendiam como mercadoria por salário irrisório 
dado o preconceito sistêmico ao qual estavam submetidos. 
Frente às condições impostas pelo sistema econômico no início do século XX, 
grupos de contestação se formavam como instrumento de pressão ao Estado e a 
identificação de uma classe operária se compunha como reação à exploração cada 
vez mais evidente na sociedade. A questão social nesse cenário e tempo histórico, 
bem como sob as configurações do território brasileiro, manifestou-se em 
decorrência dessa correlação de forças entre a classe burguesa e seu poder político 
e a classe subalterna constituída por proletários, ex-escravos sem perspectivas de 
trabalho, e imigrantes estrangeiros. 
Na trajetória política do país, do período da República Velha (1889) à República 
Nova inaugurada por Getúlio Vargas (1930), a questão social ganhou nova 
representação, já não era enfrentada pelo Estado como repressão à criminalidade, 
mas por meio a promoção estratégica da cultura do consenso que se estendeu na 
história do país por muitas décadas e ainda se mantém viva na contemporaneidade, 
sob novas configurações. É exatamente nesse momento da história que serão 
desenvolvidas estratégias necessárias à profissionalização do Serviço Social. 
Considerando que a coerção foi substituída pelo consenso, o governo populista 
varguista precisava de estratégias políticas para conter as manifestações e 
descontentamentos da classe trabalhadora, no sentido de manter a ordem 
estabelecida, a segurança nacional e a prioridade dos assuntos econômicos. A 
estratégia estava justamente na cultura dos valores conservadores que 
intencionavam à adaptação do indivíduo a um padrão moral necessário para o 
desenvolvimento do capital. Tal ideologia estava sustentada na impossibilidade da 
livre expressão ou de movimentos de base, a contestação era compreendida como 
um comportamento que não atendia a racionalidade econômica e ao poder estatal. 
Em contrapartida, o Estado tinha que corresponder com as expectativas sociais, o 
que resultou na adoção de medidas assistencialistas para garantir o apoio do povo 
em massa. 
Nesse contexto, o Estado disponibilizava benefícios imediatistas e compensatórios 
à população porque não buscava o enfrentamento da questão social em sua 
essência, decorrente do conflito entre capital e trabalho, mas legitimava propostas 
focalizadas na parcela da população trabalhadora, como a extensão da Lei Eloy 
Chaves a todo funcionalismo público e a legitimação das Caixas de Aposentadorias 
e Pensões – CAPs, bem como o rebaixamento salarial em detrimento de outros 
benefícios pontuais. 
É a partir dessa conjuntura que o Serviço Social surge como parte do movimento 
leigo da Igreja, que tenta restaurar a sua hegemonia na sociedade, anteriormente 
fragilizada pelas intervenções da República Velha que declarou a laicização do 
Estado. Esse cenário representou a correlação de forças entre Estado e Igreja que 
buscava a hegemonia dos seus respectivos interesses. No entanto, a igreja, ainda 
que de forma contraditória, consolidava a aliança com um Estado pautado na 
economia cafeeira. 
Do Estado repressor ao consensual, a Igreja mantinha-se enquanto instituição que, 
através do movimento católico laico, intencionava a construção de ações 
apaziguadoras entre a crise de hegemonia da classe burguesa e os 
questionamentos das classes subalternas. A relação entre Igreja e Estado se 
caracterizou enquanto forma articulada de fortalecimento do movimento político-
militar de 1930. Enquanto a intervenção do Estado era reduzida a servir a 
população solidariamente, ao bem comum, a proteção dos trabalhadores e da 
propriedade privada, a igreja era responsável pela “recristianização” (Iamamoto, 
2012) da sociedade, pela propagação dos valores doutrinários de caridade, de 
harmonia, da contenção de comportamentos revolucionários. Nessa concepção, 
não bastava apenas a socialização do espírito da solidariedade, mas a elevaçãoe 
afirmação de uma política compreensiva capaz de fragilizar forças contrárias à 
ordem estabelecida e de reverenciar a paz entre classes. A sociedade deveria 
representar-se como uma grande comunidade colaboradora do desenvolvimento 
do país. 
Por isso, a partir de 1932, a igreja católica amplia os objetivos do movimento laico 
para a criação de um grupo de intelectuais, por meio da Ação Universitária Católica 
e o Instituto de Estudos Superiores, que mais tarde se firmariam pela Ação Católica 
Brasileira, conforme aponta Iamamoto (2012). Trata-se de uma aliança entre 
Estado e Igreja que proporciona o fortalecimento de instrumentos e valores 
essenciais ao capitalismo. Isso se dá, especialmente, pela via do consenso na 
proporção em que cria uma aderência das classes populares ao sistema político e 
econômico. De outra parte, perpetua a cultura do consentimento e da submissão 
por meio de serviços sociais compensatórios. 
Dessa forma, a doutrina católica, através da pedagogia e de incentivos à educação 
e a ação social, proporciona a propagação de ideias relativas ao comportamento da 
sociedade. Isso perpassou pela formação e cultura dos indivíduos sociais de forma 
a fortalecer valores hegemônicos quanto à vida em comunidade. Tanto no aspecto 
individual como coletivo, a intenção era reconstituir o poder ideológico e político 
da igreja, por meio do incentivo à caridade, à irmandade, ao consentimento e à 
obediência. Trata-se de valores especiais à permanência e fortalecimento das elites 
burguesas que logravam o avanço do capitalismo. 
A repercussão desses interesses foi funcional a vigência de um sistema econômico 
que proporcionava o aumento das diferenças de condições sociais entre a classe 
burguesa e popular através de uma intensa e avassaladora exploração dos 
trabalhadores em escala mundial, e, principalmente, legitimado pelo Estado. Essa é 
a lógica que estabelece a relação entre as instituições: igreja e Estado. A aliança 
que foi construída consistiu no apaziguamento dos movimentos sociais e dos 
descontentamentos das classes subalternas para atender aos interesses da parcela 
burguesa e capitalista. 
Eis o motivo pelo qual você precisa compreender esse período histórico e a 
correlação de forças que se estabelece na sociedade, pois a força hegemônica 
daquele tempo social representava o poder constituído nas mãos de um Estado 
paternalista, antidemocrático cujos interesses estavam expressos nos privilégios 
ao desenvolvimento de um determinado sistema econômico. Foi nesse contexto 
que se institucionalizou o Serviço Social. 
Encontram-se registros da história do Serviço Social no Brasil na década de 1930, 
no contexto de ascensão do governo de Getúlio Vargas. Balbina Ottoni Vieira 
(1988, p. 141) afirma que em 1932 o Brasil conheceu Maria Adele de Loneux, 
professora da Escola de Serviço Social na Bélgica, que apresentou a experiência do 
Serviço Social desenvolvido na Europa. Através de palestras e seminário, a 
perspectiva do Serviço Social europeu foi iniciada nas cidades de São Paulo e Rio de 
Janeiro. Desse primeiro contato e ensaio, duas profissionais, Maria Kiehl e 
Albertina Ramos, identificaram-se com a proposta e cursaram o Serviço Social na 
cidade de Bruxelas, retornando ao país, posteriormente, para fundar a primeira do 
Brasil. 
Assim, em 1936, foi fundada a escola de Serviço Social na cidade de São Paulo, e, 
em 1937, na cidade do Rio de Janeiro. Esse primeiro grupo de assistentes sociais 
também foi responsável pela formação do Centro de Estudos e Ação Social – CEAS 
cujos estudos caracterizavam o Serviço Social menos como trabalho e mais como 
serviço aos necessitados. Formou-se, então, um curso cuja maioria pertencia aos 
setores da sociedade mais abastados com valores apolíticos ou valores funcionais a 
política varguista. 
Com o advento da Segunda Guerra Mundial, a intensificação do trabalho nas 
fábricas provocou maior número de acidentes de trabalho, e, proporcionalmente, 
despertou a capacidade de organização da força trabalhadora, internacionalmente. 
Os movimentos dos trabalhadores causaram repercussão mundial, incluindo o 
Brasil, e as condições de trabalho passou a ser foco político, já que Vargas 
incentivava o projeto de industrialização, ainda que tardio. Para tanto, fez-se 
necessário o enquadramento da população, e a implementação de uma política 
social compensatória parece ter sido a resposta dada pelo governo para as ações 
de controle e gestão da massa popular. Nesse cenário, juntamente com o conceito 
de medicina social, institucionaliza-se o Serviço Social, entretanto, como estratégia 
de educação de padrões necessários à produtividade. 
Com essa intenção de promover um sistema de controle sob os trabalhadores, 
tanto no ambiente de trabalho como na própria vida social, alguns marcos legais de 
caráter trabalhistas são característicos da época: 
• Criação da Consolidação das Leis Trabalhistas em 1943; 
• Criação da Legião Brasileira de Assistência - LBA e do Serviço Nacional de 
Aprendizagem Industrial - SENAI em 1942; 
• Criação do Serviço Social da Indústria – SESI e a promulgação da Nova 
Constituição em 1946; 
• Criação da Associação Brasileira de Assistentes Sociais – ABAS e da 
Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social - ABESS em 1946; 
• Em 1947 a ABAS aprovou o Código de Ética Profissional em sua primeira 
versão; 
• A inserção do Serviço Social no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos 
Comerciários – IAPC, a partir de 1942. 
Essa realidade também impõe questionamentos críticos, inclusive para as 
profissionais de Serviço Social que já não encontravam respostas no projeto 
católico de recristianizarão proveniente do apostolado social, embasado na ação 
restauradora dos bons costumes e da moral. Por isso, assim como o capitalismo 
precisava do espírito competidor para a vaporização do mercado, o profissional de 
Serviço Social, agora contratado pelo capital, deveria responder as expectativas do 
mesmo sistema. 
A protoforma do Serviço Social configurou-se, dessa forma, para atender as 
múltiplas facetas da questão social, entretanto, sob uma versão conservadora. O 
caráter universal da questão social decorrente da tensão e conflito de classes não 
era compreendido como tal. De outra parte, as peculiaridades ou particularidades 
da questão social também não eram discutidas ou apresentadas no seio da 
formação profissional. O que se evidenciava era a perspectiva de desigualdade 
entre pobres e classes superiores em que esses últimos deveriam ser complacentes 
e elevarem-se ao espírito do humano solidário. Solidário ao capital, à 
competitividade, ao desemprego, à exploração, ao descaso estatal, como princípio 
moralizante fundamental à sobrevivência. 
As políticas sociais eram proclamadas no entorno daqueles que, essencialmente, 
trabalhavam. Os primeiros seguros sociais referiam-se àqueles que podiam pagar 
pelos benefícios, que possuíam poder de contribuição à previdência. A população 
trabalhadora informal não fazia parte do público atendido pelas políticas sociais. A 
assistência à saúde privada era extensiva à família como uma estratégia de 
controlar e reforçar esse o domínio sobre o trabalhador cuja reprodução social 
básica, a base de salários insuficientes, era o único interesse do capitalista para a 
manutenção e aumento da produtividade. 
Devido à teia de interesses políticos apresentados até aqui, o Serviço Social nesse 
cenário político, social e econômico foi chamado para atender a população 
trabalhadora e as classes subalternas de duas formas: 
• Foi requisitado pelo capitalista para promover ações complementares à 
medicina social, cuidando, vigiando e desenvolvendo intervenções 
educativas nos comportamentos sócio ocupacionais, por meio do 
acompanhamento da saúde social, aliada à higiene ocupacional, para 
promover à adaptação do trabalhador ao ambiente; 
• Contratado pelo Estado para executaras políticas sociais assistencialistas, 
por meio de encaminhamentos e direcionamento dos benefícios, inserido na 
perspectiva ideológica compensatória e de apaziguamento entre classes, o 
Serviço Social atendia a demanda e as exigências do capital, homologadas na 
figura estatal. 
Isso demonstra que a trajetória de institucionalização do Serviço Social teve, 
inicialmente, uma influência europeia que foi ressignificada frente ao contexto 
político em que o Brasil vivia na década de 1930, com um governo antidemocrático 
que buscava consolidar-se no poder. Para tanto, articulou estratégias para manter 
um sistema propício ao desenvolvimento do capital, estabelecendo parcerias, 
inclusive, com a doutrina católica em voga. Dentre a utilização dessas estratégias 
funcionalistas, estava o processo de institucionalização da profissão. 
Entretanto, as assistentes sociais já não encontravam, nos postulados católicos, a 
sustentação para a atuação profissional, o que representou um incentivo para o 
desenvolvimento da influência norte americana na formação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 2 
A institucionalização do Serviço Social e os fundamentos sócio-
históricos da intervenção profissional 
 
Quais foram as correntes teóricas que serviram de embasamento para o 
metodologismo adotado pela profissão entre as décadas de 1940 e 1960? 
Nesta aula, você aprenderá os fundamentos teórico-metodológicos herdados pela 
influência norte-americana que subsidiaram o Serviço Social, especialmente, no 
período de 1947-1961, conforme esclarece Maria Ângela Rodrigues Alves de 
Andrade (2008). Entretanto, é importante que você compreenda as relações sociais 
e econômicas que se desenvolviam, internacionalmente, e que repercutiram no 
processo de avanço do capital no Brasil. 
Por tal motivo, iniciamos afirmando que a Segunda Guerra-Mundial (1939-1945) e 
as suas consequências para os países, ao longo do século, foi um fato histórico-
político que influenciou, indiretamente, a divisão internacional sócio técnica do 
trabalho, e, nesse contexto, para os caminhos percorridos pela trajetória do 
Serviço Social. Isso porque, ao final da guerra, a supremacia dos Estados Unidos, o 
enfraquecimento e a fragilidade de outros países, como a União Soviética, 
propiciaram um contexto favorável para a expansão do mercado financeiro dos 
EUA. Tratava-se do único país, dentre àqueles participantes da guerra, com 
potencial de expansão mercadológica. 
O potencial dos EUA expandiu-se na proporção em que constituía mais parcerias 
com os países latino-americanos para a exploração do mercado-capital, numa 
reconfiguração da relação colonialesca sob novos moldes. Essa relação 
estabelecida entre a potência e os países periféricos, ou com instabilidade 
econômica, apresentava-se com expressiva dependência financeira para com o 
império norte-americano. A história mostra que tal dependência se expandiria para 
outros setores da vida social e cultural. 
Nesse momento histórico, o Brasil, ainda na década de 1940 e no governo de 
Getúlio Vargas, já estava em interação e aliança, desde o Governo de Roosevelt 
(1933-1945) com os Estados Unidos para promover uma conjuntura necessária ao 
desenvolvimento do capitalismo. No entanto, a forma ditatorial do Governo de 
Vargas não era coerente com uma ideologia democrática que se fortalecia nas 
sociedades globais, o que favoreceu a queda dessa gestão e a presidência de 
Eurico Gaspar Dutra. 
 
Frente a tal realidade, as relações sociais capitalistas que se consolidaram e 
aguçaram as expressões da questão social foram as mesmas que 
institucionalizaram, legitimaram e incentivaram o avanço profissional, posto que a 
profissão era cada vez mais desafiada a intervir no cenário da desigualdade social. 
Diante disso, as exigências passaram a serem outras, considerando que se expandia 
a divisão social do trabalho e, proporcionalmente, a concorrência entre novas 
profissões no mercado de trabalho. Os grupos profissionais começaram a 
compreender que somente os princípios e fundamentos cristãos não responderiam 
aos desafios postos pelo mercado profissional. 
Tratou-se da mesma época em que, segundo Vieira (1988), os Estados Unidos 
concederam bolsas de estudos e a participação de brasileiras em congressos 
interamericanos de Serviço Social, o que viabilizou a formação profissional de 
muitas assistentes sociais naquele país. Foi o início da influência americana no 
Serviço Social. Isso demonstrou que a inserção do Serviço Social nos espaços 
institucionais demandava uma formação técnica para atuação, e a busca de uma 
construção teórica própria que correspondesse aos princípios de eficácia exigidos 
pelas próprias instituições e mercado de trabalho. 
A história mostra que a influência norte-americana alcança não somente uma 
relação de dependência econômica, conforme supracitado, mais avança em 
diversos campos da vida do indivíduo social, até a própria cultura em diversos 
territórios: influencia o próprio “habitus” (Bourdieu, 2002). Ou seja, o poder norte 
americano alcança a estrutura social incorporada nos indivíduos sociais, sua visão 
de mundo, percepção, valores, padrões de vida, e estruturas do pensar. Nada mais 
claro de que à potência americana tenha conseguido envolver o campo 
educacional. 
Assim, em 1948, as escolas de Serviço Social introduziram, na formação 
profissional, a temática de pesquisa e Organização da Comunidade. Foi a obra 
literária de Mary Richmond (1917) que apresentou ao Serviço Social Brasileiro 
técnicas para repensar a atuação profissional. De outra parte, não se tratou de um 
saber isolado, a sociologia norte-americana que se desenvolvia não se mostrou 
diferente quanto à funcionalidade ao contexto do capital. Isso porque o propósito 
sociológico buscava a explicação para a desigualdade social por meio da 
perspectiva da estratificação social, buscando ainda caminhos para compreender o 
capitalismo. 
A ideia de indivíduos desajustados embasará, por um tempo, a atuação e o foco das 
novas técnicas do Serviço Social. As instituições, nesse sentido, tinham a função 
não somente de reprodução social da força trabalhadora, mas de administrar os 
conflitos entre classes e funcionalizá-los a serviço das relações sociais de produção 
e à hegemonia do capital. As suas abordagens mantinham e reafirmavam a 
estrutura existente na proporção em que as ações sociais eram imediatistas e 
provisórias no trato com as expressões da questão social. 
O profissional de Serviço Social desenvolverá a função de atender e acompanhar 
aqueles indivíduos que não conseguiram se adequar ou que se rebelaram quanto 
ao sistema hegemônico, desvirtuando-se do padrão esperado e do enquadre da 
estratificação social. Para tanto, a ideia prioritária é o funcionamento do sistema 
posto, a partir da ótica funcionalista. 
É importante você compreender o significado do funcionalismo nessa primeira 
tentativa de construção de técnicas e teoria do Serviço Social. O funcionalismo na 
sociologia tem amplo significado e ressignificações por diversos autores da 
Antropologia Social e Cultural. Aqui explicaremos seu significado para a 
manutenção de técnicas profissionais do Serviço Social provenientes da influência 
americana. Nessa acepção, o funcionalismo relaciona a ideia da unidade e do todo 
como essenciais para o funcionamento ou completude da própria totalidade. A 
parte contribui com a manutenção desse todo. A contribuição é dada pela 
necessidade de elementos funcionais ao sistema, e tal interação permitirá a 
manutenção do todo social. 
Tal concepção sobre a teoria funcionalista possui dois elementos reflexivos: a visão 
macroscópica e microscópica. Na visão macroscópica, conforme esclarece Dantas 
(1995, p. 44), a teoria funcionalista procura explicar a sociedade como uma 
“estrutura em funcionamento” que busca o equilíbrio, composta por relaçõesfuncionais. Na visão microscópica, a teoria se refere aos papéis que devem ser 
funcionais à estrutura, refere-se ao desempenho do indivíduo, às funções dos 
papéis enquanto partes que constituem a totalidade da sociedade. 
Houve e ainda há muitas críticas a essa perspectiva descrita do funcionalismo, mas 
sua teoria foi especialmente necessária para uma sociedade da conformação, do 
consenso, constituída por acordos sociais. A questão é que essa configuração 
fortalecia e contribuía para a hegemonia de um sistema político e econômico 
capitalista que reforçava a prioridade mercadológica em detrimento da atenção à 
questão social decorrente do conflito de classes. 
Nesse contexto, o profissional de Serviço Social é solicitado para atuar como 
agente de mudanças sociais, desde o indivíduo ao grupo social. Para tanto, surgia 
uma adequação dos valores cristãos, ainda presentes, à necessidade de 
racionalização por meio das técnicas profissionais e recorrência às outras ciências 
humanas. A Sociologia e a Psicologia foram exemplos da busca do Serviço Social 
para a transformação e construção de uma trajetória científica por meio de 
esforços de reflexão metodológica. Na sociologia, o positivismo foi uma vertente 
teórica que inspirou e deu suporte para a ampliação dos referenciais técnicos da 
profissão naquele tempo social. 
 
A matriz positivista e sua concepção imediatista do ser social se apresentou 
enquanto teoria social que aborda as relações sociais no plano de suas vivências 
imediatas, sob uma ótica da objetividade. Tal perspectiva compreende a sociedade 
a partir de fatos sociais que devem explicados à luz da verificação científica. Assim, 
a teoria positivista recorria às ciências naturais, e buscavam a mesma objetividade 
aplicada as ciências exatas para compreender os fatos sociais como coisas. Tal 
como o funcionalismo, a sociedade deveria funcionar em harmonia, na busca da 
resolução dos conflitos sociais entre os indivíduos e o bem estar da sociedade em 
sua totalidade. 
Portanto, a teoria positivista e funcionalista foi apropriada pelo Serviço Social e o 
sentido das mudanças solicitadas ao profissional significou a intervenção 
profissional para a modificação dos desajustes individuais e grupais necessários à 
integração do todo social. Para isso, foram necessários “modelos de análise, 
diagnóstico e planejamento, enfim, uma tecnificação da ação profissional 
acompanhada de uma crescente burocratização das atividades institucionais” 
(YASBECK, 1984, p. 71). Ou seja, foi necessária a construção de uma perspectiva 
profissional embasada nas teorias sociais para a composição de técnicas que 
atendessem a conjuntura do capitalismo, ávido por crescimento e acumulação. 
Assim, pelo que abordamos da trajetória inicial do Serviço Social, observa-se que os 
fundamentos filosóficos, a perspectiva conservadora e a teoria social do 
positivismo e funcionalismo constituíram um conjunto de crenças e verdades que 
direcionaram para uma atuação profissional conformada, fincada num referencial 
de aceitação do papel conservador exigido pelo capital e imposto pelo Estado. 
Todo esse aporte e conjuntura impossibilitou o Serviço Social de compreender: 
• A questão social enquanto consequência do conflito de interesses de 
classes contraditórias em função de uma própria dinâmica de um sistema 
que se alimentava de tal contradição e exploração social; 
• As relações sociais constituídas a partir do lugar que o indivíduo social 
ocupa no processo de produção capitalista: trabalhadores que vendiam sua 
força de trabalho em troca de um salário que não garantia a reprodução 
social, e os capitalistas, proprietários dos meios de produção, interessados 
na extração da mais-valor, valor excedente do trabalho não pago ao 
trabalhador; 
• A percepção do papel profissional contraditório nessa conjuntura política e 
econômica, solicitado para atender aos interesses do capital, através da 
intervenção na reprodução social do trabalhador e da população atingida 
pela exploração sistêmica; e, de outra parte, o potencial de sua autonomia 
relativa; 
• A visão aparente, imediata e imaginária de uma suposta inocência no que se 
refere à neutralidade política no processo de formação e intervenção 
profissional que não caracterizava uma atuação lúcida, pelo contrário, 
aproximava-se de um pragmatismo alienante. 
Longe de desenvolver esses critérios críticos na atuação profissional daquele 
tempo social, o Serviço Social passou a investir, no que concerne à investigação, 
estudo e elaboração teórica, nos pressupostos da contribuição norte-americana. 
Para tanto, três foram as vertentes metodológicas: o Serviço Social de Casos, 
Grupo e Comunidade. 
A primeira abordagem manifestada foi o Serviço Social de Casos que tinha o 
indivíduo como foco das ações reparadoras ou de ajuste social. Tratava-se de uma 
abordagem que estava subsidiada pela psicologia, enveredando-se pelas 
contribuições da teoria psicanalítica. O indivíduo deveria ser trabalhado, reeducado 
para o exercício de comportamentos que se adequassem a estrutura social: “O 
Serviço Social de Casos caracteriza-se pelo objetivo de fornecer serviços básicos 
práticos e de aconselhamento, de tal modo que seja desenvolvida a capacidade 
psicológica do cliente e seja levado a utilizar-se dos serviços existentes para 
atender a seus problemas” (HAMILTON, 1958, p. 38). Nesse sentido, os problemas 
não eram estruturais e não pertenciam à sociedade brasileira na figura do Estado, 
mas do indivíduo. 
 
Por esta razão, o sujeito era em si uma situação-problema que deveria ser atendido 
mediante o critério do método clínico. As técnicas perpassavam as fases de estudo, 
diagnóstico e tratamento. O profissional deveria se apropriar da história do cliente, 
dos aspectos em desequilíbrio para traçar alternativas de ajustamento social. 
Dessa forma, era o agente profissional responsável por promover a mudança no 
indivíduo a partir dos recursos disponibilizados pelas Instituições Sociais que 
demandavam a missão de ajustamento e adequação à sociedade. Entretanto, essa 
mesma abordagem sofreu fortes críticas por não atender o conjunto de problemas 
apresentados na sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 3 
A constituição dos serviços sociais sob reproduções imediatistas 
 
Como se desenvolve a relação entre o significado dos serviços sociais e a 
profissionalização do Serviço Social? 
Conhecer o significado dos serviços sociais no processo de afirmação da profissão 
de Serviço Social a partir da conjuntura política, econômica e social representa uma 
exigência para o seu processo de aprendizagem e formação profissional. Isso 
porque a constituição dos serviços sociais representa a atuação estatal e 
intervenção política através de um conjunto de estratégias no campo doutrinário, 
científico, técnico, ideológico, cultural e social, entre as quais, a institucionalização 
da profissão de Serviço Social, em determinado tempo histórico. 
A institucionalização e desenvolvimento dos princípios teórico-metodológicos da 
profissão se relacionam com o processo de constituição dos serviços sociais na 
medida em que àquele primeiro se insere na mesma dinâmica societária deste 
último. Ou seja, o Serviço Social foi demandado pelo Estado e pelo capital para 
intervir junto às classes subalternas por meio de duas formas: foi contratado pelas 
empresas para contribuir à reprodução social dos trabalhadores, e requisitado pelo 
Estado para executar e intermediar os serviços sociais através das instituições 
sociais. Portanto, os serviços sociais se expressavam enquanto recursos públicos 
direcionados para a reprodução social dos indivíduos. 
Entretanto, é necessário que você compreenda dois aspectos mais amplos do 
significado dos serviços sociais: 
• O primeiro se refere à sua inserção em um modelo de gestão macroe global 
que elabora um sistema de instrumentos políticos cujo cenário é constituído 
e reelaborado conforme os interesses da classe dominante. Em outras 
palavras, os serviços sociais, sob a configuração da sociedade capitalista, é 
parte de um conjunto de medidas políticas do poder hegemônico 
consolidado em determinado modo de produção social; 
• O segundo aspecto corresponde ao seu micro significado conceituado como 
o resultado de um plano de governo para intervir junto às classes populares, 
no intuito de promover serviços de primeira necessidade à reprodução 
social e manutenção das condições mínimas de sobrevivência do indivíduo 
social; 
Vídeo 
Para saber mais, assista agora ao vídeo: 
Conseguiu perceber a distinção entre esses dois aspectos? Para maior apropriação 
da correlação de forças que envolve o significado dos serviço sociais precisamos 
avançar um pouco mais, de forma que você alcance a discussão desse conteúdo e 
sua relação com o papel profissional dos (as) assistentes sociais. 
Os serviços sociais, direitos sociais e cidadania são significados que estão 
estritamente relacionados. Entretanto, esses termos nem sempre estiveram 
relacionados na história. A noção de cidadania e direitos sociais pertence às 
construções sociais do século XX, representando um avanço político conquistado 
pelos movimentos sociais que reivindicavam os direitos civis, políticos e sociais. 
Entretanto, os serviços sociais, em época anterior, no período de 
institucionalização da profissão, estavam a cargo das instituições religiosas, sob um 
significado de doação, de dávida à classe excluída e marginalizada da sociedade. A 
partir dessa concepção, os serviços sociais eram destinados a uma parcela da 
população que não eram compreendidos como cidadãos, mas como indivíduos em 
condição de miséria cuja ideologia estabelecia uma perspectiva de que tal situação 
de miserabilidade “não era da responsabilidade estatal”. 
Segundo Iamamoto (2012) e Marshall (1967), o que restava à essa classe eram as 
leis beneficentes como a Lei dos Pobres na Inglaterra: 
A poor law tratava as reivindicações dos pobres não como parte integrante de seus 
direitos de cidadãos, mas como uma alternativa deles – como reivindicações que 
poderiam ser atendidas somete se deixassem de ser cidadãos. (...) O estigma 
associado à assistência aos pobres exprimia os sentimentos profundos de um povo 
que entendia que, aqueles que aceitavam assistência, deviam cruzar a estrada que 
separava a comunidade dos cidadãos da companhia dos indigentes. 
(MARSHALL apud Iamamoto, 2012) 
Inicialmente, de forma contrária a esse modelo ideológico, o liberalismo 
apresentou à sociedade o valor de igualdade dos homens perante a lei e os 
princípios necessários para o avanço do capital e desenvolvimento mercadológico. 
A liberdade pregada por essa concepção não se tratava somente do direito à 
liberdade individual, mas, principalmente, tratava-se da implantação de valores 
necessários ao livre mercado. Essa visão liberalista foi fortalecida pela conquista 
dos direitos políticos e civis, em que todos os indivíduos se tornariam iguais frente 
às condições estabelecidas pela legislação. 
Com o enfraquecimento da doutrina liberal, cresce e reafirmam-se valores 
relativos à um Estado protetor, que busca intervir nas expressões da questão 
social, porém, de forma assistencialista. Consequentemente, os serviços sociais 
integram um esquema de instrumentos políticos para compor a perspectiva 
ideológica de um modelo de governo. Tal esquema de interesses de um governo 
inclui o setor cultural, - e, portanto, também educacional - o setor econômico, a 
doutrina política, e até o campo intelectual. 
Nesse último campo intelectual, o Estado promove investimentos e parcerias para 
o avanço da divisão sociotécnica do trabalho que estudem e investiguem, 
cientificamente, os reflexos da questão social. 
Isso significa o avanço de profissões que busquem respostas coerentes com essa 
capacidade governativa cuja visão é assistencialista. Cabe registar que é aqui que 
se localiza e se fortalece as bases de implantação do Serviço Social 
Apresentam-se, nesse contexto, técnicas, metodologias, doutrinas políticas e 
filosóficas – como, por exemplo, o funcionalismo e positivismo – que corroboram 
a ideia de um Estado benfeitor, benevolente, Estado de benesse. Essa concepção 
constitui o campo ideológico que, por conseguinte, expande-se para o âmbito 
cultural e doutrinário. 
Consolida-se uma estrutura do pensar e uma cultura de que o Estado deve ser 
legitimado pelo povo, posto que centraliza esforços e desenvolve programas 
sociais para a questão social, por meio da propagação de instituições que prestam 
serviços sociais à população. 
O problema está na concepção do Estado protetor e na acepção de que os serviços 
sociais são doados, dádivas e não direitos dos trabalhadores, considerando que os 
recursos públicos destinados às obras sociais são provenientes dos impostos pagos 
e da exploração da força de trabalho que gera o mais-valor para o sistema 
econômico global. 
A finalidade desse aporte e esquema de estratégias políticas é a de conservar, 
manter e reelaborar uma realidade social que seja propícia para a implementação 
do capital voraz. Para tanto, essa conjuntura deverá permanecer a mesma, e 
reforçar a desigualdade social a partir do discurso da igualdade de todos perante a 
lei. É essa desigualdade que alimenta a contradição estrutural da sociedade: são os 
trabalhadores e as trabalhadoras que ativam as suas forças de trabalho para 
vendê-las aos proprietários dos meios de produção; o valor apropriado pelo 
capitalista retorna para o trabalhador, em forma de salário pífio, e o valor 
excedente não pago ao trabalhador e confiscado pelo empresário é chamado de 
mais-valor. 
Essa relação entre trabalhador e capitalista cria uma desigualdade que é inerente 
ao modo de produção social. Apesar da base ideológica da cidadania e dos direitos 
sociais ser a igualdade, o fundamento que justifica a sua existência é a diferença 
entre classes, diferença entre poder e opressão. Dessa forma, a cidadania que deve 
ser exercida a partir da apropriação dos direitos sociais pelos indivíduos possui em 
sua concepção estrutural, um conflito geral e universal próprio do nosso sistema 
de produção capitalista. 
Atente-se! A tomada de consciência sobre a contradição entre classes sociais e os 
interesses da elite capitalista de exploração dos trabalhadores não tem o objetivo 
de uma compreensão conformadora, mas é fundamental para aclarar o papel 
desenvolvido pelo Estado, e, principalmente, esclarecer o contexto territorial no 
qual atua os (as) assistentes sociais. Sendo tal relação esclarecida, é possível que a 
classe trabalhadora, incluindo os (as) assistentes sociais, mobilizem-se 
coletivamente. 
Essa percepção acerca da função dos serviços sociais, nesse tecido social, permite 
esclarecer uma ideologia alienante que se esconde através da visão do Estado 
protetor. Os serviços sociais deixam a perspectiva estigmatizada de doação e 
concessão de benefícios para serem compreendidos na esfera dos direitos sociais. 
Vide o comentário realizado por Marilda Iamamoto: 
A riqueza social existente, fruto do trabalho humano, é redistribuída entre os 
diversos grupos sob a forma de rendimentos distintos: o salário da classe 
trabalhadora, a renda daqueles que detêm a propriedade da terra, o lucro em suas 
distintas modalidades (industrial, comercial) e os juros daqueles que detêm o 
capital. Parte da riqueza socialmente gerada é canalizada para o Estado, 
principalmente sob a forma de impostos e taxas pagos por toda a população. 
(2012, p. 99). 
Trata-se de um ciclo que possui, no centro de geração do valor, o trabalho humano 
e a contribuição da população sob a forma de impostos. 
 
Ciclo de Financiamento dos Serviços Sociais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É uma relaçãotransfigurada. Consolida-se uma imagem social inversa. A realidade 
social demonstra a centralidade que o trabalho ocupa para a acumulação da 
riqueza. O mesmo trabalho pelo qual o indivíduo não garante suas condições de 
sobrevivência devido o baixo valor pago na forma de salário, e, de outra parte, é o 
mesmo trabalho que cria riqueza para a classe detentora do poder econômico. Ao 
invés disso, a relação alienada se apresenta, sob uma falsa imagem social: 
Estado redistribui valores/recebe doações empresariais. 
⇩ 
Serviços sociais são disponibilizados para doações. 
⇩ 
Trabalhadores e não trabalhadores recebem doação. 
 
Ou seja, os recursos públicos estatais transformados em serviços sociais para a 
reprodução social dos indivíduos são obtidos a partir do próprio valor gerado pelo 
trabalho do trabalhador. 
O excedente originado dos esforços da classe trabalhadora apropriado pelos 
capitalistas, e direcionado para a acumulação do capital, dentro do sistema de 
circulação de mercadorias materiais e não materiais, é financiador de alguns 
programas de governo que, por sua vez, retorna em forma de serviços sociais. 
Dessa forma, a relação público-privada é uma constante no nosso modo de 
produção social. A questão crucial é que mesmo os organismos não públicos que 
disponibilizam serviços sociais aparecem como entidades de filantropia, por 
exercerem a “benesse” de atenderem a população, como serviço público, com o 
lucro obtido a partir da exploração alheia. 
Essa imagem social é a expressão de uma compreensão alienada acerca dos 
direitos sociais quanto aos serviços disponibilizados pelo Estado para a reprodução 
social, na proporção em que o trabalhador não aparece como sujeito que produz o 
valor, mediante sua força de trabalho; mas, aparece como o sujeito – objeto, 
aquele que recebe e não participa da produção deste valor 
É dessa forma que o Estado paternalista esvazia o conteúdo da luta de classes, 
controla os movimentos sociais, transformando em dádiva o que é do trabalhador 
por direito social. Os serviços sociais se tornam objetos de manipulação de massa, 
e reforço do poder estatal. Por outro lado, impõe uma visão alienada no seio das 
relações sociais que se reproduz, e sustenta o modo de produção social. 
Esse contexto também é intermediado pelas instituições sociais, aqueles 
organismos responsáveis pelos processos decisórios acerca do direcionamento dos 
serviços sociais. As instituições representam o espaço do controle, e expressam um 
subpoder para atender um poder ainda mais hegemônico. Segundo Faleiros (2011), 
a instituição, em sentido mais amplo enquanto regra social, possui o papel 
intermediador da força capitalista e estatal, na medida em que mantém o indivíduo 
sob o controle do poder, visando uma exata adequação ao sistema que explora. 
Nesse sentido, a instituição elimina os conflitos e propaga uma visão de uma 
sociedade não capitalista, pois exclui a correlação de forças do cotidiano social. 
Instaura a concepção de tutela e demanda à profissão de Serviço Social a prática de 
assistência sob um significado que denega os direitos sociais. 
Especialmente no Estado brasileiro, a administração dos recursos pelas instituições 
assume uma forma peculiar a um modelo econômico tardio que se caracteriza 
como formação social mista, posto que sincroniza uma dinâmica de produção 
ruralista e urbanista. Esta forma singular de se desenvolver da sociedade brasileira 
se articula com padrões culturais marcados pelo autoritarismo, clientelismo e 
burocracia. Isso significa que os serviços sociais eram apossados pela elite 
articulada com o Estado para estabelecer relações de interesses particulares, 
essencialmente, em processos eleitorais. 
A burocracia brasileira representava uma forma de centralizar a decisão e 
impossibilitar a participação social. Desse modo, as informações eram manipuladas 
como objetos de poder para atendimento de interesses privados em detrimento 
de interesses público. Essa abordagem permitia o redirecionamento dos serviços 
sociais para os jogos políticos em detrimento da universalidade dos direitos. 
No centro dessa história, estava a profissão de Serviço social tentando se 
consolidar numa arena de interesses contrapostos. Como profissional contratado 
pela elite estatal ou ator empresarial, deveria responder as expectativas e desafios 
postos pela população trabalhadora dentro dos moldes do contexto funcional ao 
desenvolvimento econômico. A pressão direcionada ao profissional provocará a 
construção de novas trajetórias para encontrar vieses que expliquem uma atuação 
alternativa que traga a lucidez teórica e metodológica na intervenção e formação 
profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Encerramento 
Como o estado e a igreja, contribuíram para a institucionalização do serviço social? 
O Estado e a Igreja foram os atores sociais primordiais para a institucionalização do 
Serviço Social, a partir de década de 1930, no Brasil. Tratavam-se de duas 
instituições que estabeleciam uma correlação de forças ora articuladas, ora 
desarticuladas, conforme os interesses postos de emancipação das políticas sociais 
para a consolidação do desenvolvimento econômico do país, no que se refere ao 
Estado, ou para a manutenção do poder da Igreja sobre a sociedade. Nessa 
conjuntura, a profissão dos (as) assistentes sociais expressava-se enquanto recurso 
funcionalístico para os dois atores por meio dos seguintes aspectos: 
• para o Estado, o Serviço Social se expressava enquanto profissão capaz de 
intermediar os conflitos entre a população e os mecanismos estatais, 
através de programas e ações sociais com o objetivo de disciplinar a massa 
popular e conter reações antiestatais. Nesse sentido, o significado do 
Serviço Social era equivocado, expressando-se a partir de valores 
tradicionalistas; 
• para a Igreja, o Serviço Social funcionava como um mecanismo de 
manipulação da massa popular através de valores humanistas, de 
solidariedade e voluntariado, de emancipação do indivíduo e caridade aos 
pobres, visando a consolidação da força cristã sobre a sociedade e o próprio 
Estado. 
Dessa forma, esses dois atores sociais contribuíram para a institucionalização do 
Serviço Social, na proporção em que a profissão era chamada para intervir para fins 
distintos, porém convergentes quanto à manutenção da ordem conservadora, 
promovendo, posteriormente, a legitimação da profissão na sociedade. 
Quais foram as correntes teóricas que serviram de embasamento para o 
metodologismo adotado pela profissão entre as décadas de 1940 e 1960? 
Nesse período, após a influência franco-belga, o Serviço Social sofreu uma forte 
influência norte-americana. Não somente o Serviço Social, é preciso que você fique 
atento que, após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos avançou 
expressivamente quanto à exploração da economia e do mercado de trabalho de 
países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. O Serviço Social, como profissão 
que estava em processo de institucionalização, inserida na divisão internacional 
sociotécnica do trabalho, recebeu investimento e apoio americano, sendo 
influenciado pelas seguintes correntes teóricas: 
• primeiramente, a profissão avançava seu aparato de intervenção a partir da 
perspectiva sociológica do positivismo, em que os fatos sociais eram 
compreendidos enquanto “coisas”, e as ciências sociais buscavam se 
equiparar com as ciências naturais, buscando seu método e forma de 
investigação, para alcançar o status das próprias ciências exatas; por outro 
lado, a profissão se pautou na visão funcionalista, em que a sociedade era 
compreendida enquanto uma totalidade que precisa da integralidade de 
suas partes para o funcionamento social; 
• em paralelo, o Serviço Social recebeu a contribuição de Mary Richmond com 
a socialização do Serviço Social de Casos, de Grupo e de Comunidade. O 
Serviço Social de Casos estava pautado na perspectivada psicanálise em que 
o indivíduo deveria ser “trabalhado” para se ajustar aos normativos da 
sociedade; o Serviço Social de Grupos surge enquanto um recurso fincado na 
psicologia social, possibilitando que o profissional atuasse a partir dos 
grupos sociais; e o aparato técnico-metodológico para atuação com a 
organização da comunidade, aproximando-se de uma abordagem mais 
coletiva, de intervenção em prol do desenvolvimento comunitário e de 
integração social às políticas socioeconômicas vigentes no governo de 
Getúlio Vargas. 
• Como se desenvolve a relação entre o significado dos serviços sociais e a 
profissionalização do serviço social? 
• Os serviços sociais são as respostas dadas pelo Estado, seja através de 
programa sociais diretos do governo ou por meios de instituições sociais, 
que visam responder as expressões da questão social, na década de 1930-
1940, a partir de uma concepção de benesse e dádiva de um Estado posto 
como protetor. A institucionalização do Serviço Social surge nesse cenário 
enquanto profissão administradora, executora e distribuidora dos serviços 
sociais estabelecidos por esse Estado de benesse. Sua profissionalização é 
consolidada a partir dos aparatos financiados e apoiados pelo Estado para 
legitimar a perspectiva imediatista e de proteção, bem como contribuir com 
a reprodução social dos trabalhadores, fator essencial e necessário para a 
acumulação do capital. Com este pano de fundo, a profissionalização do 
Serviço Social é posta como um dos recursos estratégicos providenciados 
pelo Estado à serviço da população, por meio da divisão sociotécnica do 
trabalho, para intermediar as expressões da questão social, através dos 
serviços sociais. Dessa forma, a relação estabelecida entre os serviços sociais 
e a profissionalização do Serviço Social é congruente e corresponde aos 
interesses determinados pelo capital, sendo por isso, potencializada pelo 
Estado, sob a configuração da concepção populista e manipuladora. 
 
Resumo da Unidade 
Nesta unidade abordamos a trajetória sócio-histórica do Serviço Social e os marcos 
do processo de institucionalização a partir de três questões fundamentais para a 
sua compreensão: a correlação de forças entre a igreja católica e o Estado, a 
herança norte-americana dos fundamentos teórico-metodológicos que 
subsidiaram a atuação profissional entre as décadas de 1940 e 1960, e a 
constituição dos serviços sociais e suas representações imediatistas nesse 
contexto histórico. 
Referências da Unidade 
• DANTAS, José Lucena. Perspectivas do Funcionalismo e seus 
Desdobramentos no Serviço Social. In: Ensino em Serviço Social: pluralismo 
e formação profissional. Cadernos ABESS. São Paulo: Cortez, n. 04, 
maio/1991. 
• FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. 10 ed. São 
Paulo: Cortez, 2011. 
• HAMILTON, G. Teoria e Prática do Serviço Social de Casos. 3 ed. RJ: Agir, 
1958. 
• IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço 
Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 
36ª ed. São Paulo: Cortez, 2012. 
• VIEIRA, Balbina Ottoni. História do Serviço Social: contribuição para a 
construção de sua teoria. RJ: Agir, 1988. 
• YASBECK, M. C. Projeto de Revisão Curricular da Faculdade de Serviço 
Social da PUC/SP. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: ano 5, n14, abr. 
1984. 
Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos abordados 
nessa unidade, não deixe de consultar as referências bibliográficas básicas e 
complementares disponíveis no plano de ensino publicado na página inicial da 
disciplina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 UNIDADE 2 
Período desenvolvimentista: as transformações sócio-políticas e a 
reconceituação do serviço social 
 
Esta unidade apresenta conteúdos transversais ao seu aprendizado sobre a 
disciplina de FHTM II, pois discutirá o cenário sócio-político e cultural que subsidiou 
o período de reconceituação do Serviço Social. Por esse motivo, torna-se uma 
exigência para a sua compreensão sobre a correlação de forças que influenciaram 
as vertentes ideológicas, a intervenção profissional e as respectivas propostas de 
mudanças. Nesse sentido, a discussão e o mergulho na história desenvolvimentista 
contribuirão para sua formação profissional e concepção sobre os desafios postos 
a profissão na época da ditadura militar. De outro modo, viabilizará a construção 
do seu olhar crítico à perspectiva tradicional do Serviço Social. Portanto, não deixe 
de participar e esteja atento a esta unidade! 
Objetivo 
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: 
• Conhecer as transformações sociopolíticas e culturais no período 
desenvolvimentista e do significado da autocracia burguesa 
 
 
Conteúdo Programático 
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas: 
• Tema 1 - O Contexto Sociopolítico da Autocracia Burguesa 
• Tema 2 - As Repercussões do Período Desenvolvimentista para o Serviço 
Social 
• Tema 3 - Reconceituação do Serviço Social: características do processo 
no Brasil e na América 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 1 
O Contexto Sociopolítico da Autocracia Burguesa 
 
O que significou o período da ditadura militar na história da política brasileira? 
Vamos agora descobrir por que motivo você estudará sobre a autocracia burguesa 
do pós-1964. 
Em primeiro lugar, você deverá lembrar o conceito de autocracia. Trata-se de uma 
forma de governo cujo líder ou grupo de líderes, no auge do poder, mantém sob 
controle todas as decisões políticas de forma centralizada e sem a participação 
popular, no qual a ditadura é uma manifestação e, ao mesmo tempo, um 
mecanismo de sustentação. O termo autocracia burguesa significa a própria 
burguesia no poder, buscando dinamizar as relações políticas da época, em 
conformidade com os interesses hegemônicos. 
Por que é importante na história do Serviço Social compreender a complexa rede 
política que se estabeleceu no pós-1964? E o que é autocracia? 
Essas perguntas são essenciais para que você possa construir a sua compreensão 
acerca dos fundamentos históricos e teórico-metodológicos que subsidiaram o 
movimento de reconceituação que estudaremos nas próximas aulas. 
Não há como entender o processo de formação da profissão sem mergulhar na 
história social e política do nosso país, posto que o Serviço Social é uma profissão 
requisitada, essencialmente, pelo Estado para atuar com as representações da 
questão social, que é matéria das políticas públicas sociais! Por isso, faz-se 
necessário compreender os cenários e as configurações do Estado no processo que 
propiciou novos caminhos para a profissão. 
Em primeiro lugar, você deverá lembrar o conceito de autocracia. Trata-se de uma 
forma de governo cujo líder ou grupo de líderes, no auge do poder, mantém sob 
controle todas as decisões políticas de forma centralizada e sem a participação 
popular, no qual a ditadura é uma manifestação e, ao mesmo tempo, um 
mecanismo de sustentação. O termo autocracia burguesa significa a própria 
burguesia no poder, buscando dinamizar as relações políticas da época, em 
conformidade com os interesses hegemônicos. 
Posto isso, é importante registrar que analisaremos o estudo realizado por José 
Paulo Netto (2011) acerca do período ditatorial que marcou o Brasil após 1964. 
Nesse cenário, o país já experimentava as consequências do Plano de Metas (1956) 
de Juscelino Kubitschek, cuja expressão “50 anos em 5” marcou o período que 
iniciou a era desenvolvimentista. A charge a seguir expressa o principal objetivo do 
Plano de Metas quanto ao desenvolvimento. 
Fonte: Jornal última Hora, 1956. 
Entretanto, tal esquema somente foi possível a partir de um conjunto de medidas 
que concediam privilégios para as transnacionais e para o capital privado. Nesse 
sentido, as prerrogativas, pormeio de marcos legal, eram direcionadas para as 
grandes empresas, visando constituir rearranjos políticos e econômicos que 
viabilizassem um novo esquema de organização do capital 
Tal desenvolvimento foi representado pelo crescimento e modificação do perfil 
industrial do país, entretanto, evidenciou uma diferença do crescimento inter-
regional, aprofundando uma desigualdade existente no contexto interno do país. 
Por outro lado, tratou-se de um conjunto de medidas de priorização do fluxo de 
capital industrial, sendo as necessidades sociais da massa popular uma demanda 
residual na gestão. 
Assim, a manifestação e questionamento da classe trabalhadora era uma reação 
previsível. Foi no governo de João Goulart (1961-1964) que o contexto político e 
social propiciou a organização de líderes populares, entre outras parcelas da 
população que constituíram um dos movimentos marcantes na história brasileira. 
Entretanto, segundo Netto (2011), o movimento questionava a forma como o 
capitalismo se expressou na sociedade, a formação social brasileira dependente, e 
não propriamente o capitalismo. Apesar de conter conteúdos capazes de 
questionar e repercutir na estrutura política governamental, não foi caracterizado 
como revolucionário por alguns autores, a exemplo de José Paulo Netto, 
considerando que intencionava a modificação da forma de constituição do 
capitalismo na sociedade brasileira e não de transformação desse padrão 
econômico. 
Todavia, a legitimidade do movimento e o caráter classista é uma característica 
própria da manifestação, bem como a interação com outros setores e o movimento 
sindical e operário questionando o arcabouço político vigente. A pluralidade e 
capacidade de expressão do movimento registrou um período cujas forças sociais 
contestavam condições sociais, políticas, educacionais. Os movimentos que se 
aparelhavam apresentavam a possibilidade de instabilizar a ordem estabelecida, e 
consolidar a participação popular na vida política do país. Veja a expressão da 
coletividade e força popular nos movimentos acima registrados! 
Entretanto, a história mostrou a reversão política de tal cenário dos movimentos 
sociais da década de 1960. João Goulart foi destituído do poder a partir de um 
contra movimento que foi conhecido como golpe militar. Instaurou-se uma nova 
conjuntura política e ideológica: iniciaria uma era governamental e a massa popular 
conheceu a versão ditatorial do Estado, com os respectivos aparelhos repressores. 
O golpe de abril representou o início da consolidação do regime militar no Brasil 
instituído a partir da estratégia político-militar que resultou na destituição do 
presidente João Goulart e ascensão de Castelo Branco. A ditadura militar que 
ocorreu no período de 1964 a 1985 implementou um conjunto de medidas de 
cunho econômico e regulatório que caracterizou o Estado como nacionalista, 
mediante políticas desenvolvimentistas, antissociais e autoritaristas. Para tanto, 
foram instituídos os governos de Castello Branco (1964-1967), Costa e Silva (1967-
1969), Garrastazu Médici (1969-1974), Ernesto Geisel (1974-1979) e João 
Figueiredo (1979-1985), todos militares. Tratou-se do maior período da história 
brasileira de repressão e ausência popular nas políticas públicas. 
A partir desse momento histórico, você conhecerá a correlação de forças que 
demarcou o regime ditatorial e militar do nosso país! Atente-se, pois este foi o 
contexto que subsidiou a dinâmica política do movimento de reconceituação da 
profissão que estudaremos nos próximas temas! 
Assim, no decurso dessa história, esse modelo ditatorial logrou uma configuração 
política para atender um duplo viés: buscar o crescimento nacional, e, por meio da 
abertura do mercado para as potências mundiais, favorecer o mercado 
internacional. 
Foi a partir da intensa divisão internacional do trabalho que a trama econômica 
possibilitou a institucionalização de um modelo de desenvolvimento dos países 
imperialistas por meio da exploração dos países subdesenvolvidos ou em 
desenvolvimento: através do próprio mercado de trabalho local. A correlação de 
forças em formação buscava a concretização de contextos políticos que 
viabilizassem essa acumulação do capital internacional. Nesse contexto, os países 
imperialistas financiavam uma “contrarrevolução em escala planetária” (Netto, 
2011). 
A ordem em voga era a implementação de instrumentos políticos e ideológicos que 
pudessem conter a força conquistada pelos movimentos sociais da década de 
1960, imobilizar os líderes e personagens políticos que causavam a ampliação das 
manifestações, e materializar uma contrarrevolução capaz de mudar o rumo da 
ideologia que contestava a ordem em vigor. Foram estratégias que decidiram o 
rumo da política do país: conter anseios populares para investir nas políticas 
públicas que propiciassem o crescimento econômico. Para tanto, só havia duas 
possibilidades: investir na industrialização por meio dos recursos nacionais ou 
sustentar um modelo que firmava uma economia cada vez mais dependente. 
Em resposta a tais alternativas, a conduta do governo brasileiro foi clara quanto à 
opção de uma estrutura associada ao contexto internacional: demonstrou a 
dependência da economia brasileira aos investimentos externos para o avanço 
industrial, bem como evidenciou abertura de mercado e a construção de 
mecanismos legais que privilegiaram a exploração do nosso mercado econômico e 
mercado de trabalho pelo imperialismo internacional. Dessa forma, seria possível 
adequar uma conjuntura econômica nacional ao padrão internacional, o que, 
contraditoriamente, contribuía para a opressão e monopólio dos recursos 
brasileiros. 
Nesse sentido, o golpe militar representou uma contrarrevolução que exterminou, 
naquele tempo social, a possibilidade de reverter à trajetória da formação social 
brasileira dependente, chamada por Netto (2011) de heteronomia econômica, 
dado o nível de subordinação e condicionamento da estrutura de desenvolvimento 
gerida no país aos países imperialistas. Para além dessa característica, a exclusão 
da participação popular nos processos decisórios de construção e avaliação de 
políticas públicas, marcou a perspectiva reacionária do golpe militar de abril, que 
resgatou os princípios mais conservadores da história brasileira. 
Para tanto, foi necessária a articulação entre os setores mais conservadores, 
elitistas ou economistas da sociedade, com a finalidade de fortalecer a classe 
burguesa no enfrentamento de quaisquer manifestações políticas da classe 
operária. Essa articulação tinha o propósito de constituir uma classe burguesa 
sólida e hegemônica para o exercício de um governo ditador que visava à completa 
adequação para o crescimento da economia: articulavam-se a classe mais 
progressista, empresários, latifundiários, burguesia industrial, multinacionais, etc. 
O rearranjo político serviu para materializar o projeto do governo e manter uma 
estrutura política e econômica que modelou a nossa formação social brasileira 
diversa e dependente. Apesar do contexto internacional da gestão imperialista, os 
fatores endógenos peculiares ao Brasil propiciaram a interação de relação sociais, 
baseadas num sistema de produção econômico e regulatório atrasado, 
refuncionalizando-os para a consolidação de esquemas que contribuíram com o 
monopólio dos países imperialistas. Ao invés do país romper com tais 
condicionamentos, corroborou com o estatuto colonial, tornando-se útil para a 
configuração de um Estado essencialmente burguês. 
Nessa perspectiva, a configurações estatais e os modelos decisórios foram traços 
marcantes na história do pós-1964, posto que articulavam aparelhos da política 
interna e externa para afirmar a força do movimento contrarrevolucionário militar. 
Por meio da centralização do poder e concentração de renda para o fluxo 
monopolista, sustentado no aparato legal e institucionalpara fortalecer essa rede 
hegemônica e fragmentar quaisquer intenções de manifestação popular, o Estado 
servia ao desenvolvimento das transnacionais e do capitalismo estrangeiro, “na 
medida em que o capital nativo” ou estava “coordenado por eles ou com eles não 
podiam competir”, (Netto, 2011, p. 28). 
Dessa forma, o poder nacional estava estabelecido pela burocracia civil e militar, 
constituída pela classe latifundiária e industrial, com clara exclusão popular, 
caracterizando um governo antidemocrático e antinacionalista. A Figura 4, a seguir, 
demonstra a opressão impressa pelo governo militar, a partir da utilização da força 
armada para impedir a liberdade de expressão de diversas formas. 
Como estratégia antipopular e centralizadora, o governo utilizava o campo 
ideológico como um instrumento de propagação da perspectiva da segurança 
nacional. Tratava-se de uma forma de justificar os feitos e decisões políticas de 
repressão e coação as iniciativas populares que instabilizavam a estrutura 
hegemônica sob o discurso da necessidade de assegurar a segurança do país. De 
forma associada a essa estratégia de segurança, estavam as ações regulatórias 
criadas para criminalizar o dissenso político, como meio legal homologado pelo 
arcabouço jurídico do país para inviabilizar a expressão popular, das classes 
trabalhadoras urbanas e rurais, e outras lideranças políticas controversas. 
 
Portanto, ao mesmo tempo em que o discurso político versava sobre a priorização 
do desenvolvimento, o mesmo se caracterizou enquanto antissocial e burocrata, na 
tentativa de modernizar a economia de forma conservadora. Isso demonstrou 
como foi instaurado o cenário da oligarquia burguesa ditadora, capaz de propagar 
a territorialização do imperialismo, a polarização da estrutura de classe, o 
favorecimento ao capital estrangeiro, moldando as relações sociais e econômicas 
ao capitalismo mundial, de forma associada, dependente e condicionada. 
Esse tecido social formado pelo regime da ditadura militar teve sua derrocada 
anunciada com o fim do milagre econômico. Mesmo diante das tentativas de 
Ernesto Geisel (1974-1979) em promover o “projeto da autoreforma” (Netto, 
2011), a partir da centralização do comando militar, da tentativa em constituir um 
bloco sociopolítico para a subserviência ao monopólio imperialista e da investida 
militar de repressão dos movimentos sociais, essas estratégias do movimento 
reacionário militar não conseguiram conter o rompimento desse modelo ditatorial 
com a crise econômica e a contestação da contracorrente política. 
O sentimento de descontentamento fortalecia-se entre as classes subalternas, 
entre os diversos tipos e categoria de trabalhadores, considerando a militarização 
da sociedade, o terrorismo estatal, as perdas salariais e o rebaixamento das 
condições sociais de vida. 
É certo que os movimentos e líderes sociais do pós-64, devido à opressão 
estabelecida – largamente estudada por vários autores, não conseguiu transcender 
a ordem burguesa, como afirma Netto (2011), entretanto, ao menos construiu 
trajetórias de controle e questionamento, das formas possíveis naquele período 
ditatorial, acerca das medidas políticas da corrente militar hegemônica. 
É no decurso dessa história que a autocracia burguesa representou um 
“desenvolvimentismo”, por meio de um regime ditatorial permissível e “aberto”, 
substituindo a participação popular pela opressão popular. 
Essa trama social e política teve efeitos múltiplos para as representações da 
questão social, considerando as bases de um governo autocrático que constituiu o 
desenvolvimento econômico à custa de uma política de valorização do capital 
monopolista dos países imperialistas, e da exploração do mercado de trabalho 
brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 2 
As Repercussões do Período Desenvolvimentista para o Serviço Social 
 
Quais as repercussões da política autocrática burguesa para o processo de 
reconceituação do Serviço Social? 
Agora que você já conhece o cenário sociopolítico do período pós-1964 no Brasil, e 
a relação entre Estado e sociedade civil, entre o poder estatal e as classes 
populares, bem como as estratégias e o modelo da gestão política, militar e 
antidemocrática, é essencial compreender os reflexos desse contexto para o 
processo de reconceituação do Serviço Social. 
Para tanto, um dos primeiros aspectos que se destaca, enquanto resultado e 
elemento fortalecedor da ditadura burguesa, segundo Netto (2011), e que 
conspirou uma nova realidade para as mudanças ocorridas na profissão do Serviço 
Social, refere-se ao investimento político no arcabouço ideológico. Isso significou a 
socialização de uma visão de mundo conservadora que sustentava a conjuntura 
política do país, inserindo-se num conjunto de valores e perspectivas referentes ao 
“mundo da cultura” da era militar burguesa. Nesse sentido, quanto mais se 
estruturava uma correlação de forças para a consolidação do Estado burocrático-
ditador, tanto mais se constituía uma cultura funcional ao projeto modernizador. 
A implementação de uma cultura que privilegiasse os objetivos do Estado 
desenvolvimentista, que reunia todos os elementos da economia e da política 
necessários para o fortalecimento do capitalismo monopolista, expressava-se 
enquanto uma estratégia da classe burguesa e militar. O crescimento econômico à 
custa da exploração dos recursos nacionais pelos países estrangeiros, tudo em 
nome da modernização do país e da segurança nacional, somente poderia ser 
garantido com um avanço para o mundo ideológico. É com essa perspectiva que a 
política cultural passou a ocupar o centro dos objetivos desse projeto 
modernizador, no intuito de alcançar o consenso do povo brasileiro para as 
estratégias do plano desenvolvimentista, e conter, especialmente, possíveis 
reações contrárias à gestão burguesa e militar. 
Porém, há ainda um elemento mais central e transversal à política cultural desejada 
pela classe burguesa e pelo Estado autocrático: a política educacional. O Estado 
autocrático iniciou um plano de investimento e intervenção no campo educacional 
por dois vieses: mudanças nas concepções teórico-técnicas próprias dos espaços 
universitários, e estratégias para conter possíveis reações contrárias a estrutura 
política vigente. A gestão burguesa percebeu que era nos centros universitários 
que estavam reunidos elementos cruciais para o fortalecimento de movimentos 
reacionários: esperança, expectativas de mudanças, e força coletiva para 
questionar a origem estabelecida. 
Assim, centrado na possibilidade catalisadora do movimento estudantil, no que 
concerne à possibilidade de deflagrar contestações no movimento dos operários 
com apoio sindical, em 1967 e 1968 as universidades foram incluídas nas pautas 
prioritárias da agenda política. 
Movimento Estudantil no Rio de Janeiro 
em 1968. 
Na figura anterior, consta a imagem do movimento de contestação de estudantes 
no Rio de Janeiro, noticiado no Jornal do Brasil, em concomitância com a ação de 
repressão policial. Netto (2011), afirma que mais importante do que a capacidade 
de mudança dos movimentos estudantis, era a respectiva probabilidade de 
incentivo e fortalecimento de comportamentos coletivos reacionários; e isso se 
tornou foco de contrarreação do poder burguês e Estado ditatorial. 
Com o fim da União Nacional dos Estudantes – UNE, o Estado propõe um novo 
modelo educacional e uma reforma universitária para atender o modelo econômico 
desenvolvimentista em voga, com os seguintes critérios: 
• modelo educacional funcional e operativo aos propósitos econômicos; 
• repressão dos projetos acadêmicos que valorizassem a democratização da 
política brasileira; 
• configuração de propostas dos cursos universitários segundo a lógica 
empresarial e de burocratização; 
• incentivo às perspectivas ideológicas de neutralizaçãoem contraposição a 
posturas reacionárias nas universidades; 
• incentivo à racionalização formal-burocrática e o esvaziamento acadêmico 
de perspectivas revolucionárias; 
• fragilização do elo universitário com os movimentos populares; 
• Investimentos em universidades de projetos societários teóricos, sem 
prática social, fragmentando o tripé teoria, pesquisa e prática social (Netto, 
2011); 
Dessa forma, o projeto de modernização conservadora do Estado autocrático, que 
valorizava o discurso da segurança nacional, refuncionalizou as trajetórias 
universitárias, como um dos elementos constitutivos do “mundo da cultura”, à 
disposição dos respectivos objetivos político-econômicos. 
Interessa-nos esta reflexão na seguinte questão: o Serviço Social inicia a 
consolidação da sua trajetória acadêmica em território pleno da ideologia da 
ditadura militar. É nesse cenário político que o Serviço Social consolida 
fundamentos questionadores da herança histórica cristã da década de 1930-1940. 
Por este motivo é importante que você compreenda a correlação de forças 
políticas estabelecidas no período do pós-1964, tornando-se uma exigência tal 
discussão para a sua formação profissional! 
Netto (2011, p. 116) reafirma a importância desse estudo do Brasil ditatorial para 
que você conheça o processo de reconceituação do Serviço Social: “A renovação do 
Serviço Social no Brasil, mesmo que não se possa reduzir os seus múltiplos 
condicionantes às constrições do ciclo ditatorial, é impensável, tal como se realizou 
sem a referência à sua dinâmica e crise”. 
O período ditatorial e o respectivo plano de governo de sucateamento das 
políticas sociais em detrimento das políticas econômicas para o capital 
monopolista apenas agravou e refuncionalizou as expressões da questão social 
constantes na estrutura social do país. Desde a década de 1950, no plano de 
governo da industrialização pesada, que a questão social se tornou cada vez mais 
refratária com o fenômeno da urbanização, da migração dos indivíduos sociais para 
a própria sobrevivência e a precarização das condições de vida dos trabalhadores. 
Apesar das conquistas relativas à formalização dos direitos trabalhistas, como a 
Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT em 1943 tratou-se de um conjunto de 
medidas já em atraso que atendiam apenas uma parte da população que tinha 
acesso ao emprego formal, relegando à marginalização social os trabalhadores sem 
trabalho, sem acesso aos direitos previdenciários, e aos trabalhadores formais, às 
condições mínimas de vida. 
Pelas repercussões deste cenário que implicavam questionamentos e instabilidade 
a gestão do Estado, a ampliação do campo de trabalho para o Serviço Social foi um 
resultado concreto, considerando a peculiaridade e funcionalidade deste exercício 
profissional no trato com a questão social: 
Ainda que não se possa tomar como índice dela o número de profissionais 
existentes, cabe notar que o crescimento numérico da categoria profissional 
durante o ciclo autocrático burguês foi inquestionável, mesmo que não haja dados 
conclusivos sobre ele – se, em 1982, um documento menciona a existência, no país, 
de 28.264 assistentes sociais (...) profissional bastante familiarizado com a 
categoria chega a apontar, para o ano seguinte, a cifra de 50.000 (Lopes, 1989, p. 
47). 
Entretanto, o incentivo a abertura de mercado de trabalho para os (as) assistentes 
sociais numa sociedade na qual a burguesia civil e militar representava o poder 
hegemônico não existiria se não houvesse uma congruência de interesses e 
expectativas do Governo. 
Você acredita ser possível a ausência de conexão entre Estado autocrático e a 
ampliação de mercado profissional para os (as) assistentes sociais? 
A manutenção dos traços subalternos do exercício profissional do Serviço Social 
era conveniente à conservação da ordem militar burguesa estabelecida em prol do 
discurso da segurança nacional. Tais traços subalternos da profissão possuem dois 
significados: a conservação do perfil profissional de executor de políticas sociais e 
de procedimentos burocrático-institucionais, e a manutenção de projetos 
profissionais em consonância com os projetos societários conformadores, 
legitimadores da ordem vigente e não revolucionário. 
Esses traços subalternos identificavam o caráter conservador da profissão, porém 
contribuía para a consolidação do modelo autocrático burguês, ao contrário do seu 
enfrentamento. Pode-se afirmar que esse posicionamento tradicional, que se 
arrastava desde a década de 1950, foi fortalecido e continuado dada a 
funcionalidade da sua respectiva intervenção profissional para a gestão da política 
autocrática. 
As características da profissão que foram identificadas por Netto (2011) como 
subalternas assim são referidas pelo deslocamento do Serviço Social como 
categoria capaz de participar da desconstrução desse modelo ditatorial posto 
como hegemônico no pós-1964. Em outras palavras, enquanto o Serviço Social 
permanecia na perspectiva tradicional, não avançava em projetos societários mais 
democráticos e transformadores. 
Apesar da ampliação do mercado de trabalho para a profissão, é importante 
esclarecer que as condições de trabalho eram precárias no que concerne à 
legislação e marco regulatório em geral de base técnica-profissional e às questões 
relativas a teto salarial. 
Com a fragmentação da questão social, ampliam-se os espaços sócio-ocupacionais 
para além das instituições estatais, expandindo-se os organismos filantrópicos, e a 
requisição para atuação nas empresas. 
Assim como a atuação nos espaços públicos estatais, a atuação profissional nas 
empresas também atendia o perfil conservador, demandando atividades de 
controle e vigilância da força de trabalho. Tanto como o atendimento do Serviço 
Social às expectativas do projeto modernizador do Estado, a profissão atendia a 
expectativa do capital quanto à contribuição para a reprodução social dos 
trabalhadores. 
Entretanto, a correlação de forças do pós-1964 despertou uma nova perspectiva da 
profissão: o caráter técnico-racional em detrimento do padrão humanista-cristão. A 
inserção profissional do (a) assistente social nos espaços sócio-ocupacionais 
precisava atender a um novo padrão de exigências, tanto para corresponder ao 
projeto modernizador do governo, como para acompanhar a capacidade técnica 
das múltiplas profissões que surgiam com a divisão social do trabalho. Isso 
contribuiu para a construção de concepções técnico-racionais na trajetória 
profissional para atender o contexto burocratizado das instituições 
governamentais. 
Dessa forma, a refuncionalização do exercício profissional do Serviço Social ao 
projeto modernizador só poderia ser concretizado por uma via: o ajustamento da 
formação profissional. Por esta razão, as universidades se tornaram um campo de 
trabalho e de focalização das políticas públicas do Brasil ditatorial e 
desenvolvimentista. 
Contudo, diferentemente de outras profissões, foi nessa década de 1960 que o 
ensino da profissão foi inserido nos espaços acadêmicos, o que pode ser um dos 
fatores, segundo Netto (2011), que repercutiram na vulnerabilidade da profissão 
quanto às exigências e condicionamentos antidemocráticos das políticas 
autocráticas, dada a sua inexperiência no âmbito intelecto-investigativo. 
Pensando na intenção e estratégias políticas estudadas até aqui, o que você analisa 
da charge ao lado? Qual a relação com o modelo de formação profissional da 
época? Está com dúvidas? Volte na nossa discussão realizada no texto e reflita 
acerca da funcionalidade do modelo conservador da profissão para a gestão 
governamental nacionalista do pós-1964. 
De outro modo, é importante que você reflita acerca dos resultados controversos 
desse contexto para a profissão, incentivando, paralelo a atuação conservadora, 
perspectivas e trajetórias renovadoras. O crescimento do número de 
universidades,de professores e, consequentemente, de alunos nos cursos de 
Serviço Social causaram um efeito contrário a esse contexto: a formação de uma 
massa ideológica crítica, questionadora e disforme à conjuntura burguesa 
estabelecida. 
Essa nova realidade repercutiu em novas preocupações profissionais com o aporte 
teórico-investigativo. Assistentes sociais assimilaram uma nova postura analítica a 
partir das contribuições teóricas das ciências sociais: a antropologia, sociologia e 
psicologia social foram disciplinas que contribuíram com construções e 
investigações no âmbito profissional. Isso representou determinado avanço, ainda 
que retraído e embrionário, para as primeiras vertentes do processo de renovação, 
ao considerarmos a inexperiência do Serviço Social com o espaço acadêmico e 
científico. 
É por esta razão que estudamos o cenário político do período pós-1964: tratou-se 
do contexto que influenciou direta e indiretamente no processo de renovação e 
conservação do Serviço Social. Repercutiu diretamente no processo de 
manutenção do viés conservador da profissão, posto que implementou um modelo 
de formação profissional burocrático-formal para atender ao projeto 
modernizador do governo ditatorial. 
Em contrapartida, influenciou indiretamente, pois com a intensificação das 
refrações da questão social, ampliou o mercado de trabalho nacional, e provocou 
correntes questionadoras que passaram a construir críticas à ordem estabelecida. 
As bases humanistas que fundamentavam a intervenção profissional já não são tão 
hegemônicas, iniciam-se divergências e discordâncias endógenas quanto às 
perspectivas e princípios teórico-metodológicos no seio do Serviço Social: a 
concepção tradicional e as primeiras concepções renovadoras. 
 
 
 
 
 
Tema 3 
A Reconceituação do Serviço Social: características do processo no 
Brasil e na América Latina 
 
Por que a reconceituação do Serviço Social foi compreendida como um processo não 
linear? 
Como você pode perceber nas aulas anteriores, o processo de renovação do 
Serviço Social foi amplamente influenciado pelo período ditatorial da autocracia 
burguesa, tanto no que se refere à reconfiguração da formação profissional para 
atender expectativas conformistas do governo, como para impulsionar os espaços 
sócio-ocupacionais da profissão. 
Porém, essa influência se estendeu por todo o processo de renovação do Serviço 
Social, transformando e refuncionalizando tendências que surgem no interior da 
intervenção e reflexão profissional através da conexão com o próprio cenário 
autocrático burguês. 
Por isso, a renovação do Serviço Social é compreendida enquanto processo que 
alcança algumas características renovadoras, no que se refere às questões teórico-
metodológicas, prático-operacionais e políticas, porém, retoma traços 
conservadores que servem ao regime autocrático. Isso ocorre pela força dos 
organismos estatais da época que utilizam todos os recursos societários possíveis 
para se manter no poder e na hegemonia política. 
É por este motivo que podemos compreender o processo de reconceituação do 
Serviço Social como movimentos que buscaram, no decorrer da formação teórica e 
intervenção prática, construir trajetórias renovadoras para atender as refrações da 
questão social, a partir de perspectivas que, ora atendiam o sistema político do 
desenvolvimentismo, oram negavam o próprio regime do pós 64, por meio de 
teorias e disciplinas sociais críticas. 
A busca pelo suporte teórico da profissão por meio da descoberta das ciências 
sociais para subsidiar a intervenção profissional e compreender os instrumentos 
teórico-metodológicos, necessários à prática social, representou um dos principais 
fatores no processo de reconceituação do Serviço Social. 
Todavia, a aproximação com as teorias sociais não se deu de forma passiva, uma 
vez que as agências passaram a investir na produção intelectual dos profissionais 
como interlocutores das ciências sociais, reposicionando a experiência dos (as) 
assistentes sociais da subalternidade para novos atores em conexão com a 
investigação científica. O Serviço Social, nesse contexto, tornou-se objeto de 
estudo e compreensão, uma vez que multiplicaram-se as perspectivas teórico-
práticas acerca das inovações e conformações profissionais. 
Assim, entre as diversas formas com as quais o Serviço Social se inseriu nas 
comunidades científicas, estão os movimentos associativos da categoria. Os 
principais espaços de discussão e reflexão sobre as mudanças nos processos de 
formação e trabalho em Serviço Social foram promovidos pelas organizações 
profissionais que fomentavam uma multiplicidade de concepções quanto aos 
aspectos teórico-metodológicos novos e tradicionais. 
Esse avanço teórico-científico possibilitou a desconstrução da imagem de 
subalternidade intelectual e afirmação da característica construtiva e investigativa 
da profissão. Nesse sentido, as vertentes renovadoras passam a disputar, no 
campo sócio-ocupacional e acadêmico, a atenção dos profissionais de Serviço 
Social, desvalorizando a concepção monolítica em detrimento do pluralismo 
téorico-político, da coerência entre as discussões nas ciências sociais e os 
fundamentos teórico-metodológicos alternativos. 
Você já ouviu falar que assistente social é tarefeiro? 
Essa concepção é uma visão tradicional, portanto anterior ao movimento de 
reconceituação, que concebia o profissional como mero executor das políticas 
sociais ou das normas dos organismos estatais. 
É uma visão reduzida e subalterna da profissão, considerando que exclui as 
potencialidades do exercício profissional para além do praticismo, capaz de 
analisar, participar e desenvolver o controle social, em conjunto com a 
coletividade, da construção e implementação de políticas públicas, a partir de um 
projeto societário emancipador. 
Essa última perspectiva foi construída com a maturação do movimento de 
reconceituação da profissão. Nesse período de investigação, a partir da conexão 
com as ciências sociais, e avanço no aporte crítico, foram construídos os 
instrumentos teórico-metodológicos para desconstrução desse estigma e 
compreensão do papel profissional do Serviço Social. Iniciaram-se os debates 
acerca da pluralidade teórica e produções intelectuais que tinham a profissão 
como objeto de pesquisa, contradizendo e contestando a imagem do profissional 
tarefeiro. Portanto, fique atento às práticas e perspectivas do Serviço Social 
que fazem parte de um posicionamento tradicional da profissão! 
O movimento autocrático despertou perspectivas de mudança da profissão, ao 
mesmo tempo em que operou uma nova adequação de valores conservadores. 
Observe que a reconceituação profissional não foi instantânea e muito menos 
apresentou valores exclusivamente renovadores e inéditos. Pelo contrário, tratou-
se de um movimento não linear, que apresentava, simultaneamente, versões 
profissionais tradicionais e modernas, num movimento contraditório e de debate, 
na tentativa de responder as demandas societárias postas pela autocracia 
burguesa, ou mesmo de negá-la. 
Foi nesse cenário que o desenvolvimento de comunidade se inseriu nos processos 
de trabalho do Serviço Social sob a configuração da política desenvolvimentista, 
porém, incentivando modificações endógenas ao Serviço Social, e respondendo a 
múltiplos vieses: 
• a estratégia do desenvolvimento comunitária atendia, acriticamente, aos projetos 
do desenvolvimentismo, a partir da perspectiva de transferência da 
responsabilidade estatal, e não de implicação e assunção da competência da 
gestão governamental, sob o discurso, como afirma Netto (2011), “mistificador” e a 
concepção “teórico-ideológica” que não rompe com os prossupostos 
tradicionalistas. Vide a concepção da ONU que delega aos indivíduos a 
responsabilidade de promover melhores condições: 
(...) O Desenvolvimento de Comunidade se preocupa com a educação dos povospara que se tornem os agentes de seu próprio progresso; não é, portanto, melhoria 
das condições de vida por uma ação direta externa que se almeja; não somos de 
opinião que melhores condições fazem melhores cidadãos; o que desejamos são 
melhores cidadãos promovendo melhores condições (ONU apud Vieira, 1981). 
• entretanto, o desenvolvimento de comunidade tratou-se de uma temática de 
extrema pertinência à realidade brasileira, considerando os impactos que o 
agravamento ou aprofundamento da questão social ocupava na nossa sociedade, 
interessando aos diversos segmentos como programas de governos, movimentos 
estudantis, aos cientistas sociais com os debates em torno do 
subdesenvolvimento, etc.; 
• apesar das limitações encontradas quanto à teoria que o sustentava, o 
desenvolvimento de comunidade possibilitou a implementação do trabalho do 
Serviço Social com equipes multiprofissionais, consolidando sua experiência com 
outros saberes; 
• a atividade de desenvolvimento de comunidade permitiu a inserção do Serviço 
Social no centro dos processos decisórios e de gestão de recursos, incentivando 
sua relação com o instrumental da administração pública. 
Dessa forma, a atuação profissional a partir do desenvolvimento de comunidade 
representava um novo campo de trabalho e estudo para a categoria, posto que era 
considerado, pelas organizações profissionais, como uma inovação adequada as 
necessidades e a realidade brasileira, inserindo-se na agenda profissional os 
assuntos macrossociais, e modificando o aparato teórico-metodológico no interior 
do Serviço Social. 
Nessa trajetória, o Serviço Social tradicional vai perdendo sua hegemonia, dando 
lugar às novas descobertas e vertentes que negam o consenso com tal forma 
anterior da profissão. Entretanto, considerando que a reconceituação do Serviço 
Social é um processo não linear, como já afirmamos, identificam-se três 
perspectivas de atuação frente o trabalho de desenvolvimento de comunidade: a 
vertente que propõe a atuação no âmbito da comunidade sem modificar os 
instrumentos metodológicos, a perspectiva que supõe mudanças estruturais 
dentro do sistema capitalista e a terceira perspectiva que propõe uma 
transformação concreta do sistema social, envolvendo os setores populares da 
sociedade. 
No entanto, a atuação profissional no âmbito do desenvolvimento da comunidade 
como uma resposta estratégica à realidade brasileira tratou-se de uma 
característica inserida em um movimento mais amplo: representou à preocupação 
dos profissionais com a complexa correspondência entre os resultados da 
intervenção profissional e a especificidade do contexto local. Em outras palavras, 
estava em debate a necessidade de adequar os estudos, pesquisas e metodologias 
competentes às expressões da questão social do país e ao quadro político 
estabelecido. 
Contudo, essa não é uma peculiaridade do movimento de reconceituação do 
Serviço Social local, mas um reflexo do cenário internacional. Portanto, você 
consegue perceber que há traços peculiares e universais do processo de 
reconceituação da profissão? Vamos conhecer quais são as características e o 
contexto do processo de reconceituação do Serviço Social na América Latina para 
refletir sobre as configurações mais amplas desse movimento! 
Para compreender os traços universais do movimento de reconceituação do 
Serviço Social na América Latina é necessário esclarecer que ele é parte integrante 
e fruto de um tecido social mundial em que se configurou uma desaceleração da 
economia após a guerra fria. Tratou-se de um cenário de intenso questionamento e 
manifestações em função das consequências desse contexto político-econômico 
para a questão social, bem como da ineficácia das políticas sociais: desenvolveram-
se movimentos culturais contra a estrutura excludente do capital e a expressão da 
massa ideológica contra o imperialismo. 
Nessa conjuntura de negação das sociedades acerca da realidade social posta e 
respectivas respostas políticas equivocadas, não cabia mais espaço para a 
hegemonia do Serviço Social tradicional. 
 
Formaram-se as bases para o fortalecimento do movimento de reconceituação, 
sendo, portanto, um fenômeno de caráter mundial, especialmente latino-
americano: a Argentina com os protestos e greves sindicalistas em 1969, a Bolívia 
com a organização guerrilheira liderada por Che Guevara, o México com a 
sobrevivência dos movimentos estudantis da opressão estatal, Cuba com o 
incentivo e apoio aos grupos de esquerda da América Latina, entre outros. 
O Serviço Social, como profissão inserida nesse quadro latino-americano, 
consolidou movimentos que questionaram o papel profissional frente ao 
subdesenvolvimento, frente às representações da questão social nos diversos 
contextos territoriais e refletiram acerca da legitimidade do instrumento teórico-
metodológico do Serviço Social e sua função diante das classes populares. 
Nesse sentido, um dos aspectos debatidos no contexto interno da profissão foi a 
manifestação imediatista da intervenção profissional nos diversos campos de 
trabalho. 
Mas, antes de continuarmos: você sabe o que significa o imediatismo na nossa 
profissão? Um posicionamento imediatista é uma forma de atuação em que o 
profissional atende a demanda apresentada sem refletir sobre as causas, os 
impactos, a conexão e a mediação com o aporte teórico, sem correlacionar a 
refração da questão social, ora em análise, com a conjuntura política e o aspecto 
histórico correspondente. 
Para refletir sobre a forma imediatista da atuação, a categoria critica a teoria 
funcionalista, a perspectiva quantitativista e a superficialidade que substanciavam 
a perspectiva profissional, para contrapor a corrente marxiana descortinada no 
movimento de reconceituação. Os profissionais recorreram à teoria histórico-
dialética para compreender os conflitos entre o capital e o trabalho, e construir 
novas abordagens coerentes com o acirramento da questão social. 
Mas, todo esse movimento que exalta novas trajetórias condizentes com valores 
revolucionários e de mudança é escamoteado e oprimido pela contracorrente 
ditatorial, impedindo a afirmação e consolidação do espírito de contestação desse 
movimento em território latino-americano. A partir disso, são construídos grupos 
heterogêneos com perspectivas progressistas e conservadoras e perspectivas que 
insistiam em romper com o Serviço Social tradicional. 
Observe que essa característica heterogênea quanto ao significado da profissão e 
suas respectivas visões teórico-metodológicas não é uma particularidade brasileira. 
Pelo contrário, desenvolve-se no movimento de reconceituação internacional, 
especialmente nos locais em que o Serviço Social conquistou amplos espaços sócio-
ocupacionais. 
O cenário brasileiro se constrói e se insere nesse quadro sócio-político de maior 
amplitude, em que se reproduzem correntes refuncionalizadas na arena da 
ditadura burguesa, mantendo valores conservadores, porém revestidas de novos 
aparatos profissionais. 
Em contraposição, a inserção da teoria marxiana e a territorialização da 
intervenção teórico-metodológica do Serviço Social foram contribuições 
provenientes do panorama internacional que marcaram a constituição de um novo 
olhar profissional sobre a realidade, sobre o conjunto de instrumentos da prática e 
pesquisa, despertando e influenciando novos sistemas de ideias profissionais. 
Por esta razão o movimento de reconceituação do Serviço Social, em âmbito latino-
americano, é identificado por trajetórias revolucionárias e reversas, num percurso 
complexo e não disciplinado em termos de continuidade da perspectiva de ruptura 
com o tradicionalismo da profissão. 
A cada movimento de organização da categoria, a cada debate e reflexão coletiva 
sobre a (des) conexão entre o projeto profissional e as refrações da questão social 
e as próprias formas políticas de enfrentamento, e quanto maispróximo estava da 
legítima teoria marxiana na década de 1970, a reconceituação do Serviço Social 
demarcava a divisão entre a perspectiva moderna e o de rompimento com o 
conservadorismo. 
Vídeo 
Para saber mais, assista agora ao vídeo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Encerramento 
O que significou o período da ditadura militar na história política brasileira? 
O período da ditadura militar trouxe repercussões extremamente impactantes 
para a sociedade, de tal forma que é possível identificar as consequências e a 
herança até os dias atuais, principalmente, se analisarmos a nossa cultura política. 
Pode-se identificar duas perspectivas básicas que evidenciam o significado da 
conjuntura ditatorial para a política brasileira: 
• Por meio da autocracia burguesa, a ditadura implementou estratégias 
políticas que refletiram na educação e na trajetória das políticas sociais, 
considerando o enfoque modernista que priorizava o investimento para o 
desenvolvimento econômico. Para tanto, a principal forma de intervenção 
foi através da repressão de quaisquer ações que questionassem a ordem 
vigente, a ideologia de segurança nacional e a ideologia do 
“desenvolvimentismo”. Isso incluía o controle do conteúdo da pesquisa e 
ensino nas faculdades e na educação básica, o controle dos movimentos 
sociais, o controle do conteúdo cultural, o controle da sociedade; 
• Essas estratégias naquele cenário social consolidaram políticas que se 
perpetuaram por mais de duas décadas. Portanto, foram duas décadas de 
ausência de participação da população no processo de formulação das 
políticas sociais, de falta de controle social sobre as ações governamentais, 
isolamento dos movimentos coletivos com concepções emancipadoras, 
perseguição dos comportamentos coletivos questionadores da justiça e 
igualdade social, duas décadas de mecanismos facilitadores da exploração 
do mercado brasileiro pelos países imperialistas. Consolidou-se um lapso na 
história da política brasileira cujo padrão de intervenção era conformador, e 
a concepção era de que vivíamos numa conjuntura irremediável. Portanto, 
foram mais de vinte anos de atraso no processo de construção de trajetórias 
mais democráticas na história da política brasileira. 
Quais as repercussões da política autocrática burguesa para o processo de 
reconceituação do Serviço Social? 
Têm-se dois aspectos que esclerecem as repercussões da política autocrática 
burguesa para a reconceituação do Serviço Social: 
• A correlação de forças estabelecidas determinou a institucionalização de um 
Serviço Social tradicionalista e conservador, caso contrário, seu surgimento 
na sociedade não seria funcionalista para os interesses postos naquela 
conjuntura. Tal determinação deixou heranças contemporâneas na 
profissão, isso porque encontramos, em dias atuais, a existência práticas 
conservadoras, de forma indevida e reversa ao projeto ético-político da 
profissão; 
• O cenário da autocracia influenciou na construção de um aparato teórico-
metodológico e técnico-operativo também tradicionalista naquele tempo 
social, consolidando políticas e uma ideologia que resistia e reprimia os 
movimentos da categoria de ruptura com o conservadorismo. 
Dessa forma, a autocracia burguesa se desenvolvia de forma contrária à vertente 
de ruptura com os valores conservadores da profissão. 
Por que a reconceituação do Serviço Social foi compreendida como um processo não 
linear? 
A reconceituação da profissão foi um processo contraditório e não linear, pois foi 
constituída por vertentes conservadoras e de ruptura que influenciaram na 
afirmação da profissão na sociedade. Entretanto, devido ao contexto político de 
resistência à democracia em tempos de ditadura, a constituição do movimento de 
reconceituação se deu por trajetórias de evolução e de involução, conforme a 
correlação de forças estabelecidas. Antes do golpe de 64, a categoria interagia a 
partir de conteúdos que questionavam a própria ordem política e econômica 
vigente. Porém, a partir da consolidação da ditadura militar, houve a expansão da 
perspectiva modernizadora do movimento de reconceituação que mantinha os 
valores conservadores da profissão. Dessa forma, sendo o Serviço Social uma 
profissão que tem a questão social como objeto de trabalho e as políticas sociais 
como recursos no exercício profissional, o fortalecimento ou desmonte do poder 
da autocracia burguesa se relacionava direta e indiretamente com os movimentos 
de ruptura e de conservadorismo da profissão. 
Resumo da Unidade 
Você lembra das questões elaboradas no início desta unidade? 
Primeiramente, desafiamos você a interpretar o que o período ditatorial 
representou para a sociedade brasileira. Essa questão é fundamental para que 
compreenda a correlação política que viabilizou o movimento de reconceituação da 
profissão, posto que se caracterizou como um sistema de estratégias, ocasionando 
mudanças no interior da profissão, tanto quanto controlou tal movimento. Com a 
intenção e discurso ideológico do desenvolvimento econômico do país, 
regulamentou instrumentos políticos que facilitou a exploração do mercado 
nacional pelos países imperialistas. Para tanto, recorreu à cultura como um meio de 
promover a formação de profissionais que atendessem ao seu projeto 
modernizador de conservação da ordem nacional. Quanto a tal aspecto, já 
abordamos o segundo desafio posto para o seu processo de aprendizagem: 
conhecer as repercussões desse período político para a profissão. As repercussões 
se expressaram em torno dos próprios movimentos heterogêneos formados no 
seio do Serviço Social para contestar valores tradicionais e, de forma anacrônica, 
reforçá-los, uma vez constituíram-se, em paralelo, correntes reconservadoras. Em 
sequência, destaca-se o terceiro desafio apresentado no início das nossas aulas: 
identificar as características do movimento que o qualifica como um processo não 
linear. Ora, a existência de correntes conservadoras, ainda que sob novos moldes, e 
de correntes que intencionavam a ruptura com o Serviço Social tradicional 
esclarece que a reconceituação da profissão ocorreu de forma complexa, evoluindo 
e retrocedendo, conforme o favorecimento ou impedimento da arena política. 
Nesse sentido, essas três questões delinearam o conteúdo que discutimos na 
unidade, expressando o significado das mudanças processadas no bojo do Serviço 
Social entre as décadas de 1960-1970. 
Referências da Unidade 
• NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social 
no Brasil pós-64. 16ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. 
• VIEIRA, Balbina Ottoni. Serviço Social: Processos e Técnicas. Rio de 
Janeiro, Agir, 1981. 
Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos abordados 
nessa unidade, não deixe de consultar as referências bibliográficas básicas e 
complementares disponíveis no plano de ensino publicado na página inicial da 
disciplina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 3 
 O Conservadorismo e a Modernização: as tentativas de renovação 
do Serviço Social 
Olá! Vamos iniciar esta unidade com uma abordagem acerca dos fundamentos 
históricos da formação do Serviço Social, considerando que aqui você aprenderá os 
dois lados da mesma moeda: as características conservadoras que não se adequam 
à perspectiva contemporânea da profissão, e as características emancipadoras que 
contribuíram para repensar as bases teórico-metodológicas do Serviço Social. 
Foram traços marcantes que constituíram a textura no movimento de 
reconceituação do Serviço Social. 
Vamos descobri o porquê? 
Objetivo 
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: 
• Compreender as repercussões das transformações gestadas a partir da 
década de 1950 para o percurso metodológico do Serviço Social. 
 
 
Conteúdo Programático 
Esta unidade estáorganizada de acordo com os seguintes temas: 
• Tema 1 - A dimensão político-organizativa do Serviço Social no 
movimento de reconceituação 
• Tema 2 - A experiência de Teresópolis na perspectiva modernizadora 
• Tema 3 - A reatualização do conservadorismo: avanços e retrocessos 
 
 
Veja o quadro a seguir. Você consegue compreender do que se trata? 
 
Esse quadro se refere aos conceitos que desenvolveremos nesta unidade. Vamos 
iniciar a discussão desta unidade e descobrir a relação entre esses conceitos!!! 
 
 
Tema 1 
A Dimensão Político-organizativa do Serviço Social no Movimento de 
Reconceituação 
 
Quais as principais organizações profissionais criadas e consolidadas durante a 
conjuntura política do movimento de reconceituação do Serviço Social? 
Vamos nesta aula estudar como se desenvolveu as organizações do Serviço Social 
no contexto de reconceituação, precisamente, a partir da década de 1960, no 
processo de transição da ditadura burguesa para a protoforma da política 
neoliberal. Aqui nos referimos como “protoforma do modelo neoliberal” porque, 
no Brasil, apesar dessa doutrina ter sido consolidada a partir da década de 1990, 
pode-se perceber algumas mudanças nas estratégias que já preparavam a 
conjuntura para o desenvolvimento do livre mercado, especialmente, com a crise 
econômica que se estabelecia. 
Aqui, a nossa discussão estará direcionada para o desenvolvimento das políticas 
sociais, o surgimento das instituições organizativas e o papel profissional nesse 
cenário complexo de reconceituação, repressão e abertura. 
Para sua compreensão, dividiremos o período histórico, com base em Silva (2011, p. 
48): 
Implantação do governo ditatorial entre 1964-1968; 
O auge do governo ditatorial de 1969 – 1974; 
A derrocada do período ditatorial, entre 1974-1985. 
 
No primeiro período, o Serviço Social se desenvolveu como executor das políticas 
sociais que se expressavam enquanto estratégias da doutrina de segurança 
nacional e desenvolvimento do país. As políticas sociais, entendidas como 
compensatórias, tinham que se perpetuarem na exata medida que o governo 
determinava. Tratava-se da conjuntura em que os avanços conquistados e 
discutidos no seio da profissão que questionavam o conservadorismo foi abortado 
pelo poder ditatorial. 
Antes do Golpe Militar de 1964, o Decreto Federal nº 994 de 1962 regulamentou a 
Lei nº 3252, de 27/08/1957, de criação da profissão dos Assistentes Sociais. Tal 
Decreto instituiu o Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS). No ano 
posterior, em 1965, ocorreu o I Seminário Regional Latino-Americano do Serviço 
Social, realizado em Porto Alegre, que impulsionou o movimento de 
reconceituação da profissão. Nesse mesmo ano, foi elaborado o segundo Código 
de Ética do Assistente Social pelo CFAS. 
 
Nesse contexto, a política social se adequava a economia do país, com a finalidade 
de proporcionar coerência entre a produção e o consumo, ao mesmo tempo em 
que, o desenvolvimento era compreendido enquanto uma consequência direta do 
crescimento econômico. Nesse sentido, a política social, inserida do I PND - 
Programa Nacional de Desenvolvimento (1972-1974) era estabelecida com o 
objetivo de promover a integração social, por meio de uma visão articulada entre o 
público e o privado, e de uma ideologia referente à contribuição entre territórios 
desenvolvidos e subdesenvolvidos, por meio das seguintes estratégias discutidas 
por Silva (2011, p. 52): 
• Criação do Programa de Integração Social – PIS e Programa de Formação do 
Patrimônio do Servidor Público (PASEP), promovendo a participação do 
trabalhador na expansão da renda nacional; 
• A instituição do Banco Nacional de Habitação (BNH), cuja função era o 
financiamento de empreendimentos imobiliários; 
• O Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, programa do governo, 
ainda militar, de incentivo à alfabetização; 
• A criação do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural – FUNRURAL, com 
objetivo de incluir o trabalhador rural na política da previdência e 
disponibilizar a assistência à saúde; 
• Programa de Colonização na Região Transamazônica – PROTERRA, que 
disponibilizava o financiamento da compra da terra; 
• Programa Nacional dos Centros Sociais Urbanos (CSUs), fato que propiciou 
as atividades relacionadas ao desenvolvimento de comunidade; 
• Institucionalização da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e a Fundação do 
Bem-Estar do Menor (FUNABEM), que representavam a política de 
assistência no tempo da ditadura militar. 
• Dessa forma, aumentando a possibilidade de consumo da população, e a 
partir do incentivo ao crédito, havia, direta e indiretamente, incentivo à 
própria economia do país, na proporção em que se impulsionava o aumento 
da renda e da poupança, e consequentemente, o aumento do potencial de 
compra da população. 
• Entretanto, esse cenário transformava o conteúdo da política social num 
recurso e apoio a própria economia, esvaziando seu principal objetivo de 
atendimento às classes populares, considerando seu caráter compensatório 
e não universalista que correspondia à ideologia desenvolvimentista da 
época. 
Imagem de uma das unidades do 
LBA (Legião Brasileira de Assistência), instituição fundamental que 
operacionalizava os interesses do cenário político do desenvolvimentismo. 
Fonte: Wikimedia 
Frente a tal cenário, os (as) assistentes sociais operacionalizavam tais políticas, 
tornando-se profissionais, inevitavelmente, influenciados pela conjuntura 
globalista de soluções imediatistas para as refrações da questão social, 
considerando o caráter das medidas estatais: centralização financeira, 
fragmentação política, exclusão das classes populares das decisões políticas, 
cultura do clientelismo e as privatizações. 
Entretanto, mesmo no tempo histórico de maior repressão ditatorial (1969-1974), 
os movimentos sociais ainda buscavam resistir à ideologia modernista, incluindo o 
movimento de reconceituação do Serviço Social, e evidenciando a existência e 
capacidade de resistência da categoria à hegemonia da concepção modernista da 
ditadura, que, por sua vez, transformava o conservadorismo da profissão em 
recursos funcionalísticos. 
No período da derrocada do poder ditatorial (1974-1985), no II PND, implementado 
no Governo de Geisel, vários movimentos, sindicatos e líderes políticos 
contestadores da autocracia burguesa saíram da clandestinidade, possibilitando a 
retomada da corrente do movimento de reconceituação que rompiam com o 
tradicionalismo. Nesse contexto, Geisel propunha uma “política de distensão cuja 
meta global é concluir a institucionalização do Estado de Segurança Nacional e 
criar uma representação política mais flexível” (Alves, 1984, p. 186). 
De outra parte, o governo de Figueiredo (1979-1985), período conhecido como 
“política de abertura” deu continuidade a perspectiva de liberdade, vislumbrando 
o alcance de uma gestão menos repressora e mais consensual, em que a oposição 
não era mais “intolerável”, mas “aceitável”. Esse contexto propiciou a ampliação do 
movimento popular incentivado pela aliança entre as “Comunidades Eclesiais de 
Base (CEB) da Igreja Católica” e os sindicatos, bem como foi um período que 
permitiu a criação do Partido dos Trabalhadores - PT. 
O Serviço Social integra os movimentos questionadores, refletindo a sua própria 
consolidação, debatendo o caráter profissional da atuação e a “desmistificação” de 
uma suposta neutralidade, refletindo acerca da necessidade de aproximação com 
as classes populares, com o objetivo de atender aos interesses das classes 
subalternas. Assim, em 1978, conforme esclarece Silva (2011), a partir das greves 
do ABC paulista, a categoria profissional constrói uma articulação e alianças 
sindicais com o intuito de participar da constituição de um projeto societário que 
considere a sociedade enquanto modo de produção fincado na exploração do 
trabalho pelocapital, dividida em classes dominantes e subalternas. 
 
A partir desse tecido social, em 1979, conhecido como “ano da virada”, evolui-se 
com a organização política da profissão. Isso repercute na celebração do III 
Congresso Brasileiro de Assistentes Socais no qual a liderança dos debates é 
constituída não mais por militares governamentais, mas, por militantes populares e 
sindicalistas que se opõem a gestão conservadora do Conselho Regional de 
Assistentes Sociais de São Paulo, aliando-se a Associação Profissional de 
Assistentes Sociais. 
A partir desse momento, instituem-se sindicatos regionais, novas associações 
profissionais, permitindo a criação, em 1983, da Associação Nacional de Assistentes 
Sociais - ANAS. 
Constituíram-se, então, a organização política do Serviço Social através da criação 
da ANAS, juntamente com os sindicatos estaduais, o Conselho Federal de 
Assistentes Sociais – CFAS e a Associação Nacional de Ensino de Serviço Social – 
ABESS. Essa organização política possibilitou o desenvolvimento da pesquisa em 
Serviço Social, por meio da institucionalização de instrumentos de publicação, em 
1979, como a revista Debates Sociais e a revista Serviço Social e Sociedade. 
O primeiro curso de doutorado na América Latina foi criado em 1981, na 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), já nesse cenário de incentivo à 
pesquisa, também corroborado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPq) que estabeleceu uma linha específica de pesquisa 
em Serviço Social. Nesse âmbito acadêmico, foi criado o primeiro curso de 
mestrado na PUC do Rio de Janeiro, e, posteriormente em São Paulo. O movimento 
estudantil não ficou de fora desse contexto, participando ativamente dos debates 
e propostas de revisão curricular e de formação profissional. 
Tratou-se de uma época de intensas mudanças para o Serviço Social, cujos valores e 
reflexões acerca da prática profissional foram reformulados e reavaliados na 
proporção em que a organização política da profissão era materializada. A 
publicação da obra “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil”, em 1982, de 
autoria de Marilda Iamamoto, representou o avanço das discussões políticas 
endógenas do Serviço Social, por meio do investimento no campo de pesquisa. É a 
primeira obra literária que esclarece, com profundidade, o processo de trabalho do 
Serviço Social a partir do método marxista, sendo por isso considerada um marco 
teórico na história da profissão. 
Você já fez a leitura dessa obra? 
Vamos lá, não deixe de explorar as contribuições científicas do Serviço Social e de 
pesquisar a transversalidade do movimento de reconceituação da profissão, agora 
que você já conhece a importância do período de 1950 a 1980 na história do 
Serviço Social. 
Divulgação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 2 
 
A experiência de Teresópolis na perspectiva modernizadora 
 
O que significou a experiência de Teresópolis para o movimento de reconceituação da 
profissão? 
Neste tema, aprofundaremos o conhecimento acerca da perspectiva 
modernizadora do movimento de reconceituação da profissão, conhecida como a 
primeira expressão das mudanças que serão debatidas no interior do Serviço Social 
entre as décadas de 1950-1970. 
A experiência de Teresópolis no movimento de reconceituação da profissão pode 
ser definida como a organização da categoria constituída com a finalidade de 
discutir aspectos metodológicos da profissão, no colóquio realizado nesta cidade, 
em 1970. Foram 33 profissionais, segundo Silva (2011), reunidos e divididos em 
grupos cuja análise partiu das contribuições elaboradas no Seminário de Araxá. 
É possível afirmar que o colóquio de Teresópolis representou a continuidade das 
correntes teórico-metodológicas de Araxá, posto que essas duas experiências 
significaram a constituição e consolidação da perspectiva modernizadora. 
Entretanto, também existiram diferenças importantes, uma vez que o evento de 
Teresópolis avançou quanto aos estudos metodológicos da profissão, adequando-
se as expectativas e determinações modernistas para facilitar a política 
desenvolvimentista. 
Vejamos a seguir! 
As maiores contribuições de Teresópolis tiveram a autoria de José Lucena Dantas 
que centralizou seus estudos e publicações na “teoria metodológica do Serviço 
Social” cujo tema resultou num ensaio literário de mesmo título. Dantas defendia a 
concepção de que a “teoria metodológica da prática profissional” possuía dois 
“níveis de formulação: o da teoria científica e o da teoria sistemática” (Dantas, 
1978). Para ele, a “metodologia de ação” consiste na “Teoria Geral do Serviço 
Social” (Idem), e a definição dessa metodologia é fundamental para uma 
adequação da intervenção profissional à realidade social brasileira. 
O autor considera que as profissões se inserem no quadro mais amplo das ciências 
e se especificam de acordo com “a natureza do seu objeto e da forma peculiar da 
sua prática” (Dantas, 1978). Por isso, defende que “o método profissional é um 
método científico aplicado” e que se constitui em duas categorias: “o diagnóstico e 
a intervenção planejada” que serão desenvolvidos e especificados em vários níveis, 
de acordo com o que a realidade apresenta à intervenção profissional. A 
construção dessa trajetória metodológica é subsidiada pelo autor por meio de sua 
perspectiva neopositivista e estrutural-funcionalista, combinando posições 
ecléticas no seu estudo. 
A partir disso, observa-se o direcionamento que o autor dedica para a intervenção 
profissional, para o exercício profissional, o que representa outro indicador da 
imediata correspondência dessa perspectiva com o cenário sociopolítico da época. 
Isso porque a política desenvolvimentista precisava da operacionalidade da 
profissão, da capacidade técnica do Serviço Social para executar as políticas sociais. 
Isso não apaga o brilho da construção da pesquisa de Dantas no que se refere ao 
estudo meticuloso acerca das intervenções técnico-operativas pautadas na 
aproximação com as ciências sociais, buscando sempre esclarecer à prática 
profissional à luz da teoria. 
Todavia, trata-se de esforços que podem ser interpretados enquanto avanços no 
que se refere ao instrumento técnico-operativo, porém, a perspectiva com a qual 
tais aparatos se desenvolvem traçam trajetórias conservadoras e afirmativas da 
concepção modernista. Netto (2011) afirma que, para Dantas, a “vinculação do 
Serviço Social com o processo de desenvolvimento é uma função imperativa”. Por 
tal motivo, concebe o Serviço Social enquanto uma profissão que deve evoluir de 
forma consubstanciada na realidade concreta, enfocando as experiências do que a 
intervenção profissional nesse cotidiano proporciona 
No caso do Brasil, essa realidade é a do “subdesenvolvimento ou em 
desenvolvimento” cujas expressões da questão social estão postas na sociedade, 
razão pela qual o método deve ser construído a partir do objeto de intervenção 
que são as “situações sociais-problema”. Essas situações se inserem em “áreas de 
práticas distintas”, em escalas de micro ou macro atuação. Vejamos como seria o 
esquema metodológico para Dantas: 
Esquema 
Conceitual de Acordo com a Contribuição de Dantas (1978) 
Dessa forma, segundo Dantas, as situações-problemas são as refrações da questão 
social que requerem a intervenção em âmbito operacional e gestacional, por 
exemplo: numa situação de uma criança em situação de rua, a assistente social 
tanto deve intervir no âmbito micro, realizando atendimento e acompanhamento 
da situação de vulnerabilidade apresentada, analisando os instrumentos 
disponibilizados para encaminhamento (como rede de atendimento, órgãos 
públicos de proteção social), bem como pode participar da gestão da política 
pública social direcionada à criança e do adolescente, construindo propostas e 
análise da adequação de tal política à realidade social. 
Porém, lembre que essa éuma proposta realizada por Dantas, no âmbito da 
perspectiva modernizadora, que apresenta limites devido à própria concepção 
conservadora que embasa o instrumental metodológico! Ou seja, o resultado desse 
engenhoso estudo levaria a uma conclusão já conhecida historicamente: nas 
“variáveis de intervenção” do Serviço Social de Casos, Grupo e Comunidade, 
restringindo o horizonte da própria intervenção proporcional, além do objetivo de 
atender a política modernista daquele tempo social. 
Frente à essa contribuição, a experiência de Teresópolis resultou em relatórios que 
foram construídos por dois grupos de profissionais sobre os temas: “Concepção 
Científica da Prática do Serviço Social” e “Aplicação da Metodologia do Serviço 
Social”. O foco era a metodologia e os instrumentos técnico-operativos; diferente 
do enfoque dado na experiência de Araxá cuja centralidade estava nos esforços de 
construções teóricas que correspondessem à perspectiva modernizadora. 
Assim, seja do ponto de vista teórico ou operacional, os dois grupos de 
profissionais sistematizaram um conjunto de “procedimentos práticos imediatos 
suscetíveis de administração tecnoburocrática” que transformaram os assistentes 
sociais em “funcionários do desenvolvimento” (Neto, 2011). 
Pode-se ressaltar que, uma das maiores contribuições de Teresópolis são 
pertinentes à inserção de matérias de estudo e análise na formação profissional 
antes não desenvolvidas. De outra parte, observa-se que tal colaboração permitiu a 
demarcação do espaço profissional na sociedade, podendo-se afirmar a sua 
modificação do lugar de subalternidade para o reconhecimento na sociedade, 
ainda que sob valores conservadores. 
Ao se considerar que o objetivo do colóquio de Teresópolis não era questionar o 
papel do profissional do Serviço Social frente às instituições políticas 
desenvolvimentistas, mas de construir um aparato teórico-metodológico capaz de 
responder as expectativas postas pela conjuntura da época, pode-se compreender 
a eficácia de sua proposta. 
Você conseguiu compreender as contribuições do colóquio de Teresópolis e as 
diferenças das discussões elaboradas no Seminário de Araxá? 
Aqui vai uma dica: faça um resumo do que discutimos até aqui e um quadro 
comparativo distinguindo as contribuições dos dois eventos. Assim, em caso de 
dúvidas, poderá voltar sempre ao quadro! 
´ 
Vídeo 
Para saber mais, assista agora ao vídeo: 
Agora, nós vamos compreender o período em que a perspectiva modernizadora 
perde a sua hegemonia e força no movimento de reconceituação a partir da década 
de 1970, precisamente com as contribuições de Sumaré e do Alto da Boa Vista. 
Esses dois colóquios foram organizados pelo CBCISS, no Rio de Janeiro, em 1978, e 
no Alto da Boa Vista, em 1984, respectivamente. Tais eventos foram frutos de um 
conjunto de profissionais que colocava em questionamento a própria perspectiva 
modernizadora. Nesse sentido, pode-se afirmar que essa vanguarda possuía uma 
concepção reversa ao conservadorismo. 
Esse conjunto de profissionais criticava o caráter operacional, com base na 
“metodologia da ação” construída pela perspectiva modernizadora. Para eles, não 
haveria como construir uma “prática científica” se os aspectos epistemológicos e 
teóricos fossem “negligenciados” para corresponder com a operacionalização e 
eficiência da intervenção profissional. Nesse sentido, os colóquios de Sumaré e do 
Alto da Boa Vista tinham o propósito de discutir, Segundo Neto (2011), três 
conceitos básicos: a relação do Serviço Social com a ciência, a fenomenologia e a 
dialética. 
 
Entretanto, Neto e Silva (2011) afirmam que essas experiências não debateram as 
categorias de forma aprofundada, mas a partir de uma abordagem superficial. A 
interpretação realizada da obra marxiana se apresentou distante e com sérios 
comprometimentos que distorciam o conteúdo científico da obra. Dessa forma, 
não tiveram a mesma repercussão que as contribuições de Araxá e Teresópolis, 
apesar de já apresentar os primeiros pensamentos da vertente, que estudaremos 
na próxima aula, de reatualização do conservadorismo. 
Tanto o Seminário de Araxá, como o de Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista 
foram eventos que marcaram a perspectiva modernizadora do movimento de 
reconceituação do Serviço Social. A diferença está na época em que cada 
experiência se apresentou cujos dois últimos momentos já demonstravam o 
enfraquecimento dessa vertente. 
Porém, você não poderá esquecer que o colóquio de Teresópolis foi o mais 
importante da perspectiva modernizadora devido ao aprofundamento e a 
pertinência do estudo metodológico no que se refere à expectativa política que 
estava pautada nos princípios técnico-burocráticos do desenvolvimentismo. 
Isso significa que houve contribuições importantes e renovadoras, entretanto, 
devido a ideologia contida nessa perspectiva e nas experiências dos colóquios que 
estudamos, o praticismo foi um dos riscos dessa vertente, considerando que a 
finalidade priorizada era o atendimento das políticas sociais vigentes sem a 
contestação do seu respectivo conteúdo. 
É importante que você compreenda que tal concepção constituiu a visão 
conservadora da profissão. Entretanto, nos dias de hoje, ainda é possível encontrar 
atuações com entendimentos equivocados acerca da profissão que resistem ao 
projeto ético-político contemporâneo que, por sua vez, você ainda estudará no seu 
processo de formação. 
Fique atento e exercite seus conhecimentos, identificando posturas conservadoras 
no seu cotidiano! 
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Tema 3 
A Reatualização do Conservadorismo: avanços e retrocessos 
 
Quais os principais marcos da vertente da reatualização do conservadorismo que 
constituiu o processo de reconceituação do Serviço Social? 
Vamos estudar nesta aula a segunda vertente do movimento de reconceituação da 
profissão que possui raízes do conservadorismo, mas tal como a perspectiva 
modernizadora, constrói contribuições para reflexões profissionais. 
Pode-se afirmar que os colóquios de Sumaré e Alto da Boa Vista apresentaram 
propostas de renovação que, apesar de terem sido criticadas como superficiais, já 
punha na ordem do dia discussões que fariam parte da vertente da reatualização 
do conservadorismo. Segundo Neto (2011), o crédito foi para Anna Augusta de 
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/fht2/re/u3/audio/SIGLA_U1_mp3.zip
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/fht2/re/u3/audio/SIGLA_U1_mp3.zip
Almeida que, em 1978, elaborou um texto que propunha “a interpretação 
fenomenológica do estudo científico do Serviço Social”. 
O debate iniciado por essa autora incentivou um grupo de assistentes sociais que 
resistiam as mudanças impostas pela perspectiva modernizadora e questionavam 
as bases tradicionalistas veiculadas pelo Estado autocrático. A maioria das 
formações de grupos de assistentes sociais a partir da década de 1975 já não 
aceitavam características conservadoras da profissão. Entretanto, considerando o 
caráter processual do movimento de reconceituação, ainda existiam esforços entre 
a categoria no sentido de manter posturas tradicionalistas. Mas, o que se tinha de 
inédito é que tais correntes já não encontravam espaços abertos para propagarem 
pensamentos e intervenções profissionais da modernização conservadora. 
Destarte, tratava-se de uma corrente que tinha um duplo aspecto: contestava o 
passado conservador da profissão, lutando no espaço ocupacional contra a 
perspectiva modernizadora, buscando as primeiras reflexões sobre o pensamento 
crítico-dialético, porém apresentava dimensões individuais e psicológicas que 
também poderiam levar a um entendimento equivocado da profissão. 
Nesse sentido, seráque estamos diante de uma nova roupagem do conservadorismo? 
Vamos discutir um pouco mais sobre as características dessa vertente! 
Um dos aspectos exigidos pela vertente de reatualização do conservadorismo foi a 
valorização da construção teórica. Para ela, a perspectiva modernizadora tinha 
ressaltado uma prioridade quanto à construção de aparatos metodológicos que, 
apesar de inovar algumas trajetórias técnico-operativas para o Serviço Social, 
apresentava riscos de expressar um pragmatismo excessivo para atender a 
correlação de forças da autocracia burguesa. Fundamentada nessa visão, essa 
vertente reafirma a importância das elaborações teóricas, conforme encontramos 
no CBCISS (1986, p. 126): “Se os aspectos epistemológicos e teóricos forem 
negligenciados em proveito apenas de manipulações técnicas de caráter 
pragmático e terapêutico, a discussão sobre a cientificidade do Serviço Social 
talvez se encontre encerrada antes mesmo de iniciada”. 
Porém, essa preocupação com a abordagem teórica também questiona o conteúdo 
e a concepção que a embasa. A reatualização do conservadorismo recusa o 
positivismo, posto que tal perspectiva se pauta na relação causalística limitada 
entre sujeito e objeto, numa dimensão dualística que se “fecha ao 
questionamento”, rejeitando a experiência humana descoberta no cotidiano. 
Em contraposição, essa vertente propõe um deslocamento dessa relação de 
causalidade positivista, que busca explicar os fatos sociais como coisas, para o 
pensamento não causal e fenomenológico que a busca a compreensão desta 
realidade. Isso possibilitará compreender o homem em suas inter-relações com o 
mundo, a partir de um viés holístico. 
Aqui, nesta vertente, o principal enfoque é na “ajuda psicossocial”, propondo o 
“desenvolvimento de uma consciência” reflexiva por meio de um diálogo dinâmico 
que proporcione uma espécie de autoanálise do homem enquanto “ser no mundo” 
e “ser sobre o mundo”, ressaltando a capacidade do indivíduo de ser sujeito de sua 
própria história, e contestando a adequação e ajustamento do ser à sociedade 
autocrática, antes proposta pela perspectiva modernizadora. 
A partir dessa acepção, cria-se uma distinção entre os significados da intervenção e 
da ação: a intervenção pressupõe um encadeamento lógico de ações ordenadas, 
que prevê padrões e planejamento para a mudança de atitude do indivíduo, 
buscando explicar a relação entre causa e efeito; a ação de base fenomenológica 
busca a compreensão do comportamento do indivíduo enquanto expressão de si 
próprio, que representa a totalidade do ser, ao invés de buscar determinações do 
seu comportamento. 
Através desse pensamento, a reatualização do conservadorismo criticava a 
perspectiva modernizadora, uma vez que afirmava que o indivíduo não deveria ser 
“ajustado” a ordem social vigente, mas compreendido enquanto ser ativo capaz de 
modificar a sua própria realidade. 
Nas obras literárias, produções e textos escritos pelos profissionais de Serviço 
Social, não foram encontrados um aprofundamento acerca da fenomenologia ou 
mesmo referência as diversas correntes que constituíram seu significado. Algumas 
questões problemáticas podem ser elencadas acerca da relação do Serviço Social 
com a fenomenologia: 
• Os textos publicados eram elaborados com bases em escritos secundários, 
sem acesso a origem das obras literárias, em sua grande maioria; 
• As abordagens a teoria fenomenológica não incluem suas principais 
discussões, enfoques, diferenças e princípios, não evidenciando a essência 
dos pressupostos que constituem o seu significado e extensão 
epistemológica; 
• Não há qualquer alusão às críticas direcionadas a teoria fenomenológica; 
• Dificuldades de compreensão das categorias que fazem parte do 
entendimento da fenomenologia, reduzindo a complexidade das mesmas e 
interpretando-as de forma imediatista; 
• O comprometimento da compreensão teórica levou ao empobrecimento da 
abordagem e a deformação epistemológica da discussão em torno do tema. 
O recurso à fenomenologia representou o retorno às bases do Serviço Social 
tradicional, uma vez que o enfoque estava direcionado para o indivíduo, investindo 
em pesquisas para compreender a abordagem profissional a partir dos aspectos 
relativos à autodeterminação do sujeito e à centralização na dinâmica individual. 
Tal “princípio da autodeterminação” significava a capacidade do “homem de usar a 
liberdade, como parte integrante da estrutura do ser”, “liberdade que é inerente 
ao homem”. Essa abordagem estava pautada sob uma ótica humanista cuja ética 
era projetada na relação do homem para “com a família, com Deus e com os outros 
homens”, a partir do diálogo “como uma forma de encontro”. 
Aqui você pode observar a funcionalidade da teoria proposta ao sistema político da 
época no qual ainda perdurava o autoritarismo ditatorial. 
Por outro lado, o regresso ao enfoque humanista, por sua vez, estava fincado nos 
princípios neotomistas, valorizando as contribuições da igreja católica e repondo-a 
como ator recuperado da história da Teoria da Libertação. Por tal pensamento, não 
havia uma ruptura com o tradicionalismo, mas um retorno às suas bases históricas 
com o diferencial: reduzia a amplitude de abordagens do Serviço Social à 
individualização das dimensões interventivas da profissão. 
Dessa forma, afastava-se da perspectiva modernizadora, considerando seu 
entendimento de que o homem não poderá se ajustar a dinâmica imposta pelo 
modelo político da época, mas também se afasta da perspectiva crítico-dialética, 
uma vez que não assume e não explica corretamente a conexão desta última com a 
reatualização do conservadorismo. Pelo contrário, essa vertente não se refere à 
dimensão histórica e muito menos o caráter classista da sociedade, expressando-
se, como afirma Netto (2011), num “transclassismo” e com uma visão acrítica. 
Nesse sentido, a defesa do aporte conservador da profissão era uma interpretação 
inevitável. 
É importante que você consiga distinguir, na trajetória das nossas aulas, as 
características que inovam nosso referencial teórico-metodológico da profissão e 
àquelas que mantêm o enfoque conservador e tradicional. Observem que a todo o 
momento estamos chamando a sua atenção para as características históricas 
equivocadas e não mais aceitas na contemporaneidade. Trata-se de aspectos 
importantíssimos! No caso da vertente que estamos estudando, a interpretação da 
fenomenologia como base única e de compreensão superficial, a partir de um 
direcionamento conservador no seio da profissão, é um equívoco; porém o 
significado da fenomenologia, em uma compreensão ampla e explorada, 
inicialmente, na filosofia e nas ciências sociais, possui uma complexidade e 
significados que não abordamos e nem se trata do foco em nossa disciplina, mas 
que apresenta contribuições complementares fundamentais no estudo e pesquisa 
das relações sociais. Fique atento! 
No cenário dessa vertente, dois autores e pesquisadores deram enfoques à 
reatualização do conservadorismo que evidenciaram o regresso às bases 
tradicionalistas do Serviço Social: Carvalho (1987) e Almeida (1978). 
 
Carvalho (1987) dedica especial atenção à entrevista, e a respectiva relação entre o 
assistente social e o “cliente”, para esclarecer os rumos do seu pensamento. Aqui o 
propósito ainda é superar a dicotomia entre sujeito e objeto, anulando a corrente 
positivista e sua objetividade, e partindo da subjetividade, através do “mergulho 
do ser”, “penetrando no ser do cliente”. 
Entretanto, Carvalho (1987) tenta inserir essa relação profissional-cliente no 
âmbito das determinações mais amplas da sociedade, como política e economia. 
Mas, mesmo fazendo tais referências sistêmicas, não consegue abordar ou realizar 
mediações frente a tais categorias, pois ainda mantém o foco no existencialismo e 
da individualização. 
Já a contribuição de Almeida (1978), está direcionada paraa intervenção 
profissional a partir da realidade brasileira, mas não demonstra os caminhos para 
tal abordagem do Serviço Social, uma vez que também mantém sua proposta no 
recurso à fenomenologia e, principalmente, ao “personalismo católico”. Nesse 
sentido, a intervenção profissional se expressa enquanto “ajuda psicossocial”, 
numa tríade da sua nova proposta composta por diálogo, pessoa e transformação 
social, conforme desenho conceitual a seguir: 
 
Na sua concepção, o diálogo viabiliza a objetivação e organização da demanda 
trazida ao profissional, que, após as mediações com os recursos fenomenológicos, 
possibilita a construção de uma análise e síntese da situação. Nessa ação dialógica, 
há uma “transformação” do sujeito capaz de demonstrar o resultado da 
intervenção profissional por meio do “retorno reflexivo”. 
A trajetória traçada por Almeida para defender seus postulados na reconceituação 
da profissão significou um dos retornos mais fiéis aos pressupostos da tradição 
religiosa no Serviço Social, posto que evidenciou uma “psicologização” e 
centralização no sujeito, a partir de uma micro atuação subsidiada nos valores 
cristãs. 
Os esforços da autora referentes às contribuições teóricos estavam voltados para 
a relação profissional-cliente, ou, na linguagem de outras correntes, no Serviço 
Social de Casos, buscando uma compreensão do mundo individual frente à situação 
apresentada, o que demonstrou uma redução extrema da atuação profissional. 
A partir dessa abordagem, os instrumentos profissionais reelaborados também 
eram funcionais à dinâmica política vigente, pois todos os problemas complexos da 
sociedade estavam subordinados ao desenvolvimento das estratégias de trabalhar 
o indivíduo para a sua emancipação. 
Dessa forma, a reatualização do conservadorismo foi uma das vertentes que 
definiu uma trajetória teórico-metodológica de retorno às bases constituintes do 
Serviço Social tradicional, em plena década de 1970, quando já se evoluíam as 
discussões de ruptura com o conservadorismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Encerramento 
 
Quais as principais organizações profissionais criadas e consolidadas durante a 
conjuntura política do movimento de reconceituação do Serviço Social? 
• A aprovação do Decreto Federal nº 994 de 1962 que regulamentou a Lei nº 
3252, de 27/08/1957, de criação da profissão dos Assistentes Sociais; 
• Criação do Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) em 1962; 
• Em 1965, a celebração do I Seminário Regional Latino-Americano do Serviço 
Social que impulsionou a reconceituação da profissão; 
• A constituição do 3° Código de Ética em 1975, porém, ainda manteve valores 
conservadores; 
• Em 1979, foi realizado o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais; 
• Em 1981, foi criado o primeiro curso de doutorado na América Latina, na 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); 
• Em 1983, a criação da Associação Nacional de Assistentes Sociais - ANAS. 
• Em 1986, o novo Código de Ética Profissional que reflete os pressupostos de 
ruptura com o tradicionalismo; 
• Em 1987, a criação do Centro de Documentação e Pesquisa em Política 
Social e Serviço Social – CEDEPSS. 
O que significou a experiência de Teresópolis para o movimento de reconceituação da 
profissão? 
O colóquio de Teresópolis foi o mais expressivo movimento da categoria que se 
inseria na vertente da modernização conservadora, considerando a contribuição 
elaborada quanto aos aspectos metodológicos e técnico-operativos. Entretanto, 
tais instrumentos foram subsidiados pelo positivismo e estrutural-funcionalismo, 
adequando os propósitos profissionais à política desenvolvimentista. Nesse 
sentido, a experiência de Teresópolis não rompeu com as matrizes conservadoras 
da profissão, recolocando o tradicionalismo sob novos moldes e nova abordagem 
profissional. 
Quais os principais marcos da vertente da reatualização do conservadorismo que 
constituiu o processo de reconceituação do Serviço Social. 
Os principais marcos da vertente de reatualização do conservadorismo são: 
• O recurso à fenomenologia para sustentar os instrumentos metodológicos 
da intervenção profissional; 
• A priorização da visão individualizada a partir da qual se buscava a 
emancipação por meio do atendimento ao homem e a capacidade de 
superação da situação apresentada, recorrendo ao diálogo como 
instrumento fundamental de trabalho; 
• A personificação da intervenção profissional, reduzindo a amplitude do 
campo de atuação do Serviço Social; 
• O retrocesso as bases tradicionalistas da religião católica, por meio de 
valores humanistas e cristãos. 
Resumo da Unidade 
Essa unidade trouxe questões referentes ao processo de organização política da 
profissão, bem como questões norteadoras acerca das vertentes da modernização 
conservadora e da reatualização do conservadorismo que constituíram o 
movimento de reconceituação do Serviço Social. 
Apesar dos debates construídos pela categoria, da produção literária possibilitada 
pela pesquisa do exercício profissional, você conseguiu compreender que as 
características tradicionais do Serviço Social conduziram o significado desses 
movimentos? Infelizmente, a compreensão do Serviço Social tradicional ainda 
prevaleceu na construção dessas correntes. Entretanto, o avanço dessas 
perspectivas pode ser percebido quanto à aproximação com a ciência, buscando a 
construção metodológica para compreender a realidade social e conectar a 
intervenção profissional às expressões da questão social que se expressavam 
naquele momento. Além disso, a preocupação com a coerência entre a ação 
profissional, o embasamento teórico, a construção de instrumentos técnico-
operativos e a realidade territorial se fez presente nos esforços dos movimentos 
da categoria. 
Nesse sentido, o espírito de mudança e evolução marcaram a intenção de 
reconceituação do Serviço Social, porém não conseguiram romper com as heranças 
neotomistas, clássicas, de ajustamento social e adequação à política 
desenvolvimentista do pós-64 que recuperavam traços conservadores para a 
intervenção profissional. 
No que se refere à perspectiva modernizadora, a intenção foi de integração do 
homem, grupo ou comunidade à concepção de desenvolvimento do governo 
ditatorial, não questionando à política da época, mas construindo recursos 
profissionais para o atendimento da burocracia daquela conjuntura. 
À reatualização do conservadorismo, a valorização da personificação da 
intervenção profissional, do recurso à fenomenologia, e a redução do campo de 
atuação do Serviço Social foram os marcos teórico-metodológicos que definiram a 
vertente como tradicionalista. Tais características levaram a compreensão de que 
tais vertentes da reconceituação não romperam com a herança conservadora da 
profissão. 
Referências da Unidade 
• ALMEIDA, A. A. Reflexão sobre o problema da Reconceituação do Serviço 
Social. Debates Sociais, 19. Rio de Janeiro, CBCISS. 
• CARVALHO, A. S. Metodologia da Entrevista: uma abordagem 
fenomenológica. Rio de Janeiro: Agir, 1987. 
• NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social 
no Brasil pós-64. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 
• SILVA, M. Ozanira da Silva e. O Serviço Social e o Popular: resgate teórico-
metodológico do Projeto Profissional de Ruptura. 7. ed. São Paulo: Cortez, 
2011. 
Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos abordados 
nessa unidade, não deixe de consultar as referências bibliográficas básicas e 
complementares disponíveis no plano de ensino publicado na página inicial da 
disciplina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 4 
 
A Construção de Novas Perspectivas: a intenção de ruptura 
 
 
Chegamos a última unidade da disciplina! Esta unidade é essencial para que você 
compreenda como se desenvolveu a vertente de rompimentocom o Serviço Social 
tradicional, quais foram os obstáculos e os fatores que contribuíram para a sua 
socialização na sociedade. Portanto, mergulhe nas dicas e nas discussões sobre o 
conteúdo. 
Objetivo 
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: 
• Valorizar os fundamentos sócio-históricos como recursos para a construção 
de intervenções profissionais. 
 
 
Conteúdo Programático 
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas: 
• Tema 1 - Avançando no movimento de reconceituação 
• Tema 2 - A intenção de ruptura: continuações e novas expectativas 
• Tema 3 - A construção de uma trajetória reversa: Iamamoto e a 
perspectiva marxista 
 
 
Estudaremos um movimento que integrou a reconceituação da profissão na época 
das diretas já. 
Sabe o que significa? E por que essa época será discutida em nossa disciplina? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 1 
Avançando no movimento de conceituação 
 
Quais foram as fases de desenvolvimento da intenção de ruptura? 
Neste tema estudaremos um dos assuntos mais prazerosos que constituiu o 
movimento de reconceituação do Serviço Social: o processo de construção da 
vertente da intenção de ruptura. 
Neste momento, podemos até fazer a referência ao título de “renovação da 
profissão”. Sabe por quê? 
Consegue identificar qual é a diferença entre essas duas formas de se referir as 
mudanças ocorridas no âmbito da profissão: movimento de reconceituação e 
renovação do serviço social? 
Alguns autores, como Silva (2011), afirma que a reconceituação da profissão foi um 
movimento específico que se gestou a partir das décadas de 1950 e 1960, com 
força na América Latina. Já a renovação do Serviço Social se refere a um processo 
mais amplo da categoria que não se reduz a um período único, mas que é 
pertinente a própria evolução dos princípios teórico-metodológicos do Serviço 
Social e do seu próprio significado na divisão sociotécnica do trabalho, e que, por 
isso, é contínuo. 
Considerando que nesta aula trataremos de uma das vertentes que enfrentou de 
forma pertinente a herança tradicional da profissão, e que construiu as críticas 
fundamentais para a sua superação, poderemos aqui intitular de vertente de 
ruptura do processo de renovação do Serviço Social. 
Segundo Netto (2011), é possível se destacar três períodos que marcaram o 
processo de constituição dessa vertente: 
• o momento do próprio fortalecimento dos profissionais que construiu seus 
alicerces; 
• o momento de conexão e articulação com o âmbito acadêmico quanto à 
reflexão crítica do suporte teórico-metodológico; 
• e o período de socialização na categoria e sociedade. 
O surgimento da proposta de ruptura ocorreu exatamente na conjuntura política 
que representou o tempo de auge da ditadura militar, entre 1972 e 1974, quando 
profissionais da Universidade Católica de Minas Gerais discutiam os pressupostos 
reversos às bases do Serviço Social tradicional. Apesar do contexto controverso, 
Minas Gerais representava um território no qual alguns movimentos marcavam sua 
presença na esfera política, como a dinâmica traçada pelos próprios sindicatos e 
trabalhadores que contestavam as condições de vida e trabalho naquele cenário. 
Frente a esse cenário de resistência e revelação, o grupo de profissionais de 
Serviço Social elaborou uma proposta que tinha como objetivo estruturar um 
arcabouço teórico-metodológico em coerência com a intervenção profissional e 
com a própria formação dos estudantes, visando superar a fragmentação nesses 
âmbitos do exercício e da reflexão acadêmica. A finalidade era a construção teórica 
a partir da prática profissional de forma a possibilitar uma abordagem praxiológica. 
Leia a matéria Serviço Social, memórias e resistências contra a ditadura militar. 
http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/968
Buscava-se a elaboração de um instrumental com enfoque global que pudesse 
combater o pensamento conservador e avançar para além dos limites até então 
impostos. Nesse momento, a preocupação era que o trabalho pudesse ser reflexivo 
não tão somente com os instrumentos profissionais, mas com a posição política da 
profissão diante de um cenário antidemocrático que moldava as políticas sociais 
compensatórias e imediatistas. 
No entanto, a correlação de forças do período se fez presente e o poder 
autocrático providenciou as estratégias necessárias para frear a evolução do 
movimento, e, em 1975, os profissionais, a maioria professores, que lideravam 
aquela ação coletiva foram demitidos, provocando a estagnação do processo, mas 
não a sua finalização. 
Na proporção em que o poderio autocrático estava perdendo sua hegemonia, os 
movimentos organizados buscavam força para se estruturar no interior dos 
coletivos clandestinos, desde a torcida pelas “diretas já” até os outros movimentos 
sociais e profissionais. 
Nesse contexto, o Serviço Social não finalizou a dinâmica de sua reconceituação ou 
renovação, ao contrário, propagou, através dos cursos de pós-graduação, o papel 
da profissão na sociedade, para outras disciplinas, profissões e ciências. A 
discussão em torno da profissão não estava mais intramuros da Universidade de 
Minas Gerais, mas alcançava outros territórios e outros espaços ocupacionais. O 
debate foi iniciado a partir das críticas à perspectiva modernizadora, às múltiplas 
propostas de renovação, retomando o referencial histórico para superar as amarras 
e alcançar a própria reflexão sobre o significado do Serviço Social naquela 
contemporaneidade. 
A análise sobre o próprio Serviço Social diante dos subsídios teóricos proporcionou 
à categoria a aproximação processual com as teorias sociais clássicas, 
reposicionando-a na própria academia latino-americana. A construção do 
referencial histórico-crítico, epistemológico e ideológico consolida uma estrutura 
que fragiliza as bases do tradicionalismo da profissão até então com evidente força 
na categoria. 
Nesse sentido, o que singulariza a vertente de intenção de ruptura na 
reconceituação do Serviço Social é a aproximação com a tradição marxista. Trata-se 
de um momento crucial, posto que apresenta a categoria às protoformas que, 
posteriormente, subsidiarão o projeto ético-político da profissão. 
Sim, é aqui que iniciaremos a aproximação com essa teoria social reversa ao 
conservadorismo que a história da profissão nos apresentou! 
Porém, é importante que você compreenda que a obra marxiana é complexa e 
extensa, por esse motivo, desvelar seus pressupostos era um desafio para a 
categoria. Em outras palavras, a aproximação dos profissionais que lideraram a 
intenção de ruptura com o marxismo não ocorreu sem problemas. 
A dificuldade de reelaboração reflexiva dessa teoria adveio pelo próprio processo 
de maturação que ainda estava em desenvolvimento! 
Assim, é importante que você entenda que o objeto de estudo da teoria de Marx 
foi a sociedade do capital. Porém, várias foram e são as interpretações de sua obra 
que se desviaram e se afastaram da originalidade da sua teoria. Também não foi 
diferente para a primeira interpretação e conexão que a corrente da ruptura fez 
entre o Serviço Social e o marxismo. Nesse sentido, foram três os enfoques dados, 
segundo Netto (2011, p. 268-269), pelos estudiosos da ruptura: o “marxismo do 
militantismo”, o “marxismo acadêmico”, e a tradição marxista inserida numa 
perspectiva eclética. 
No marxismo do militantismo, a mobilização estudantil e os profissionais recém-
formados engajados na intenção de ruptura, aproximam-se desse conceito pela via 
política, na qual há uma redução e/ou deformação do seu significado, com uma 
perspectiva heroísta, ideologista, distanciando-se da concretude científica da obra 
marxiana, conforme nos esclarece o autor José Paulo Netto (2011). 
No marxismo acadêmico, houve maior rigor na análise, recuperando a importância 
da categoria histórico-crítica na análise dos processos, porém, é extensiva a 
reduçãoepistemológica. Por último, registra uma reflexão acerca do marxismo 
tradicional para compreender a profissão naquela contemporaneidade, - sua 
intervenção profissional, teoria e formação - recorrendo a certo ecletismo, que, por 
assim ser, nem sempre se conectavam as correntes teóricas para contribuição ao 
Serviço Social. 
Fundamentada nessa forma processual de aproximação, pode-se afirmar a 
existência de modificações e transformações, mas também de pensamentos 
estagnados e menos evoluídos no processo de formação da própria intenção de 
ruptura. Por esse motivo, novamente, evidencia-se o caráter processual da 
renovação da profissão. 
De outra parte, é importante que lembremos que os estudantes ingressos nas 
universidades eram indivíduos que vivenciaram a conjuntura da ditadura burguesa 
que, inclusive, regulava o próprio conteúdo de ensino-aprendizagem das 
faculdades. Essa marca não deixa de ser um marco na história social e educacional 
brasileira, considerando as estratégias políticas para controlar a cultura da 
sociedade! 
No entanto, a intenção de ruptura representou o momento crucial e renovador 
para o Serviço Social. Nele foi possível a discussão e o debate de pontos principais 
para a evolução da profissão, tanto quanto à concepção endógena de formação 
dos pressupostos teórico-metodológicos, como no que se refere à sua interrelação 
com as outras profissões no seio da sociedade, vejamos: 
• Iniciou-se o posicionamento crítico acerca da redução da dimensão prático-
operativa de atuação profissional frente ao saber construído e conquistado 
pelo Serviço Social; 
• Foi possível o desenvolvimento da relação dos profissionais do Serviço 
Social com outras ciências e profissões e disciplinas de forma 
multiprofissional, participando de discussões que já intentavam a 
interdisciplinaridade, ao menos nas reflexões teóricas; 
• Iniciaram as discussões acerca dos determinantes político-institucionais a 
partir das contribuições de Vicente de Paula Faleiros, refletindo sobre os 
impactos para a atuação profissional e acerca das possibilidades de 
superação e ampliação da sua autonomia crítica; 
• Reflexões acerca das possibilidades de atuação profissional e alargamento 
do espaço ocupacional do Serviço Social na sociedade brasileira, a partir das 
reflexões sobre as experiências internacionais advindas de autores de 
referência como o próprio Vicente de Paula Faleiros; 
• O incentivo e avanço no campo da pesquisa em Serviço Social; 
• A consolidação de formas organizativas da profissão que discutiam o 
redimensionamento das atividades profissionais, socializando os 
pensamentos e debates da vertente da intenção de ruptura para os 
profissionais de atuação, para os estudantes e para a própria sociedade. 
Vídeo 
Para saber mais, assista agora ao vídeo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 2 
A intenção de ruptura: continuações e novas expectativas 
 
O que significou o Método de Belo Horizonte no movimento de reconceituação da 
profissão? 
Olá! Agora nossa conversa se desenvolverá em torno da vertente da intenção de 
ruptura, com enfoque e direcionamento acerca do Método de Belo Horizonte. 
Compreenderemos o porquê do título “Método de Belo Horizonte” como um dos 
momentos que marcou a herança profissional disponibilizada por esse grupo de 
pensadores. 
A partir da construção de uma “alternativa global ao tradicionalismo”, os líderes 
desse movimento elaborou uma “súmula crítica ao Serviço Social conservador”, 
destacando-se cinco aspectos básicos: 
• Para o grupo de Belo Horizonte, as vertentes conservadoras do movimento 
de reconceituação concebiam a profissão a partir de técnicas e de um 
referencial teórico-metodológico geral que não contemplava em suas 
pesquisas a realidade de cada território e as respectivas peculiaridades que 
deveriam ser observadas. Tal aspecto era resultado do sistema capitalista 
que não vislumbrava as refrações da questão social e suas especificidades. 
Ao invés de propor uma análise global que deveria incluir as pluralidades 
locais, o que se concretizava era uma espécie de generalização dos 
instrumentos teórico-metodológicos para a intervenção profissional; 
• As características ideopolíticas do Serviço Social tradicional ao apresentar 
uma suposta neutralidade na abordagem profissional que, considerando a 
conjuntura política da época, podem-se inferir as dificuldades e obstáculos 
existentes para superar ausência de posicionamento político, ou mesmo, 
manifestação da concordância com o poder hegemônico da autocracia 
burguesa; 
• O caráter teórico-metodológico do Serviço Social tradicional em que a 
realidade é compreendida de forma fragmentada, cujos fenômenos estão 
postos de forma segregada e desarticulados. Há uma visão que não 
correlaciona o homem e a sociedade, o sujeito e o objeto, constituindo uma 
compreensão reduzida e isolada do ser social; 
• A visão unilateral de forma que não incluíam as multidimensões da 
sociedade e do objeto a ser estudado. Os instrumentos técnico-operativos 
eram utilizados para a adaptação e adequação do público à sociedade 
fragmentada, posto que dessa forma não seria possível questionar a força 
política autocrática daquele tempo; 
• A profissão operava seus recursos com foco e objetivo de solucionar os 
problemas que se encontravam nos indivíduos, aniquilando quaisquer 
pensamentos político-econômicos, e ocultando o caráter classista da 
sociedade. 
A partir desse conjunto de críticas, e após ter delineado os aspectos tradicionais da 
profissão que não contribuíam e não convergiam com uma proposta subsidiada 
pelo marxismo, o grupo de pensadores compreendeu que o objeto do Serviço 
Social deveria ser construído com base na “historicidade da prática profissional”. 
Em outras palavras, a observação e estudo da prática deveriam ser prioritários no 
processo de construção do objeto profissional. 
Nesse sentido, seria necessário um mergulho profundo na realidade social 
brasileira para uma apropriação das características que a demarcavam nas relações 
sociais globais. Para tanto, tornou-se uma exigência o estudo da “teoria da 
dependência” para o conhecimento da realidade do nosso país. 
A teoria da dependência surgiu no âmbito da conjuntura latino-americana, na 
década de 1960, com o objetivo de refletir o subdesenvolvimento dos países da 
periferia mundial em detrimento do desenvolvimento dos países centrais e 
imperialistas no processo do sistema capitalista de produção, buscando explicar as 
diferenças históricas, políticas, econômicas e sociais dos territórios que 
condicionavam suas possibilidades de desenvolvimento. Pesquise sobre ela e 
entenda um pouco mais sobre a sua contribuição para a história brasileira! 
Como uma condição para a compreensão dessa realidade de dependência do país, 
também era fundamental uma análise da sociedade divida em classes, cuja “ação 
social da classe oprimida” deveria ser definida como o “objeto de atuação 
profissional”, conforme discute Jose Paulo Netto (2011). Dentro da concepção do 
Método de Belo Horizonte, através do processo de “capacitação, conscientização 
e organização”, o Serviço Social seria capaz de buscar a “transformação da 
sociedade e do homem”. Concepções essas que foram definidas como “objetivo-
meio” e “objetivo-meta”, respectivamente. 
Podemos afirmar que, por meio dessa última contribuição dos pensadores do 
Método de BH, o que apresentava uma esperança de renovação no início, agora 
retrocedia para os traços históricos do conservadorismo! Novamente, os 
pensadores e líderes desse movimento, no final da década de 1970 e início de 
1980, em plena fase de intenção de ruptura da reconceituação da profissão, 
desafiava ao assistente social a transformar a sociedade! 
A importância de focar a realidade social como objeto de estudo e intervenção 
direcionou os profissionais de Belo Horizonte para a conclusão de queesta seria o 
início e o final da abordagem profissional. 
Em outras palavras, os profissionais de Serviço Social precisariam se apropriar da 
realidade e nela intervir, numa relação dinâmica e dialética, buscando a elaboração 
de estratégias para alcançar mudanças no ser e na sociedade. 
Aqui estaria um dos maiores desvios dos estudos de Belo Horizonte: a atribuição à 
categoria profissional de transformar uma estrutura social cujos problemas se 
desenvolvem em torno da relação histórica e contraditória entre capital e trabalho 
representada na conjuntura e supraestrutura multifatorial da política, da 
economia, do social, da cultura e da educação. 
Tratou-se aqui de propor o tratamento de um todo complexo e histórico, de 
amplitude diversa e plural, a partir de uma única abordagem profissional e de 
âmbito micro. 
Assim, tal aspecto foi compreendido, mais tarde, pelos críticos daquela 
experiência, inclusive, posteriormente, pelos próprios autores do Método de BH, 
como uma abordagem reflexiva simplista, insuficiente e heroica cujos sintomas já 
apareciam no Serviço Social tradicional. 
Ainda no objetivo profissional, os pensadores se referiam à “classe oprimida”, mas 
não delineavam o próprio significado dessa categoria. Marx dedicou capítulos e 
obras que discutiam o que se entendia por classes e classe trabalhadora, tanto 
como outros autores das ciências sociais. Em sentido contrário, os profissionais de 
Serviço Social não esclareceram nem discutiram o que entendiam como classe 
oprimida. 
A pouca clareza teórica não contribuiu para a elaboração da proposta profissional, 
na proporção em que trabalhar com as categorias relacionadas à realidade social 
exige uma análise e investigação meticulosa das interrelações dos fenômenos e da 
própria questão social, dada a complexidade histórica do conjunto de aspectos 
políticos, econômicos e culturais que integram a multiplicidade dos fatores 
constituidores da formação da nossa sociedade. 
Na relação capital x trabalho, as classes se expressam a partir da posição que 
ocupam nessa relação dialética e contraditória; as condições sociais de trabalho 
determinam suas condições de vida. Nesse sentido, as classes não são 
homogêneas, pelo contrário, são opostas a partir da correlação estabelecida entre 
os proprietários dos meios de produção e os que vendem a sua força de trabalho 
em troca de salário. Entretanto, a corrente de pensadores do método do BH não 
buscou uma análise aprofundada dessa relação entre capitalistas e trabalhadores, 
direcionando uma conclusão dos instrumentos profissionais sem levar a cabo uma 
discussão de categorias fundamentais para tal elaboração teórico-metodológica. 
De outra parte, trataram de estabelecer a transformação da sociedade como um 
objetivo profissional sem, ao menos, esclarecer de que tipo de projeto societário 
se desejava, do ponto de vista político. Isso fragilizava a contribuição desses 
pensadores, pois distanciava a proposta profissional de uma concretude necessária 
para estudar os aspectos teórico-metodológicos da profissão. Não foi suficiente 
construir uma perspectiva política contestadora da autocracia política sem 
construir um projeto societário que declarasse por qual sociedade se lutava, 
principalmente, quando estava estabelecido que a transformação social 
representava o foco profissional. 
Nessa perspectiva, o grupo mineiro afirmava que “o conhecimento do sujeito sobre 
o objeto é um reflexo” e que “as generalizações teóricas, em forma de conceitos, 
princípios e leis comprovados pela experiência e pela prática constituirão a 
verdade objetiva” (Netto, 2011), buscando esclarecer a relação entre consciência 
do homem e a realidade. Entretanto, apesar de buscar tal compreensão, faziam 
sem realizar as mediações necessárias com as categorias estudadas pela teoria 
marxiana, considerando sua análise superficial do marxismo tradicional. Isso 
resultou numa interpretação neopositivista, segundo Netto (2011), ponderando-se 
a priorização quanto à explicação dos fatos sem a devida análise mediadora 
necessária. 
Por essa abordagem, a corrente mineira buscou compreender a relação de 
interdependência entre teoria e prática, e entendia que a “prática profissional era 
uma prática científica” capaz de interpretar a realidade e construir o saber 
científico, numa dinâmica constante entre teoria e prática. Apesar do empirismo, 
do mergulho na prática profissional, as construções teóricas não conseguiram 
atender as realidades particulares dos diversos âmbitos de atuação, incidindo 
numa generalização que distanciava a própria teoria do plano de ação profissional. 
Para Santos (1985), tal perspectiva levava a um “metodologismo e 
epistemologismo” de pouca riqueza e de análise imediata. Posteriormente, o 
próprio grupo reconheceu que a generalização da proposta não contribuiu para 
uma análise concreta do objeto de atuação. A preocupação com a metodologia da 
profissão e sua comprovação enquanto método científico afastou os pensadores 
da realização da mediação necessária entre teoria e intervenção profissional. Isso 
resultou na dificuldade de construção de um referencial crítico, levando a 
interpretações ideológicas como a de “transformação da realidade” enquanto um 
objetivo profissional. 
Porém, o método de BH, como ficou conhecido, foi um dos movimentos mais 
produtivos ao se considerar as perspectivas anteriores de origem, essencialmente, 
tradicionalista. O processo metodológico ordenava a intervenção profissional, o 
que contribuiu para a elaboração de uma prática reflexiva e de uma reflexão 
teórico-prática. Ainda que os pressupostos que subsidiaram toda a elaboração 
teórico-metodológica estivessem pautados em um marxismo tradicional, ou seja, 
de interpretação superficial, tratou-se do momento em que os esforços de 
aproximação com o materialismo histórico permitiu a construção de visão política e 
crítica. Mas os anseios por construir uma trajetória científica para a profissão 
resultou no afastamento de uma proposta concreta para o Serviço Social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 3 
A Construção de uma Trajetória Reversa: Iamamoto e a Perspectiva 
Marxista 
Explique as principais contribuições de Marilda Iamamoto para intenção de ruptura? 
Estamos diante de um grande momento do nosso processo de aprendizado: 
compreender as primeiras contribuições localizadas na intenção de ruptura que 
mudaram a trajetória histórica do Serviço Social e elaboraram os princípios 
basilares mais próximos da nossa contemporaneidade. 
Neste tema, discutiremos as contribuições de Marilda Iamamoto que constituíram 
a vertente da intenção de ruptura como àquela em que propiciaram o significado 
social da profissão. 
É claro que aqui não abordaremos a riqueza da produção literária da autora 
Iamamoto, apenas discutiremos as suas contribuições que revelaram o significado 
da profissão à luz da interpretação fiel da obra marxiana. 
Destarte, o que singulariza o estudo profundo dessa autora não se refere apenas à 
sua correta interpretação marxista, - a julgar pela crítica construída por outros 
autores -, mas pelo deslocamento da preocupação endogenista das primeiras 
vertentes da reconceituação do Serviço Social para a análise da inserção 
profissional na reprodução das relações sociais de produção capitalista. Enquanto 
o método de Belo Horizonte estava voltado na explicação da profissão enquanto 
método profissional científico, de sua prática enquanto científica, na tentativa de 
descobrir uma especificidade, a análise de Iamamoto afirmará que o Serviço Social 
produz conhecimento científico, mas enquanto uma especialização do trabalho 
coletivo que é socialmente determinada pelos elementos intrínsecos à sociedade 
do capital. 
A preocupação, a partir desse marco teórico, está nos elementos que condicionam 
e estruturam o processo de trabalho do Serviço Social e que, sem a sua 
compreensão eanálise, não é possível entender a nossa própria intervenção. Para a 
autora, a profissão só existe “em condições e relações sociais historicamente 
determinadas”, e somente a partir do estudo dessas determinações é possível 
alcançar o seu significado social. 
Tais determinações estão dadas pela relação conflituosa entre capital e trabalho 
em que “um expressa o outro, recria o outro e nega o outro”. 
O trabalhador vende a sua força de trabalho ao capitalista, proprietário dos meios 
de produção, que se apropria do mais-valor excedente para possibilitar a 
acumulação e circulação do capital. O capitalista precisa do trabalhador, e este, 
apesar de expropriado do valor que ele mesmo cria, precisa do salário que é pago 
pelo capitalista. Trata-se de uma relação conflituosa e dialética, mas que se 
complementam. Nesse sentido, o capital é uma relação social que dá 
inteligibilidade a todo processo social e determina as trajetórias da sociedade 
política, econômica, cultural e social. 
Karl Marx 
Fonte: Wikimedia 
Iamamoto dedica seus estudos à interpretação dessa relação dialética entre capital 
e trabalho com base nas origens da teoria marxiana para compreender as 
determinações da profissão do Serviço Social. Analisa as metamorfoses do capital a 
partir da centralidade do processo de trabalho, e da produção e reprodução das 
relações sociais. A autora ultrapassa a emergência com a qual foram interpretados 
os processos sociais nas vertentes conservadoras e reconstrói, reelabora por meio 
da reflexão sobre a produção material que está subjacente a historicidade dessas 
relações sociais, políticas e ideológicas. No seio dessas relações, a autora situa as 
classes sociais a partir da totalidade do processo de reprodução social. 
Em outras palavras, Iamamoto reflete como a materialidade do processo de 
reprodução do capital determina as condições concretas da vida social do 
trabalhador, determina as instituições políticas, determina as trajetórias 
mercadológicas, e determina a ideologia necessária para a sua realização e 
materialidade. 
Você está conseguindo acompanhar? Está compreendendo a relação entre esses 
conceitos? 
São definições que constam na obra de Marx “o capital” que foram elaboradas 
visando esclarecer a sociedade capitalista que foi o foco de análise do autor, e aqui 
foi retomada pela autora Iamamoto. 
Vamos retomar esta explicação, e vejamos, abaixo, dois quadros com a relação e a 
determinação entre esses conceitos para sua melhor compreensão! 
Não desanimem, a curiosidade e a pesquisa são elementos primordiais para o seu 
sucesso enquanto profissional de serviço social. 
Relação entre 
força de trabalho, valor excedente e capital 
Na figura anterior, apesar do capitalista estar no topo, é à força de trabalho do 
trabalhador que centraliza todo o processo, pois é através dela que o proprietário 
dos meios de produção obtém seu lucro, por meio do valor excedente gerado pelo 
próprio trabalhador. 
Determinação 
do Capital na Totalidade do Processo Social 
A Figura antterior demonstra que o capital determina as relações sociais de 
produção, a conjuntura política, econômica, e a perspectiva ideológica conveniente 
à hegemonia do padrão de acumulação do capital. 
Foi importante a dedicação da nossa discussão para essa relação estabelecida 
entre capital e trabalho porque a análise de Iamamoto acerca do significado social 
da profissão se desenvolve a partir desses conceitos básicos marxianos. Ela 
recupera a historicidade para compreender os processos sociais enquanto uma 
totalidade que engloba elementos estruturantes da profissão e que são ratificados 
e reproduzidos pela própria profissão. 
A partir dessa contribuição, foi possível a compreensão e socialização entre a 
categoria profissional de que o Estado/patronato contrata o Serviço Social para o 
atendimento das demandas dos trabalhadores. A autora afirma que o controle da 
vida do operário “extrapola o âmbito das fábricas” e expande para outros sistemas; 
é nessa concepção que as instituições sociais são postas no seio da sociedade para 
manter esse controle através da reprodução da vida social nos moldes necessários 
para manter a circulação do capital e essa estrutura vigente. Nesse momento, o 
espaço sócio-ocupacional do profissional de Serviço Social é criado e legitimado 
pelos próprios aparelhos dessa estrutura hegemônica. 
De outra parte, Marilda Iamamoto esclarece que, apesar da determinação posta 
pelas relações sociais capitalistas, tal estrutura não aprisiona o profissional, posto 
que ele atenda as duas forças de forma mediadora: 
(...) a atuação do Assistente Social é necessariamente polarizada pelos interesses 
de tais classes (...). Reproduz pela mesma atividade interesses contrapostos que 
convivem em tensão. Responde tanto a demandas do capital como do trabalho e 
só pode fortalecer um ou outro pólo pela mesma mediação do seu oposto. 
Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração, como, ao mesmo 
tempo e pela mesma atividade, dá resposta à sobrevivência da classe trabalhadora 
e da reprodução do antagonismo desses interesses sociais, reforçando as 
contradições que constituem o móvel básico da história. (Iamamoto, 1982, p. 94). 
A partir dessa abordagem, o profissional de Serviço Social é uma tecnologia social, 
uma especialização do trabalho coletivo cuja intervenção social é determinada por 
essa correlação de forças cuja hegemonia pertence ao capital, que tanto 
estabelece as regras para o Estado, como para a totalidade dos processos sociais, 
estando a profissão definida nesse cenário. 
Dessa forma, trata-se de um profissional “intelectual subalterno”, exercendo uma 
“atividade auxiliar e subsidiária no controle social e propagação da ideologia da 
classe dominante junto à classe trabalhadora”, tanto quanto “participa das 
respostas legítimas de sobrevivência da classe trabalhadora” (Idem, p. 116). 
Por meio dessa ilustre elaboração teórico-crítica da autora, a intenção de ruptura 
se reconfigura enquanto uma vertente do movimento de reconceituação da 
profissão que possibilita a evolução do Serviço Social de forma a corresponder com 
uma sociedade que buscava superar a força, nem tanto mais hegemônica, da 
autocracia burguesa. 
A contribuição aponta para a construção de um profissional que conhece o seu 
papel sociopolítico, a complexidade e totalidade dos processos sociais, a 
contradição estrutural da relação de classes, e as trajetórias críticas de sua 
intervenção profissional. 
Encerramento 
Quais foram as fases de desenvolvimento da intenção de ruptura? 
A intenção de ruptura se desenvolveu, mediante três fases: 
• Em pleno contexto de repressão da ditadura militar, houve a elaboração das 
primeiras produções de um grupo de professores na Universidade de Belo 
Horizonte, ocasionando no seu surgimento; 
• Momento de maturação dos aspectos teórico-metodológicos e de ampliação 
e investigação da temática no âmbito universitário; 
• E na expansão e socialização do debate com a sociedade e profissionais 
vinculados às diversas práticas profissionais. 
O que significou o Método de Belo Horizonte no movimento de reconceituação da 
profissão? 
O Método de BH representou a iniciativa de um grupo de profissionais e docentes 
que elaborou uma proposta para contrapor aos princípios tradicionais da profissão, 
de forma a viabilizar a construção de um posicionamento político e teórico-
metodológico com base nos pressupostos do marxismo tradicional. Nesse sentido, 
propôs uma intervenção profissional pautada em aspectos metodológicos 
orientados pela teoria social. Isso representou uma relação constante e reflexiva 
entre teoria e prática profissional, buscando os pressupostos científicos da 
profissão. 
Explique as principais contribuições de Marilda Iamamoto para intenção de ruptura? 
A contribuição de Iamamoto foi singular no processo de elaboração da vertente de 
intenção deruptura da reconceituação da profissão por permitir a reelaboração de 
uma trajetória profissional subsidiada nos pressupostos marxianos de forma 
original e fiel a discussão apresentada na obra. De outra parte, a autora 
possibilitou a reflexão teórico-crítica acerca do significado social da profissão e de 
sua compreensão a partir da reprodução das relações sociais, sob a ótica da 
totalidade dos processos sociais. 
Resumo da Unidade 
Nesta unidade, discutimos acerca do significado da vertente da intenção de 
ruptura no movimento de renovação do Serviço Social enquanto uma das correntes 
mais importantes para a compreensão da nossa profissão. Tal importância se 
justifica pela elaboração da primeira proposta, neste marco, que buscou conectar e 
realizar as mediações pertinentes entre as categorias marxianas e o Serviço Social, 
possibilitando a desconstrução dos princípios tradicionalistas como referência, e 
viabilizando a apropriação da profissão enquanto especialização coletiva do 
trabalho e tecnologia social que está socialmente determinada pelas relações 
sociais de produção. 
Nesse sentido, foi essencial a socialização para a categoria profissional acerca do 
papel sociopolítico do profissional, bem como de intermediação entre o 
Estado/patronato e a classe trabalhadora, atendendo a esses atores sociais de 
forma contraditória e dialética. Dessa forma, a intenção de ruptura possibilitou a 
superação do empirismo herdado do método de BH que buscou interpretar a 
profissão enquanto prática científica, porém sem a realização das mediações 
necessárias para o esclarecimento das condições concretas da atuação profissional. 
Apesar do contexto vigente da autocracia burguesa, a intenção de ruptura 
conseguiu expandir o conteúdo do debate profissional e relacionar a contribuição 
de diversos profissionais da área, viabilizando a conexão com os aspectos 
realísticos daquela modernidade. 
Referências da Unidade 
• IAMAMOTO, M.V. Legitimidade e Crise do Serviço Social. Piracicaba: 
ESALQ/USP, 1982. 
• NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social 
no Brasil pós-64. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 
• SILVA, M. Ozanira da Silva e. O Serviço Social e o Popular: resgate teórico-
metodológico do Projeto Profissional de Ruptura. 7. ed. São Paulo: Cortez, 
2011. 
Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos abordados 
nessa unidade, não deixe de consultar as referências bibliográficas básicas e 
complementares disponíveis no plano de ensino publicado na página inicial da 
disciplina. 
 
 
	Objetivo
	Conteúdo Programático
	Tema 1
	A trajetória histórica do processo de institucionalização do Serviço Social
	Tema 2
	A institucionalização do Serviço Social e os fundamentos sócio-históricos da intervenção profissional
	Tema 3
	A constituição dos serviços sociais sob reproduções imediatistas
	Vídeo
	Encerramento
	Resumo da Unidade
	Referências da Unidade
	Objetivo
	Conteúdo Programático
	Tema 1
	O Contexto Sociopolítico da Autocracia Burguesa
	Tema 2
	As Repercussões do Período Desenvolvimentista para o Serviço Social
	Tema 3
	A Reconceituação do Serviço Social: características do processo no Brasil e na América Latina
	Vídeo
	Encerramento
	Resumo da Unidade
	Referências da Unidade
	Objetivo
	Conteúdo Programático
	Tema 1
	A Dimensão Político-organizativa do Serviço Social no Movimento de Reconceituação
	Tema 2
	A experiência de Teresópolis na perspectiva modernizadora
	Vídeo
	Vídeo
	Tema 3
	A Reatualização do Conservadorismo: avanços e retrocessos
	Encerramento
	Resumo da Unidade
	Referências da Unidade
	Objetivo
	Conteúdo Programático
	Tema 1
	Avançando no movimento de conceituação
	Vídeo
	Tema 2
	A intenção de ruptura: continuações e novas expectativas
	Tema 3
	A Construção de uma Trajetória Reversa: Iamamoto e a Perspectiva Marxista
	Encerramento
	Resumo da Unidade
	Referências da Unidade

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