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CAMPUS PARQUE ECOLÓGICO CURSO DE ODONTOLOGIA DISCIPLINA DE ODONTOLOGIA LEGAL Ana Késia Almeida Edu Lourenço Glória Rodrigues Felipe Santos Jessica Estevam de Araújo Lara de Aquino Santos Letícia Monteiro da Silva Márcio Carneiro Melina Mendes Naara Vivyan Wallace Ribeiro da Costa Yasmin Leite da Silva LAUDO PERICIAL DE IDENTIFICAÇÃO HUMANA Fortaleza-CE 2023 1.1 Laudo Pericial de Identificação Humana 1.1.1 Preâmbulo No vigésimo quinto dia do mês de maio do ano de 2023, o Perito MÁRCIO CARNEIRO designado pelo MM Juiz de Direito da 18a Vara Cível da Comarca de FORTALEZA, para proceder ao exame pericial em um corpo não identificado, nos Autos do processo No: 2023.032.032678-6, descrevendo com verdade e com todas as circunstâncias, o que vir, descobrir e observar, bem como responder aos quesitos das partes. Em consequência, passa ao exame pericial solicitado, as investigações que julgou necessárias, as quais findas, passa a declarar. 1.1.2 Descrição dos Quesitos 1 - Com base no objeto da perícia, é possível identificar a idade? 2- Quais elementos identificam com mais precisão de que sexo é essa ossada? 3 - Acerca das características da ossada, é possível identificar algum trauma sofrido? 4 - No aspecto das regiões do crânio e face, há algum indicador de lesão? 5 - Acerca da arcada dentária, é possível identificar se a pessoa já foi submetida a algum tratamento odontológico? 6 - Com base em que elementos da arcada dentária é possível extrair maiores informações a respeito da identificação da ossada? 7 - É possível estabelecer-se, com certeza, a causa da morte? 8 - Quais foram os meios e métodos utilizados para realização da perícia? 9 - O laudo foi totalmente conclusivo ou existem elementos não identificáveis? 1.1.3 Histórico Em 21 de maio de 2023, tornou-se alvo do exame de perícia ossada humana, que foi encontrado na região litorânea, situada próximo à praia do porto. A ossada foi encontrada sem identificação, próximo a rochas. No corpo foi encontrado vestígios de violências por agressão física e uso de arma de fogo na região torácica. Foi realizado o levantamento perinecroscópico. As atividades de identificação de ossada humana foram iniciadas às 13h e finalizadas às 15h30min do dia 25 de maio de 2023. Posteriormente, os dados coletados foram analisados para fins de elaboração do presente laudo. 1.1.4 Descrição 1.1.4.1 Identificação da ossada Possuindo uma fundamental importância nas questões relativas à identificação da espécie humana, através de ossadas temos a clavícula, sendo exclusiva da espécie, além de sua anatomia peculiar em formato de S. 1.1.4.2 Estimativa do sexo Segundo Gardner; Gray e O’Rahill (1971), para determinar o sexo do indivíduo alguns ossos são essenciais, sendo estes na seguinte ordem: pelve e sacro, crânio, esterno, vértebra cervical (atlas) e ossos longos. Com uma quantidade considerável de ossos foi possível identificar que se tratava de uma ossada do sexo masculino devido a comparação das características presentes em ambos os sexos. Sabendo que os ossos são mais delicados no sexo feminino; as saliências e depressões são mais acentuadas no sexo masculino; foi possível identificar o forame ísquio-púbico (forame obturador) mais ovalado, característico do sexo masculino, pois o feminino tende a ser mais largo e triangular; pelve mais vertical; tubérculo púbico centralizado; sacro maior, mais estreito e mais côncavo; a grande chanfradura isquiática (incisura isquiática maior) mais estreita e com um angulo agudo, típico do sexo masculino, uma vez que no sexo feminino é mais aberta e com um ângulo quase reto; cavidade cotilóide (acetábulo) maior; glabela mais saliente, arcadas orbitárias mais acentuadas; crânio mais pesado, mais volumoso e com rugosidades, além de conter bossas e dimensões mais acentuadas que aquelas verificadas no sexo feminino. 1.1.4.3 Estimativa da idade A estimativa de idade da ossada pode ser identificada através de vários aspectos, como forma, dimensão e espessura dos ossos, bem como pelo exame das arcadas. A idade pode ser calculada pelos aspectos métricos, morfológicos e histológicos dos ossos, o fenômeno da ossificação é muito utilizado para avaliação da idade no esqueleto. É possível também estimar a idade por meio de exame dos dentes nas seguintes etapas da evolução: calcificação, rizólise, erupção e modificações dentárias tardias. Almeida Júnior e Costa Júnior (1977, p. 42). A maturação é um processo biológico contínuo e dinâmico, que se inicia na gestação e termina na morte. É pontuado por alterações visíveis na estatura, composição corporal e características sexuais secundárias, que culminam na transição da fase pré-reprodutiva para a reprodutiva do ciclo de vida humano. A maturação esquelética é reconhecida como o melhor indicador isolado do estado de maturidade, sendo considerada como um registro verdadeiro da idade biológica (CASANOVA et al., 2006). Todas as crianças iniciam com um esqueleto de cartilagem e progridem até um esqueleto totalmente ossificado quando se torna adulto. No caso dos ossos tubulares (ossos longos e curtos), a maturidade é atingida quando ocorre a completa fusão das epífises com suas diáfises correspondentes; no caso dos ossos com formato irregular, a maturidade é definida pela morfologia adulta (PINTO et al., 2017). É de senso comum que os ossos longos são aqueles onde o comprimento excede a largura e a espessura como, úmero, rádio, fêmur, tíbia e são compostos por um corpo denominado diáfise e duas extremidades geralmente articulares denominadas epífises. No interior da diáfise existe uma cavidade medular. Quando o osso está em período de crescimento, encontram-se estas epífises com estrutura cartilaginosa, sendo a parte mais larga destes ossos. Próximo à cartilagem articular, situa-se o chamado disco epifisial e, adjacente a este disco, tem-se a zona de crescimento ósseo denominada metáfise e osso recém- formado. (CASANOVA et al., 2006). Durante a análise do caso em questão foram observados alguns aspectos importantes para que se chegasse a estimativa de idade do indivíduo, foram analisados a arcada dentária completamente permanente, porém com terceiros molares ainda inclusos que nos dá uma estimativa de 17 a 21 anos para a erupção dos mesmos. Não possuía desgaste no ísquio, o que é comumente encontrado em indivíduos mais velhos. Achados das suturas cranianas ainda no processo de desenvolvimento assim como em algumas das ossadas, fazendo com que se tenha uma estimativa de idade entre 15, 16 ou 17 anos. 1.1.4.4 Estimativa da estatura Segundo Burt & Banks, a estatura pode variar com o sexo, a raça, a idade e com o biótipo, por isso, os cuidados na execução desta perícia, pois informes pouco consistentes podem levar a erros grosseiros. Entre os fatores longitudinais e transversais do crescimento humano, predominam-se os primeiros. Dessa forma, a estimativa da estatura, tradicionalmente, baseia-se na medição de ossos longos (úmero, rádio, fêmur e tíbia), utilizando-se a tábua osteométrica de Broca e a análise posterior dos dados encontrados, comparando-os com tabelas originadas de estudos específicos, como as de Étienne Rollet, Orfila, Dupertuis Hadden, Pearson, dentre outras. No caso em questão da ossada que estava sendo avaliada, foi realizado o comprimento do fêmur ao qual obteve-se (45.1 cm) e o comprimento do úmero que se obteve (31.8 cm), utilizando a tábua osteométrica e comparando-a com a tabela de Étienne Roulette. 1.1.4.5 Estimativa da raça Por esse meio pode-se identificar o tipo etinico do indivíduo. São analisados através da forma do crânio, índices cefálicos, capacidade do crânio, cabelos, envergadura, dimensões da face. Porém durante a ossada ao qual foi analisadanão foi possível a identificação racial devido a miscigenação (mistura de várias etnias). 1.1.4.6 Causa mortis e descrição da data da morte Devido à ausência de achados na ossada bem como ausência de dados da localização/ambiente em que os ossos foram encontrados, não é possível estimar a causa da morte, bem como há quanto tempo ocorreu, visto que fatores como a temperatura, umidade e oxigênio podem acelerar ou retardar o processo de decomposição. 1.1.5 Discussão O exame antropológico forense foi realizado com base em metodologias descritas na literatura nacional e internacional. Foram envolvidas análise de espécie, intervalo pós-morte, lesões traumáticas ósseas e qual sua possível relação com a causa e circunstância da morte, bem como a estimativa do perfil biológico, como sexo e idade, assim como características exclusivas para identificação do corpo. Os remanescentes ósseos sob registro LEA nº 014 foram encontrados em esqueletização completa, porém com ausência de vestes. Os processos tafonômicos que atuaram sobre a ossada limitaram algumas metodologias de extração de perfil biológico que haviam a possibilidade de ser utilizadas no presente exame, devido aos diversos processos digenéticos, nos quais possibilitaram alterações de diversos marcadores biológicos importantes para a análise. Devido à ausência de elementos repetidos, a similaridade morfométrica e relação adequada que as articulações apresentam, podemos afirmar compatibilidade com o conjunto de restos mortais pertencente a um único indivíduo. Todos os métodos importantes que foram utilizados para a estimativa do sexo, levaram para um esqueleto com características compatíveis ao sexo masculino, tendo como marcadores biológicos importantes o forame ísquio- púbico (forame obturado) mais ovalado, pelve mais vertical, tubérculo púbico centralizado, sacro maior, mais estreito e mais concavo, além de grande chanfradura isquiática mais estreita e com angulo agudo. Pode-se observar também cavidade cotilóide (acetábulo) maior, glabela mais saliente, arcadas orbitárias mais acentuadas, crânio mais pesado, volumoso e com rugosidades, além de possuir bossas mais acentuadas que as verificadas no sexo feminino. Para a estimativa de idade, foi construído um intervalo baseado na combinação de diversas técnicas. O método escolhido levou em consideração a condição de preservação do esqueleto. Através das análise da arcada dentária completamente permanente, porém com terceiros molares ainda inclusos, nos dando uma estimativa de 17 a 21 anos para a erupção dos mesmos, além de não possuir desgastes no ísquio, o que é comumente encontrado em indivíduos com idade mais avançada. Suturas cranianas ainda em desenvolvimento, bem como em algumas ossadas, fazendo com que se tenha uma estimativa de idade entre 15, 16 ou 17 anos. Quanto à estimativa de estatura foi baseado no comprimento do fêmur e do úmero, utilizando a tábua osteométrica e comparando com a tabela de Etienne Roulette. Não houve possibilidade de estimar o Intervalo Post Mortem, ou seja, tempo decorrido desde a morte e nem mesmo a causa da mesma, pois os remanescente ósseos encontravam-se esqueletizados em sua totalidade, além de terem sofrido preparação prévia. 1.1.6 Conclusões Diante do exposto, destituída de qualquer parcialidade ou interesse, a não ser o de contribuir com a verdade, podemos concluir, afirmando que, dado o estudo do processo e das diligências realizadas, estão os peritos criminais signatários do presente documento de acordo ao afirmar, que a ossada encontrada no local do crime é de um ser humano, do sexo masculino, com idade entre 15 a 20 anos, não sendo encontrado nada digno de nota em relação a “causa mortis”, sendo assim a causa da morte indeterminada ou suspeita. 1.1.7 Resposta aos Quesitos A seguir estão as respostas aos quesitos formulados. 1 - Com base no objeto da perícia, é possível identificar a idade? Através da análise da arcada dentária, desgastes ósseos e achados das suturas cranianas foi possível ser feito uma estimativa de idade, sendo estimado que a ossada em questão tinha um estimativa de idade entre 15 a 21 anos de idade. 2- Quais elementos identificam com mais precisão de que sexo é essa ossada? Através da avaliação e comparação das características de indivíduos do sexo masculino e feminino, como o estudo das saliências e depressões, pelve mais vertical, glabela mais saliente, arcadas orbitárias mais acentuadas; crânio mais pesado, mais volumoso e com rugosidades, dentre outras características, foi identificado com precisão que a ossada é do sexo masculino. 3 - Acerca das características da ossada, é possível identificar algum trauma sofrido? Não foi possível identificar nenhum trauma na ossada analisada. 4 - No aspecto das regiões do crânio e face, há algum indicador de lesão? Não foi identificado nenhum indicador de lesão na ossada analisada. 5 - Acerca da arcada dentária, é possível identificar se a pessoa já foi submetida a algum tratamento odontológico? Através da avaliação da arcada dentária, foi identificado que o indivíduo não havia sido submetido a tratamentos odontológicos. 6 - Com base em que elementos da arcada dentária é possível extrair maiores informações a respeito da identificação da ossada? Sim. Durante a análise do caso em questão foram observados alguns aspectos importantes para que se chegasse a estimativa de idade do indivíduo, foram analisados a arcada dentária completamente permanente, porém com terceiros molares ainda inclusos que nos dá uma estimativa de 17 a 21 anos para a erupção dos mesmos. 7 - É possível estabelecer-se, com certeza, a causa da morte? Não. Não houveram achados na ossada que fossem possíveis de estimar a causa da morte. 8 - Quais foram os meios e métodos utilizados para realização da perícia? 9 - O laudo foi totalmente conclusivo ou existem elementos não identificáveis? Existem elementos não identificáveis, como a estimativa do intervalo Post Mortem e a causa da morte, devido aos remanescentes ósseos encontrarem-se esqueletizados em sua totalidade, além de terem sofrido preparação prévia.