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REDAÇÃO 
APLICADA À 
COMUNICAÇÃO
Juliane do Rocio Juski
Produção textual e 
expressão oral
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar a produção de textos orais e escritos no processo 
sociocomunicativo.
  Produzir textos relacionados ao cotidiano com clareza, concisão e 
adequação à norma culta.
  Reconhecer a oralidade como forma de comunicação e as técnicas 
de apresentação e expressão oral.
Introdução
A produção de um texto envolve muito mais do que um aglomerado de 
palavras ou sentenças. Para que a produção textual ganhe sentido e seja 
passível de interpretação por parte dos leitores, é preciso que o autor 
se utilize de elementos fundamentais em sua produção, como coesão, 
coerência, clareza e concisão. Além disso, é imprescindível que conheça 
as diferentes modalidades da língua, a fala e a escrita, e os detalhes que 
diferenciam essas modalidades, para, assim, fazer construções textuais 
nos mais diferentes gêneros textuais.
Neste capítulo, você vai estudar as principais diferenças entre a pro-
dução de textos orais e escritos que compõem o processo socioco-
municativo e vai observar quais são os principais elementos de uma 
produção textual. Além disso, você vai poder refletir sobre a importância 
da oralidade como forma de comunicação.
1 Produção textual: oralidade e escrita 
Os textos se apresentam de diferentes formas e podem ser escritos ou narrados 
de forma oral. O conceito de produção textual se refere a um conjunto de teorias 
linguísticas da enunciação, que qualifi cam a língua como um fenômeno social, 
ou seja, uma forma de interação social entre os indivíduos. Nesse sentido, ao 
se produzir um texto, é necessário considerar o signifi cado daquilo que será 
expresso em palavras. Além disso, é preciso considerar o motivo daquela men-
sagem, o modo como ela será transmitida e o contexto em que será recebida. 
O texto, portanto, é o resultado de um processo comunicativo, em que os 
atores sociais interagem por meio da linguagem. Nesses momentos de interação, 
os sujeitos compreendem, concordam, discordam, interrogam e comparti-
lham significados com seus interlocutores. Mas, afinal, o que é linguagem? 
Segundo Pugliese (2010), a linguagem pode ser definida como o meio pelo 
qual os indivíduos transmitem, recebem e reconfiguram os conhecimentos e 
a sabedoria que são necessários para o desenvolvimento de suas atividades 
pessoais e profissionais.
De acordo com McLuhan (1974, p. 97 apud PUGLIESE, 2010, documento 
on-line), a linguagem está envolvida em todos os atos, objetos e ações da 
inteligência humana. “A linguagem é para a inteligência o que a roda é para 
os pés, pois lhe permite deslocar-se de uma coisa à outra com desenvoltura 
e rapidez, envolvendo-se cada vez menos. A linguagem projeta e amplia o 
homem, mas também divide as suas faculdades”. A linguagem atua, portanto, 
como o alicerce da cultura humana e o instrumento para as suas manifestações 
e o seu desenvolvimento.
Faraco e Tezza (2016, p. 9) revelam ainda que a língua está presente em todas 
as atividades humanas, desde nas suas atividades diárias e corriqueiras até 
nos discursos e nas produções literárias. “É pela linguagem, afinal, que somos 
indivíduos únicos: somos o que somos depois de um processo de conquista da 
nossa palavra, afirmada no meio de milhares de outras palavras e com elas 
compostas”. No entanto, conforme estabelecem os autores (2016), a língua é 
composta pelas modalidades falada e escrita, ou seja, a linguagem inclui as 
expressões orais e textuais. “Na verdade, a realidade primeira da língua é a 
fala, tanto na história como na nossa história pessoal. Isto é, a escrita surgiu 
depois, e fundamentada na realidade da fala” (FARACO; TEZZA, 2016, p. 9).
Língua falada
Uma confusão bastante comum é associar língua apenas à modalidade escrita. 
Conforme estabelecem Faraco e Tezza (2016, p. 104), é preciso lembrar que 
a língua utiliza dois meios de comunicação bem distintos, a fala e a escrita, 
sendo que a fala antecedeu a escrita. 
Produção textual e expressão oral2
A cultura letrada, em geral, tem uma forte tendência a confundir língua com 
representação gráfica da língua (escrita). Por força da tradição escolar e da 
própria ideia de autoridade que emana da escrita, parece-nos mesmo que a 
‘verdadeira língua’ é a escrita, sendo a fala uma espécie de subproduto dela, 
de menor importância e sem nenhum prestígio. 
Muitas vezes, esse preconceito em relação à língua falada ignora as carac-
terísticas, as peculiaridades e a espontaneidade da oralidade. A língua falada 
abrange um processo comunicativo complexo em sua totalidade, pois exige 
uma emissão e uma recepção recíprocas. Além disso, a oralidade é composta 
pelo tom de voz, por gestos e mímicas, incluindo fisionomias. Todas essas 
características formam o conjunto do processo comunicativo, que ocorre no 
momento de se dar sentido ao que está sendo falado. Na língua escrita, esses 
elementos não aparecem. 
Faraco e Tezza (2016) destacam que a língua escrita é fundamentada na 
realidade da fala. A oralidade possui tamanha importância que não apenas 
precedeu a escrita, mas serviu de base para a construção dela. Os autores nos 
auxiliam nessa compreensão, apresentando alguns exemplos para análise.
1. Eu conheço eles dês que a gente era colega de colégio.
2. Eu o conheço desde o tempo em que éramos colegas de colégio.
3. O sinhô vai armoçá gorinha memo? Não faiz mar, nóis vorta despois.
4. O senhor vai aumoçá nesse momento? Não faz mau, nós voltamos depois.
5. Vós poderíeis dizer, excelência, que estou equivocado.
6. Você podia dizê, cara, que eu errei.
7. Comprei um pacótchi di lêitchi.
8. Comprei um pacote de leite.
9. Mas tu quiria u quê?
10. Porém, tu querias o quê? (FARACO; TEZZA, 2016, p. 8–9)
Os exemplos apresentados pelos autores demonstram as diferenças de ordem 
gráfica entre a escrita e a fala. É interessante notar que, mesmo saltando aos 
olhos as grafias erradas e os erros gramaticais, é possível compreender perfei-
tamente que as frases de duas em duas possuem os mesmos significados, ora se 
apresentando de maneira extremamente formal e culta, como nos enunciados 
5 e 10, ora apresentando uma linguagem informal, como nos enunciados 6 
e 9. Já nos enunciados 3 e 7, é possível assimilar que as frases em destaque 
revelam sotaques, ou seja, variedades linguísticas com características regionais. 
É exatamente a variedade e a diversidade linguística que Faraco e Tezza 
(2016) consideram como características espetaculares da língua, em especial, 
da oralidade. “Esta é a palavra-chave para qualquer compreensão da língua, o 
3Produção textual e expressão oral
ponto de partida de nosso estudo: a variedade” (FARACO; TEZZA, 2016, p. 
10). Para os autores, a língua é um conjunto de variedades, de diferenças e de 
nuances que são construídas por meio da oralidade. A língua falada é o espectro 
da linguagem que mais proporciona diferenciação e múltiplas perspectivas de 
variantes; afinal, o sotaque, por exemplo, só é percebido por meio da fala — a 
escrita não evidencia suas diferenças. Além disso, de acordo com os autores 
supracitados (2016), a escrita, por conta de sua tradição e orientação escolar, 
constrói um imaginário como se a língua fosse, na realidade, homogênea, fixa 
e uniforme, quando ela é exatamente oposta a isso, pois é mutável, adaptável 
e heterogênea.
Os autores (FARACO; TEZZA, 2016) ainda fazem uma reflexão sobre 
as variantes linguísticas de um mesmo indivíduo. Ou seja, qualquer sujeito 
letrado, quando está em um ambiente acadêmico, por exemplo, utiliza-se de 
uma variante linguística mais próxima da língua culta, da língua formal (no 
sentido de formalizada, normatizada). O mesmo indivíduo, se está em uma roda 
de conversas com amigos, adotará outra postura linguística, mais despojada, 
mais livre. Desse modo, é possível confirmar a adaptabilidade linguística do 
sujeito; dependendo do contexto no qual ele está inserido,ele se apropria e 
ressignifica a língua de uma forma distinta.
Para tratar das variantes linguísticas, Faraco e Tezza (2016) as classificam 
em quatro tipos básicos.
1. Diferenças sintáticas: referem-se àquelas diferenças que decorrem da 
ordem das palavras na fala (ele me disse × ele disse-me) ou de diferen-
tes modos de se realizar a concordância verbal (p. ex.: tu querias × tu 
queria, ou nós estávamos × nós estava).
2. Diferenças morfológicas: referem-se àquelas variantes que decorrem 
da forma da palavra, tomada individualmente (p. ex.: vamos × vamo).
3. Diferenças lexicais: referem-se aos diferentes nomes dados a um mesmo 
objeto (p. ex.: pandorga × pipa × raia × papagaio).
4. Diferenças fonéticas: referem-se às pronúncias diferentes da mesma 
unidade sonora, sem distinção de significado (p. ex.: porta, com erre 
aspirado de um carioca × porta, com erre de um mineiro).
Essas variedades linguísticas são resultado de uma série de fatores que 
influenciam a língua. Faraco e Tezza (2016, p. 12) destacam os fatores re-
gionais, ou seja, as características fonéticas que estabelecem os sotaques 
regionalizados. “A região determina mais diretamente a pronúncia, mas tam-
bém pode diferenciar pelo vocabulário (mandioca x macaxeira) e pela sintaxe 
Produção textual e expressão oral4
(Diga-me, em Portugal × Me diga, no Brasil)”. Já os fatores sociais indicam o 
nível social do falante, a sua escolaridade e a sua relação com a escrita. “Aqui 
as distinções tocam diretamente algumas formas da língua reproduzidas 
pela escola e sustentadas pela escrita, como pontos de concordância verbal 
(nós vamos × nóis vai) ou emprego de termos estigmatizados” (FARACO; 
TEZZA, 2016, p. 12). Há também os fatores contextuais, ou seja, a situação 
da fala que envolve um conjunto de circunstâncias que cercam o momento do 
enunciado. “O mesmo falante empregará variedades diferentes da linguagem 
dependendo de onde ele está, em uma sala de aula, no campo de futebol, em 
casa, ou até da pessoa ou pessoas com quem ele está falando” (FARACO; 
TEZZA, 2016, p. 12).
Correia (2013) complementa esses fatores apresentados por Faraco e Tezza 
(2016) e aponta que as diversidades da língua ocorrem também por interferência 
dos fatores culturais, que se referem tanto ao grau de escolarização como à 
formação cultural do falante. Há também o fator profissional, ou seja, “[…] o 
exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de língua 
chamadas línguas técnicas” (CORREIA, 2013, documento on-line). Isso inclui 
a utilização de termos específicos, isto é, um vocabulário de uso restrito aos 
profissionais que pertencem àquela área de atuação. Os fatores naturais, como 
idade e sexo, segundo Correia (2013), também interferem na utilização da 
língua falada. “Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um 
adulto, daí falar-se em linguagem infantil e linguagem adulta” (CORREIA, 
2013, documento on-line).
Portanto, a fala é definida como a utilização da língua pelos indivíduos em 
seus enunciados de fala. E, apesar de ser um ato individual, seu significado 
é compartilhado e construído coletivamente, como reflexo de uma vivência 
cultural e histórica entre os sujeitos que pertencem à mesma sociedade e 
compartilham a mesma língua. 
5Produção textual e expressão oral
É importante compreender a diferença entre língua, signo e fala. A língua se refere 
ao conjunto de sinais que são compartilhados entre os indivíduos, como forma de 
estabelecer comunicação; ela pode ser observada em duas modalidades: oral e es-
crita. Já o signo é um elemento representativo, que possui duas partes indissolúveis: 
significado e significante. Ou seja, o signo é o elemento base para a construção de 
uma linguagem. Por fim, a escrita é um conjunto de sinais baseado em palavras, que 
obedecem a regras gramaticais, enquanto a fala é o uso que o indivíduo faz da língua, 
caracterizado pela criatividade, flexibilidade e liberdade de expressão.
Língua escrita
Outra manifestação da língua abordada por Faraco e Tezza (2016) é a sua 
representação gráfi ca, ou língua escrita. Os autores esclarecem que a tendência 
de considerar linguagem apenas a modalidade escrita é parte do contexto 
sociohistórico da humanidade. Ou seja, “[…] ao longo dos séculos, nós nos 
transformamos numa civilização grafocêntricas, que tem no poder da palavra 
escrita um elemento fundamental para sua sobrevivência e continuidade” 
(FARACO; TEZZA, 2016, p. 105). Com o surgimento da escrita, o modelo de 
sociedade se transformou radicalmente, e, devido à sua importância história, 
a escrita passou a ser compreendida como língua, diminuindo a importância 
da oralidade. 
Faraco e Tezza (2016) revelam alguns aspectos importantes dessa temática. 
Segundo os autores, não é apenas a linguagem escrita que vai caracterizar a 
complexidade das sociedades e de suas relações. Para exemplificar isso, os 
autores trazem dois fatos importantes, descritos a seguir.
1. Mesmo na atualidade, observando-se a realidade brasileira, por exemplo, 
é possível verificar que temos no nosso país um número enorme de 
analfabetos e semianalfabetos, o que revela que a escrita não pode ser 
considerada a única linguagem humana fundamental. As pessoas que 
não dominam suas representações gráficas encontram na oralidade sua 
principal forma de se comunicar.
2. Há diversos povos que não conhecem sistema de escrita, baseando-se 
totalmente na oralidade. E, mesmo com uma cultura completamente 
Produção textual e expressão oral6
baseada na oralidade, essas sociedades apresentam todas as característi-
cas e complexidades que qualquer outra sociedade com escrita apresenta. 
Complementando esse pensamento, os autores apontam a questão do poder 
e da discriminação:
[…] a linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a 
função referencial denotativa da linguagem não é senão uma entre outras; 
entre estas ocupa uma posição central a função de comunicar ao ouvinte a 
posição que o falante ocupa de fato ou acha que ocupa na sociedade em que 
vive (FARACO; TEZZA, 2016, p. 105). 
Valendo-se de Bourdieu, os autores citados consideram o poder da palavra 
como o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante em um ato 
linguístico.
Faraco e Tezza (2016) explicam que a escrita assumiu papel importante ao 
longo da história porque, desde seu surgimento, ela atua como uma ferramenta 
de distinção social. Seu domínio — em especial, o domínio da norma culta e 
das regras gramaticais e ortográficas — é competência dos mais letrados e com 
uma posição social mais privilegiada. Desse modo, é possível compreender por 
que a oralidade não é bem quista e a sua importância é relegada a um segundo 
plano, sendo relacionada a momentos de descontração e informalidade.
Correia (2013) destaca que a língua escrita não pode ser caracterizada 
apenas como a representação da língua falada, pois ela se apresenta sob um 
sistema mais disciplinado e rígido. Faraco e Tezza (2016) reforçam essa dife-
renciação, ao destacarem que é comum associar a escrita apenas à gramática; 
no entanto, a gramática se refere a um conjunto de regras de uso da língua. 
Essa gramática pode ser normatizada ou não. No caso do Brasil, a língua 
portuguesa apresenta uma gramática normativa, ou seja, as suas regras e os 
seus códigos de utilização são normatizados segundo um padrão, recebendo 
o nome de língua culta padrão. 
Outro aspecto específico da escrita, apontado por Faraco e Tezza (2016), 
é o conservadorismo. As mudanças que ocorrem na linguagem escrita são 
extremamente lentas, e leva muitos anos para que mudanças na oralidade, 
por exemplo, sejam incorporadas à escrita. Alguns fatores contribuem para 
esse conservadorismo da língua escrita. O primeiro fator é que a escrita se 
constrói por meio de representações gráficas, que possuem a capacidade de 
permanecer no tempo e no espaço — ou seja, ela é muito mais duradoura do 
que o som (oralidade). Além disso, essa permanência favorece o exercício do 
7Produçãotextual e expressão oral
controle social mais intenso; portanto, formatos mais inovadores encontram 
bloqueios nesse processo. O segundo fator se refere aos contextos sociais a que 
a escrita, normalmente, está associada; trata-se de ambientes mais formais, 
como trabalho ou academia. Os estudos linguísticos revelam que, nesses am-
bientes formais, há um uso preferencial de formas linguísticas conservadoras. 
Ou seja, o falante, para satisfazer suas expectativas sociais, procura evitar, 
nesses contextos, formas próprias de vernáculos. 
Portanto, cabe ressaltar que não é possível dizer que a língua escrita possui 
mais valor do que a língua falada, ou vice-versa. As duas modalidades da 
língua, oral e escrita, se complementam e se completam. A comparação entre 
fala e escrita revela apenas as especificidades de cada uma. Enquanto a fala é 
mais flexível e heterogênea, pois proporciona liberdade de escolha e múltiplas 
variações possíveis, a escrita é mais conservadora e se constrói baseada em 
um conjunto de regras e normas de utilização — a gramática.
Além disso, a oralidade não deixa de ser complexa, pois, além do som das 
palavras, há diversos elementos que compõem a comunicação por meio da 
fala, incluindo o tom de voz (entonação), os gestos, as mímicas, o olhar e, até 
mesmo, as expressões faciais. Já a escrita é mais simplória, nesse sentido, pois 
conta apenas com a representação gráfica das palavras; a sua complexidade 
consiste em apresentar um conjunto amplo e abrangente de regras, além de 
inúmeros gêneros textuais, que vão lhe conferir diversas modalidades de 
produção textual.
Assim, segundo Faraco e Tezza (2016), a oralidade carrega uma série 
de fatores que dão complexidade à linguagem oral, e todo esse conjunto de 
elementos possui impacto na forma de comunicação oral. Dentro do campo da 
pragmática, essas diferentes entonações e formas distintas de se dizer a mesma 
coisa, mas resultando em ações completamente diferentes, foram estudadas 
por Grice, que definiu as máximas conversacionais.
Máximas conversacionais
Os estudiosos do campo da pragmática defendem que, ao analisarmos um texto, 
nossa compreensão extrapola a compreensão visual. Para eles, uma produção 
textual envolve um conjunto de palavras e frases tanto com signifi cados ex-
plícitos como com signifi cados implícitos. Desse modo, para a compreensão 
total de um texto e de qualquer outra ação da língua, no contexto da oralidade, 
é necessário identifi car e compreender a enunciação em sua completude, 
envolvendo o contexto, o signifi cado explícito, o signifi cado implícito e a 
interpretação do receptor.
Produção textual e expressão oral8
A pragmática é um campo de estudo que se dedica a compreender a língua a partir 
do ponto de vista dos usuários. Para isso, os pesquisadores observam tanto as escolhas 
feitas pelo autor quanto o resultado usual da apropriação da língua em contextos de 
intenção social — ou seja, os efeitos do uso sobre outros participantes em um ato 
de comunicação.
Um dos autores que se dedicou ao estudo da conversação sob a perspectiva 
pragmática foi Grice (1957 apud LEÃO, 2013). O autor afirma que, na maioria 
dos textos, as informações são transmitidas de maneira tanto explícita como 
implícita. Nessas situações, o que o falante quer dizer vai além daquilo que 
ele diz de fato. Essa informação que o falante quer dizer para além daquilo 
que diz é o que ele sugere, indica, insinua etc. Essas sugestões, indicações e 
insinuações são identificadas pelo ouvinte/leitor, não por meio da descodifi-
cação do significado linguístico, mas por meio de inferências (GRICE, 1957 
apud LEÃO, 2013).
Para Grice (1975 apud LEÃO, 2013), em uma situação de conversação, 
os interlocutores assumem de maneira implícita um contrato conversacional, 
um conjunto de normas que regem o diálogo; Grice denominou esse conjunto 
de regras como máximas conversacionais. De acordo com Vitali e Mengarda 
(2008), as máximas conversacionais têm como base a interação, a comunicação 
e o princípio cooperativo entre falante e ouvinte, e é por meio desse princípio 
que é possível direcionar o processo comunicativo.
Segundo Leão (2013), o princípio cooperativo é definido por Grice como 
a situação em que o locutor dá a sua contribuição conversacional tal como 
requerida, no momento esperado, de acordo com o propósito do diálogo ou com 
o rumo que ele tomou durante a troca verbal em questão (GRICE, 1957, apud 
LEÃO, 2013). Esse princípio se divide em quatro subprincípios, apresentados 
como máximas conversacionais, listadas a seguir. 
  Máxima da quantidade:
 ■ faça com que a sua contribuição seja tão informativa quanto o 
necessário;
 ■ não faça a sua contribuição mais informativa do que o necessário. 
  Máxima da qualidade:
9Produção textual e expressão oral
 ■ tente fazer com que a sua contribuição seja verdadeira;
 ■ não diga aquilo que acredita ser falso;
 ■ não diga aquilo para o que não possui evidência suficiente. 
  Máxima da relação:
 ■ seja relevante. 
  Máxima do modo:
 ■ seja claro;
 ■ evite obscuridade de expressão;
 ■ evite a ambiguidade;
 ■ seja breve;
 ■ seja organizado. 
É importante destacar, conforme aponta Leão (2013), que essas máximas 
conversacionais são um contrato preexistente entre locutor e receptor; ou seja, 
não necessitam ser explicitadas e acordadas previamente, por já fazerem parte 
de um contrato comunicativo. Os interlocutores já presumem que as pessoas 
com quem vão dialogar, normalmente, vão construir uma conversa com a 
quantidade apropriada de informações, para manter uma conversa coerente, vão 
falar a verdade e serão relevantes naquilo que se propõem a dialogar, fazendo 
isso de maneira coerente e com clareza. É importante observar, ainda, que 
essas máximas conversacionais também são princípios aplicados ao contexto 
da produção textual. Ou seja, as máximas de Grice são importantes para 
observar como se dá a construção de sentido e significado no contexto tanto 
da oralidade como da escrita.
2 Produção textual e norma culta
No campo da comunicação, o texto é a base fundamental das atividades, 
seja no jornalismo, nas relações públicas ou na publicidade. Tudo o que é 
realizado nas atividades de comunicação envolve texto, seja de maneira direta 
ou indireta. Nesse contexto, é essencial compreender e dominar as técnicas 
para uma produção textual que seja coerente e de acordo com a norma culta.
O primeiro aspecto de um texto é que ele se origina da reunião de palavras. 
Essa organização forma sentenças, as sentenças formam parágrafos, e os pa-
rágrafos formam textos completos ou até capítulos de livros. No entanto, essa 
aglomeração de palavras não deve acontecer aleatoriamente; é preciso coesão 
e coerência na produção textual. Ou seja, é preciso que essa organização e essa 
junção das palavras sigam uma lógica, tenham concordância entre si e apresen-
Produção textual e expressão oral10
tem uma harmonia, resultando em um enunciado de informações passíveis de 
serem interpretadas por outras pessoas. Vejamos a seguir quais são os principais 
aspectos que devem ser considerados em uma produção textual coerente.
Coesão e coerência textual
Correia (2013) destaca que o texto é produzido por meio da organização 
de palavras, que se unem umas às outras no intuito de formar uma frase 
adequadamente. As sentenças ou frases formam uma oração, e as orações 
formam períodos. 
Essa união ou ligação entre os elementos de um texto deve apresentar um 
sentido lógico, coerente; para isso é necessário observar as relações semân-
ticas existentes entre eles. Na verdade, há uma relação de dependência entre 
os termos e as orações que se estabelece pela coordenação ou subordinação 
das ideias (CORREIA, 2013, documento on-line).
Além disso, a autora enfatiza que um texto, para se caracterizar como uma 
produção bem construída e coesa, deve utilizar as regras gramaticais no interior 
das sentenças de forma adequada. Essas regras auxiliam a proporcionar coesão 
e coerência às frases.Elementos como conjunções, pronomes, preposições 
e advérbios são essenciais para deixar um texto mais harmônico e facilitar 
sua compreensão. As conjunções, por exemplo, auxiliam na interpretação de 
uma explicação ou de uma sentença que apresenta fato e consequência. Já os 
pronomes indicam sobre quem está se referindo a informação apresentada, sem 
a necessidade de se repetir a todo instante o nome do sujeito. Já as preposições 
auxiliam na conexão entre as palavras e as frases, auxiliando na construção 
do sentido e da coerência textual.
Segundo Correia (2013, documento on-line), “[…] se esses elementos de 
ligação forem mal-empregados, o texto não apresentará noção de conjunto, 
ou ainda, sua linguagem se tornará ambígua e incoerente”. A coesão textual 
se refere à forma ou à organização de um texto. Ela é construída por meio de 
procedimentos gramaticais, isto é , pela escolha dos conectivos mais adequados 
para a conexão dos diversos enunciados que compõem um texto. Por sua vez, 
conforme estabelece Correia (2013), a coerência textual é resultado de uma 
relação harmoniosa entre os pensamentos ou as ideais apresentadas pelo autor 
de um texto sobre determinado assunto. Refere-se, assim, ao conteúdo desse 
texto, que é apresentado por meio de uma sequência ordenada e lógica de 
opiniões e informações expostas. 
11Produção textual e expressão oral
Importância da coesão e da coerência textual
Para que um texto seja compreendido, é preciso que suas informações sejam organiza-
das de tal modo que o leitor interprete as informações ou a história exposta de forma 
linear, sem confusões ou ambiguidades de interpretação. Para isso, os elementos de 
coesão e coerência são essenciais. Veja um exemplo de como a coesão e a coerência 
podem gerar confusão se não forem adequadamente empregadas.
1. Carlito partiu no barco verde. O barco era longo e forte. Carlito 
parou perto da árvore. Era tarde, e Carlito dormia. Acordou e co-
meu carne de carneiro. “Que calor! Vou nadar!" (POSSENTI, 2002, 
p. 114–115).
Na sentença 1, há elementos que não apresentam coerência, ou seja, não seguem 
uma construção lógica de uma ideia. A principal inconsistência se refere ao fato de o 
personagem Carlito estar em um barco, navegando, e comer carneiro. Ou seja, falta 
algo para dar sentido e esclarecer as informações apresentadas. A inclusão de coesão 
e coerência no enunciado proporciona facilidade na compreensão do sentido textual.
2. Carlito partiu em um barco verde, que era longo e forte. O menino 
avistou uma árvore e parou perto dela. Ficou tarde, e Carlito acabou 
adormecendo. Quando acordou, o menino sentiu-se com fome e uma 
vontade de comer carne de carneiro. Mas, como carneiro não dá na 
água, o menino decidiu nadar para amenizar o calor que sentia (POS-
SENTI, 2002, p. 114–115).
Esses exemplos reforçam a importância da coerência e da coesão. Ou seja, 
para ser compreendido e interpretado, um texto precisa ser construído com 
articulação das ideias, com lógica e raciocínio — ou seja, seu conteúdo precisa 
ser coerente. A coesão é o aspecto que organiza as estruturas gramaticais 
de acordo com as regras linguísticas. Ou seja, para compreender um texto, 
é preciso se atentar à concordância, ao uso adequado dos elementos, como 
conjunções, preposições, advérbios e demais elementos que vão compor as 
estruturas frasais, além do emprego adequado do vocabulário.
Na construção de um texto, assim como na fala ou na conversação, utilizam-
-se diversos mecanismos para garantir a compreensão por parte do interlocutor.
Produção textual e expressão oral12
Esses mecanismos linguísticos que estabelecem a conectividade e a retomada 
do que foi escrito/dito são os referentes textuais e buscam garantir a coesão 
textual para que haja coerência, não só entre os elementos que compõem a 
oração, como também entre a sequência de orações dentro do texto (CORREIA, 
2013, documento on-line).
Nesse sentido, ao se empregarem diferentes mecanismos linguísticos, sejam 
eles lexicais (repetição, substituição, associação) ou gramaticais (pronomes, 
conjunções, numerais, preposições, advérbios), eles auxiliam a ordenar as ideias 
e as informações nas frases, oferecendo suporte para a organização coerente e 
coesa de um texto. Por coesão, entende-se a ligação, ou seja, a relação causal 
entre os elementos que compõem uma estrutura textual.
Concisão
Segundo Correia (2013), a conciso é o texto que consegue transmitir o máximo 
de informações com o mínimo de palavras. Ou seja, a concisão pode ser des-
crita basicamente como a economia linguística. No entanto, conforme alerta a 
autora, isso não signifi ca economia de pensamento, mas, sim, a construção e a 
organização textual que é objetiva e sucinta, sem se estender ou “enrolar”. A 
concisão se trata, portanto, de excluir palavras sem necessidade, redundâncias 
e passagens que não acrescentam ao objetivo do texto. 
Outro aspecto a que se refere a concisão textual é a hierarquia de infor-
mações. Para Correia (2013, documento on-line), “[…] deve-se perceber a 
hierarquia de ideias que existe em todo texto de alguma complexidade: ideias 
fundamentais e secundárias”. Em uma produção textual adequada, as infor-
mações secundárias são utilizadas com o intuito de esclarecer o sentido das 
informações principais, detalhando-as ou exemplificando-as. Desse modo, as 
ideias secundárias que não complementem o texto ou as informações principais 
podem ser dispensadas. 
Clareza
De acordo com Correia (2013, documento on-line), a clareza deve ser uma 
qualidade básica de qualquer produção textual. “Claro é aquele texto que 
possibilita imediata compreensão pelo leitor. A clareza não é algo que se 
atinja por si só: ela depende estritamente das demais características da redação 
ofi cial”. Nesse sentido, a clareza pode ser compreendida como um elemento 
complementar da coesão e da coerência. Afi nal, um texto que se apresente 
13Produção textual e expressão oral
de forma coerente e coesa, consequentemente, será de fácil compreensão e, 
portanto, terá clareza textual.
Correia (2013) destaca algumas dicas de como tornar uma produção textual 
mais compreensível. Confira a seguir.
  Impessoalidade: construir um texto que não expresse o ponto de vista 
do sujeito evita duplicidades de interpretação, que poderão ocorrer 
devido ao tratamento personalista dado ao texto.
  Norma culta: o uso do padrão linguístico seguindo a norma culta, em 
princípio, propicia um entendimento mais abrangente e generalista, uma 
vez que, ao se evitar o uso de vocábulos com circulação restrita a um 
determinado segmento, gírias e jargões, o texto será mais facilmente 
compreendido por um número maior de pessoas.
  Formalidade: além do uso da norma culta padrão, que auxilia na 
compreensão textual, ao se utilizar uma linguagem mais formal e res-
peitar os padrões de estilo para cada gênero textual, tende a ser mais 
fácil compreender o conteúdo exposto. Utilizar uma linguagem mais 
informal, dependendo do contexto em que a produção textual está 
sendo redigida, faz com que os leitores fiquem confusos com relação às 
informações e à veracidade delas. Além disso, normalmente, a lingua-
gem informal tende a ser utilizada em momentos mais descontraídos 
ou carregados de humor.
  Padronização: possibilita a uniformização dos textos, apresentando 
certa previsibilidade em seu conteúdo. 
  Concisão: somada aos outros elementos, a concisão auxilia na com-
preensão e na clareza textual, uma vez que apresenta as informações 
e os argumentos de forma coerente e objetiva, retirando os excessos 
linguísticos que, normalmente, dificultam a compreensão. 
  Revisão: o último aspecto a ser considerado, segundo Correia (2013), é 
a releitura e revisão final do texto redigido, para se atentar aos demais 
pontos, corrigir possíveis desvios e erros gramaticais ou reelaborar frases 
e sentenças que não possuem coesão e coerência. Essa releitura e revisão 
garante que os demais aspectos da clareza textual sejam aplicados.Cacofonia
A cacofonia, segundo Correia (2013), é um vício de linguagem resultante 
da junção entre o fi nal de uma palavra e o início de outra. De origem grega, 
a palavra cacofonia signifi ca som ruim ou som desagradável. Nesses casos, 
Produção textual e expressão oral14
geralmente, o som produzido pelas palavras soa estranho ou cômico. Embora 
esses encontros de sons geralmente ocorram sem intencionalidade, eles também 
podem ser utilizados de maneira intencional, para fi ns humorísticos, ou para 
produzir duplos sentidos em músicas ou poemas. 
Esse fenômeno linguístico, apontado pela autora (2013) como um vício de 
linguagem, é mais evidente na fala do que na escrita; no entanto, a caracteri-
zação desses sons ocorre principalmente na linguagem escrita. Caracterizada 
pela junção de sons entre palavras, a cacofonia pode resultar em um efeito 
de sentido diferente daquele incialmente pretendido pelo falante e, em casos 
mais graves, pode produzir sentidos inconvenientes e, até mesmo, obscenos.
Para evitar a cacofonia e o duplo sentido intencional, é preciso conhecer 
os principais exemplos de cacófatos que se apresentam na língua portuguesa. 
Cabe ressaltar que a listagem a seguir apresenta as cacofonias mais encontra-
das em produções textuais dos mais variados gêneros, porém, as cacofonias 
não se limitam a esses exemplos, já que há uma série de sons e palavras que 
originam cacófatos. 
  Nosso hino nacional é bonito.
  Cobramos por cada laranja.
  Vou-me já.
  Na vez passada você fez isso.
  Um guri lá do meu bairro.
  Eu tenho pouca fé nele.
  Eu vi ela na rua.
  A Justiça pôs a culpa nela.
  Ela tinha pouco juízo na cabeça.
  Mandou-me colocar uma mão na cabeça.
  Nunca beijei a boca dela.
  Correu tudo bem, já que tinha esperanças de vê-la.
15Produção textual e expressão oral
Cacofonia intencional
A cacofonia pode ser uma estratégia linguística utilizada para criar duplo sentido e 
produzir uma segunda mensagem, oculta. Um exemplo clássico desse uso é uma 
performance realizada pelos artistas brasileiros Chico Buarque de Holanda e Caetano 
Veloso, na gravação da música “Você Não Entende Nada/Cotidiano”. Eles conseguiram 
driblar a censura da ditadura militar à época, a partir da união de duas canções, uma de 
cada artista. Segundo a historiadora Priscila Correa (CAPELAS, 2011, documento on-line):
[…] juntas, as canções mostram a indignação da classe média dentro 
do contexto da Sociedade do Espetáculo, falando de sua realidade 
maçante e opressora. “Cotidiano” lida com uma visão do coletivo, 
enquanto “Você Não Entende Nada” traça um olhar acerca da indivi-
dualidade, dialogando com desejos de consumo, falando de Coca-Cola, 
por exemplo.
Ouça “Você Não Entende Nada/Cotidiano”, de Caetano Veloso e Chico Buarque, e 
compreenda melhor a cacofonia. 
3 Oralidade
Conforme já apresentado no início do capítulo, a língua possui duas mo-
dalidades: fala e escrita. A fala é a primeira expressão da língua, ou seja, 
a oralidade se confi gura como a primeira organização humana em função 
da comunicação. Segundo Pugliese (2010), a oralidade se refere à forma de 
linguagem mais básica do homem e se constrói por meio de duas tipologias 
distintas: a oralidade primária e a oralidade secundária. O autor explica que 
a oralidade primária está associada às culturas orais, ágrafas, ou seja, aquelas 
culturas que não possuem escrita ou representação gráfi ca de suas línguas e, 
portanto, são classifi cadas como sociedades não letradas de cultura oralista.
Ainda de acordo com Pugliese (2010), nessas comunidades, os signos 
comuns da voz são compreendidos pelos membros do grupo, e é por meio 
deles que as pessoas se comunicam e apreendem os significados. Além disso, 
nessas comunidades, a cultura também é transmitida por meio oral, princi-
palmente por meio de narrativas, mitos e contação de histórias. E, para que o 
Produção textual e expressão oral16
conhecimento seja disseminado e não seja esquecido, frequentemente, esses 
conhecimentos são contados ou repetidos em voz alta.
Lévy (1997) também aborda a importância da oralidade nas comunidades 
não letradas. Para o autor, é por meio da oralidade que os ritos e mitos folcló-
ricos são retidos e transmitidos de geração em geração, por meio de rodas de 
contação de histórias. Segundo Lévy (1997, p. 3): 
Nas sociedades orais, as mensagens linguísticas eram sempre recebidas no 
tempo e no lugar em que eram emitidas. Emissores e receptores partilhavam 
uma situação idêntica e, em geral, um universo análogo de significado. Os 
atores da comunicação estavam embebidos no mesmo banho semântico, no 
mesmo contexto, no mesmo fluxo vivo de interação.
Esse pensamento de Lévy destaque que, tanto nas comunidades que se 
baseiam na oralidade como naquelas que se constroem por meio da escrita, é 
preciso que haja um compartilhamento dos signos e significados. Isso porque 
é por meio desse compartilhamento de sentido que ocorrerá o processo de 
comunicação. Como aponta Pugliese (2010), a coerência das mensagens será 
construída por meio da unidade de sentidos que existe na consciência daqueles 
que compartilham a mesma lógica de acontecimentos.
Na narração de histórias, por exemplo, a interpretação dessa história 
acontece de maneira subjetiva, e cada sujeito vai imaginar e interpretar uma 
história de acordo com suas habilidades e sua bagagem cultural. Porém, em 
uma sociedade oralista, essas construções de significados são mais próximas, 
uma vez que a bagagem cultural dos sujeitos é bastante similar. Além disso, 
“[…] as sociedades orais são constituídas de gente diferenciada, não por 
suas habilitações especializadas ou sinais visíveis, mas por suas singulares 
misturas emocionais” (MCLUHAN, 1974, p. 69 apud PUGLIESE, 2010, do-
cumento on-line). Portanto, a oralidade primária vai qualificar e compreender 
as culturas das sociedades que são desprovidas do conhecimento de qualquer 
forma de escrita.
Já a oralidade secundária identifica as sociedades que possuem um sistema 
de escrita, mas também utilizam a oralidade como modalidade linguística. 
Atualmente, esse é o principal modelo encontrado nas sociedades humanas. 
Para Pugliese (2010), até hoje, a linguagem oral é a nossa principal forma de 
comunicação; isso porque essa linguagem carrega um aspecto efetivo, que 
tem a capacidade de aproximar e relacionar os sujeitos, resultando em maior 
fixação das informações. Um exemplo disso são os espaços de ensino, nos 
17Produção textual e expressão oral
quais professores e alunos usam preferencialmente a fala como recurso para 
interagir, e, na maioria dos casos, o aluno é quem menos se expressa. 
No ambiente escolar, são produzidas narrativas orais de maneira mais 
simplória e inconsistente, visando ao armazenamento das informações trans-
mitidas, acreditando-se, assim, que a fixação mnemônica produza efetivamente 
aprendizado. De acordo com Pugliese (2010), a sociedade oral aposta, portanto, 
na memorização, na repetição e na continuidade como formas de compreensão 
de seus conteúdos. Assim, a oralidade secundária define a sociedade atual. 
Ela se caracteriza pela combinação dos elementos da oralidade primária 
acrescidos dos fatores que caracterizam as culturas que possuem e utilizam 
a linguagem escrita.
CAPELAS, B. Historiadora analisa conexões da obra de Caetano Veloso e Chico Buarque. 
2011. Disponível em: https://www5.usp.br/3472/estudiosa-analisa-conexoes-da-obra-
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CORREIA, A. Comunicação oral e escrita aplicada. 2013. Disponível em: http://www.ifcur-
sos.com.br/sistema/admin/arquivos/17-36-14-ap0stilac0municaca00raleescritaaplicada.
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FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prática de texto para estudantes universitários. Petrópolis: Vozes, 
2016. (Coleção Série Manuais).
LEÃO, L. B. C. Implicaturas e a violação das máximas conversacionais: uma análise do 
humor em tirinhas. Working Papers em Linguí stica, v. 15, nº. 1, jan./mar., 2013. Disponívelem: https://periodicos.ufsc.br/index.php/workingpapers/article/download/1984-
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LÉVY, P. A globalização dos significados. Folha de São Paulo, 1997. Disponível em: https://
www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/12/07/mais!/4.html. Acesso em: 1 abr. 2020.
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e escritos. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUL, 9., 2008, 
Produção textual e expressão oral18
Guarapuava. Anais eletrônicos [...]. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/
regionais/sul2008/resumos/R10-0382-1.pdf. Acesso em: 16 abr. 2020.
Leituras recomendadas
GRICE, H. P. Utterer’s meaning and intentions. The Philosophical Review, v. 78, nº. 2, 
p. 147–177, abr. 1969. Disponível em: http://williamstarr.net/teaching/speech_acts/
Grice-1969-Utterers_Meaning%E2%80%93and_Intentions.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 
1964.
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19Produção textual e expressão oral

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