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Acumulação capitalista e questão social Aula 6: Pro�ssional de Serviço Social – classe trabalhadora Apresentação Nesta aula, estudaremos sobre a pro�ssão de Serviço Social pertencente à classe trabalhadora, entenderemos suas limitações, mas também a autonomia que envolve o fazer pro�ssional. Também analisaremos a relação da práxis nos campos de atuação, ou seja, a relação entre a teoria e a prática na escolha da instrumentalidade pro�ssional do Assistente Social, frente às mudanças do padrão de acumulação e regulação social. Objetivos Descrever o trabalho do pro�ssional de Serviço Social; Explicar a evolução histórica do Serviço Social diante do sistema capitalista e da questão social; Identi�car a limitação da atuação pro�ssional de Serviço Social, sua autonomia e a relação da práxis para criação de instrumentalidade. Surgimento do Serviço Social Para iniciarmos nossa aula, vamos conhecer um pouco da história do surgimento do Serviço Social no Brasil. Clique nos botões para ver as informações. O Serviço Social surge no Brasil na década de 1930, tendo como referência o Serviço Social europeu. Em 1932, numa conjugação de esforços entre a burguesia e a Igreja Católica, cria-se o Centro de Estudos e Ação Social em São Paulo (CEAS), desempenhando o papel de quali�car os agentes para realização da prática social. O Serviço Social no Brasil teve seu início nas décadas de 1930 e 1940, quando se formaram as primeiras escolas de Serviço Social em São Paulo e no Rio de Janeiro. A linha de pensamento para as ações pro�ssionais baseava-se no assistencialismo, como promoção à permanência do capitalismo monopolista e o desenvolvimento industrial, estabelecendo uma atuação imediatista e acrítica. Década de 1930 Nos anos 1940, o contexto de bipolarização ideológica (capitalismo versus socialismo), além do Welfare State e o modelo fordista de produção pressionaram o Estado a uma nova postura, exigindo o controle, o consenso e coesão entre as classes, o que as impedia de manifestar-se. Nesta perspectiva de ação é que os assistentes sociais acabavam reproduzindo uma ação conservadora, por meio de ações psicologizantes, dando, assim, maior ênfase e fortalecimento às instituições assistenciais. Década de 1940 Nos anos 1950, surge o método de desenvolvimento de comunidade, conhecido como DC, que tinha como proposta a não resolutividade imediata da situação problema, mas que pretendia envolver a participação dos grupos comunitários na execução dos projetos e atividades. Porém, não havia participação da comunidade na elaboração e nas decisões dessas ações de implementação de trabalhos comunitários. O que era executado pela comunidade era a vontade do governo e não a do povo. Este modo de condução da sociedade fez com que o Serviço Social buscasse um tipo ideal, um padrão de fundo ético-moralizante para o trabalhador e para a sociedade. As ações eram, então, de ajustamento do indivíduo à ordem capitalista hegemônica, que se dava nas formas de trabalho, no qual o homem corresponderia a um ser além do fator biológico e também um ser social, que, através das relações que estabelece com a natureza e com os outros homens, poderia fortalecer suas potencialidades emancipadoras. O trabalho no mundo capitalista é alienante e atribui ao homem uma forma mercantil, ou seja, possui valor de uso e de troca, conhecido também como o fetiche das mercadorias e do trabalho. Para Marx: O trabalho é o fundamento ontológico-social do ser social; é ele que permite o desenvolvimento de mediações que instituem a diferencialidade do ser social em face de outros seres da natureza. As mediações, capacidades essenciais postas em movimento através de sua atividade vital, não são dadas a ele; são conquistadas no processo histórico de sua autoconstrução pelo trabalho. São elas: a sociabilidade, a consciência, a universalidade e a liberdade. (BARROCO, 2003, p. 26) A sociedade capitalista, em suas formas de alienação do cotidiano, esconde suas contradições, individualiza e desumaniza o homem, impedindo a efetivação dos valores humano-genéricos. Esta forma de alienação deixa o homem sem ação, estático perante os acontecimentos. Sem criticidade, ele desconhece as mediações que o cercam e sua capacidade criativa livre. Neste contexto, a categoria pro�ssional promoverá encontros importantes com o propósito de re�etir e discutir sobre a teorização e a metodologia do Serviço Social. Década de 1950 O Serviço Social, em meados da década de 1960, inicia vários questionamentos sobre as formas de burocratização no Serviço Social, principalmente por sua atuação não ser correspondente à cultura e às necessidades regionais brasileiras, além das teorias que o fundamentavam para este tipo de metodologia, que era voltada para o Positivismo. Década de 1960 Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade 1. Para entender a gênese do Serviço Social, é fundamental identi�car quando essa área de conhecimento surgiu. Assinale a opção que apresenta o período correto de sua criação, associado à correspondente fundamentação teórica: a) 1930 e 1940, cuja base era o assistencialismo. b) 1920 e 1930, cuja base era o cooperativismo. c) 1950 e 1960, cuja base era o humanismo. d) 1960 e 1970, cuja base era o socialismo. e) 1910 e 1920, cuja base era a filosofia cristã. Avanço da construção da pro�ssão de Serviço Social O Movimento de Reconceituação, com início em 1965, representa um processo que foi um marco inarredável e incontornável para a história do Serviço Social como pro�ssão, trazendo características heterogêneas e contraditórias. O início desse movimento buscava a autocrítica, isto é, criar questionamentos societários em um embate com a tradicionalismo pro�ssional incorporado à pro�ssão, mas que já não bastava (NETTO, 2005). Esse movimento não foi unitário, nem homogêneo, teve início em função de suas gêneses sociais diferenciadas e construídas ao longo da história. Os fatores determinantes para o Movimento de Reconceituação são os contextos sociais, econômicos e políticos, assim como a vinculação intelectual e política por parte de seus autores. Também há matrizes teóricas e societárias adversas ao movimento, que se moldam como uma unidade repleta de diversidades (IAMAMOTO, 2001). Por graphixmania / Shutterstock. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A transição entre as décadas de 1960 e 1970 foi palco de muitas críticas ao Serviço Social tradicional, que era considerado como uma prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada por uma postura ética liberal- burguesa, com um ponto de vista funcionalista. Vários fatores determinaram a busca pela ruptura. Podemos apontar os seguintes: 1 Revisão crítica operada nas fronteiras das ciências sociais Culminando com a deslegitimação do que, até então, era tido como a fundamentação cientí�ca do Serviço Social: Psicologia e Sociologia. 2 Deslocamento sociopolítico de instituições Cujas vinculações com o Serviço Social são notórias: as igrejas. 3 O movimento estudantil Cujo protagonismo foi decisivo na crítica ao tradicionalismo no Serviço Social. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Saiba mais Leia a práxis do/a assistente social e a materialização do projeto ético-político na sociedade capitalista. Atividade 2. Quando entendemos a construção da nova forma de organização de trabalho, vimos que a sociedade capitalista desumaniza o homem, impedindo a efetivação de seus valores: a) Gerais. b) Sociais. c) Morais. d) Éticos. e) Genéricos. javascript:void(0); Instrumentalidade pro�ssional Os pro�ssionais de Serviço social têm como objetivo criar sua própria identidade pro�ssional, ou seja, sua �nalidade para a sociedade e resultados pro�ssionais no exercício pro�ssional que gera com sua instrumentalidade – algo que vai muito além das ferramentas necessárias à atuação pro�ssional. Vamos analisar a estrutura do termo instrumentalidade:Observamos que o su�xo idade está relacionado a capacidade, qualidade ou propriedade sobre a ação. A instrumentalidade é parte de uma aptidão própria da pro�ssão de Serviço Social, ou seja, é o fazer pro�ssional em sua dimensão de autonomia, construída e reconstruída histórica e socialmente relacionada à práxis e à ética. Ela traz para a realidade pro�ssional em seu cotidiano, no exercício da pro�ssão, uma forma de ser que lhe confere entendimento sobre a responsabilidade de sua ação pro�ssional nas relações sociais, no entendimento entre as condições objetivas e subjetivas, que são construídas no contato com a realidade. Saiba mais Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que assista ao �lme: ELEFANTE Blanco = ELEFANTE Branco. Direção: Pablo Trapero. Espanha: Paris Filmes, 2012. 105 min, son., color. Con�ra o Trailer. O �lme demonstra a realidade em que pro�ssionais como os assistentes sociais enfrentam em seu cotidiano de práticas interventivas e vivem em constantes con�itos contra o que acreditam que devem fazer e ao poder público as demandas. Desta forma, pensar a instrumentalidade no exercício pro�ssional e ter contato com as propriedades sócio- históricas da pro�ssão possibilitam entender as demandas e o alcance de objetivos dessa ação. Assim, a pro�ssão é reconhecida socialmente: na autonomia eu me encontro e realizo, e também me encontro com as condições dadas na realidade dos desa�os e das superações em que as condições materiais do trabalho vão ao encontro dos sujeitos, das suas escolhas, das suas competências quanto seu aparato teórico e prático para ação. Por Africa Studio / Shutterstock. Assim, quando altera o cotidiano das camadas da sociedade em que atua, o pro�ssional tem o poder de modi�car, alterar as condições, os meios e os instrumentos existentes para transformação daquela realidade, convertendo-se em condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos que culminaram nessas ações. javascript:void(0); É, portanto, o pro�ssional de Serviço social que tem a escolha de sua instrumentalidade e pode criar intencionalidade em respostas pro�ssionais em sua ação, por meio das quais podem transformar as relações interpessoais e sociais. Dessa forma, no mesmo momento em que o pro�ssional tem poder de criar e buscar a transformação pelos meios/instrumentos de sua ação para uma objetivação das intencionalidades do fazer/agir, constrói suas ações com instrumentalidade. É a condição que atende a uma sociedade, ou seja, não são modelos prontos, fabricados, ela é feita por cada sujeito social em sua construção histórica e aprofundamento com a práxis. Por �m, a assistência é uma mediação fundamental para o exercício pro�ssional. Assim, cabe ao assistente social ser o intermediador direto das necessidades dos usuários por serviços assistenciais. Também cabe a ele dar respostas por meio de componentes socioeducativos endereçados a esses usuários. Nesse sentido, volta à tona a autonomia relativa do assistente social, pois esse pro�ssional depende dos interesses das instâncias empregadoras (IAMAMOTO, 2008). Por Andrii Yalanskyi / Shutterstock. Há a realidade de que assistentes sociais trabalham mais com a concessão de benefícios do que com a viabilização de direitos, somado a estratégias discriminatórias, seletivas e meritocracias, vigentes em algumas políticas sociais. Esse é um limite da pro�ssão a ser superado. O assistente social é reconhecido como o pro�ssional da assistência e participa, junto a outros pro�ssionais da reprodução social das classes subalternas. O campo de trabalho dos assistentes sociais confere à administração e à execução de ações assistenciais, um espaço capital. Sobre o caráter político do trabalho dos assistentes sociais, Yasbeck (1999, p. 96) menciona: "[...] assumir essa vinculação histórica com a assistência é condição para que os assistentes sociais superem a ideologia do assistencialismo e avancem nas lutas pelos direitos sociais." Desta forma, o pro�ssional de Serviço Social não atua isolado e em campo contrário aos aspectos sociais e políticos. Assim, a sua instrumentalidade como processo de mediação é fundamental para permitir o desenvolvimento de ações instrumentais para o exercício pro�ssional crítico, criativo e competente. É exatamente nesse espaço que a cultura pro�ssional mostra toda sua trajetória. Nesse sentido, ele permite que a instrumentalidade como processo de mediação faça o movimento da práxis, dando voz às teorias para ter suas ações pautadas em a�rmações explicativas da lógica e da dinâmica da sociedade. Dessa forma, o agir pro�ssional se remete à compreensão das particularidades do exercício pro�ssional e das singularidades do cotidiano em vários campos de atuação e articulação que o assistente social se encontra. Agora, vamos entender um pouco mais sobre a metodologia pro�ssional do assistente social. Metodologia da pro�ssão de Serviço Social Clique no botão acima. A pro�ssão de Serviço Social constrói a sua história e se posiciona ao encontro de recolher a cultura pro�ssional e construir um novo caminho pela sua instrumentalidade, pelos indicativos teórico-práticos de intervenção imediata, que denominamos de instrumental- técnico, ou seja, as metodologias para seu agir pro�ssional. Em pleno exercício pro�ssional, o assistente social se vê frente ao acervo ideocultural disponível nas Ciências Sociais, estudo e aprofundamento do entendimento da sociedade e sua construção. O pro�ssional, com a análise marxista, se adapta aos objetivos pro�ssionais e a todo histórico de mudanças da sociedade, o que requer muito senso crítico e ético, pois deve buscar a construção de um certo modo de fazer que lhe é próprio, saindo do senso comum e do processo de alienação para que a pro�ssão se torne reconhecida socialmente, valorizada em todas as classes sociais, diretamente pelo seu modo de criar a instrumentalidade. A pro�ssão deve ter um projeto ético e político a�rmativo, de direitos e com objetivos claros. Esta instrumentalidade permite que os sujeitos invistam na criação e na articulação dos meios e instrumentos necessários à consecução das suas �nalidades pro�ssionais e reconheçam-na como totalidade constituída de múltiplas dimensões: • Técnico-instrumental; • Teórico-intelectual; • Ético-política; • Formativa. Essa instrumentalidade corresponde a uma particularidade para um campo de mediações que porta a capacidade de articular as dimensões citadas e de ser o conduto pelo qual tais dimensões se traduzam em respostas pro�ssionais em sua ação (GUERRA, 2002). Saiba mais Leia sobre a instrumentalidade do processo de trabalho do serviço social: por uma práxis ascendente à razão instrumental. Atividade 3. Sobre a instrumentalidade pro�ssional, é correto a�rmar: a) Todo profissional usa a mesma instrumentalidade. b) Todo profissional cria sua instrumentalidade para atender ao Estado. c) A instrumentalidade é o aporte teórico da profissão. d) A instrumentalidade é própria de cada profissional. e) A instrumentalidade foca em uma ação assistencialista. Notas Referências BARROCO, M. L. S. Não passarão! Ofensiva neoconservadora e Serviço Social. In: Serviço Social & Sociedade, v. 124, p. 623-636, 2015. Disponível em: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282015000400623&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 6 jun. 2019. BARROCO, Maria Lucia S. Re�exões sobre liberdade e (in)tolerância. In: Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 119, p. 468- javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); 481, 2014. Disponível em: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282014000300004&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 06 jun. 2019. BARROCO, M. L. S. Ética, direitos humanos e diversidade. In: Presença Ética, v. 03, p. 15-28, 2003. GUERRA, Y. Novas perspectivas de atuação pro�ssional: o per�l do pro�ssional hoje. In: Revista Construindo o Serviço Social. Instituto de Pesquisas e Estudos da Divisão do Serviço Social, Instituição Toledode Ensino, Bauru, 2002. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação pro�ssional. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2008. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação pro�ssional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001. MIRANDA, A. P. R.; CAVALCANTI, P. B. O Serviço Social e sua ética pro�ssional. In: Revista Ágora: Políticas Públicas e Serviço Social, ano 1, n. 2, jul. 2005. NETTO, J. P. O movimento de reconceituação: 40 anos depois. In: Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano 26, n.84, p. 5-20, 2005. YASBECK, M. C. Os fundamentos do Serviço Social na contemporaneidade. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social: Módulo 4: O trabalho do assistente social e as políticas sociais. Brasília: UNB, Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância, 2000. YASBECK, M. C. O Serviço Social como especialização do trabalho coletivo. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social: Módulo 2: O trabalho do assistente social e as políticas sociais. Brasília: UNB, Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância, 1999. Explore mais Leia o livro: GUERRA, Y. A instrumentalidade do Serviço Social. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2018. javascript:void(0);
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