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EM_V06_FILOSOFIA PROFESSOR

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Livro do Professor
Filosofia
Volume 6
©Editora Positivo Ltda., 2015
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
(Maria Teresa A. Gonzati/CRB 9-1584/Curitiba, PR, Brasil)
Presidente: Ruben Formighieri
Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos
Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior
Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto
Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy
Autoria: Lidiane Grutzmann; reformulação dos originais de Michele Czaikoski Silva
Supervisão Editorial: Jeferson Freitas
Edição de Conteúdo: Lysvania Villela Cordeiro (Coord.) e Michele Czaikoski Silva
Edição de Texto: Kathia Gavinho Paris
Revisão: Chisato Watanabe e Willian Marques
Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka 
Edição de Arte: Cassiano Darela
Projeto Gráfico: YAN Comunicação
Ícones: ©Shutterstock/ericlefrancais, ©Shutterstock/Myvector, ©Shutterstock/Macrovector, 
©Shutterstock/Goritza, ©Shutterstock/style-photography e ©Shutterstock/Chalermpol
Imagens de abertura: ©Shutterstock/Arthimedes e ©Shutterstock/Stokkete
Editoração: Rosemara Aparecida Buzeti
Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão) e Júnior Guilherme Madalosso
Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz
Produção
Editora Positivo Ltda.
Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário
80440-120 – Curitiba – PR
Tel.: (0xx41) 3312-3500
Site: www.editorapositivo.com.br
Impressão e acabamento
Gráfica e Editora Posigraf Ltda.
Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC
81310-000 – Curitiba – PR
Tel.: (0xx41) 3212-5451
E-mail: posigraf@positivo.com.br
2018
Contato 
editora.spe@positivo.com.br
Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.
G893 Grutzmann, Lidiane.
Filosofia : ensino médio / Lidiane Grutzmann ; reformulação dos originais de Michele 
Czaikoski Silva. – Curitiba : Positivo, 2015.
v. 6 : il.
Sistema Positivo de Ensino
ISBN 978-85-467-0246-6 (Livro do aluno)
ISBN 978-85-467-0247-3 (Livro do professor)
1. Filosofia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Silva, Michele Czaikoski. II. Título.
CDD 373.33
06
Sumário
Ética: da Modernidade à atualidade ............. 4
Dever e lei moral: imperativo categórico ........................................................ 5
Utilitarismo e cálculo ético ............................................................................. 7
Transvaloração................................................................................................ 10
Existencialismo ............................................................................................... 13
Banalidade do mal ......................................................................................... 18
Ética discursiva ............................................................................................... 21
Cuidado de si .................................................................................................. 23
Direitos humanos ........................................................................................... 24
Princípio de igualdade .................................................................................... 25
Acesse o livro digital e 
conheça os objetos digitais 
e slides deste volume.
Ética: da Modernid
ade 
à atualidade 
Ponto de partida 
06
1. Quando está na internet, você se sente livre para dizer algo que não diria pessoalmente? Por quê?
2. Você sabe distinguir “liberdade de expressão” de “discurso de ódio”? 
3. A liberdade de expressão deve ser considerada uma questão ética? Por quê?
1
©Shutterstock/Ollyy
4
Nesta unidade, você conhecerá reflexões modernas e contemporâneas sobre a natureza da ação 
ética, seus fundamentos e seu alcance. Elas poderão ajudar você a encontrar as próprias respostas a 
questões éticas da atualidade.
odernas e contemporâneas sobre a natureza da ação
erão ajudar você a encontrar as próprias respostas a
Anteriormente, você verificou que, na Antiguidade grega, os filósofos entenderam a busca do bem como reali-
zação da própria natureza humana, marcada pela racionalidade. Logo, para eles, agir bem significava agir conforme 
a razão. Por isso, as teorias éticas desenvolvidas nesse período são consideradas racionalistas. Na Idade Média, a 
tendência racionalista continuou predominante; no entanto, a fé também passou a ser vista como fundamento da 
ação moralmente correta. Além disso, a influência cristã fez com que a busca por uma vida ética tomasse como 
modelo a santidade personificada por figuras de destaque no contexto religioso, cujas afirmações adquiriram um 
peso de autoridade.
No pensamento moderno, as teorias filosóficas apontaram novos fundamentos para a ação ética, como o dever 
e a utilidade. Ainda assim, de modo geral, predominou a tendência racionalista, abalada somente pelo pensamento 
contemporâneo. Afinal, a Ética contemporânea desenvolve suas reflexões considerando acontecimentos recentes 
e de grandes consequências para a humanidade, como as duas guerras mundiais, as crises políticas, as mudanças 
culturais e o desenvolvimento de tecnologias de intenso impacto sobre o comportamento humano e sobre a vida. 
Sendo assim, a Ética tematiza a liberdade e a responsabilidade dos indivíduos em um mundo complexo, globalizado 
e marcado por contradições, as quais os ideais modernos de racionalidade e moralidade não conseguiram evitar ou 
solucionar.
Dever e lei moral: imperativo categórico
Uma das teorias éticas mais importantes da Modernidade foi elaborada por Immanuel Kant no século XVIII. A obra 
desse filósofo abrangia diversas áreas da Filosofia; no âmbito da Ética, ele se dedicou à busca de fundamentos univer-
sais para a moralidade, o que o levou a defender uma perspectiva racionalista.
Kant avaliava o ser humano como mau por natureza, embora também identificasse nele uma disposição primitiva 
para o bem. Ressaltava que, muitas vezes, as pessoas se mostram insaciáveis e não medem consequências para satis-
fazer ambições e usufruir de prazeres egoísticos, submetendo-se a inclinações 
não racionais, como paixões, impulsos, apetites e fúrias. Ele considerou esses 
comportamentos ao refletir sobre a liberdade. 
Kant concluiu que os atos movidos pela submissão da vontade às inclina-
ções não poderiam ser vistos como ações livres, nem como ações morais, pois as 
causas dessas inclinações seriam externas ao sujeito. Mas, graças à racionalidade, 
a vontade humana seria capaz de escolher aquilo que a razão classificasse como 
bom, superando as determinações externas. Sendo assim, o filósofo julgava que 
somente a razão poderia guiar o ser humano de acordo com uma norma obje-
tiva, oferecendo um fundamento universal para a moralidade e conduzindo a 
uma Ética formal, ou seja, caracterizada por uma norma que deveria ser cumpri-
da por todos os indivíduos e 
em qualquer circunstância. 
Afinal, apenas a razão teria 
a capacidade de impor leis 
a si mesma e escolher se-
gui-las. 
RETRATO de Immanuel Kant. [17--].
 A Ética de Kant caracteriza-se pela 
busca de fundamentos universais para 
a ação moral.
2 Informações sobre o pensamento de Kant e orientações didáticas.
No pensamento de Kant, uma norma objetiva 
é uma lei universal, ao contrário de uma norma 
subjetiva (individual).
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Nesse contexto, Kant apontou a existência de leis obrigatórias para se alcançarem determinados fins, chamadas 
de imperativos hipotéticos, e de leis caracterizadas por terem a si mesmas como fins, denominadas imperativos 
categóricos. De acordo com essa classificação, ele apresentava a lei moral como um imperativo categórico, afir-
mando que a ação moral não teria outra finalidade senão o dever, ou seja, a necessidade de se respeitar a própria lei 
moral e, portanto, de se agir em conformidade com a razão. 
Segundo Kant, agir por dever seria a única maneira de nos tornarmos sociáveis e, por consequência, seres com mora-
lidade. Além disso, o filósofo entendia a obediência ao dever como a maior expressão de nossa liberdade, uma vezque, 
para ele, o exercício da racionalidade era a condição necessária para a liberdade. Portanto, o ser humano seria livre somente 
quando agisse por dever, seguindo o caráter necessário da razão, em vez de se submeter à variedade das inclinações. Assim, 
conquistaria a autonomia da razão agindo de acordo com as leis que escolheu seguir, em vez de ser dominado por princípios 
exteriores a si mesmo. 
Além disso, no pensamento kantiano, o imperativo categórico para a ação 
moral (a lei moral) consistia em somente seguir máximas que o agente pudesse 
admitir como leis universais, observando o ser humano sempre como um fim, 
nunca como um meio – ou seja, agir sempre do mesmo modo esperado de 
todos numa situação semelhante.
No pensamento de Kant, máxima é uma 
regra subjetiva (individual), ao contrário da 
lei, que é objetiva (universal).
Ora, todos os imperativos ordenam de modo hipotético ou categórico. Os hipotéticos representam a ne-
cessidade prática de conseguir uma ação possível como meio para algo diverso que se quer (ou que, enfim, 
possivelmente se queira). O imperativo categórico seria aquele que representa uma ação como objetivamente 
necessária por si mesma, sem relação com outro fim. [...]
Finalmente há um imperativo que, sem pôr no fundamento como condição qualquer outro objetivo a ser 
alcançado mediante uma certa conduta, ordena imediatamente essa conduta. Este imperativo é categórico. Ele 
não diz respeito à matéria da ação e ao que deve seguir-se dela, mas à forma e ao princípio do qual ela mesma 
decorre, e o essencialmente bom da ação consiste na disposição, seja qual for o seu resultado. Este imperativo 
pode chamar-se de imperativo da moralidade. [...]
O imperativo categórico é pois um só, e em verdade este: age somente de acordo com aquela máxima, pela 
qual possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal.
Ora, se desse imperativo único podem deduzir-se, como a partir de seu princípio, todos os imperativos do 
dever [...]. 
Visto que a universalidade da lei, segundo a qual os efeitos ocorrem, constitui aquilo que propriamente 
se chama de natureza no sentido mais universal (segundo a forma), isto é, a existência das coisas na medida 
em que é determinada segundo leis universais, assim o imperativo universal do dever poderia também ser do 
seguinte teor: age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se mediante tua vontade a lei universal da 
natureza.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 5. 
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 120-123.
Para ler e refletir
Leia o trecho a seguir, retirado da obra de Kant, no qual o filósofo apresenta a sua formulação para o imperativo 
categórico da moralidade.
6 Volume 6
3 Orientações sobre as atividades.
1. Selecione, em jornais ou revistas, imagens de situações atuais em que o ser humano seja tratado como meio e não 
como fim. Reflita a respeito dessas situações e produza um texto explicando como elas contrariam o imperativo cate-
górico da moralidade proposto por Kant. 
2. Pesquise e registre o significado atual da expressão “discurso de ódio”.
3. Conforme o pensamento de Kant, você diria que o discurso de ódio pode ser considerado um ato imoral ou um exem-
plo de exercício da liberdade de expressão? Por quê?
2
Sugestão de atividade: questão 1 da seção Hora de estudo.
Utilitarismo e cálculo ético 
A valorização da racionalidade e a aspiração por liberdade são características importantes da Idade Moderna – século 
XV ao XVIII. Nesse período, marcado pelo Iluminismo, a razão foi frequentemente apontada como o único meio para 
alcançar a verdade, o progresso e a liberdade. 
Nesse contexto, o pensamento kantiano apontou o dever como fundamento da ação moral. Outros pensadores, 
porém, voltaram as atenções para o conceito de valores morais. Entendendo valor como aquilo que é digno de pre-
ferência, eles destacavam a importância de comparar possíveis ações a fim de optar por aquela que se mostrasse mais 
adequada a cada circunstância. Para guiar esse tipo de escolha, era preciso adotar como referência valores morais – 
como bem, justiça, liberdade, felicidade –, organizando-os em uma escala de prioridades. Isso poderia ajudar em situa-
ções caracterizadas como dilemas éticos. Por exemplo, o de um jovem dividido entre cuidar da família ou apresentar-se 
como voluntário em uma guerra. A solução desse dilema, gerado pelo confronto entre o amor filial e o patriotismo, 
dependeria da decisão do que seria prioritário na escala de valores do jovem.
Nesse novo contexto, merece destaque o utilitarismo, uma corrente de pensamento que subordinava o conceito 
de ação moral às suas consequências práticas. O utilitarismo baseava-se no princípio de utilidade para avaliar o caráter 
moral de uma ação. Esse princípio destacava como valor máximo a felici-
dade geral, ou seja, o bem-estar do maior número possível de pessoas. 
O utilitarismo nasceu no século XVIII, com o francês Claude-Adrien 
Helvétius e o inglês Jeremy Bentham, sendo desenvolvido no século XIX 
pelo inglês John Stuart Mill. Essa corrente filosófica originou-se de es-
tudos políticos e econômicos, o que resultou na proposta de cálculos 
para se avaliar a moralidade no agir. Esses cálculos deveriam considerar 
as consequências das ações para escolher sempre aquelas que se mos-
trassem úteis e benéficas para o maior número possível de pessoas. 
Segundo essa perspectiva, a distinção entre o certo e o errado de-
pendia de calcular os benefícios resultantes de cada ação possível. Isso 
exigia que, mesmo desejando a própria felicidade, o utilitarista se per-
guntasse, em cada contexto, que ação era capaz de promovê-la para um 
maior número de pessoas. 
Em parceria com a disciplina de História, aprofunde a reflexão sobre a valori-
zação da racionalidade e a aspiração por liberdade na perspectiva iluminista.
Reflexão em ação
PICKERSGILL, Henry William. Jeremy Bentham. 1875. 1 óleo sobre tela, 
color., 204,4 cm × 138,4 cm. National Portrait Gallery, Londres.
 O filósofo inglês Jeremy Bentham foi um dos principais representantes 
da Ética utilitarista, desenvolvida entre os séculos XVIII e XIX.
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Filosofia 7
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 23-24.
Método para medir uma soma de prazer ou de dor
Se, por conseguinte, quiseres fazer uma avaliação exata da tendência geral de qualquer ato que afeta os 
interesses de uma coletividade, procede da seguinte maneira.
Começa por qualquer das pessoas cujos interesses parecem mais afetados pelo ato e procura fazer uma 
apreciação dos seguintes elementos:
1. o valor de cada prazer distinto que se manifesta como produzido pelo ato na primeira instância;
2. o valor de cada dor distinta que se manifesta como produzida pelo ato na primeira instância;
3. o valor de cada prazer que se manifesta como produzido pelo ato após o primeiro prazer. Isto constitui 
a fecundidade do primeiro prazer e a impureza da primeira dor;
4. o valor de cada dor produzida pelo ato após a primeira. Isto constitui a fecundidade da primeira dor e 
a impureza do primeiro prazer.
5. Soma todos os valores de todos os prazeres de um lado, e todos os valores de todas as dores do 
outro. O balanço, se for favorável ao prazer, indicará a tendência boa do ato em seu conjunto, com 
respeito aos interesses desta pessoa individual; se o balanço for favorável à dor, indicará a tendência 
má do ato.
6. Faze uma avaliação do número de pessoas cujos interesses aparecem em jogo e repete o processo acima 
descrito em relação a cada uma delas. Soma depois os números que exprimem os graus da tendência 
boa inerente ao ato, com respeito a cada um dos indivíduos em relação ao qual a tendência do ato é boa 
em seu conjunto. Ao depois, faze o mesmo com respeito a cada um dos indivíduos em relação ao qual 
a tendênciado ato é má em seu conjunto.
Feito isso, procede ao balanço. Este, se for favorável ao prazer, assinalará a tendência boa geral do ato, em 
relação ao número total ou à comunidade dos indivíduos em questão. Se o balanço pesar para o lado da dor, 
teremos a tendência má geral com respeito à mesma comunidade.
Para ler e refletir
No texto a seguir, Jeremy Bentham descreve o método utilitarista para avaliar a moralidade de uma ação por meio 
da aplicação de certos critérios para medir a quantidade e o alcance de prazeres ou dores.
Além disso, considerando que as consequências de uma ação justificavam os meios utilizados para alcançá-las, o 
agente deveria ser capaz de aceitar moralmente a infelicidade de alguns, inclusive a própria, desde que ela garantisse 
a felicidade da maioria. Assim, o utilitarismo considerava justo o sacrifício de uma minoria quando ele pudesse garantir 
a felicidade geral.
As críticas mais frequentes ao utilitarismo, também conhecido como consequencialismo, têm sido as seguintes:
 • permite atos considerados imorais por outras correntes filosóficas;
 • nem sempre há tempo de prever as consequências de uma ação; 
 • a previsão das consequências de uma ação é falível – nem sempre a felicidade prevista é concretizada.
4 Informações para a leitura do texto.
8 Volume 6
Troca de ideias 
1. Com base na leitura do texto anterior, discuta com os colegas as questões a seguir.
a) É possível calcular todos os prazeres e as dores decorrentes de uma ação?
b) Em sua opinião, a felicidade da maioria é um bom critério para avaliar a moralidade de uma ação? Por quê?
2. Imagine uma ação de seu interesse, mas que possa repercutir sobre a vida de outras pessoas. Para avaliar a mora-
lidade dessa ação, procure analisá-la considerando os seis passos do método proposto por Bentham. Em seguida, 
compartilhe com os colegas as dificuldades encontradas e diga se você conseguiu, ou não, avaliar a moralidade da 
ação por meio desse método.
O panoptismo
O pensador Jeremy Bentham acreditava que a felicidade geral resultava da obediência do cidadão ao Estado, uma 
vez que a desobediência às leis instaurava insegurança. Por isso, essa rebeldia devia ser fortemente combatida. Sendo 
assim, ele defendia o princípio de vigilância e fiscalização. Segundo tal princípio, os cidadãos deveriam ser observados 
em suas ações cotidianas para que se comportassem bem e não cometessem erros. 
Com base nisso, Bentham desenvolveu o conceito de panoptismo – expressão que pode ser traduzida como 
“visão total” – e que resultou em um projeto arquitetônico arredondado, concebido para favorecer a vigilância de pes-
soas. Denominado panóptico, esse tipo de construção 
poderia ser utilizado para abrigar diferentes instituições, 
como presídios, manicômios, fábricas, escolas e outros, 
facilitando a circulação dos responsáveis por vigiar e 
fiscalizar as ações de presidiários, pacientes internados, 
operários, estudantes, etc. 
De acordo com a Ética utilitarista, o panoptismo era 
uma medida moralmente correta, já que, do ponto de 
vista econômico, a vigilância custaria menos do que a 
punição, além de gerar mais segurança e produtividade, 
contribuindo para o bem-estar geral. Um operário, por 
exemplo, pensaria duas vezes antes de descumprir uma 
ordem ou negligenciar seu trabalho, caso ele soubesse 
que estaria sendo observado. 
 Atualmente, em especial nas grandes cidades, estamos sujeitos aos princípios do panoptismo. Por exemplo, quando 
somos vigiados por câmeras de segurança em supermercados, shoppings ou outros espaços públicos. Reflita sobre essa 
realidade e responda às questões a seguir. 
1. Como você se sente ao saber que está sendo observado (vigiado) por uma câmera de segurança? Por quê?
2. Você considera esse tipo de monitoramento uma garantia de segurança ou uma violação do direito à privacidade? Explique 
sua resposta.
Reflexão em ação
Pessoal.
Pessoal.
 Construção que se caracteriza como panóptico.
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5 Orientações didáticas.
Filosofia 9
ConexõesConexões
Com base na leitura do texto e da tira a seguir, responda às questões propostas. 
A ditadura da utilidade
A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem que ter um para quê [...]. Porque 
tudo tem que dar lucro. Há trezentos anos, pelo menos, a ditadura da utilidade é unha e carne com o lucrocen-
trismo de toda essa nossa civilização. E o princípio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo 
crer que a própria vida tem que dar lucro. Vida é o dom dos deuses, para ser saboreada intensamente... 
LEMINSKI, Paulo. A arte e outros inutensílios. Folha de S.Paulo, São Paulo, 18 out. 1986. Ilustrada, p. 92. (primeira aula do curso “Poesia 5 
lições”, ministrado por Leminski na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, 20 out. 1986).
WATTERSON, Bill. Calvin e Haroldo: e foi assim que tudo começou. São Paulo: Conrad Brasil, 2007. p. 74.
a) É possível estabelecer alguma relação entre o princípio de utilidade, que fundamenta a Ética utilitarista, e a ditadura 
da utilidade criticada no texto? Justifique sua opinião.
b) Relacione a cena da tira à crítica apresentada no texto.
Transvaloração
A obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, produzida no fim do século XIX, é considerada o grande marco da 
transição entre o pensamento moderno e o contemporâneo. No campo da Ética, esse pensador propôs uma severa 
crítica à moral fundamentada na supremacia da razão e no controle dos desejos. 
Decidido a questionar os valores morais defendidos pela tradição racionalista, como o bem e o mal, Nietzsche 
buscou a origem deles a fim de mostrar que não eram absolutos e eternos, mas intencionalmente forjados no decorrer 
do tempo. Esse procedimento ficou conhecido como “genealogia da moral” e resultou na transvaloração, ou seja, em 
uma inversão radical dos valores da tradição cristã e racionalista. Ao realizá-la, 
o filósofo pretendia submeter a moral à vida, à natureza, e não o contrário. 
Seu pensamento foi marcado por uma defesa contundente da força vital do 
ser humano como o único valor absoluto, acreditando que as proibições e os 
limites morais impostos pela perspectiva racionalista enfraqueciam a natureza 
humana. Opondo-se a isso, Nietzsche definia a liberdade como manifestação 
do aspecto dionisíaco da existência, marcado por elementos vitais, como o 
desejo e as paixões. Portanto, acreditava que condená-los ao domínio da razão 
seria o mesmo que negar a vida e a natureza.
Relembrando os deuses gregos Apolo e Dio-
nísio, Nietzsche dividia a existência em dois 
aspectos: o apolíneo, marcado por ordem, 
razão, controle das emoções; e o dionisíaco, 
marcado por desmedida, força e paixões. Na 
Ética, ele contrastava o aspecto apolíneo das 
normas morais e o aspecto dionisíaco dos 
impulsos vitais.
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Informações sobre o pensamento de 
Nietzsche.
6 Sugestões de respostas.
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10 Volume 6
Para Nietzsche, tudo o que existe seria dotado de impulsos que agem e se rela-
cionam entre si, de modo diferente a cada momento. De acordo com esse ponto de 
vista, o impulso criador – a vontade de potência – faria surgir novas formas a todo 
instante. Esse impulso não era atribuído apenas ao ser humano, mas a toda natureza. 
Segundo ele, o mundo apresentava-se em eterna mutação, em um movimento pe-
rene, pois, a cada mudança, seguia-se outra, infinitamente. Nesse contexto, o filósofo 
defendia a moral dos fortes, voltada à afirmação 
dos instintos e, principalmente, à conservação 
da vida em seu estado atual e no caráter de luta 
permanente. 
Na Antiguidade, Aristóteles entendeu a vontade como responsável pelo meio-termo moral, responsabilizando-a 
pelo controle e pela medida das paixões para se agir conforme a razão. Essa tendência permaneceu entre a maioria 
dos filósofos até a Modernidade. Entretanto, Nietzsche contestou a separaçãoentre a vontade e as paixões, propondo 
o conceito de vontade de potência. 
Segundo ele, a vontade de potência deveria ser entendida como um impulso fundamental que tem na própria vida, 
e não na racionalidade, a sua causa. Ele a considerava um impulso alegre, de desejo e aceitação da vida em todos os seus 
aspectos, inclusive os de dor e luta. Reconhecia a força e o instinto como elementos vitais e entendia os valores morais 
como criações humanas que não deveriam ser considerados transcendentes e eternos. Além disso, defendia a vida como 
o valor fundamental, questionando toda moral que se opusesse à vontade de potência, por meio da transvaloração.
Conceito
RETRATO de Friedrich Nietzsche. 1875. 
 Nietzsche distinguiu dois tipos de moral: 
a dos nobres, característica dos fortes, 
e a moral de escravos (ou de rebanho), 
característica dos fracos.
Moral nietzschiana
Ao refletir sobre a moral, Nietzsche questionou a origem dos conceitos de bem e mal, assim como os critérios 
utilizados para avaliar as atitudes humanas e até as próprias pessoas como “boas” ou “más”. Afirmou que o sentido eti-
mológico (original) da palavra bom equivalia aos conceitos de nobre, forte, aristocrático. 
Sendo assim, ele não definia o bem como bondade ou benevolência, mas como nobreza, excelência e força de 
quem fosse capaz de amar a vida, independentemente de como ela se apresentasse. De acordo com essa perspectiva, 
o que a moral tradicional designava como o bem, ele definia como fraqueza, afirmando que as pessoas não podiam 
ser consideradas iguais em termos de força. Para ele, os fortes (verdadeiramente bons) não conheciam angústia, medo, 
remorso, humildade ou inveja. Por outro lado, os fracos (supostamente bons) viviam de ressentimentos, preconceitos, 
covardia e inveja em relação à verdadeira força, desenvolvendo estratégias para dominá-la. 
Uma dessas estratégias, baseada no temor à vida, seria a invenção de outra vida após a morte como recompensa 
pelo sacrifício dos impulsos vitais. Segundo Nietzsche, essa atitude contrastava com a do homem nobre, o além do 
homem, que, espelhando-se no ideal guerreiro das antigas tragédias gregas, afirmaria sempre a sua força, recebendo 
com alegria e coragem o próprio destino. Portanto, o indivíduo verdadeiramente forte seria aquele que não negasse a 
vida, que não submetesse os seus instintos em favor de “outra realidade” (como a vida após a morte), por não precisar 
desse recurso, aceitando a transitoriedade da vida e o seu caráter de jogo. 
Nietzsche costuma ser classificado como um filósofo antirracionalista, em razão da crítica mordaz de sua obra ao ra-
cionalismo moderno, o qual é caracterizado pela busca da verdade e da moral absolutas. Segundo o filósofo, essa busca 
serviu apenas para erguer a moral dos fracos e ressentidos, ou seja, dos que temem a vida, o corpo, o desejo, as paixões. 
Nietzsche também a definia como moral de rebanho ou de escravos, assim designando os que ele julgava renunciarem 
à verdadeira liberdade ética, submetendo-se ao dever por temerem reconhecer as diferenças entre os homens.
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Filosofia 11
persuasão: convencimento pelo discurso.
anarquistas: partidários do anarquismo, contrários à existência de governos e autoridades.
Ele afirmava, ainda, que o indivíduo 
sob o domínio da moral dos fracos teme a 
solidão, sentindo-se impotente sem a ex-
plicação e o sentido que o grupo oferece à 
sua realidade. Sendo refém da obediência, 
ele sente necessidade da paz do “rebanho”, 
da resposta da massa e do pressuposto da 
felicidade eterna. Longe de sua moral, o 
homem fraco não sabe quem é. Sujeitado, 
rende-se e passa a formular as regras mo-
rais que apregoam a igualdade no lugar 
da singularidade, o rebaixamento no lu-
gar da grandeza, a banalidade no lugar da 
criatividade e a escravidão em detrimento 
da força e a obedecer a elas. Assim, diluído 
na coletividade, nivelado sob a igualdade, 
o homem moderno teme a si mesmo e 
foge para a proteção do “rebanho”.
MAUVE, Anton Rudolf. O retorno do rebanho. 1886-1887. 1 óleo sobre tela, color., 
102,54 cm × 161,41 cm. Museu de Arte da Filadélfia, Filadélfia.
 Para Nietzsche, aquele que se guia pela moral de fracos age como um animal 
que permanece no rebanho, em decorrência dos sentimentos de identificação e 
segurança que o grupo lhe proporciona.
Para ler e refletir
No texto a seguir, Nietzsche fala sobre a necessidade de submeter a moral tradicionalmente aceita a uma reflexão 
crítica e problematizar sua origem e seus valores.
Até agora, foi sobre bem e mal que pior se meditou: foi sempre um assunto perigoso demais. A consciência, 
a boa reputação, o inferno, em certas circunstâncias a própria polícia, não permitiam e não permitem nenhu-
ma imparcialidade; em presença da moral, justamente, como em face de toda autoridade, não se deve pensar e 
muito menos falar: aqui se – obedece! Desde que há mundo, nenhuma autoridade ainda teve boa vontade para 
se deixar tomar como objeto de crítica; e criticar logo a moral, tomar a moral como problema, como problemá-
tica: como? isso não era – isso não é – imoral? – Mas a moral não tem somente autoridade sobre toda espécie 
de intimidação [...]; sua segurança está ainda mais em uma certa arte de enfeitiçamento, de que ela entende 
– ela sabe “entusiasmar”. [...] A moral entende, justamente, desde antiguidades, de tal [...] arte de persuasão; 
não há nenhum orador, ainda hoje, que não buscasse seu auxílio (ouça-se, por exemplo, nossos anarquistas 
falarem: como falam moralmente para persuadir. Acabam por chamar a si próprios, ainda, “os bons e justos”). 
NIETZSCHE, Friedrich. Aurora: pensamentos sobre os preconceitos morais. São Paulo: Nova Cultural, 2005. p. 137-138.
 Com base no texto, cite casos atuais em que a moral é utilizada como argumento para persuadir as pessoas a favor 
de indivíduos e condutas, cuja moralidade mereceria um exame mais aprofundado.
Pessoal. Por exemplo, os discursos de lideranças políticas, especialmente em períodos eleitorais ou diante de denúncias de corrupção; de
lideranças religiosas, cuja ambiguidade de objetivos seja apontada; de celebridades; de empresários e de outras pessoas públicas.
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12 Volume 6
ConexõesConexões
1. Nietzsche propôs a expressão “moral de rebanho” para designar o comportamento de quem, desprovido de autono-
mia, reproduz o comportamento do grupo sem ser capaz de analisar criticamente suas ações. Diante dessa definição, 
a disseminação dos discursos de ódio via internet pode ser considerada um comportamento de rebanho? Por quê?
2. Leia atentamente o trecho retirado de uma das obras de Nietzsche. 
− Do mesmo modo que um leitor de hoje não lê todas as palavras (ou muito menos sílabas) de uma página 
– em vez disso tira, de vinte palavras, mais ou menos cinco ao acaso, e “advinha” o sentido que supostamente 
compete a essas cinco palavras −, tampouco vemos uma árvore exata e completamente, tendo em vista folhas, 
ramos, cor, figura; é-nos tão mais fácil fantasiar um mais ou menos de árvore. Mesmo em meio às mais raras 
vivências, fazemos ainda o mesmo: inventamos a maior parte da vivência e dificilmente somos coagidos a 
não contemplar como “inventores” algum evento. Isto tudo quer dizer: estamos, desde o fundamento, desde 
antiguidades – habituados a mentir. Ou, para exprimi-lo de modo mais virtuoso e hipócrita, em suma, mais 
agradável: somos mais artistas do que sabemos. […]
NIETZSCHE, Friedrich. Para além de bem e mal. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 60.
a) Sintetize as afirmações do texto em uma frase.
Muitos julgamentos não se baseiam em uma análise rigorosa da realidade, mas na imaginação das pessoas que os proferem.
b) Relacione a frase que você registrou na questão anterior aos discursos de ódio divulgados com frequência nos 
meios de comunicação e, em especial, atualmente na internet.
Esses discursos são construídos com base em análises parciais e superficiais da realidade.Sua repercussão acaba influenciando 
indivíduos que começam a reproduzi-los de modo que as opiniões expressas passam a ser consideradas verdadeiras, não por se 
adequarem à verdade, mas pelo grande número de pessoas que as defendem. Daí a importância de analisar as fontes, verificando a 
confiabilidade das informações.
QUAL É O SIGNIFICADO 
DA VIDA?
POR QUE AS DORES, 
CONTRADIÇÕES E 
INCERTEZAS FAZEM 
PARTE DA VIDA?
Existencialismo
A Ética contemporânea contempla as reflexões desen-
volvidas a partir do século XX, as quais, por sua vez, abor-
dam questões atuais que interferem até mesmo na vida cotidiana. Para 
iniciar o estudo de algumas delas, leia as perguntas ao lado. Elas estão 
diretamente relacionadas a uma corrente de pensamento contemporânea 
denominada existencialismo. 
O existencialismo surgiu na primeira metade do século XX e investiga 
o sentido da existência humana, refletindo a respeito de temas como a 
finitude, a angústia e o desespero vivenciados nas situações-limite que nos 
confrontam com o absurdo e a irracionalidade. Seus representantes veem 
o ser humano como um ser inacabado, livre para construir a própria essên-
cia e, ao mesmo tempo, responsável por aquilo que se tornará.
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POR QUE VOCÊ EXISTE 
ASSIM, E NÃO DE 
OUTRO MODO?
8 Orientações didáticas e sugestão de resposta.
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Filosofia 13
ConexõesConexões
No livro Memórias do subsolo, o escritor russo Fiódor Dostoiévski apresenta um personagem imerso em um drama 
existencial: ele não consegue encontrar um sentido para a própria existência. Leia um trecho dessa obra.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Memórias do subsolo. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2000. p. 31.
Oh, se eu não fizesse nada unicamente por preguiça! Meu Deus, como eu me respeitaria então! Respeitar- 
-me-ia justamente porque teria a capacidade de possuir em mim ao menos a preguiça; haveria, pelo menos uma 
propriedade como que positiva, e da qual eu estaria certo. Pergunta: quem é? Resposta: um preguiçoso. Seria 
muito agradável ouvir isto a meu respeito. Significaria que fui definido positivamente; haveria o que dizer de 
mim. “Preguiçoso!” realmente é um título e uma nomeação, é uma carreira. Não brinqueis, é assim mesmo. Seria 
então, de direito, membro do primeiro dos clubes, e ocupar-me-ia apenas em me respeitar incessantemente. [...] 
E eu poderia, neste caso, escolher uma carreira para mim: seria preguiçoso [...], não do tipo comum, mas, por 
exemplo, dos que comungam com tudo que é ‘belo e sublime’. Que tal? Há muito que isto me vem à mente.
1. Você já se questionou sobre o sentido de sua existência? Explique sua resposta.
2. O narrador do texto aprecia a possibilidade de ser definido como um preguiçoso. Diante disso, você o considera pes-
simista ou otimista? Explique sua resposta.
Jean-Paul Sartre
O filósofo Jean-Paul Sartre tornou-se um dos principais representantes do pensamento existencialista. Ele afirmava 
que “o existencialismo é um humanismo”, ou seja, uma corrente de pensamento que privilegia o ser humano ao reco-
nhecer sua natureza específica, marcada pela finitude, mas também pela liberdade. 
Sartre distinguia o ser humano das coisas por meio de sua relação específica com a existência (o fato de existir) e com 
a essência (o conceito de algo, o que ele é em si mesmo). Afirmava que a essência das coisas precede a sua existência, 
pois elas não existem antes de seu conceito, ou seja, antes de serem pensadas por alguém. Contudo, a existência de um 
ser humano precede a própria essência, pois nenhum conceito pode definir o que ele virá a ser, antes que exista. Essa di-
ferença faria do humano o único ser livre, o único ser que, uma vez existindo, poderia se definir por meio de suas escolhas. 
Segundo o filósofo francês, a liberdade humana consistia justamente nessa 
possibilidade de escolher a própria essência, projetando-se para o futuro, ou seja, 
“inventando-se” e “reinventando-se” a cada momento. Logo, ao definir o homem, 
ele negava que houvesse uma natureza humana, concebida por Deus. Afirmava 
que havia, sim, uma condição humana, determinada por limites comuns a todos: 
estar no mundo, trabalhar, conviver e ser mortal.
Por outro lado, Sartre apontava a angústia como marca da humanidade, pois, do 
seu ponto de vista, o homem estava condenado a ser livre. Afinal, mesmo não sen-
do responsável por existir, estaria irremediavelmente obrigado a projetar e construir 
a própria essência. Portanto, a condição de um ser humano, segundo o pensador, 
era a de alguém absolutamente responsável, uma vez que toda escolha individual 
repercutiria sobre a humanidade inteira. Sendo assim, o filósofo considerava um 
sinal de má-fé a atitude daqueles que renunciavam à própria liberdade e à respon-
sabilidade, buscando desculpas e causas exteriores para justificar o que fizeram de si 
mesmos, ou negando o impacto de suas escolhas sobre o restante da humanidade.
JEAN-PAUL Sartre. 1975. 1 fotografia. 
Lisboa, Portugal.
 Em obras literárias, filosóficas e 
periódicos do século XX, Sartre 
divulgou sua concepção existencialista, 
em que o indivíduo é considerado livre 
e responsável por suas escolhas.
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9 Sugestões de respostas.
14 Volume 6
Para ler e refletir
No texto a seguir, retirado da obra O existencialismo é um humanismo, Sartre apresenta algumas de suas principais teses. 
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 6-7. (Os pensadores). 
 Segundo Sartre, os indivíduos são responsáveis por construir a própria existência. Considere essa tese para elaborar 
um texto descrevendo a pessoa que você projeta ser no futuro e apontando as decisões que precisa tomar neste 
momento para realizar esse projeto, contemplando a dimensão ética. 
Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, mas 
queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe todos os homens. De fato, não há um único de nossos 
atos que, criando o homem que queremos ser, não esteja criando, simultaneamente, uma imagem do homem 
tal como julgamos que ele deva ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor do que 
estamos escolhendo, pois não podemos nunca escolher o mal; o que escolhemos é sempre o bem e nada pode 
ser bom para nós sem o ser para todos. Se, por outro lado, a existência precede a essência, e se nós queremos 
existir ao mesmo tempo que moldamos nossa imagem, essa imagem é válida para todos e para toda a nossa 
época. Portanto, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela engaja a huma-
nidade inteira. Se eu sou um operário e se escolho aderir a um sindicato cristão em vez de ser comunista, e 
se, por essa adesão, quero significar que a resignação é, no fundo, a solução mais adequada ao homem, que o 
reino do homem não é sobre a terra, não estou apenas engajando a mim mesmo: quero resignar-me por todos 
e, portanto, a minha decisão engaja toda a humanidade. Numa dimensão mais individual, se quero casar-me, 
ter filhos, ainda que esse casamento dependa exclusivamente de minha situação, ou de minha paixão, ou de 
meu desejo, escolhendo o casamento estou engajando não apenas a mim mesmo, mas a toda a humanidade, 
na trilha da monogamia. Sou, desse modo, responsável por mim mesmo e por todos e crio determinada ima-
gem do homem por mim mesmo escolhido; por outras palavras: escolhendo-me, escolho o homem.
Sugestão de atividades: questões 2 e 3 da seção Hora de estudo.
Simone de Beauvoir
A filósofa francesa Simone de Beauvoir abordou temas centrais do 
existencialismo em obras literárias e ensaios filosóficos. Ela também refletiu 
criticamente a respeito do papel desempenhado pela mulher na sociedade 
europeia do século XX. Defendeu a independência e a afirmação da 
intelectualidade das mulheres e recusou-se a seguir os padrões impostos à 
mulher de seu tempo. Sua obra O segundo sexo é considerada ummarco do 
movimento feminista. 
A filósofa afirmava que a construção de uma identidade feminina não 
era uma questão de aprendizagem e assimilação de padrões culturais tradi-
cionalmente ensinados ou impostos às mulheres. Associava essa construção 
à liberdade, afirmando que ela apenas poderia acontecer por intermédio 
de escolhas livremente realizadas pelas próprias mulheres. Ou seja, para 
fundamentar a construção do feminino, ela recorria ao mesmo princípio 
que o existencialismo utilizava para fundamentar a construção do sujeito. 
Por esse motivo, seu pensamento pode ser classificado como feminismo 
existencialista. 
SIMONE de Beauvoir. 1960. 1 fotografia. Cuba.
 Simone de Beauvoir refletiu sobre 
questões de gênero, problematizando a 
condição da mulher na sociedade.
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10 Orientações didáticas.
Filosofia 15
Para ler e refletir
Leia, a seguir, um trecho da obra O segundo sexo, de Simone de Beauvoir.
A querela do feminismo deu muito que falar [...] No entanto, ainda se fala dela. E não parece que as 
volumosas tolices que se disseram neste último século tenham realmente esclarecido a questão. Demais, ha-
verá realmente um problema? Em que consiste? Em verdade, haverá mulher? Sem dúvida, a teoria do eterno 
feminino ainda tem adeptos; cochicham: “Até na Rússia elas permanecem mulheres”. Mas outras pessoas 
igualmente bem informadas — e por vezes as mesmas — suspiram: “A mulher se está perdendo, a mulher 
está perdida”. Não sabemos mais exatamente se ainda existem mulheres, se existirão sempre, se devemos ou 
não desejar que existam, que lugar ocupam no mundo ou deveriam ocupar”. [...] Mas antes de mais nada: 
que é uma mulher? “Tota mulier in utero: é uma matriz”, diz alguém. Entretanto, falando de certas mulheres, 
os conhecedores declaram: “Não são mulheres”, embora tenham um útero como as outras. Todo mundo 
concorda em que há fêmeas na espécie humana; constituem, hoje, 
como outrora, mais ou menos a metade da humanidade; e contudo 
dizem-nos que a feminilidade “corre perigo”; e exortam-nos: “Sejam 
mulheres, permaneçam mulheres, tornem-se mulheres”. 
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 
1970. p. 7.
querela: discussão.
Tota mulier in utero: expressão latina, 
utilizada na Medicina, cuja tradução literal 
é: “a mulher é inteiramente em seu útero”.
1. O texto ressalta uma afirmação dirigida às mulheres no século XX: “a feminilidade corre perigo”. Discuta as possíveis 
causas para a ocorrência dessa afirmação naquele período e registre as conclusões a que você chegar. 
2. Assim como Simone de Beauvoir, muitas brasileiras lutaram para libertar as mulheres dos padrões tradicionais que 
as mantinham em uma posição de inferioridade e submissão. Faça uma pesquisa a respeito de uma ou mais dessas 
mulheres e registre uma síntese de sua biografia e principais ideias. 
Martin Heidegger
A obra do filósofo alemão Martin Heidegger é frequentemente designada como existencialista por empreender 
uma analítica existencial, ou seja, uma investigação rigorosa em busca da compreensão do significado da existência 
humana. No entanto, Heidegger discordava que seu pensamento fosse classificado como “existencialista” ou, ainda, 
como “fenomenológico”, embora ele se relacionasse com essas duas correntes filosóficas em diversos aspectos. 
Em seus textos, Heidegger raramente usava a palavra homem ou a expressão ser humano. Em vez disso, empre-
gava o termo alemão dasein, que permanece inalterado em algumas edições em língua portuguesa e, em outras, é 
traduzido como “ser aí”. De acordo com esse filósofo, o dasein é aquele que aparece, aquele que existe, e nesse existir 
é que residem as possibilidades de ser. Ele é capaz de construir e assimilar diferentes significações de mundo, ou seja, 
tem a capacidade de interpretar a realidade à sua volta. Por isso, não é “simplesmente presente” ou “simplesmente 
dado”, como as coisas. Pode apreender as significações de mundo e nisso difere dos objetos. Assim, percebendo-se 
inserido em um mundo, o dasein age nele, com ele, com tudo e com 
todos que estão junto dele. Pelo fato de compreender-se com base em 
determinados contextos, encontra-se a si mesmo como o “eu” de deter-
minado “jogo”, ou seja, compreende o próprio ser com base no “jogo”, 
do mundo.
A palavra fenomenologia vem do grego  
phainesthai (o que se mostra) e logos (explica-
ção, estudo). Designa uma corrente filosófica 
que estuda os fenômenos, como se manifes-
tam e como são percebidos pela consciência. 
11 Orientações didáticas e sugestões para a pesquisa.
16 Volume 6V l 6
Segundo Heidegger, o dasein não pode ser objetivado, isto é, não pode ser visto 
como um objeto, um instrumento, pois ele é capaz de compreender sua existência 
como algo de que deve se ocupar e cuidar. Na perspectiva desse filósofo, exis-
tir significa ter cuidado consigo mesmo e cuidar de si, com propriedade; significa 
compreender-se, assumir-se, ser capaz de perceber e questionar as imposições de 
forças exteriores. Heidegger também afirmava que o dasein é abertura, ou seja, 
encontra-se sempre diante de possibilidades. Ele é, antes de tudo, um projeto; 
nunca está pronto ou completo. Enquanto estiver vivo, sempre lhe faltará algo, 
pois a completude humana somente pode ser alcançada na morte. Enquanto vive, 
o máximo que o dasein pode alcançar é a consciência da morte.
 Heidegger é considerado um dos maiores pensadores do século XX. Sua obra exerceu 
influência sobre filósofos contemporâneos a ele, como Jean-Paul Sartre e Hannah Arendt. Sua 
biografia é polêmica, uma vez que ele foi filiado ao Partido Nazista, sendo nomeado reitor da 
Universidade de Friburgo durante a ascensão de Hitler ao poder.
Para ler e refletir
No texto a seguir, Heidegger denuncia que, apesar de todas as possibilidades do dasein, o homem contemporâneo 
tem deixado de exercer uma importante forma de pensamento: a de meditar.
[...] A ausência de pensamentos é um hóspede sinistro que, no mundo atual, entra e sai em toda parte. Pois, 
hoje toma-se conhecimento de tudo pelo caminho mais rápido e mais econômico e, no mesmo instante e com 
a mesma rapidez, tudo se esquece. [...]
A crescente ausência de pensamentos assenta, por isso, num processo que corrói o âmago mais profundo 
do homem atual: O homem atual “está em fuga do pensamento”. Essa fuga aos pensamentos é a razão da au-
sência de pensamento. Contudo, tal fuga ao pensamento deriva do fato de o homem não querer ver nem reco-
nhecer essa mesma fuga. O homem atual negará mesmo, redondamente, essa fuga ao pensamento. Afirmará o 
contrário. Dirá – e com pleno direito – que em época alguma se realizaram planos tão avançados, se realizaram 
tantas pesquisas, se praticaram investigações de forma tão apaixonada, como atualmente. [...]
A sua particularidade consiste no fato de que, quando concebemos um plano, investigamos ou organi-
zamos uma empresa, contamos sempre com condições prévias que consideramos em função do objetivo 
que pretendemos atingir. Contamos, antecipadamente, com determinados resultados. Este cálculo caracteriza 
todo o pensamento planificador e investigador. Este pensamento continua a ser um cálculo, mesmo que não 
se opere com números, nem recorra à máquina de calcular, nem a um dispositivo para grandes cálculos. O 
pensamento que calcula faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com 
maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O pensamento que calcula corre de oportunidade 
em oportunidade. O pensamento que calcula nunca para, nunca chega a meditar. O pensamento que calcula 
não é um pensamento que medita, não é um pensamento que reflete sobre o sentido que reina em tudo o 
que existe. [...] É a esta reflexão que nos referimos quando dizemos que o homem atual foge do pensamento. 
HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, [19--]. p. 11-14.
1. Discutacom os colegas: Vocês concordam com a afirmação de que “O homem atual ‘está em fuga do pensamento’”? 
Por quê? Pessoal.
2. De acordo com a leitura do texto de Heidegger, estabeleça distinções entre o pensamento que calcula e o pensamento 
que medita.
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12 Sugestão de resposta.
Filosofia 17
Banalidade do mal
Verificou-se anteriormente que as reflexões da Ética contemporânea 
estão relacionadas a problemas e acontecimentos recentes, de grande re-
percussão social. Entre eles, destaca-se a Segunda Guerra Mundial, em que 
o genocídio de milhões de pessoas trouxe à tona o problema da maldade 
humana. Nesse contexto, a filósofa e teórica política alemã, de origem ju-
daica, Hannah Arendt refletiu a respeito do assunto e cunhou a expressão 
“banalidade do mal”, demonstrando que, na ausência do pensamento crí-
tico, reflexivo, a maldade pode surgir e ser tratada de forma banal, apesar 
de seus efeitos devastadores.
Essa reflexão teve como ponto de partida as análises testemunhais do jul-
gamento de Adolf Otto Eichmann, que ocorreu em Jerusalém, em 1961. Ele 
era o chefe da Seção de Assuntos Judeus do Departamento de Segurança 
alemão, sob o governo de Hitler. Julgado por enviar centenas de milhares de 
judeus para a morte nos campos de concentração nazistas, foi condenado à 
morte pelo Tribunal Israelense e executado em 1962. Entretanto, durante todo 
o seu longo julgamento, mostrou-se um homem comum, que prezava o cum-
primento de seus deveres como funcionário e não nutria ódio pessoal contra 
os judeus. Suas ações criminosas não eram deliberadas ou intencionais: ele 
apenas obedecia cegamente às determinações do sistema de trabalho rígido 
e burocrático em que estava inserido, sem refletir, problematizar ou questionar 
as ordens que recebia e executava. 
Com base nessas análises, Hannah Arendt ressaltou que, em seus depoimentos, Eichmann não se revelou um 
monstro, apesar de seus crimes serem monstruosos e ele ser responsável por inúmeras mortes. Segundo ela, seu 
exemplo servia para demonstrar que ações cruéis e violentas podem ser cometidas por seres humanos comuns, 
quando eles deixam de exercer a capacidade de pensar, ignorando as consequências e as implicações éticas de seus 
atos. Agir assim, abrindo mão do pensamento, é banalizar o mal, apesar de seus graves efeitos sobre as pessoas.
Portanto, com base no caso Eichmann, para quem a ação cor-
reta era a obediência incondicional às ordens de seus superiores, 
Hannah Arendt nos leva a refletir sobre o fato de que não pode-
mos, em nenhuma hipótese, abdicar de nossa capacidade de pen-
sar, de analisar e refletir sobre as implicações éticas de nossas ações, 
mesmo as mais simples e cotidianas. Quando não há pensamento 
crítico, reflexão, ou mesmo curiosidade de conhecer outros pontos 
de vista e interpretações de mundo, a interpretação de um grupo 
se impõe em nome dos respectivos interesses, mesmo que resulte 
em práticas antiéticas. Nesse contexto, vale lembrar que a Filosofia 
possibilita o exercício do pensar e da reflexão, o que demonstra a 
grande relevância dessa disciplina. 
Desde 1944, genocídio designa a política 
praticada ou tolerada por um governo a 
fim de eliminar grupos humanos (étnicos, 
religiosos, políticos, etc.). Em 1948, a ONU 
aprovou uma Convenção que o caracteriza 
como crime internacional, tanto em perío-
dos de guerra quanto de paz.
 Por ser de origem judaica, Hannah Arendt 
foi presa e acabou deixando seu país, 
indo viver nos Estados Unidos durante o 
período do regime nazista na Alemanha. 
SEGALL, Lasar. Pogrom. 1937. 1 óleo com areia sobre tela, color., 184 cm × 150 cm. 
Museu Lasar Segall, São Paulo.
 Nessa pintura, o artista representa a morte de milhares de judeus. O termo 
pogrom, de origem russa, tem um amplo significado, sendo utilizado para 
designar o ataque violento a um grupo de pessoas ou a uma comunidade, com o 
arrasamento de sua população, de sua cultura e seu ambiente. 
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18 Volume 6
Para ler e refletir
Leia, a seguir, um trecho do relato de Hannah Arendt sobre o julgamento de Eichmann. Este fragmento contém 
algumas das impressões da filósofa a respeito do réu.
Para falarmos em termos coloquiais, ele simplesmente nunca percebeu o que estava fazendo. Foi precisa-
mente essa falta de imaginação que lhe permitiu sentar meses a fio na frente do judeu alemão que conduzia 
o interrogatório da polícia, abrindo seu coração para aquele homem e 
explicando insistentemente como ele conseguira chegar só à patente 
de tenente-coronel da SS e que não fora falha sua não ter sido promo-
vido. Em princípio ele sabia muito bem do que se tratava [...]. Foi pura 
irreflexão [...] que o predispôs a se tornar um dos grandes criminosos 
desta época. [...] Essa distância da realidade e esse desapego podem 
gerar mais devastação do que todos os maus instintos juntos – talvez 
inerentes ao homem; essa é, de fato, a lição que se pode aprender com 
o julgamento de Jerusalém. 
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 310-311.
1. Estabeleça uma relação entre a análise de Heidegger sobre a atualidade, em que predomina a ausência de pensa-
mento, e a conclusão de Hannah Arendt após acompanhar o julgamento de Eichmann.
Heidegger destaca a ausência do pensamento como realidade predominante e cada vez mais preocupante. Hannah Arendt, por sua vez, 
aponta a irreflexão como o elemento que predispôs Eichmann a se tornar um grande criminoso. Sendo assim, é possível relacionar as 
ideias dos dois filósofos e entender a banalização do mal, descrita por Arendt, como uma das possíveis consequências negativas da 
fuga aos pensamentos, anteriormente denunciada por Heidegger.
2. De acordo com Hannah Arendt, a banalização do mal é um fenômeno decorrente da ausência de pensamento crítico. 
Sendo assim, você acredita que a educação reflexiva e a conscientização das pessoas sobre os efeitos de suas ações 
podem contribuir para amenizar a violência? Justifique sua resposta. 
Estabeleça um diálogo com seus alunos buscando promover um momento de troca de informações sobre possíveis situações em que a 
educação contribui ou já contribuiu para a superação de casos de violência. O texto Educação após Auschwitz, de Theodor Adorno, pode 
ajudar a fundamentar esse diálogo (ver o item Sugestões para o professor).
 
SS é a sigla para a denominação de uma 
organização paramilitar alemã, ligada ao 
nazismo, a qual, sob ordens de Hitler e do 
Partido Nazista, cometeu inúmeros crimes 
contra a humanidade.
ConexõesConexões
A palavra boçal é utilizada para designar uma pess
oa 
ignorante, de modos rudes e grosseiros, arrogant
e e 
exibicionista. O termo geralmente é empregado p
ara 
designar o indivíduo que se caracteriza por um sen
ti-
mento de superioridade em relação aos outros. 
O texto a seguir, da jornalista brasileira Eliane Brum, relaciona 
o conceito de banalidade, estabelecido por Hannah Arendt, a um 
problema ético contemporâneo: o ódio divulgado pela internet. 
Com base nessa relação, a jornalista propõe uma nova expressão: 
a boçalidade do mal.
Filosofia 19
A boçalidade do mal
[...] em que momento a opinião ou a ação ou as escolhas do outro, da qual divergimos, se transforma numa 
impossibilidade de suportar que o outro exista? [...] O que significa, afinal, esse passo a mais, o limite ultrapas-
sado, que tem sido chamado de “espiral de ódio” ou “espiral de intolerância” [...]? [...]
A resposta admite muitos ângulos. Na minha hipótese, entre tantas possíveis, peço uma espécie de licença 
poética à filósofa Hannah Arendt, para brincar com o conceito complexo que ela tão brilhantemente criou e 
chamar esse passo a mais de “a boçalidade do mal”. Não banalidade, mas boçalidade mesmo. Arendt, para quem 
não lembra, alcançou “a banalidade domal” ao testemunhar o julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Jeru-
salém, e perceber que ele não era um monstro com um cérebro deformado, nem demonstrava um ódio pessoal 
e profundo pelos judeus, nem tampouco se dilacerava em questões de bem e de mal. Eichmann era um homem 
decepcionantemente comezinho que acreditava apenas ter seguido as regras do Estado e obedecido à lei vigente 
ao desempenhar seu papel no assassinato de milhões de seres humanos. Eichmann seria só mais um burocrata 
cumprindo ordens que não lhe ocorreu questionar. A banalidade do mal se instala na ausência do pensamento.
A boçalidade do mal, uma das explicações possíveis para o atual momento, é um fenômeno gerado pela 
experiência da internet. Ou pelo menos ligado a ela. Desde que as redes sociais abriram a possibilidade de que 
cada um expressasse livremente, digamos, o seu “eu mais profundo”, a sua “verdade mais intrínseca”, desco-
brimos [...] o que cada um de fato pensa sem nenhuma mediação ou freio. [...]
Descobrimos, por exemplo, que aquele vizinho simpático com quem trocávamos amenidades bem educadas 
no elevador defende o linchamento de homossexuais. E que mesmo os mais comedidos são capazes de exercer 
sua crueldade e travesti-la de liberdade de expressão. Nas postagens e comentários das redes sociais, seus autores 
deixam claro o orgulho do seu ódio e muitas vezes também da sua ignorância. Com frequência reivindicam uma 
condição de “cidadãos de bem” como justificativa para cometer todo o tipo de maldade, assim como para exercer 
com desenvoltura seu racismo, sua coleção de preconceitos e sua abissal intolerância com qualquer diferença.
[...] Como qualquer um que acompanha comentários em sites e postagens nas redes sociais sabe bem, é 
aterrador o que as pessoas são capazes de dizer para um outro, e, ao fazê-lo, é ainda mais aterrador o que di-
zem de si. Como o Eichmann de Hannah Arendt, nenhum desses tantos é um tipo de monstro, o que facilitaria 
tudo, mas apenas ordinariamente humano.
BRUM, Eliane. A boçalidade do mal. El País. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/02/opinion/1425304702_871738.html>. 
Acesso em: 20 abr. 2015.
1. Sintetize o significado da expressão “banalidade do mal” no pensamento de Hannah Arendt.
2. Relacione o conteúdo da charge a seguir com a ideia de “boçalidade do mal” apresentada por Eliane Brum. 
comezinho: simples, comum.
DAHMER, André. Disponível em: <http://www.malvados.com.br/>. Acesso em: 21 maio 2015.
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13 Sugestões de respostas.
20 Volume 6V l 6
Ética discursiva
Assim como Hannah Arendt, o filósofo alemão Jürgen Habermas 
era de origem judaica e foi viver nos Estados Unidos em virtude da 
perseguição nazista. Ele participou da chamada Escola de Frankfurt, 
responsável por estudos sobre diferentes aspectos da vida social, num 
período em que acontecimentos como o genocídio promovido na 
Segunda Guerra Mundial e a radicalização do capitalismo, entre ou-
tros, serviram para ampliar a crítica ao ideal iluminista de razão, críti-
ca presente no pensamento de Nietzsche. Nesse contexto, a Ética de 
Habermas apresenta uma nova visão da racionalidade, considerando-a 
capaz de contribuir para a solução de problemas contemporâneos, por 
meio da comunicação.
Habermas defende a tese de Kant, segundo a qual o ser humano deve ser sempre tomado como fim e não como 
um meio para a realização de qualquer interesse particular. Além disso, afirma que a reflexão ética deve se centrar na 
ação coletiva, a qual, por sua vez, depende da interação e do entendimento entre os indivíduos por meio do diálogo 
argumentativo. Afirma, ainda, que os princípios morais não têm legitimidade se forem impostos ou usados para mani-
pular ou dominar pessoas. 
Segundo ele, as ações e as normas humanas somente po-
dem ser avaliadas, problematizadas ou legitimadas, do ponto de 
vista ético, por meio da ação discursiva entre indivíduos ou gru-
pos em busca de consensos. Por isso, o filósofo propõe uma Ética 
discursiva, fundamentada no conceito de razão comunicativa, 
ou ação comunicativa. Esta corresponde à aplicação da raciona-
lidade em contextos dialógicos para se analisar a validade e a 
legitimidade de ações e normas. 
Nesses diálogos, as conclusões devem ser consensuais e 
respeitar os interesses coletivos. Para tanto, é preciso admitir os 
seguintes princípios: 
 • todos os indivíduos são igualmente capazes de falar e par-
ticipar dos discursos;
 • todos os indivíduos podem expressar livremente suas convicções e problematizar as convicções expressas pelos 
seus pares; 
 • é importante que os indivíduos não sofram pressão do sistema político ou econômico ou qualquer outra forma 
de coação.
 Jürgen Habermas, representante da segunda geração da 
Escola de Frankfurt, completou 85 anos em 2014. Mantém 
constante a sua produção escrita e atua em debates 
mundiais sobre assuntos relevantes para a democracia e 
a cidadania.
Para ler e refletir
No texto a seguir, Habermas defende o uso da razão comunicativa e ressalta a importância da busca do consenso 
por meio do diálogo e da argumentação coerente. Tal argumentação baseia-se na aceitação das melhores razões – ou 
seja, dos argumentos mais válidos –, em vez da imposição individual das ideias de um único sujeito (monólogo).
A Escola de Frankfurt é uma importante corren
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filosófica do século XX, formada por grandes in
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lectuais, com o principal objetivo de problematiza
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discutir a industrialização moderna, além de desp
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tar a atenção de universidades alemãs para questõ
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trabalhistas de inspiração socialista. Nesse cená
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nasce a crítica à “sociedade de massas”, uma vez q
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a industrialização moderna é responsável direta p
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esse fenômeno.
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Filosofia 21
[...] O que pesa sobre as decisões dos participantes de um discurso 
prático é a força de obrigatoriedade daquela espécie de razões que, em 
tese, podem convencer a todos igualmente – não só as razões que refle-
tem minhas preferências, ou as de qualquer outra pessoa, mas as razões 
à luz das quais todos os participantes podem descobrir juntos, dado um 
assunto que precisa ser regulamentado, qual a prática que pode atender 
igualmente aos interesses de todos.
É evidente que a autoconsciência e a capacidade da pessoa de assu-
mir uma posição refletida e deliberada quanto às próprias crenças, de-
sejos, valores e princípios, mesmo quanto ao projeto de toda a sua vida, 
é um dos requisitos necessários para o discurso prático. Há um outro 
requisito, porém, tão importante quanto esse. Os participantes, no mo-
mento mesmo em que encetam uma tal prática argumentativa, têm de estar dispostos a atender à exigência de 
cooperar uns com os outros na busca de razões aceitáveis para os outros; e, mais ainda, têm de estar dispostos 
a deixar-se afetar e motivar, em suas decisões afirmativas e negativas, por essas razões e somente por elas.
[...] A discussão nos faculta, com efeito, ambas as condições: 
• a primeira: que cada participante individual seja livre, no sentido de ser dotado de autoridade epistêmica 
[...] para dizer “sim” ou “não” – [...];
• a segunda: que essa autoridade epistêmica seja exercida de acordo com a busca de um acordo racional; 
que, portanto, só sejam escolhidas soluções que sejam racionalmente aceitáveis para todos os envolvidos 
e todos os que por elas forem afetados.
Não se pode isolar a primeira condição, a da liberdade comunicativa, da segunda, tampouco se pode atri-
buir a ela uma prioridade sobre a segunda, que é a da busca de um consenso. Esta última condição reflete o 
sublime vínculo social: uma vez que encetamos uma práxis argumentativa, deixamo-nos enredar, por assim 
dizer, num vínculo social que se preserva entre os participantes mesmo quando eles se dividem na competição 
da busca do melhor argumento.
HABERMAS, Jürgen. A ética da discussão e a questão da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 14-16.
1. Considerando este trecho do texto, debata a questãoproposta.
 “Os participantes, no momento mesmo em que encetam uma tal prática argumentativa, têm de estar dispostos a atender 
à exigência de cooperar uns com os outros na busca de razões aceitáveis para os outros; e, mais ainda, têm de estar 
dispostos a deixar-se afetar e motivar, em suas decisões afirmativas e negativas, por essas razões e somente por elas.”
• É possível realizar o que Habermas propõe? Por quê? Registre suas conclusões.
2. Vivemos em uma sociedade dominada pela técnica, inclusive no âmbito da comunicação. Que desafios isso acarreta 
para a razão comunicativa e a ética discursiva?
discurso prático: diálogo voltado para a busca do consenso entre os sujeitos capazes de argumentar, considerando a validade e a coerência 
das razões apresentadas, sem recorrer à violência, à imposição ou à manipulação de informações.
autoridade epistêmica: autoridade no que se refere ao conhecimento.
práxis argumentativa: ação ou prática argumentativa.
Reflexão em ação
Sugestão de atividade: questão 4 da seção Hora de estudo.
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14 Sugestões de respostas.
22 Volume 6
Cuidado de si
Na segunda metade do século XX, o filósofo francês Michel Foucault apresentou o conceito de cuidado de si, vi-
sando promover uma existência estética (uma vida livre, bela) e, ao mesmo tempo, ética. A expressão “cuidado de si” 
refere-se a um conjunto de experiências e procedimentos para ampliar o autoconhecimento e o autocuidado, tendo 
como consequências a transformação do indivíduo e a reorganização de seus princípios éticos.
Para desenvolver esse conceito e apontar sua relevância na atualidade, Foucault lembrou que, entre os gregos, cuidar 
de si era uma ocupação fundamental e que Sócrates era visto como portador de uma missão, especialmente quando 
exortava seus interlocutores a buscar o autoconhecimento. Nesse contexto, o cuidado de si não partia de um princípio 
egoísta, tendo, ao contrário, uma forte dimensão coletiva, exemplificada pelo sacrifício de Sócrates, em nome do cum-
primento de sua missão. Uma vez que o “si” integrava a cidade, exercer o “cuidado de si” era equivalente a cuidar da cidade.
Foucault, ao propor o cuidado de si, destaca a possibilidade de vivenciar a Ética por meio da subjetividade. Sua 
obra sugere que um indivíduo é capaz de observar e perceber aquilo que lhe aparece como desejo e vontade, 
podendo distinguir o que é propriamente seu e o que decorre de imposição, condicionamento ou costume. Essa 
distinção permitiria ao indivíduo identificar poderes que o sujeitam e exploram, bem como iniciar o processo de 
libertação e independência em relação a eles, assumindo, assim, o poder sobre si mesmo.
Para ler e refletir
Foucault destacou o fato de que a prática do cuidado de si exigiria empenho e dedicação a certos exercícios. Mas 
como alguém pode ocupar-se ou cuidar de si mesmo? Essa questão é abordada pelo próprio filósofo no texto a seguir.
É preciso tempo para isso. [...] Pode-se reservar, à noite ou de manhã, alguns momentos de recolhimento 
para o exame daquilo que se fez, para a memorização de certos princípios úteis, para o exame do dia trans-
corrido [...] Pode-se também interromper de tempos em tempos as próprias atividades ordinárias e fazer um 
desses retiros [...] eles permitem ficar face a face consigo mesmo, recolher o próprio passado, colocar diante 
de si o conjunto da vida transcorrida, familiarizar-se, através da leitura, com os 
preceitos e os exemplos nos quais se quer inspirar e encontrar, graças a uma 
vida examinada, os princípios essenciais de uma conduta racional. É possível 
ainda, no meio ou no fim da própria carreira, livrar-se de suas diversas ativida-
des e, aproveitando esse declínio da idade onde os desejos ficam apaziguados, 
consagrar-se inteiramente [...] à posse de si próprio. [...]
Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a 
si mesmo: ela não constitui um exercício da solidão, mas sim uma verdadeira 
prática social. [...] 
O cuidado de si aparece, portanto, intrinsecamente ligado a um “serviço de 
alma” que comporta a possibilidade de um jogo de trocas com o outro e de um 
sistema de obrigações recíprocas. [...]
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 3: o cuidado de si. Rio de Janeiro: Graal, 1985. p. 56-59. 
 Com base no texto, responda às questões propostas. 
1. Que importância você atribui ao cuidado de si? Explique sua resposta.
2. Você acredita que o tempo gasto atualmente na internet e em redes sociais pode ser visto como um tempo dedi-
cado ao cuidado de si? Por quê?
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Sugestões de respostas.15
Filosofia 23
Direitos humanos
Atualmente, verifica-se um acelerado desenvolvimento técnico das sociedades, além de um amplo conhecimento 
sobre as leis da natureza, o que possibilita grandes intervenções humanas sobre a vida. Nesse contexto, torna-se urgente 
refletir sobre questões polêmicas que dizem respeito à vida de todos os seres humanos: preservação do meio ambiente 
e da biodiversidade, falta de alimentos e produção de sementes transgênicas, fertilizações e inseminações artificiais de 
gametas humanos, clonagem, pesquisas e tratamentos com células-tronco ou embriões, entre outras. Além disso, a alar-
mante desigualdade social da atualidade exige uma profunda análise dos efeitos da globalização, o reconhecimento das 
minorias, bem como amplas discussões sobre os direitos humanos. Essas e outras questões, que interessam a todos, re-
querem reflexões acerca de conceitos amplos, como os de humanidade, ação moral, direitos e deveres, virtudes e valores. 
Tais conceitos fazem parte do universo de investigações da Ética.
Nesse contexto, o filósofo espanhol Fernando Savater reflete a respeito de questões contemporâneas. Segundo ele, o maior 
fundamento da Ética é o amor-próprio do ser humano, isto é, o desejo de conservar-se, potencializar capacidades e perpetuar-
se. Para o filósofo, o amor-próprio constitui a razão de indivíduos, sociedades e culturas resistirem à certeza da morte, opondo- 
-lhe à liberdade da vida. Sendo assim, Savater defende uma concepção diferenciada e positiva do individualismo, afirmando 
que a virtude é praticada individualmente. No entanto, ele também defende a participação social e o reconhecimento dos direi-
tos humanos. Espera que todos vejam a si e aos demais como sujeitos de direitos que se articulam diretamente às necessidades 
e às liberdades humanas, bem como à autonomia e às responsabilidades dos indivíduos participantes de uma comunidade. 
Para ler e refletir
No texto a seguir, Savater expressa algumas de suas ideias sobre os direitos humanos e a importância de seu reco-
nhecimento na atualidade, bem como de haver movimentos ativos nessa direção.
SAVATER, Fernando. Ética como amor-próprio. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 301.
O reconhecimento ativo dos direitos humanos
[...] Admitir direitos humanos significa estar ativamente decidido a que o reconhecimento do humano pelo 
humano equivalha ao reconhecimento de direitos por parte de outro sujeito desses mesmos direitos. Não é 
tanto que o homem tenha estes ou aqueles direitos, mas que o direito a ser homem (entendendo como tal o 
sujeito de direito) é um estatuto consciente e voluntário que os homens devem moralmente conceder uns aos 
outros. A concreção histórica desse direito se articula em uma lista diretamente relacionada com as neces-
sidades do homem, tal como podem ser universalmente estudadas, e com suas liberdades, tal como podem 
ser compreendidas a partir da autonomia e da responsabilidade dos indivíduos participantes da comunidade. 
Como toda ideia moralmente relevante, os direitos humanos partem de um 
pressuposto que nunca pode ser de todo arrazoado, porque serve como 
fundamento para arrazoar: nesse caso, o pressuposto de que o que aproxima 
cumplicemente todos os homens como indivíduos é mais digno de esti-
ma e perpetuação do que o que os diferencia como membros de diferentes 
comunidades políticasou culturais. Não se consideram irrelevantes essas 
diferenças, mas só irrelevantes na medida em que se opõem ao respeito de 
alguma das coincidências essenciais. Essa colocação, por certo e como nun-
ca será suficientemente recordado, não é algo óbvio, indiscutível, e de senso 
comum, mas uma conquista (e também uma imposição) revolucionária.
concreção: realização. arrazoado: razoável. cumplicemente: solidariamente.
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24 V lume 6Volume 6
Atividades
1. Conheça o conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
2. Pesquise o significado de direitos humanos e direitos civis e registre os resultados de sua pesquisa. 
3. A existência de direitos civis contribui para que os direitos humanos sejam garantidos? Justifique sua opinião.
Para responder a essa questão, pode-se recorrer à pesquisa da questão anterior e ao pensamento de Hannah Arendt. Ela apresenta 
uma diferenciação entre direitos humanos e civis. Essa diferenciação sugere que a cidadania é um princípio e não um meio ou um 
mero fato relacionado ao humano, e que a privação dos direitos civis afeta diretamente a própria condição humana. Ou seja, quando os 
indivíduos são destituídos de seu direito à circulação, à alimentação ou à livre expressão, por exemplo, são destituídos da própria 
humanidade.
Princípio de igualdade
Em 1970, o termo Bioética passou a designar uma concepção de Ética ligada a todos os aspectos da vida no pla-
neta. Com o passar dos anos, essa concepção ganhou força, uma vez que a descontrolada intervenção humana sobre 
a natureza implica a possibilidade de extinção de outras formas de vida e o risco de tornar o planeta inabitável para 
as próximas gerações de seres humanos. Além disso, nas últimas décadas, o acelerado desenvolvimento científico e 
tecnológico passou a ser visto como um instrumento capaz de prolongar a vida e também de ameaçá-la gravemente.
É importante ressaltar que, apesar de a Bioética ser frequentemente associada à reflexão sobre os limites morais da 
Medicina ou da Engenharia Genética, ela ultrapassa esses contextos e propõe reflexões a respeito dos mais diversos 
aspectos relacionados à vida, vinculando-se à Filosofia, ao Direito e a diferentes ciências. Entre seus objetos de inves-
tigação, há temas polêmicos e desconcertantes, como escassez de recursos naturais, poluição, manipulação da vida, 
comércio de órgãos, eutanásia, aborto e preconceito em suas diferentes formas. 
Além disso, incluem-se no âmbito da Bioética reflexões e discussões sobre os direitos de uma multidão de seres 
cuja autonomia é limitada por circunstâncias naturais ou sociais: as minorias étnicas, os doentes em estado vegeta-
tivo, as pessoas com deficiência física ou intelectual, as pessoas que vivem na miséria e as que ainda nem existem 
como tais (fetos, embriões in vitro), além das espécies vivas não humanas.
Mundo do trabalho
A garantia dos direitos humanos e civis envolve um complexo sistema de relações que inclui, entre outros ele-
mentos, a legislação, os movimentos sociais, as instituições e os instrumentos para fiscalizar e punir o descumpri-
mento das leis. A profissão de policial faz parte desse sistema e, atualmente, a Polícia Civil conta com uma delegacia 
específica para investigar crimes virtuais. Sua atuação é de grande relevância, uma vez que muitos utilizam a 
internet para viabilizar diferentes ações criminosas, entre elas o incentivo à violência por meio da disseminação 
dos discursos de ódio.
16 Sugestões de respostas.
Filosofia 25
Para ler e refletir
SINGER, Peter. Libertação animal. Porto Alegre: Lugano, 2004. p. 6-7.
 Reúna-se em grupo e organize um painel que mostre ações de respeito e desrespeito aos direitos humanos na 
atualidade, bem como ações de proteção e de abuso em relação a outras espécies vivas. 17
O princípio da igualdade
Felizmente não há necessidade de se restringir a defesa da igualdade ao resultado específico de uma inves-
tigação científica. A resposta apropriada aos que afirmam ter encontrado a prova da existência de diferenças 
entre raças ou sexos de capacidades com base genética não é agarrar-se à crença de que a explicação genética 
deve estar errada, sejam quais forem as provas em contrário que surjam. Ao contrário, devemos deixar bem 
claro que a defesa da igualdade não depende da inteligência, da capacidade moral, da força física ou de outros 
fatos similares. A igualdade é uma ideia moral, não a afirmação de um fato. Não existe uma razão obrigatória, 
do ponto de vista lógico, para supormos que uma diferença factual de capacidade entre duas pessoas justifique 
qualquer diferença na consideração que damos a suas necessidades e interesses. O princípio da igualdade dos 
seres humanos não é a descrição de uma suposta igualdade de fato entre seres humanos: é a prescrição de 
como devemos tratar os seres humanos. [...]
Uma das implicações desse princípio de igualdade é que nosso interesse pelos outros e nossa prontidão em 
considerar seus interesses não devem depender de sua aparência ou das capacidades que possam ter. O que 
nossa preocupação ou consideração exige que façamos, exatamente, pode 
variar de acordo com as características daqueles que são afetados pelo que 
fazemos: a preocupação pelo bem-estar de crianças em fase de crescimento 
nos Estados Unidos exigiria que as ensinássemos a ler; a preocupação pelo 
bem-estar de porcos poderia exigir apenas que os deixássemos com outros 
porcos num lugar onde houvesse comida adequada e espaço para correrem 
livremente. Mas, o elemento básico – levar em conta os interesses de um ser, 
sejam quais forem – deve, de acordo com o princípio de igualdade, ser es-
tendido a todos os seres, negros ou brancos, do sexo masculino ou feminino, 
humanos ou não humanos.
Nesse contexto, destaca-se a obra do filósofo australiano Peter Albert David Singer. 
Ele retoma e atualiza o princípio utilitarista da igualdade, segundo o qual o direito de 
um indivíduo equivale ao de qualquer outro, sejam quais forem as diferenças entre 
eles. Assim, afirma que os interesses diferenciados de cada um devem ser defendidos, 
o que exclui as possibilidades de racismo (preconceito de raças), sexismo (preconceito 
de gêneros) e até mesmo de especismo (preconceito de espécies). Seu pensamento 
causa polêmicas e enfatiza a importância de evitar o sofrimento de qualquer ser capaz 
de senti-lo, discutindo os direitos de seres sem autonomia, como as vítimas das diver-
sas formas de exclusão social, os embriões, os fetos e até os animais. 
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 Com a obra Libertação animal, em 1975, Peter 
Singer trouxe para a Filosofia a discussão sobre a 
crueldade humana para com os animais.
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No texto a seguir, você pode ler mais a respeito do princípio de igualdade, segundo a concepção de Peter Singer. 
Orientações para a 
atividade.
26 Volume 6
Organize as ideias
 Registre, no quadro a seguir, os principais aspectos das concepções éticas dos filósofos apresentados nesta unidade.
Filósofo Concepção ética
Immanuel Kant
Ação livre por dever, pois a razão institui leis para si e escolhe cumpri-las.
Imperativo categórico: agir de modo que a máxima que guia a ação possa ser universalizada, 
tomando o ser humano como fim e nunca como meio.
Jeremy Bentham
Princípio de utilidade: optar pela ação que leve à felicidade geral, ou seja, o maior bem-estar 
possível para o maior número de pessoas. 
Panoptismo: controle e vigilância para garantir o princípio de utilidade.
Friedrich Nietzsche
Genealogia da moral e transvaloração. Crítica à moral racionalista e cristã e conceito de vontade 
de potência, em favor da vida. Defesa da moral dos fortes (além do homem) em oposição à 
moral de rebanho. 
Jean-Paul Sartre
A existência do ser humano precede sua essência. O existencialismo é um humanismo. O ho-
mem está condenado a ser livre e suas escolhas engajam toda a humanidade ao apresentar-se 
como um modelo de conduta. Negar isso

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