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Estudo dos verbos Cris Oliveira Introdução Certamente, ao longo dos seus estudos, você já se dedicou em aprender a conjugar os ver- bos, não é mesmo? Mas você sabe qual é o conceito de verbo? Compreende como usá-lo de forma adequada, especialmente na produção de textos? Nesta aula, aprofundaremos nosso conhecimento acerca da classe gramatical mais com- plexa: os verbos. Para isto, entenderemos suas flexões e faremos a distinção das suas diferentes classificações, de acordo com a norma culta da língua. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • apropriar-se do conceito de verbos; • utilizar os verbos corretamente na produção de textos, de acordo com a norma culta. 1 Conceito de verbos Para darmos início aos nossos estudos, precisamos nos apropriar do conceito de verbo. De acordo com Cunha e Cintra (2001, p. 379), verbo “é uma palavra variável, que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo”, não importa se no presente, passado, ou futuro. Na visão de Nicola (2014), verbo é uma palavra que indica uma ação, um estado, ou um fenômeno da natureza, cujo aspecto é dinâmico, posto que possui função obrigatória nos enun- ciados, desempenhando a posição de predicado na estrutura oracional, relacionando-se com o sujeito (ser de quem se fala na oração), com o qual estabelece concordância. Assim, dizemos que o verbo é o núcleo norteador das orações. Lembre-se de que uma oração se organiza com um verbo, ou seja, há orações sem sujeito, por exemplo, mas não sem o verbo. Figura 1 – O verbo indica ação, estado ou fenômeno da natureza Fonte: egd/Shuttersctock.com O verbo possui inúmeras particularidades, classificações e, por isso, também, diferentes usos. O verbo pode ser flexionado em modo, tempo, número, pessoa e voz. O verbo é a classe gramatical que tem o maior número de flexões, podendo assumir até 65 formas distintas (LOBATO, 2009). EXEMPLO Quando enunciamos “Joana comprou um carro”, a palavra que organiza a oração é o verbo “comprou”, que exprime o que se passa e indica devidamente o tempo em que o processo ocorreu. Nesse sentido, o verbo é a palavra que, como aponta Nicola (2014, p. 328), “amarra” a oração e ajuda a constituir os períodos. Sempre que construímos uma oração, a análise terá como foco o verbo. Por isso, a importância do conhecimento em concordância verbal no momento de se produzir um texto, visto que uma boa formulação de enunciados depende de modo essencial da eficiência com que empregamos o verbo e sua relação com o sujeito. Agora, que já sabemos qual é o conceito de verbo e entendemos que se trata de uma classe gramatical complexa, veremos, a seguir, as flexões verbais. 2 As flexões verbais Flexionar um verbo é mudar a sua forma em pessoa e número, tempo e modo, formas nomi- nais e também vozes. Quanto ao número, o verbo pode estar no singular ou no plural. Veja, em “Viajamos todos juntos ao Cairo”, o verbo ‘viajar’ está no plural. Neste mesmo exemplo, o verbo está na 1ª pessoa do discurso (nós). Note que, quanto à pessoa, o verbo pode ser flexionado em uma das três pessoas do discurso: eu e nós (1ª); tu e vós (2ª); ele/eles e/ou ela/elas (3ª) (CUNHA e CINTRA, 2001). Os verbos são palavras que podem ser conjugadas, ou seja, enunciadas de diferentes formas, assim são palavras que se agrupam por suas terminações. Há os verbos terminados em “-ar”, que pertencem à 1ª conjugação, os terminados em “-er”, que são da 2ª conjugação, e os terminados em “-ir”, que pertencem à 3ª conjugação. Por exemplo, “amar” pertence à primeira conjugação, “vender” à segunda, e “partir” à terceira. Figura 2 - O verbo possui 6 flexões importantíssimas. Fonte: wavebreakmedia/Shutterstock.com Em relação ao tempo, o verbo pode determinar se o processo acontece “antes da fala”, “no momento da fala”, ou “posterior ao ato da fala” (NICOLA, 2014). Assim, os tempos verbais são classificados da seguinte forma: • presente: indica um fato atual ou ação habitual. Ex.: “João corre todos os dias na Lagoa Rodrigo de Freitas”. Além disso, pode conferir atualidade a um fato histórico, sendo denominado como “presente histórico”. Ex.: “Em 1985, o país elege o seu primeiro pre- sidente por meio do voto direto”; • pretérito perfeito: indica uma ação passada, concluída. Ex.: “Viajamos nas férias para Portugal”; • pretérito imperfeito: indica uma ação concluída e anterior a atual. Ex.: “Levei o carro à oficina, ontem pela manhã”. Quando no subjuntivo, este tempo expressa hipótese. Ex.: “Se eu conhecesse a marca, talvez a usasse”; • pretérito imperfeito: expressa uma ação anterior a atual, mas que não foi concluída. Além disso, é usado para descrever ações no passado. Ex.: “Chovia muito durante a corrida”; • pretérito mais-que-perfeito: indica uma ação ocorrida anterior a outra já concluída. Ex.: “Ele falara com ela sobre o assunto, muito antes de acontecer o pior”; • futuro do presente: expressa ação que acontecerá em um futuro próximo. Ex.: “Trarei um doce para você”; • futuro do pretérito: expressa ação que poderia ter acontecido posterior a uma outra ação no passado. Ex.: “Se eu tivesse dinheiro, compraria a roupa” (BECHARA, 2015). Já o modo verbal é a atitude expressa pelo verbo em um dado tempo. Há três modos verbais: o indicativo, o subjuntivo e o imperativo. O modo indicativo, como o próprio nome sugere, indica que a ação é certa, mesmo sendo expressa em um tempo futuro. Por exemplo, “Ele virá”. O sub- juntivo é o modo da incerteza, da perspectiva, da hipótese. Com ele, explicitamos ações das quais podem ou não ocorrer. Veja: “Talvez faça intercâmbio no Canadá”; “Se eu conhecesse o caminho mais curto, tinha chegado no horário”; “Quando eu for ao seu encontro, trataremos do assunto” (BECHARA, 2015). Para construir o imperativo afirmativo, conjugue o verbo no presente do indicativo e elimine a primeira pessoa do singular (eu). A seguir, retire a segunda pessoa do singular e a segunda do plural. Retire o “s” final da segunda pessoa do singular e do plural. As outras pessoas (ele, nós, eles) são formadas pelo presente do subjuntivo, conforme quadro a seguir. Presente do indicativo Imperativo afirmativo Eu amo ------- Tu amas Ama tu Ele ama Ame você (ele/ela) Nós amamos Amemos nós Vós amais Amai vós Eles amam Amem vocês (eles/elas) Quadro 1 – Formação do imperativo afirmativo. Fonte: elaborado pela autora, 2016. Já imperativo negativo é formado pelo presente do subjuntivo, sem a presença da 1ª pessoa do singular, veja no quadro a seguir. Presente do subjuntivo Imperativo negativo Que eu ame -------- Que tu ames Não ames tu Que ele ame Não ame você (ele/ela) Que nós amemos Não amemos nós Que vós ameis Não ameis vós Que eles amem Não amem vocês Quadro 2 – Formação do imperativo negativo. Fonte: elaborado pela autora, 2016. FIQUE ATENTO! O modo imperativo é largamente utilizado no universo publicitário, uma vez que há o objetivo de induzir o receptor da mensagem a aceitar como verdadeira a informa- ção que está sendo transmitida. Os verbos ainda apresentam as formas nominais, ou seja, formas que podem exercer fun- ções típicas de substantivos, advérbios e, também, de adjetivos. As formas nominais podem ser: infinitivo (-ar, -er, -or, -ir); gerúndio (-ndo); e particípio (-ado; -ido). EXEMPLO Em “Eu necessito agir”, temos o uso do infinitivo. Já em “Gritando, a criança tomou a vacina”, vemos um caso do gerúndio. E em “Terminado o expediente, viajaremos”, notamos a presença do particípio. As formas nominais verbais não apresentam nenhum aspecto temporal e são bastante dependentes do contexto em que estão aplicadas. Além disso, elas possuem um valor próximo ao do substantivo da ação. O gerúndio indica uma ação que está em curso, por exemplo: “Estamos fazendo a lição neste momento”.Já o particípio indica uma ação concluída, como em “O exemplo já foi dado”. Há, ainda, o correspondente ao infinitivo, o qual indica a própria identidade verbal;, ele está posto em sua forma natural, sem que esteja relacionado à pessoa do discurso. Veja: “Escrever corretamente é importante”. FIQUE ATENTO! Os tempos verbais podem ser simples, formados com um único verbo, como em “Eu comi macarrão”; compostos, formados por meio de um verbo auxiliar (ter ou haver), como em “Eu tenho comido muita massa”; e principal, com final em particí- pio passado, tanto nos modos indicativo, como em “tinha comido” (comido, verbo principal, e tinha, verbo auxiliar), quanto no subjuntivo, como em “tivesse feito” (feito, verbo principal, e tivesse, verbo auxiliar). Neste caso, dizemos que há uma locução verbal (BECHARA, 2015). Por fim, os verbos sofrem flexão de voz. As vozes verbais indicam uma relação entre o sujeito e a ação expressa pelo verbo. Há três situações distintas quando tratamos de vozes: • voz ativa: quando a ação é praticada pelo sujeito. Ex.: “A mãe ninou o filho”; • voz passiva: quando a ação foi sofrida pelo sujeito. Ex.: “O filho foi ninado pela mãe”; • voz reflexiva: quando o sujeito sofre e também pratica a ação, simultaneamente. Ex.: “A moça penteou-se”. SAIBA MAIS! O tema “verbo” é algo inesgotável, cujo conceito e aplicação devem sempre ser respeitados. Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia o artigo “O verbo como princípio”, de André Nemi Conforte (UERJ). Disponível em: <http://www.institutodeletras.uerj.br/idioma/numeros/24/Idioma24_r01.pdf>. Veja que as flexões verbais imprimem valores semânticos aos enunciados e aos textos. Cada vez que usamos um verbo, damos a ele um valor de conclusão, inconclusão ou ordem. Agora, vamos tratar das regularidades e irregularidades verbais. 3 Verbos regulares, irregulares, defectivos e abundantes Os verbos ainda podem ser classificados quanto à regularidade em seus modelos de conjuga- ções. São denominados como verbos regulares aqueles que seguem o mesmo modelo dentro de suas conjugações, como “amar” (1ª conjugação), “beber” (2ª conjugação) e “partir” (3ª conjugação). FIQUE ATENTO! O verbo “pôr” pertence à 2ª conjugação. Trata-se de um verbo de origem latina (po- nerè), que foi sofrendo modificações, apresentando formas como “ponerè”, “poner”, “poer”, até chegar em “pôr”. Observe que ele tinha a terminação em “-er”, correspon- dente à 2ª conjugação (NICOLA, 2014). Por sua vez, os verbos irregulares são aqueles que não seguem exatamente os modelos de conjugação. Eles sofrem alterações na desinência (indicação de tempo e pessoa), na própria raiz do verbo (radical), ou tanto na desinência quanto na raiz (CUNHA e CINTRA, 2001). Observe: em “eu dou”, há uma alteração na desinência, uma vez que em verbos regulares, como “eu amo”, não aparece a letra “u”; em “eu venho”, há a alteração no radical, pois no verbo “vir” não existe, originalmente, “nh”; em “eu pus”, há alterações presentes tanto no radical quanto na desinência. Os verbos “pôr” e “ser” sofrem alterações profundas no radical e nas desinências. Ambos são verbos considerados muito irregulares. Ao redigirmos um texto, é imprescindível ficar atento a essas mudanças. Figura 3 – Classificação verbal Fonte: Diego Cervo/Shutterstock.com No quadro a seguir, podemos verificar como são conjugadas algumas das formas verbais irregulares. Observe que os verbos “ter”, “haver”, “ser” e “estar” sofrem alterações tanto no radical quanto em suas desinências. PRESENTE DO INDICATIVO Ter Haver Ser Estar Eu Tenho Hei Sou Estou tu Tens Hás És Estás ele Tem Há É Está nós Temos Havemos/Hemos Somos Estamos vós Tendes Haveis Sois Estais eles Têm Hão São Estão Quadro 3 – Verbos “ter”, “haver”, “ser” e “estar” no presente do indicativo Fonte: elaborado pela autora, 2 SAIBA MAIS! Para não errar a conjugação verbal e compreender o porquê das formas adequadas, leia o “Dicionário Houaiss de Conjugação de Verbos”, de José Carlos de Azeredo. Os verbos defectivos são aqueles que não apresentam todas as flexões, ou seja, não podem ser conjugados em todos os modos, tempos e/ou pessoas, como é o caso de “abolir”, “explodir” e “ungir”, que não apresentam a primeira pessoa do presente do indicativo. Portanto, não se usa, na norma culta, as formas: “eu explodo”, “eu abolo”, ou “eu ungo”. Os verbos abundantes são aqueles que apresentam mais de uma forma para uma mesma flexão, como é o caso de “haver”, que pode ser conjugado na primeira pessoa do plural do presente do indicativo como “havemos” e “hemos”. As formas distintas mais encontradas são quando os verbos abundantes estão no particípio, como em “omitido e omisso” (para o verbo omitir), “encher, enchido e cheio” e “imprimido e impresso” (para o verbo imprimir) (NICOLA, 2014). O quadro a seguir, apresenta outros verbos abundantes muito utilizados. Aceitar Aceitado Aceito Acender Acendido Aceso Eleger Elegido Eleito Entregar Entregado Entregue Enxugar Enxugado Enxuto Expulsar Expulsado Expulso Extinguir Extinguido Extinto Ganhar Ganhado Ganho Gastar Gastado Gasto Limpar Limpado Limpo Morrer Morrido Morto Murchar Murchado Murcho Pagar Pagado Pago Pegar Pegado Pego* (forma popular) Quadro 4 – Exemplos de verbos abundantes. Fonte: elaborado pela autora, 2016. Desse modo, entender como são articulados os verbos é crucial para a produção de bons textos. Logo, é importante saber que eles sofrem várias flexões e que podem expressar aconteci- mentos específicos, de acordo com o contexto. Fechamento Concluímos a unidade relativa aos verbos. Agora, você já conhece como eles são importan- tes e como deve aplicá-los à escrita. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer o conceito de verbo; • entender as suas flexões; • diferenciar o uso das formas nominais; • conhecer a classificação verbal. Referências bECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. CUNHA, Celso; CINTRA, Luis Felipe Lindley. Nova gramatica do português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo: Scipione, 2014.
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