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W BA 10 32 _V 1. 0 IMUNOLOGIA CLÍNICA 2 Ana Paula Michelin Tatiane Marques São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 IMUNOLOGIA CLÍNICA 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Veronica Cristina Gomes Soares Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Michelin, Ana Paula Imunologia clínica / Ana Paula Michelin, Tatiane Marques. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-210-3 1. Análises. 2. Clínicas. 3. Imunologia. I. Marques, Tatiane. II. Título. 3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título. CDD 616.079 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O M623i © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Aspectos clínicos da imunologia ______________________________ 07 Interpretação das principais reações sorológicas bacterianas, virais e parasitárias na rotina do laboratório de Análises Clínicas __________________________________________ 20 Avanços das Técnicas em Imunologia Clínica _________________ 32 Interpretação de Exames em Imunologia Clínica _____________ 47 IMUNOLOGIA CLÍNICA 5 Apresentação da disciplina Imunologia Clínica é uma especialização em saúde que trabalha para o diagnóstico e tratamento de doenças, principalmente aquelas relacionadas às falhas no funcionamento do sistema imunológico. No laboratório de análises clínicas, especificamente, são realizados exames que possibilitam a confirmação diagnóstica e o monitoramento terapêutico de doenças autoimunes, doenças infecciosas e processos alérgicos. Inicialmente, você estudará os aspectos clínicos da imunologia no laboratório de análises clínicas, conhecendo as amostras biológicas que podem ser testadas para os ensaios analíticos e as doenças a serem diagnosticadas. Posteriormente, você aprenderá como estes exames podem auxiliar no diagnóstico de enfermidades infecciosas, sejam causadas por vírus, bactérias ou fungos. Os parâmetros do sistema imune dosados podem ser os anticorpos, proteínas de sinalização que compõem o sistema complemento e, em alguns exames, até mesmo células componentes do sistema imune. Conhecer os principais exames em imunologia clínica é muito importante, porém, estar antenado sobre as inovações tecnológicas é essencial. Novas enfermidades infecciosas surgem a cada dia, assim como variações antigênicas específicas dos microrganismos que as causam. Torna-se, deste modo, essencial para o imunologista clínica conhecer as inovações tecnológicas mais recentes neste setor, em nível de automatização, em nível de antígenos e alvos antigênicos. Não esquecendo, novas técnicas resultam em maiores sensibilidade e especificidade diagnósticas. As inovações tecnológicas também se aplicam a diagnóstico de enfermidades não infecciosas. A tipagem de 6 células com marcadores específicos possibilita não apenas o diagnóstico tumoral, mas também a identificação do surgimento de metástases e acompanhamento do desenvolvimento da doença. No caso de enfermidades de doenças autoimunes, por exemplo, estas inovações possibilitam não apenas o diagnóstico precoce, mas também avaliar e monitorar diferentes estratégias terapêuticas. O setor de imunologia clínica vivência, em sua rotina diária, o desafio de diagnosticar com precisão uma enfermidade, seja infecciosa ou não infecciosa. Quando apenas diagnosticar não é suficiente? O século XX está marcado pelo surgimento e pela disseminação de endemias virais, entre outras infecções, ficando o imunologista clínico, frente a frente com um dilema: como realizar o diagnóstico diferencial de infecções com sintomatologias tão similares? As novas tecnologias em exames sorológicos colaboram muito, mas, para liberação de um laudo preciso, você deve estar sempre atualizado e saber interpretar estas técnicas e correlacionar os resultados observados com a suposição diagnóstica. Nesta disciplina, você poderá adquirir todos estes novos conhecimentos. Bons estudos! 7 Aspectos clínicos da imunologia Autoria: Ana Paula Michelin Leitura crítica: Veronica Soares Objetivos • Conceituar conhecimentos básicos da imunologia. • Apresentar os aspectos clínicos da imunologia. • Estabelecer fatores importantes sobre os aspectos clínicos da imunologia. 8 1. Imunologia A imunologia clínica é a temática dentro da área da imunologia básica, que auxilia os profissionais da saúde a diagnosticarem e interpretarem doenças relacionadas ao sistema imunológico. Portanto, para conseguirem compreender mais e melhor os conceitos sobre a imunologia clínica, é preciso retomar alguns conceitos da imunologia básica. Nesse sentido, compreender como o sistema imune funciona é imprescindível para conseguirmos alcançar o objetivo de compreendermos a importância da imunologia clínica. Para isso, nesta leitura, retomaremos conceitos básicos da imunologia e utilizaremos para aprofundar nosso conhecimento em imunologia clínica. 1.1 Imunologia básica O sistema imunológico é responsável por manter a integridade física e a homeostase do corpo. Este conceito da função protetora (imunidade) do sistema imunológico vem ganhando notoriedade desde o início da história da imunologia, nascida na microbiologia. À medida que a nova ciência dava seus primeiros passos para descobrir o mecanismo da imunidade, afirmava-se em uma longa jornada que culminou na descoberta das primeiras vacinas e, posteriormente, da imunidade passiva, amplamente utilizada (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Em 1883, o biólogo Elie Metchnikoff observou que os antigamente denominados glóbulos brancos englobavam e destruíam esporos de fungos, constatando, assim, que a imunidade é baseada na ação dos leucócitos. Em 1885, Pasteur administrou a primeira vacina em humano infectado pelo vírus da raiva. A partir do século XX, começou a se tornar mais concisa a relação entre as doenças existentes e causas imunológicas. Outra grande descoberta foi em relação às transfusões 9 sanguíneas, que, antigamente, eram imprevisíveis e, na maioria das vezes, induziam o paciente ao óbito. Por meio de estudos, verificaram que as reações aconteciam por distinções de substâncias presentes na superfície das hemácias, que, hoje, são os grupos sanguíneos que conhecemos como sistema ABO, bem como o fator Rh (VICTOR, 2018). O sistema imune engloba vários constituintes e é imprescindível lembrar que é dividido em imunidade inata e imunidade adaptativa, conforme apresentado na Figura 1. Figura 1 – Imunidade inata e imunidade adaptativa (adquirida) Fonte: Abbas (2007, p. 3). A imunidade inata é composta, inicialmente, por barreiras mecânicas, que nada mais são do que barreiras epiteliais, como mucosas e a própria pele. Os componentes celulares daimunidade inata englobam os leucócitos de maneira geral, que realizam uma proteção complexa e inespecífica, induzindo processo inflamatório. Após essa afirmação, 10 você pode estar se perguntando: se a resposta é inespecífica, como a imunidade inata consegue nos proteger de um microrganismo invasor? (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Agora, vamos inserir o conceito de antígeno, que é qualquer substância ou partícula que pode ser reconhecida pelo nosso sistema imune e que reconhece como não próprio, ou seja, nosso sistema imune entende que aquela partícula não é do nosso organismo, logo, é considerada uma substância invasora, e isso ativa nosso sistema imune. Sendo assim, partículas com capacidade antigênica expressas na superfície de microrganismos ativam o sistema imune. A imunidade inata reconhece estruturas que são comuns a vários tipos de microrganismos e que não existem nos humanos, como, por exemplo, resíduos de manose e lipopolissacarídeos bacterianos. Logo após o primeiro contato com essas substâncias, nossa imunidade inata é ativada e inicia-se o processo de defesa (VICTOR, 2018). Em contraste à imunidade inata, inespecífica, a imunidade adaptativa, também conhecida como imunidade adquirida, é específica a antígenos, sendo produzido anticorpos específicos para cada antígeno reconhecido. Os anticorpos são conhecidos como resposta humoral da imunidade adaptativa, e o a imunidade mediada por linfócitos T é denominada imunidade celular. Após o contado com o antígeno presente no microrganismo invasor, pode-se demorar de três a sete dias para que essas defesas se iniciem. Isso ocorre pelo fato de serem específicas e necessitarem ser produzidas após o contato com os microrganismos (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Um conceito importante, que não é possível de ser deixado de lado, é que toda reação do sistema imune induz inflamação. Quando pensamos em inflamação, logo pensamos em algo ruim, mas a inflamação é importante no processo de cicatrização, por exemplo, além de ser um processo decorrente da proteção do nosso organismo (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). 11 Imunologia é o estudo dos complexos mecanismos que são realizados pelo sistema imune (sistema imunológico), uma de suas principais particularidades é distinguir o próprio do não próprio”. Essa particularidade é imprescindível para seu funcionamento normal e para que não ocorram doenças autoimunes. Nesse contexto, pode-se imaginar a quantidade de células e mediadores químicos que participam das reações realizadas pelo sistema imune. Como mencionado, várias são as células do sistema imune, entretanto, cada uma possui seu papel no mecanismo de defesa do nosso organismo. Da mesma forma, quando uma ou mais dessas células não realiza sua atividade natural ou a realiza de maneira desordenada, isso acaba acarretando sérios problemas ao nosso organismo (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Na Figura 2, são apresentadas algumas das mais importantes células que integram o sistema imune. Figura 2 – Células que compõem o sistema imune Fonte: Viki/ iStock.com. 12 Em relação à imunidade inata, destacam-se os macrófagos, os neutrófilos, leucócitos mais abundantes no nosso organismo, basófilos e eosinófilos. Além disso, os macrófagos e as células dendríticas se comportam como células apresentadoras de antígenos, ou seja, apresentam os antígenos para células efetoras, que iniciarão o processo de morte ao microrganismo invasor. Entre as células que se destacam no sistema imune adaptativo, temos os linfócitos T e os linfócitos B. Os linfócitos B podem se diferenciar em plasmócitos, que possuem a capacidade de secretarem anticorpos. Já os linfócitos T possuem várias denominações, citaremos as mais importantes que são os linfócitos TCD4+ e os linfócitos TCD8+. Os primeiros são conhecidos como auxiliadores, podem recrutar fagócitos como macrófagos, além de estimularem plasmócitos a secretarem anticorpos. Já os linfócitos TCD8+, são conhecidos como citotóxicos, ou seja, tem o potencial de eliminar células invasoras ou neoplásicas (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Por fim, acabamos de relembrar alguns conceitos básicos da imunologia, mas não podemos esquecer que nosso sistema imune é muito complexo. Em função do exposto, entende-se porque é necessário retomar conceitos da imunologia básica, pois é ela quem nos traz os conhecimentos necessários para o aprofundamento em imunologia clínica. 1.2 Imunologia clínica Após o aprofundamento dos conhecimentos da imunologia básica e os avanços da medicina, tanto em conceitos básicos quanto em diagnósticos, foi possível aplicar esses conhecimentos na prática clínica. Esses conhecimentos em imunologia clínica podem ser aplicados visando o benefício do paciente, seja em direcionar o raciocínio clínico em busca de um diagnóstico, verificar se o tratamento realizado está sendo eficaz e até mesmo, conhecer o prognóstico da doença. 13 A imunologia clínica se concentra em doenças para as quais o mecanismo imunológico não está presente, seja por causas genéticas ou adquiridas (doenças de imunodeficiência, como infecção por HIV, induzindo a Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), ou devido à transformação neoplásica de células linfóides e outras células imunes (malignidades linfóides), ou o papel dos anticorpos e/ou linfócitos especificamente sensibilizados, seja diretamente ou via múltiplos sistemas efetores relacionados, causando danos teciduais ao hospedeiro (alergia e autoimune). Também inclui situações que podem levar a tais lesões o papel do sistema imunológico na defesa contra microrganismos (infecção e imunidade), ou durante a rejeição halogênica (transplante e imunologia transfusional). Por fim, trata imunogenética e imunoterapia na prática clínica (VICTOR, 2018). Em relação ao diagnóstico, prognóstico e tratamento, um aspecto da imunologia clínica, que sempre é utilizado, são os anticorpos produzidos pelos plasmócitos, que fazem parte da imunidade adquirida ou na medula óssea. Os anticorpos são imunoglobulinas, que podem ser diferenciadas por função e estrutura física. Em relação à sua estrutura, ambos possuem uma base em comum que é formada por cadeias pesadas, comum a todos os anticorpos e as cadeias leves que são variáveis (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Conforme apresentado na Figura 3, IgG e IgE são monômeros, IgA é um dímero e a IgM possui forma pentamérica. 14 Figura 3 – Tipos de anticorpos Fonte: ttsz/ iStock.com. De maneira geral, cada imunoglobulina possui uma ação e uma característica específica, que pode ser interpretada e aplicada na imunologia clínica. A IgG, por exemplo, é conhecida por ser detectada em processos imunes já convalescentes, ou seja, a doença entrando em remissão. A igG também é responsável por formar a memória imunológica, que é manter níveis de anticorpos suficientes para ativação em um próximo contato com o antígeno. Sua ação está relacionada com a neutralização de alguns microrganismos e de suas toxinas, além disso, pode ativar a via clássica do sistema complemento. Já a IgM, é conhecida por apresentar seus níveis aumentados quando a doença em questão ainda está em fase aguda, ou seja, IgM com níveis elevados em um 15 paciente pode indicar que a doença ainda está ativa em seu organismo (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). O que vimos, até aqui, é bem interessante, mas como realmente é possível aplicar esses conhecimentos em imunologia na prática clínica do paciente? Ao pensarmos em uma doença que tem relação com o sistema imune, é interessante verificar quais células estão envolvidas e qual tecido ou órgão está sendo afetado. Nesse sentido, vamos direto para um exemplo prático: uma doença autoimune. O conceito de doença autoimune, atualmente denominada de doença imunomediada, é definido pelo fato do organismo perder a capacidade de reconhecer antígenosdo próprio corpo e gerar uma resposta contra eles, aí vem o conceito de autoimune. O Lúpus EritematosoSistêmico(LES) é uma doença autoimune. As manifestações clínicas do paciente associadas ao diagnóstico laboratorial e interpretação dos resultados podem contribuir para o tratamento e melhora do quadro do paciente (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Doenças dessa classe podem ser controladas, mas, infelizmente, não podem ser curadas, elas entram em remissão, ou seja, apresenta uma redução em seu grau evolutivo. O LES é uma doença autoimune sistêmica que é conhecida pela formação e deposição de imunocomplexos na pele, rins e outros órgãos do paciente. A deposição de imunocomplexos pode induzir a ativação de neutrófilos e monócitos, que estimularão o processo inflamatório na região. Nos rins, os imunocomplexos se depositam nos glomérulos, induzindo inflamação local e, consequentemente, perda da função de filtração. Essa deposição ocorre gradualmente, com um início insidioso, mas, com o tempo, o processo inflamatório vai se propagando, acarretando perda na qualidade de vida do paciente. Nesse sentindo, a imunologia clínica aplica os conceitos básicos de imunologia, visando seu diagnóstico e a melhora do quadro do paciente (DUARTE et al., 2021). 16 Outro exemplo importante de doença autoimune, onde é possível aplicar a imunologia clínica, é a Artrite Reumatoide (AR). Essa doença é caracterizada por sinovite periférica e manifestações extra-articulares, acometendo mais indivíduos do sexo feminino. Normalmente, o processo inflamatório da AR é iniciado por um componente denominado Fator reumatoide, que nada mais é do que um autoanticorpo, que, geralmente, é uma IgM (pentamérica) que ataca IgG (monomérica). A presença desse autoanticorpo pode ser um indício de que o paciente possa apresentar AR. Ao atacar porções IgG, o imunocomplexo formado entre IgG e IgM se deposita nas articulações, iniciando o processo inflamatório (DUARTE et al., 2021). Com o exemplo da importância da imunologia clínica na artrite reumatoide, podemos salientar que o diagnóstico e sucesso no tratamento de várias outras doenças também dependem da imunologia clínica. Exemplos importantes são HIV, Diabetes Melitus tipo 1, hepatite autoimune e anemia hemolítica autoimune (SANTANA et al., 2021). A Diabetes Melito tipo 1 é uma doença metabólica crônica, caracterizada por uma deficiência de insulina, determinada pela destruição das células produtoras de insulina do pâncreas. Este processo, mediado pelo sistema imunológico, ocasiona um quadro permanente de hiperglicemia, característico da patologia. Invariavelmente, há necessidade de reposição insulínica exógena. Os autoanticorpos atuam destruindo as células beta presentes nas ilhotas de Langerhans no pâncreas. Nesta doença, existem alterações no metabolismo de hidratos de carbono, lipídios e proteínas, assim como alterações estruturais em diversos sistemas orgânicos. Genes de diversos locus vêm sendo estudados quanto a sua participação no desenvolvimento do Diabetes tipo 1. O conjunto de genes presentes no locus MHC (complexo principal de histocompatibilidade) vem sendo estudado por meio de métodos moleculares, com a utilização da reação em cadeia da polimerase (PCR), permitindo, com isso, a determinação das sequências de aminoácidos de seus constituintes (SANTANA et al., 2021). 17 Em contrapartida, na aplicação da imunologia clínica nas doenças autoimunes supracitadas, temos a imunologia clínica, auxiliando as imunodeficiências. De maneira geral, a imunodeficiência é um distúrbio do sistema imune caracterizado pela incapacidade de ter uma resposta efetiva frente à antígenos, e qualquer parte do sistema imune pode ser afetado. Após longos anos de estudos, os cientistas verificaram dois tipos de imunodeficiências, a primária e a secundária (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). A imunodeficiência primária é responsável por cerca de 10% dos casos de imunodeficiência, que pode acontecer decorrente de erros genéticos, falta de linfócitos TCD4+. Entretanto, existem mais de cem diferentes imunodeficiências primárias e os principais sintomas são infecções graves, que o sistema imune é incapaz de combater. Muitos casos de imunodeficiência primária são decorrentes de uma alteração enzimática denominada adenosina desaminase (ADA), deficiência que acarreta uma perda da função do linfócito TCD4. Vejam a importância da enzima ADA na imunologia clínica (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Já a imunodeficiência secundária, é responsável por aproximadamente 90% dos casos de imunodeficiências e acontece em decorrência de vários fatores, como má nutrição, medicamentos imunossupressores, malignidades linfoides e HIV. A infecção pelo vírus do HIV é uma das mais importantes imunodeficiências adquiridas, esse retrovírus induz a destruição progressiva de macrófagos, células dendríticas e, principalmente, linfócitos TCD4+. Após o diagnóstico, o tratamento é feito com o uso de antirretrovirais, e a realização de exames de carga viral é imprescindível para o sucesso do tratamento (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). A leucemia, um câncer que afeta os leucócitos, começa na medula óssea e se espalha pela corrente sanguínea por todo o corpo, impedindo ou destruindo a produção das hemácias, plaquetas e leucócitos, resultando em anemia, infecção e sangramento. O hemograma pode 18 confirmar a suspeita de leucemia. Se positivo, a contagem de células sanguíneas mudará, mostrando um aumento no número de leucócitos na maioria dos casos, com ou sem diminuição de hemácias e plaquetas. Outros exames laboratoriais, bioquímicos e de coagulação, devem ser realizados. O diagnóstico é confirmado pelo exame da medula óssea (mielograma). Em função do exposto, é possível verificar a importância da imunologia clínica no diagnóstico, tratamento e prevenção de piora no quadro de pacientes que possuem algum distúrbio relacionado ao sistema imune. É importante que você, como profissional da saúde, esteja atento(a) à novos protocolos, novas metodologias laboratoriais e novos marcadores utilizados para doenças que estejam relacionadas ao sistema imune. Assim, conseguimos verificar que componentes do sistema imune podem ser utilizados para interpretar situações clínicas, contribuindo para a escolha de melhores tratamentos, visando sempre a melhora no quadro do paciente, bem como da sua qualidade de vida. Referências ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. DUARTE, M. F. R.; SILVA, E. A. F.; SILVA, M. et al. Principais biomarcadores aplicados no diagnóstico da Artrite Reumatoide: uma revisão integrativa da literatura. Tópicos nas ciências da saúde, v. 7, p. 6-20, 2021. Matogrosso: Pantanal, 2021. Disponível em: https://editorapantanal.com.br/ebooks/2021/topicos-nas-ciencias-da-saude- volume-vii/Cap1.pdf. Acesso em: 27 jun. 2022. SANTANA, J. L. G.; DOS SANTOS, K. R. N.; DO NASCIMENTO, G. T. B. et al. Fatores que afetam a qualidade de vida de crianças e adolescentes portadores de Diabetes Mellitus Tipo 1: uma revisão integrativa. RECIMA21–Revista Científica, v. 2, n. 10. Jundiaí, 2021. Disponível em: https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/ view/826. Acesso em: 27 jun. 2022. VICTOR, Â. de L. A imunologia clínica no ensino pré-graduado de Medicina: relevância e proposta de implementação na Faculdade de Medicina de 19 Cabinda. Tese de Doutorado para Mestre em Ciências Biológicas. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2018. Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/ bitstream/10400.6/10073/1/6736_13985.pdf. Acesso em: 27 jun. 2022. 20 Interpretação das principais reações sorológicas bacterianas, virais e parasitárias na rotina do laboratório de Análises Clínicas Autoria: Ana Paula Michelin Leitura crítica: Veronica Soares Objetivos • Conceituar reações sorológicas. • Apresentar e exemplificar as reações sorológicas. • Conhecer técnicas de imunodiagnóstico. • Interpretar as principais reações sorológicas nas análises clínicas. 21 1. Reações sorológicasOs testes sorológicos são desenvolvidos a partir da reação entre antígenos e anticorpos. Os antígenos são moléculas complexas constituídas, principalmente, por proteínas, das quais apenas as partes mais expostas são capazes de estimular a produção de anticorpos. Portanto, os anticorpos são direcionados apenas contra essas partes, chamadas de determinantes antigênicos ou epítopos. Isso, às vezes, permite a imunização cruzada, quando a resposta imune é direcionada contra duas moléculas que possuem epítopos iguais ou semelhantes, embora diferentes ao mesmo tempo. Anticorpos são proteínas produzidas por células sanguíneas, chamadas plasmócitos, quando o sistema imunológico entra em contato com um antígeno, que pode ser um vírus, protozoário, fungo, bactéria, para produzir anticorpos específicos contra ele (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Os kits de diagnóstico (Kits) são utilizados para caracterizar a presença desses anticorpos específicos, e contêm reagentes com os epítopos do microrganismo em estudo. Isso permite a ligação de apenas anticorpos específicos, que podem estar presentes no sangue de um indivíduo em particular. Os epítopos antigênicos, presentes nestes grupos, variam de acordo com o método utilizado e a fonte do kit (GELLER; SCHEINBERG, 2015). Assim, os testes sorológicos são procedimentos utilizados para detectar anticorpos e, em algumas vezes, componentes antigênicos para diversos fins. Os estudos de anticorpos são usados na tentativa de elucidar processos patológicos com sinais e sintomas clínicos confusos, estudar diferentes classes de anticorpos para ajudar a diferenciar os estágios da doença, caracterizar a presença de doenças congênitas, selecionar doadores de sangue, avaliar o prognóstico da doença, avaliação da eficácia, avaliação da força da imunidade etc. Os estudos de antígenos são usados como critério de cura para certas doenças na 22 determinação da etiologia da doença, na seleção de doadores de sangue e em investigações epidemiológicas. Em conclusão, o teste sorológico desempenha um papel importante na clinicopatologia, sendo útil no diagnóstico de grandes suspeitas clínicas (FERREIRA; MORAES, 2013). No entanto, deve-se ter em mente que os resultados podem variar dependendo de uma série de fatores relacionados à resposta imune do hospedeiro e variação antigênica patogênica. Esses fatores podem levar a resultados falso-positivos devido à reatividade cruzada com epítopos comuns, presentes no parasita, contra antígenos ubíquos (presentes em diferentes locais do ambiente) ou devido a respostas imunes aumentadas do hospedeiro, ou devido à falta de resultados falso-negativos devido a respostas imunes contra epítopos do parasita (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). É claro que todas as áreas da saúde estão, constantemente, em busca de um teste ou processo de referência que possa determinar se um paciente tem ou não uma doença, o teste padrão-ouro. No entanto, existe uma gama de fatores, além dos já mencionadas aqui, que precisam ser analisados com rigor para que a definição do processo infeccioso seja o mais próximo possível do verdadeiro estado clínico do paciente. O conhecimento dos parâmetros sorológicos é a base para a interpretação e avaliação dos testes sorológicos. Portanto, as características e limitações do teste sorológico são determinadas pelos seguintes parâmetros, como sensibilidade e especificidade do método (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). A detecção de anticorpos é a melhor maneira de avaliar uma infecção anterior, pois o agente infeccioso, geralmente, é eliminado à medida que a condição progride; apenas o sistema imunológico permanece e atua como prova de que a infecção ocorreu. Portanto, podemos dizer que a sorologia representa uma abordagem indireta para o diagnóstico da doença [8]. Esse procedimento é, frequentemente, usado para 23 diagnosticar infecções bacterianas, pois o isolamento costuma ser difícil e pouco comum (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Idealmente, todos os testes de diagnóstico, seja em animais ou em humanos, devem ser rápidos, precisos e baratos. Entretanto, nem todos possuem essas características e cada teste deve ser avaliado de acordo com a finalidade de sua utilização. Para criar um perfil sorológico adequado, devem ser definidos objetivos e informações sobre quais doenças podem ocorrer antes da coleta de amostras. Além disso, o estágio da doença, se grave ou crônica, deve ser identificado para uso de exames adequados (FERREIRA; MORAES., 2013). Com a sorologia, o perfil sorológico pode ser determinado. A partir daí, é possível verificar se o indivíduo foi exposto a algum agente infeccioso, para determinar o momento em que a infecção ocorreu, ou em qualquer fase do ciclo reprodutivo para cada agente infeccioso circundante. Deve- se levar em consideração o fato de que certas doenças são subclínicas, de modo que o conhecimento dos perfis sorológicos possa ser uma forma de detectar sua presença. O monitoramento sorológico, quando realizado em pessoas com doenças crônicas, ajuda a identificar e definir os tipos de estratégias de controle utilizadas para reduzir o impacto da exposição ao agente nos indivíduos acometidos (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Uma curiosidade é que como essas metodologias podem ser empregadas em animais, o perfil sorológico dos rebanhos vem sendo utilizado como ferramenta de controle higiênico em países com suínos avançados, mas, em geral, não tem sido amplamente utilizado. Atualmente, existem métodos sorológicos para diversas doenças (entéricas e sistêmicas) que são analisados e monitorados para dados clínicos, de produção e de abate, o que fornece uma base sólida para definição diagnóstica (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). 24 Um complexo anticorpo-antígeno é uma ligação de biomolécula semelhante à interação de uma enzima com seu substrato ou de um hormônio com seu receptor. Os antígenos têm estruturas químicas que são complementares aos anticorpos por meio de ligações não covalentes, ou seja, essas ligações são reversíveis e possuem diferentes afinidades para diferentes substâncias. Como um anticorpo pode se associar a antígenos com afinidades diferentes, pode se ligar a um antígeno que não seja seu melhor correspondente, por meio de ligações mais fracas à regiões semelhantes, mas não idênticas. Essa ligação é chamada de reatividade cruzada (FERREIRA; MORAES., 2013). As interações entre o anticorpo e seu antígeno podem ser interrompidas por alta salinidade, variações excessivas de pH, purificadores e, às vezes, competição com alta concentração do próprio epítopo puro. Em relação à formação do complexo antígeno-anticorpo, necessárias é necessário que existam algumas características, como a compatibilidade, que nada mais é do que a força de ligação, ou de não ligação, entre um único sítio de ligação em Ac e um componente do antígeno. Depende do grau de compatibilidade entre as duas moléculas. Com baixas compatibilidades, o anticorpo se liga levemente e tende a se desligar facilmente. Os anticorpos que são muito compatíveis formam ligações fortes e difíceis de separar (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2015). Outro critério importante que precisa ser levado em consideração é a avidez, que é a energia que vem das muitas interações entre a molécula do anticorpo e o antígeno. Nesse caso, quanto maior a avidez, melhor seu efeito biológico final (por exemplo, a detecção de antígenos complexos na superfície das bactérias). A avidez é importante, pois, em casos de baixas concentrações de anticorpos, compensa a concentração, mantendo o complexo (GELLER; SCHEINBERG, 2015). 25 1.1 Imunodiagnóstico Os testes de imunologia usam os antígenos para detectar anticorpos contra um patógeno específico em uma amostra, bem como é possível utilizar anticorpos para detectar antígenos de um patógeno específico em uma amostra do paciente. O tratamento da amostra varia, mas nem sempre todas as metodologias serão executadasimediatamente, o que exigirá que a amostra seja refrigerada, para impedir alterações nas concentrações dos componentes e evitar o crescimento excessivo de contaminantes bacterianos (FERREIRA; MORAES., 2013). Metodologias de imunodiagnóstico são testes realizados para a detecção de anticorpos ou antígenos. Nesse caso, qualquer molécula que se comporte como um antígeno pode ser identificada, não se limitando apenas a microrganismos, mas podendo ser até mesmo substâncias químicas, como drogas de abuso (FERREIRA; MORAES., 2013). As metodologias podem ser divididas entre primárias e secundárias, conforme ilustra a figura 1. Figura 1 – Ensaios imunológicos primários e secundários Fonte: elaborada pela autora. 26 1.1.1 Aglutinação Iniciaremos pelos ensaios imunológicos secundários, como, por exemplo, os testes de aglutinação. A aglutinação ocorre por meio de partículas muito pequenas, como látex, que são revestidos com antígeno. Ao adicionar a amostra do paciente, e se nela existirem anticorpos, ele se ligará ao antígeno e induzirá a formação do complexo, produzindo uma aglutinação visível. Os testes de aglutinação costumam ser mais rápidos, entretanto, menos sensíveis que outros métodos (GELLER; SCHEINBERG, 2015). 1.1.2 Precipitação A precipitação também é uma metodologia simples que pode ser utilizada na detecção de anticorpos. A reação de precipitação pode ser realizada em tubo de ensaio, e detectar imunoglobulinas no soro humano, que têm capacidade de se precipitarem em baixas temperaturas, conhecidas como crioglobulinas. Essa metodologia é útil na detecção de pacientes infectados pelo vírus da hepatite C (GELLER; SCHEINBERG, 2015). 1.1.3 Nefelometria A Nefelometria é outra metodologia utilizada em imunodiagnóstico, que se baseia na dispersão da luz em vários ângulos que a formação do imunocomplexo causa. Essa metodologia pode verificar presença de fator reumatoide, IgG, IgA e antiestreptolisina-O, por exemplo (GELLER; SCHEINBERG, 2015). 1.1.4 Imunodifusão Já a imunodifusão, é baseada na distribuição de solventes por movimentos celulares aleatórios em uma área tratada com gel, 27 como ágar ou gel de agarose. Enquanto as moléculas estão livres, a distribuição continua, até que se formem imunocomplexos de alto peso molecular e, devido ao seu tamanho, não movem o gel, permitindo que o imunocomplexo seja visto como uma turbidez clara, que é o imunoprecipitado. Nesta estratégia, além do bom foco de cada componente, a especificidade e velocidade dos soros imunes e seleção de extratos antigênicos também explicarão a eficácia do teste. Outros fatores que afetam a qualidade das técnicas de imunodifusão são a qualidade, grau de limpeza e homogeneidade do meio gelificado, bem como a temperatura e umidade da área em que a distribuição ocorrerá (FERREIRA; MORAES, 2013). Existem combinações desse processo, por exemplo: simples, em que um componente (Ag ou Ac) é imerso no gel enquanto o outro se movimenta até a formação de um imunocomplexo; duas vezes, onde dois elementos se movem simultaneamente, um de frente para o outro e radialmente, por movimento aleatório em todas as direções, a partir do furo onde a amostra é colocada (FERREIRA; MORAES, 2013). É interessante pensar que para uma mesma doença existem várias metodologias que podem ser aplicadas. O que devemos levar em consideração é a sensibilidade, especificidade e o objetivo do exame, por exemplo, no diagnóstico do Schistosoma Mansoni os diagnósticos indiretos podem ser realizados na anamnese do paciente, onde são avaliados sinais e sintomas, além de técnicas imunológicas laboratoriais e celulares, com diagnósticos imunológicos classificados como respostas sorológicas e intradérmicas. A reação intradérmica se manifesta pela injeção de antígenos parasitários. No entanto, esse processo apresenta algumas limitações, como alto custo, baixa especificação, persistência de resultados positivos mesmo após o tratamento, reações adversas, baixas correlações com a produção de ovos e manejo complexo (FERREIRA; MORAES., 2013). 28 Os testes de imunoensaio são muito utilizados, pois são mais sensíveis e mais específicos, se destacando das metodologias utilizadas para a detecção do Schistosoma. A imunofluorescência indireta contém a ligação de anticorpos na superfície do parasita, bem como a ligação subsequente de imunoglobulinas contendo fluoresceína marcadas como anti-humano. A fluorescência é então detectada ao microscópio1. O método ELISA é o método de diagnóstico sorológico mais utilizado, que envolve o uso de enzimas relacionadas a antígenos para detectar anticorpos existentes, ou enzimas ligadas a anticorpos para detectar antígenos, que será comentado adiante (GELLER; SCHEINBERG, 2015). O diagnóstico indireto de doenças helmínticas é muito importante no manejo eficaz dessas infecções por helmintos em humanos e animais. Esse diagnóstico, se suspeito, se feito precocemente, pode ter um impacto significativo sobre esses agentes, que podem ser controlados ou restritos a um grupo de animais ou a um grupo de pessoas ameaçadas. O principal desafio desses métodos é garantir que sejam eficazes, ou seja, que possam produzir alta sensibilidade e especificidade (GELLER; SCHEINBERG, 2015). Na Doença de Chagas, os exames laboratoriais para a doença devem levar em consideração o estágio da infecção. A fase crítica é caracterizada por alta parasitemia e exames parasitológicos como novos estudos de tripanossomatídeos, trauma (Strout) e esfregaço espesso. No entanto, na fase crônica, há baixa parasitemia e presença de determinados anticorpos (IgG). Nesta fase, o diagnóstico sorológico é feito pela busca de anticorpos específicos para T. cruzi por ensaio imunoenzimático (ELISA), imunocromatografia, aglutinação, hemaglutinação, quimioluminescência e imunofluorescência indireta (GELLER; SCHEINBERG, 2015). As metodologias sorológicas são imprescindíveis na hemoterapia, no Brasil e no mundo, e é marcada pelo desenvolvimento e uso de novas tecnologias que visam reduzir os riscos das transfusões, principalmente, 29 no que diz respeito à prevenção da disseminação de doenças infecciosas. Para transmitir esses vírus por transfusão, é necessária a presença de um agente infeccioso no sangue do doador, a falha nos testes de triagem sorológica e o hospedeiro envolvido (FERREIRA; MORAES., 2013). Além disso, as interações medicamentosas de um determinado componente sanguíneo determinam a contaminação de vários componentes sanguíneos (concentrações de glóbulos vermelhos, concentrados de plaquetas, concentrados de leucócitos e plasma). Portanto, o Vírus Linfotrópico de Células T Humanas (HTLV) e o Citomegalovírus (CMV) são encontrados apenas em leucócitos, o Vírus da Hepatite B (HBV) e o Vírus da Hepatite C (HBC) encontrados especificamente no plasma. O Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas, pode estar presente em todos os componentes do sangue; O Plasmodium, agente etiológico da malária, é encontrado nos glóbulos vermelhos, enquanto o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é encontrado nos leucócitos e no plasma (FERREIRA; MORAES, 2013). 1.2 ELISA A metodologia de ELISA, deriva do inglês Enzyme Liked Immunosorbent Assay (Enzyme Immunosorbent Assay), e possibilita a mensuração de anticorpos e antígenos, por meio de reações utilizando enzimas, por isso, é chamado de enzima imunoensaio. O método ELISA é amplamente utilizado em todo o mundo, devido a sua aplicação prática em diversas amostras e sua capacidade de amplificar sinal com alta sensibilidade e especificidade de anticorpos e antígenos em fluidos biológicos complexos (BORGES; DERMARGOS; HATANAKA, 2022). Este processo foi descrito, pela primeira vez, por Yalow e Berson (1959). O procedimento foi relatado por autores, utilizando a detecção de anticorpos por ligação a um sinal radioativo e devido aos riscos relacionados à radioatividade, o método foi alterado. Foi então que 30 experimentosde laboratório mostraram que compostos enzimáticos eram capazes de alterar a cor do meio, e que essas mutações não podiam ser mensuradas, e, por esse motivo, a busca por compostos enzimáticos ligados a substratos associados a anticorpos podem ser iniciada (BORGES; DERMARGOS; HATANAKA, 2022). Em 1971, duas equipes de pesquisa europeias publicaram o processo Enzymatic Immunosorbent Assay (ELISA) (Engvall e Perlmann, 1971; Van Weemen e Schuurs, 1971). Os cientistas Engvall e Perlmann foram os responsáveis por transformar o método ELISA que conhecemos hoje, usando enzimas para sintetizar antígenos, em vez de usar iodo radioativo (BORGES; DERMARGOS; HATANAKA, 2022). O teste ELISA possui quatro modelos principais: ELISA indireto, ELISA direto, ELISA competição e ELISA sanduíche. Durante todo o processo do ELISA, independentemente do tipo, existe a etapa de lavagem entre as reações. Elas são utilizadas para que tudo o que esteja em excesso, ou seja, tudo o que não foi ligado, seja retirado do meio de reação. O ELISA direto, mensura o antígeno, que é fixado na placa, então adiciona- se o anticorpo conjugado a uma enzima, que pode ser detectado colorimétricamente. Este tipo de ELISA tem a menor sensibilidade e raramente é usado. Já o ELISA indireto, se assemelha ao direto, mas usa um anticorpo auxiliar marcado, e possui maior especificidade no teste por utilizar anticorpo auxiliar (BORGES; DERMARGOS; HATANAKA, 2022). ELISA de competição usa antígenos marcados para competir com os alvos. Quando há mais antígeno não marcado (da amostra), menos antígeno marcado se liga, de modo que a cor fica mais fraca quando há muito alvo na amostra. Usado, principalmente, quando os epítopos de ligação ao alvo são poucos ou muito pequenos (BORGES, L.; DERMARGOS, A.; HATANAKA, 2022). O ELISA sanduíche é o mais comum e o mais utilizado dentre os quatro tipos. Esse tipo de ELISA acontece porque é adsorvido um anticorpo de 31 captura específico do alvo na placa (ou se ligou à placa durante a noite, chamado de sensibilização da placa), então, é adicionado a amostra à placa de incubação e o analito-alvo é capturado com ele, assim, o anticorpo se adere à placa. Em seguida, é adicionado outro anticorpo específico do alvo e um marcador auxiliar do anticorpo colocado anteriormente. Tem grande sensibilidade e capacidade de amplificação (BORGES; DERMARGOS; HATANAKA, 2022). Com essa leitura, é possível verificar a quantidade de metodologias sorológicas que podem ser utilizadas no âmbito da imunologia clínica, auxiliando diagnósticos e acompanhamento dessas doenças. Referências ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. BORGES, L.; DERMARGOS, A.; HATANAKA, E. Technical bioanalytical considerations for detection and quantification of cytokines. In: ELISA assays. Cytokines, v.151, 2022. FERREIRA, A. W.; MORAES, S. L. Diagnóstico laboratorial das principais doencas infecciosas e autoimunes. 3. ed. Rio De Janeiro; Guanabara Koogan, 2013. GELLER, M.; SCHEINBERG, M. A. Diagnóstico e tratamento das doenças imunológicas. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015. 32 Avanços das Técnicas em Imunologia Clínica Autoria: Tatiane Marques Leitura crítica: Veronica Soares Objetivos • Conhecer as novas tecnologias utilizadas nos exames sorológicos. • Compreender o princípio da reação antígeno- anticorpo e sua detecção nos exames sorológicos que utilizam novas tecnologias. • Reconhecer como devem ser interpretados os resultados de exames sorológicos que utilizam novas tecnologias. 33 1. Novas tecnologias em Imunologia O laboratório de análises clínicas realiza exames de amostras biológicas, com o objetivo de confirmar ou descartar um diagnóstico; elaborar diretrizes para a conduta médica; estabelecer prognósticos e monitorar a terapêutica. Nos últimos anos, com o avanço da engenharia laboratorial e a criação de novas tecnologias ou o aprimoramento daquelas já existentes, tem sido notável o aumento da automatização de procedimentos laboratoriais. Dessa forma, atuando nesta área, você deve estar sempre atento às novas tecnologias e novos métodos empregados. O setor de Imunologia Clínica, em especial, tem se destacado por empregar tecnologias modernas que resultam em maior precisão, sensibilidade e exatidão nos resultados dos exames. Como imunologista clínico, você deverá acompanhar de perto o desenvolvimento e a aplicação destas novas tecnologias em seu setor, e como facilitarão os diagnósticos de doenças infecciosas e a triagem de doenças não infecciosas. Estas novas técnicas visam o aumento de produtividade, a redução de exposição a risco biológico e redução de custos e tempo de execução dos exames clínicos. Neste material, você conhecerá avanços tecnológicos em exames realizados no setor de Imunologia Clínica. 1.1 Ensaio imunoenzimático Ensaios imunoenzimáticos são os exames sorológicos mais solicitados na rotina do laboratório clínico, por sua elevada especificidade e sensibilidade, com liberação de um resultado quali-quantitativo rápido e preciso. Trata-se de um teste para detecção e quantificação de antígenos ou anticorpos específicos, conhecidos como: ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay). Você sabia que o princípio da reação do ELISA se baseia na ligação de um antígeno a um anticorpo, seguido da adição de uma enzima, 34 a qual se liga a um fluoróforo? Recebe este nome uma substância quimiofluorescente, às vezes, chamada também de fluorocromo. Essas substâncias fluorescentes, quando excitadas, emitem luz sob a forma de fluorescência. Esse é exatamente o princípio de revelação do teste ELISA. A enzima, conjugada a um anticorpo secundário, se liga ao antígeno ou ao anticorpo presente na amostra biológica testada, a depender da metodologia empregada, conforme esquemas representativos da Figura 1. A enzima mais utilizada nos testes ELISA é a peroxidase, cujo substrato é o Peróxido de Hidrogênio (H2O2), que será convertido em água (H2O) e oxigênio (O2). Nos poços onde a enzima converte seu substrato, observa- se a degradação do fluoróforo e a emissão de cor, quando excitado pela luz, representando uma reação positiva. Os poços onde não houve mudança de coloração, correspondem a reações negativas. A leitura dos resultados é realizada em aparelho próprio, do tipo espectrofotômetro, mais conhecido como leitor de ELISA. Figura 1 – Tipos de ELISA Fonte: LeoRed2KD/ iStock.com. 35 Para compreender melhor o princípio de reação imune do teste ELISA, é preciso entender as diferenças técnicas entre os tipos de ensaio, pois isso será determinante para entender com qual substância o conjugado se ligará: antígeno ou anticorpo. Os primeiros ensaios de ELISA desenvolvidos são do tipo direto (Figura 1), no qual uma placa de polietileno é sensibilizada com o antígeno da patologia a ser diagnosticada e avalia-se a presença ou ausência de anticorpos específicos contra este antígeno, por exemplo, no soro do paciente. A técnica se baseia, na reação antígeno-anticorpo primário, e o anticorpo secundário, contendo a enzimas peroxidas, e se liga ao anticorpo primário. Por fim, o cromógeno é adicionado e convertido em água e oxigênio pela enzima ligada ao conjugado. Anos mais tarde, aprimorou-se esta técnica e o ensaio ficou conhecido como ELISA indireto (Figura 1), que segue o mesmo princípio do ensaio inicial, com pequenas modificações. O antígeno é fixado à placa e, posteriormente, adiciona-se o soro (ou outra amostra biológica), que será incubado para ligação ao antígeno específico. Após remoção do excesso de anticorpos primários não ligados, adiciona um anticorpo secundário (anti-IgG humana) conjugado à enzima peroxidase. A esse complexo antígeno-anticorpo-antianticorpo, adiciona-se o fluoróforo (substrato da enzima) que se ligará a ela. A reação de conversão do fluoróforo em fluorescência será mensurada no espectrofotômetro (MINEO; SILVA; BRÍGIDO, 2016). Você podeconferir diferença entre ELISA direto e ELISA indireto, analisando os dois primeiros esquemas da Figura 1. Os ELISA, direto e indireto, são amplamente utilizados na rotina diagnóstica para detecção de antígenos ou anticorpos específicos contra doenças parasitárias, como: Toxoplasmose, Doença de Chagas e Leishmaniose. Além disso, também existem kits laboratoriais específicos para doenças virais, como: Dengue e Rubéola, bacterianas, como Salmonellose e até mesmo doenças fúngicas, como Candidíase (Monilíase). 36 Nova abordagem deste imunoensaio, foi denominada, genericamente, como ELISA Sanduíche. O princípio geral da técnica se baseia na ligação de anticorpos primários (presentes no soro) a antígenos específicos previamente aderidos à placa, formando complexos imunes, assim como nas tecnologias anteriores. Após a lavagem para remoção de anticorpos não ligados, procede-se a incubação de um anticorpo secundário, anti- imunoglobullina humana, que se ligará ao complexo imune, formando a reação antígeno-anticorpo-anti-anticorpo. O anticorpo secundário já possui a enzima peroxidase conjugada a ele e, após a adição do fluoróforo, tem-se a conversão do substrato, seguindo-se para o passo de revelação da reação, onde será avaliada a degradação do substrato. Quanto maior a taxa de degradação, mais anti-Ig se ligou ao complexo e esta ligação é proporcional à quantidade de anticorpo primário presente na amostra que se ligou à placa. Você pode estar se perguntando: qual o diferencial deste teste? Ele possibilita o uso de peptídeos sintéticos como antígenos sensibilizantes da placa, permitindo a detecção simultânea de IgM e IgG (MINEO; SILVA; BRÍGIDO, 2016). Este exame pode ser aplicado no diagnóstico de doenças imunomediadas e alergias, além do diagnóstico diferencial de infecções virais, como: Hepatite B e as arboviroses Dengue, Zika e Chikungunya. Fique atento, pois o ELISA sanduíche tem grande aplicabilidade no diagnóstico de infecções virais, com maior especificidade e sensibilidade, minimizando a ocorrência de testes falso- positivos e falso-negativos, ou a reatividade cruzada por doenças virais similares. As técnicas sorológicas atuais para diagnóstico do HIV, denominadas ELISA de terceira e quarta geração, utilizam-se são baseadas na metodologia do ELISA Sanduiche”, utilizando peptídeos sintéticos do envelope viral como antígenos fixados à placa, e possibilitando um diagnóstico mais preciso que diferencia a infecção por HIV-1 e HIV-2 (BRASIL, 2013). 37 Embora não seja muito empregado no laboratório de análises clínicas, é importante que você conheça o ELISA por Competição (Figura 1). Neste ensaio, podem ser pesquisados antígenos ou anticorpos específicos para determinado patógeno pela competição de ligação a estes mesmos antígenos ou patógenos marcados com fluorocromos. O ensaio princípio do ensaio é o seguinte: o antígeno é fixado à placa e incuba-se a amostra em teste, para ligação do anticorpo primário, assim como no ELISA direto. Em seguida, após remoção dos anticorpos não ligados, é incubado um anticorpo marcado com o fluoróforo, que competirá com o anticorpo primário pela ligação ao antígeno. O restante do processo é semelhante, ou seja, é adicionado fluoróforo para conversão enzimática e, realiza-se a leitura. O diferencial desta técnica está na interpretação do resultado, quanto menos anticorpo marcado estiver ligado ao antígeno, maior a quantidade de anticorpos na amostra em teste. Embora pareça complexo, a interpretação é simples, a relação entre a taxa de anticorpos é inversamente proporcional à leitura. Uma variação desta técnica aplica o anticorpo primário ligado à placa e pesquisa-se o antígeno na amostra teste. Neste caso, a competição se dará pela ligação do antígeno marcado com o antígeno do soro (MINEO; SILVA; BRÍGIDO, 2016). Esta tecnologia desenvolvida mais recentemente é ideal para pequenos epítopos de ligação, ou seja, quando o fragmento peptídico é muito pequeno. Também pode ser a técnica de escolha em situações em que o alvo de ligação é menor. As técnicas mais modernas visam, não apenas a pesquisa de anticorpos específicos, mas também resquícios de partículas antigênicas, possibilitando a distinção entre uma infecção pregressa e uma infecção ativa. Ao longo dos anos, como você pode perceber, a técnica foi se aprimorando, tendo grande aplicabilidade no laboratório de análises clínicas, para diagnóstico de infecções transmissíveis. O procedimento é realizado de forma automatizada, otimizando a liberação dos 38 resultados e minimizando a ocorrência de erros laboratoriais. Atente- se para o fato de que, com o desenvolvimento das ômicas (genômica, proteômica, transcriptômica, lipidômica, metabolômica), o setor de imunologia passou a trabalhar em franca parceria com a Biologia Molecular, utilizando biomarcadores naturais ou sintéticos, e anticorpos monoclonais. Como resultado, os exames tornaram-se mais específicos, sensíveis e com menor taxa de reatividade cruzada, falso-positivos e falso-negativos (NOGUEIRA NETO; OLIVEIRA JÚNIOR, 2022). Anticorpos monoclonais são anticorpos produzidos em laboratório direcionados especificamente para uma pequena região do antígeno- alvo, ou seja, para um epítopo específico. A definição deste epítopo, ou seja, da região-alvo para estes anticorpos tem como aliadas as ômicas, principalmente a genômica e a proteômica. Desse modo, é possível selecionar regiões de menor variabilidade gênica de um antígeno viral, por exemplo, e sintetizar o peptídeo em laboratório para aplicação em ensaios de imunização de cobaias, que produzirão anticorpos específicos e, portanto, monoclonais. Estes anticorpos são, então, purificados e utilizados também em ensaios sorológicos, por exemplo. Sendo assim, tornam-se inúmeras as possibilidades de aplicação desta técnica nos exames sorológicos e a cada dia surgem novos ensaios, utilizando princípios diferentes de formação de imunocomplexos. 1.2 Imunofluorescência A aplicação de técnicas de fluorescência em ensaios sorológicos iniciou-se na década de 1940, quando os cromógenos comuns foram substituídos pelos cromógenos fluorescentes, marcando um grande avanço nas tecnologias de exames no setor de imunologia. Até então, as reações antígeno-anticorpo só poderiam ser visualizadas mediante reações secundárias, como a precipitação ou a aglutinação, que resultam na formação de grumos ou outras estruturas facilmente 39 visualizadas, desde que haja abundância em anticorpos. O uso de tecnologias envolvendo a fluorescência foi marcante, principalmente, no que concerne à visualização direta das reações antígeno-anticorpo, mesmo que estas estejam presentes em baixas proporções. A fluorescência no imunodiagnóstico ganhou destaque e, até os dias atuais, você irá executá-la muito no setor de imunologia, pois mostrou- se uma técnica com maior sensibilidade na obtenção de resultados e níveis mais baixos de reatividade cruzada, quando comparada a demais exames de imunodiagnóstico desenvolvidos previamente. Por meio das técnicas de fluorescência, você poderá visualizar, com auxílio de ferramenta própria, uma única célula marcada com o corante fluorescente, entre milhares a milhões de outras células não marcadas (NOGUEIRA NETO; OLIVEIRA JÚNIOR, 2022). Esta distinção só é possível devido ao fenômeno de luminescência, ou seja, à capacidade que algumas células, inclusive humanas, tem de armazenar a energia luminosa e liberá-la mais tarde, quando excitadas. As técnicas disponíveis para aplicação no laboratório de análises clínicas permitem o uso de mais de um fluorofo simultaneamente, e impregnação diferentes estruturas celulares, como o núcleo, o citoplasma e a membrana plasmática. Isotiocianato de Fluoresceína e Isotiocianato de Tetrametil Rodamina, mais conhecidos simplesmente como Fluoresceína e Rodamina, respectivamente, são os fluorescentes mais empregados no setor de imunologia em um laboratório de análises clínicas(MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2010). Você já conhece a citometria de fluxo? Este método, derivado da imunofluorescência para microscopia de contraste, vem conquistando cada vez mais espaço no setor de análises clínicas e em outros setores além do laboratório de imunologia clínica. O incremento tecnológico da fluorescência (direta ou indireta) para a citometria de fluxo centrou-se em modificações na estrutura de detecção da emissão de fluorescência para aumentar a eficiência quântica dos fluoroforos e demais corantes 40 que se baseiam na detecção e quantificação de células por marcadores em suas superfícies celulares (COSTA 2020). Seja para imunofluorescência, seja para a citometria de fluxo, é fundamental que o laboratório seja equipado com aparelhos de elevada qualidade, reagentes próprios e devidamente armazenados (MINEO; SILVA; BRÍGIDO, 2016). Você, como profissional qualificado para executar os exames de fluorescência, deve estar sempre atento(a) aos protocolos e cuidados para manipulação dos microscópios de fluorescência e do citômetro de fluxo. É imprescindível a correta realização de procedimentos de limpeza e calibração dos aparelhos para garantir resultados mais precisos. Com relação aos microscópios para visualização das lâminas de fluorescência, exigem uma sala própria, em ambiente escuro, e um bom microscópio óptico equipado com acessórios e filtros que permitam boa visualização e captação da fluorescência (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2010). Para escolha do equipamento ideal, deve-se ter em mente quais serão os testes realizados e seus objetivos, que tipo de material será utilizado como antígeno ou amostra, os fluoroforos ideais, conforme a rotina do laboratório, e uma estrutura física compatível com a realização destes exames. Citometria de fluxo é uma tecnologia que mede e analisa, simultaneamente, várias características de células ou partículas em suspensão líquida, quando estas passam individualmente em fluxo contínuo através de um feixe de luz. Na Figura 2, você identificará e poderá e compreender o princípio de análise da fluorescência no citômetro de fluxo. Do mais simples ao mais moderno, estes aparelhos são capazes de analisar partículas ou células que variam de 0,2µm a 50µm de diâmetro, conforme especificações programadas antes da execução do exame. Outras características celulares como complexidade interna, ou seja, granulosidade do citoplasma, e intensidade de fluorescência emitida também podem ser avaliadas (COSTA, 2020). 41 Figura 2 – Princípios da Citometria de Fluxo Fonte: VectorMine/ iStock.com. No laboratório de análises clínicas, o citômetro de fluxo é ideal para contagem e identificação de células hematológicas e detecção de subtipos de células do sistema imune (MINEO; SILVA; BRÍGIDO, 2016). Este aparelho faz não apenas a identificação do tipo celular, conforme marcadores de superfície identificados, mas também a quantificação de cada tipo celular e diferenciação de células maduras e imaturas. O grande avanço desta técnica em relação à imunofluorescência foi a possibilidade de analisar células vivas, em contrapartida à outra técnica, que exige fixação das células (COSTA, 2020). A suspensão de células marcadas com fluoroforos terá sua intensidade de fluorescência determinada, conforme a emissão de luz, característica de cada célula, e dependente do antígeno de superfície que foi marcado 42 com a fluoresceína. Desse modo, além da análise fenotípica e funcional de subpopulações celulares, você poderá fazer o isolamento de diferentes populações com antígenos de superfícies distintos corados por diferentes fluoroforos (COSTA, 2020). Diferentemente da imunofluorescência em lâmina, que é mais aplicada para diagnóstico de infecções transmissíveis, causadas por bactérias, fungos e parasitas, você utilizará a citometria de fluxo como uma ferramenta diagnóstica e prognóstica na avaliação de neoplasias malignas e benignas, transplantes de órgãos e tecidos, além de imunodeficiências primárias e adquiridas. As tecnologias mais recentes combinam a citometria de fluxo com microesferas produzidas de forma uniforme, com proporções e níveis de fluorescência do vermelho ao laranja, que serão detectadas pelo equipamento FACScan (Separador de Células Ativado por Fluorescência). Nesta técnica, cada microesfera forma a base de um ensaio individual, que apresenta endereço espectral específico, usando fluorescência verde para analisar os resultados, de modo que o primeiro feixe de laser identifica especificamente a esfera que está passando pelo detector. Um segundo feixe de luz lerá a reação na superfície da microesfera, identificado a célula conforme o marcador de superfície que for detectado (COSTA, 2020). Desse modo, é possível desenvolver ensaios cada vez mais complexos para você pesquisar números crescentes de marcadores simultaneamente no mesmo analito, em um pequeno volume de amostra. As análises por citometria de fluxo atuais são rápidas; não requerem lavagem, um grande problema do ELISA e da Imunofluorescência; e nem a separação de fase livre e fase ligada; além de poderem ser realizadas em menos de 2horas, sendo muito vantajosas para a rotina diagnóstica de um laboratório de análises clínicas. 43 1.3 Imunofixação As técnicas de ensaios sorológicos não se baseiam apenas na detecção de pequenos peptídeos e anticorpos específicos presentes no soro. O diagnóstico de algumas patologias não transmissíveis baseia-se na pesquisa de proteínas por meio de técnicas de eletroforese seguidas de ensaios imunológicos. Você já realizou a técnica de imunoeletroforese? Em caso de resposta negativa, não se preocupe, é chegado o momento de conhecer esta técnica. A imunoeletroforese combina eletroforese de proteínas e a difusão em meio gelificado, em etapas distintas, mas complementares. De modo geral, este exame consiste em separar as proteínas por tamanho e carga elétrica, por meio de difusão em gel, após a aplicação de corrente elétrica. Em momento posterior, estas proteínas são expostas a anticorpos específicos, presentes no soro, na urina ou outros fluidos biológicos, onde anticorpos específicos, e se precipitam, quando são, então, identificadas pela comparação a um padrão (controle positivo). Por meio deste ensaio imunológico, você pode discriminar maior número de componentes da mistura de um extrato antigênico ou material biológico, utilizando a especificidade dos anticorpos para cada uma das subfrações dos componentes fracionados por diferenças na carga elétrica (BOTTINI, 2007). A eletroforese de proteínas pode ser conceituada em migração de moléculas carregadas (neste caso as proteínas) em um solvente condutor, sob a influência de um campo elétrico. Neste processo de migração, moléculas de peso molecular ou carga similares situam-se em pontos próximos e são visualizados como bandas. Tamanho da molécula, carga elétrica, polaridade, concentração, força iônica, pH do solvente, temperatura, viscosidade do meio, e intensidade do campo elétrico são fatores interferentes no processo de eletroforese, que devem ser levados em conta ao padronizar a técnica. Você pode realizar a eletroforese em diferentes superfícies, sendo a mais frequente o gel de 44 poliacrilamida e bis-acrilamida para antígenos proteicos (MINEO; SILVA; BRÍGIDO, 2016). Também podem ser utilizados papel filtro, acetato de celulose e agarose, sendo este último preferencial para amostras de DNA. Posteriormente à migração eletroforética, procede-se a imunodifusão, etapa em que você expõe as proteínas (componentes antigênicos) ao soro ou outros fluidos corpóreos do paciente, para que ocorra a formação do complexo antígeno-anticorpo. A imunodifusão permite a identificação de anticorpos monoclonais ou policlonais específicos para o extrato total, ou de uma fração proteica em específico. Como resultado da ligação do anticorpo ao antígeno, forma-se um arco de precipitação na linha de equivalência.Os soros policlonais migram radialmente em direção às frações proteicas (MINEO; SILVA; BRÍGIDO, 2016). A caracterização das proteínas é feita pela mobilidade eletroforética, pela difusibilidade do antígeno e pela especificidade imunoquímica do soro utilizado (BOTTINI, 2007). Após obtenção do resultado final, o suporte pode ser lavado para retirada de anticorpos que não se ligaram (não formaram o imunocomplexo), secado para formar um filme e corado com Ponceau S ou Comassie Blue (ou outro corante para proteínas), servindo como registro documentado de um resultado, como o exemplo que você pode visualizar na Figura 3. 45 Figura 3 – Análise e comparação dos resultados da imunofixação Fonte: CasarsaGuru/ iStock.com. Com o avanço da tecnologia e das ômicas, é possível sintetizar anticorpos monoclonais específicos para cada antígeno-alvo, garantindo um resultado de qualidade e com baixa taxa de reatividade cruzada. Esta técnica permite a caracterização de proteínas com confiabilidade, detectando anormalidades estruturais por alterações no padrão de mobilidade eletroforética e alterações nas concentrações da proteína- alvo, por aumento ou diminuição do arco de precipitação formado (NOGUEIRA NETO; OLIVEIRA JÚNIOR, 2022). Como já visto, os avanços tecnológicos podem resultar em substituição ou aprimoramento de técnicas. A imunoeletroforese, aos poucos, vem sendo substituída pela imunofixação, uma nova técnica que é o padrão- ouro na detecção de proteínas anormais em amostras biológicas, por identificação de cadeias leves e pesadas em gamopatias. Esta técnica é mais sensível e rápida, podendo ser aplicada para detecção de IgA, IgG, IgM, cadeia leve kappa e cadeia leve lambda (BOTTINI, 2007). 46 Neste material, você pode aprender sobre a importância do desenvolvimento de novas tecnologias laboratoriais para o aprimoramento dos exames diagnósticos no setor de imunologia. Alguns ensaios sorológicos, como o ELISA, mantêm seu princípio de reação e incrementou-se as etapas, garantindo maior sensibilidade e especificidade. As técnicas envolvendo a análise de fluorescência emitida, por exemplo, avançaram ainda mais com o desenvolvimento tecnológico, resultando na criação de um novo ensaio, a citometria de fluxo, e aparelhos ainda mais precisos. Finalizando, você pode aprender sobre a imunoeletroforese e sua nova tecnologia, a imunofixação, ideiais para o diagnóstico de gamopatias, pela detecção de anticorpos monoclonais específicos. Referências BOTTINI, P. V. Testes laboratoriais para avaliação do componente monoclonal. Rev. Bras. Hematol. Hemoter, v. 29, n. 1, 2007. Disponível em: https://www.scielo. br/j/%20rbhh/a/M7tqWcZJWw77xHKn7xWBVXK/?lang=pt. Acesso em: 27 jun. 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Manual Técnico para Diagnóstico da Infecção pelo HIV. Brasília, 2013. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/node/57787. Acesso em: 27 jun. 2022. COSTA, R. N. Introdução à citometria de fluxo: um manual básico para iniciantes. Curitiba, 2020. MINEO, J. R.; SILVA, M. C.; BRÍGIDO, P. C. et al. Manual Ilustrado de práticas laboratoriais em Imunologia. Uberlândia: EDUFU, 2016. MOLINARO, E. M.; CAPUTO, L. F. G.; AMENDOEIRA, M. R. R. Conceitos e métodos para formação de profissionais em laboratórios de Saúde. v. 4. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2010. NOGUEIRA NETO, J. F.; OLIVEIRA JÚNIOR, R. B. Novas tecnologias em patologia clínica GoldBook–Inovaçao Tecnológica em Educação e Saúde, p. 846-883. Rio de Janeiro: UERJ, 2002. Disponível em: http://www.telessaude.uerj.br/resource/ goldbook/pdf/49.pdf. Acesso em: 27 jun. 2022. https://www.scielo.br/j/rbhh/a/M7tqWcZJWw77xHKn7xWBVXK/?format=html https://www.scielo.br/j/rbhh/a/M7tqWcZJWw77xHKn7xWBVXK/?format=html http://www.telessaude.uerj.br/resource/goldbook/pdf/49.pdf. http://www.telessaude.uerj.br/resource/goldbook/pdf/49.pdf. 47 Interpretação de Exames em Imunologia Clínica Autoria: Tatiane Marques Leitura crítica: Veronica Soares Objetivos • Conhecer a Técnica de Radioimuoensaio para dosagens hormonais em Imunoendocrinologia no Laboratório de Análises Clínicas. • Compreender e interpretar os testes diagnósticos de doenças autoimunes FAN e FR no Setor de Imunologia do Laboratório de Análises Clínicas. • Compreender o princípio de reação e a interpretação de exames de VDRL e FTA-Abs no Setor de Imunologia Clínica. 48 1. Interpretação de exames em Imunologia Clínica Os exames em Imunologia Clínica têm por finalidade o diagnóstico de doenças autoimunes, endocrinológicas ou infecções, assim como sua triagem e monitoramento de tratamento. Os exames em imunologia também podem ser aplicados em estudos de levantamento epidemiológico, assim como para avaliar a ocorrência e monitorar surtos endêmicos e epidêmicos de infecções sazonais. O princípio básico das técnicas de exames laboratoriais em imunologia clínica fundamenta-se na reação antígeno-anticorpo, onde o resultado será indicativo da presença do antígeno-alvo ou de anticorpos específicos direcionados contra eles. Além da ampla diversidade de exames que podem ser realizados e possibilidades de diagnósticos de enfermidades infecciosas e não-infecciosas, o laboratório de imunologia clínica ainda merece destaque pelo elevado grau de automatização em seus processos. Como você verá nesta disciplina, este setor diferencia-se dos demais, pelo surgimento e aprimoramento de novas tecnologias rapidamente, o que tem resultado em maior sensibilidade, especificidade e acurácia no diagnóstico de doenças, principalmente endocrinológicas e autoimunes. 1.1 Radioimunoensaio marcado Você sabia que algumas dosagens hormonais podem ser feitas no laboratório de imunologia clínica? Isso mesmo, algumas endocrinopatias têm características de doenças autoimunes e são diagnosticadas pela avaliação de autoanticorpos produzidos contra hormônios próprios, como, por exemplo, a dosagem de hormônios tireoidianos T3 e T4, para triagem ou confirmação diagnóstica de Tireoidite de Hashimoto. A seguir, você verá os princípios de execução das dosagens em imunoendocrinologia pela técnica de Radioimunoensaio marcado. 49 Os testes laboratoriais em Imunoendocrinologia, avaliam as condições fisiológicas do indivíduo que terá seu sangue testado, para triagem, diagnóstico e monitoramento de doenças endócrinas, ou seja, distúrbios na produção ou secreção do hormônio. Valores acima ou abaixo dos valores de referência podem confirmar a existência de uma patologia que desregula o funcionamento do organismo. Entretanto, como é de seu conhecimento, há diversas variáveis que podem resultar em alterações nas dosagens destes analitos, relativas à coleta, análise ou liberação dos laudos, correspondendo às fases pré-analítica, analítica e pós-analítica (SBPC, 2014), como detalhado no Quadro 1. Quadro 1 – Fatores pré-analíticos, analíticos e pós-analíticos que interferem nas dosagens hormonais. Fase pré-analítica Fase analítica Fase pós-analítica Variações fisiológicas individuais. Vidraria suja. Idade. Dieta. Aparelho descalibrado. Ciclo circadiano. Variação no ciclo circadiano. Manutenção inadequada do aparelho. Sexo biológico. Fase do ciclo menstrual. Reagentes vencidos ou inadequados. Erros de digitação dos laudos. Estresse físico ou emocional. Falha no processo de execução. Erro na interpretação dos resultados. Interferências medicamentosas. Equipe técnica não treinada. Coleta, armazenamento e transporte da amostra. Metodologia inadequada. Fonte: elaborado pelo autor. Você pode estar se perguntando: um exame que possui tantas variáveis interferentes, poderá ser realizado com qualquer amostra biológica ou 50 apenas com sangue? Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (2014), o sangue venoso periférico, mais especificamente o soro ou o plasma são as amostras mais, frequentemente, analisadas no setor de Imunoendrocrinologia, coletadoscom Heparina ou EDTA. Tenha sempre em mente que, para a maioria das dosagens hormonais, o soro é a amostra preferencial, mas para determinar o melhor tipo de amostra, você sempre deve consultar as recomendações do fabricante do ensaio para cada hormônio, assim como a literatura disponível sobre o assunto. A amostra urinária possui potencial vantagem na determinação de hormônios em sua forma livre, sem interferência de proteínas transportadoras, além de possibilitar a avaliação da variação de secreção dos analitos no período de vinte e quatro horas. O ideal é que, ao frasco de coleta, sejam adicionados conservantes ácidos e a amostra seja refrigerada, para preservação de catecolaminas e metanefrinas. Para a avaliação do cortisol, é importante que a urina seja coletada sem conservantes, mas seja mantida sob refrigeração. Outras amostras para dosagem incluem a saliva, para avaliação da fração hormonal ligada a proteínas, e líquidos de punção aspirativa de diferentes tecidos (SBPC, 2014). Com relação à metodologia para dosagem destes analitos, é importante que você saiba que é muito variável, conforme a intenção diagnóstica, como, por exemplo, os testes funcionais de estímulo, que medem a capacidade de produção e reserva hormonal; os testes funcionais de depressão, que analisam a autonomia da glândula; e os testes imunológicos, que avaliam a formação de complexos imunes e pesquisam anticorpos direcionados contra os hormônios em teste. Neste material, apenas o último tipo de teste será abordado. A técnica em questão se refere ao Radioiumuensaio marcado, uma metodologia de quantificação, composta por quatro componentes básicos: o hormônio a ser quantificado na amostra biológica; o hormônio purificado marcado com radioisótopo (TrícioH3, C14 51 ou I125); anticorpo específico com grande afinidade de ligação ao analito; e processos de separação do complexo antígeno-anticorpo. O princípio de execução deste teste é a competição de ligação ao anticorpo da substância não-marcada (analito) e o hormônio marcado. É importante que as concentrações do hormônio marcado e do anticorpo permaneçam constantes, e apenas a quantidade do hormônio a ser dosado (analito) seja variável. O equilíbrio da reação será marcado pela formação de complexos antígeno-anticorpo com o analito e com o hormônio marcado, sendo possível a separação de ambos para determinar a radioatividade dos complexos. Desse modo, a quantificação do analito se dará pela diferença da emissão de radioatividade (VIEIRA, 200). Embora seja muito sensível, permitindo a detecção de baixíssimos níveis do analito, este método apresenta a desvantagem de utilizar substâncias radioativas, requerendo equipe técnica especializada, cuidados na manipulação e descarte do material radioativo e alto custo de operação. Os hormônios dosados no laboratório clínico, por meio desta técnica, incluem: Hormônio de Crescimento (GH); Hormônio Luteinizante (LH); Gonadotrofina Coriônica (GH); Testosterona; e Hormônios Tireoidianos (T3 e T4). Além da quantificação hormonal, este teste pode ser empregado para avaliação de marcadores tumorais, alérgenos e antígenos microbianos, além da pesquisa de drogas em testes toxicológicos (VIEIRA, 2002). 1.2 Fator Reumatóide (FR) O Fator Reumatóide (FR) auxilia o sistema imune na remoção do excesso de anticorpos circulantes na corrente sanguínea, aderindo a eles e sinalizando a necessidade de sua remoção da corrente sanguínea. Você sabia que o Fator Reumatoide pode estar presente em indivíduos saudáveis, incluindo os jovens? Além disso, também pode estar levemente aumentado também em idosos saudáveis. Isso porque outras 52 possíveis funções atribuídas a ele incluem auxílio na apresentação de antígenos e indução da tolerância imunológica. Geralmente, observa-se aumento do FR em doenças crônicas ou outras condições em que o sistema imune permanece ativado por demasiado tempo. Justamente por isso, níveis mais elevados de FR podem estar presentes em indivíduos portadores de Artrite Reumatóide; Lúpus Eritematoso Sistêmico; Infecções Crônicas; Doenças Pulmonares inflamatórias ou fibrosantes; Neoplasias; e Cirrose biliar primaria (ALHABBAB, 2018). O Teste FR é muito conhecido por sua associação ao diagnóstico de Artrite Reumatóide, onde anticorpos IgG reagem com outras imunoglobulinas, formam imunocomplexos e ativam o sistema complemento, resultando na destruição das articulações sinoviais. O princípio da reação em laboratório é muito simples, trata-se de uma técnica de aglutinação em látex, na qual partículas insolúveis de látex são revestidas com IgG humana altamente purificada (ALHABBAB, 2018). Amostras de soro são expostas às partículas de látex, em lâminas próprias para este exame, como você pode ver na Figura 1, e permanecem sob agitação por cinco minutos. Depois disso, a lâmina é visualizada em microscópio para verificar a formação ou não de aglutinados. Um teste positivo é representado pela aglutinação do látex (imagem à esquerda) e um teste negativo é representado pela ausência de aglutinação (imagem à direita). 53 Figura 1 – Lâmina de teste de aglutinação em látex para Fator Reumatóide Fonte: acervo da autora. Afinal, você sabe o qual o significado clínico de um teste FR positivo ou negativo? Como este fator pode estar presente em pessoas saudáveis, como referido anteriormente, o resultado do FR isoladamente não possui significado clínico, e deve ser associado a outras dosagens de imunoglobulina, a exames de imagem e à anamnese clínica do paciente. Entretanto, caso você não possua acesso a estes dados dentro do laboratório clínico, será necessário saber discernir entre as diferentes titulações e as patologias sugestivas. Para isso, atente-se às diluições do teste antes de liberar de seu resultado, por exemplo, títulos acima de 1:640 indicam fortemente a presença de artrite reumatóide. Por outro lado, títulos baixos (1:40-1:160), frequentemente, estão presentes em indivíduos saudáveis (GOELDNER et al., 2011). 1.3 Teste do Fator Antinuclear O Teste de Anticorpos Antinúcleo, também conhecido como Fator Antinúcelo (FAN ou FAN-Hep-2) e Pesquisa de Anticorpos Contra Antígenos Celulares (PAAC), é um excelente teste para pesquisa e detecção de autoanticorpos em pacientes com suspeita de doenças autoimunes. Caso você tenha pensado que este é o exame específico para diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistêmico, a partir de agora, você verá que este teste auxilia na identificação de inúmeras outras doenças autoimunes. 54 O teste FAN é uma técnica de imunofluorescência indireta, na qual anticorpos marcados com fluoresceína são utilizados para identificar antígenos teciduais através de uma técnica simples, rápida, de alta sensibilidade e facilmente reprodutível. A técnica atual utiliza a cultura de células tumorais derivadas de carcinoma de laringe humana (Células Hep-2) em monocamadas, como substrato antigênico, disponibilizando todo os compartimentos celulares, organelas, aparelho mitótico e complexos proteicos para ligação dos anticorpos. O incremento da técnica possibilitou, dessa forma, a identificação de anticorpos contra antígenos como SS-Aro, antígenos de células em proliferação, proteínas centroméricas, entre outros antígenos nucleares e citoplasmáticos (DELLAVANCE; LESER; ANDRADE, 2007). De outro lado, o aumento da sensibilidade da técnica, ao longo das décadas, resultou em inúmeros padrões de fluorescência, associando a ligação de anticorpos na membrana plasmática, no citoplasma e suas organelas, e no núcleo. Desse modo, para o imunologista clínico, é de fundamental importância saber reconhecer esses padrões e associar às possíveis doenças clínicas. Os cinco principais padrões (e suas variações) do FAN: Pontilhado Fino; Pontilhado Grosso; Nuclear Homogêneo; Nucleolar; e Centromérico, e são representativos da ligação de diferentes anticorpos (DELLAVANCE; LESER; ANDRADE, 2007). Por isso, A Sociedade Brasileira de
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