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Artigo Maternidade

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A PERCEPÇÃO DA MATERNIDADE FRENTE AO CONTEXTO DO CORONAVÍRUS: UM ESTUDO PSICANALÍTICO
THE PERCEPTION OF MOTHERHOOD IN THE CONTEXT OF THE CORONAVIRUS: A PSYCHOANALYTIC STUDY
LA PERCEPCIÓN DE LA MATERNIDAD FRENTE AL CONTEXTO DEL CORONAVIRUS: UN ESTUDIO PSICOANALÍTICO
São Paulo - Brasil
2022
Resumo
A PERCEPÇÃO DA MATERNIDADE FRENTE AO CONTEXTO DO CORONAVÍRUS: UM ESTUDO PSICANALÍTICO
Introdução: A maternidade consiste numa experiência bastante intensa na qual a mulher se torna devota ao filho, criando um laço de muitos afetos. Ao longo dos anos, as mulheres apresentaram uma maior dificuldade em equilibrar o papel materno e as demais funções, incluindo o trabalho assalariado, o trabalho doméstico e o lazer, resultando numa sobrecarga das mulheres modernas (ALBERTUNI & STENGEL, 2016). A divisão sexual do trabalho também foi um fator que dificultou a valorização do trabalho materno, tanto financeiramente quanto socialmente, no qual as mulheres se tornaram totalmente responsáveis pelo trabalho reprodutivo (FEDERICI, 2017). Para mais, o contexto pandêmico do Coronavírus gerou uma mudança radical no cotidiano das mães, resultante do perigo de contágio da doença. Método: Foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas com doze perguntas de cunho neutro por meio de vídeo-chamadas com mulheres de 25-40 anos, residentes da cidade de São Paulo. Além disso, as entrevistadas deveriam ter filho(s) de 0-6 anos no período pandêmico. O critério de exclusão foi a presença, na mãe ou no filho, de alguma doença com risco de morte ou que necessite de cuidados específicos. Para a realização de tais entrevistas, o estudo passou pela aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa-Humanos da UPM. Após esse processo, foi realizado a análise do discurso de cada entrevistada com o intuito de resgatar, além da localização do sujeito frente ao mundo, as possíveis relações de poder dentro do discurso (NOGUEIRA, 2008). Também buscou-se relacionar os textos de Elisabeth Badinter (2010), Nancy Chodorow (1978), Vera Iaconelli (2020) e Donald Winnicott (2020) a fim de analisar os relatos das entrevistadas com a teoria psicanalítica para melhor compreendê-las. Resultados: Foi possível observar que as mães possuem diversas considerações em comum, incluindo o cansaço e o estresse resultantes de uma rotina bastante difícil. Dessa forma, as mesmas precisaram se reinventar para trabalhar, cuidar dos filhos sem a presença da rede de apoio e a escola, além dos cuidados domésticos intensificados na pandemia. Além disso, as vivências iniciais da maternidade também foram influenciadas, no qual algumas mães relataram o distanciamento social como um fator que impediu o compartilhamento de vivências da maternidade como o parto, amamentação e chá de bebê com a rede de apoio, gerando bastante tristeza. Conclusão: Nota-se que o presente estudo buscou uma análise mais qualitativa e, consequentemente, foi possível observar questões trazidas pelas entrevistadas de forma mais detalhada. Por fim, grande parte dos artigos encontrados foram escritos por homens, sendo necessárias mais referências femininas sobre o tema.
Palavras-chave: maternidade, psicanálise, coronavírus.
Introdução
A maternidade é considerada uma das vivências mais importantes para a mulher já que consiste num período em que a mãe devota ao filho uma importante quantidade de tempo, energia, atenção e recursos, gerando um vínculo fortíssimo entre ambas as partes. Contudo, nota-se que nem sempre o conceito de maternidade esteve ligado à ideia de amor materno, havendo diversas transformações através dos séculos que moldaram a vivência da maternidade.
Assim sendo, a maternidade passou a ser um tema recorrente em diversos estudos de cunho psicológico, principalmente com autores psicanalíticos como Donald Winnicott e Sigmund Freud. É importante observar que muitos desses autores viveram num contexto histórico de pressão social frente à mulher e, consequentemente, à maternidade. No estudo de Rose (2020), pesquisadora que aborda a maternidade juntamente aos conceitos de Jacques Lacan, a autora explica que a mulher ocupa um espaço fantasmático em relação ao homem, já que este projeta a falta e a rejeição na figura feminina. A mulher representa um Outro (além do falo) que está sempre num referencial distante e subordinado. Como consequência, a maternidade, uma vivência plenamente feminina, muitas vezes é representada a partir de uma visão masculina que reafirma essa posição da mulher como Outro.
Nos dias de hoje, percebe-se uma mudança dos papéis femininos, em que as mulheres já não fazem referência somente à maternidade para se sentirem realizadas. (ALBERTUNI; STENGEL, 2016). Isso se deve porque muitas acreditam que suas vidas profissionais e demais atividades são tão importantes quanto o fato de serem mães. Todavia, essa convivência entre diferentes tarefas não se realiza de forma equilibrada, uma vez que infringe indiretamente a idealização da maternidade. Consequentemente, há um conflito em relação às diversas identidades da mulher moderna e suas prioridades, sobrecarregando-as com o aumento de responsabilidades, potencializadas pela desigualdade de gênero.
Além dessas mudanças, o mundo se encontra numa nova realidade, devido ao contexto pandêmico da Covid-19, causado por uma infecção respiratória delicada. O mesmo possui elevada propagação e a possibilidade alta de gerar complicações graves. Segundo a entrevista do médico Mari (2020), a experiência de vivenciar a pandemia causou uma mudança brusca no estilo de vida dos indivíduos, já que há um medo generalizado de ser contaminado pela Covid-19. Esse medo atualmente é caracterizado como um forte fator de estresse que pode ser um agente causal de desequilíbrios neurofisiológicos, acarretando em síndrome do pânico, depressão, ansiedade, entre outros.
Conclui-se que com as mudanças observadas no mundo moderno, a mulher passou a transitar por diversas áreas, não apenas do lar. Busca-se entender de que forma a psicanálise, não só no âmbito clínico como no social, pode contribuir no entendimento dos papéis designados às mulheres, sobretudo o papel materno, na atualidade.
O presente estudo tem o intuito de compreender como a maternidade está sendo vivenciada neste período que se obteve grandes readaptações e a sociedade se encontra em isolamento social, fator este que pode ser novo para muitos indivíduos. Para isso, foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas por meio de vídeo-chamada com mães que vivenciaram essa experiência. Posteriormente, foi realizada a análise do discurso das mesmas, juntamente com a teoria psicanalítica. Além disso, buscou-se utilizar referenciais teóricos escritos por cientistas do gênero feminino, com o objetivo de disseminar artigos contemporâneos de escritoras com maior discernimento sobre o assunto. Dessa forma, evita-se que fenômenos próprios de um determinado grupo, neste caso diferenciados por gênero, sejam interpretados de tal forma que violentem ou reprimam as vivências do grupo, reforçando relações de poder. (MARTINS, 2019).
Referencial teórico
O desejo das mulheres foi se transformando com o passar do tempo. A ambição da mulher em desfrutar de um casamento sem necessariamente ter filhos, a conquista do sucesso no âmbito profissional e o ganho de uma maior liberdade pessoal, são alguns exemplos de motivações recentes que geraram mudanças no contexto feminino, provocando divergências e dificuldades de conciliação entre os diversos papéis assumidos pela mulher contemporânea. Como consequência, as mulheres estão mais sobrecarregadas, principalmente no quesito da maternidade.
No que diz respeito à negociação entre a mulher e a mãe, Elisabeth Badinter (2010) acredita que é algo extremamente difícil de ser realizada harmonicamente. O ideal materno ainda presente na sociedade se colide contra a carreira profissional bem-sucedida da mulher gerando um desequilíbrio nas tarefas. O período de cuidado inicial do bebê faz com que a mãe seja total devota a ele, já que o bebê tem uma relação de totaldependência com a mesma. (WINNICOTT, 2020; CHODOROW, 1978). Após alguns anos, a mãe tem a possibilidade de retornar ao trabalho, porém ainda assim se choca com possíveis imprevistos de seu filho que podem gerar um sentimento de culpa por estar fazendo outra tarefa. A mãe acredita na ideia de ser uma “mãe má” para seu filho, não suficiente. Com isso, tanto a mulher quanto a mãe se sentem fracassadas.
Posto isto, Badinter (2010) afirma que o pai tem papel fundamental em auxiliar essa mãe com alguns fatores. É de suma importância que o pai esteja presente próximo da mãe quando a mesma acaba de parir, além de contribuir com as tarefas familiares e domésticas. Para isso, atualmente há diversos objetos facilitadores que permitem a retomada da vida profissional da mulher como a mamadeira que pode ser manuseada por outros cuidadores, inclusive pelo pai. Segundo Donald Winnicott (2020), a inserção da mamadeira também é de grande importância para levar alívio a mãe e ao bebê quando esta mãe encontra alguns obstáculos para realizar a amamentação, no qual tais obstáculos podem acarretar em sofrimento para ambos. 
Embora a mamadeira tenha facilitado os pontos citados acima, o aleitamento materno sempre foi incentivado pelos protetores do naturalismo que se apoiam na importância do papel reprodutivo da mãe e nos benefícios da amamentação, defendendo que tal experiência faz com que a mãe e o bebê tenham vantagens físicas e psíquicas. Além disso, é considerado pelos defensores um modo natural e convincente de compreender e agradar as exigências do bebê, como também uma experiência que acarreta no vínculo da mãe com o filho e no instinto materno. Diante da pressão existente perante o aleitamento, muitas mães podem se sentir culpadas e frustradas em não conseguir vivenciá-lo. (BADINTER, 2010). 
Apesar dos avanços auxiliadores das mães, a autora Nancy Chodorow (1978) ressalta que houve uma mudança histórica no campo do trabalho advinda da revolução industrial, responsável por separar e diferenciar a estrutura do lar e do local de trabalho. Essa situação fez com que as mulheres deixassem de realizar alguns serviços para ter o cuidado materno como sua atividade principal, revelando ser uma mudança que impacta até os dias de hoje. Além disso, outra grande mudança vinda desse contexto foi o distanciamento entre as mães com uma rede de apoio próxima. Assim sendo, o sistema capitalista fez com que o trabalho materno se tornasse mais isolado e exclusivo, devido à maior responsabilidade perante a mãe de cuidar do próprio lar sem a ajuda do marido, que tinha como função principal trazer o sustento financeiro da casa.
A autora Silvia Federici (2017) também acredita que essa separação na estrutura do lar gerou o início da divisão sexual do trabalho, responsável pela visão de que as mulheres são bens comuns frente aos homens, pois elas se tornaram dependente financeiramente dos mesmos, já que não conseguem encontrar empregos dignos devido à ideologia de que a mãe tinha o papel de reproduzir e criar seus filhos sem receber nada por isso.
A maioria das tarefas domésticas e familiares ainda são divididas desigualmente entre homens e mulheres, mesmo com as mudanças sociais atuais. Assim sendo, a vida conjugal sempre teve maior custo social e cultural para as mulheres, além da questão profissional já citada anteriormente. Com a chegada de um filho, as necessidades pesam ainda mais sobre a mulher. Pode-se dizer que quanto mais as mulheres focam em suas vidas profissionais, menos realizam as tarefas domésticas, sem que por isso o parceiro auxilie em parte dos deveres do lar. Atualmente, nenhuma política familiar se manifestou eficiente no que diz respeito à igualdade entre homens e mulheres. Entretanto, apenas o compartimento de papéis teria a capacidade de conter as responsabilidades que recaem somente para as mães. (BADINTER, 2010).
A partir de um recorte social, o estudo de Sampaio, Santos e Silva (2008) apresenta dados que confirmam que mulheres com uma condição social mais favorável têm a possibilidade de pagar pela realização do serviço doméstico. Dessa forma, o serviço de cuidados básicos dos filhos como dar banho, alimentar e colocar a criança para dormir são funções realizadas por uma outra mulher, a figura da babá. Em oposição, as mães de classes sociais mais baixas também são responsáveis pelo cuidado básico dos filhos. Entretanto, devido à falta de estrutura, muitas vezes esses cuidados são incertos.
Fica claro que essa organização assimétrica da parentalidade gera algumas consequências para os filhos também. Chorodow (1978) afirma que devido a essa maior ligação dos filhos com a figura materna, grande parte das crianças constroem seu self a partir das representações internalizadas apresentadas pela relação com a mãe. Nota-se que a experiência de self de meninas é mais flexível e possui ligações mais permeáveis, diferentemente dos meninos que são mais separados e com limites mais rígidos de ego e diferenciação. A mesma autora também afirma que essa necessidade de diferenciação por parte dos meninos faz com que os mesmos reprimam qualidades que na concepção deles são femininas, desvalorizando e rejeitando tudo que for ligado ao feminino, reafirmando essa assimetria na parentalidade. Percebe-se que a orientação heterossexual dos filhos sempre se relaciona com questões edípicas e pré-edípicas vividas na relação mãe-bebê. 
A parentalidade ainda é considerada uma ocupação não paga pelo sistema capitalista, desconsiderando todo o serviço que os pais - em sua maioria, apenas as mães - precisam realizar para formar um indivíduo. Como consequência, a parentalidade não é considerada pertencente ao mundo do poder público fazendo com que a mesma se torne um trabalho de menor poder e recursos frente ao trabalho assalariado. Devido à forte ligação criada entre feminino e a maternidade, o poder feminino passa a ter menos credibilidade e força, deslegitimando ainda mais essa função social. (CHODOROW, 1978; FEDERICI, 2017).
Levando em consideração as desvantagens que os casais encontram em ter filhos, cada vez mais jovens optam por primeiro aproveitar a vida a dois e alcançar uma estabilidade financeira, para posteriormente pensarem na possibilidade da parentalidade. Diante disso, muitas mulheres também aderiram ao método contraceptivo para obterem maior controle da reprodução e conseguirem focar em outras ambições pessoais. Em algumas uniões, pelo fato de os filhos serem cada vez mais adiados, a opção de ter um filho chega até a ser descartada.
Apesar dessas mudanças sociais e dos métodos contraceptivos, a maioria das mulheres ainda possuem o sonho de serem mães. Esse desejo vem acompanhado por uma fantasia de amor e felicidade, sem levar em consideração as frustrações que podem ocorrer nessa relação. Muitas mães relatam que após o nascimento do filho, perderam a liberdade e a chance de desfrutarem dos prazeres de tal liberdade. Outras também afirmam que se sentiram "perdidas", questionando-se sobre a escolha da maternidade e algumas confessando que possuem um sentimento de vazio, alheamento e se apresentam deprimidas. Apesar disso muitas mães encontram na maternidade grande felicidade e realização, como também conseguem conciliá-la com os deveres que já possuíam antes da chegada do filho, mesmo que todas essas mudanças sejam radicais. Em contrapartida, há mães que não se sentem confortáveis em confessar a frustração que passam na maternidade possivelmente motivadas pela culpa materna. (BADINTER, 2010).
Por conseguinte, nota-se que a estrutura da parentalidade ainda é fortemente influenciada pelos princípios da biologia, na qual o papel materno é considerado como universal e instintivo. Chodorow (1978) busca criticar essa estrutura social por meio de problematizações, incluindo a reflexão da mediação da cultura no comportamento humano. Um dos exemplos dados pela autora são os pais adotivos, que designam os mesmos papéis (materno/paterno) que os pais biológicos sem depender dos hormônios produzidos pela gravidez. Visto isso, a maternagemdeve ser considerada como um processo individual e subjetivo, dependendo exclusivamente das experiências particulares de cada mãe.
Em seus estudos, Freud considerava o desejo pela gravidez relacionado à falta do pênis, devido a uma ênfase na questão fálica, o masculino. Sendo assim, o bebê consistiria em um substituto do pênis para a mãe, sem considerar a identificação que a mesma viveu em sua infância com sua própria mãe. A autora Chodorow (1978) critica esse posicionamento e acredita que a maternidade envolve uma dupla identificação, na qual a mulher que possui um filho se identifica tanto com a sua própria mãe como com si mesma no papel de filha. Consequentemente, neste período há uma maior aproximação entre a filha e a mãe, retomando algumas questões vivenciadas no passado. Assim sendo, a autora acredita que a inveja do falo apresentada por meninas após o Complexo de Édipo pode ser entendida como uma vontade das mesmas por poder e liberdade, diferentemente do posicionamento freudiano de desejo pelo órgão sexual. Diferentemente de Freud, a autora vê a heterossexualidade feminina como triangular, na qual o terceiro pilar seria a criança, o novo bebê.
A autora Vera Iaconelli (2020) também ressalta que a função materna exige alguns quesitos básicos como o discurso social que rodeia a família, a relação entre o corpo erógeno do bebê e da mãe e a formação do sujeito. Por ser uma relação erógena, fica claro que a função parental é repleta de sentimentos ambivalentes. Sendo assim, tanto o amor quanto o ódio materno são necessários para uma construção saudável da relação mãe-bebê. O bebê é um objeto no qual a mãe investe libidinalmente. A mãe também vê o bebê como o seu próprio primeiro objeto que já foi perdido, retomando esse desejo de amparo que guia a falta materna (amor objetal). Por fim, o bebê também é simbolicamente parte da mãe, pois durante a gestação ambos se encontram juntos, no corpo da mulher (amor narcísico).
Há infinitas maneiras de ser mãe, onde esses jeitos são dependentes do histórico cultural e pessoal de cada mulher, evitando então que se fale de um instinto baseado no determinismo biológico. Ademais, a incapacidade de explicar um comportamento materno que seria próprio à espécie humana, debilita a ideia de instinto e, consequentemente, a ideia de “natureza feminina”. O meio cultural e pessoal como, pressões de terceiros, o psicológico da mãe, parecem pesar mais do que a biologização da maternidade. 
Nota-se que houve uma forte ideologia por trás da vivência da maternidade que prejudicou fortemente as mulheres e a experiência das mesmas há gerações. Junto a isso, mudanças sociais e culturais foram se desenvolvendo concomitantemente, mudando relativamente alguns quesitos da maternidade. No ano de 2020, o mundo viu-se em um período repleto de incertezas que afetou a vida de toda a população mundial: o coronavírus e suas consequências. Questiona-se as possíveis alterações na maternidade com a vinda dessa doença que matou milhares de pessoas, incluindo mães. Como se deu a maternidade? A sobrecarga do trabalho doméstico aumentou no período de confinamento? Como separar o trabalho/cuidado dos filhos se os ambientes se tornaram um só novamente? Como foi viver a maternidade sem poder contar com uma rede de apoio presencial? Essas foram algumas das perguntas que mobilizaram a realização de uma pesquisa prática para escutar essas mulheres, que foram mães durante a pandemia de Covid-19, e que se dispuseram a falar dessa experiência. 
Análise do discurso das entrevistadas
Com o intuito de apresentar as vivências da maternidade no contexto pandêmico da Covid-19, experiência considerada inédita, foram realizadas 10 entrevistas semiestruturadas por meio de vídeo-chamadas para escutar e compreender o discurso de mulheres entre 25 à 40 anos, residentes da cidade de São Paulo e que tiveram a experiência de cuidar do(s) filho(s) de 0 à 6 anos no período pandêmico. Pelo fato de o estudo conter a participação de seres humanos, foram respeitadas as normas da ética em pesquisa, como também a aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa-Humanos (CEP) da UPM. As entrevistadas foram apresentadas através de nomes fictícios para aproximar o leitor das mesmas e manter a confidencialidade das participantes. Por fim, o critério de exclusão elaborado para a entrevista foi a presença, por parte da mãe ou do filho, de alguma doença com risco de morte ou que requisitasse de cuidados específicos.
As entrevistas semiestruturadas constituem um método realizado de modo mais aberto, com o objetivo de deixar a entrevistada discorrer mais livremente sobre o assunto proposto. Assim sendo, foram elaboradas previamente doze perguntas de cunho neutro, buscando observar os apontamentos de possíveis mudanças, dificuldades e vantagens observadas pelas mães em suas experiências pessoais. Além disso, as entrevistas semiestruturadas são aconselhadas para a investigação de aspectos mais subjetivos, dando um tom mais pessoal nos relatos, gerando questões que podem ser consideradas novas para o entrevistador. (BONI; QUARESMA, 2005).
A partir dos relatos trazidos pelas mulheres entrevistadas, foi construída uma análise crítica do discurso das mesmas que tem por objetivo não só entender o que está sendo dito pelo sujeito, mas notar as possíveis relações de poder dentro do discurso, entendendo o que pode ou não ser dito, a forma de ver o mundo e como o sujeito se localiza nele. (NOGUEIRA, 2008). Além disso, a autora Luciana Leão Brasil (2013) complementa afirmando que o sujeito, por meio da linguagem, é resultado da relação existente entre história e ideologia, participando de forma a ocupar algumas posições específicas na sociedade. Em outras palavras, o discurso do sujeito é representado por uma tríade, composta por língua, história e o próprio sujeito.
Nota-se que por muito tempo as mulheres foram silenciadas pelo discurso social, deixando de participar ativamente de discussões de cunho científico, ocasionando uma perda de espaço como sujeito e um certo exílio ao âmbito privado, processo que esse trabalho visa questionar. Além disso, a maioria dos escritos que retratavam a vivência das mulheres eram feitos por autores do sexo masculino, ocasionando um viés e uma observação muitas vezes cobertos de paixões e preconceitos. (VASCONCELOS et al., 2020). A escolha pela análise do discurso das mães também foi influenciada por esses fatores, já que só com o discurso das mulheres que vivenciaram a maternidade juntamente à pandemia poderia trazer uma visão mais verdadeira e válida sobre esse tema.
A entrevistada Daniela é uma mulher branca de dois filhos (5 anos e 1 ano, respectivamente) residente da zona sul de São Paulo. Ela é formada em Direito e não trabalha atualmente. Daniela afirma na entrevista que a vida profissional sempre foi uma prioridade, sendo a maternidade um desejo construído posteriormente. Além disso, a maternidade só se concretizou devido à presença de seu marido, já que ela não gostaria de ser mãe solo. Apesar das prioridades iniciais, a entrevistada explica que quando se tornou mãe houve diversas mudanças, fazendo com que ela se tornasse mãe em tempo integral, deixando de retomar ao trabalho após o nascimento do segundo filho. Ao fim da entrevista, ela explica que pretende retornar ao trabalho futuramente, mas será necessário se reinventar, criar uma dinâmica que possa conciliar melhor a vida profissional e a maternidade.
Com a vinda da pandemia, Daniela comenta que houve algumas alterações em seu cotidiano, deixando-a mais esgotada. Ela menciona novos medos ocasionados pela pandemia e uma mudança por parte dos filhos, já que não puderam socializar e brincar com as demais crianças como antes, fazendo com que a entrevistada precisasse criar um ambiente apropriado e “mais leve” (sic) para os filhos conviverem. A questão do brincar é muito importante para essa mãe pois ela observa e entende algumas questões que os filhos estão passando através do lúdico, como por exemplo atritos na escola. Além disso, ela se mostrabastante verdadeira e paciente em dialogar com os filhos, dando um exemplo no início da pandemia, no qual ela explicou explicitamente o que era o Coronavírus e suas implicações, como deixar de frequentar a escola e ficar em casa. Na entrevista, ela também afirma que a família contraiu o Coronavírus e todos ficaram isolados em casa, sabendo dos motivos, sem gerar muito pânico nas crianças.
Outra questão mencionada de diferentes formas no discurso de Daniela foi uma certa rigidez em manter regras, uma organização que parece ser bastante importante para a mãe. Neste sentido, ela também procura estudar sobre o assunto e participar de grupos com outras mães para se manter atualizada e compartilhar vivências. O trabalho doméstico na pandemia foi um fator bastante estressante para ela, já que foi uma atividade muito intensa. Apesar de ter a ajuda do marido, Daniela explica que fica responsável por todos os cuidados e o marido é o responsável em obter a renda financeira. Sendo assim, ela reflete que cuidar de dois filhos e da casa praticamente sozinha é irreal, uma “escravização doméstica da mãe” (sic). Em relação às atividades pessoais da entrevistada, ela afirma que esses momentos de autocuidado sumiram e ela “deixou de existir” (sic), notando que até mesmo a paciência no cotidiano diminuiu.
Quando se trata dos aspectos bons da maternidade, Daniela explica que os filhos geraram um autoconhecimento maior sobre si mesma, mencionando a terapia como um auxílio para ser uma boa mãe. Além disso, ela afirma que não tem mais tanto medo em viver a vida. Por outro lado, o aspecto ruim que a entrevistada menciona é a culpa de ser insuficiente e se considerar a “pior mãe do mundo” (sic) em alguns momentos, dando diversos exemplos desde o início da maternidade na qual se sentiu dessa forma. Por fim, quando questionada sobre a culpa paterna, ela acredita que seja algo totalmente diferente, mais relacionado ao lado financeiro.
A entrevistada Leticia é uma mulher branca, mãe de dois filhos (5 anos e 5 meses, respectivamente), pós-graduanda na área de Psicologia, residente da zona oeste de São Paulo e trabalhando atualmente. No início da entrevista, Leticia relata que sempre desejou ser mãe, mesmo que fosse mãe solo. Sobre as vivências da família antes da pandemia, a entrevistada comenta que eram bastante agitados pois gostavam de ir a eventos, trabalhavam fora e o filho mais velho frequentava a escola em tempo integral, o que acabou mudando com a pandemia. A entrevistada expõe que, devido ao isolamento social, sentiu essa parte social bastante prejudicada, também notando um acúmulo de energia e um prejuízo na parte motora do filho mais velho, já que ele tinha o costume de brincar bastante. Ademais, o mesmo filho acabou expressando em diversos momentos não aguentar mais viver a situação ocasionada pela pandemia e Leticia alega que o filho mais velho perdeu a parte lúdica presente na escola. Em contrapartida, declara que apesar dos pontos citados, um ponto positivo para o filho de 5 anos foi ter a possibilidade de um contato mais intenso com os pais, pelo fato de estarem trabalhando home office. 
Em relação a rede de apoio de Leticia, ela tem a ajuda de seus pais para conseguir trabalhar, já que não seria financeiramente viável pagar uma babá. A entrevistada também explica que não poderia deixar de realizar suas atividades profissionais. Ela afirma que não sente culpa por deixar seus filhos com a própria mãe. Sobre as tarefas de casa, em certo momento conta que passou a ter que cozinhar todos os dias e acabou por descobrir que não gosta de fazer tal tarefa de forma frequente. Além do mais, realiza os deveres domésticos de forma tranquila, sem se prender a isso. Também conta com a ajuda do marido em algumas das tarefas domésticas e manteve uma pessoa para ajudá-la com a casa a cada 15 dias. Explica que sobre os cuidados dos filhos, acaba sendo a maior responsável, mesmo que o companheiro a ajude em certos momentos. Por fim, menciona que o trabalho home office possibilitou que ela conseguisse fazer pausas no trabalho para amamentar o filho de 5 meses que se encontra em aleitamento por livre demanda.
Leticia também conta sobre o amor dito incondicional que sente pelos filhos e, em contrapartida, relata sobre o fardo feminino, o cansaço, a privação de sono que vivencia apenas com o filho mais novo, o autocuidado que está deixando de lado nessa fase e o sentimento de culpa, apresentado brevemente.
A entrevistada Paula é uma mulher branca com uma filha de 4 anos, formada em Direito e residente da zona leste de São Paulo. Inicialmente, ela diz que não tinha interesse em ter filhos e repensou sua escolha juntamente ao marido. A noção de maternidade que ela tinha previamente era bastante romantizada e a própria entrevistada reflete em tom cômico essa percepção inicial, relatando ser bastante divergente da realidade. Em um dado momento da entrevista, ela comenta que o cuidado higiênico é bastante trabalhoso para ela, sendo algo que não imaginava.
O principal assunto abordado por Paula foi a questão da escola, principal rede de apoio dessa mãe devido à idade avançada dos demais familiares. Ela comenta de uma certa dificuldade em encontrar uma escola adequada na qual a filha se sinta confortável, já que é um dos ambientes que a mesma mais frequenta. Apesar de ser bastante expressiva, a mãe nota uma dificuldade na comunicação da filha no ambiente escolar. Como consequência, a entrevistada afirma que a chegada da pandemia foi ambivalente para a filha. De um lado surgia um sentimento de alívio pois ela não gostava da escola anterior. Entretanto, de outro lado, essa mudança na rotina gerou uma forte ansiedade na mesma devido ao medo de sair de casa, fator que a motivou buscar ajuda psicológica. A filha está terminando o tratamento psicológico atualmente, fazendo com que Paula note diversos avanços no comportamento da filha desde o início da pandemia até a situação atual. Além disso, a entrevistada explica que é uma mãe bastante inquieta, estudando bastante sobre a maternidade e em processo terapêutico, mostrando-se bastante preocupada com a saúde mental e física da filha. Por fim, Paula menciona que a filha tem altas habilidades cognitivas.
Paula também explica que a mudança de rotina afetou sua vida pessoal, já que o marido continuou trabalhando presencialmente e ela tinha que trabalhar em casa juntamente à presença da filha, misturando as atividades, o que resultou em uma crise psíquica diagnosticada como burnout. Sua filha fala diversas vezes que Paula trabalha muito. Ademais, Paula conta que precisou recorrer a mãe dela para ajudar a cuidar da filha pois não estava conseguindo trabalhar de maneira adequada. A entrevistada também optou por mudar de setor em seu trabalho para uma área na qual os horários são mais flexíveis e trabalham outras mães que vivem situações semelhante à dela. Apesar da mudança ter sido uma escolha dela, Paula explica que, em termos de carreira, a mudança deixou seu trabalho mais entediante e chato, mencionando que possivelmente voltará para seu setor anterior no futuro. Por fim, a entrevistada explica que deixou de ter um padrão comportamental tão rígido devido às mudanças ocasionadas pela pandemia. Apesar de todas essas mudanças ocasionadas pela pandemia, Paula não sabe ao certo se anteriormente seu cotidiano era mais tranquilo, já que a filha era mais nova e a entrevistada sofria muito devido à privação de sono.
A entrevistada explica que cozinha em seu cotidiano pois é adepta à alimentação saudável. Em contrapartida, Paula nega gostar de fazer os serviços domésticos, explicando que não possui habilidade e rapidez em realiza-los. No início da pandemia, ela foi obrigada a fazer tais serviços, mas quando se sentiu mais segurança, optou por contratar uma funcionária para auxiliá-la. Sobre os seus desejos pessoais, Paula explica que tem o interesse em se aperfeiçoar e passar por concursos públicos, não encontrando tempo atualmente para estudar.
Paula afirma que nunca superou tantos medos como na maternidade.Quando tenta explicar sobre o amor maternal, ela afirma que não sabe descrever essa relação em palavras, entendendo atualmente o posicionamento de algumas mães que relatavam sobre a maternidade como uma experiência única e somente entendida por aquelas que vivenciaram. Além disso, a maternidade deixou Paula mais aberta para novos aprendizados, explicando que gosta de ser surpreendida pelas vivências com a filha, já que ela apresenta um olhar de criança sobre as coisas. Sendo assim, Paula apresenta um posicionamento diferente da culpa materna, mostrando uma visão mais positiva de possíveis situações negativas da maternidade. Sobre os sentimentos ruins, a entrevistada menciona a frustração (tentar fazer a filha dormir mais cedo), um aumento de ansiedade, a privação de sono e a dificuldade em separar um tempo para os interesses somente dela.
A entrevistada Giulia é uma mulher branca, mãe de um filho de 5 anos, residente da zona sul de São Paulo. Ela possui ensino médio completo e trabalha atualmente. Inicialmente, ela relata que até os 30 anos de idade não tinha o desejo de ser mãe devido ao estilo de vida do casal. Além disso, a ideia de ter filhos foi influenciada pelo desejo do companheiro. Giulia também menciona o medo da responsabilidade no cuidado de um filho como um impedimento para a maternidade. Com a mudança em sua rotina, ela passou a ter outras prioridades, despertando a vontade em ser mãe.
Sobre a ideia que tinha sobre a maternidade, Giulia conta que a educação que teve foi rígida, mencionando que seu pai a repreendia apenas com o olhar. Como consequência, ela acreditava que criaria o filho da mesma forma, porém acabou sendo uma mãe mais flexível, utilizando o diálogo como principal meio educacional. Ela também é uma mãe que lê bastante sobre a maternidade e busca muitas informações, expondo gostar de estudar sobre. Em relação a amamentação, sempre acreditou que traria grandes benefícios para ela e o filho, revelando algumas vivências pessoais sobre a mesma. Apesar de ter sofrido no início da amamentação, conseguiu obter êxito na vivência. Seguidamente, Giulia conta que sua rede de apoio se constitui apenas pelo marido. Dessa forma, sua mãe a ajudou nos primeiros dias, mas devido ao isolamento social, todos os familiares seguiram a rigor as recomendações da OMS, o que impossibilitou o contato. Além disso, conta que teve baby blues, uma condição passageira que pode se manifestar nos primeiros dias após o parto com a característica principal de um sentimento de tristeza. A entrevistada acredita que obteve essa condição pelo fato de possuir muito medo do filho ficar doente por conta dela, relatando que o puerpério é uma fase difícil.
A rotina da casa de Giulia não mudou muito na pandemia comparado ao que era antes. Pessoas caseiras, empreendedores que trabalham próximo à residência, eles sempre tiveram horários flexíveis, sendo necessário somente realizar algumas adaptações, sem mudanças drásticas. Sobre as mudanças na rotina do filho, alega que contou para o mesmo sobre o vírus com muito cuidado e que ele frequentava a escola e gostava bastante. Porém, o filho não teve muitas questões ao ter que ficar em casa, já que toda semana iam para o local pegar materiais e, consequentemente, acabava vendo de longe os colegas. A única mudança observada por Giulia foi um acúmulo de energia no filho, o que a deixou mais cansada mentalmente pois precisou acompanha-lo nessa fase.
A mãe conta que apesar de não ser a favor de oferecer aparelhos eletrônicos para o filho, teve que ceder a tal recurso nos momentos em que precisava trabalhar, se referindo ao tablet como uma babá eletrônica. Nas situações em que o filho se encontrava mais irritado, Giulia o acolhia e tentava entender o que estava se passando. Ela comenta que o filho começou a roer unhas na pandemia e parou quando voltou para a escola novamente. Quando questionada sobre trabalho doméstico, a entrevistada explica que é algo que não gosta de realizar e que é um serviço dividido entre todos, para ninguém ficar sobrecarregado.
Ao mencionar os aspectos bons da maternidade, Giulia alega que foi um renascimento para ela e que o amor pelo filho é diferente e incondicional. Em contrapartida, se recorda de como era a vida antes do filho, considerando-a independente. Em seguida, a entrevistada comenta sobre se sentir insuficiente e sobrecarregada, contando que em muitas situações o marido a questiona sobre o que fazer, como se ela tivesse as respostas. Além disso, muitas vezes é vista como má pelo filho pelo fato de colocar limites na rotina, fazendo com que o filho se espelhe no pai. Sobre o sentimento de culpa que possui, conta que é um sentimento nascido juntamente com o bebê. Devido ao puerpério ter sido uma experiência difícil, decidiu juntamente com o marido que não vão ter mais filhos. Por fim, Giulia comenta sobre o julgamento que ocorre na vida das mães em relação a maneira de cuidar de seus próprios filhos. Confessa que já fez esses tipos de julgamento, mas que atualmente se policia.
A próxima entrevistada é Gisele, uma mulher preta que possui um filho recém-nascido (2 meses). Além disso, ela possui o ensino médio completo e reside na zona leste de São Paulo. O primeiro assunto apresentado na entrevista é que passou por um período de depressão no ano anterior e que faltava a experiência de ter um filho em sua vida. Além disso, ela explica que não imaginava como as coisas seriam antes de ter o filho, comentando que não criou expectativas. Quando questionada sobre a vivência da maternidade na pandemia, ela se contradiz diversas vezes. Inicialmente, ela explica muito emocionada que foi horrível pois não pode dividir com ninguém da família os momentos da gravidez, como os chutes do bebê na barriga dela. Em seguida, ela explica que a gestação foi tranquila, tendo a ajuda de alguns familiares na sua recuperação da cesárea. Comenta ainda que sempre teve o auxílio de alguém para cuidar da filha e dela mesma. Além disso, ela diz diversas vezes que sentiu muita falta de sair de casa.
Em relação à amamentação, Gisele afirma que não ocorreu de maneira espontânea, sendo mais demorado do que se esperava. Assim sendo, ela explica que quase cometeu a “loucura” (sic) de dar leite em fórmula para seu bebê, mostrando uma certa pressão familiar em amamentar de forma natural. O aleitamento materno é visto como a forma mais correta de alimentar o seu filho. Em relação à maternidade, a entrevistada percebe uma mudança nela mesma, afirmando que passou a ter mais paciência com o filho, até dando risada nas situações em que o filho chora. Além do cuidado do filho, a entrevistada afirma que gosta de cuidar da casa e sente-se em paz quando vê o ambiente organizado.
Gisele também fala sobre as dificuldades no puerpério relacionadas ao período pós-cirúrgico da cesárea. Ela explica que foi uma experiência ruim e sentiu um misto de diversos sentimentos como amor, raiva e sofrimento, além da privação de sono, também mencionada neste período. Por fim, ela explica que estava desempregada antes de engravidar e tem interesse em retornar ao mercado de trabalho no futuro. Sobre isso, ela afirma que há uma certa dificuldade em ingressar novamente no mercado de trabalho, já que o mesmo parece prejudicar mulheres, especialmente mães, com a ideia de que apenas a mulher cuida do filho, sem considerar o pai como também cuidador da criança. Além dessa crítica ao machismo estrutural da sociedade, Gisele afirma que o seu marido não “ajuda em casa”, e sim realiza o “papel de pai” (sic) comentando que os afazeres domésticos e o cuidado com os filhos não devem ser funções unicamente exercidas pelas mães. Nota-se que ela deixou de falar alguns assuntos como a frustração em relação ao filho, a culpa materna e o autocuidado consigo mesma.
Manuela, entrevistada seguinte, é uma mulher negra, mãe de um filho de 1 ano de idade, pós-graduanda em Controladoria e Auditoria, trabalhando atualmente, residente da zona leste de São Paulo. Além disso, ela é estrangeira no Brasil, vindo há alguns anos para opaís por meio de um intercâmbio. Desde jovem tinha o desejo de ser mãe, porém esperava que fosse em uma época que estivesse mais estabilizada financeiramente e em um relacionamento mais sério.
Em relação a sua rede de apoio, apenas possui algumas amigas daqui e a mãe, residente de seu país de origem. Manuela comenta que manteve contato com sua rede por meio do telefone com ligações e chamadas de vídeo. Antes da pandemia, ela passava grande parte do seu tempo trabalhando. Com a vinda da pandemia, principalmente nos momentos de maior isolamento social, a entrevistada comenta que possuía muito medo em sair de casa, inclusive para levar a filha as consultas médicas mensais. Devido ao medo, ela seguia a rigor as recomendações da OMS, evitando entrar em contato com outros.
Manuela realiza os cuidados da casa e de sua filha sozinha, alegando gostar de realizar tais tarefas, entretanto, diversas vezes não consegue dividi-las para fazer em momentos separados, se sobrecarregando ao fazer diversas atividades ao mesmo tempo. Apesar de seu companheiro ser do mesmo país de origem dela, o casal encontra problemas na relação. A entrevistada alega que ele não a ajuda nos deveres com a filha e com a casa. Ademais, a entrevistada precisa encontrar tempo para trabalhar. Apenas uma vez na semana, ela precisa sair para trabalhar presencialmente e, dessa forma, o pai tem que assumir os cuidados. Além disso, ela menciona que o pai de sua filha não sabe lidar com os momentos difíceis pois assim que a criança começa a chorar, ele já a chama para ajudar. Pelo fato da entrevistada ser estrangeira, ela tenta se adaptar aos conhecimentos que possui do Brasil e do país de origem. Nota-se, logo no início da entrevista, uma sobrecarga que essa mãe possui referente à tantas demandas.
Ao falar sobre o pai de sua filha, comenta que ele não a ajuda. Manuela tenta justificar esse comportamento explicando que isso pode ser motivado pela cultura da região em que ele morava no país de origem, na qual somente as mulheres cuidavam das crianças e do ambiente doméstico, sem considerar que a entrevistada faz todo o serviço sozinha atualmente, sem a ajuda de outras mulheres. Ao expor o citado acima, é notado pelas pesquisadoras que tal explicação talvez seja pelo fato dela própria não querer se machucar com as atitudes que o marido possui e, por isso, querer acreditar que haja uma razão, a cultura.
Manuela relata que neste momento de pandemia, a filha requer mais a sua atenção e a mãe não gosta de deixá-la chorando. Sobre os aspectos bons da maternidade, expõe que gosta da vivência da amamentação por ser um momento apenas de mãe e filha, acreditando também que todos os demais momentos com a filha são preciosos. Em contrapartida, fala sobre a privação de sono e o cansaço, ocasionando alguns momentos de estresse, no qual acaba gritando com a filha e se arrependendo posteriormente. Os momentos de estresse também ocasionam a raiva na entrevistada já que somente ela precisa dar atenção para a filha em todos os momentos, incluindo aqueles no qual se encontra esgotada. Por fim, Manuela comenta sobre a culpa resultada por ficar estressada com a criança, contando que colocava expectativas na introdução alimentar da filha e, com isso, teve que aprender a ter mais paciência com o processo.
Thais é uma mulher branca com um filho (1 ano), formada em Administração e residente da zona leste de São Paulo. A imagem de maternidade da entrevistada era baseada na vivência das suas próprias tias. Entretanto, ela explica que foi bastante desafiador ser “mãe de primeira viagem” (sic) na mesma época do auge da pandemia. Apesar do desafio, Thais afirma que teve uma rede de apoio boa, na qual se comunicava por meio de vídeo-chamadas proporcionadas pela internet, além de grupos compostos por outras mães.
Uma das consequências observadas pela mãe no comportamento do filho foi o atraso do desenvolvimento da fala, possivelmente influenciado pelo isolamento social. Além disso, Thais nota uma maior agitação do filho ao sai de casa e um comportamento mais manhoso na rotina, pedindo a atenção dos pais. Em relação aos cuidados da casa, ela afirma que gosta de fazer os serviços domésticos, mas mesmo assim tinha ajuda de uma funcionária antes da pandemia. Como consequência, a rotina de Thais atualmente está mais pesada. Apesar de ela dividir as funções com o marido, inclusive financeiramente, a entrevistada explica que precisa delegar as atividades, relembrando o que o marido precisa fazer na casa. A falta de sono também foi descrita como um dos piores fatores da maternidade, além da dificuldade em fazer as coisas de interesse pessoal no tempo dela.
Após comentar essas dificuldades da maternidade, Thais se contradiz dizendo que não ligou muito para a pandemia, pois estava muito ligada ao filho. Outro conflito apresentado no discurso foi relacionado à amamentação. Inicialmente, a entrevistada afirma que teve uma experiência tranquila e posteriormente afirma que aos três meses, seu leite diminuiu devido ao “início” de uma experiência de depressão pós-parto, na qual recebeu ajuda de uma parente próxima. Além disso, ela comenta sobre o medo do Coronavírus e consequente diminuição de apetite. Essas contradições apresentadas no discurso da entrevistada podem ser ocasionadas pela ambivalência que a maternidade proporciona.
Thais também explica que precisou contratar uma babá quando retornou ao seu trabalho porque não estava dando conta de todos os serviços prestados, ocasionando uma adaptação em sua rotina. Por fim, ela afirma que algumas vezes perde a paciência com seu filho e acaba por se sentir mal com tal atitude. Como consequência, nota-se que a entrevistada possui uma maior dificuldade em nomear sua vivência, falando muito brevemente sobre sua percepção da maternidade.
A entrevistada seguinte é Eduarda, uma mulher negra, mãe de 3 filhas (4 anos, 1 ano e 4 meses, respectivamente), possui ensino médio completo, é residente da zona leste de São Paulo e se encontra atualmente no período de licença maternidade. Logo de início expõe que sempre teve o desejo de se tornar mãe, porém gostaria que fosse antes do que quando de fato aconteceu. Quanto à visão que possuía da maternidade, a interrogada conta que a experiência foi diferente do esperado. 
Alega em determinado momento que o esposo não pode assistir ao parto da segunda filha realizado em uma unidade de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), devido ao contexto de pandemia. Tal distanciamento do esposo no momento do parto a deixou bastante abalada, contando que isso a desestruturou psicologicamente e que talvez, por este fato, não conseguiu a dilatação completa para realizar um parto natural, sendo necessário uma intervenção cirúrgica. É exposto por ela que o parto de sua terceira filha foi feito em um hospital particular, através de seu convênio, tendo o apoio do marido durante todo o processo.
Com 7 meses de gestação da terceira filha, Eduarda acabou contraindo a Covid-19 e, com isso, o médico recomendou que a mesma ficasse distante de suas filhas, algo que foi considerado fora da realidade para a entrevistada, já que ela cuidava das filhas e estava amamentando a segunda. Pelo fato de ter contraído o vírus, possuía o medo de perder as crianças e pensava a todo momento em como pode ter se descuidado e contraído a doença. Relata também sobre a angústia que sentiu em ter que esperar 5 dias pelos testes de Covid-19 das filhas.
Sobre a sua rede de apoio, Eduarda menciona que foi composta por algumas pessoas de sua família como sua irmã e o esposo, e que após o nascimento da terceira filha também obteve ajuda de uma de suas amigas, pois se encontrava sobrecarregada devido a alta demanda das outras duas filhas e os afazeres domésticos. Seu companheiro conseguiu ajudá-la com mais intensidade com a primeira filha, pois se encontrava desempregado na época, porém apesar de trabalhar atualmente, também a ajuda quando possível.
Por conta da pandemia, sua rotina ficou bastante instável e difícil. Sua filha mais velha teve que deixar de frequentara creche que gostava muito e pedia com frequência para voltar, apesar de se mostrar consciente sobre o fato da necessidade em ficar em casa por conta do isolamento social. A filha também reclamava e ficava triste por não ter com quem brincar. Eduarda relata que seu quintal era muito pequeno, sendo que sua filha mais velha “não sabia o que era o sol" (sic). Reparando no desânimo da criança, a mãe tinha o costume de comprar brinquedos nos mercados com o intuito de animá-la. Por fim, a mãe conta que as filhas que nasceram no contexto pandêmico parecem lidar melhor com a questão do uso de máscaras. 
Em relação aos cuidados com a casa, Eduarda traz a dificuldade em realizá-los com as três filhas dentro de casa, comentando que em certos momentos já chegou a chorar por acreditar que não daria conta. Alega gostar de cuidar das filhas mesmo que existam momentos em que parece que vai “enlouquecer” (sic), porém se recorda de que ela é a mãe e tenta se reorganizar. Além disso, ela amamentou a segunda filha até os 3 meses, sendo necessário parar devido à gestação da terceira filha, fator que a deixou bastante chateada. Eduarda afirma que pretende voltar a trabalhar e relata sua vontade e necessidade em retomar tais atividades. Posto isto, será necessário contar com a ajuda da irmã para assumir os cuidados das filhas. Apesar dessa ajuda, acredita que ninguém cuide melhor de suas filhas do que ela mesma.
Eduarda também fala sobre o amor pelas filhas que não pode ser explicado. Em contrapartida alega que nos momentos de estresse, lhe ocorre um sentimento de arrependimento em ter tido a terceira filha. Quando não possui apoio e está se sentindo cansada, conta que alguns sentimentos ruins como o anterior aparecem. Acredita que o apoio do pai é imprescindível e se recorda de uma amiga que queria dar seu próprio filho por não ter o devido apoio para cuidar do filho.
Priscila é uma mulher branca, residente da zona central de São Paulo e possui um filho de 8 meses. Ela é formada em Enfermagem e não trabalha em sua área atualmente devido à uma possível mudança de área de trabalho futuramente. A entrevistada explica que tinha muitos conflitos quando pensava na maternidade, já que sempre pensava na questão da responsabilidade. Posteriormente, ela fala que o seu filho não foi planejado, descobrindo a gravidez no início da pandemia. Devido ao isolamento social, Priscila não pode conviver com os amigos e isso foi um fator bastante difícil para ela, mesmo que ela e sua família não tivesse se isolado completamente das demais pessoas. A entrevistada também dá bastante ênfase na escolha do parto humanizado domiciliar, que foi uma decisão da própria entrevistada desde o início, contando com a presença de sua rede de apoio mais próxima. Além disso, ela comenta que o nascimento do filho parece ter sido um respiro para a sua família em meio a tanto caos ocasionado pela pandemia.
Como Priscila deixou de trabalhar um pouco antes de saber sobre a gravidez do filho, ela afirma que atualmente é mãe em tempo integral, se sentindo extremamente responsável em cuidar e educar o filho da melhor maneira possível. Para vivenciar uma gestação tranquila, a entrevistada optou por não se privar de nada, mantendo esse comportamento após o nascimento do filho. Como consequência, ela afirma que leva o filho para todas as atividades que ela realiza, seja uma aula de atividade física ou fazer as unhas. Por fim, ela se relembra da escolha em realizar ou não o chá de bebê, optando por fazer um encontro para aqueles que se sentissem confortáveis em ir e respeitando seu desejo.
Mesmo o filho sendo recém-nascido, Priscila diz que ele é bastante expressivo e tem um bom relacionamento interpessoal. Além disso, ela afirma que se frustra algumas vezes com questões como a alimentação do filho, sobre a qual a mãe faz um grande esforço para ocorrer tudo bem (expectativa) e nem sempre ocorre da forma que imagina (realidade). Além disso, ela explica que há uma funcionária em sua casa que a auxilia nos trabalhos domésticos, para que Priscila tenha um olhar 100% voltado para o filho. O marido também ajuda um pouco com o cuidado do filho, mas de modo geral, a entrevistada cuida das maiores responsabilidades. A entrevistada evita ser uma mãe “encanada” (sic) e deixa o filho explorar as coisas no dia a dia.
Quando questionada sobre as coisas boas da maternidade, Priscila comenta que há uma evolução muito grande pela qual a mulher passa quando se torna mãe. Ademais, ela explica que o mundo só tem sentido quando passa a servi-lo, sendo a criação de um filho a melhor forma de realiza-lo. Ela também fala que aprendeu o sentido do livre-arbítrio, como lidar com a frustração e a vulnerabilidade de não poder controlar todo o ambiente (impedir que o filho se machuque). A entrevistada não fala diretamente sobre a culpa materna, mas indica que é necessário lidar com os desafios que o filho pode proporcionar. O sacrifício também foi um aspecto discutido, já que ela depende financeiramente do esposo e vai demorar um tempo para retomar ao mercado de trabalho. Priscila também afirma ser total devota ao filho neste momento e que, inclusive, encontra dificuldades em confiar nos outros o cuidado do seu filho, incluindo sua própria rede de apoio. Neste sentido, ela sabe que vai falhar como mãe, mas ela afirma que é sua função falhar minimamente, vendo o cuidado do filho como uma responsabilidade totalmente dela. Ao final da entrevista, ela explica que a família contraiu o Coronavírus, mas tentaram não ficar desesperados, levando a situação da melhor forma possível.
A última entrevistada é Lívia, uma mulher negra, mãe de um filho de 3 meses, formada em Administração. Ela é residente da zona leste de São Paulo e não trabalha. Relata no início da entrevista que decidiu ter um filho por conta do avanço em sua idade. Em relação a sua rede de apoio, apenas obtém a ajuda do marido nos momentos em que ele possui disponibilidade, pelo fato de trabalhar presencialmente. Relata que a questão do distanciamento social a abalou por ter que ficar longe do restante da família. Lívia também discorre sobre o nascimento de seu filho, um parto cesárea que resultou muitas dores ao voltar para casa. Diante disso, após voltarem do hospital, a entrevistada se sentiu perdida e sobrecarregada quanto aos afazeres da casa, sendo a única pessoa que o realiza, sem ajuda de terceiros.
Lívia conta que seu parto foi feito em uma unidade de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Menciona que esta não foi uma experiência agradável, apesar de inicialmente ser dada a prioridade para os atendimentos de grávidas (consultas) e pessoas que contraíram o vírus Covid-19. Ela também relata que ficou 32 horas sentindo dores intensas e, quando chegava ao hospital na esperança de receber auxílio, os funcionários a mandavam voltar para a casa e aguardar a dilatação completa, pois assim poderiam realizar o parto que, a princípio, estavam induzindo para que fosse de forma natural. Lívia alega que após tantas horas de dor e ter voltado para casa algumas vezes a pedido dos médicos, retornou ao hospital implorando aos responsáveis para que realizassem um parto cesárea devido à dor e a agonia em esperar a chegada do filho. Após o nascimento, um dos médicos a informaram que realmente não haveria a possibilidade de ser realizado um parto natural por conta de sua idade, o que a deixou desapontada com o atendimento recebido, já que a entrevistada foi direcionada para tentar realizar um parto normal, sentindo dores por muitas horas e recorrendo à cesariana em último caso.
Quanto à amamentação, Lívia expõe na entrevista que não obteve problemas para executar tal experiência. Conta que possui um sentimento inexplicável pelo filho e, em relação aos aspectos complicados da maternidade, menciona a privação de sono e as dores do parto e do pós-parto.
Discussão das pesquisadoras frente aos temas mencionados pelas entrevistadas
O parto é a primeira grande separação que ocorre entre mãe e bebê. Consequentemente, é caracterizado por um momento de ruptura,sendo de grande importância para a mãe e muitas vezes idealizado desde o início da gestação. A busca previa por profissionais da saúde que irão acompanha-la no momento do parto se tornou algo imprescindível para a maioria das mães na contemporaneidade, já que este é um momento único e cheio de expectativas. Assim sendo, a mãe pode obter confiança em tais profissionais na hora de parir, como também se sentir mais segura em relação ao processo. (WINNICOTT, 2020). Está busca profissional se relaciona ao discurso da entrevistada Priscila, que mencionou a importância da escolha individual, optando por um parto humanizado domiciliar com profissionais de sua confiança juntamente à sua rede de apoio próxima. 
Caso esse contato com os profissionais não ocorra com antecedência, a mãe pode sentir receio e medo no momento do nascimento do filho e a experiência pode ser dificultada. (WINNICOTT, 2020). Isso se relaciona ao relato da entrevistada Eduarda, no qual trouxe a dificuldade em realizar um parto natural sem a presença de seu companheiro. Tal isolamento ocorreu devido ao contexto pandêmico do Coronavírus no qual os hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) impediram a presença de acompanhantes nesses momentos, dificultando sua experiência. Além disso, Lívia expõe algo semelhante, mencionando a precariedade dos profissionais presentes nos hospitais públicos, já que ela não teve um acompanhamento adequado, resultando sofrimento. Conclui-se que há um aumento nas intervenções médicas na relação mãe-bebê (acesso à tecnologia), contudo, por consistir em um serviço auxiliador dessas mulheres, foram criadas algumas dificuldades para que as mesmas se sintam dependentes desses serviços, patologizando as mulheres com o intuito de normalizar tais intervenções. (IACONELLI, 2020). Para mais, Federici (2017) anuncia que essa dependência médica se inicia no século XVI com o intuito de controlar o processo reprodutivo das mulheres, deixando de serem acompanhadas por parteiras. Nas palavras da mesma autora, 
[...] Enquanto na Idade Média elas podiam usar métodos contraceptivos e haviam exercido um controle indiscutível sobre o parto, a partir de agora seus úteros se transformaram em território público, controlados pelos homens e pelo Estado: a procriação foi colocada diretamente a serviço da acumulação capitalista. (Federici, 2017, p. 178).
Em seguida, as mães vivenciam a experiência da amamentação, considerada um momento de suma importância na relação mãe-bebê. Devido a esse olhar mais focado nessa fase, há algumas questões que cominam as mães a se sentirem culpadas, angustiadas ou desaminadas caso não ocorra esse processo naturalmente (aleitamento). Esses sentimentos também foram apresentados durante as entrevistas. Giulia relata que sofreu no início da amamentação, dando o entendimento de que teve dificuldades no processo. Ademais, Eduarda comenta sobre a frustração em não conseguir amamentar a segunda filha por mais tempo devido à gestação próxima de sua terceira filha. Por fim, Gisele apresenta em seu discurso o aleitamento materno como a forma mais correta em alimentar seu filho, demonstrando uma resistência em recorrer à recursos auxiliares, como a mamadeira e o leite em fórmula. Além disso, Gisele cita uma demora não esperada no processo de aleitamento, que não ocorreu de maneira espontânea. 
A autora Badinter (2010) relaciona esses fatores à ideologia naturalista da amamentação, na qual algumas mães consideram o aleitamento como uma experiência única de plenitude e alegria, amamentando pelo tempo desejado, muitas vezes ultrapassando o período indicado por profissionais da saúde. Essa ideologia naturalista criada por ideais socialmente impostos pressionam as mães fazendo com que as mesmas a tomem como verdade absoluta, demandando mais deveres a elas. Entretanto, a mesma autora também apresenta mães que iniciam o aleitamento no hospital e param logo após a volta para casa, relatando sobre o esgotamento, dor nos mamilos, as longas horas esperando o bebê ficar satisfeito, além de discorrerem sobre a tentativa de amamentar sem alcançar êxito. A mamadeira é julgada por algumas pessoas como um egoísmo materno de forma a criticar o viés industrial da mesma, sendo na realidade um objeto que facilita a liberdade da mãe como a possibilidade da retomada à vida profissional e a participação do pai em oferecer a mamadeira ao filho. (BADINTER, 2010). 
Após o trabalho de parto e juntamente à amamentação, as mães passam pela fase do puerpério, caracterizada pela adaptação da mãe frente a todas mudanças físicas e psíquicas relacionadas à maternidade. Essa adaptação pode ocorrer de forma gradual, na qual a mulher se recupera do parto (ruptura) e aos poucos retoma suas atividades. Entretanto, muitas mulheres passam por algumas dificuldades nessa fase. A entrevistada Giulia afirma que passou por um puerpério difícil, incluindo a presença do baby blues, relatando que não gostaria de ter mais um filho devido a tal experiência. Além disso, Thais também comenta que neste período teve depressão pós-parto. Por fim, Gisele fala sobre seu puerpério dando ênfase na questão pós-cirúrgica, resultado da cesárea, que proporcionou uma experiência bastante ruim e limitadora para ela, além de um misto de sentimentos como amor e raiva.
Nota-se que poucas participantes falaram sobre a fase de resguardo do puerpério de forma mais aprofundada, podendo ser resultante de uma vivência mais difícil de ser elaborada e mencionada. Com isso, pode-se relacionar tais discursos com o conceito de Winnicott (2020), no qual cita que a mãe, após a experiência do parto, se encontra sensível, sendo considerável que ela fique num ambiente tranquilo para obter a oportunidade de desenvolver seus instintos maternais, indo de contrapartida com alguns relatos das entrevistadas. Ademais, Iaconelli (2020) comenta que a mãe passa por novos desafios nesta fase pois se encontra responsável por um novo bebê. Como consequência, a mesma precisa estar apta a realizar uma tarefa ativa e interpretativa junto ao bebê, podendo gerar uma potencialização da sensação de inadequação, insegurança, culpa e medo, fazendo com que as mães muitas vezes recorram aos ditames de especialistas. Por fim, a autora Badinter (2010), também comenta sobre tal experiência, expondo que existem muitas mães que encontram grande realização na maternidade. Contudo, muitas podem se sentir “perdidas” após o nascimento de seus bebês, se questionando sobre o escolhido e algumas confessando sentimentos de vazio, alheamento e se apresentando deprimidas.
Devido à todas as adaptações que a maternidade gera na mulher, a mesma precisa de ajuda para realizar suas funções. O pai dos filhos tem papel fundamental nessa fase com o intuito de auxiliar essa mãe e intervir em possíveis funções como na limpeza da casa. Todas as entrevistadas afirmaram que recebem algum tipo de ajuda por parte do pai das crianças, porém isso nem sempre ocorre de forma constante, sendo a maior responsabilidade pelo cuidado da casa e dos filhos relacionada à mãe. As entrevistadas Daniela, Leticia, Eduarda e Priscila relatam que, apesar da ajuda dos companheiros, elas são as principais responsáveis pelo cuidado, geralmente justificando esse fato devido ao companheiro ser o provedor da casa, passando pouco tempo com os cuidados. Além disso, Giulia e Manuela relatam que muitas vezes os pais dos filhos a procuram para obter respostas em relação ao cuidado, como se as mesmas soubessem melhor como cuidar das crianças. Essa procura faz com que as mesmas se sintam ainda mais sobrecarregadas, auxiliando e ensinando os pais a cuidarem dos filhos. Por fim, a entrevistada Thais afirma que o companheiro à auxilia, mas ainda sim é necessário que ela delegue as atividades que precisam ser feitas na casa. 
Essa divisão do trabalho, no qual as mulheres são mais responsáveis em cuidar do lar e dos filhos não se dá de forma aleatória. Federici (2017) afirma que todas as mulheres foram consideradas como bens comuns, já que o cuidado doméstico e dos filhosdeixou de ser considerado um trabalho remunerado, transformando-se em um recurso natural das mulheres frente a sociedade, ressaltando uma ideia criada pelos homens da época de que as mulheres seriam inferiores naturalmente. A autora Badinter (2010) também afirma que conforme as mulheres focam na vida pessoal e profissional, elas acabam se distanciando dos afazeres domésticos, sem necessariamente receber ajuda dos parceiros nesses deveres. É retratado pela mesma autora, em concordância com as entrevistadas, que a divisão de tarefas entre os casais é na maioria das vezes desigual em todos os países, porém apenas o compartimento de papéis teria a capacidade de conter as responsabilidades que recaem somente para as mães. 
É interessante notar que o desejo em ter filhos foi bastante influenciado pelos companheiros, nos casos em que a gravidez foi planejada. Dessa forma, mães como a Daniela, Paula e Giulia buscaram primeiramente alcançar outros tipos de prioridades, sendo a maternidade um desejo posterior construído junto com os companheiros. Pode se relacionar o discurso das entrevistadas que citam a influência dos companheiros no desejo de ter filhos com a autora Iaconelli (2020), no qual relata que a mulher sempre foi considerada um sinônimo de fertilidade, sendo alvo do controle reprodutivo por parte dos homens. 
Como visto anteriormente, o cuidado dos filhos geralmente é realizado com o cuidado da casa, fazendo com que as mulheres se sintam ainda mais sobrecarregadas para dar conta de todas suas funções. Daniela trouxe à tona na entrevista a dificuldade que muitas mães passam ao cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos praticamente sozinhas, nomeando como a “escravização doméstica da mãe” (sic), notando que ela deixou de existir para dar conta de todas suas funções. Eduarda também apresenta um discurso em ressonância com o anterior, comentando que em certos momentos se sentia extremamente estressada e chorava pensando que não seria possível dar conta de tudo, sentimento este dito como enlouquecedor. Assim como as entrevistadas, a autora Badinter (2010) conta que nos primeiros meses após o nascimento do bebê, a mãe é vista como escrava do mesmo, estando disponível somente para o seu filho. Ademais, relata que a partir do momento em que o bebê se torna um problema exclusivamente da mãe, o pai acaba por se esquivar, sentindo-se culpado e se volta para a carreira profissional.
Nota-se que essa situação de esgotamento por parte das mães devido aos cuidados domésticos foi agravada no momento da pandemia, já que muitas famílias optaram por não receber ajuda de funcionárias domésticas, familiares ou amigos de confiança, reduzindo suas redes de apoio e evitando o contato social com outros. Segundo Modesto, Souza e Rodrigues (2020), a tentativa de conciliar trabalho versus família pode gerar um esgotamento emocional nas mães que assumem por total o trabalho doméstico e o cuidado para com seus filhos, onde esta exaustão ligada ao trabalho excessivo é conhecida como Burnout. O atual contexto vivenciado tende a contribuir para o Burnout e pode favorecer para uma avaliação mais negativa sobre si mesmo, com possibilidade de impactar no bem-estar geral e na saúde mental. Conforme a situação foi ficando mais controlada, algumas mães retomaram as contratações de funcionárias, caso a situação financeira fosse favorável, ou optaram por receber a ajuda de parentes e amigos próximos. Apesar de tal ajuda ser de extrema importância para as mães, Priscila afirma que ainda sim sente certa dificuldade em confiar aos outros o cuidado de seu filho, preferindo cuidar do próprio filho do que demandar o cuidado para terceiros. 
A busca por ajuda também é bastante influenciada pelo interesse das mães em retornar ao mercado de trabalho, representado no discurso de Eduarda que menciona uma vontade e necessidade em retornar suas atividades profissionais. Apesar dos interesses na retomada do trabalho, muitas mulheres não tem a possibilidade de escolha em ficar apenas em casa, necessitando retomar a vida profissional e, com isso, pode-se imaginar quantas mães se sentem culpadas por voltar a trabalhar após o parto. As consequências da mãe ao optar por estar disponível apenas para o filho também tem seus malefícios, já que a mesma fica estagnada em relação a carreira profissional, assim como relatado por Daniela e Priscila, resultando na desigualdade salarial entre homens e mulheres. Pode-se concluir que a negociação entre a mãe e a mulher é extremamente difícil de ser realizada harmonicamente. (BADINTER, 2010).
	A pandemia também foi responsável por ocasionar o distanciamento social, resultando em algumas mudanças, incluindo o local de trabalho que se tornou o próprio lar (home office), dificultando a separação de funções e tempo para cada atividade. Além disso, algumas entrevistadas comentaram sobre a solidão na maternidade, retratando a dificuldade em dividir os momentos importantes da gravidez/filho com os demais familiares e amigos. Os exemplos foram bastante simbólicos como não poder compartilhar o primeiro chute na barriga (Gisele), a ausência do companheiro durante o parto da filha (Eduarda) e a dúvida em realizar o chá de bebê do filho (Priscila), considerado um rito cultural da maternidade. Todas essas restrições dificultam a formação do bebê como sujeito, já que o mesmo é constituído pelo discurso social. Antes mesmo do parto, o bebê vai sendo formado por uma série de idealizações como seu sexo, aparência e gostos, sujeitando-o. (IACONELLI, 2020).
A mãe que anseia pela carreira profissional precisa confiar seu filho à creches e escolas para ter a possibilidade de trabalhar em tempo parcial. Consequentemente, a escola constitui uma forte rede auxiliar da mãe, na qual a mesma divide os cuidados educacionais com outros profissionais. O coronavírus fez com que as escolas fossem fechadas por tempo indeterminado, fazendo com que essa rede auxiliar deixasse de existir para as famílias. As entrevistadas puderam notar que esse período de ausência ocasionou atraso no desenvolvimento dos filhos, mencionando a fala (Thais). O acúmulo de energia também foi descrito por Daniela, Leticia e Giulia, além da falta de interação com outras crianças, dita por Eduarda.
Interessante notar que apesar das diversas dificuldades na experiência da maternidade, todas as entrevistadas descreveram sentir um amor dito como indescritível e imensurável pelos filhos. Em contrapartida, as mães também relataram sobre sentimentos ruins, relacionados justamente às dificuldades proporcionadas pela vivência causando estresse e raiva (Manuela). Após a exposição ao estresse, muitas mães acabam se sentindo culpadas por tais sentimentos. Por ser uma relação erógena, a autora Iaconelli (2020) mostra a importância da composição dos sentimentos ambivalentes na função parental. Sendo assim, tanto amor quanto o ódio materno se fazem necessários para uma construção saudável da relação mãe-bebê.
Os relatos das mães entrevistadas apresentaram congruência com o referencial teórico do presente estudo. Os discursos das mesmas apresentaram temáticas importantes na maternidade como a gestação, puerpério, amamentação, cuidado com os filhos e trabalho doméstico. Entretanto, cada entrevistada desenvolveu os temas de forma diferente apresentando singularidade. O momento do parto foi um assunto trazido por Priscila como uma escolha pessoal que fez bastante diferença em sua vivência, levantando pontos positivos e mostrando a importância que a mãe necessita possuir neste momento, diferentemente de Lívia que trouxe uma experiência negativa a este processo devido a falta de cuidado profissional. Além disso, as mães relatam com grande intensidade sobre temáticas como a falta de auxílio dos companheiros e, consequentemente, a sobrecarga materna. Por fim, nota-se a tentativa de conciliação entre os diversos papéis da mulher, sobretudo com as atividades profissionais remuneradas e o trabalho materno, fazendo com que a mesma se sobrecarregue tentando fazer todas as demandas ou optando por darpreferência aos cuidados dos filhos, deixando de lado questões como o autocuidado e realizações pessoais.
Conclusão
Muitas mulheres julgam a maternidade como uma experiência de suma importância. Sendo assim, o presente estudo possui relevância social, podendo levar a mães e a outros leitores um novo ponto de vista da vivência da maternidade. A experiência materna já possui dificuldades intrínsecas, como certas vezes no processo de amamentação, puerpério e conciliação com a carreira profissional e trabalho doméstico, porém busca-se compreendê-la no contexto pandêmico do Coronavírus, que acabou intensificando tais processos, causando uma mudança brusca no estilo de vida dessas mães e readaptações nas rotinas das mesmas. 
Pode-se observar diante das entrevistas realizadas que Eduarda ficou sem o apoio do companheiro no processo de parto por conta das recomendações impostas pelos profissionais da saúde com o intuito de respeitar o isolamento social, causando sofrimento para a mesma. A fase do puerpério também foi mencionada como algo custoso pela entrevistada Thais, assim como para Giulia que teve a presença de baby blues e, por fim, Gisele, que devido a sua cesariana, se sentiu mais limitada pelas dores ao voltar para casa com o filho. O período do puerpério engloba a rede de apoio das mães que, com a chegada da pandemia, acabou resultando em consequências, como a diminuição dessa rede de apoio e do contato social, dificultando na obtenção de ajuda por terceiros.
Além disso, nota-se uma sobrecarga que essas mães possuem por ocorrência de demandas com os filhos, lares e algumas que necessitam conciliar esses deveres com a carreira profissional que nunca é de fato harmônica. Em consequência do contexto pandêmico, os trabalhos se tornaram Home Office, no qual essas mães tiverem que se reinventar para dar conta das tarefas que se reuniram em um só ambiente, a própria casa. Entretanto, também é notório que apesar de haver uma sobrecarga da mãe, mesmo que os pais dos filhos assumam parte dos cuidados, elas ainda acatam com a maior parte do serviço.
Percebe-se que a maioria das entrevistadas também mencionam sobre o sentimento de culpa. Algumas a citam no contexto da amamentação, por não ter ocorrido de forma fácil, espontânea e terem possuído a necessidade de parar com o aleitamento em um momento que não gostariam. Outras mães a citam em situações que não puderam evitar ou amenizar o sofrimento de seus filhos. Ademais, algumas a possuem por terem que retomar a carreira profissional, tentando a conciliação entre os cuidados com a criança e o trabalho, tendo como consequência o oferecimento de menor atenção para o filho.
Pelo presente estudo ter sido de caráter qualitativo, foi possível escutar algumas mães que vivenciaram a maternidade em um período tão delicado de forma mais individual e detalhada, na qual as mesmas falaram com mais profundidade sobre os temas apresentados. Ademais, nota-se que foram apresentadas questões semelhantes por entrevistadas diferentes, mudando muitas vezes a forma de se colocar. 
O estudo também foi interessante pois pode-se notar que existem diversos estudos que fazem referência a bebês e nascimentos, porém há poucos que relatam sobre a vivência da maternidade em si, ainda mais com especificações como o do contexto de pandemia do Coronavírus, considerada uma vivência inédita. Por fim, foi observado, no decorrer do estudo, que a maioria dos escritos que retratavam a vivência das mulheres eram feitos por autores do sexo masculino. Devido a isso, foi feito uma busca bibliográfica para trazer mais referências de autoras do sexo feminino, buscando trazer essa representatividade, apesar de não serem em grande número. Como existem poucos referenciais teóricos sobre o tema, seria interessante observar a necessidade de futuros artigos que retratassem, estudassem e publicassem a respeito desse tema tão presente na realidade das mulheres modernas do mundo. 
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