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CLASSES E MOVIMENTOS 
SOCIAIS
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD:
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Marta Yumi Ando
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Aliana de Araújo Camolez
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de 
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios 
não vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande 
responsabilidade sobre as escolhas que 
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida 
acadêmica e profissional, refletindo diretamente 
em nossa vida pessoal e em nossas relações 
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade 
é exigente e busca por tecnologia, informação 
e conhecimento advindos de profissionais que 
possuam novas habilidades para liderança e 
sobrevivência no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a 
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, 
capaz de formar cidadãos integrantes de uma 
sociedade justa, preparados para o mercado de 
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
1. AS CLASSES SOCIAIS DISPUTAM OS ESPAÇOS POLÍTICOS NO ESTADO .........................................................5
1.1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS IMPULSIONAM O SUFRÁGIO UNIVERSAL PARA DEMOCRATIZAR O ESTADO 
BURGUÊS ......................................................................................................................................................................9
1.2 O DEBATE: DA PERSPECTIVA REVOLUCIONÁRIA À CRÍTICA AO REFORMISMO NO SEIO DO MOVIMENTO 
OPERÁRIO ................................................................................................................................................................... 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 19
CLASSES SOCIAIS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS 
FRENTE À DEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO 
BURGUÊS A PARTIR DO SÉCULO XIX
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
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INTRODUÇÃO
Houve destaque para o sufrágio universal (inicialmente, sufrágio restrito), sendo a 
expressão democrática do Estado, que, ao longo do século XIX, contemplou um número maior 
de participantes nas instituições estatais, especialmente no parlamento. Contudo, isso não 
alterou a sobreposição da burguesia perante as classes trabalhadoras, mas fomentou processos 
políticos por meio dos quais a pressão de setores operários e populares fez a burguesia recuar 
em determinados momentos – o que implicou na ampliação de segmentos dos trabalhadores e 
populares (pequenos comerciantes e camponeses) com direito a voto.
Com a experiência política da classe operária, sobretudo posteriormente à formação da 
Primeira Internacional, sindicatos e partidos políticos que representavam as massas trabalhadoras 
ganharam destaque e foram, evidentemente, importantes para combater a forma democrática 
que assumiria o Estado. Sobretudo um Estado que “de governo do povo” só tinha o nome, 
tendo em vista que a administração dos governantes servia, predominantemente, aos interesses 
da burguesia. As experiências políticas em defesa dos interesses dos trabalhadores tiveram 
resultados. Desde meados do século XIX, houve um movimento operário que foi ampliando 
suas bases de influência, indo para além das fronteiras nacionais, inclusive com uma perspectiva 
internacionalista.
A partir do final do século XIX, eclodiu um debate polêmico frente ao reformismo, que 
tinha Bernstein como uma de suas lideranças, profundamente questionado por Rosa Luxemburgo 
(2015), dado seu revisionismo que traduzia numa perspectiva reformista para o movimento 
operário. Esse período também foi marcado pelas críticas de Lênin (1980, 2007) a Kautsky com 
relação ao debate quanto à democracia burguesa e democracia operária. 
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. AS CLASSES SOCIAIS DISPUTAM OS ESPAÇOS 
POLÍTICOS NO ESTADO
Nesta unidade, abordaremos o desenvolvimento do Estado burguês sob sua forma 
democrática, cuja organização e luta dos trabalhadores foram fundamentais, sem se 
desconsiderarem outras formas de organização do Estado (como as ditaduras militares, que se 
fizeram presentes por necessidade do acirramento da luta de classes e/ou dos choques entre as 
frações burguesas), utilizando-se, principalmente, da leitura de Hobsbawm (2010, 2015, 2016a, 
2016b), analisando-se de que forma a democracia vai sendo forjada como a melhor forma de 
organização do Estado burguês, assegurando a propriedade privada capitalista. 
Nesse sentido, o sufrágio terá importância central, o qual, a partir do século XIX, ampliou-
se até chegar ao sufrágio universal no século XX, embora com várias advertências, conforme se 
apontará oportunamente. Com isso, buscar-se-á demonstrar o impacto do sufrágio universal para 
a organização das lutas das massas trabalhadoras e o modo como as burguesias se comportaram 
frente a esse fenômeno. 
O Estado burguês, cuja finalidade é assegurar a grande propriedade privada dos meios 
de produção, é o resultado de uma longa evolução do próprio modo de produção capitalista e 
das formas de organização do Estado. A burguesia, no processo de se tornar a classe dominante, 
teve que se utilizar das formas de Estado que encontrou à época de seu nascimento. É o que se 
verifica, por exemplo, como resultado da revolução encabeçada por Oliver Cromwell, em meados 
do século XVII, a qual resultou na constituição da monarquia constitucional, vigente até hoje. A 
própria burguesia francesa passou por várias fases da sua revolução iniciada em 1789, indo da 
república até à monarquia napoleônica.
A forma democrática (tampouco a republicana) não foi a única forma de organização 
do Estado que a burguesia dominante estruturou para garantir seu domínio sobre as massas 
trabalhadoras. Recorreu às formas pré-existentes, adaptando-as naquilo que pôde e, lentamente, 
pela pressão da luta de classes, chegou à forma democrática durante alguns períodos. 
Contudo, mesmo tendo atingido essa forma, dependendo dos choques entre as potências 
econômicas próprias do período imperialista, em alguns lugares, abandonou a forma democrática 
e a substituiu pelo fascismo, nazismo e outras formas autoritárias de governo. É assim até hoje, 
quando encontramos diversas formas de organização estatal combinadas ou em substituição à 
organização democrática (HOBSBAWM, 2015).
Essencialmente, interessa enfatizar que a democracia consiste em apenas uma forma de o 
Estado se organizar, ao lado de outras formas possíveis. Essas formas são determinadas pela luta 
de classes e pelos choques econômicos entre os setores da grande burguesia.
As rápidas alternâncias de regime – Diretório (1795 – 1799), Consulado (1799 – 
1804), Império (1804 – 1814), a restaurada Monarquia Bourbon (1815 – 1830), a 
MonarquiaConstitucional (1830 – 1848), a República (1848 – 1851) e o Império 
(1852 – 1870) – foram todas tentativas para se manter uma sociedade burguesa, 
evitando ao mesmo tempo o duplo perigo da república democrática jacobina e 
do velho regime (HOBSBAWM, 2016).
Havia uma situação de instabilidade política, mas se mantinha o “duplo perigo” da 
“república democrática jacobina e do velho regime” fora do poder do Estado. Para isso, o exército 
teve um papel fundamental. “Ele conquistou; pagou-se a si mesmo; e, mais do que isto, suas 
pilhagens e conquistas resgataram o governo” (HOBSBAWM, 2016). Destacou-se o papel de 
Napoleão Bonaparte como o mais inteligente e capaz dos líderes do Exército.
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De acordo com Hobsbawm (2010), nos períodos pós-revoluções inglesa e francesa, em 
que se verifica a consolidação do modo de produção capitalista, vai-se processando a formação 
do Estado moderno (burguês). Com isso, o próprio desenvolvimento capitalista vai, aos poucos, 
criando as novas classes trabalhadoras, as quais, do ponto de vista das classes dirigentes, foram se 
tornando, cada vez mais, um perigo à dominação de classe. 
[...] Elas [as novas classes trabalhadoras] eram, por definição, numerosas, 
ignorantes e perigosas; muito perigosas, precisamente por conta de sua ignorante 
tendência para acreditar em seus próprios olhos, dizendo-lhes que aqueles que 
os governam davam muito pouca atenção a suas misérias, e a simples lógica 
sugerindo-lhes que, como elas formavam a grande maioria do povo, o governo 
deveria basicamente servi-lhes em seus interesses (HOBSBAWM, 2010, p. 162).
Essa percepção das massas, de identificar e sugerir que o governo deveria atender a seus 
interesses, era uma constatação lógica dada a sua realidade e experiência, a ponto de as próprias 
classes dirigentes perceberem a possibilidade de essas novas classes influenciarem e se insurgirem 
na vida política. Tanto que, segundo Hobsbawm (2010), nos países mais desenvolvidos do 
Ocidente, fomentaram-se mecanismos que expandiram lenta e gradativamente a participação 
popular, ainda que de forma restrita, pois a forma típica da organização política era o governo 
apoiado na realização das assembleias eleitas por pequenos grupos, cujo critério de posse 
(propriedade privada dos meios de produção) determinava. Aqui, tratava-se do sufrágio restrito, 
o qual, ao longo do desenvolvimento do capitalismo e do próprio Estado burguês, tornar-se-á 
sufrágio universal.
Há uma questão relevante que reverbera nos processos políticos e expande a possibilidade 
de participação dos trabalhadores no governo, no sentido de que, segundo Engels (1989), “[...] as 
massas trabalhadoras aprendem com suas experiências fora e dentro das fábricas onde ocorre a 
exploração da força de trabalho”. Nesse sentido, conforme Hobsbawm (2010), para os setores da 
sociedade vistos como ignorantes, as revoluções de 1848 demonstraram na prática que seu alcance 
político poderia avançar e romper com alguns círculos governamentais até então impermeáveis à 
grande parte das reivindicações da classe operária.
[...] as revoluções de 1848 tinham mostrado como as massas podiam irromper no 
círculo fechado de seus governantes, e o progresso da sociedade industrial tornou 
a sua pressão constantemente maior mesmo em períodos não revolucionários 
(HOBSBAWM, 2010, p. 163). 
Mas não apenas os trabalhadores aprenderam com as revoluções e processos posteriores 
que vieram a desenvolver novas formas de governos. Para Hobsbawm (2010, p. 164), o próprio 
Napoleão III aprendeu e tirou vantagens com as revoluções de 1848. Aprendeu a ponto de 
reconhecer a importância da democracia com “[...] uma crença segura, talvez excessiva, na 
inevitabilidade das forças históricas tais como o nacionalismo e a democracia”. Mas isso não 
garante a democracia como forma única de governo. 
Ao contrário, o mesmo Napoleão III, eleito para Presidência em 1848 com esmagadora 
preferência dentre os eleitores, foi “[...] o primeiro dirigente de um grande país, com exceção dos 
Estados Unidos, a chegar ao poder pelo sufrágio (masculino) universal e nunca esqueceu dele” 
(HOBSBAWM, 2010, p. 165). Mas, em meados do século XIX, Napoleão III não precisou de 
novas eleições para ser eleito: aplicou um golpe de Estado, do qual resultou sua declaração como 
imperador. Ou seja, a forma de o Estado se organizar pode variar conforme as relações de luta de 
classes e, mesmo, conforme as relações internas à burguesia.
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A atitude de Napoleão III em relação à política eleitoral era ambígua e é isto que 
a faz interessante. Como ‘parlamentarista’, ele fez aquilo que era então o jogo 
normal da política, quer dizer, obteve a maioria suficiente de uma assembleia 
de indivíduos eleitos, agrupados em alianças frouxas e mutáveis, com etiquetas 
vagamente ideológicas, que não devem ser confundidas com os modernos 
partidos políticos. Portanto, políticos sobreviventes da Monarquia de julho (1830 
– 1848), como Adolphe Thiers (1797 – 1877), e futuros luminares da Terceira 
República, como Jules Favre (1809 – 1880), Jules Ferry (1832 – 1893) e Gambetta 
(1838 – 1882), recuperaram ou fizeram seus nomes na década de 1860. Ele não 
foi bem-sucedido nesse jogo, especialmente quando decidiu afrouxar o firme 
controle burocrático sobre as eleições e a imprensa (HOBSBAWM, 2010, p. 165).
Embora Napoleão III tenha sido vitorioso nas eleições que disputou, não havia organização 
de seus eleitores. Sobre isso, um dos aspectos que parece decisivo para o fracasso de Napoleão 
III foi a falta de um “movimento” que compusesse sua base social (eleitoral) organizada. Em 
que pese sua tentativa de agregar setores das classes trabalhadoras da cidade (inclusive com a 
tentativa de se aproximar de lideranças de esquerda, como ocorreu com o anarquista Pierre – 
Joseph Proudhon (1809 – 1865)) e mesmo tendo se “[...] esforçado seriamente para conciliar e 
domesticar o crescimento do movimento trabalhista na década de 1860 – tendo legalizado as 
greves de 1864” (HOBSBAWM, 2010, p. 166), tudo isso foi insuficiente para romper o vínculo do 
movimento trabalhista com a esquerda. 
Portanto, Napoleão III se apoiou em setores conservadores e no campesinato, os quais 
viam em Napoleão III “[...] um governo estável e antirrevolucionário, seguro contra as ameaças 
à propriedade” (HOBSBAWM, 2010). Num caso ou noutro, havia um interesse comum: um 
governo que assegurasse a propriedade privada dos meios de produção.
Aparentemente, pode ser estranho o fato de Napoleão III ter procurado lideranças de 
esquerda, e não Karl Marx ou outros que estavam exilados exatamente por se oporem ao regime 
político vigente à época. Mas do anarquismo, dirigentes “[...] como P. J. Proudhon fez com 
Napoleão III” (HOBSBAWM, 2010, p. 176). O “fez” se refere a uma posição política que, naquele 
contexto, aceitou a direção do Estado sob Napoleão III. Ressalte-se, ao mesmo tempo, que havia 
divergências e contraposições entre os setores dominantes: reacionários e conservadores, frente 
aos liberais/burgueses à consolidação do capitalismo. Por outro lado, havia aproximações entre 
lideranças, que iam do anarquismo até ao chefe do Estado burguês. Este último que, como já 
exposto, chega à Presidência via sufrágio ou se proclama imperador mediante golpe de Estado.
Nos apontamentos de Hobsbawm (2010), a partir da década de 1860, evidenciou-se o 
reaparecimento das classes trabalhadoras nos meios políticos, cuja pressão demonstrava que a 
burguesia não mais conseguiria mantê-las isoladas. Isso se explicitou, sobretudo, com o sufrágio 
universal, meio de participação popular que foi para além das fronteiras dos países que realizaram 
verdadeiras revoluções burguesas. 
As burguesias, por outro lado, escoavam-se na sua riqueza, na sua 
indisponibilidade e no destino históricoque fazia delas e de suas ideias as bases 
dos Estados ‘modernos’ desse período. Entretanto, o que as transformava em 
força, no interior dos sistemas políticos, era a habilidade para mobilizar o apoio 
dos não burgueses que possuíam número e, portanto, votos (HOBSBAWM, 
2010, p. 169).
Isso não nos autoriza a afirmar que a luta de classes fora interrompida. Houve um processo 
econômico e político de avanço das burguesias, inclusive, permitindo a participação de setores 
que não eram da classe dominante (mas, também, não eram precisamente da classe dominada). 
Eram setores concentrados na “[...] camada intermediária – pequenos comerciantes, artesãos, 
e outros ‘pequeno-burgueses’, proprietários camponeses etc.” (HOWBSBAWN, 2010, p. 168). 
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Para os trabalhadores de forma geral, embora a maioria não tivesse acesso à representação no 
Estado, pois sequer votavam, a sua pressão influenciava em maior ou menor medida. Não que 
isso determinasse uma nova direção do Estado burguês, mas as pressões, como elemento da luta 
de classes, foram ganhando corpo à medida que a própria experiência política foi escancarando a 
necessidade de organizações trabalhistas.
Com o acirramento da pressão advinda da classe operária, o impacto sobre a burguesia 
foi evidente, a ponto de ela buscar apoio para continuar a governar. 
Na França, a burguesia há muito já não consegue governar sozinha, ou mesmo 
sob a bandeira liberal, e seus candidatos buscavam apoio popular por meio 
de rótulos cada vez mais inflamados. ‘Reforma’ e ‘Progressista’ davam lugar a 
‘Republicano’ e este a ‘Radical’, e, na Terceira República, a ‘Radical-socialista’, cada 
qual ocultando uma nova geração dos mesmos bárbaros Sólons, de sobrecasaca, 
com línguas de ouro e frequentemente recheadas de ouro também, rapidamente 
mudando para posições moderadas depois de seus triunfos eleitorais com a 
esquerda (HOBSBAWM, 2010, p. 170). 
Participar da “direção” do Estado burguês era ilusório. E isso levou as correntes políticas 
de esquerda a saírem à força, a darem golpes de Estado ou, então, a se adaptarem à própria ordem 
burguesa. Dessa forma, a esquerda francesa de radical se tornou moderada. Isso ocorreu na 
França, na década de 1860, o que se justifica, segundo Hobsbawm (2010), vez que os radicais 
não tinham força política frente aos liberais, já que os dirigentes do Estado, desde 1850, eram 
predominantemente liberais. Justificável também, porque, no contexto político de meados do 
século XIX e posterior, alguns setores dos liberais faziam parte da esquerda, sob o prisma de se 
oporem à forma de organização política e da propriedade no feudalismo.
Não há dúvidas de que a maioria dos camponeses na maior parte da Europa 
ainda era tradicionalistas, pronto para apoiar a Igreja, o rei ou o imperador e seus 
superiores hierárquicos de forma automática, especialmente contra os malignos 
desígnios dos homens da cidade (HOBSBAWM, 2010, p. 175). 
A relação entre setores mais reacionários como a Igreja (sobretudo a Católica) apoiando 
“partidos conservadores e reacionários” obtinha forte influência sobre o campesinato, que se 
destacava sob a defesa de ser “[...] contra o socialismo e a revolução, a Igreja apoiava qualquer 
coisa” (HOBSBAWM, 2016, p.146). 
Evidentemente, a partir da década de 1860, os “homens da cidade” contemplavam desde 
setores da pequena burguesia e até da burguesia dirigente do Estado. Mas divergência maior se 
identificava com os setores das massas trabalhadoras urbanas, surgindo e expandindo a partir 
das duas últimas décadas de industrialização, em especial, o proletariado, que foi desenvolvendo 
organizações – a exemplo de sindicatos e partidos – com uma política combatente frente aos 
interesses reacionários e conservadores de parte da Europa tradicionalista. O fato de os 
camponeses, mesmo em países avançados industrialmente como Inglaterra e França, constituírem-
se quantitativamente em parte significativa da população, comparada com a população em geral, 
refletiu na política, pois a evolução do sufrágio restrito para o sufrágio universal, que ocorreu 
lenta e gradativamente, contemplou os camponeses.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1.1 Os Movimentos Sociais Impulsionam o Sufrágio Universal 
para Democratizar o Estado Burguês
Estamos partindo da análise da democracia como forma de Estado, em seu 
desenvolvimento do ponto de vista histórico, considerando-a a partir do que Hobsbawm (2016) 
chamou de dupla revolução: revolução inglesa (industrial) e francesa (política). Tais revoluções 
demarcaram o “triunfo do capitalismo liberal burguês”. No contexto político e econômico inglês, 
do final do século XVIII a meados do século XIX, “a política já estava engatada ao lucro”. Isso 
porque a Inglaterra, naquele momento, já havia conquistado maior desenvolvimento das relações 
capitalistas de produção com a formação da grande indústria. Nesse sentido, “[...] o dinheiro não 
só falava como governava” (HOBSBAWM, 2016, p. 64).
A burguesia industrial não apenas havia penetrado nas instituições estatais, como já 
tinha os governantes subordinados à sua política. Do ponto de vista dos trabalhadores e da 
pequena burguesia, agora não somente na Inglaterra, mas também (pelo menos) na França e nos 
Estados Unidos da América, já havia formação de grupos oposicionistas ao Estado. Esses grupos 
desenvolviam uma política de acordo com os interesses da grande burguesia, o que gerava ainda 
mais conflitos entre os trabalhadores e a pequena burguesia.
Os trabalhadores e a queixosa pequena burguesia, prestes a desabar no 
abismo dos destituídos de propriedade, partilhavam, portanto, dos mesmos 
descontentamentos. Estes descontentamentos por sua vez uniam-nos nos 
movimentos de massa do ‘radicalismo’, da ‘democracia’ ou da ‘república’, cujos 
exemplares mais formidáveis, entre 1815 e 1848, foram os radicais britânicos, os 
republicanos franceses e os democratas jacksonianos americanos (HOBSBAWM, 
2016, p. 76).
Essa união estava vinculada ao processo do desenvolvimento econômico a cujos benefícios 
a pequena burguesia não tinha acesso. Mas pior ainda era a situação dos trabalhadores. 
Para nos centrarmos em nosso objetivo (qual seja, a ampliação da democracia), 
interessam-nos alguns aspectos que decorreram da Revolução Francesa. “[...] a revolução na 
França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a maior 
parte do mundo” (HOBSBAWM, 2016, p. 98). Contudo, as diferenças políticas e econômicas 
entre França e Inglaterra não podem ser tomadas ao ponto de se colocar aquela como centro das 
organizações políticas (inclusive burguesas) e esta como o centro de produção de mercadorias 
apenas. Na França, houve um desenvolvimento técnico e científico cuja base material dava-se 
no desenvolvimento do capitalismo, sobretudo da burguesia industrial, ainda que concentrado 
nas grandes cidades, principalmente em Paris. Dessa forma, já havia desenvolvimento das 
organizações políticas. 
Por outro lado, apenas o contexto político francês produziu uma quantidade de agitações 
em nível mundial, que outros países não provocaram. Daí advém a afirmação: “[...] a Revolução 
Francesa é um marco em todos os países” (HOBSBAWM, 2016, p.100). Ela influenciou os levantes 
que levaram à libertação de países da América Latina, dentre outros movimentos em países de 
vários outros continentes. 
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A ampliação da democracia pode ser observada na lenta e gradativa expansão do sufrágio 
universal, que aparece em 1791 na França, a qual Hobsbawm (2016) atestou ser a primeira 
Constituição genuinamente democrática proclamada por um Estado moderno (burguês). O 
seu conteúdo era de abolição dos direitos feudais, aplicação de uma política que beneficiasseos 
pequenos compradores de terras, abolição da escravidão nas colônias francesas etc. Vale notar 
dois importantes elementos. Essa Constituição é resultado de um processo revolucionário – no 
sentido de ter ocorrido a transição do modo de produção feudal para o capitalista – que ocorreu 
na França, pois representa a conformação do ordenamento burguês, que surge e avança para se 
tornar, nas décadas posteriores, a classe dominante. Com relação à abolição da servidão, essa era 
uma necessidade para o desenvolvimento e consolidação do modo de produção capitalista, além 
do estímulo à expansão do trabalho assalariado. 
Na década de 1860, o sufrágio universal já não era prerrogativa de regimes surgidos de 
revoluções burguesas (França, Inglaterra etc.). A proporção de eleitores, comparada à população 
em geral, aumentava, mas ainda era minoria frente à população em geral.
O Second Reform Act na Inglaterra mesmo duplicando o número de eleitores, 
ainda os deixava com 8% da população, enquanto no recém-unificado Reino 
da Itália era apenas 1% (Nesse período, no mundo, o voto poderia conferir 
direitos a 20% ou 25% da população, a julgar pelas eleições francesas, alemães e 
americanas, e outras da década de 1870) (HOBSBAWM, 2010, p. 168).
O voto era direito de proprietários do sexo masculino. Portanto, quem tinha acesso 
a chegar ao poder do Estado eram a burguesia ou os camponeses proprietários. Com isso, os 
dirigentes do Estado eram da burguesia e, portanto, representavam suas ideias e implementavam 
políticas de acordo com seus interesses. Entre os eleitores, estavam os pequenos comerciantes, 
artesãos, pequenos burgueses e proprietários camponeses. O fato de haver vários representantes 
das frações burguesas e a perspectiva de ampliação do voto refletem a necessidade de a burguesia 
se articular com as frações de sua própria classe e com os camponeses, além de com setores 
do proletariado que vinham aumentando quantitativamente em virtude da expansão crescente 
da industrialização. Por mais que alguns setores da pequena burguesia, dos camponeses e dos 
artesãos não tivessem capacidade de dirigir o Estado, eles votavam. E é esse o interesse maior dos 
grupos burgueses dirigentes do Estado. 
Segundo Hobsbawm (2016), ainda que lenta e gradativamente, a democracia foi se 
ampliando a partir de 1870. “[...] as massas marchariam para o palco da política, quer isso 
agradasse ou não aos governantes [...]” (HOBSBAWM, 2016, p. 137) em países como a França, 
Suíça e Dinamarca. Na Inglaterra, o eleitorado quase quadruplicou “[...] com as leis de Reforma 
de 1867 e 1883, o que elevou de 8% a 29% para os homens de mais de 20 anos” (HOBSBAWM, 
2016, p. 137). A Bélgica democratizou esses direitos em 1894, após uma greve geral, que aumentou 
de 3,9% para 37,3%, para a população adulta. A Noruega dobrou essas cifras em 1898, partindo 
de 16,6%, chegando a 34,8%. Na Finlândia, houve uma democracia extensiva única, alcançando 
76% de adultos. Na Suécia, o eleitorado dobrou em 1908, atingindo o nível da Noruega. Fora da 
Europa, países como os EUA, Austrália do Sul e Nova Zelândia já eram democráticos no sentido 
do avanço na constituição de seus eleitorados. É importante ressaltar que são dados dos países à 
época, dentre os mais próximos de contemplarem o sufrágio universal. 
[...] essa democratização ainda era incompleta – o eleitorado comum, sob o 
sufrágio universal, era de 30% a 40% da população adulta – mas deve-se notar 
que até o voto feminino já era mais um utópico slogan (HOBSBAWM, 2016, p. 
138, grifo do autor).
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No que tange à expansão da democratização via ampliação do eleitorado, lembra 
Hobsbawm (2016), uma das influências foi a Revolução Russa de 1905, movimento espontâneo, 
antigovernamental, que se espalhou por todo o  Império Russo, aparentemente sem liderança, 
direção, controle ou objetivos muito precisos. Geralmente, é considerada o marco inicial das 
mudanças sociais que culminaram com a Revolução de 1917. 
A Revolução Russa de 1905 acelerou processos e organizações operárias com inspirações 
revolucionárias por todo o mundo. Tal aceleração provocou na burguesia a necessidade do 
controle de seus governos e Estados para ampliar suas bases de influência e repressão sobre os 
trabalhadores. 
Esse panorama acerca da democratização via expansão do sufrágio universal teve influência 
sobre as classes dominantes, à medida que o acirramento da luta de classes as colocou, ainda que 
estivessem no poder, em uma situação de renderem-se a exigências das classes dominadas. 
A nova situação política desenvolveu-se passo a passo, e irregularmente, 
dependendo da história interna dos diversos Estados. Isso dificulta e quase 
inutiliza uma avaliação corporativa da política de 1870 – 1890. Foi a súbita 
emergência internacional dos movimentos operários de massa e dos movimentos 
socialistas, durante e após 1880 que parece ter colocado numerosos governos 
e classes dominantes em dificuldade essencialmente semelhantes, conquanto 
retrospectivamente seja possível conceber que não foram estes os únicos 
movimentos de massas a dar dores de cabeça aos governantes (HOBSBAWM, 
2016, p. 155).
Por meio da análise de dados retirados das obras de Hobsbawm, evidenciou-se a lenta e 
gradativa ampliação do sufrágio universal. Ademais, o processo de democratização possibilitou 
conquistar direitos sociais, civis e políticos, contemplados sob a forma de governo democrático. 
Porém, mesmo com a ampliação do eleitorado, a burguesia é quem continua sendo a classe à 
qual o Estado está subordinado. Por outro lado, nota-se que esses processos de democratização 
influenciaram as massas trabalhadoras a conquistarem direitos sociais, civis e políticos, 
contemplados sob a forma de governo democrático.
1.2 O Debate: da Perspectiva Revolucionária à Crítica ao Re-
formismo no Seio do Movimento Operário 
A partir da década de 1860, no movimento operário, começam a se destacar organizações 
trabalhistas – os sindicatos. Sobretudo na Inglaterra, avançava sua influência com trabalhadores 
de outros países. 
Somente na Inglaterra, na Austrália e – curiosamente – nos Estados Unidos, 
os sindicatos de trabalhadores tinham significado real, sendo que nos dois 
últimos casos geralmente chegavam na bagagem dos imigrantes ingleses com 
organização e consciência de classe (HOBSBAWM, 2010, p. 177). 
O peso do operariado inglês se justifica pela própria história da Revolução Industrial, 
que impulsionou e desenvolveu formas de organização em prol dos interesses dos trabalhadores. 
Na Inglaterra, o movimento sindical era atravessado por disputas internas entre as correntes 
reformistas, anarquistas etc. Mas, no seu desenvolvimento, havia uma perspectiva, segundo 
Hobsbawm (2012), socialista e revolucionária explicitada nas décadas seguintes.
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Outra organização resultante de processos políticos (gestada desde as experiências das 
revoluções de 1848, em um contexto em que os movimentos em prol dos interesses gerais das 
massas trabalhadoras concentravam vários segmentos identificados como radical, democrático, 
anárquico etc.) que contavam com disseminação e influência internacional foi a Associação 
Internacional dos Trabalhadores, criada em 1864 – “[...] a Primeira Internacional de Karl Marx 
(1864 – 1872)” (HOBSBAWM, 2010, p. 178). A primeira internacional já havia sido criada 
antes de chegar a Marx. Na sua composição inicial, havia correntes políticas diversas as quais, 
curiosamente, continham uma combinação de lideranças sindicalistas inglesas insulares e 
liberal-radicais, misturadas ideologicamente com militantes sindicalistas franceses bem mais 
esquerdistas. Essa diversidade de correntes provocou várias divergências internas à própria 
internacional. Mas, no final, de acordo com Hobsbawm (2010), a posição deMarx venceria, 
frente à posição de anarquistas como Proudhon e Mikhail Bakunin. 
Contudo, Marx não conseguiu manter o controle da Internacional, o que se evidenciou 
no início da década de 1870. A internacional, que era a base da organização dos trabalhadores 
em nível internacional, foi se desintegrando, embora as posições de Marx acerca da necessidade 
de um programa revolucionário – explicitado, inicialmente, no Manifesto do Partido Comunista, 
desde 1848 – tenham permanecido influentes.
A primeira internacional é muito mais do que podemos expor aqui. Cabe ressaltar seu 
caráter internacionalista e radical dado (não só) por Marx, que foi manifestação do próprio 
acirramento da luta de classes, com resultados importantes para o movimento operário 
internacional desde, pelo menos, o pós-1860.
Daquele momento em diante, os movimentos da massa trabalhadora se tornariam 
organizados, independentes, políticos e socialistas. A influência da esquerda 
socialista pré-marxista havia sido quebrada e em consequência, a estrutura da 
política seria constantemente modificada (HOBSBAWM, 2010, p. 186).
As modificações não explicitaram até o final da década de 1880, quando já se formava a 
Segunda Internacional (1889 – 1916), conhecida também por Internacional Socialista ou, ainda, 
Internacional Operária, criada, principalmente, pela iniciativa de Engels. A referida internacional 
“[...] renasceria como uma frente de partidos de massa, em grande parte marxista” (HOBSBAWN, 
2010, p.186).
Desde 1871, a Associação Internacional de Trabalhadores recomendou a criação de 
partidos políticos nos países avançados industrialmente. Na Alemanha, já havia dois partidos: 
“[...] União Geral dos Trabalhadores, fundada por Lassalle, e o Partido Trabalhista Social-
Democrático, liderado por August Betel e Wilhelm Liebknecht” (ABENDROTH, 1977, p. 45). 
Esses avançavam sua influência sob uma fração das massas trabalhadoras alemãs. Fato constatado 
a partir das poucas porcentagens de votos que teve nas eleições para o Parlamento em 1874, 
(3%) atingindo um percentual maior posterior à unificação destes partidos em 1875 – “Partido 
Socialista de Trabalhadores” –, chegando a 9% dos votos gerais obtidos para o parlamento em 
1877.
De acordo com Abendroth (1977, p. 46), “[...] o partido se identificou sobre a base de um 
raciocínio marxista simplificado”. Do ponto de vista da política do partido, que se expressava em 
jornais, por exemplo, estavam sob a responsabilidade de Eduard Bernstein (1850 – 1932) e de 
Karl Kautsky (1854 – 1938). O partido ia se tornando simpático, não exatamente à classe operária, 
mas às camadas da sociedade alemã que, à época, poderiam ser identificadas como pequena 
burguesia. O fato de ser o único partido a defender o direito da mulher, mesmo em matéria de 
direito eleitoral, tornava-o simpático às minorias críticas das camadas intelectualizadas. Por parte 
do governo do Reich, isso resultou em medidas políticas que não ultrapassaram a instituição do 
seguro-desemprego, o seguro-acidentes e o seguro-doença, sem que, contudo, o efeito pretendido 
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se fizesse sentir. Nesse sentido, houve uma simplificação do marxismo, doutrina que defende a 
destruição do Estado burguês, e não a conquista do Estado para reformá-lo.
No contexto da socialdemocracia alemã, a estratégia de seu partido estava direcionada 
a organizar os trabalhadores para a luta via parlamento, com a expectativa de que a pressão dos 
trabalhadores seria suficiente para o governo responder suas reivindicações. Consequentemente, 
isso resultaria em melhores condições de trabalho e de vida às massas. À medida que o capitalismo 
se desenvolveu, de fato, avançou-se em alguns aspectos que influenciam a vida dos trabalhadores, 
condições de trabalho, transporte, moradia etc.
O que importa é o método de luta que orientava os trabalhadores que negavam a violência 
organizada necessária à luta de classes, limitando-se a uma ação pacífica. Logo, direcionada a 
concentrar a luta no parlamento como a arena da política do proletariado.
Esse êxito só se tornou possível, porque o partido, de um lado, se mostrou 
fiel à sua meta da democracia política e da sociedade econômica socialista, 
bem como da transferência gradativa dos principais meios de produção da 
coletividade. De outro lado, aproveitaria, coerentemente, todas as chances 
legais de luta, tendo aprendido a resistir a qualquer tentação de realizar atos 
de violência e a utilizar o Parlamento como tribuna das discussões políticas, 
as eleições políticas como medida de sua influência, as lutas eleitorais como 
meio de propaganda. Assegurava, assim, a possibilidade de uma atuação legal 
às organizações sindicais, ao contrário das associações sindicais liberais de 
Hirsch-Duncker, que tinham a greve como recurso principal a luta de classes 
(ABENDROTH, 1977, p. 46, grifo do autor). 
A questão não é estender a greve promovida pelo movimento sindical como elemento 
central tático de um partido, mas negar o papel da violência – não confundir com atos terroristas 
– na luta de classes e orientar para ação organizada, em que o Parlamento é o espaço de lutas 
mediante as representações eleitas. Isso reflete a perspectiva pacífica numa estratégia em que a 
reforma é a grande salvação para os explorados e oprimidos. Se se quer destacar a conjugação do 
que se passou nos países europeus centrais de uma política, tendo o Parlamento como espaço de 
denúncia por parte dos trabalhadores, sem transformá-lo no espaço onde as massas trabalhadoras 
terão seus interesses respondidos.
Segundo Abendroth (1977), a exemplo da Alemanha, mas com particularidades nacionais, 
a socialdemocracia austríaca também constituiu seus partidos com grupos que se intitulavam 
moderados e radicais. No segundo caso, era representado por Joseph Peukert, sob influência 
anarquista, cujos “[...] métodos [...] minaram a sua unidade e aniquilaram a influência socialista 
sobre o movimento trabalhista austríaco” (ABENDROTH, 1977, p. 47).
Na França, o movimento operário teve que se reorganizar após a derrota da Comuna de 
Paris em 1871, superando o banho de sangue provocado pela burguesia vitoriosa. Mas não só 
isso. Mesmo nos anos posteriores, “[...] os principais líderes trabalhistas haviam sido assassinados 
ou aprisionados ou tiveram que emigrar” (ABENDROTH, 1977, p. 48). Apenas no período pós 
1879, com a anistia, foi possível às lideranças e aos trabalhadores reorganizar o movimento 
operário francês, com destaque para a Federação do Partido dos Trabalhadores Socialistas.
Duas personalidades importantes do movimento operário, Eduard Bernstein e Karl 
Kautsky, influenciaram o movimento operário além das fronteiras alemãs. 
Segundo Rosa Luxemburgo (reconhecida internacionalmente pelo movimento operário 
pela militância revolucionária à Social-Democracia da Polônia (SDKP), ao Partido Social-
Democrata da Alemanha (SPD) e ao Partido Social-Democrata Independente da Alemanha 
(USPD)), os equívocos de Bernstein podem ser localizados em vários momentos, mas, em 
especial, quando ele rejeita a destruição do capitalismo, esvaindo-se para a teoria da adaptação 
ao capitalismo, devido a alterações que o grau de desenvolvimento provocaria. Nesse sentido, 
Rosa lembra de Conrad Schmidt, que detalha as formulações de Bernstein.
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[...] a luta sindical e a luta política pelas reformas trarão um controle social cada 
vez mais vasto das condições de produção e, ‘por meio da legislação, rebaixarão 
cada vez mais o proprietário capitalista, com a diminuição de seus direitos, ao 
papel de simples administrador’, até que, finalmente, em um belo dia, a direção e 
administração da exploração sejam tiradas das mãos do capitalista, domesticado 
ao ver a sua propriedade ir perdendo cada vez mais qualquer valor para ele 
próprio(LUXEMBURGO, 2015, p. 43).
Portanto, o caráter da reforma expressa a perspectiva pacífica frente à necessidade de 
direcionar a luta das massas trabalhadoras para arrancar-lhes a propriedade privada capitalista. 
Somando o papel destinado aos sindicatos às reformas sociais, a democratização política do 
Estado será “[...] os meios de realização progressiva do socialismo” (LUXEMBURGO, 2015, p. 
44). 
As reformas e a democratização do Estado, ambas propostas por Bernstein, revelam um 
rebaixamento na compreensão de que o capitalismo tem o controle e define até que ponto as 
reformas podem ir. Outro ponto é com relação ao Estado, negando seu caráter de classe.
Salta aos olhos a mistificação. Precisamente, o Estado atual não é uma ‘sociedade’ 
no sentido da ‘classe operária ascendente’, mas o representante da sociedade 
capitalista, isto é, um Estado de classe. Eis porque a reforma por ele mesmo 
praticada não é uma aplicação do ‘controle social’, isto é, do controle da sociedade 
trabalhando livremente no seu próprio processo de trabalho, mas o controle da 
organização da classe do capital sobre o processo de produção do capital. É nisso, 
igualmente, isto é, no interesse do capital que as reformas acham seus limites 
naturais (LUXEMBURGO, 2015, p. 48).
O Estado é o representante dos interesses da burguesia, como ele poderia legislar ao 
contrário dos interesses à classe a quem ele serve, como e onde caberia uma legislação trabalhista 
que servisse para o “controle social”, senão dos capitalistas sobre os trabalhadores. Nesse sentido, 
a legislação operária, sendo resultado de interesses da burguesia, mas também da sociedade em 
geral, pode até constituir em uma perspectiva harmônica, “[...] mas essa harmonia não dura senão 
até certo ponto do desenvolvimento capitalista” (LUXEMBURGO, 2015, p. 54). A burguesia, 
em períodos em que a acumulação de riquezas se encontra em escala crescente, pode tolerar e 
conceder reformas que incidem sobre a melhor qualidade de vida das massas trabalhadoras. Nas 
condições de crise e recessão, frente às reivindicações dos trabalhadores, a burguesia e seu Estado 
lhes oferecem mais repressão e exploração.
Segundo Luxemburgo (2015), caso os interesses do Estado colidam com o modo de 
produção capitalista, isso se deverá à ordem do próprio desenvolvimento econômico que 
extrapola fronteiras nacionais, seja pelo acirramento da luta de classes seja por choques internos 
às burguesias que compõem a classe dominante. Frente a isso, nota-se um Estado cujas funções, 
frente ao papel de defender a propriedade privada capitalista, explicitará e aprofundará a medida 
do acirramento da luta de classes, ampliando, também, a repressão sobre as organizações dos 
trabalhadores.
Mais uma vez, os equívocos de Bernstein são alvo de críticas de Luxemburgo (2015). 
A extensão da democracia, em que Bernstein vê igualmente o meio da realização 
do socialismo por etapas, não contradiz esta transformação da natureza do 
Estado, mas ao contrário, corresponde-lhe inteiramente (LUXEMBURGO, 2015, 
p. 58). 
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Os espaços de democracia burguesa, como o parlamento, estão tomados pelos interesses 
da classe dominante. Afirmações como essa dizem respeito tanto à forma como ao conteúdo 
da democracia. “São as instituições democráticas, nessa sociedade, pela forma e pelo conteúdo, 
simples instrumentos dos interesses da classe dominante” (LUXEMBURGO, 2015, p. 59).
Para Luxemburgo (2015), na história do surgimento da sociedade burguesa, a reforma 
legal foi necessária ao desenvolvimento e à consolidação da burguesia como classe dominante. 
Assim sendo, há períodos em que a reforma e a revolução podem estar postas às classes 
trabalhadoras, mas não no sentido de elas escolherem o que é melhor ou pior, mas dadas as 
condições de desenvolvimento das relações de produção capitalistas nas quais se expressa a luta 
de classes. O que importa diferenciar é que a revolução social tem o objetivo de instaurar uma 
nova sociedade; já as reformas objetivam alterações superficiais no capitalismo.
Assim, partindo das concepções políticas do revisionismo, a conclusão é a 
mesma a que se chegou tendo partido de suas teorias econômicas, isto é, que 
no fundo, não tendem elas à realização da ordem socialista, mas unicamente à 
reforma da ordem capitalista, não à supressão do assalariado, mas à diminuição 
da exploração, em suma, a supressão dos abusos do capitalismo e não do próprio 
capitalismo (LUXEMBURGO, 2015, p. 102).
A partir dessas exposições de Luxemburgo (2015), notam-se divergências entre 
formulações que incidem em posições políticas no movimento operário internacional, no qual 
as críticas em oposição ao revisionismo de Bernstein constituem-se na vertente do reformismo, 
sobretudo durante e a partir da Segunda Internacional. Mas ele não era o único. Pelo contrário, 
ele foi um expoente e se destacou por sua influência no movimento operário. Outro destacado 
dirigente igualmente muito criticado, não mais por Rosa, mas por Lênin (1980), foi Kautsky, “[...] 
a maior autoridade da II Internacional foi também responsável pela deturpação do marxismo” 
(LÊNIN, 1980, p.5).
Lênin (1980) atribui a Kautsky o equívoco ao se tratar da ditadura do proletariado, voltando 
ao século XVIII, com o objetivo de analisar a democracia burguesa com relação ao absolutismo, 
e dando as costas ao século XX. O que estava posto no século XX é a “[...] questão da relação do 
Estado proletário com o Estado burguês, da democracia proletária com a democracia burguesa” 
(LÊNIN, 1980, p. 7). É precisamente nisso que Kaustsky se perde: ao falar em democracia, refere-
se ao plano geral, e não à democracia burguesa nas condições do século XX. 
À medida que Lênin (1980) vai desenvolvendo suas críticas direcionadas a Kaustsky, 
evidenciou divergências que tiveram influência no proletariado. 
Se Kaustsky consagra até dezenas de páginas a ‘demonstrar’ a verdade de que 
a democracia burguesa é progressiva em comparação com a Idade Média e 
de que o proletariado deve obrigatoriamente utilizá-la na sua luta contra a 
burguesia, isto é precisamente charlatanice de liberal, destinada a enganar os 
operários (LÊNIN, 1980, p. 15, grifo do autor).
O problema se localiza em alimentar esperanças no proletariado, com sua inserção nas 
instituições do Estado, diluindo o conteúdo da democracia, como se ela fosse “pura”, ou seja, 
desconsiderando seu caráter de classe. Tão logo no Estado burguês a democracia será restrita, 
pois capitalismo, pela sua própria natureza, concentra a riqueza e o poder político nas mãos de 
poucos. Frente a isso, a democracia representará essa pequena quantidade de pessoas. A exemplo: 
as eleições são formas democráticas de manifestação da sociedade em geral, em que, por meio 
do voto, elegem-se seus representantes no Estado; contudo, isso em nada garante que os eleitos 
governarão para a maioria, para quem os elegeu.
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A democracia, como forma de organização do Estado, estará vinculada à classe dominante 
de cada época. Esse é o sentido da formulação marxista de que a república democrática é a 
melhor crosta possível do capitalismo. Isso porque, no capitalismo, especialmente em sua fase 
imperialista, a democracia “[...] firmou seu poder de maneira tão sólida, tão segura, que nenhuma 
mudança, de pessoas, instituições ou partidos, na república democrática burguesa, é suscetível 
de abalar esse poder” (LÊNIN, 2007, p. 33). Isso não exclui o fato de a democracia conviver com 
outras formas de organização do Estado. 
Com isso, Lênin (2007, p. 34) explicita a democracia como forma de Estado burguês, 
a qual tem vários “instrumentos” e meios para manter seu domínio. Um deles é abordado por 
Engels, citado por Lênin (2007), “[...] o sufrágio universal de forma categórica: um instrumento 
de dominação da burguesia”.Contudo a democracia, enquanto categoria política, também é 
percebida como forma política do estado transitório após a tomada do poder pelo proletariado. A 
democracia operária é, fundamentalmente, diferente da democracia burguesa, embora o referido 
autor deixe claro o seu limite. A democracia proletária é apenas a forma política da ditadura do 
proletariado, etapa transitória até à completa extinção das classes e do Estado, portanto, também 
da democracia.
Há algumas análises de Marx e Engels com relação à democracia proletária, enquanto 
classe dominante, o que contribui para a conformação da ditadura do proletariado. Sob esse 
aspecto,
[...] o proletariado aproveitará a sua supremacia política para arrancar, pouco 
a pouco, todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos 
de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe 
dominante, e para aumentar o mais rápido possível a quantidade das forças 
produtoras (LÊNIN, 2007, p. 44). 
Assim como Marx e Engels, Lênin (2007) vai além da defesa da democracia, pois o que 
está abordando é a ditadura do proletariado. Dessa forma, o referido dirigente revolucionário 
classifica o marxismo como sendo “[...] aquele que estende o reconhecimento da luta de classes 
ao reconhecimento da ditadura do proletariado” (LÊNIN, 2007, p. 55), ficando explícito que a 
ditadura proletária vai além da democracia. Vale notar que a ditadura do proletariado significa 
“[...] um Estado democrático (para os proletários e os não possuidores em geral) inovador e um 
Estado ditatorial (contra a burguesia) igualmente inovador” (LÊNIN, 2007, p. 55).
Assista ao vídeo disponível em 
https://www.youtube.com/watch?v=PFAC9CgfSIc.
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O Estado sob o controle da classe operária, agora como classe dominante, passa a 
adotar medidas realmente democráticas. Para expor com exemplos, Lênin (2007) 
lembra de medidas tomadas pela Comuna de Paris, analisadas por Marx. Algumas 
delas são: “[...] supressão dos privilégios pecuniários dos funcionários, redução 
de ‘todos’ os ordenamentos administrativos ao nível do salário operário” (LÊNIN, 
2007, p. 64). Essas medidas expressaram a possibilidade de uma transição de um 
Estado democrático burguês para um Estado sob direção do proletariado, cuja 
democracia justifica-se exatamente pelo fato de o proletariado ter em suas mãos 
a capacidade de dirigir suas organizações etc., e não se subordinar a organizações 
que estão sob a direção da burguesia. É precisamente nesse sentido que a 
democracia operária é um elemento que compõe a ditadura do proletariado. 
Verifica-se outro exemplo de medidas democráticas quando Lênin (2007) ressalta 
uma das análises de Engels sobre a Comuna.
Ela [a Comuna de Paris] submeteu todos os cargos - na 
administração, na justiça e no ensino – à escolha, dos 
interessados, por eleições, por sufrágio universal. Depois 
retribuiu esses serviços, superiores e inferiores, com um 
salário igual ao que recebem os outros trabalhadores 
(ENGELS apud LÊNIN, 2007, p. 96). 
Mais uma vez, a Comuna de Paris é objeto de análise de um evento que apresentou 
alternativas significativas do ponto de vista da democracia operária. Porém, a 
democracia tem data de validade, assim como o Estado. Se “o Estado”, como afirma 
Lênin (2007), de acordo com Engels, “[...] não é outra coisa senão uma máquina 
de opressão de uma classe por outra, e isso tanto numa república democrática 
quanto numa monarquia” (LÊNIN, 2007, p. 98), cabe ao proletariado ir para além 
da democracia, enquanto movimento de tomada e destruição do Estado burguês, 
para instaurar a ditadura do proletariado conformada no Estado operário. 
Recomenda-se a leitura das seguintes obras:
- HOBSBAWM, J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. 2. ed. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2015. 
- HOBSBAWM, J. A era das revoluções. 37. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016.
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Nota-se que ao longo das análises realizadas por Lênin (2007), a democracia é 
sempre vista como uma das formas de Estado. Como a proposta é clara, tomar 
o Estado burguês e destruí-lo; assim, construir o Estado Operário, em uma 
perspectiva de colocá-lo em condições de definhamento. Logo, a democracia 
tem validade, tendo a sua duração enquanto existir Estado. Isso fica explícito 
quando Lênin (2007), pautado nas análises de Engels, afirma que “[...] esquece-se 
de que a supressão do Estado é igualmente a supressão da democracia e que o 
definhamento do Estado é o definhamento da democracia” (LÊNIN, 2007, p. 100). 
Esse processo de destruição e definhamento do Estado terá como consequência 
a eliminação das classes sociais que são fundadas na propriedade privada dos 
meios de produção capitalista, eliminação da opressão de uma classe sobre a 
outra, da exploração do homem pelo próprio homem etc. Por esses e tantos outros 
motivos, a democracia, mesmo com conteúdo da classe operária, mais depressa, 
tornar-se-á supérflua e, por isso, desaparecerá.
Evidentemente, o debate acerca das críticas às reformas e à democracia como 
meio para o socialismo vai além. O período caracterizado como stalinismo teve 
outra importante influência e se destacou pela postulação do socialismo em um 
só país refletindo numa posição pacífica.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível inferir que, ao longo do desenvolvimento do Estado burguês, a democracia 
constituiu uma das formas de organização das instituições estatais, como o parlamento, viável 
para assegurar a grande propriedade privada capitalista.
A partir de meados do século XIX, o Estado, em sua forma democrática, constituiu-
se como resultado das lutas de classes e de choques internos à burguesia. A luta pelo sufrágio 
universal demonstrou às massas trabalhadoras, ao longo do século XIX, sua importância à medida 
que permitiu aos trabalhadores perceber o caráter de classe do Estado quando em confronto, 
defendendo-se os direitos trabalhistas.
A própria experiência histórica do movimento operário explicitou a inviabilidade 
para atingir seu objetivo, que foi sendo colocado pelo movimento operário internacional, não 
mais apenas de direitos trabalhistas, mas da destruição da própria ordem burguesa e, com 
ela, a exploração da força de trabalho das classes sociais e da propriedade privada dos meios 
de produção. Evidenciou-se que o “governo do povo”, eleito pelo sufrágio, na prática, serve a 
interesses muitos específicos: os da burguesia.
 A partir desse momento, não era colocada apenas a forma democrática que o Estado 
burguês deveria assumir, mas sua própria sobrevivência como instituição a serviço do capitalismo. 
Essa orientação política foi sendo difundida pelo movimento operário internacional ao longo 
do século XIX. No entanto, por volta de 1890, houve uma orientação contrária à destruição do 
capitalismo e, com ele, seu Estado na forma democrática burguesa. Uma orientação de promover 
reformas para, supostamente, destruir o Estado no futuro. Essa corrente foi denominada 
reformismo, duramente combatida pelos marxistas, em virtude da inviabilidade de se reformar 
o capitalismo.
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SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
1. AS CLASSES SOCIAIS DISPUTAM OS ESPAÇOS POLÍTICOS NO ESTADO .........................................................5
1.1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS IMPULSIONAM O SUFRÁGIO UNIVERSAL PARA DEMOCRATIZAR O ESTADO 
BURGUÊS ......................................................................................................................................................................9
1.2 O DEBATE:DA PERSPECTIVA REVOLUCIONÁRIA À CRÍTICA AO REFORMISMO NO SEIO DO MOVIMENTO 
OPERÁRIO ................................................................................................................................................................... 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 19
DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA, CLASSES TRABALHADORAS 
E AS IMPLICAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS 
SOCIAIS NO BRASIL A PARTIR DO SÉCULO XX
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
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INTRODUÇÃO
Durante o período compreendido entre o fim do século XIX e início do XX, ocorreu a 
transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista. É nesse último que se 
colocam, de forma mais acentuada, as contradições do capitalismo que norteiam a exploração 
da classe trabalhadora. “Essa nova organização do capitalismo em monopólios permite o 
acréscimo dos lucros do capital através do controle dos mercados” (NETTO, 2011, p. 20). Existe, 
nesse momento, uma tendência em relação ao acréscimo dos preços das mercadorias e o forte 
investimento em novas tecnologias, contribuindo para a diminuição dos postos de trabalhos nas 
fábricas.
No capitalismo monopolista, há uma maior concentração de riqueza. Intensificam-se 
as contradições entre as classes antagônicas no capitalismo, pois há um ápice de incoerências 
entre a socialização da produção e a apropriação privada dos meios de produção. Permanecem 
os proletários sendo os produtores diretos, mas a eles não pertence a produção. 
Consoante a visão de Braverman (1980), na era dos monopólios, ocorre a centralização do 
capital, juntamente ao processo de condensação de vários pequenos capitais em poucos grandes 
capitais. Assim sendo, ultrapassa-se sua forma pessoal limitada e limitadora, passando-se a uma 
forma institucional. Dessa forma, prevaleceu a lógica do grande capital, no qual o processo de 
formação dos monopólios ocorre na medida em que os pequenos capitais são sugados, isto é, 
com o processo de monopolização, aglutina-se a propriedade privada em um pequeno grupo que 
se torna dominante. 
Com o advento dos monopólios, a produção no interior das empresas capitalistas foi se 
modernizando, com os avanços das tecnologias empregadas na maquinaria. Em fins do século 
XIX, ocorreu uma substituição da maquinaria do capital, na medida em que as novas tecnologias 
vão sendo implementadas nas máquinas e em equipamentos elétricos. Similarmente ao processo 
de produção, que implica maior resultado, exige-se dos trabalhadores uma qualificação maior e 
uma função exercida de forma específica de cada operário.
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1. O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO E 
SEUS DESDOBRAMENTOS PARA AS CLASSES 
TRABALHADORAS
O movimento da sociedade capitalista, como aponta Braverman (1980), ao impulso 
de inovar produtos diversos no aspecto econômico, em novos serviços e em novas indústrias, 
implica novos processos de trabalho, como o surgimento do rádio e da televisão, que acarretam 
novas alterações nos instrumentos de produção das novas mercadorias. Além disso, determina 
o surgimento de novas categorias de trabalhadores, como é o caso dos radialistas e técnicos em 
televisão, dentre muitas outras. Essas necessidades e determinações de novos ramos ocorreram 
de forma generalizada. É por isso que o mercado se torna universal a partir da expansão das 
mercadorias, com as prestações de serviços que são exemplos típicos do capitalismo de monopólios. 
Na fase do capitalismo monopolista, o primeiro passo na criação do mercado 
universal é a conquista de toda a produção de bens sob forma de mercadoria; o 
segundo passo é a conquista de uma gama crescente de serviços e sua conversão 
em mercadorias; e o terceiro é um ‘ciclo de produto’, que inventa novos produtos 
e serviços, alguns dos quais se tornam indispensáveis à medida que as condições 
de vida moderna mudam para destruir alternativas (BRAVERMAN, 1980, p. 
239). 
Segundo Braverman (1980), em tempos de dominação monopólica, é prioridade 
transformar todos os bens e serviços em mercadorias. Esse processo de mercadologização 
determina tornar também a força de trabalho em mercadoria, passível de compra e venda pelo 
capitalista, entendido como o seu proprietário. Isso possibilita ao capitalista uma posição de “chefe” 
no processo de produção; logo, como proprietário da força de trabalho, é sobre seu domínio que 
se torna mercadoria. O capitalismo, mais precisamente a partir do século XX, expande, assim, 
segundo Braverman (1980), o monopólio, impondo-se como forma dominante por praticamente 
todo o globo.
Para tanto, de acordo com Netto (2011), para o capitalismo se organizar na era de 
monopólios, são necessários mecanismos extraeconômicos, como a contribuição do Estado para 
reproduzir a lógica do capital. Lucrar constantemente sobre a produção e, principalmente, sobre 
o seu produtor - o proletário - é a lógica do capitalismo monopolista.
[...] a intervenção estatal incide na organização e na dinâmica econômica desde 
dentro, e de forma contínua e sistemática. Mais exatamente, no capitalismo 
monopolista, as funções políticas do Estado imbricam-se organicamente com 
suas funções econômicas (NETTO, 2011. p. 25). 
A intervenção do Estado incide, essencialmente, na questão econômica. O Estado burguês 
intervém com funções diretas e indiretas. Vejamos as funções diretas. 
No capitalismo monopolista, o Estado é orientado para que, quando “empresas” estatais 
entram em dificuldades, a solução seja privatizá-las e subsidiar com dinheiro de fundos públicos 
o financiamento aos monopólios para a empresa, antes estatal, sair da ruína. Permite-se, daí, cada 
vez melhores condições para a empresa aumentar sua produtividade. 
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Já nas funções indiretas, o Estado contribui para o crescimento do capital por meio das 
encomendas-compra que 
[...] o Estado realiza com as empresas privadas, com os investimentos públicos 
em meios de transportes e infraestrutura, com a preparação institucional da força 
de trabalho ao capital e com os gastos com investigação e pesquisa (NETTO, 
2011, p. 25). 
O Estado oportuniza ao capital as possibilidades de gerar lucros maiores, atuando 
explicitamente como instrumento de organização da economia capitalista. Em épocas de crise, 
essa intervenção se torna mais explícita.
Além de o Estado qualificar a força de trabalho para servir ao capital com instalações de 
centros de ensino, de qualificação profissional, dentre outras, ele tem a responsabilidade de zelar 
pelas boas condições dos trabalhadores, proporcionando atendimento médico e unidades básicas 
de saúde. 
Nesse processo de consolidação do capitalismo monopolista, com o Estado obviamente 
apoiando a iniciativa privada, a produção se desenvolverá com um processo específico: o fordismo, 
que foi uma das formas de acumulação que o capital encontrou por via de novas alterações da 
produção no interior das indústrias. 
O fordismo é compreendido a partir do início do século XX. De acordo com Bihr 
(2010), o fordismo iniciou um processo de substituição da mão de obra não especializada pela 
especializada. Tal substituição impõe aos operários uma identidade ideológica, pois uma das 
razões para o sucesso do fordismo deve-se ao trabalho, na perspectiva de promoção da ética e do 
amor ao oficio. Esses foram os argumentos usados por ideólogos burgueses, no sentido de que, 
caso não acabe, ao menos se possa controlar a classe trabalhadora. 
Sob essa ótica, o processo de trabalho é imposto de forma hierarquizada nas relações de 
trabalho, juntamentecom a mecanização e a parcialização. Por essa razão é que ocorreu um novo 
fenômeno tão relevante quanto os demais. Reduz-se (para não se dizer que cessa) a produção 
doméstica; aumenta-se a produção capitalista industrial. 
Esse fato provoca agravantes no interior da classe explorada, transferindo a produção 
doméstica para a produção industrial, aumentando a produção industrial e, mais ainda, o 
consumo pelo proletariado. Por isso, Bihr (2010) explica que, ideologicamente, é elaborada e 
internalizada a ideia de consumo individual. Isso gera problemas gravíssimos aos proletariados, 
como a promoção da individualidade, competição para o operário ter emprego, receber um 
salário e, posteriormente, ter poder de compra. Agora, resta ao trabalhador a venda da sua força 
de trabalho, já que ela se tornou sua única forma de sobrevivência.
Como aponta Antunes (2010), ao longo do século XX, dá-se a prevalência do fordismo 
enquanto processo de trabalho industrial, na indústria automobilística. Sob esse regimento, a 
produção se dá de forma fragmentada, parceirizando a produção de determinados produtos, 
funções específicas que o operário deve seguir, promovendo uma nítida separação entre as 
atividades de ordem intelectual (elaboração) e as de execução. 
Na indústria de produção em que impera o fordismo, tem-se poucos homens a fazer parte 
da “elite pensante” na elaboração dos produtos (denominadas funções de gerência) e um grande 
contingente da classe trabalhadora empregada sendo responsável pela execução, pela realização 
propriamente dita, dos produtos. 
Juntamente com a proposta de Keynes, agregou-se o pacto fordista, o qual, na ótica de 
Behring e Boschetti (2008), acarretou uma produção em massa para um consumo e acordos 
coletivos com os trabalhadores do setor monopolista em termos de ganhos de produtividade do 
trabalho. O fordismo representou mais que mudanças técnicas na produção: ele representou uma 
nova forma de relações sociais.
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Esse novo processo de produção tem suas bases no início do século XX; contudo, teve 
sua implementação de forma generalizada a partir de meados da década de 1940. Do ponto de 
vista das autoras, é evidente, desde o início do século XX até 1945, uma elaboração das ideias de 
Keynes sobre a posição do Estado e o pacto fordista com sua inovação no processo de produção. 
Entretanto, a concretização em benefício de uma maior produtividade ao capital e melhorias nas 
condições da classe trabalhadora só ocorre, de fato, no período considerado “os anos de ouro,” 
compreendido entre 1945 e o início da década de 1970. 
O marco decisivo em destaque, exposto por Behring e Boschetti (2008), foram as 
tecnologias implementadas no esforço da Segunda Guerra Mundial, gerando a necessidade de 
se produzirem carros e armamentos, atrelada a um processo de produção fordista que chega a 
sua fase madura, juntamente com a intervenção estatal. O resultado, obviamente, só poderia ser 
o seguinte:
[...] o keynesianismo e o fordismo, associados, constituem os pilares do processo 
de acumulação acelerada de capital no pós-1945, com forte expansão da 
demanda efetiva, altas taxas de lucros, elevação do padrão de vida das massas 
no capitalismo central, e um alto grau internacionalização do capital, sob o 
comando da economia norte-americana, que sai da guerra sem grandes perdas 
físicas e com imensa capacidade de investimento e compra de matérias-primas, 
bem como de dominação militar (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p. 88).
O fordismo domina o processo de produção até, aproximadamente, a década de 1970, 
havendo um acúmulo de produção, por fatores advindos das novas tecnologias, e o consumo 
com um grande contingente da classe trabalhadora empregada, cujos salários propiciaram 
a consumação. Casos explícitos são os dos trabalhadores que adquiriram bens como rádios e 
televisores. Porém, a década de 1970 é marcada por uma crise do capital acerca da queda da 
taxa de lucros, causada pelo aumento do preço da força de trabalho. Outro agravante, também 
decisivo para a crise ocorrer, foram as altas taxas de desemprego, que acarretarem diminuição do 
consumo.
Esses apontamentos característicos do Fordismo subsidiam fundamentos para 
compreendermos o impacto das mudanças no capitalismo sobre os proletários. A transição ao 
capitalismo de monopólios foi realizada paralelamente ao movimento operário. No momento em 
que há um movimento de organização, inicia-se o aparecimento de partidos operários de massas. 
O Estado, os representantes do capital e a burguesia unida realizam intervenções seja de caráter 
coercitivo seja de garantias de direitos, conseguindo impor seus objetivos sobre os trabalhadores, 
que permaneceram na continuação da exploração sobre a força de trabalho. 
Netto (2011) aponta que o capitalismo e o Estado, ao se articularem, efetivam uma 
proposta de aumento à produção do capital, cuja finalidade é de trabalhar para neutralizar a classe 
operária, trabalho que pretende estabelecer “consenso” entre classes antagônicas (burgueses e 
proletários), com garantias mínimas de direitos à classe trabalhadora. 
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1.1 O Estado de Bem Estar Social como Alternativa ao Capi-
talismo
Análises elaboradas acerca do Estado de bem-estar social compreendem seu ápice a 
partir do pós-Segunda Guerra Mundial de 1945, até aproximadamente fins da década de 1960. 
A princípio, o Estado de bem-estar social ocorre nos países capitalistas centrais da Europa. A 
abordagem teórica deve compreender os fundamentos históricos para a consolidação e crise na 
forma do Estado, como uma nova configuração da posição do Estado frente às relações de capital 
e trabalho. 
Verificamos, do ponto de vista de Behring e Boschetti (2008), os fundamentos sócio-
históricos do Estado de bem-estar social. As ideias do Keynesianismo se pautavam em estratégias 
de superar as crises do capital a partir da grande depressão de 1929-1932. Para tanto, ele se 
voltava à redefinição da posição do Estado frente ao capital. O fundamento da teoria de Keynes, 
de o Estado ser “ampliado”, é, de fato, resultante em se recolocar, agora como esfera produtora e 
reguladora. Em relação a essa “inovação” do papel do Estado, salientamos a seguinte premissa:
 
Segundo Keynes, cabe ao Estado, a partir de sua visão de conjunto, o papel de 
restabelecer o equilíbrio econômico, por meio de uma política fiscal, creditícia e 
de gastos, realizando investimentos ou inversões reais que atuem nos períodos 
de depressão como estimulo à economia (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p.85). 
Implica ao Estado uma intervenção que sustente um aumento na demanda, resistindo às 
crises econômicas, intervindo na relação capital e trabalho, estabelecendo uma política salarial, 
isto é, o “controle dos preços”, que são características de que o Estado, segundo o Keynesianismo, 
deve promover formas de “superação” da crise do capitalismo e, ainda, do próprio modo de 
produção vigente. 
De acordo com Behring e Boschetti (2008), tal intervenção e mecanismos para “superar” 
as crises no capitalismo tiveram sua efetividade, de certa forma, no setor de empresariado, em uma 
perspectiva centrada em dois pilares: pleno emprego e igualdade social, o que seria consequência 
da ação do Estado, gerando empregos via produção de serviços públicos, além dos gerados pela 
propriedade privada.
Outro pilar dessa proposta seria, também, por consequência de se ter uma classe 
trabalhadora, em grande parte, inserida no mercado de trabalho, aumentando a renda e 
promovendo a “igualdade” social com serviços públicos, gerando empregos. Isso denota que o 
Estado se posiciona de forma diferente, sendo agora uma instituição que produz. Isso, em termos, 
implica um Estado “ampliado”, com um papel mais presente nas relações de produção.
Um aspecto importantea mencionar é que o Estado intervém com a promoção de 
emprego, surgindo novas necessidades que devem ser supridas. Além da população ativa, existe 
a população não ativa. Segundo Behring e Boschetti (2008), para esses seguimentos como os 
das pessoas idosas, deficientes e crianças, o Estado dispõe de políticas sociais específicas para 
subsidiar sua sobrevivência, como os benefícios a idosos, a aposentadoria e as pensões para 
pessoas com deficiência.
Ao nos reportarmos ao Estado enquanto instrumento de dominação da classe trabalhadora, 
é relevante a posição de Lessa (2007). Segundo ele, o Estado de bem-estar possibilitou um 
campo fértil para promover a domesticação e o adestramento dos sindicatos e subordiná-los 
às imposições do capital, rumo a todo um movimento do capitalismo para, posteriormente, 
estabelecer o neoliberalismo, conformando o Estado mínimo.
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[...] o Estado de Bem-Estar se desenvolveu na sequência da derrota do 
movimento operário pós II Guerra Mundial e em um período de domesticação e 
adestramento das estruturas sindicais aos ditames do capital. Este adestramento 
será um elemento importante para que, décadas depois, a transição ao 
neoliberalismo não provocasse uma reação sindical mais importante (LESSA, 
2007, p. 285). 
Conforme o momento histórico vivenciado, o Estado altera sua posição frente às classes 
fundamentais, burguesia e proletariado. Contudo, o Estado não altera sua essência em nada, 
permanecendo como o comitê gestor dos interesses do capital. É nesse sentido que Lessa (2007) 
fundamenta sua posição analítica, pois o que mudou foram as necessidades para a reprodução do 
capital. O autor aborda, também, que “[...] o capital nos países centrais da Europa e nos Estados 
Unidos logrou anos de produtividade sem precedentes na história durante o período dos ‘anos de 
ouro’” (LESSA, 2007, p. 290). 
Os altos lucros do capital possibilitaram a absorção das crises capitalistas, as greves e as 
insatisfações da classe trabalhadora, empregando parte dos trabalhadores. Isso, de certa forma, 
extraiu a essência dos movimentos organizados e a centralidade da luta de classes, fazendo com 
que adestrassem os lucros para formar, em suas ações, melhorias a fim de adotar uma posição de 
negociação, não mais uma posição de confronto. 
Com o Estado de bem-estar intervindo na produção, o fordismo, com grande poder 
de produção, no fim dos anos de 1960, mostra indícios de esgotamento, pois a produção é 
demasiadamente desproporcional ao consumo. Nesse sentido, Lessa (2007) aponta que houve um 
agravamento pela saturação do mercado de vários produtos-chave, como é o caso dos automóveis.
A partir da década de 1970, como o fordismo não era mais viável como processo de 
trabalho, nota-se a necessidade de “flexibilizar” esse processo. Há uma nova configuração do 
capital e, certamente, os impactos sobre a classe trabalhadora foram, e ainda são, profundos. 
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2. A CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL E O 
NEOLIBERALISMO 
Nesse momento histórico, junto à análise de Behring e Boschetti (2008), com destaque a 
Mandel (1982), o capitalismo se torna maduro, pois se esgotam todas as possibilidades de o capital 
ter um papel civilizatório. Na perspectiva de que o capitalismo não promovesse o desenvolvimento 
do indivíduo, em uma perspectiva humana, Mészáros (2007) identifica que, no pós-1970, a crise 
do capitalismo é estrutural.
[...] não estamos mais diante de subprodutos ‘normais’ e voluntariamente 
aceitos do ‘crescimento e do desenvolvimento’, mas de seu movimento 
em direção a um colapso; nem tampouco diante de problemas periféricos 
dos ‘bolsões de subdesenvolvimento’, mas diante de uma contradição 
fundamental do modo de produção capitalista como um todo, que 
transforma até mesmo as últimas conquistas do ‘desenvolvimento’, 
da ‘racionalização’ e da ‘modernização’ em fardos paralisantes de 
subdesenvolvimento crônico. E o mais importante de tudo é que 
quem mais sofre as consequências não mais é a multidão socialmente 
impotente, apática e fragmentada das pessoas ‘desprivilegiadas’, mas todas 
as categorias de trabalhadores qualificados e não-qualificados: ou seja, 
obviamente, a totalidade da força de trabalho da sociedade (MÉSZÁROS, 
2007, p. 143).
 
O sentido da crise estrutural do capital, nesse momento, é devastador pelo aumento 
desenfreado do desemprego, atingindo diversas categorias da classe trabalhadora, tanto as 
categorias compostas por trabalhadores qualificados quanto as compostas por não qualificados. 
Não somente sob as orientações de outros autores (ANTUNES, 2009; NETTO, 2001; SOARES, 
2002; ANDERSON, 2008), mas em especial de Mandel e Mészáros, é que prosseguiremos neste 
processo analítico do capitalismo tardio, e, por conseguinte, o caráter incontrolável, incorrigível 
e desumanizador do capitalismo, com vistas à crise estrutural do capital para nos aproximarmos 
das condições da classe trabalhadora frente a todo esse processo de crises existente. 
De acordo com Mandel (1982), o capitalismo tardio não é uma nova época no 
desenvolvimento capitalista, mas se conforma a partir da década de 1970, no modo de produção 
que entra em crise profunda. Assim, Mandel (1982) se propõe a esclarecer a crise do capitalismo e 
sua defesa acerca das implicações sobre a saturação do desenvolvimento de técnicas de produção, 
propiciando lugar a uma crise de superprodução. É nesse sentido que elaboramos este tópico 
referente ao capitalismo tardio, essencialmente nos apoiando na análise de Mandel. 
Tratando-se de capitalismo tardio, Mandel (1982) abarca em sua análise o processo de 
grande implementação das tecnologias na produção, tendo suas expressões a partir da Segunda 
Guerra Mundial. Esse estágio tardio do modo de produção capitalista é caracterizado, também, 
como terceira revolução tecnológica. Dessa revolução, o autor destaca algumas características 
assumidas a partir de 1970. Todavia, interessam-nos, em especial, certas características e seus 
impactos no mundo do trabalho. 
A aceleração qualitativa do aumento na composição orgânica do capital, isto é, o 
deslocamento do trabalho vivo pelo trabalho morto. Nas empresas plenamente 
automatizadas esse deslocamento é quase total (MANDEL, 1982, p. 136).
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Primeiramente, vale notar que “[...] a composição orgânica do capital diz respeito às 
relações técnicas e físicas, entre o conjunto das máquinas, matérias-primas e trabalho necessário 
para produzir mercadorias” (MANDEL, 1982, p. 412).
A inserção de tecnologias avançadas no processo de produção promoveu, e promove, uma 
substituição do trabalho humano por funções executadas por máquinas. Isso implica desempregos 
em larga escala; logo, com grande parte da classe trabalhadora desempregada, diminui o poder de 
consumo da população, o que acarreta menor taxa de lucro do capital. 
A terceira revolução tecnológica, nas palavras de Mandel (1982), traz a crescente 
importância da reprodução da força de trabalho em um nível superior de qualificação intelectual 
e técnica. Esse processo exige maior planejamento econômico das empresas, ou seja, a 
desvalorização do trabalho manual em detrimento do trabalho intelectual e de formação técnica. 
De forma pontual, podemos dizer que os elementos apontados incidem a partir dos 
anos 1970, com alterações no modo de produção dominante. Contudo, sua essência permanece 
intacta. A lógica do capital em lucrar sobre tudo e todos impõe, a partir da implementação de 
novas tecnologias, uma precarização da vida da classe trabalhadora, pois existe aumento das 
taxas de desemprego, acarretando, na vida de trabalhadores, a insatisfação de suas necessidades 
básicas, inclusive de alimentação, moradia adequadae de boas condições de sobrevivência. As 
três últimas décadas do século XX e do século XXI são marcadas por uma crise profunda, que 
afeta a classe trabalhadora como um todo. 
Mészáros (2007) aponta que tal crise é estrutural, pois atinge a totalidade da classe 
trabalhadora, ou seja, trabalhadores de todas as categorias, tanto das categorias mais qualificadas 
como das menos qualificadas.
De acordo com os apontamentos de Mészáros (2009), a crise do capital se torna 
devastadora a partir dos anos 1970, assumindo tamanha proporção, que invade não apenas 
o mundo financeiro, mas, também, a esfera da vida social e cultural. Frente a isso, as crises 
capitalistas não são “solucionadas” no interior de cada país: trata-se de crises que surgem em 
determinado país, mas acabam afetando outros. As crises não podem mais ser “solucionadas” 
em seus países de origem; dependem de uma política mundial, e não mais nacional. Um exemplo 
disso, conforme Mészáros (2009), é a maior potência econômica – os Estados Unidos – que, em 
tempos de crise, carece de contribuições de outros países, inclusive daqueles denominados de 
“terceiro mundo”. Sendo assim, Mészáros tem uma visão pessimista em relação à produção e 
reprodução da acumulação da ordem vigente:
A acumulação capitalista não poderia funcionar adequadamente no âmbito 
da economia produtiva. Agora estamos falando da crise estrutural do sistema 
que se estende por toda parte e viola nossa relação com a natureza, minando as 
condições fundamentais da sobrevivência humana (MÉSZÁROS, 2009, p. 130). 
 
O autor vem afirmando que a crise, além de estrutural, é destrutiva, pois as extrações da 
natureza estão sendo tão absurdas que implicam uma desordem entre humanidade e natureza, 
à medida que a humanidade, de tanto extrair da natureza, pode estar colocando em risco sua 
própria existência. 
Juntamente com a exploração predatória da natureza no atual modo de produção, 
existe a subordinação do valor de uso pelo valor de troca das mercadorias, realizada pela classe 
dominante. Ressalta Mészáros (2009) que, na produção capitalista, há um grande investimento 
em mercadorias desnecessárias para a grande parte da humanidade. Isso se explica pelo fato de 
o capitalismo não priorizar as necessidades humanas, mas sim as suas próprias necessidades de 
permanecer como modo de produção dominante. 
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Dessa forma, os produtos e as mercadorias devem chamar a atenção do consumidor 
por sua aparência e não pela sua utilidade, na perspectiva da valorização estética promovida 
pelo burguês. É nesse sentido que Antunes (2009) aponta para as mercadorias. Além de deterem 
superfluidade, elas são valorizadas pela sua aparência, além de terem seu tempo útil reduzido. Isso 
implica desperdício e destrutividade. Explicitamente, a lógica do capital se impõe, determinando 
o consumo e promovendo a miséria, fome e outras questões que afetam a população carente de 
recursos para sua sobrevivência. 
Outro ponto destacado por Mészáros (2009) se refere à especulação financeira. Ele 
defende que a expansão da especulação financeira e a crise estrutural do capital estão atreladas 
aos ideólogos burgueses, que usam da especulação para ressaltar o potencial de “superação” 
do capitalismo em relação às crises, e, então, ocultar as reais condições do capitalismo e suas 
implicações sobre o mundo do trabalho. 
A imensa expansão especulativa do aventureirismo financeiro – sobretudo 
nas últimas três décadas ou quatro décadas – é naturalmente inseparável do 
aprofundamento da crise dos ramos produtivos da indústria, assim como das 
resultantes perturbações que surgem com a absolutamente letárgica acumulação 
de capital (na verdade, acumulação fracassada) no campo produtivo da vida 
econômica. Agora, inevitavelmente, também no domínio da produção industrial 
a crise está ficando muito pior (MÉSZÁROS, 2009, p. 25). 
 
Conforme as implicações da crise estrutural do capital, proporções astronômicas 
são geradas, resultando em um índice de bilhões de desempregados por todo o mundo. As 
especulações financeiras se tornam inseparáveis da crise e têm a função de supervalorizar as 
mercadorias relevantes ao olho do proprietário dos meios de produção. Todavia, o risco é grande, 
porque a supervalorização da mercadoria pode não acontecer, acarretando problemas ao capital.
Em tempos de crise profunda, o capital recorreu a novas alternativas para “superar” a crise, 
que tem suas bases em dois pontos fundamentais: o primeiro se refere ao processo de trabalho, 
compreendido como a implementação do Toyotismo; já o segundo se refere à organização do 
capital com orientações, atingindo o modelo político-institucional e ideológico do Estado, de 
acordo com os interesses capitalistas (o que é conhecido como neoliberalismo).
A implementação do Toyotismo é um novo processo de trabalho, com novas formas de 
acumulação do capital (ANTUNES, 2009), o que, em contrapartida, provoca aumento nas taxas 
de desemprego. Inicialmente, ao ser implantado no Japão e Alemanha e, mais tarde, em grande 
parte do território mundial, o Toyotismo “ganha vida”. Apesar de não ser o único vigente no 
capitalismo, é o dominante a partir da década de 1970.
A discussão acerca dos elementos constitutivos do Toyotismo é complexa. Portanto, de 
acordo com Antunes (2010), o capital, a partir do Toyotismo, passou por uma série de alterações 
que norteiam o mundo do trabalho. Mais especificamente, foram promovidas implementações 
da automação, da robótica e da microeletrônica, que invadiram o universo fabril, inserindo-se 
e desenvolvendo-se nas relações de trabalho e de produção (ANTUNES, 2010). A inserção de 
avançadas tecnologias no processo produtivo impõe uma nova dinâmica no mundo do trabalho, 
emergindo a flexibilização das relações entre capital e trabalho.
Segundo Antunes (2010), a flexibilização promoveu várias alterações na relação entre a 
classe trabalhadora e a capitalista, a saber: 
(a) perdas antes conquistadas pela classe trabalhadora.
(b) a promoção do trabalhador “qualificado” para atender às novas imposições do 
mercado de trabalho. 
(c) a ideologização sobre a relevância do trabalhador em negar o sindicato. 
(d) as lutas coletivas.
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(e) a internalização de valores que levam ao individualismo.
(f) o parceiro-colaborador da empresa. 
Tudo isso em conformidade com uma série de imposições por parte dos detentores dos 
meios de produção, na perspectiva única e exclusiva de lucrar sobre tudo e todos, especialmente 
sobre os trabalhadores.
Segundo Antunes (2010), são também características do Toyotimo as novas formas de 
gestão organizacional, a qual o trabalhador “intelectual” passa a destacar em detrimento dos 
trabalhadores que operam as máquinas (em uma definição clássica: o operário). Ao capitalista, é 
mais fácil se desfazer de um simples operário do que de um trabalhador que ocupa um cargo de 
gerência e/ou gestão. O operário simples, além de estar nas sobras do exército industrial de reserva, 
pode ser substituído por novas máquinas. Já o trabalhador qualificado detém conhecimento 
gerencial, conhecimento de gestão, tornando-se mais precioso ao mercado de trabalho.
Outra característica peculiar do capitalismo a partir dos anos 1970 (e, atualmente, isto é 
bem visível) é a falácia da “qualidade total”.
[...] a falácia da qualidade total, tão difundida no ‘mundo empresaria moderno’, 
na empresa enxuta da era da reestruturação produtiva, torna-se evidente quanto 
mais ‘qualidade total’ os produtos devem ter, menor devem ser seu tempo de 
uso [...] a aparência ou o aprimoramento do supérfluo, uma vez que os produtos 
devem durar pouco e ter uma reprodução ágil no mercado (ANTUNES, 2009, 
p. 52). 
 
De acordocom as contribuições teóricas de Antunes (2010), o Toyotismo, enquanto 
processo de trabalho, conquista espaço para além do Japão e de seu país de origem. Ele oferece 
uma combinação de fatores que se amoldam ao movimento histórico do capitalismo, movimentos 
preconizados por crises além de cíclicas destrutivas.
Seu desenho organizacional, seu avanço tecnológico, sua capacidade de extração 
intensificada do trabalho, bem como a combinação de trabalho em equipe, os 
mecanismos de envolvimento, o controle sindical, eram vistos pelos capitalistas 
do Ocidente como via possível de superação da crise de acumulação (ANTUNES, 
2009, p. 55). 
 
A velocidade e a capacidade de produção em tempo mínimo, a redução de trabalhadores na 
fábrica e a contenção desses operários foram essenciais para o capital se reorganizar e possibilitar 
vias de “superação” da crise de acumulação (ANTUNES, 2009). O Toyotismo oportunizou a 
acumulação de capital. Paralelamente, enquanto resposta à crise estrutural do capital, também 
houve outro elemento para sua reorganização: o neoliberalismo. 
O neoliberalismo, de acordo com Netto (2001), teve sua origem na Inglaterra, por volta 
dos anos 1950, chegando aos Estados Unidos da América com grande força. O neoliberalismo, 
posteriormente, conquistou espaço em outros países da Europa e da América Latina. Entretanto, 
as implementações ocorreram a partir da década de 1970. Analisemos alguns elementos centrais 
do neoliberalismo, constituindo-se, historicamente, como modelo político-institucional e 
aparelho ideológico a serviço plenamente da classe dominante. 
Cabe relatarmos aqui alguns pontos elementares da origem do neoliberalismo. De acordo 
com Anderson (2008), o modelo neoliberal tem suas bases teóricas no texto de Friedrech Hayek, 
escrito em 1944, intitulado O Caminho da Servidão. A princípio, a orientação era se contrapor 
ao Partido Trabalhista Inglês. Posteriormente, Hayek se organizou com aliados e, junto a eles, 
ampliou a discussão acerca do neoliberalismo. 
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As raízes da crise, afirmavam Hayek e seus companheiros, estavam localizada no 
poder excessivo e nefasto dos sindicatos e, de maneira mais geral, o movimento 
operário, que havia corroído as bases de acumulação capitalista com suas 
pressões reivindicações sobre os salários e com sua pressão parasitaria para que o 
Estado aumentasse cada vez mais os gastos públicos (ANDERSON, 2008, p. 10). 
O “parasita” da economia capitalista são os sindicatos. Além disso, qualquer forma de 
regulação do Estado em relação ao mercado pode apontar “soluções.” Logo, “[...] o remédio, então, 
era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e 
no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas” 
(ANDERSON, 2008, p. 11).
Hayek, citado por Anderson (2008), é claro ao afirmar que o remédio é o Estado 
desmobilizador de todo tipo de organização da classe trabalhadora. Diminuir ao máximo os gastos 
com políticas públicas sociais significa reduzir gastos com saúde, habitação, assistência social e, 
sobretudo, liberar o mercado, o qual se autorregula. Contudo, o Estado permanece somente para 
oportunizar melhores condições de expansão do capital. Em momentos de crises, por exemplo, 
o Estado se torna necessário, contribuindo para superá-las. É por isso que o “crescimento” é 
inevitável.
Assim, surge o ideário neoliberal na década de 1940 e 1950. Todavia, é a partir da década 
de 1970 que essa discussão ganha corpo e credibilidade. Vale ressaltar que o país embrionário foi a 
Inglaterra e, apenas depois, os Estados Unidos aderiram ao ideário neoliberal. Consequentemente, 
grande parte da Europa. Contudo, segundo Anderson (2008), o neoliberalismo tem políticas 
distintas em relação à Inglaterra e aos EUA. 
A orientação neoliberal na Inglaterra teve intenções de promover uma política 
institucionalmente (completamente) contra o Estado de bem-estar social, de abolição dos 
controles dos fluxos financeiros, elevando a taxa de juros e baixando custos de impostos sobre os 
altos rendimentos. Isso tudo impôs uma nova legislação antissindical. Além disso, cortar gastos 
públicos (ANDERSON, 2008) com esses elementos levou a política neoliberal a conquistar 
espaços nos países europeus.
O neoliberalismo à moda norte-americana teve particularidades em sua orientação, 
exclusivamente em um determinado ponto. Quase não havendo, segundo Anderson (2008), o 
Estado de bem-estar social nos EUA, a prioridade era deteriorar o regime socialista da União 
Soviética e eliminar por completo o comunismo na Rússia, pois ele oferecia (e oferece) riscos 
concretos à economia capitalista. 
Em um panorama, Anderson (2008) aponta que o neoliberalismo prevaleceu e promoveu 
alguns êxitos. Do ponto de vista da classe dominante, constituíram-se avanços na economia 
capitalista. São eles: a baixa taxa de inflação, a “derrota” do movimento sindical e as altíssimas 
taxas de desemprego. 
Sumariamente, o capital ganha vitalidade, pois os sindicatos perdem parte dos militantes 
de forma qualitativa e quantitativa. Isso implicou problemas profundos na organização da classe 
trabalhadora. A perda quantitativa, que diz respeito à diminuição dos trabalhadores em seus 
postos de trabalho, gerou, de certa forma, um aspecto qualitativo ao neoliberalismo, promovendo 
a individualidade e a competição. Tudo isso gerou obstáculos contra a organização e mobilização 
dos trabalhadores. 
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 O neoliberalismo, segundo Netto (2001), atribui ao Estado duas funções essenciais. 
Primeiro, o mercado deve determinar o espaço legítimo do Estado, que proverá a estrutura 
necessária ao capital e aos serviços que o mercado não pode fornecer (NETTO, 2001 apud 
MERQUIOR, 1991). Segundo, ao Estado compete a responsabilidade por ações voltadas ao 
pauperismo, ou seja, manter o exército industrial de reserva vivo e qualificar a mão-de-obra para 
disponibilizar seus serviços de acordo com as necessidades do capitalismo. 
Com uma argumentação anticapitalista, Netto (2001) aponta um elemento essencial 
implícito no neoliberalismo: a despolitização das relações sociais. Qualquer regulamentação 
política do mercado, por intermédio do Estado ou de suas instituições, é, a princípio, rechaçada 
(NETTO, 2001). Em relação a esses pressupostos, os ideólogos burgueses firmam sua posição e 
colocam o neoliberalismo como resposta à crise do capital a partir das últimas três décadas do 
século XX. 
Como resposta à sua própria crise, iniciou-se um processo de reorganização do 
capital e de seu sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais 
evidentes foram o advento do neoliberalismo, com a privatização do Estado, a 
desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo 
estatal (ANTUNES, 2009, p. 33).
Consoante Antunes (2009), o capital ganhou força, pois, por um lado, houve alguns 
processos de privatizações e, por outro, uma classe trabalhadora sendo esmagada pelas altas taxas 
de desemprego que se acentuam nesse momento. Em uma perspectiva neoliberal, o capitalismo 
tem em seu horizonte um campo fértil para acumulação. Isso porque o mercado ganha autonomia. 
“O neoliberalismo inclui a informalidade do trabalho, o desemprego, o subemprego, a 
desproteção trabalhista e, consequentemente acarreta uma ‘nova’ pobreza” (SOARES, 2002, p. 
12). O ajuste neoliberal implica questões profundas, ultrapassando as barreiras econômicas. 
Dessa forma, existe uma proposta redefinindo o campo político-institucional e o campo das 
relações sociais. Sob tal orientação, há uma esmagadora internalização de valores fundamentados 
no individualismo, acarretando um processo de ideologização da acumulação de capital, ou 
seja, proporcionandoespaço oportuno ao capital, no sentido de naturalização das relações 
sociais em que existem ganhadores e perdedores, assim como fortes e fracos. É assim que se vai 
promovendo o individualismo e a competição, a qual se dá, até mesmo, entre os pertencentes à 
classe trabalhadora.
 O neoliberalismo tem suas bases na autonomia do mercado sobre o Estado, na 
desregulamentação das leis trabalhistas e na promoção da liberdade individual. Essa base 
possibilita ganhos ao capital, pois existe uma prevalência da economia sobre a política, além da 
sobreposição do individual em detrimento do coletivo.
Segundo aponta Soares (2002), os ajustes neoliberais na América Latina ocorreram de 
forma não generalizada, pois o motivo se encontra de acordo com as especificidades econômicas, 
políticas e sociais de todos os países. De qualquer forma, a proposta ao neoliberalismo se deu a 
partir da década de 1970. Todavia, as reformas impostas iniciaram no fim da década de 1980 para 
o início de 1990. Contudo, as orientações foram similares por todo o território latino-americano.
[...] a) aumentar o grau de abertura da economia para o exterior afim de lograr 
um maior grau de competitividade de suas atividades produtivas; b) racionalizar 
a participação do Estado na economia, liberalizar os mercados, os preços e as 
atividades produtivas; c) estabilizar o comportamento dos preços e de outras 
várias macroeconômicas (SOARES, 2002, p. 24). 
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É relevante pontuar que houve um “receituário” nas orientações determinadas aos países 
latino-americanos, desconsiderando-se as particularidades pertencentes ao contexto do país 
(SOARES, 2002). 
Em relação ao Brasil, faz-se necessário notar alguns elementos que retardaram as 
implementações das reformas orientadas pelo neoliberalismo, quando comparadas aos ajustes 
realizados na América Latina. O primeiro desses elementos refere-se ao fato de aqui existir, 
mesmo que atrasada, a tentativa de montar o Estado de Bem-Estar Social, o que implicou em 
partes da sociedade se contrapondo às imposições dos países dominantes. 
O segundo elemento, que merece menção, é a economia brasileira. “O Brasil já havia 
avançado na industrialização e articulando-se internacionalmente por sua inserção internacional” 
(SOARES, 2002, p. 37). Contudo, na virada dos anos 1990, o ajuste ganha força, o que se explica, 
por um lado, pela crise econômica dos anos 1989 e 1990 e, por outro, pelo esgotamento do Estado 
desenvolvimentista. 
É a partir de meados da década de 1990 que a autora considera terem ocorrido as 
implementações das reformas neoliberais. Nas eleições ganhas pelo então presidente Fernando 
Henrique Cardoso, o qual assumiu o discurso de que as reformas devem ser de cunho econômico 
no combate à inflação, a finalidade era realizar o “crescimento” do Estado brasileiro, fato que já 
era de se esperar com as reformas que seguiriam com as imposições dos países dominantes.
De acordo com as exposições de Soares (2002), os ajustes foram similares aos implementados 
na América Latina, sobre os quais já se escreveu anteriormente. A essencialidade aqui está nos 
impactos que sofreram as políticas sociais. Elas se tornaram (ainda mais) fragmentadas, imergidas 
em caráter assistencialista. 
Com o movimento do capital ao longo da história e, mais precisamente, a partir da década 
de 1970, as implicações sobre a classe trabalhadora foram (e são) profundas.
Inicialmente, a “flexibilização” pretendida pelo grande capital é favorecida pelo “[...] 
direcionamento a que ele submete a verdadeira revolução tecnológica que, desde os anos 
cinquenta, afeta os trabalhadores” (NETTO, 1996, p. 91). Com o advento dessa revolução, a 
operação da substituição da eletromecânica pela eletrônica e uma crescente informatização do 
processo de produção resultaram em uma enorme substituição de trabalho humano por trabalho 
morto, o que, por óbvio, acarretou aumento das taxas de desemprego. 
Todavia, faz-se necessário esclarecer que “[...] a tendência do capital em gerar desempregos 
cresce exponencialmente à força de trabalho excedentário em face dos interesses do capital” 
(NETTO, 1996, p. 92). Com isso, fica claro que as origens do desemprego têm raízes profundas, 
não se devendo, exclusivamente, à implementação das tecnologias, mas, também, pela lógica do 
modo de produção vigente. 
A dinâmica da sociedade capitalista tem uma gama de implicações complexas acerca 
da classe trabalhadora. Por isso é que recorremos aos construtos teóricos de Antunes (2010) 
para compreendermos a classe trabalhadora atual. Segundo Antunes (2010), devemos analisar 
os novos elementos, que não se encontram no pensamento marxiano por serem elementos da 
contemporaneidade. Porém, Marx é indispensável para tal compreensão, pois se identifica com a 
flexibilização das relações de trabalho, propiciando espaço fértil para o trabalho precário, parcial, 
temporário e subcontratado. Hoje, a classe trabalhadora vive um processo de desproletarização, 
no sentido da queda quantitativa do operariado industrial. Contrariamente, existe uma expansão 
do assalariamento, ampliando o setor de serviços:
[...] vivencia-se também uma subproletarização intensificada, presente 
na exploração do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado, 
‘terceirizado’, que marca a sociedade dual no capitalismo avançado (ANTUNES, 
2010, p. 47). 
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Com o processo de subproletarização como expõe Antunes (2010), os países centrais se 
tornam referência para a imigração, provocada pelas altas taxas de desemprego estrutural que 
atinge o mundo do trabalho em escala global.
A atual tendência do mercado de trabalho é reduzir o número de trabalhadores 
centrais e empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra facilmente e é 
demitida sem custos. [...] enquanto vários países de capitalismo avançado viram 
decrescer os empregos em tempo completo, paralelamente assistiram a um 
aumento da forma de subproletarização, através da expansão dos trabalhadores 
parciais, precários, temporários, subcontratados etc. (ANTUNES, 2010, p. 50). 
As alterações no interior da classe de trabalho vão para além da subproletarização. Antunes 
(2010) refere-se ao processo duplo: por um lado, de qualificação e, por outro, de desqualificação 
dos trabalhadores. A qualificação diz respeito à substituição do trabalho realizado pelo homem 
e que, agora, é realizado pela maquinaria do capital. Mesmo a substituição do trabalho vivo 
pelo trabalho morto no processo de produção não implica o risco de desaparecimento da classe 
trabalhadora. O que ocorreu, e ocorre, é a diminuição dos trabalhadores com seus empregos, 
especialmente, os trabalhadores manuais (ANTUNES, 2010).
Se a máquina existe em função da produção, obviamente, terá de haver homens para 
com elas produzirem, seja no setor de engenharia, gerência ou setor de administração. Não é 
mais o trabalhador industrial quem desempenha essas funções. No entanto, esses homens 
continuam vendendo sua força de trabalho. Portanto, com a evolução científica e tecnológica, os 
trabalhadores certamente terão de se qualificar para, com as máquinas, executarem atividades.
A desqualificação ocorre em grande parte com os trabalhadores industriais oriundos 
do fordismo. É esse segmento das classes trabalhadoras que mais sofre com o trabalho parcial, 
precário. São setores de serviços que correspondem a 50% dos trabalhadores dos países avançados, 
incluindo os desempregados, os quais, de acordo com o autor, são denominados subproletariado 
moderno (ANTUNES, 2010).
Evidencia-se, portanto, que ao mesmo tempo em que se visualiza uma tendência 
para a qualificação do trabalho, desenvolve-se também intensamente um 
nítido processo de desqualificação dos trabalhadores, que acaba configurando 
um processo contraditório que superqualificaem vários ramos produtivos e 
desqualifica em outros (ANTUNES, 2010, p. 58). 
É viável afirmar que o processo de desqualificação atinge, especialmente, os trabalhadores 
dos setores de serviços, dos precários e dos parciais. Contrariamente, há um movimento 
de qualificação do trabalho intelectual. Isso significa uma supervalorização do trabalhador 
intelectual, em detrimento da desvalorização do trabalhador manual. A precarização do trabalho 
e seu impacto nas classes trabalhadoras ocorrem em escala global. 
Frente a todo esse panorama das classes trabalhadoras, percebe-se uma redução dos 
operariados industrial e fabril, paralelamente a um aumento significativo do trabalhador precário. 
De acordo com Antunes (2010), isso acontece devido à lógica histórica do capitalismo, mais 
precisamente devido à lógica do capital assumida a partir da década de 1970. Tal processo de 
alteração da classe operária está relacionado a um resultado que expõe a obviedade do que vem 
a ser o capitalismo. 
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O mais brutal resultado dessas transformações é a expansão, sem precedentes na 
era moderna, do desemprego estrutural, que atinge o mundo em escala global. 
Pode-se dizer, de maneira sintética, que há uma processualidade contraditória 
que, de um lado, reduz o operariado industrial e fabril; de outro, aumenta o 
subproletariado, o trabalho precário e o assalariamento no setor de serviços 
(ANTUNES, 2010, p. 47). 
 
Nos países de capitalismo avançado, é mais explícito o aumento do “[...] trabalhador parcial 
em função da automação, da robótica e da microeletrônica, logo, oportunizando ao capital uma 
capacidade de diminuir custos com trabalho vivo” (ANTUNES, 2010, p. 49). Temos aqui uma 
questão central em nossa discussão: o avanço do capitalismo em sua capacidade de aumentar a 
produção e as implicações sobre a classe trabalhadora. Ainda conforme os postulados teóricos 
de Antunes (2010), o subproletariado compõe-se de trabalhadores que, além de se encontrarem 
em situação de trabalho precário, estão vinculados aos serviços terceirizados. Isso faz com que 
as empresas realizem contratações por tempo determinado e prestem serviços a outros setores. 
Logo, o trabalhador terá emprego enquanto durar o serviço, que, geralmente, já está com seu 
tempo determinado. É aí que se escancara a desregulamentação das relações de trabalho, já que o 
trabalhador não tem garantias de emprego.
O desemprego é estimado em 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo, pois “[...] cerca 
de 35% encontram-se atualmente na situação de subutilização do trabalho (desempregado ou 
subemprego)” (POCHMANN, 1999, p. 39). Essa informação mostra a crise de desemprego que 
vivenciamos atualmente. Vale lembrar que nas altas taxas de desemprego está incluída a totalidade 
da classe trabalhadora, incluídos os idosos, as mulheres, os imigrantes e os jovens. Assim, ficam 
mais explícitas as exigências do mercado de trabalho, o qual, além de empregar pequena parte da 
classe trabalhadora, ainda realiza rigoroso processo de seleção para empregar. 
Sabe-se que, atualmente, existe uma parte das classes trabalhadoras que é mais 
bem qualificada, estando, portanto, empregada. A outra parte, não tão qualificada, 
está desempregada. Não que a qualificação seja critério para se estar empregado; 
caso contrário, todos os trabalhadores qualificados estariam empregados. O que 
não ocorre efetivamente. Contudo, é a parte dos trabalhadores mais qualificados 
que consegue emprego. Portanto, resta saber se à parte da classe trabalhadora não 
tão bem qualificada é dada a oportunidade de se qualificar para, posteriormente 
conseguir emprego. Nesse contexto, portanto, o que sobra a esses trabalhadores? 
Recomenda-se a leitura destas obras:
- ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? São Paulo: Cortez, 2000.
- ANTUNES, R. Os Sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e negação do 
trabalho. São Paulo: Bomtempo, 2000.
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Por fim, vale a pena você assistir aos vídeos disponíveis em 
https://www.youtube.com/watch?v=YZP8zQSKRPU, 
https://www.youtube.com/watch?v=CcBF1DpuePU e 
https://www.youtube.com/watch?v=6Lh5ZSNo1Hc.
As classes trabalhadoras, no capitalismo contemporâneo, vivenciam uma situação 
de desemprego. O trabalho informal se coloca como forma de manutenção de 
sobrevivência e mascaramento da realidade. Dá-se a ideia de que a classe dos 
explorados faz parte do mercado de trabalho, mas, na realidade, sua situação 
é degradante (ANTUNES, 2009), pois, se em condições de trabalho formal, os 
trabalhadores estão em condições precárias, na informalidade, a ausência de 
direitos trabalhistas piora sua condição de trabalho ainda mais. Contudo, é mister 
que compreendamos que, mesmo sendo trabalhadores no mercado de trabalho 
informal, eles contribuem para a produção de riqueza do capital. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os apontamentos feitos acerca do desemprego e das alternativas de emprego por meio do 
trabalho informal de modo global também são uma realidade vivenciada pelos trabalhadores no 
Brasil. De acordo com Lira (2006), são altas as taxas de trabalhadores que, na falta de trabalho 
regulamentado, encontram no trabalho informal a fonte de sua sobrevivência, mesmo sendo 
sacrificados os seus direitos trabalhistas. Frente a isso, “[...] o informal faria parte das estratégias 
das grandes empresas formais para reduzir os custos e ampliar a flexibilização das formas de 
trabalho disponíveis” (LIRA, 2006, p. 139), ou seja, “[...] com o trabalho precário, temporário, 
através da subcontratação via pequenas empresas terceirizadas de produção de bens e serviços” 
(LIRA, 2006, p. 139). 
No capitalismo, a informalidade do trabalho se tornou mais que estratégias de sobrevivência 
para os trabalhadores que não estão inseridos no mercado de trabalho formal. Ela se torna fator 
vital nas relações capitalistas de produção, pois facilita a contratação e a despensa do trabalhador, 
já que se reduzem os custos com direitos trabalhistas. Isso porque a informalidade do trabalho 
está mais restrita aos setores de serviços que, em parte, são compostos por serviços terceirizados. 
No capitalismo contemporâneo, existe uma valorização da informalidade que, 
ideologicamente, internaliza formas de pensar, o que leva à ideia de que a informalidade seria 
uma “opção de trabalho,” proporcionando ao trabalhador a oportunidade de se tornar um 
empreendedor, um pequeno empresário. Todavia, de acordo com Lira (2006), o que ocorre é a 
prevalência dos interesses do capital em priorizar os polos que oferecem campo fértil para mais 
acumulação de riquezas.
Esse desenho das condições das classes trabalhadoras implica precarização nas condições 
de vida. Havendo no capitalismo contemporâneo uma parte significativa de trabalhadores 
desempregados ou subempregados, isso se torna fator central da não realização das necessidades 
básicas de homens e mulheres.
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03
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................39
1. OS MOVIMENTOS SOCIAIS E O CARÁTER DEMOCRÁTICO DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA .............................40
1.1 A TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA ESTÁ COLOCADA AOS MOVIMENTOS SOCIAIS ..............................................45
1.2 A DEMOCRACIA COMO MEIO PARA O SOCIALISMO NO BRASIL E SUA INFLUÊNCIA NOS MOVIMENTOS 
SOCIAIS ........................................................................................................................................................................48
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................53OS MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA 
PELA DEMOCRACIA NO BRASIL
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Nesta unidade, analisaremos o caráter da revolução brasileira a partir das formulações 
do Partido Comunista Brasileiro (doravante, PCB), referentes às décadas de 1940 e 1950. Foi 
período que ganhou importância no movimento operário, camponês e popular no Brasil, ou 
seja, nos movimentos sociais de forma geral. A defesa de um governo democrático, popular e 
progressista, que haveria de fazer aliança – política de conciliação de classes – entre setores das 
massas trabalhadoras e a “burguesia progressista”. Tudo isso em virtude da realidade brasileira, 
porque, segundo Carone (1982), ao expor documentos do PCB, era preciso realizar a revolução 
democrática burguesa para – no futuro, quem sabe – realizar-se a revolução proletária. Essa 
orientação política do estalinismo foi determinante para o PCB defender a tese do caminho 
pacífico para a revolução brasileira, em sua forma gradual e por dentro do Estado burguês. Nesse 
momento, o PCB defendia disputar as eleições para assumir cadeiras no parlamento e avançar na 
revolução via caminho pacífico.
Tal concepção de democracia, que inclui disputar eleições para democratizar o Estado, foi 
analisada por Carlos Nelson Coutinho (1979, 1992, 2008) (e não estamos, com isso, diluindo os 
diferentes contextos em que foram escritos esses textos) e por outros, em uma perspectiva de defesa 
da democracia como o único caminho para o socialismo no Brasil. Nesse sentido, a partir do final 
de década de 1990, o próprio autor reafirmará sua concepção de democracia, mas evidenciando 
a necessidade da democratização. Ou seja, uma política de Estado que universalize os serviços 
públicos de saúde, educação, moradia etc. Para tanto, era necessário que os movimentos sociais 
assumissem o “reformismo revolucionário”, que parece ser a continuidade da tese do caminho 
pacífico para a revolução brasileira, postulada pelo PCB.
A conclusão da concepção de democracia como o único caminho para o socialismo parece-
nos ter caminhado para a democratização, a qual assumiu uma dada perspectiva reformista, que 
conduziu ao governo democrático e popular.
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1. OS MOVIMENTOS SOCIAIS E O CARÁTER 
DEMOCRÁTICO DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA
Segundo a análise de Netto (1986), na América Latina não se consolidou uma tradição 
cultural democrática. No caso do Brasil, cuja existência como república é mais recente (1889), o 
seu nascimento não teve qualquer traço democrático, pois nasceu de um golpe militar comandado 
por militares. O caráter oligárquico da formação social brasileira fez com que a mesma classe 
de fazendeiros que influenciavam os rumos durante o império comandasse também o período 
republicano, particularmente durante a Primeira República, a chamada República do café com 
leite, em que as principais oligarquias se alternavam no comando do governo central.
Nessas condições, não poderia mesmo se desenvolver qualquer cultura política 
democrática e de fato. Essa perspectiva não foi formulada pelas classes dominantes brasileiras, 
a quem as doutrinas liberais puderam servir enquanto favoreciam seus negócios e associações 
com o capital imperialista. Tinham pavor de qualquer restrição democrática ao seu domínio 
patrimonialista.
Na ausência de formulações políticas ou doutrinárias democráticas pela burguesia, coube 
ao movimento operário a postulação da democracia no Brasil, particularmente à sua vertente 
estalinista, que postulava, em síntese, que o caráter da revolução brasileira se limitaria ao caráter 
burguês e democrático – reforma agrária, soberania nacional etc. –, conformando-se ao governo 
democrático, popular e progressista.
Foi no âmbito do PCB/estalinismo que se elaborou uma concepção de democracia que 
influenciou não apenas o movimento operário das décadas de 1940-50, mas que chegou aos 
nossos dias. Examinaremos, inicialmente, essas formulações e seu desenvolvimento posterior.
Ao analisarmos as formulações do PCB no Brasil a partir do final da década de 1940 
e entrada da década de 1960, inclusive a partir de seus próprios documentos, examinaremos 
as formulações do “caráter democrático da revolução brasileira”. Para tanto, abordaremos os 
aspectos econômicos e políticos, indissociáveis que são.
Para que se organize melhor o texto, será analisada a relação das economias nacional e 
internacional, visto que um dos pontos centrais das teses da revolução do PCB era que o Brasil 
se desenvolvesse economicamente, opondo-se ao imperialismo, ou seja, promovendo o “anti-
imperialismo”, (CARONE, 1982, p. 86). Posteriormente, analisar-se-á a perspectiva pacífica que, 
em síntese, postulava a necessidade de se disputarem eleições, fazer alianças e apoiar outros 
partidos como alternativa a representar os interesses das massas trabalhadoras via Estado burguês, 
a exemplo, no parlamento. 
Segundo Caio Prado Jr. (2012), a intervenção do capital estrangeiro na economia 
brasileira vem de longa data. Contudo, interessa assinalar “[...] efetivamente a ação que o 
capital estrangeiro ocupa na economia brasileira contemporânea uma posição central e um dos 
elementos fundamentais do seu condicionamento” (PRADO JR., 2012, p. 270). Historicamente, 
o desenvolvimento econômico do Brasil esteve subordinado a uma relação com os países de 
economia central: países europeus e os Estados Unidos da América.
De acordo com Prado Jr. (2012), a penetração do capital financeiro na economia 
brasileira tem origem nos primeiros empréstimos concedidos pela Inglaterra, posteriormente 
à Independência, período em que se formava o novo governo da nação. Naquele momento, os 
empréstimos tinham função política, de organização estatal e visavam a desenvolver o comércio. 
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No período que vai de meados do século XIX ao início do século XX, começam a operar 
no Brasil os bancos internacionais. Primeiramente, os bancos ingleses e, junto a eles, os franceses, 
multiplicados para os alemães e, em uma escala crescente, os italianos, holandeses e, finalmente, 
já no início do século XX, os norte-americanos. “O principal negócio dos bancos estrangeiros no 
Brasil será operar com as disponibilidades do país no exterior e provenientes das exportações” 
(PRADO JR., 2012, p. 273). Dessa forma, os produtos exportados do Brasil eram controlados no 
exterior por esses bancos. Nesse mesmo período, houve a penetração do capital estrangeiro via 
empreendimentos industriais, acerca de construções nas áreas de transporte, serviços urbanos, 
fornecimento de energia e instalações portuárias, o que proporcionou certo desenvolvimento 
que refletiu na própria condição de vida dos brasileiros, ainda que a grande parte não fosse 
contemplada: pequenos camponeses e trabalhadores rurais. 
Porém, foi a partir da Segunda Guerra Mundial que o imperialismo penetrou de forma 
profunda e explicitou o caráter de subordinação da economia brasileira à dos países centrais. 
[...] depois da Segunda Guerra que o fato alcança vulto considerável, e o 
estabelecimento de empresas subsidiarias de grandes trustes internacionais no 
Brasil se torna a principal via de penetração do imperialismo e de suas operações 
na economia do nosso país, assumindo papel relevante e de primeiro plano no 
conjunto da vida econômica brasileira (PRADO JR., 2012, p. 274). 
Por volta de meados do século XX, a produção brasileira de manganês, que se dava no 
Estado de Minas Gerais, foi inicialmente quase toda controlada pela Companhia Meridional de 
Mineração, uma filial da United States Steel Corpotation. Na mesma época, iniciou-se a exploração 
do território do Amapá por láhaver grande concentração de jazidas de manganês. Nesse caso, o 
controle coube a outro truste imperialista, do setor siderúrgico norte-americano. Referimo-nos a 
Bethlehem Steel Coronos, que tem como subsidiária no Brasil a Indústria e Comércio de Minerais 
S/A. 
Esses são apenas aspectos da economia que estão dentro de um plano maior da economia 
mundial. Para Prado Jr. (2012), o imperialismo “[...] forma um sistema amplo e geral de 
organização econômica do mundo” (PRADO JR., 2012, p. 277), que, a partir de alguns poucos 
países e organizações econômicas mundiais, domina todo o globo. Com isso, o desenvolvimento 
econômico e social do Brasil está fadado ao fracasso pela sua própria dinâmica e vinculação 
ao mercado mundial. A economia nacional avança (ou não) conforme as necessidades do 
imperialismo. 
O Brasil não será mais que um dos elos da grande corrente que envolve o 
universo e mantém ligados todos os povos numa única estrutura que tem por 
centro diretor os grupos controladores do capital financeiro internacional. Tais 
grupos são este punhado de gigantescos trustes que imperam respectivamente 
nos diferentes setores da economia contemporânea, e estendem também para 
o Brasil seus tentáculos absorventes. O que não exclui naturalmente as fricções 
e choques entre eles; choques que tomam um caráter nacional porque, embora 
internacionais por essência, apelam nas lutas que têm de sustentar para o poder 
político de uma ou de outra nação soberana que se põe a seu serviço. Identificam-
se assim com nações e nacionalidades; arvoram uma bandeira, mas efetivamente 
seu caráter é internacional, e esta bandeira não é mais que fachada atrás da qual 
se abrigam (PRADO JR., 2012, p. 278). 
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Mesmo em um sistema econômico no qual existe uma articulação global com suas 
burguesias, seja em uma relação subordinada a outra ou não, há, entre elas, determinados 
momentos que se chocam. Isso ocorre em função de seus interesses acerca do desenvolvimento 
nacional, muitas vezes afirmando (como foi o caso do PCB) a possibilidade de o Brasil desenvolver 
sua indústria nacional, opondo-se ao imperialismo. De acordo com Prado Jr. (2012), levar isso a 
cabo mais parece um equívoco ou mesmo uma “fachada” para ocultar a posição de subordinação 
da economia brasileira à economia mundial. 
O Brasil, como os demais povos de sua categoria, não conta senão como massa 
inerte de manobra, não é senão parcela insignificante num todo imenso em que 
se dilui e desaparece. A sua vida econômica não é função de fatores internos, de 
interesses e necessidades da população que nele habita; mas de contingências da 
luta de monopólios e grupos financeiros internacionais concorrentes (PRADO 
JR., 2012, p. 279).
Na fase imperialista, economias como a nossa (e outras de mesmo patamar) permanecem 
marginais e secundárias até que sejam necessárias às grandes potências mundiais. Um elemento é 
a exploração da abundante força de trabalho que o Brasil oferece para ampliar a produção agrícola, 
industrial, dos bancos e/ou do comércio. Contudo, mesmo sendo imperialistas ou vinculados ao 
imperialismo, existe o fator positivo, já que o Brasil avançou do ponto de vista tecnológico. Por 
outro lado, os resultados desses avanços são estranhos às classes trabalhadores – rurais e urbanas 
– e, até mesmo, aos setores da pequena burguesia, pois as riquezas produzidas são escoadas para 
além das fronteiras nacionais. 
De qualquer forma, o imperialismo “[...] representou sem dúvida um grande estímulo 
para a vida econômica do país” (PRADO JR., 2012, p. 282). O próprio salto tecnológico que 
é proporcionado ao Brasil, se comparados os períodos pré e pós-Segunda Guerra Mundial, 
materializou-se em serviços urbanos, portos modernos e grandes indústrias. É importante 
ressaltar que essa relação de vinculação econômica do Brasil aos países imperialistas, analisada 
a partir de Prado Jr. (2012), confirma-se na atualidade, considerando seu traço fundamental: a 
relação de subordinação dos países de economia colonial e/ou semicolonial ao imperialismo. 
A partir das décadas de 1950 e 1960, ocorreram alterações que influenciaram o 
desenvolvimento industrial do país. O próprio período do governo de Juscelino Kubitschek 
(1956 – 1961), com a ampliação do capital estrangeiro operando no país, fez avançar a indústria 
automobilística, seguida pelos eletrodomésticos. Esse foi um período no qual o Estado, em nome 
do desenvolvimento econômico – e, também, em nome do “progresso” – e do emprego, vinculou-
se ainda mais ao imperialismo. 
O Estado, visando favorecer o processo de industrialização, mantivera uma 
política fiscal conservadora, não ampliando suas receitas e recorrendo cada 
vez com maior frequência ao capital estrangeiro para manter suas inversões 
em energia, transportes, siderurgia etc. Crescia sua participação na economia, 
quer diretamente – organizando e girando infraestrutura e grandes empresas 
destinadas à produção de bens de capital -, quer indiretamente – através do 
financiamento público dos ramos de longa maturação, especialmente através 
do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) (MENDONÇA; 
FONTES, 1994, p. 9). 
Embora não se tenha evidenciado nas análises de Prado Jr. (2012) a intervenção estatal 
na economia capitalista, ela estava presente na relação da economia imperialista com os países 
de economia colonial ou semicolonial, como o Brasil, por meio da operacionalização dos bancos, 
das industriais e/ou comércios estrangeiros que aqui se instalaram.
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A relação da economia nacional com a internacional evidenciou a subordinação da 
primeira à segunda, o que torna problemática a formulação de o caráter da revolução no Brasil 
ser anti-imperialista, inclusive com frações da burguesia nacional (“progressista”) compondo a 
direção do movimento frente às massas trabalhadoras. Portanto, a partir daqui, analisaremos 
mais o aspecto político do caráter da formulação do PCB, referente a seu conteúdo quanto ao 
governo popular, democrático e progressista.
A [...] revolução agrária e anti-imperialista, que conseguiremos mobilizar as 
massas a fim de que resistam à reação e lutem pela derrubada do atual governo de 
traição nacional, pela instauração no país de um governo popular, democrático 
e progressista, único capaz de salvar o país da miséria, do aniquilamento, da 
perda total de sua soberania (CARONE, 1982, p. 86, grifo do autor).
Nessa tese, está embutida a justificativa da existência do feudalismo no Brasil, o que 
justificaria a revolução democrático-burguesa para eliminar os restos feudais, democratizar as 
instituições de Estado burguês e fomentar um terreno fértil para, um dia, realizar a revolução 
proletária. “O que convém agora à classe operária é a liquidação dos restos feudais, de maneira 
que se torne possível o desenvolvimento o mais amplo, o mais livre e o mais rápido no capitalismo 
em nosso país” (CARONE, 1982, p. 22-23). A ênfase da tese no aspecto da “revolução agrária” 
tinha em vista que a população brasileira, em meados do século XX, era, em grande parte, 
habitante de áreas rurais. Na verdade, a “revolução agrária” seria uma “etapa”, anterior a outras, 
que, posteriormente, poderia levar à revolução proletária em um futuro indefinido. 
Na prática, era uma política que pretendia conciliar interesses divergentes ao defender 
um governo que fosse “popular, democrático e progressista”. Basicamente, consistia em postular 
a identidade de interesses entre pequenos camponeses e, sobretudo, do trabalhador rural com os 
interesses dos latifundiários, além dos interesses da classe operária e da burguesia “progressista”.
A política de alianças se mostrou presente na prática política do PCB tanto na época de 
legalidade como em períodos de ilegalidade. 
O PCB luta pela sua legalizaçãoe acredita na viabilidade da fase democrática-
burguesa, período em que também o movimento operário se beneficiária 
largamente com as reformas que seriam impostas ao país (CARONE, 1982, p. 9). 
Acreditava-se que, com a revolução democrático-burguesa, constituir-se-ia uma unidade 
nacional com o objetivo de fazer oposição ao imperialismo, sobretudo ao norte-americano, e de 
desenvolver a indústria nacional. Afinal, em um país industrialmente “atrasado”, o sofrimento 
da classe operária se dá muito menos por conta da “exploração capitalista” e muito mais pelo 
parco “desenvolvimento do capitalismo” em nosso país. Isso levaria à ampliação de empregos e 
melhores condições de vida para as classes trabalhadoras, como os serviços públicos de saúde e 
educação.
Carone (1982), utilizando-se dos documentos do PCB, mostra que, em nome do governo 
democrático, popular e progressista, propõe-se a unidade entre os mais variados setores dos 
trabalhadores e da burguesia (tendo em vista setores da burguesia que expressavam perspectiva 
progressista e nacionalista). Caracterizar-se-ia uma política conciliadora cuja união, em nome de 
interesses da nação, contemplaria setores que vão dos operários aos industriais, dos intelectuais 
pobres aos comerciantes, dos camponeses aos oficiais das forças armadas etc. Com isso, constituir-
se-ia uma ampla frente de ação anti-imperialista cujo programa terá algumas teses. Destacamos 
uma delas: 
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Por um governo democrático e popular – Substituição da atual ditadura feudal-
burguesa serviçal do imperialismo por um governo revolucionário, emanação 
direta do povo e legitimo representante do bloco de todas as classes e camadas 
sociais, de todos os setores da população do país que participem efetivamente da 
luta revolucionária pela libertação nacional do jugo imperialista, sob a direção 
do proletariado (CARONE, 1982, p. 109, grifo do autor). 
Há que se destacar que, aqui, “direção do proletariado” significa direção do PCB. Mas 
direção para qual política? Para a aliança do proletariado e dos setores da população com a 
burguesia nacional, ou seja: a colaboração de classes.
Com o desenvolvimento da prática política do PCB em períodos de sua legalidade e 
ilegalidade na década de 1950, o conteúdo da formulação da revolução brasileira implica uma 
orientação política cuja direção seja pacífica. “[...] por formas e meios pacíficos, a revolução 
anti-imperialista e antifeudal” (CARONE, 1982, p. 191-192) é a melhor opção, tendo em vista as 
condições da sociedade brasileira ou, para ser preciso, a linha política do PCB. “Este caminho é o 
que convém à classe operária e a toda a nação” (CARONE, 1982, p. 192). É possível verificar um 
alinhamento político na defesa da revolução, que, na verdade, é um rebaixamento e uma negação 
do caráter e da necessidade da violência organizada em uma revolução proletária.
O caminho pacífico da revolução brasileira é possível em virtude de fatores 
como a democratização crescente da vida política, o ascenso do movimento 
operário e o desenvolvimento da frente única nacional e democrática em nosso 
país. [...] O aperfeiçoamento da legalidade, através de reformas democráticas da 
Constituição, deve e pode ser alcançado pacificamente, combinando a ação 
parlamentar e a extraparlamentar (CARONE, 1982, p. 192, grifo do autor).
Essa linha de argumentação, que defende “o caminho pacífico da revolução brasileira” 
como alternativa às reformas democratizantes realizadas pela burguesia e que reconhece o 
parlamento como um espaço de lutas e de conquista de reivindicações das classes trabalhadoras, 
também se encontra, décadas depois, nas análises dos materiais de Coutinho, como analisaremos 
adiante.
No núcleo desse “caminho pacífico”, está a defesa das reformas. Segundo Carone (1982), 
à medida que, por um lado, a política do PCB orienta as massas a se organizarem em partidos, 
sindicatos, movimentos populares etc., por outro lado, orienta o caminho da disputa parlamentar 
para defender as reformas, mesmo sendo graduais. O que importa é que sejam contínuas para 
atingir um caráter radical, com desdobramentos que possam oferecer transformações na lógica 
do desenvolvimento do capitalismo no Brasil. 
O povo brasileiro pode resolver pacificamente os seus problemas básicos com 
a acumulação, gradual, mas incessante, de reformas profundas e consequentes 
na estrutura econômica e nas instituições políticas, chegando até a realização 
completa das transformações radicais colocadas na ordem do dia pelo próprio 
desenvolvimento econômico e social da nação (CARONE, 1982, p. 192, grifo do 
autor).
O meio para o povo brasileiro resolver seus problemas se centra no plano eleitoral. Ou seja, 
“[...] o povo brasileiro necessita conquistar um governo nacionalista e democrático” (CARONE, 
1982) via voto para representar seus interesses no Estado. O PCB entende a pressão popular 
como necessária, pois fortalece os parlamentares que defendem os interesses do “povo”. Para 
além, “[...] será sempre necessário o amplo desenvolvimento da luta de classes do proletariado, 
dos camponeses e das camadas médias urbanas em defesa de seus interesses específicos e dos 
interesses gerais da nação” (CARONE, 1982, p. 193).
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O PCB não abandona por completo, diante “dos inimigos do povo brasileiro”, a 
possibilidade de empregar a repressão em nome dos interesses imperialistas e, com isso, tendo a 
necessidade de “uma solução não pacífica”. Frente a isso, “[...] os comunistas confiam em que, nas 
circunstâncias favoráveis da situação internacional, às forças anti-imperialistas e democráticas 
terão condições para garantir o curso pacífico da revolução brasileira” (CARONE, 1982, p. 193). 
Como via pacífica, afirma a necessidade de defender os pleitos eleitorais como a alternativa 
correta para concretizar a “revolução brasileira” em uma perspectiva pacífica. Precisamente, é 
eleger candidatos e disputar os espaços do Estado burguês (parlamento). “As eleições constituem, 
portanto, um acontecimento de excepcional importância em nossa vida política” (CARONE, 
1982, p. 193). 
Cabe ressaltar que, na opção pelo “caminho pacífico para a revolução brasileira”, 
traduzida na valorização do caminho eleitoral, está embutida a defesa da democracia burguesa 
como horizonte estratégico. Ao longo dos últimos parágrafos, espera-se que isso tenha ficado 
evidente quando se expressa o termo “pacífica” não apenas como uma das alternativas, mas 
como o caminho para a realização da revolução brasileira. É nesse sentido que Coutinho (1979, 
2008), dentre outros autores, defende a democracia como meio único para o socialismo no Brasil. 
É igualmente por esse viés que trataremos os tópicos sequentes, não só do ponto de vista da 
formulação, mas da orientação política e econômica adotada pelo governo democrático e popular 
nos anos 2000.
1.1 A Transição Democrática Está Colocada aos Movimentos 
Sociais
Ao analisar a perspectiva democrática, é preciso olhar para o contexto político pelo qual 
passava o Brasil: uma ditadura militar (1964 – 1985). Nesse sentido, a defesa da democratização 
se colocava por setores da classe operária, populares e, inclusive, por parte dos próprios militares 
e da burguesia nacional e internacional. Essa relação, que, por um lado, explicitava uma junção 
de setores da sociedade em prol da democratização, por outro, produziu conflitos entre aqueles 
mesmos setores, evidenciados (não só) pela reforma partidária.
Segundo Netto (2014), o que se seguia a partir do final da década de 1970, era um 
movimento promovido pelos próprios dirigentes militares da ditadura, impondo várias leis para 
se avançar na abertura democrática, mas também para dividir e enfraquecer a frente democrática.
Em sua composição, a frente tinha setores heterogêneos da sociedade; contudo,não 
houve, pelo menos até a entrada dos anos 1980, rupturas bruscas. Ocorreram manifestações 
da ditadura acerca de “[...] dividir a frente democrática fracionando o MDB (e, em seguida, o 
PMDB) e fomentando a tensão entre seus componentes heterogêneos mostrava-se uma estratégia 
eficiente, e o regime apostou nela” (NETTO, 2014, p. 222).
Para Netto (2014), as eleições que ocorrem a partir do início da década de 1980 provocaram 
a divisão, que se torna concreta à medida que alguns partidos vão mudando ou se alinhando a 
outros, há o surgimento de novas legendas e a formação de outros partidos. A Aliança Renovadora 
Nacional (ARENA) manteve-se unida no Partido Democrático Social (PDS). Parte majoritária 
do MDB manteve-se no Partido do Movimento Democrático Brasileiro. A inclusão da letra P 
foi uma exigência da ditadura. Contudo, membros tanto da ARENA como do MDB alinharam-
se ao Partido Progressista (PP), tendo à sua frente Tancredo Neves. Leonel Brizola esteve no 
comando do Partido Democrático Trabalhista (PDT). O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de 
Ivete Vargas e, por último, mas não menos importante, surge o Partido dos trabalhadores (PT), 
tendo Luiz Inácio Lula da Silva como sua principal liderança. 
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Em menor ou maior grau, esses partidos estavam na frente democrática. Em que pesem 
suas divergências, havia uma “unidade” no sentido de se manter à frente. Contudo, o “racha” se 
efetivou quando a ditadura lhes ofereceu condições de disputar as instituições representativas do 
Estado burguês via eleições. 
O Partido Comunista Brasileiro (PCB), fundado em 1922, e o Partido Comunista do Brasil 
(PCdoB), formando-se da cisão do PCB, em 1962, também participavam da frente democrática, 
mas tiveram sua legalização apenas a partir de 1985. O PCB, desde, pelo menos, a década de 
1950, ao definir o caminho pacífico para a revolução brasileira, já defendia a necessidade de se 
disputarem as eleições. Tanto é que, “[...] em 1955 resolveu apoiar [...] a candidatura presidencial 
de Juscelino. O que veio a ser significativo para a vitória do líder pessebista por pequena margem 
de votos” (GORENDER, 1987, p. 23).
Esses apontamentos de ordem política servem para sinalizar que houve esforço da ditadura 
militar para desintegrar a frente democrática, ao mesmo tempo em que promovia a abertura 
democrática. A reforma partidária, que se iniciou com a Lei 6.767 de 1979, teve posteriormente 
outros dispositivos legais que permitiram a formação de novos partidos políticos para disputar 
as eleições. Tal conjuntura foi propiciando processos políticos caracterizados, por Netto (2014), 
como abertura democrática e, por Reis (2014), como transição democrática. Para os fins desta 
pesquisa, são expressões equivalentes. Esse movimento da política brasileira ocorria em um 
contexto de crises econômicas.
De acordo com Mendonça e Fontes (1988, p. 52), “A conjuntura pós-1974 inaugurou-se 
sob o signo da busca: de uma nova forma de dominação e de novas alternativas para a economia”. 
A crise do petróleo passou a ocupar um lugar que ultrapassava os meios de comunicação oficiais 
e a própria imprensa, embora o País, a partir do final da década de 1960 e na entrada da década 
seguinte, estivesse vivendo, economicamente, o período denominado “milagre econômico”.
A tônica do processo de expansão da economia brasileira entre 1968 – 1974 
foi dada, como sabemos, por dois suportes – a abundância de recursos no 
mercado financeiro internacional e o favorecimento da empresa multinacional 
na estrutura industrial do país. Pelo vulto e magnitude de sua estrutura técnica 
e de capital, ela propiciou um implemento tal na escala da acumulação que 
chegou a representar um salto qualitativo na dinâmica do nosso capitalismo 
(MENDONÇA; FONTES, 1988, p. 53-54). 
Com a intensificação da instalação de multinacionais na estrutura da economia brasileira, 
o capitalismo, em sua fase imperialista, havia caminhado a passos largos, inclusive com a exploração 
da força de trabalho e retirada de riquezas naturais de colônias e semicolônias, a exemplo do 
Brasil (PRADO JR., 2012). Segundo Mendonça e Fontes (1988), do patrimônio líquido total das 
maiores empresas da indústria brasileira, cerca de 30% são contemplados pelo capital estrangeiro. 
Dessa forma, registra-se uma queda do capital local, seja com relação ao tamanho da empresa, 
seja sob o aspecto da participação na vida econômica do País, em detrimento das empresas 
estatais e multinacionais.
O Estado, que, durante a década de 1970, fortaleceu-se com uma intervenção estratégica 
no processo produtivo com o domínio financeiro, explicita seu caráter de classe, na medida em 
que oferece suportes ao desenvolvimento do capital estrangeiro. No contexto de desenvolvimento 
capitalista no Brasil, por capital estrangeiro entendem-se as multinacionais instaladas em território 
nacional, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, que são expressões do imperialismo 
operacionalizado com suportes ou, até mesmo, vantagens oferecidas pelo Estado. 
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O Estado, que fortalecera sua capacidade de controle dos fluxos de investimento 
– através do domínio do sistema financeiro e de sua posição estratégica no 
processo de produção – tinha-se disposto, até então, a cobrir os riscos dos 
grandes investidores (MENDONÇA; FONTES, 1988, p. 54). 
Um aspecto central é a intervenção do Estado para o desenvolvimento da economia 
brasileira subordinada ao imperialismo. Até certo ponto, a grande burguesia nacional foi 
amplamente beneficiada pela ação estatal. Tanto que, segundo Mendonça e Fontes (1988, p. 
54), um dos motivos da crise econômica dos anos que se arrastaram a partir da década de 1970 
“[...] foi uma crise de endividamento e uma crise de fim do fôlego do Estado na manutenção 
do ritmo de crescimento”. Endividamento ocorreu pelo fato de a intervenção estatal subsidiar o 
desenvolvimento capitalista no Brasil. Sob a perspectiva de Prado Jr. (2012), não é mero subsídio 
e, muito menos, é fato recente, datando, pelo menos, desde meados do século XIX, quando se 
instalaram no Brasil os bancos estrangeiros, oriundos dos países de economias centrais, como a 
Inglaterra, França e, no início do século XX, os bancos norte-americanos.
Na mediação dessa articulação triangular entre exterior-multinacionais-exterior, 
estava o Estado, principal tomador de empréstimos do país. Com eles, financiava 
a importação de equipamentos das empresas produtivas estatais e repassava 
créditos ao setor privado – através de agências como o BNDE, por exemplo – as 
taxas de juros negativas. O Estado constituía-se no agenciador da lucratividade 
das empresas oligopolistas (MENDONÇA; FONTES, 1988, p. 54-55).
O processamento da crise que se gestava a nível nacional com o endividamento do Estado 
e sua reduzida capacidade de intervenção para fazer avançar a industrialização se vinculava à 
“[...] conjuntura recessiva internacional é uma dimensão fundamental para o entendimento da 
crise brasileira” (MENDONÇA; FONTES, 1988, p. 55). Mas se lançou a “solução” para a crise, a 
exemplo de outras intervenções do Estado na economia capitalista, e a relação entre economia 
nacional e internacional evidencia-se novamente, a cujo interesse o Estado serve. Nesse sentido, 
a “solução” acaba sendo a ampliação das dívidas externa e interna e a aceleração do processo 
inflacionário. “No Brasil, entre 1974–1976, os primeiros passos desta ciranda foram dados” 
(MENDONÇA; FONTES, 1988, p. 56-57).
Com isso, segundo José Paulo Netto (2014), os “passos” posteriores podem ser verificados 
com o volume da dívida externa, que aumentou em proporções absurdas sob o governo de “[...] 
Figueiredo e a direção econômica de Delfim Netto -, a dívida externa brasileira saltou de 49,9 
bilhões de dólares (1979) para 91 bilhões de dólares(dezembro de 1984).” Nesse mesmo período, 
registra-se que “[...] a renda per capta reduziu-se em 25%”, o que implicou o aumento dos “[...] 
brasileiros extremamente pobres, que saltaram de 17,25 milhões em 1979 para 23,70 milhões em 
1985” (NETTO, 2014, p. 214). 
Esse processo de crises econômicas propiciou um quadro político que inflamou a luta 
entre a burguesia e o proletariado e setores populares, mas também frações burguesas, que se 
encontravam ou eram representadas por dirigentes da ditadura. Ou seja, quanto à da defesa da 
democratização, havia segmentos oriundos de classes ou frações das classes fundamentais, quais 
sejam, burguesia e proletariado. 
Paralelamente, a partir do final da década de 1970, iniciou-se uma discussão acerca da 
defesa da democracia como meio único para a realização do socialismo no Brasil. Isso não estava 
divorciado da reabertura democrática. Pelo contrário, estava implicado nela.
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1.2 A Democracia como Meio para o Socialismo no Brasil e 
sua Influência nos Movimentos Sociais
A concepção de democracia no Brasil se expressa sob perspectivas opostas, mesmo 
quando analisada a partir de autores que se colocam na mesma corrente de pensamento: o 
marxismo. Segundo Carlos Nelson Coutinho (1979, p. 34), “[...] a luta pela conquista de um 
regime de liberdades políticos-formais que ponha definitivamente termo ao regime de exceção 
que, malgrado a fase de transição que se esboça, ainda domina em nosso País.”
Em uma observação inicial, notamos que a democracia é o meio que possibilita a transição 
da ditadura militar, pela qual passava o Brasil (1964 a 1985), para um regime de garantias de 
“liberdades político-formais”, em que se desenvolveria, ao limite, a democracia sob o prisma 
liberal. Daí, posteriormente, ela cederia espaço à democracia de massas, forjando o caminho para 
o socialismo. Tais afirmações são confrontadas quando comparadas às de outro autor.
[...] a contradição entre a igualdade político-formal, consagração da Constituição, 
e as ‘restrições e artifícios reais’ próprio de todas as sociedades de classe [...] 
A contradição, próprias as democracias burguesas, entre a igualdade político-
formal e a desigualdade econômico-material é insuficiente para revelar ao 
proletariado a existência de um processo (capitalista) de exploração do trabalho 
(SAES, 1994, p. 171). 
A divergência acerca da concepção de democracia se verifica. Por um lado, o primeiro 
autor considera a democracia como sendo o caminho para a conquista das liberdades político-
formais. Já para o segundo autor, a democracia burguesa é funcional às formalidades das relações 
políticas a serem cumpridas pelas classes trabalhadoras, mas com o interesse de ocultar o processo 
de produção e reprodução do capital, pois é nela que se encontra a exploração da força de trabalho. 
Consequentemente, é na relação entre capital e trabalho que se concentram as desigualdades 
econômicas, sociais e políticas.
Na perspectiva de Coutinho (1979), as dimensões da democracia seguem por variados 
processos e instrumentos, diferentes de acordo com a realidade dos continentes e seus países. Por 
outro lado, Coutinho (1979) defende a democracia cujas tarefas são o caminho da realização do 
socialismo no Brasil.
[...] essas tarefas não podem ser identificadas com a luta direta pelo socialismo, 
mas sim com um combate árduo e provavelmente longo pela criação dos 
pressupostos políticos, econômicos e ideológicos que tornarão possível o 
estabelecimento e a consolidação do socialismo em nosso País (COUTINHO, 
1979, p. 35).
De acordo com o referido autor, a história do Brasil mostra a ausência da constituição de 
uma sociedade democrática. Antes de 1930, as decisões tomadas para impor líderes políticos eram 
tomadas por um pequeno grupo. Posteriormente à década de 1930, a situação política do Brasil, 
no sentido de eleger/impor líderes, não se alterou fundamentalmente. As oligarquias agrárias 
foram perdendo espaço e força política para a burguesia industrial nacional e internacional, que 
passou a orientar e a determinar o desenvolvimento industrial que o Brasil deveria seguir.
Segundo Coutinho (1979), pela ausência da constituição de uma sociedade brasileira 
democrática, faz-se necessário
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[...] que o processo de renovação democrática assuma como tarefa prioritária 
de hoje a construção e consolidação de determinadas formas de relacionamento 
social que num primeiro momento, não deverão provavelmente ultrapassar os 
limites da democracia liberal (COUTINHO, 1979, p. 42).
Em uma espécie de atualização do texto de 1979, Coutinho (2008) segue afirmando a 
democracia como valor universal, ou seja: sem democracia, não haverá socialismo. Ao citar uma 
das expressões do documento do Partido Comunista Italiano (PCI), “[...] a democracia não é um 
caminho para o socialismo, mas sim o caminho do socialismo” (COUTINHO, 2008, p. 20). Há 
um elemento novo. Ao se referir à democracia, o destaque é para o processo de democratização. 
Isso porque Coutinho (2008) entende que, ao se tratar de democracia, a ênfase era dada ao 
Estado. Ao se introduzir a discussão da democratização, o foco passa a ser os processos políticos 
que ocorreram, e ocorrem, para se atingirem determinados fins; nesse caso, o socialismo. 
A consolidação de um regime democrático aparece como um pressuposto 
que deverá ser reposto – conservando e ao mesmo tempo aprofundando – em 
cada etapa da luta pela completa realização dos objetivos finais das correntes 
socialistas (COUTINHO, 1979, p. 43). 
De forma geral, segundo Coutinho (2008), o sentido da renovação democrática cerca o 
processo de democratização e ampliação dos espaços de participação popular. Portanto, é preciso 
criar meios que consistam em superar uma questão central do capitalismo no Brasil atualmente. 
Meios que consistam em “[...] superar a contradição existente entre, por um lado, a socialização 
da participação política, e, por outro, a apropriação não social dos mecanismos de governo da 
sociedade” (COUTINHO, 2008, p. 29).
A luta pela renovação democrática [...] implica em conceber a unidade como 
valor estratégico [...] a democracias de massas – enquanto democracia real [...] a 
tarefa da renovação democrática implica a crescente socialização da política [...] 
‘elevar a nível superior’ a democracia (COUTINHO, 1979, p. 45, grifo do autor).
Há uma árdua dedicação de Coutinho (2008) para constatar que, na sociedade brasileira, 
existe um contingente significativo de excluídos dos meios e das formas de participação política em 
processos de lutas sociais, cujo foco está nas conquistas concretas da população economicamente 
carente e excluída dos processos democráticos. Por isso, existem, de acordo com ele, alguns 
instrumentos dos quais as classes trabalhadoras devem se apropriar para unificarem seus 
interesses, o que representa um desafio não só para essas classes, mas para os partidos políticos 
de esquerda e sindicatos. 
Nesse sentido, afirma Netto (1990, p. 80), “[...] somente uma nova prática política do 
movimento socialista revolucionário poderá persuadi-los de que a democracia e transição 
socialista são indissociáveis”. É evidente que um contexto de democracia burguesa é mais propício 
para a prática político-revolucionária do que uma ditadura militar, como ocorreu no Brasil de 
1964 a 1985. Contudo, isso não elimina o caráter autoritário dessa democracia, que se expressa 
com mais ou menos violência a depender do grau da luta de classes.
Entende-se, na perspectiva de Coutinho (2008), que, em seus programas, esses partidos 
devem ter objetivos e metas que vislumbram atender a questões de ordem imediata dos 
trabalhadores, como é o caso de questões relacionadas à saúde e à educação pública, com foco na 
tomada do poder político. Isso se se trabalha na perspectivaque Coutinho (2008, p. 155) definiu 
como “reformismo revolucionário”. Esse reformismo implica reformas de curto e longo prazos. 
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Similarmente, são reformas que, aos poucos, contemplam a conformação de uma nova sociedade 
– a socialista. Essa é uma linha de argumentação que encontra respaldo em outras análises acerca 
da renovação da prática política, com a finalidade de vinculação entre democracia e socialismo. 
Um reformismo que tem como objetivo explícito aprofundar a democracia e 
superar o capitalismo é um reformismo revolucionário. Nas sociedades onde o 
Estado se ‘ampliou’, como é o caso do Brasil, esse reformismo radical é o novo 
nome da revolução (COUTINHO, 2008, p. 48, grifo do autor).
O “reformismo revolucionário” já vinha sendo formulado por Coutinho (2008) desde, 
pelo menos, o início da década 1990. Nele, atribuiu-se o papel central das reformas em um 
caráter gradativo e contínuo para o desenvolvimento de uma política que atingisse as massas e 
nelas penetrasse, não como uma das alternativas possíveis de lutas, mas sob a definição de que as 
reformas assumissem o caminho da revolução brasileira.
[...] a complexidade das sociedades modernas, entre as quais se inclui a brasileira, 
impõe uma concepção ‘processual’ de revolução: a ‘mudança política radical’ pode 
e deve ser obtida através de um conjunto sistemático de reformas de estrutura, 
numa estratégia que poderia ser definida como ‘reformismo revolucionário’. As 
reformas são hoje o caminho da revolução, e não uma das formas alternativas 
de luta (COUTINHO, 1992, p. 17, grifo do autor).
A perspectiva revolucionária aqui está subordinada aos processos políticos que se 
caracterizam por reformas oriundas das disputas no interior do Estado burguês. Aqui, trata-se do 
período posterior a meados da década de 1980, quando se entrou em processo de redemocratização, 
o que alimentou a perspectiva reformista com o “[...] avanço da democratização política é, ao 
mesmo tempo, condição e resultado de um processo de transformações também nas esferas 
econômica e social” (COUTINHO, 2008, p. 40). O núcleo dessa perspectiva é a democracia 
política posta não apenas no plano tático, mas no plano estratégico. Ou seja, com o passar das 
décadas, cada vez mais explicitar-se-á um alinhamento nas análises quanto à democracia como 
objetivo-fim e as reformas como objetivo-meio, no sentido de avançar e superar os limites da 
propriedade privada dos meios de produção capitalista. 
Essa linha de argumentação encontra contraposições em Moraes (2013), em crítica a 
Coutinho (1979).
[...] ela [a democracia] ocupa o lugar da análise concreta e, em vez de marxismo, 
oferece um socialismo ético (mais igualdade, mais cidadania, mais ‘justiça social’, 
mais participação, menos excluídos, menos repressão policial), cuja expressão 
doutrinária é o ‘valor universal’ da democracia (MORAES, 2013, p. 28).
Segundo Moraes (2013, p. 23), “[...] sobre as bases das relações capitalistas de produção, 
a democracia será sempre a forma política da dominação de classe burguesa”. Isso nos autoriza 
a afirmar que a democracia, embora possa ser necessária ao proletariado e demais oprimidos em 
determinados momentos, é limitada. “Produto da história, a democracia é, entretanto, a realidade 
mais ampla – sempre histórica – das formas institucionais em que se exprime” (MORAES, 2013, 
p. 26). De outra forma, podemos afirmar que a realização da democracia está vinculada às 
instituições estatais as quais, uma vez existindo no Estado burguês, farão com que a democracia 
tenha um conteúdo burguês, assegurando a propriedade privada capitalista.
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Segundo Coutinho (2008), no que se refere às instituições de Estado, o “reformismo 
revolucionário” levará as lutas para o interior do parlamento, sob a perspectiva de se “[...] obter, 
ainda no interior da economia capitalista e sob a dominação do Estado burguês, o reconhecimento 
e a satisfação de expressivas demandas das classes subalternas” (COUTINHO, 2008, p. 43). 
Essa afirmação tem como ponto de partida a ampliação do Estado brasileiro, cujo marco foi 
a redemocratização que consagrou uma Constituição Federal em 1988, a qual, por um lado, 
garantiu direitos, como serviços de saúde e educação pública à população, mas, por outro lado, 
manteve o fundamento ao garantir a propriedade privada capitalista. 
Nas análises dos textos de Coutinho, percebe-se uma linha de continuidade com relação 
aos textos dos anos 1990 e 2000, quanto à sua defesa de a democracia ser o caminho do socialismo 
no artigo de 1979. “O generoso leitor que se recordar do velho ensaio e o comparar com os 
novos verá que, em sua substância, esses últimos conservam a orientação proposta naquele” 
(COUTINHO, 2008 p.15). Isso não exclui alterações nos textos ao longo das décadas que os 
separam. A ênfase é para a tese central: sem democracia, não há socialismo. Até porque, em 1979, 
vivenciava-se uma conjuntura de transição para a redemocratização. A partir dos anos 2000, 
inicia-se um período no qual o autor depositou suas esperanças quanto ao avanço da democracia 
para o desenvolvimento das instituições de Estado burguês com vistas à participação popular. 
Posteriormente, e de forma gradativa, chegar-se-ia ao socialismo.
Com relação ao partido político como dirigente do movimento social em prol dos 
interesses da classe operária e dos oprimidos, Coutinho (2008), em crítica aos 
partidos “comunistas” e “socialdemocratas”, expõe sua perspectiva acerca dos 
desafios e do próprio programa de um partido inovador, afirmando o reformismo 
revolucionário com um conteúdo segundo o qual a democracia é o único caminho 
para o socialismo. 
O grande desafio de um moderno partido de esquerda continua 
a ser sua capacidade de reconstruir um projeto socialista 
radicalmente democrático. [...] um tal partido de esquerda, 
efetivamente pós ‘comunista’ e pós-social-democrata, deveria 
concluir que a estratégia de hoje mais adequada à luta pelo 
socialismo é o reformismo revolucionário. E não se deve esquecer 
que, para o reformismo revolucionário, a democracia não é um 
caminho para o socialismo, nem muito menos uma alternativa ao 
socialismo, mas sim o caminho do socialismo (COUTINHO, 2008, 
p. 89, grifo do autor).
Segundo Coutinho (2008), o próprio desenvolvimento da política no Brasil impõe 
a necessidade de se redefinir uma política para um partido de novo caráter, 
negando-se os partidos clássicos em nome da atualidade da realidade brasileira. 
E, também, pelo fato de a história recente ter demonstrado ao autor seu equívoco 
quanto ao Partido dos Trabalhados ser o portador de um conteúdo democrático e 
popular que levasse ao socialismo.
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A chegada do PT ao poder ao governo federal – que tornou 
explicito seu abandono do socialismo e sua adesão às práticas 
mais perversa da política tradicional brasileira – dissipou de uma 
vez esta minha ilusão (COUTINHO, 2008, p. 12, grifo do autor).
O que se evidenciará não é o abandono do socialismo pelo PT, mas o contrário, 
explicado a partir do próprio reconhecimento da ilusão de Coutinho (2008) quanto 
ao PT. Salvo alguns setores (cuja parte da vanguarda defendia o socialismo) desse 
partido, o seu núcleo dirigente, sobretudo o vinculado a Lula, não se colocava 
como defensor do socialismo. A essa altura, Coutinho (2008) já vinha tecendo 
críticas às posições do PT, tanto que, em 2002, deixara o partido. Mas permaneceu 
afirmando a necessidade do partido político como um dos dirigentes das classes 
trabalhadoras rumo ao socialismo, com uma plataforma política sustentada no 
reformismo revolucionário.
Segundo as formulações de Coutinho (2008), em especial quanto à sua defesa 
do reformismo revolucionário,é possível perceber sua crítica ao PT quando este 
assume o governo federal e implementa uma política de “[...] adesão às práticas 
mais perversas da política tradicional brasileira” (COUTINHO, 2008, p.12). Ou 
seja, implementa uma política que serve, predominantemente, aos interesses 
da burguesia. Também pode se observar nas formulações de Coutinho (2008) 
uma vinculação à perspectiva pacífica formulada pelo estalinismo, que entra no 
Brasil via PCB, com a tese do caminho pacífico para a revolução brasileira, com 
reformas graduais e por dentro do Estado burguês, justificando a necessidade de 
se disputarem eleições.
Sugere-se a leitura da seguinte obra:
NETTO, J. P. Pequena história da ditadura brasileira (1964 – 1985). São Paulo: 
Cortez, 2014.
Sugere-se o vídeo disponível em 
https://www.youtube.com/watch?v=pSyE82yRaKU.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil, a tese formulada pelo estalinismo adentra o País via PCB, justificando a 
existência de restos feudais. Dessa forma, o caráter da revolução brasileira deveria ser, antes, 
democrático-burguês, para, no futuro, ser a revolução proletária. Isso implicou uma aliança 
entre setores camponeses, operários, populares e a burguesia progressista. A história revelou a 
inviabilidade dessa aliança, que significou uma política de conciliação de classes.
O que se desenvolveu a partir disso, a partir das teses do PCB de 1940 e 1950, foi a 
defesa do caminho pacífico para a revolução brasileira. Nesse caso, foi apontada a via eleitoral 
para disputar a direção do Estado e realizar as reformas que, gradualmente, levariam à elevação 
política e à revolução. Expressou o caráter democrático burguês na defesa do PCB. Primeiro, por 
defender o caminho pacífico, descaracterizando a revolução proletária, como se a burguesia fosse 
entregar sua propriedade privada pacificamente. Segundo, por desconsiderar a tese marxista da 
inviabilidade das reformas no capitalismo em sua fase imperialista. Além de outros elementos 
questionáveis, como afirmar que haveria restos feudais no Brasil e promover uma revolução em 
aliança com a burguesia progressista, a qual já estava subordinada ao imperialismo.
No contexto da redemocratização, isso levou à postulação da democracia como o único 
caminho para o socialismo no Brasil, assumindo uma perspectiva democrática de ampliar 
os espaços de luta dentro do Estado burguês. Incluía elevar politicamente as organizações 
dos trabalhadores – sindicatos, associações de moradores, movimento estudantil – e exigia a 
necessidade de um partido político assumir tal perspectiva. Ao longo das décadas posteriores 
à defesa da democracia como o caminho único para o socialismo, passa-se a ter a finalidade de 
lutar pela democratização já no contexto do final dos anos 1980 e décadas posteriores. 
A postulação da democracia como o caminho único para o socialismo e suas implicações 
posteriores em uma defesa da democratização não ficaram apenas no plano dos partidos e 
organizações de trabalhadores: afetaram a orientação política de profissões, particularmente do 
Serviço Social brasileiro, a partir de profissionais que compuseram (alguns ainda compõem) 
setores da vanguarda profissional.
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SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 55
1. A PERSPECTIVA DAS VANGUARDAS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL 
A PARTIR DE 1980 ...................................................................................................................................................... 56
1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS E A PERSPECTIVA DEMOCRATIZANTE DAS VANGUARDAS DO SERVIÇO SOCIAL 
...................................................................................................................................................................................... 62
1.2 DEMOCRACIA: O NÚCLEO DA RELAÇÃO MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL A PARTIR DO FINAL 
DA DÉCADA DE 1990 .................................................................................................................................................. 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................... 69
MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL NO 
BRASIL A PARTIR DO FINAL DA DÉCADA DE 1970
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
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INTRODUÇÃO
Nesta unidade, analisaremos como setores do Serviço Social – especialmente a vanguarda 
– aderiram a uma dada concepção de democracia, a qual implicou a orientação política tanto 
para a formação quanto para a ação profissional. Verificaremos o pós-década de 1980 no Brasil, 
período em que as vanguardas profissionais concebiam a democracia como o único caminho para 
o socialismo, além de seus desdobramentos posteriores (os quais foram analisados em artigos 
mais recentes que compõem o universo da pesquisa).
O contexto de reorganização e reinserção da classe operária, com destaque para o 
movimento sindical e político em defesa da redemocratização da sociedade brasileira, influenciou 
setores que constituem as vanguardas do Serviço Social, colocando-se em uma perspectiva crítica 
frente à ditadura militar (1964 a 1985) pela redemocratização. 
De acordo com Netto (2011), o movimento que conferiu um nível de politização mais 
qualificado e avançado a uma parcela da categoria profissional teve momentos e lugares. Os 
momentos se referem ao período que se inicia na década de 1970 e atravessa a década de 1980. 
Os lugares dizem respeito à inserção de assistentes sociais em movimentos sociais, associações de 
moradores, sindicatos, organizações da categoria, na universidade, dentre outros.
No âmbito universitário, Netto (2011) afirma que, de meados da década de 1970 até 
meados de 1980, o Serviço Social sofreu expansão e avanços no campo teórico e metodológico, 
sob a influência da oposição do Serviço Social, em sua vertente crítica, frente à conservadora e à 
aproximação com a teoria “marxista”.
A perspectiva democrática também marca presença em documentos oficiais da profissão. 
No quarto princípio do código de ética do/a assistente social, de 1993, a concepção de democracia 
ocupa espaço especial, in verbis: “[...] defesa do aprofundamento da democracia, enquanto 
socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida”. A importância dessa 
citação está no vínculo estabelecido entre a democracia e “a socialização” e seu significado na 
orientação política para a profissão. 
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1. A PERSPECTIVA DAS VANGUARDAS DO SERVIÇO 
SOCIAL FRENTE AOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO 
BRASIL A PARTIR DE 1980
Primeiramente, é importante ressaltar que o período analisado constitui o da transição de 
uma ditadura militar (1964 – 1985) à redemocratização. Isso será decisivo na própria formulação 
e defesa da democracia no interior do Serviço Social. Nesse momento, contava-se com a presença 
de amplos setores da classe operária e organizações populares vinculadas às lutas sociais pela 
efetivação de outra forma de organização do Estado, que não fosse a ditadura militar. A transição 
à qual estamos nos referindo, iniciada no final da década de 1970 por iniciativa dos próprios 
militares, determinada pela crise econômica, contou com o protagonismo dos “[...] trabalhadores, 
os setores populares, colocam-se como força social no cenário político” (CARVALHO, 1985, p. 
20). 
Acerca de a transição da ditadura militar ter ocorrido mediante um processo lento 
e gradual, cujos interesses eramde setores dirigentes da ditadura e da burguesia nacional e 
imperialista ou ter sido derrotada pela classe operária e setores populares, afirma Netto (2010):
A resistência à ditadura, conduzida no plano legal por uma frente de oposição 
hegemonizada por segmentos burgueses descontentes, ganhou profundidade 
e qualidade novas quando, na segunda metade dos anos setenta, a classe 
trabalhadora se reinseriu na cena política, por meio da mobilização dos operários 
metalomecânicos do cinturão industrial de São Paulo (o ‘ABC paulista’). A 
partir de então, a ditadura – que promovera a modernização conservadora 
do país contra os interesses da massa da população, valendo-se, inclusive, do 
terrorismo de Estado – foi levada, de derrota em derrota, à negociação com a 
qual, culminando na eleição indireta de Tancredo Neves (1985), concluiu seu 
ciclo desastroso (NETTO, 2010, p. 9).
A ditadura militar, que já vinha mostrando sinais de esgotamento por conta da crise 
econômica, foi pressionada por setores da burguesia nacional e internacional para realizar a 
transição democrática, em fins dos anos 1970 e início de 1980. Conformou uma transição sem 
grandes alterações no que diz respeito às relações das classes burguesia e proletariado. Para a 
transição ocorrer, foi decisivo o acirramento das lutas sociais a partir da organização de setores 
da classe operária, campesinato e populares (a exemplo: movimento sindical; movimentos de 
trabalhadores rurais que, em 1984, constituíram o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra 
(MST); movimentos em defesa de creches, asfalto etc.), os quais conduziram a um maior grau de 
politização, a ponto de alguns autores afirmarem que a ditadura tinha sido derrotada. Esse duplo 
movimento pode ser constatado nesta afirmação: 
A ditadura instaurada pelo golpe de 1 de abril de 1964 perdurou por cerca de 
vinte anos, esgotando-se na entrada dos anos 1980, quando já não dispôs mais 
de condições para reproduzir-se e, derrotada politicamente, foi obrigada, pela 
pressão do movimento democrático e popular, a pactuar a sua substituição por 
um regime político formalmente democrático (NETTO, 2009, p. 651-652).
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Segundo Luiz Eduardo Wanderley (1985), a transição que estava ocorrendo, efetivamente, 
era uma transição que não garantia a penetração dos interesses dos trabalhadores; pelo contrário, 
era um movimento feito, por cima da classe operária e oprimida, por setores dos próprios 
dirigentes da ditadura militar, com apoio de setores da burguesia nacional e internacional. 
Contudo, Wanderley (1985, p. 10) ressalta a necessidade de “[...] eleger, se possível, 
representantes populares que vão defender esses temas na próxima Constituição, buscando 
introduzir essas coisas novas, ao menos uma democracia social efetiva.” Nesse sentido, trata-se 
de uma nova Constituição que garanta os diretos políticos, sociais e civis dos trabalhadores. Esse 
desenho inicial, acerca da perspectiva da necessidade de haver uma democracia efetiva, foi sendo 
desenvolvido e canalizado pelo Movimento Popular, o qual, de acordo com Wanderley, 
O grande projeto do movimento popular é negar esse sistema e lutar pela 
construção de um outro. Mas isso não está claro na consciência da maioria 
do movimento popular e sim de setores e lideranças. Ele hoje luta pela sua 
própria sobrevivência: comer, morar, ter saúde. Dar esse passo qualitativo 
para a construção de um projeto de uma nova sociedade é o vetor, o norte 
desse movimento popular. Contudo, ele não pode ficar na estratosfera nem 
como bandeira de luta apenas, mas tem que enraizar em projetos concretos 
(WANDERLEY, 1985, p. 11, grifo do autor).
A perspectiva apontada requer explicitar a estratégia do movimento popular, que é o 
projeto de uma nova sociedade. O autor não se refere qual sociedade especificamente. A ênfase 
é para dois tipos de reformas: primeiro, “[...] uma reforma agrária inteligente e bem executada é 
a base para combater a miséria e melhorar o nível de vida” (WANDERLEY, 1985, p.11). Depois, 
“[...] uma segunda reforma fundamental é no setor do trabalho. Quer dizer, garantir o direito ao 
trabalho” (WANDERLEY, 1985, p. 11). 
Essas reformas estão no plano tático do movimento popular e fazem parte da conquista 
de uma democracia que deve ser constituída em uma perspectiva contrária à que vem sendo 
forjada como democracia no Brasil. Por isso, ao se referir às duas reformas, elas são “[...] só 
embriões da nova sociedade que nós queremos construir, na direção de uma democracia que vem 
de baixo para cima e não de cima para baixo” (WANDERLEY, 1985, p. 12). 
Nesse sentido, o desenvolvimento do que vem sendo colocado canaliza para a relação 
de construção dessa “nova sociedade” com o Estado. Ou seja, na linha de pensamento do autor, 
o movimento popular é o portador do projeto de transformação da sociedade em que vivemos 
e constituir uma sociedade nova requer criar um novo Estado democrático, efetivo às massas 
trabalhadoras e aos populares.
De acordo com Cardoso (1990), a relação dos movimentos sociais urbanos com o 
Estado se coloca em um campo minado, por um lado, considerando o papel político de caráter 
transformador dos movimentos sociais, e, por outro lado, a função do Estado burguês.
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Os movimentos sociais urbanos se organizam a partir de suas necessidades básicas e 
coletivas como:
[...] habitação, taxa de transporte coletivo, infraestrutura, saneamento e energia 
etc. Dadas as necessidades provenientes da realidade urbana, esses movimentos 
se organizam, quase sempre, em função de problemas locais e de interesses 
imediatos, procurando resistir às condições de vida a que são submetidas, 
formulando inúmeras reivindicações dirigidas ao Estado, que é visto como o único 
capaz de entendê-las, uma vez que é ele quem determina as políticas sociais para 
o atendimento das populações, assim como normatiza, regula e intervém junto 
às mesmas. Assim, o Estado, ao mesmo tempo que se coloca como adversário a 
esses movimentos, torna-se, também, uma garantia. O Estado, portanto, é um 
espaço contraditório onde, ao mesmo tempo que incorpora de certa forma os 
interesses dos setores populares, se constitui também ‘representante direto dos 
interesses capitalistas, fixando salários, decretando as condições de trabalho, 
proibindo os sindicatos, aumentando os preços e atuando como proprietário de 
grande número de empresas’ (CARDOSO, 1990, p. 25).
Ao se referir aos grupos sociais que compõem os movimentos sociais populares como 
sendo agentes da transformação da ordem estabelecida, Cardoso (1990) considera tais setores de 
trabalhadores como o núcleo orgânico do movimento.
Quando nos referimos aos grupos populares, estamos entendendo os setores 
majoritários da sociedade que vivem uma condição de exploração e dominação 
determinada pelas contradições geradas pelo capitalismo. Tal concepção 
compreende, portanto, o operariado, o campesinato, os funcionários, os 
‘marginais’ e demais parcelas da classe dominada que vivem nas condições acima 
elucidadas (CARDOSO, 1990, p. 22).
Dessa forma, os movimentos sociais populares têm suas origens e seus fundamentos 
assentados nas contradições que são expressão da relação capital e trabalho. O grau de 
desenvolvimento e o surgimento de novas organizações do proletariado e de setores populares estão 
submetidos às relações de classes no ordenamento burguês. Ou seja, o próprio desenvolvimento 
capitalista no Brasil (a exemplo, o industrial) formou a classe operária, a qual se opõe ao processo 
de exploração da força de trabalho.
Segundo Cardoso (1990), os movimentos devem defender sua independência de classe 
frente às organizações da burguesia e seu Estado. Não se trata de cada um fazer o que quer; pelo 
contrário, diz respeito a preservar a autonomia, mas com conteúdo classistae democrático acerca 
da defesa dos direitos dos trabalhadores. Essa autonomia é colocada, principalmente, em oposição 
aos “modelos socialistas”, os quais, na perspectiva desse autor, em um processo de degeneração 
e burocratização de inspiração estalinista, limitaram o alcance do potencial dos movimentos 
sociais populares em uma perspectiva de transformação. 
A valorização, pelo autor, do papel da autonomia dos movimentos sociais 
populares no processo de transformação social vincula-se diretamente à 
crise dos ‘modelos socialistas’, entendida, numa primeira abordagem, como a 
constatação de uma degenerescência das sociedades pós-revolucionárias, onde 
havia projetos socialistas, como também a constatação de conservadorismo, 
burocratismo, sectarismo e elitismo das organizações partidárias criadas para 
serem instrumentos da revolução e da libertação social (CARDOSO, 1990, p. 
16).
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Na perspectiva apontada, a verificação dos elementos que, de certa forma, bloquearam o 
avanço rumo a uma sociedade socialista, ficou hipotecada ao desvio do stalinismo em relação ao 
leninismo. O desenvolvimento dessa análise levou a se justificar a existência de crise do socialismo. 
Para Cardoso (1990), há que se pensar os próprios modelos de socialismo, considerando 
os novos processos históricos que vêm se constituindo. Sobre isso, um elemento central diz 
respeito ao partido político que dará direção à luta dos movimentos populares.
[...] o verdadeiro partido revolucionário deve ter o papel de sistematizar 
experiências, elaborar propostas para a luta política, impulsionar a unidade e 
a autonomia dos movimentos sociais dos explorados e oprimidos, para que as 
massas se capacitem e façam frente à ordem do Estado burguês (CARDOSO, 
1990, p. 18).
De acordo com Cardoso (1990), a preocupação com relação ao partido tem por finalidade 
questionar a separação radical entre os militantes profissionais e os movimentos sociais, cujos 
encaminhamentos das lutas nos processos revolucionários estavam subordinados às vanguardas 
políticas, distantes e separadas dos movimentos das massas. 
Sobre a autonomia defendida, há uma concepção de democracia subjacente, que é seu 
chão histórico e que começa a aparecer à medida que vão se desenvolvendo os próprios aspectos 
políticos e organizativos dos movimentos sociais nos momentos de luta em uma perspectiva 
revolucionária. Porém, à autonomia dos movimentos é preciso ater o seu conteúdo. Cardoso 
(1990) atesta:
 
[...] o conteúdo e a realização da perspectiva da autonomia do movimento popular 
são a preparação de um processo político que levará à extinção ou separação do 
Estado e projetará um Estado de transição em que esse processo se realize como 
expansão da democracia, das liberdades políticas e da participação de todos 
na gestão da coisa pública (CARDOSO, 1990, p. 20, grifo do autor).
A concepção de autonomia que pressupõe a democracia estava posta em uma conjuntura 
política de organização do movimento popular dos anos 1980, em que ocorria a luta pela 
democratização do Estado, vista, por alguns autores e correntes políticas, como o prosseguimento 
das lutas sociais à conformação de um período que corresponderia à expansão da democracia, 
das liberdades políticas e da participação de todos na gestão da coisa pública. Nesse caso, a 
própria referência na citação não autoriza afirmar que a perspectiva de expansão da democracia 
subsidiará os elementos para a constituição da ordem socialista no Brasil.
Nesse processo, segundo Cardoso (1990), a autonomia guarda relação com dois níveis. 
O nível mais elementar é a autonomia dos movimentos sociais locais, que não podem estar 
pautados na espontaneidade e tampouco podem se subordinar a reivindicações específicas de 
caráter corporativo (isso não quer dizer que eles não tenham). Caso isso aconteça, ocorrerá a 
separação entre reivindicações do trabalho e da política. Em segundo lugar, elevar-se-á o nível da 
formação política e organizativa para haver o adensamento entre as reivindicações que sejam da 
ordem concreta dos trabalhadores.
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A conquista da autonomia cultural, política e econômica dos trabalhadores e do 
povo envolve um empenho na participação em todos os níveis, dos indivíduos em 
todos os espaços do seu cotidiano, baseia-se na crítica á delegação de soberania, 
que é essência do liberalismo burguês e implica a capacidade de traduzir os 
interesses dos sujeitos das lutas, permanecendo sob o seu controle.
Toda ênfase na luta pela autonomia dos movimentos sociais, das classes e das 
camadas exploradas decorre do entendimento de que a exploração e opressão 
são aspectos inseparáveis na dinâmica das lutas de classe e que a afirmação da 
autonomia com o rompimento da dominação representa um movimento contra 
a exploração (CARDOSO, 1990, p. 21).
Seguindo o desenvolvimento da análise de Cardoso (1990), há que se privilegiar a 
autonomia dos movimentos com relação à sua participação, inclusive, ao se tratar do Estado. 
Segundo advertência de Nascimento (1986) quanto ao período em que se estava vivendo, embora 
a ditadura militar tenha formalmente entrado em um processo de esgotamento e transitado 
para uma forma democrática, ainda permanecem aspectos autoritários que inviabilizam ou 
manipulam a participação popular no interior das instituições do Estado. Contudo, o autor 
enfatiza a importância da participação para defender suas necessidades.
[...] as práticas participativas autoritárias começam a perder sua razão de ser, a 
encontrar maiores resistências entre técnicos, e sobretudo no seio da população 
trabalhadora. Na perspectiva democrática, o mais justo, talvez, seja não se 
abster de participar de propostas, mas entrar no jogo, tentando desenvolver 
as potencialidades democráticas que elas contêm, numa aliança com os 
setores mais democráticos da sociedade civil (NASCIMENTO, 1986, p. 15, 
grifo do autor).
Essa perspectiva democrática está relacionada ao seu contraponto – a ditadura militar. 
Portanto, as mudanças ocorreram em uma relação entre Estado e sociedade, o que desembocou 
nas políticas estatais, inclusive com a participação da comunidade. Mas houve uma alteração 
caracterizada pela forma de articulação. Ou seja, o movimento popular tinha reivindicações 
de longa data: transporte, habitação, creches e escolas. Agora, começa a se postular que o mais 
justo, talvez, seja entrar no jogo, tentando desenvolver as potencialidades democráticas que elas 
contêm, numa aliança com os setores mais democráticos da sociedade civil. Isso abarcava outra 
compreensão da democracia, não mais justificada como o caminho ao socialismo, mas como o 
espaço em que seria possível conquistar as reivindicações populares. Vê-se, enfim, uma gradual 
transformação daquilo que seria meio.
Segundo Gohn (1985), de 1975 a 1979, os movimentos sindicais de bairros eram dirigidos 
por seus próprios núcleos internos. Essa relação começa a sofrer alterações profundas com as 
eleições de 1982, as quais refletiram a relação dos movimentos com os partidos políticos. Em 
um primeiro momento, há implicações no sentido de se institucionalizarem as lutas. “[...] em 
decorrência deste ponto temos uma certa institucionalização de vários movimentos populares 
que antes pressionavam o Estado e agora penetraram em seu bojo, a exemplo da Luta por Creches 
em São Paulo” (GOHN, 1985, p. 21). Os efeitos disso não se colocam no plano do bom ou ruim, 
mas da política e autonomia dos movimentos do que seria a defesa dos interesses das massas 
trabalhadoras. 
A própria reformulação da vida partidária que se iniciou nos anos 1980 rebateu e provocou 
um refluxo dos movimentos, com a sua fragmentação e institucionalização. Obviamente, isso 
reflete na capacidade de luta e defesa de uma democracia interna dos setores organizados. 
Contudo,explicita uma novidade com relação à forma de articulação dos movimentos 
em prol da defesa de suas necessidades concretas e com relação à vinculação do partido político 
com o movimento social.
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A articulação movimento-partido na década de 1980 tem gerado várias 
contraditoriedades no que se refere à questão da organização. Para alguns 
segmentos das correntes políticas existentes, a organização deve vir da base, de 
baixo para cima. A forma como isso se daria varia do espontaneísmo às táticas 
de nucleação e agregação dos indivíduos por regiões, categorias profissionais etc. 
Nesta corrente os movimentos populares vão ser visto como fontes preciosas de 
organização na medida em que representam demandas reais a partir das próprias 
bases. Esta corrente encontra-se bastante disseminada no interior do Partido dos 
Trabalhadores – PT (GOHN, 1985, p. 22).
Essa relação “movimento-partido” causa discussões internas aos movimentos sociais entre 
as correntes políticas referentes à institucionalização e autonomia das reivindicações de lutas. 
Segundo Cardoso (1990), inicia-se um processo em que as lutas teriam de passar ou depender das 
respostas do Estado, implicando uma relação de dependência, o que se refletiria em uma guinada 
à direita na medida que seus dirigentes vão se alinhando a adversários políticos.
A vitória de partidos oposicionistas nas urnas, em novembro de 1982, levou a 
várias transformações da dinâmica dos movimentos populares. Vários militantes 
dos movimentos de bairro passaram a ter nos órgãos estatais não mais seus 
adversários, mas seus companheiros de partido. As estratégias se alteram. A 
questão deixou de ser mobilizar a população para pressionar o governo, para 
ser colaborar em políticas participativas. Passou a ocorrer uma tendência a 
certa institucionalização dos movimentos (GOHN, 1985, p. 23, grifo do autor).
Se compararmos o conteúdo dessa citação às análises de Cardoso (1990), veremos um 
distanciamento do potencial político dos movimentos em face de seu papel questionador. Para 
defender a participação popular dentro do Estado, perde-se o caráter organizador de setores de 
trabalhadores em uma posição oposta ao Estado.
Do ponto de vista de segmentos sociais e de categorias profissionais, como a do Serviço 
Social, o contexto político da luta contra a ditadura militar e pela redemocratização expressou, 
nas bandeiras dos movimentos sociais, as suas reivindicações concretas quanto às necessidades 
básicas da população, que vão desde salário e condições de trabalho até melhorias nos bairros, 
como asfalto e creches. 
Uma vez que parte dos assistentes sociais estava defendendo tais reivindicações (e aqui 
estamos expondo como esses processos políticos eram analisados nos artigos das revistas da 
profissão), é necessário precisar as análises com relação aos movimentos sociais.
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1.1 Movimentos Sociais e a Perspectiva Democratizante das 
Vanguardas do Serviço Social
A partir do final da década de 1970, ocorreram processos que alteraram e impactaram 
as análises acerca da democracia. A tentativa de Netto (1986) de redefini-la corresponde a um 
período de transição no qual as instituições do Estado estavam se reorganizando com a penetração 
de setores populares, em uma tentativa de a democracia burguesa canalizar as “lutas” para se 
darem no parlamento (o que, antes, passava-se nas ruas). 
Certamente, essa canalização não levou todos os movimentos (operário, sindical, popular 
e camponês) a hipotecarem suas reivindicações no parlamento e demais órgãos, os quais, 
sendo burguês o Estado, responderam aos interesses burgueses, em que pese a penetração de 
representantes de setores populares. Contudo, segundo constatação de Cardoso (1990), houve um 
alinhamento político que se tornou predominante, como já referido anteriormente. Com relação 
aos movimentos e partidos políticos, as lutas deixam de ser nas ruas, onde se expressava a maior 
possibilidade de os trabalhadores defenderem seus interesses. Passou-se ao reconhecimento das 
lutas institucionalizadas em espaços da ordem burguesa, passando pelo crivo das eleições como 
meio de se atingir uma posição no Estado e de influenciar, de alguma maneira, os representantes 
da população. 
Essa perspectiva, embora flagrante mesmo em setores mais críticos do Serviço Social, 
foi predominante nos setores operários e, em especial, nos setores populares contemplados por 
lideranças como estudantes, lideranças de associação de bairro etc. 
Também as vanguardas do Serviço Social aderiram à institucionalização crescente das 
lutas populares. 
No entanto, nos últimos cinco anos, no bojo do avanço da luta pela 
redemocratização do país, a luta pela hegemonia no Serviço Social também 
avança, explicitando-se, no processo de formação profissional, tendências no 
interior das forças sociais básicas com propostas políticas diversas (CARVALHO, 
1985, p. 22).
Ao se referir à hegemonia na profissão, Carvalho (1985) está olhando para estudantes e 
professores que, no interior da universidade, “[...] vêm compondo uma vanguarda progressista” 
(CARVALHO, 1985, p. 23) em uma luta contra o conservadorismo profissional, em prol do 
Serviço Social crítico. Ao longo dos anos 1980, tal contraposição entre setores críticos e setores 
conservadores forjou um projeto profissional com o objetivo de orientar tanto a formação quanto 
o exercício profissional, o qual defende a vinculação aos movimentos sociais na defesa dos 
interesses da “clientela” e das lutas sociais. 
[...] contribuição no processo de transformação da sociedade brasileira, ou 
seja, o Projeto de Serviço Social comprometido com os interesses da clientela 
enquanto classe dominada e com suas lutas expressas nos movimentos sociais 
(CARVALHO, 1985, p. 26).
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No contexto da década de 1980, essa transformação marca a transição da ditadura 
militar para a democracia, quando os interesses dos trabalhadores se colocam em outro plano de 
reivindicação. Colocam-se “[...] no âmbito da democracia burguesa, em que se configura a Nova 
República, a luta de classes assume formas distintas e específicas em relação ao longo período de 
ditadura” (CARVALHO, 1985, p. 34). Essas novas formas se relacionam ao fato de os movimentos 
sociais ocuparem os espaços da democracia burguesa e deles fazerem um local de representação 
dos interesses dos trabalhadores.
Portanto, seguindo-se a linha de pensamento da autora, talvez o que muda é a compreensão 
dos espaços onde deva ser travada a luta de classes (e, não, que a luta de classes deva assumir 
outras formas). Tanto é que suas análises estão respaldadas nos novos espaços e instituições que a 
democracia burguesa oferece e que os setores dos trabalhadores podem ocupar. Há uma relação 
com o Estado que, mesmo resguardada a devida autonomia dos movimentos sociais gerais ou 
mesmo interna à profissão, acaba por refletir-se em novas estratégias.
[...] E, no contexto desta democracia burguesa, precisam encontrar novas 
estratégias em termos de avançar nas suas lutas, aproveitando com lucidez e 
consciência os espaços que se vêm colocando ao nível dessa postura estratégica 
do Estado sem perder a sua autonomia e sua força de pressão (CARVALHO, 
1985, p. 35).
As novas estratégias sugeridas por Carvalho (1985) se desenvolvem com a participação 
dos assistentes sociais em seus trabalhos; logo, de forma institucional, via políticas sociais na 
relação com os movimentos sociais, construídas em uma perspectiva plural. Com isso, segundo 
Sposati (1992), há um campo a cumprir na construção da institucionalidade democrática. Nessa 
linha de argumentação, há que se precisar o pluralismo que, frequentemente, é confundido com 
ecletismo no interiorda profissão. 
Para além, ele subsidiará o espaço de debate profissional que vem se arrastando ao longo 
dos anos 1980 e contribuirá às vinculações necessárias às organizações dos trabalhadores e demais 
setores populares, formatando os espaços de debates. Portanto, o pluralismo
[...] é sinônimo de abertura para o diferente, de respeito pela posição alheia, 
considerando que essa posição, ao nos advertir para com nossos erros e limites, e 
ao fornecer sugestões, é necessária ao próprio desenvolvimento da nossa posição 
e, de modo geral, da ciência (COUTINHO, 1987, p.15).
A ideia de pluralismo foi elemento central à constituição do já mencionado projeto 
profissional do Serviço Social, que ficou conhecido a partir do final da década de 1990 como 
projeto ético-político do Serviço Social brasileiro. O que interessa, a seguir, é a concepção de 
democracia que, implícita ou explicitamente, permeava os debates internos à profissão. “Há 
que se reinventar o sentido e a esperança de uma relação libertária na busca da radicalidade 
democrática” (SPOSATI, 1992, p. 7). 
Nessa linha, a importância do pluralismo reside no fato de constituir espaços de debates 
interno e externo à profissão, além de ser elemento constitutivo do projeto profissional. Nesse 
sentido, segundo Guerra (2009), a inserção do assistente social nos espaços de lutas dos anos 1980 
(e que atravessa os anos 1990) propiciou a “[...] construção de uma concepção universal, pública 
e gratuita de política social, nomeadamente da política de Seguridade Social” (GUERRA, 2009, 
p. 9). A profissão, que já vinha se desenvolvendo nos anos 1980, chega em 1993 a construir um 
novo código de ética profissional. E há, ainda que tímida, a expansão de espaços de participação 
popular resultantes da Seguridade Social, composta por três políticas sociais: Saúde, Previdência 
Social e Assistência Social. 
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É neste processo e na medida em que se ampliam as demandas democráticas 
e os instrumento jurídico-legal em defesa dos direitos socais e das minorias, 
que se configuram as práticas profissionais e se ampliam as áreas e campos de 
intervenção (GUERRA, 2009, p. 9).
Com isso, a defesa das políticas sociais deve ser colocada tanto no “[...] sentido da 
democratização política quanto no da socialização da riqueza coletivamente produzida” 
(GUERRA, 2009, p. 11). Esse é o núcleo em que se fundamentam as vanguardas do Serviço Social 
para defenderem a democracia, expressando suas lutas e resistências. 
É preciso enfatizar, ao longo do texto e, sobretudo, neste tópico, que a concepção de 
democracia entendida como o único meio para atingir o socialismo passa pela democratização. 
Isso pressupõe que o Estado desenvolva políticas sociais que contemplem um número maior de 
pessoas, em uma perspectiva reformista, chegando a desenvolver tais políticas no plano universal. 
Tudo isso para que, posteriormente, atinja-se uma sociedade sem classes, sem exploração do 
homem pelo homem, o que leva a entender o socialismo (embora não o explicite). 
1.2 Democracia: o Núcleo da Relação Movimentos Sociais e 
Serviço Social a Partir do Final da Década de 1990
Neste tópico, nossa preocupação não será o projeto ético-político do serviço social, mas 
um de seus princípios fundamentais: a democracia. 
A partir do final da década de 1990, o professor José Paulo Netto publicou um texto 
intitulado A construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social (1999), pautando a construção do 
projeto em meio a uma conjuntura de lutas sociais que abrangiam vários segmentos da sociedade 
brasileira, sobretudo, a classe operária. Nesse sentido, os movimentos sociais influenciaram a 
organização política de setores do Serviço Social, que ficou conhecido como movimento de 
intenção de ruptura do Serviço Social crítico com relação ao conservadorismo profissional. 
A luta contra a ditadura e a conquista da democracia política possibilitaram 
o rebatimento, no interior do corpo profissional, da disputa entre projetos 
societários diferentes, que se confrontavam no movimento das classes sociais. 
As aspirações democráticas e populares, irradiadas a partir dos interesses dos 
trabalhadores, foram incorporadas e até intensificadas pelas vanguardas do 
Serviço Social (NETTO, 2010, p. 11).
Dois aspectos a ressaltar. Primeiramente, o movimento de intenção de ruptura, que deu 
impulso ao referido projeto, estava vinculado às manifestações pela redemocratização desde o 
final da década de 1970, quando a classe operária e setores populares vinham se organizando 
para se oporem à ditadura militar. Em segundo lugar, democratizar o Estado era a tarefa dos 
movimentos sociais, com a contribuição de setores críticos do Serviço Social. 
Nesse processo, segundo Netto (2010), a ditadura concluiu seu curso a partir de aspectos 
internos pela reinserção da classe operária, a qual se reorganizou em defesa da democratização, 
viabilizando o debate entre os setores conservadores e críticos da profissão.
A luta pela democracia na sociedade brasileira, encontrando eco no corpo 
profissional, criou o quadro necessário para romper com o quase monopólio 
do conservadorismo no Serviço Social: no processo de derrota da ditadura se 
inscreveu a primeira condição – a condição política – para a constituição de um 
novo projeto profissional (NETTO, 2010, p. 10). 
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É evidente que, sob um regime democrático, projetos como o do Serviço Social melhor 
se desenvolveriam, até porque a sua proposta era romper com o conservadorismo profissional 
para que se desse a constituição de um novo projeto profissional a orientar politicamente tanto 
a formação quanto a prática profissional. Adiante, sob o prisma do projeto, Netto (2010) aponta 
outros elementos que devem constituí-lo. E, mais uma vez, aponta a democracia e as conquistas 
que ela pode oferecer dentro do Estado burguês, a saber: avanço teórico, metodológico e crítico 
nas produções do Serviço Social com a pós-graduação, em oposição ao conservadorismo 
profissional, a conquista de direitos cívicos e sociais que acompanhou a restauração democrática 
na sociedade brasileira e o código de ética profissional de 1993. 
Contudo, a questão não é negar tais conquistas democráticas, mas, sim, verificar que, 
dentro do Estado burguês, isso é permitido ora de formas mais alargadas ora de formas restritas, de 
acordo com os interesses em disputa entre as classes fundamentais do capitalismo, prevalecendo-
se os interesses que preservam a propriedade privada.
De acordo com Netto (2010), “[...] o projeto se declara radicalmente democrático – 
considerada a democratização como socialização da participação política e socialização da 
riqueza socialmente produzida” (NETTO, 2010, p.16). Há que se fazer uma diferenciação. Pode 
até ter ocorrido a participação política, como participação popular nas instituições do Estado; 
contudo, essa participação (em grande medida) é determinada pelo Estado e suas instituições.
As instâncias que, de fato, decidem as orientações essenciais da economia e da organização 
social funcionam, inclusive, fora dos espaços representativos (congresso, ministérios etc.), os 
quais, ao contrário de terem sido democratizados, foram oligarquizados. Mas nos centremos no 
desenvolvimento da democracia a partir do entendimento do Serviço Social e suas vinculações.
Segundo Netto (2010), a partir da década de 1980, confirmando-se na década de 1990, vêm 
se acumulando, no meio profissional, alguns avanços na constituição de bases para a profissão. 
Ganham destaque o código de ética profissional e o avanço teórico-metodológico advindo das 
sistematizações de pesquisas com pós-graduações, ambos resultados de um longo debate político 
e profissional e da redemocratização. Afinal, “[...] à conquista de direitos cívicos e sociais que 
acompanhou a restauraçãodemocrática na sociedade brasileira” (NETTO, 2010, p. 14). 
A linha democrática assumida pelas vanguardas do Serviço Social, constituída no interior 
do projeto ético-político, estava vinculada ao movimento democrático e popular. 
Neste sentido, a construção deste projeto profissional acompanhou a curva 
ascendente do movimento democrático e popular que, progressivamente e 
positivamente, tensionou a sociedade brasileira entre a derrota da ditadura 
e a promulgação da Constituição de 1988 (à qual Ulisses Guimarães chamou 
de Constituição Cidadã) – um movimento democrático e popular que, 
inclusive apresentando-se como alternativa nacional de governo nas eleições 
presidenciais de 1989, forçou uma rápida redefinição do projeto democrático 
das classes proprietárias (NETTO, 2010, p. 18, grifo do autor).
Embora Netto (2010) não explicite, o movimento democrático e popular apresentado 
como alternativa às eleições presidenciais de 1989 era a candidatura de Lula, pelo PT. A ausência 
de tal explicitação foi sanada em análise de Netto dez anos depois. 
O ímpeto democratizante, no entanto, persistiu até 1989, quando, à falta de uma 
melhor solução confiável, o grande capital patrocinou a chegada de Collor de 
Melo ao governo. Esta aventura política, se serviu à grande burguesia para 
barrar a alternativa democrático-popular (representada, no segundo turno, 
pela candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva) (NETTO, 2009, p. 672, grifo do 
autor).
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Anteriormente, apontamos que, no início dos anos 1980, o então recém-nascido Partido 
dos Trabalhadores vinha penetrando, politicamente, no movimento popular e fazendo suas 
as reivindicações operárias e populares. Ao longo das décadas posteriores, foi elegendo seus 
candidatos e se institucionalizando. 
Historicamente, a vinculação do partido político aos movimentos sociais, em particular 
com o PT, refletiu também na vinculação do PT às vanguardas do Serviço Social. O elo dessa 
vinculação constatava-se em uma questão concreta: contra a ditadura militar, em defesa da 
democratização.
Segundo Netto (2009), o ponto de partida dessa vinculação ocorreu em 1979, 
posteriormente, tornando-se um marco entre os assistentes sociais na luta pela redemocratização. 
Trata-se do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), realizado em 1979, conhecido 
como o “congresso da virada”. Evento “[...] em que as tendências profissionais comprometidas 
com a democracia ganharam visibilidade no Serviço Social” (NETTO, 2009, p. 650). Esse foi um 
processo político que vinha se acumulando ao longo da década de 1970 à medida que trazia as 
tendências políticas democráticas profissionais. Revela-se seu vínculo com a reinserção da classe 
operária na arena política brasileira, a qual vinha se reorganizando. 
Isso não autoriza a afirmar que os profissionais, em sua totalidade, estavam na mesma 
linha de atuação política. Muito pelo contrário: parte dos assistentes sociais, de acordo com 
o autor, ou estava assessorando os serventuários da ditadura ou se colocava em um plano de 
aparente neutralidade.
[...] o que particulariza a situação do Serviço Social (embora, numa análise mais 
abrangente de suas categorias profissionais, possam ser identificadas situações 
similares) é a tardia manifestação opositiva à ditadura por parte das instâncias 
e fóruns representativos da categoria profissional: o que se sobressaí, quando se 
estuda o Serviço Social sob a autocracia burguesa, é a olímpica ‘neutralidade’ 
dessas instâncias e fóruns em face do regime ditatorial. De fato, nas suas 
expressões imperam, até o III CBAS, o silêncio e a omissão em face da ditadura 
(NETTO, 2009, p. 665). 
Internamente, “[...] o avanço que se teve com o congresso da virada foi uma decisiva 
transformação na dinâmica profissional no país” (NETTO, 2009, p. 666), que não eliminou, 
mas quebrou o monopólio conservador nas instâncias e fóruns da categoria profissional. Nesse 
sentido, seguem as análises de Guerra (2009) ao se referir ao congresso da virada.
[...] como ato encarna um momento em que significativos segmentos profissionais 
passaram a enfrentar, aberta e enfaticamente, o histórico conservadorismo da/
na profissão, declarando a adoção de posicionamento ideo-político radical, 
construindo uma vertente crítica na profissão, que passa a atuar na construção 
de uma nova direção social hegemônica (GUERRA, 2009, p. 6).
É importante ressaltar que o III Congresso “[...] trouxe para a cena política os componentes 
democráticos até então reprimidos na categoria profissional” (NETTO, 2009, p. 669). Isto é, não 
se pode afirmar que, antes de 1979, os assistentes sociais não tenham se posicionado. O que há 
de novo é a configuração de uma vanguarda profissional que impulsionou a luta interna contra o 
conservadorismo profissional à medida que lutou pela democratização e constituição de outros 
e novos espaços de participação política. A “[...] ruptura com o monopólio político conservador 
teve implicações que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento global do Serviço 
Social no Brasil” (NETTO, 2009, p. 669). 
Como resultado do processo político que vem se desdobrando a partir de 1979, Guerra 
(2009) destaca a direção hegemônica forjada e constituída pela vertente crítica na profissão.
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O mais significativo para uma mudança radical na profissão foi que, neste 
contexto sócio histórico, marcado por confrontos e resistências, se explicitam 
os interesses antagônicos das classes sociais e se põe a nu o papel do Estado 
na defesa intransigente dos interesses da classe dominante, criando as bases 
para que a profissão realize uma apreciação crítica da direção hegemônica da 
categoria e da organização político-representativa vigente à época, questionando 
sua funcionalidade aos interesses do capital (GUERRA, 2009, p. 7).
Ademais, no desenvolvimento profissional, destacam-se, segundo Netto (2009), as pós-
graduações (Mestrado em 1972, e Doutorado em 1981), as quais possibilitaram espaço para 
sistematizações críticas frente à própria ditadura, período, inclusive, em que houve ampliação 
do mercado nacional de trabalho para o Serviço Social. Com isso, houve a generalização do 
assalariamento, o que passou a ser objeto de análise em uma perspectiva crítica na relação capital 
e trabalho. Segundo exposição de Netto (2009), a ampliação da participação política resultou na 
constituição de um pluralismo, o qual foi se diferenciando e, portanto, separando-se do ecletismo.
A expressão “virada” se refere ao citado Congresso. Diz respeito à substituição da 
própria composição da mesa (“oficial”), da qual o então principal líder metalúrgico 
Luiz Inácio da Silva – o Lula – passou a fazer parte, exatamente por representar 
parte significativa do proletariado, ao qual segmentos de assistentes sociais se 
vinculavam. Mas outros motivos vieram à tona posteriormente, os quais revelam 
as razões por que Lula compôs a mesa. 
Em nota de rodapé, Bravo (2009) cita Netto (2004) para demonstrar os vínculos da 
vanguarda que surgiu com o III CBAS.
Destaca que a presença de Luiz Inácio da Silva na mesa de 
encerramento do III Congresso não foi por acaso, e como também 
não é por acaso que importantes lideranças profissionais que 
conduzem a ‘virada’ nos anos imediatamente seguintes tenham 
convergido partidariamente para o PT. A atmosfera política 
que resultou no nascimento do PT foi a mesma que influenciou 
diversos segmentos profissionais (BRAVO, 2009, pp. 700-701).
Esse dado, quanto à relação de parte dos profissionais articulados politicamente 
a Lula, na entrada da década de 1980 quando da criação do PT, comprovou o 
vínculo das lideranças profissionais. Tais lideranças, nas palavras de Netto (2009), 
são as vanguardas. Consequentemente, o vínculo se encontra “[...] amplamente 
difundido entreos assistentes sociais que se traduziu numa ‘partidarização’ – a 
quase totalidade da vanguarda ou aderiu formalmente ao recém-nascido Partido 
dos Trabalhadores – PT ou seguiu suas orientações” (NETTO, 2009, p. 670).
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A relação da vanguarda profissional atingiu também setores que “[...] no 
movimento estudantil em Serviço Social, a hegemonia foi toda do PT (Partido 
dos Trabalhadores), registrando-se uma participação absolutamente residual 
do PCdoB” (BRAZ, 2009, p. 715). Os estudantes que vinham se despontando 
politicamente no final da década de 1970, naturalmente, seguiram seu curso e, 
posteriormente, também compuseram a vanguarda profissional – o que não quer 
dizer que todos estejam vinculados ao PT até hoje. 
Sugere-se a leitura da seguinte obra:
- DURIGUETTO, M. L. Movimentos Sociais e Serviço Social no Brasil pós anos 
1990: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2015.
Sugere-se que se assistam aos seguintes vídeos, disponíveis em 
https://www.youtube.com/watch?v=JNpmYmBKTFQ, 
https://www.youtube.com/watch?v=rZ2vm4CleHA&feature=youtu.be e 
https://www.youtube.com/watch?v=YNrKIaxWFGM.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel dos movimentos sociais quanto à transformação da sociedade via Estado burguês, 
na verdade, vai se institucionalizar, a ponto de eleger e ter seus próprios representantes eleitos. 
À medida que os processos políticos avançam, há críticas quanto à perda de autonomia dos 
movimentos sociais. A pauta de luta dos movimentos deixa de ser reivindicações de suas bases 
para ser de suas direções, que se burocratizaram a ponto de aceitarem entrar no jogo democrático 
burguês. Isso resultou no alinhamento político de parte dos movimentos sociais, os quais, de 
oposição ao Estado, passaram à defesa do mesmo Estado, o burguês. 
Com relação aos artigos publicados nos anos 2000, é preciso destacar, ao menos, dois 
elementos. O primeiro se refere à concepção de democracia da vanguarda profissional, que surgiu 
em 1979, com a realização do III Congresso dos Assistentes Sociais Brasileiros (CBAS), mais 
conhecido como o “congresso da virada”. Tal concepção foi sendo forjada ao longo das décadas 
posteriores, sendo que parte dessa mesma vanguarda estava (e está) ideologicamente vinculada 
ao PT. Não se quer questionar a participação de assistentes sociais em partido político: a questão 
é uma orientação política para a profissão que coloca, de um lado, os “profissionais críticos” e, de 
outro, os “conservadores”, diluindo suas particularidades.
O segundo elemento se refere ao ciclo de defesa da democracia no Serviço Social, que foi 
concluído explicitando-se seu vínculo com o governo democrático e popular. Nos artigos mais 
recentes, surgiram críticas quanto ao papel de o Governo Federal seguir a orientação político-
econômica do imperialismo. 
Mesmo os setores mais críticos da vanguarda profissional questionam o posicionamento 
político e econômico do PT (partido da ordem) a partir de 2003, não obstante assumam que 
tinham esperança de o partido avançar na luta em uma perspectiva reformista, a qual contribuiria 
à construção de uma sociedade socialista. Isso mostrou a inviabilidade da via democrática para 
se chegar ao socialismo. 
É com a perspectiva democrática (defesa das eleições para se terem representantes dos 
trabalhadores no parlamento, reformas etc.) – mesmo os setores profissionais mais críticos – que 
temos uma orientação política para o Serviço Social, a qual leva, de forma consciente ou não, os 
estudantes e profissionais a seguirem os postulados de uma concepção de democracia que muitas 
vezes ignora as particularidades dos próprios estudantes e assistentes sociais. A inserção ou não 
na política, que extrapola os meios profissionais, não pode ser critério obrigatório, devendo fazer 
parte de um convencimento. 
Ademais, a concepção de democracia predominante no Serviço Social, inclusive, é um 
dos princípios do Código de Ética profissional de 1993. Essa concepção desconsidera que, no 
trabalho profissional, é o mercado de trabalho que determina. Isso porque a postulação da defesa 
da democracia nos meios profissionais, muitas vezes, é colocada como critério obrigatório aos 
assistentes sociais, exigindo-se a sua participação política nas organizações profissionais. 
Não se quer negar o caráter político da profissão. Muito pelo contrário: o que estamos 
apontando é para o fato de que, como profissionais, os assistentes sociais têm sua capacidade 
de organização política muito limitada. A participação na vida política deve ocorrer a partir de 
organizações que rompam com o corporativismo profissional. 
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