Buscar

CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CLASSES E MOVIMENTOS 
SOCIAIS
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD:
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Marta Yumi Ando
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Aliana de Araújo Camolez
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de 
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios 
não vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande 
responsabilidade sobre as escolhas que 
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida 
acadêmica e profissional, refletindo diretamente 
em nossa vida pessoal e em nossas relações 
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade 
é exigente e busca por tecnologia, informação 
e conhecimento advindos de profissionais que 
possuam novas habilidades para liderança e 
sobrevivência no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a 
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, 
capaz de formar cidadãos integrantes de uma 
sociedade justa, preparados para o mercado de 
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
33WWW.UNINGA.BR
U N I D A D E
01
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
1. AS CLASSES SOCIAIS DISPUTAM OS ESPAÇOS POLÍTICOS NO ESTADO .........................................................5
1.1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS IMPULSIONAM O SUFRÁGIO UNIVERSAL PARA DEMOCRATIZAR O ESTADO 
BURGUÊS ......................................................................................................................................................................9
1.2 O DEBATE: DA PERSPECTIVA REVOLUCIONÁRIA À CRÍTICA AO REFORMISMO NO SEIO DO MOVIMENTO 
OPERÁRIO ................................................................................................................................................................... 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 19
CLASSES SOCIAIS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS 
FRENTE À DEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO 
BURGUÊS A PARTIR DO SÉCULO XIX
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
4WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Houve destaque para o sufrágio universal (inicialmente, sufrágio restrito), sendo a 
expressão democrática do Estado, que, ao longo do século XIX, contemplou um número maior 
de participantes nas instituições estatais, especialmente no parlamento. Contudo, isso não 
alterou a sobreposição da burguesia perante as classes trabalhadoras, mas fomentou processos 
políticos por meio dos quais a pressão de setores operários e populares fez a burguesia recuar 
em determinados momentos – o que implicou na ampliação de segmentos dos trabalhadores e 
populares (pequenos comerciantes e camponeses) com direito a voto.
Com a experiência política da classe operária, sobretudo posteriormente à formação da 
Primeira Internacional, sindicatos e partidos políticos que representavam as massas trabalhadoras 
ganharam destaque e foram, evidentemente, importantes para combater a forma democrática 
que assumiria o Estado. Sobretudo um Estado que “de governo do povo” só tinha o nome, 
tendo em vista que a administração dos governantes servia, predominantemente, aos interesses 
da burguesia. As experiências políticas em defesa dos interesses dos trabalhadores tiveram 
resultados. Desde meados do século XIX, houve um movimento operário que foi ampliando 
suas bases de influência, indo para além das fronteiras nacionais, inclusive com uma perspectiva 
internacionalista.
A partir do final do século XIX, eclodiu um debate polêmico frente ao reformismo, que 
tinha Bernstein como uma de suas lideranças, profundamente questionado por Rosa Luxemburgo 
(2015), dado seu revisionismo que traduzia numa perspectiva reformista para o movimento 
operário. Esse período também foi marcado pelas críticas de Lênin (1980, 2007) a Kautsky com 
relação ao debate quanto à democracia burguesa e democracia operária. 
5WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. AS CLASSES SOCIAIS DISPUTAM OS ESPAÇOS 
POLÍTICOS NO ESTADO
Nesta unidade, abordaremos o desenvolvimento do Estado burguês sob sua forma 
democrática, cuja organização e luta dos trabalhadores foram fundamentais, sem se 
desconsiderarem outras formas de organização do Estado (como as ditaduras militares, que se 
fizeram presentes por necessidade do acirramento da luta de classes e/ou dos choques entre as 
frações burguesas), utilizando-se, principalmente, da leitura de Hobsbawm (2010, 2015, 2016a, 
2016b), analisando-se de que forma a democracia vai sendo forjada como a melhor forma de 
organização do Estado burguês, assegurando a propriedade privada capitalista. 
Nesse sentido, o sufrágio terá importância central, o qual, a partir do século XIX, ampliou-
se até chegar ao sufrágio universal no século XX, embora com várias advertências, conforme se 
apontará oportunamente. Com isso, buscar-se-á demonstrar o impacto do sufrágio universal para 
a organização das lutas das massas trabalhadoras e o modo como as burguesias se comportaram 
frente a esse fenômeno. 
O Estado burguês, cuja finalidade é assegurar a grande propriedade privada dos meios 
de produção, é o resultado de uma longa evolução do próprio modo de produção capitalista e 
das formas de organização do Estado. A burguesia, no processo de se tornar a classe dominante, 
teve que se utilizar das formas de Estado que encontrou à época de seu nascimento. É o que se 
verifica, por exemplo, como resultado da revolução encabeçada por Oliver Cromwell, em meados 
do século XVII, a qual resultou na constituição da monarquia constitucional, vigente até hoje. A 
própria burguesia francesa passou por várias fases da sua revolução iniciada em 1789, indo da 
república até à monarquia napoleônica.
A forma democrática (tampouco a republicana) não foi a única forma de organização 
do Estado que a burguesia dominante estruturou para garantir seu domínio sobre as massas 
trabalhadoras. Recorreu às formas pré-existentes, adaptando-as naquilo que pôde e, lentamente, 
pela pressão da luta de classes, chegou à forma democrática durante alguns períodos. 
Contudo, mesmo tendo atingido essa forma, dependendo dos choques entre as potências 
econômicas próprias do período imperialista, em alguns lugares, abandonou a forma democrática 
e a substituiu pelo fascismo, nazismo e outras formas autoritárias de governo. É assim até hoje, 
quando encontramos diversas formas de organização estatal combinadas ou em substituição à 
organização democrática (HOBSBAWM, 2015).
Essencialmente, interessa enfatizar que a democracia consiste em apenas uma forma de o 
Estado se organizar, ao lado de outras formas possíveis. Essas formas são determinadas pela luta 
de classes e pelos choques econômicos entre os setores da grande burguesia.
As rápidas alternâncias de regime – Diretório (1795 – 1799), Consulado (1799 – 
1804), Império (1804 – 1814), a restaurada Monarquia Bourbon (1815 – 1830), a 
MonarquiaConstitucional (1830 – 1848), a República (1848 – 1851) e o Império 
(1852 – 1870) – foram todas tentativas para se manter uma sociedade burguesa, 
evitando ao mesmo tempo o duplo perigo da república democrática jacobina e 
do velho regime (HOBSBAWM, 2016).
Havia uma situação de instabilidade política, mas se mantinha o “duplo perigo” da 
“república democrática jacobina e do velho regime” fora do poder do Estado. Para isso, o exército 
teve um papel fundamental. “Ele conquistou; pagou-se a si mesmo; e, mais do que isto, suas 
pilhagens e conquistas resgataram o governo” (HOBSBAWM, 2016). Destacou-se o papel de 
Napoleão Bonaparte como o mais inteligente e capaz dos líderes do Exército.
6WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
De acordo com Hobsbawm (2010), nos períodos pós-revoluções inglesa e francesa, em 
que se verifica a consolidação do modo de produção capitalista, vai-se processando a formação 
do Estado moderno (burguês). Com isso, o próprio desenvolvimento capitalista vai, aos poucos, 
criando as novas classes trabalhadoras, as quais, do ponto de vista das classes dirigentes, foram se 
tornando, cada vez mais, um perigo à dominação de classe. 
[...] Elas [as novas classes trabalhadoras] eram, por definição, numerosas, 
ignorantes e perigosas; muito perigosas, precisamente por conta de sua ignorante 
tendência para acreditar em seus próprios olhos, dizendo-lhes que aqueles que 
os governam davam muito pouca atenção a suas misérias, e a simples lógica 
sugerindo-lhes que, como elas formavam a grande maioria do povo, o governo 
deveria basicamente servi-lhes em seus interesses (HOBSBAWM, 2010, p. 162).
Essa percepção das massas, de identificar e sugerir que o governo deveria atender a seus 
interesses, era uma constatação lógica dada a sua realidade e experiência, a ponto de as próprias 
classes dirigentes perceberem a possibilidade de essas novas classes influenciarem e se insurgirem 
na vida política. Tanto que, segundo Hobsbawm (2010), nos países mais desenvolvidos do 
Ocidente, fomentaram-se mecanismos que expandiram lenta e gradativamente a participação 
popular, ainda que de forma restrita, pois a forma típica da organização política era o governo 
apoiado na realização das assembleias eleitas por pequenos grupos, cujo critério de posse 
(propriedade privada dos meios de produção) determinava. Aqui, tratava-se do sufrágio restrito, 
o qual, ao longo do desenvolvimento do capitalismo e do próprio Estado burguês, tornar-se-á 
sufrágio universal.
Há uma questão relevante que reverbera nos processos políticos e expande a possibilidade 
de participação dos trabalhadores no governo, no sentido de que, segundo Engels (1989), “[...] as 
massas trabalhadoras aprendem com suas experiências fora e dentro das fábricas onde ocorre a 
exploração da força de trabalho”. Nesse sentido, conforme Hobsbawm (2010), para os setores da 
sociedade vistos como ignorantes, as revoluções de 1848 demonstraram na prática que seu alcance 
político poderia avançar e romper com alguns círculos governamentais até então impermeáveis à 
grande parte das reivindicações da classe operária.
[...] as revoluções de 1848 tinham mostrado como as massas podiam irromper no 
círculo fechado de seus governantes, e o progresso da sociedade industrial tornou 
a sua pressão constantemente maior mesmo em períodos não revolucionários 
(HOBSBAWM, 2010, p. 163). 
Mas não apenas os trabalhadores aprenderam com as revoluções e processos posteriores 
que vieram a desenvolver novas formas de governos. Para Hobsbawm (2010, p. 164), o próprio 
Napoleão III aprendeu e tirou vantagens com as revoluções de 1848. Aprendeu a ponto de 
reconhecer a importância da democracia com “[...] uma crença segura, talvez excessiva, na 
inevitabilidade das forças históricas tais como o nacionalismo e a democracia”. Mas isso não 
garante a democracia como forma única de governo. 
Ao contrário, o mesmo Napoleão III, eleito para Presidência em 1848 com esmagadora 
preferência dentre os eleitores, foi “[...] o primeiro dirigente de um grande país, com exceção dos 
Estados Unidos, a chegar ao poder pelo sufrágio (masculino) universal e nunca esqueceu dele” 
(HOBSBAWM, 2010, p. 165). Mas, em meados do século XIX, Napoleão III não precisou de 
novas eleições para ser eleito: aplicou um golpe de Estado, do qual resultou sua declaração como 
imperador. Ou seja, a forma de o Estado se organizar pode variar conforme as relações de luta de 
classes e, mesmo, conforme as relações internas à burguesia.
7WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A atitude de Napoleão III em relação à política eleitoral era ambígua e é isto que 
a faz interessante. Como ‘parlamentarista’, ele fez aquilo que era então o jogo 
normal da política, quer dizer, obteve a maioria suficiente de uma assembleia 
de indivíduos eleitos, agrupados em alianças frouxas e mutáveis, com etiquetas 
vagamente ideológicas, que não devem ser confundidas com os modernos 
partidos políticos. Portanto, políticos sobreviventes da Monarquia de julho (1830 
– 1848), como Adolphe Thiers (1797 – 1877), e futuros luminares da Terceira 
República, como Jules Favre (1809 – 1880), Jules Ferry (1832 – 1893) e Gambetta 
(1838 – 1882), recuperaram ou fizeram seus nomes na década de 1860. Ele não 
foi bem-sucedido nesse jogo, especialmente quando decidiu afrouxar o firme 
controle burocrático sobre as eleições e a imprensa (HOBSBAWM, 2010, p. 165).
Embora Napoleão III tenha sido vitorioso nas eleições que disputou, não havia organização 
de seus eleitores. Sobre isso, um dos aspectos que parece decisivo para o fracasso de Napoleão 
III foi a falta de um “movimento” que compusesse sua base social (eleitoral) organizada. Em 
que pese sua tentativa de agregar setores das classes trabalhadoras da cidade (inclusive com a 
tentativa de se aproximar de lideranças de esquerda, como ocorreu com o anarquista Pierre – 
Joseph Proudhon (1809 – 1865)) e mesmo tendo se “[...] esforçado seriamente para conciliar e 
domesticar o crescimento do movimento trabalhista na década de 1860 – tendo legalizado as 
greves de 1864” (HOBSBAWM, 2010, p. 166), tudo isso foi insuficiente para romper o vínculo do 
movimento trabalhista com a esquerda. 
Portanto, Napoleão III se apoiou em setores conservadores e no campesinato, os quais 
viam em Napoleão III “[...] um governo estável e antirrevolucionário, seguro contra as ameaças 
à propriedade” (HOBSBAWM, 2010). Num caso ou noutro, havia um interesse comum: um 
governo que assegurasse a propriedade privada dos meios de produção.
Aparentemente, pode ser estranho o fato de Napoleão III ter procurado lideranças de 
esquerda, e não Karl Marx ou outros que estavam exilados exatamente por se oporem ao regime 
político vigente à época. Mas do anarquismo, dirigentes “[...] como P. J. Proudhon fez com 
Napoleão III” (HOBSBAWM, 2010, p. 176). O “fez” se refere a uma posição política que, naquele 
contexto, aceitou a direção do Estado sob Napoleão III. Ressalte-se, ao mesmo tempo, que havia 
divergências e contraposições entre os setores dominantes: reacionários e conservadores, frente 
aos liberais/burgueses à consolidação do capitalismo. Por outro lado, havia aproximações entre 
lideranças, que iam do anarquismo até ao chefe do Estado burguês. Este último que, como já 
exposto, chega à Presidência via sufrágio ou se proclama imperador mediante golpe de Estado.
Nos apontamentos de Hobsbawm (2010), a partir da década de 1860, evidenciou-se o 
reaparecimento das classes trabalhadoras nos meios políticos, cuja pressão demonstrava que a 
burguesia não mais conseguiria mantê-las isoladas. Isso se explicitou, sobretudo, com o sufrágio 
universal, meio de participação popular que foi para além das fronteiras dos países que realizaram 
verdadeiras revoluções burguesas. 
As burguesias, por outro lado, escoavam-se na sua riqueza, na sua 
indisponibilidade e no destino históricoque fazia delas e de suas ideias as bases 
dos Estados ‘modernos’ desse período. Entretanto, o que as transformava em 
força, no interior dos sistemas políticos, era a habilidade para mobilizar o apoio 
dos não burgueses que possuíam número e, portanto, votos (HOBSBAWM, 
2010, p. 169).
Isso não nos autoriza a afirmar que a luta de classes fora interrompida. Houve um processo 
econômico e político de avanço das burguesias, inclusive, permitindo a participação de setores 
que não eram da classe dominante (mas, também, não eram precisamente da classe dominada). 
Eram setores concentrados na “[...] camada intermediária – pequenos comerciantes, artesãos, 
e outros ‘pequeno-burgueses’, proprietários camponeses etc.” (HOWBSBAWN, 2010, p. 168). 
8WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Para os trabalhadores de forma geral, embora a maioria não tivesse acesso à representação no 
Estado, pois sequer votavam, a sua pressão influenciava em maior ou menor medida. Não que 
isso determinasse uma nova direção do Estado burguês, mas as pressões, como elemento da luta 
de classes, foram ganhando corpo à medida que a própria experiência política foi escancarando a 
necessidade de organizações trabalhistas.
Com o acirramento da pressão advinda da classe operária, o impacto sobre a burguesia 
foi evidente, a ponto de ela buscar apoio para continuar a governar. 
Na França, a burguesia há muito já não consegue governar sozinha, ou mesmo 
sob a bandeira liberal, e seus candidatos buscavam apoio popular por meio 
de rótulos cada vez mais inflamados. ‘Reforma’ e ‘Progressista’ davam lugar a 
‘Republicano’ e este a ‘Radical’, e, na Terceira República, a ‘Radical-socialista’, cada 
qual ocultando uma nova geração dos mesmos bárbaros Sólons, de sobrecasaca, 
com línguas de ouro e frequentemente recheadas de ouro também, rapidamente 
mudando para posições moderadas depois de seus triunfos eleitorais com a 
esquerda (HOBSBAWM, 2010, p. 170). 
Participar da “direção” do Estado burguês era ilusório. E isso levou as correntes políticas 
de esquerda a saírem à força, a darem golpes de Estado ou, então, a se adaptarem à própria ordem 
burguesa. Dessa forma, a esquerda francesa de radical se tornou moderada. Isso ocorreu na 
França, na década de 1860, o que se justifica, segundo Hobsbawm (2010), vez que os radicais 
não tinham força política frente aos liberais, já que os dirigentes do Estado, desde 1850, eram 
predominantemente liberais. Justificável também, porque, no contexto político de meados do 
século XIX e posterior, alguns setores dos liberais faziam parte da esquerda, sob o prisma de se 
oporem à forma de organização política e da propriedade no feudalismo.
Não há dúvidas de que a maioria dos camponeses na maior parte da Europa 
ainda era tradicionalistas, pronto para apoiar a Igreja, o rei ou o imperador e seus 
superiores hierárquicos de forma automática, especialmente contra os malignos 
desígnios dos homens da cidade (HOBSBAWM, 2010, p. 175). 
A relação entre setores mais reacionários como a Igreja (sobretudo a Católica) apoiando 
“partidos conservadores e reacionários” obtinha forte influência sobre o campesinato, que se 
destacava sob a defesa de ser “[...] contra o socialismo e a revolução, a Igreja apoiava qualquer 
coisa” (HOBSBAWM, 2016, p.146). 
Evidentemente, a partir da década de 1860, os “homens da cidade” contemplavam desde 
setores da pequena burguesia e até da burguesia dirigente do Estado. Mas divergência maior se 
identificava com os setores das massas trabalhadoras urbanas, surgindo e expandindo a partir 
das duas últimas décadas de industrialização, em especial, o proletariado, que foi desenvolvendo 
organizações – a exemplo de sindicatos e partidos – com uma política combatente frente aos 
interesses reacionários e conservadores de parte da Europa tradicionalista. O fato de os 
camponeses, mesmo em países avançados industrialmente como Inglaterra e França, constituírem-
se quantitativamente em parte significativa da população, comparada com a população em geral, 
refletiu na política, pois a evolução do sufrágio restrito para o sufrágio universal, que ocorreu 
lenta e gradativamente, contemplou os camponeses.
9WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1.1 Os Movimentos Sociais Impulsionam o Sufrágio Universal 
para Democratizar o Estado Burguês
Estamos partindo da análise da democracia como forma de Estado, em seu 
desenvolvimento do ponto de vista histórico, considerando-a a partir do que Hobsbawm (2016) 
chamou de dupla revolução: revolução inglesa (industrial) e francesa (política). Tais revoluções 
demarcaram o “triunfo do capitalismo liberal burguês”. No contexto político e econômico inglês, 
do final do século XVIII a meados do século XIX, “a política já estava engatada ao lucro”. Isso 
porque a Inglaterra, naquele momento, já havia conquistado maior desenvolvimento das relações 
capitalistas de produção com a formação da grande indústria. Nesse sentido, “[...] o dinheiro não 
só falava como governava” (HOBSBAWM, 2016, p. 64).
A burguesia industrial não apenas havia penetrado nas instituições estatais, como já 
tinha os governantes subordinados à sua política. Do ponto de vista dos trabalhadores e da 
pequena burguesia, agora não somente na Inglaterra, mas também (pelo menos) na França e nos 
Estados Unidos da América, já havia formação de grupos oposicionistas ao Estado. Esses grupos 
desenvolviam uma política de acordo com os interesses da grande burguesia, o que gerava ainda 
mais conflitos entre os trabalhadores e a pequena burguesia.
Os trabalhadores e a queixosa pequena burguesia, prestes a desabar no 
abismo dos destituídos de propriedade, partilhavam, portanto, dos mesmos 
descontentamentos. Estes descontentamentos por sua vez uniam-nos nos 
movimentos de massa do ‘radicalismo’, da ‘democracia’ ou da ‘república’, cujos 
exemplares mais formidáveis, entre 1815 e 1848, foram os radicais britânicos, os 
republicanos franceses e os democratas jacksonianos americanos (HOBSBAWM, 
2016, p. 76).
Essa união estava vinculada ao processo do desenvolvimento econômico a cujos benefícios 
a pequena burguesia não tinha acesso. Mas pior ainda era a situação dos trabalhadores. 
Para nos centrarmos em nosso objetivo (qual seja, a ampliação da democracia), 
interessam-nos alguns aspectos que decorreram da Revolução Francesa. “[...] a revolução na 
França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a maior 
parte do mundo” (HOBSBAWM, 2016, p. 98). Contudo, as diferenças políticas e econômicas 
entre França e Inglaterra não podem ser tomadas ao ponto de se colocar aquela como centro das 
organizações políticas (inclusive burguesas) e esta como o centro de produção de mercadorias 
apenas. Na França, houve um desenvolvimento técnico e científico cuja base material dava-se 
no desenvolvimento do capitalismo, sobretudo da burguesia industrial, ainda que concentrado 
nas grandes cidades, principalmente em Paris. Dessa forma, já havia desenvolvimento das 
organizações políticas. 
Por outro lado, apenas o contexto político francês produziu uma quantidade de agitações 
em nível mundial, que outros países não provocaram. Daí advém a afirmação: “[...] a Revolução 
Francesa é um marco em todos os países” (HOBSBAWM, 2016, p.100). Ela influenciou os levantes 
que levaram à libertação de países da América Latina, dentre outros movimentos em países de 
vários outros continentes. 
10WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A ampliação da democracia pode ser observada na lenta e gradativa expansão do sufrágio 
universal, que aparece em 1791 na França, a qual Hobsbawm (2016) atestou ser a primeira 
Constituição genuinamente democrática proclamada por um Estado moderno (burguês). O 
seu conteúdo era de abolição dos direitos feudais, aplicação de uma política que beneficiasseos 
pequenos compradores de terras, abolição da escravidão nas colônias francesas etc. Vale notar 
dois importantes elementos. Essa Constituição é resultado de um processo revolucionário – no 
sentido de ter ocorrido a transição do modo de produção feudal para o capitalista – que ocorreu 
na França, pois representa a conformação do ordenamento burguês, que surge e avança para se 
tornar, nas décadas posteriores, a classe dominante. Com relação à abolição da servidão, essa era 
uma necessidade para o desenvolvimento e consolidação do modo de produção capitalista, além 
do estímulo à expansão do trabalho assalariado. 
Na década de 1860, o sufrágio universal já não era prerrogativa de regimes surgidos de 
revoluções burguesas (França, Inglaterra etc.). A proporção de eleitores, comparada à população 
em geral, aumentava, mas ainda era minoria frente à população em geral.
O Second Reform Act na Inglaterra mesmo duplicando o número de eleitores, 
ainda os deixava com 8% da população, enquanto no recém-unificado Reino 
da Itália era apenas 1% (Nesse período, no mundo, o voto poderia conferir 
direitos a 20% ou 25% da população, a julgar pelas eleições francesas, alemães e 
americanas, e outras da década de 1870) (HOBSBAWM, 2010, p. 168).
O voto era direito de proprietários do sexo masculino. Portanto, quem tinha acesso 
a chegar ao poder do Estado eram a burguesia ou os camponeses proprietários. Com isso, os 
dirigentes do Estado eram da burguesia e, portanto, representavam suas ideias e implementavam 
políticas de acordo com seus interesses. Entre os eleitores, estavam os pequenos comerciantes, 
artesãos, pequenos burgueses e proprietários camponeses. O fato de haver vários representantes 
das frações burguesas e a perspectiva de ampliação do voto refletem a necessidade de a burguesia 
se articular com as frações de sua própria classe e com os camponeses, além de com setores 
do proletariado que vinham aumentando quantitativamente em virtude da expansão crescente 
da industrialização. Por mais que alguns setores da pequena burguesia, dos camponeses e dos 
artesãos não tivessem capacidade de dirigir o Estado, eles votavam. E é esse o interesse maior dos 
grupos burgueses dirigentes do Estado. 
Segundo Hobsbawm (2016), ainda que lenta e gradativamente, a democracia foi se 
ampliando a partir de 1870. “[...] as massas marchariam para o palco da política, quer isso 
agradasse ou não aos governantes [...]” (HOBSBAWM, 2016, p. 137) em países como a França, 
Suíça e Dinamarca. Na Inglaterra, o eleitorado quase quadruplicou “[...] com as leis de Reforma 
de 1867 e 1883, o que elevou de 8% a 29% para os homens de mais de 20 anos” (HOBSBAWM, 
2016, p. 137). A Bélgica democratizou esses direitos em 1894, após uma greve geral, que aumentou 
de 3,9% para 37,3%, para a população adulta. A Noruega dobrou essas cifras em 1898, partindo 
de 16,6%, chegando a 34,8%. Na Finlândia, houve uma democracia extensiva única, alcançando 
76% de adultos. Na Suécia, o eleitorado dobrou em 1908, atingindo o nível da Noruega. Fora da 
Europa, países como os EUA, Austrália do Sul e Nova Zelândia já eram democráticos no sentido 
do avanço na constituição de seus eleitorados. É importante ressaltar que são dados dos países à 
época, dentre os mais próximos de contemplarem o sufrágio universal. 
[...] essa democratização ainda era incompleta – o eleitorado comum, sob o 
sufrágio universal, era de 30% a 40% da população adulta – mas deve-se notar 
que até o voto feminino já era mais um utópico slogan (HOBSBAWM, 2016, p. 
138, grifo do autor).
11WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
No que tange à expansão da democratização via ampliação do eleitorado, lembra 
Hobsbawm (2016), uma das influências foi a Revolução Russa de 1905, movimento espontâneo, 
antigovernamental, que se espalhou por todo o  Império Russo, aparentemente sem liderança, 
direção, controle ou objetivos muito precisos. Geralmente, é considerada o marco inicial das 
mudanças sociais que culminaram com a Revolução de 1917. 
A Revolução Russa de 1905 acelerou processos e organizações operárias com inspirações 
revolucionárias por todo o mundo. Tal aceleração provocou na burguesia a necessidade do 
controle de seus governos e Estados para ampliar suas bases de influência e repressão sobre os 
trabalhadores. 
Esse panorama acerca da democratização via expansão do sufrágio universal teve influência 
sobre as classes dominantes, à medida que o acirramento da luta de classes as colocou, ainda que 
estivessem no poder, em uma situação de renderem-se a exigências das classes dominadas. 
A nova situação política desenvolveu-se passo a passo, e irregularmente, 
dependendo da história interna dos diversos Estados. Isso dificulta e quase 
inutiliza uma avaliação corporativa da política de 1870 – 1890. Foi a súbita 
emergência internacional dos movimentos operários de massa e dos movimentos 
socialistas, durante e após 1880 que parece ter colocado numerosos governos 
e classes dominantes em dificuldade essencialmente semelhantes, conquanto 
retrospectivamente seja possível conceber que não foram estes os únicos 
movimentos de massas a dar dores de cabeça aos governantes (HOBSBAWM, 
2016, p. 155).
Por meio da análise de dados retirados das obras de Hobsbawm, evidenciou-se a lenta e 
gradativa ampliação do sufrágio universal. Ademais, o processo de democratização possibilitou 
conquistar direitos sociais, civis e políticos, contemplados sob a forma de governo democrático. 
Porém, mesmo com a ampliação do eleitorado, a burguesia é quem continua sendo a classe à 
qual o Estado está subordinado. Por outro lado, nota-se que esses processos de democratização 
influenciaram as massas trabalhadoras a conquistarem direitos sociais, civis e políticos, 
contemplados sob a forma de governo democrático.
1.2 O Debate: da Perspectiva Revolucionária à Crítica ao Re-
formismo no Seio do Movimento Operário 
A partir da década de 1860, no movimento operário, começam a se destacar organizações 
trabalhistas – os sindicatos. Sobretudo na Inglaterra, avançava sua influência com trabalhadores 
de outros países. 
Somente na Inglaterra, na Austrália e – curiosamente – nos Estados Unidos, 
os sindicatos de trabalhadores tinham significado real, sendo que nos dois 
últimos casos geralmente chegavam na bagagem dos imigrantes ingleses com 
organização e consciência de classe (HOBSBAWM, 2010, p. 177). 
O peso do operariado inglês se justifica pela própria história da Revolução Industrial, 
que impulsionou e desenvolveu formas de organização em prol dos interesses dos trabalhadores. 
Na Inglaterra, o movimento sindical era atravessado por disputas internas entre as correntes 
reformistas, anarquistas etc. Mas, no seu desenvolvimento, havia uma perspectiva, segundo 
Hobsbawm (2012), socialista e revolucionária explicitada nas décadas seguintes.
12WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Outra organização resultante de processos políticos (gestada desde as experiências das 
revoluções de 1848, em um contexto em que os movimentos em prol dos interesses gerais das 
massas trabalhadoras concentravam vários segmentos identificados como radical, democrático, 
anárquico etc.) que contavam com disseminação e influência internacional foi a Associação 
Internacional dos Trabalhadores, criada em 1864 – “[...] a Primeira Internacional de Karl Marx 
(1864 – 1872)” (HOBSBAWM, 2010, p. 178). A primeira internacional já havia sido criada 
antes de chegar a Marx. Na sua composição inicial, havia correntes políticas diversas as quais, 
curiosamente, continham uma combinação de lideranças sindicalistas inglesas insulares e 
liberal-radicais, misturadas ideologicamente com militantes sindicalistas franceses bem mais 
esquerdistas. Essa diversidade de correntes provocou várias divergências internas à própria 
internacional. Mas, no final, de acordo com Hobsbawm (2010), a posição deMarx venceria, 
frente à posição de anarquistas como Proudhon e Mikhail Bakunin. 
Contudo, Marx não conseguiu manter o controle da Internacional, o que se evidenciou 
no início da década de 1870. A internacional, que era a base da organização dos trabalhadores 
em nível internacional, foi se desintegrando, embora as posições de Marx acerca da necessidade 
de um programa revolucionário – explicitado, inicialmente, no Manifesto do Partido Comunista, 
desde 1848 – tenham permanecido influentes.
A primeira internacional é muito mais do que podemos expor aqui. Cabe ressaltar seu 
caráter internacionalista e radical dado (não só) por Marx, que foi manifestação do próprio 
acirramento da luta de classes, com resultados importantes para o movimento operário 
internacional desde, pelo menos, o pós-1860.
Daquele momento em diante, os movimentos da massa trabalhadora se tornariam 
organizados, independentes, políticos e socialistas. A influência da esquerda 
socialista pré-marxista havia sido quebrada e em consequência, a estrutura da 
política seria constantemente modificada (HOBSBAWM, 2010, p. 186).
As modificações não explicitaram até o final da década de 1880, quando já se formava a 
Segunda Internacional (1889 – 1916), conhecida também por Internacional Socialista ou, ainda, 
Internacional Operária, criada, principalmente, pela iniciativa de Engels. A referida internacional 
“[...] renasceria como uma frente de partidos de massa, em grande parte marxista” (HOBSBAWN, 
2010, p.186).
Desde 1871, a Associação Internacional de Trabalhadores recomendou a criação de 
partidos políticos nos países avançados industrialmente. Na Alemanha, já havia dois partidos: 
“[...] União Geral dos Trabalhadores, fundada por Lassalle, e o Partido Trabalhista Social-
Democrático, liderado por August Betel e Wilhelm Liebknecht” (ABENDROTH, 1977, p. 45). 
Esses avançavam sua influência sob uma fração das massas trabalhadoras alemãs. Fato constatado 
a partir das poucas porcentagens de votos que teve nas eleições para o Parlamento em 1874, 
(3%) atingindo um percentual maior posterior à unificação destes partidos em 1875 – “Partido 
Socialista de Trabalhadores” –, chegando a 9% dos votos gerais obtidos para o parlamento em 
1877.
De acordo com Abendroth (1977, p. 46), “[...] o partido se identificou sobre a base de um 
raciocínio marxista simplificado”. Do ponto de vista da política do partido, que se expressava em 
jornais, por exemplo, estavam sob a responsabilidade de Eduard Bernstein (1850 – 1932) e de 
Karl Kautsky (1854 – 1938). O partido ia se tornando simpático, não exatamente à classe operária, 
mas às camadas da sociedade alemã que, à época, poderiam ser identificadas como pequena 
burguesia. O fato de ser o único partido a defender o direito da mulher, mesmo em matéria de 
direito eleitoral, tornava-o simpático às minorias críticas das camadas intelectualizadas. Por parte 
do governo do Reich, isso resultou em medidas políticas que não ultrapassaram a instituição do 
seguro-desemprego, o seguro-acidentes e o seguro-doença, sem que, contudo, o efeito pretendido 
13WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
se fizesse sentir. Nesse sentido, houve uma simplificação do marxismo, doutrina que defende a 
destruição do Estado burguês, e não a conquista do Estado para reformá-lo.
No contexto da socialdemocracia alemã, a estratégia de seu partido estava direcionada 
a organizar os trabalhadores para a luta via parlamento, com a expectativa de que a pressão dos 
trabalhadores seria suficiente para o governo responder suas reivindicações. Consequentemente, 
isso resultaria em melhores condições de trabalho e de vida às massas. À medida que o capitalismo 
se desenvolveu, de fato, avançou-se em alguns aspectos que influenciam a vida dos trabalhadores, 
condições de trabalho, transporte, moradia etc.
O que importa é o método de luta que orientava os trabalhadores que negavam a violência 
organizada necessária à luta de classes, limitando-se a uma ação pacífica. Logo, direcionada a 
concentrar a luta no parlamento como a arena da política do proletariado.
Esse êxito só se tornou possível, porque o partido, de um lado, se mostrou 
fiel à sua meta da democracia política e da sociedade econômica socialista, 
bem como da transferência gradativa dos principais meios de produção da 
coletividade. De outro lado, aproveitaria, coerentemente, todas as chances 
legais de luta, tendo aprendido a resistir a qualquer tentação de realizar atos 
de violência e a utilizar o Parlamento como tribuna das discussões políticas, 
as eleições políticas como medida de sua influência, as lutas eleitorais como 
meio de propaganda. Assegurava, assim, a possibilidade de uma atuação legal 
às organizações sindicais, ao contrário das associações sindicais liberais de 
Hirsch-Duncker, que tinham a greve como recurso principal a luta de classes 
(ABENDROTH, 1977, p. 46, grifo do autor). 
A questão não é estender a greve promovida pelo movimento sindical como elemento 
central tático de um partido, mas negar o papel da violência – não confundir com atos terroristas 
– na luta de classes e orientar para ação organizada, em que o Parlamento é o espaço de lutas 
mediante as representações eleitas. Isso reflete a perspectiva pacífica numa estratégia em que a 
reforma é a grande salvação para os explorados e oprimidos. Se se quer destacar a conjugação do 
que se passou nos países europeus centrais de uma política, tendo o Parlamento como espaço de 
denúncia por parte dos trabalhadores, sem transformá-lo no espaço onde as massas trabalhadoras 
terão seus interesses respondidos.
Segundo Abendroth (1977), a exemplo da Alemanha, mas com particularidades nacionais, 
a socialdemocracia austríaca também constituiu seus partidos com grupos que se intitulavam 
moderados e radicais. No segundo caso, era representado por Joseph Peukert, sob influência 
anarquista, cujos “[...] métodos [...] minaram a sua unidade e aniquilaram a influência socialista 
sobre o movimento trabalhista austríaco” (ABENDROTH, 1977, p. 47).
Na França, o movimento operário teve que se reorganizar após a derrota da Comuna de 
Paris em 1871, superando o banho de sangue provocado pela burguesia vitoriosa. Mas não só 
isso. Mesmo nos anos posteriores, “[...] os principais líderes trabalhistas haviam sido assassinados 
ou aprisionados ou tiveram que emigrar” (ABENDROTH, 1977, p. 48). Apenas no período pós 
1879, com a anistia, foi possível às lideranças e aos trabalhadores reorganizar o movimento 
operário francês, com destaque para a Federação do Partido dos Trabalhadores Socialistas.
Duas personalidades importantes do movimento operário, Eduard Bernstein e Karl 
Kautsky, influenciaram o movimento operário além das fronteiras alemãs. 
Segundo Rosa Luxemburgo (reconhecida internacionalmente pelo movimento operário 
pela militância revolucionária à Social-Democracia da Polônia (SDKP), ao Partido Social-
Democrata da Alemanha (SPD) e ao Partido Social-Democrata Independente da Alemanha 
(USPD)), os equívocos de Bernstein podem ser localizados em vários momentos, mas, em 
especial, quando ele rejeita a destruição do capitalismo, esvaindo-se para a teoria da adaptação 
ao capitalismo, devido a alterações que o grau de desenvolvimento provocaria. Nesse sentido, 
Rosa lembra de Conrad Schmidt, que detalha as formulações de Bernstein.
14WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
[...] a luta sindical e a luta política pelas reformas trarão um controle social cada 
vez mais vasto das condições de produção e, ‘por meio da legislação, rebaixarão 
cada vez mais o proprietário capitalista, com a diminuição de seus direitos, ao 
papel de simples administrador’, até que, finalmente, em um belo dia, a direção e 
administração da exploração sejam tiradas das mãos do capitalista, domesticado 
ao ver a sua propriedade ir perdendo cada vez mais qualquer valor para ele 
próprio(LUXEMBURGO, 2015, p. 43).
Portanto, o caráter da reforma expressa a perspectiva pacífica frente à necessidade de 
direcionar a luta das massas trabalhadoras para arrancar-lhes a propriedade privada capitalista. 
Somando o papel destinado aos sindicatos às reformas sociais, a democratização política do 
Estado será “[...] os meios de realização progressiva do socialismo” (LUXEMBURGO, 2015, p. 
44). 
As reformas e a democratização do Estado, ambas propostas por Bernstein, revelam um 
rebaixamento na compreensão de que o capitalismo tem o controle e define até que ponto as 
reformas podem ir. Outro ponto é com relação ao Estado, negando seu caráter de classe.
Salta aos olhos a mistificação. Precisamente, o Estado atual não é uma ‘sociedade’ 
no sentido da ‘classe operária ascendente’, mas o representante da sociedade 
capitalista, isto é, um Estado de classe. Eis porque a reforma por ele mesmo 
praticada não é uma aplicação do ‘controle social’, isto é, do controle da sociedade 
trabalhando livremente no seu próprio processo de trabalho, mas o controle da 
organização da classe do capital sobre o processo de produção do capital. É nisso, 
igualmente, isto é, no interesse do capital que as reformas acham seus limites 
naturais (LUXEMBURGO, 2015, p. 48).
O Estado é o representante dos interesses da burguesia, como ele poderia legislar ao 
contrário dos interesses à classe a quem ele serve, como e onde caberia uma legislação trabalhista 
que servisse para o “controle social”, senão dos capitalistas sobre os trabalhadores. Nesse sentido, 
a legislação operária, sendo resultado de interesses da burguesia, mas também da sociedade em 
geral, pode até constituir em uma perspectiva harmônica, “[...] mas essa harmonia não dura senão 
até certo ponto do desenvolvimento capitalista” (LUXEMBURGO, 2015, p. 54). A burguesia, 
em períodos em que a acumulação de riquezas se encontra em escala crescente, pode tolerar e 
conceder reformas que incidem sobre a melhor qualidade de vida das massas trabalhadoras. Nas 
condições de crise e recessão, frente às reivindicações dos trabalhadores, a burguesia e seu Estado 
lhes oferecem mais repressão e exploração.
Segundo Luxemburgo (2015), caso os interesses do Estado colidam com o modo de 
produção capitalista, isso se deverá à ordem do próprio desenvolvimento econômico que 
extrapola fronteiras nacionais, seja pelo acirramento da luta de classes seja por choques internos 
às burguesias que compõem a classe dominante. Frente a isso, nota-se um Estado cujas funções, 
frente ao papel de defender a propriedade privada capitalista, explicitará e aprofundará a medida 
do acirramento da luta de classes, ampliando, também, a repressão sobre as organizações dos 
trabalhadores.
Mais uma vez, os equívocos de Bernstein são alvo de críticas de Luxemburgo (2015). 
A extensão da democracia, em que Bernstein vê igualmente o meio da realização 
do socialismo por etapas, não contradiz esta transformação da natureza do 
Estado, mas ao contrário, corresponde-lhe inteiramente (LUXEMBURGO, 2015, 
p. 58). 
15WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Os espaços de democracia burguesa, como o parlamento, estão tomados pelos interesses 
da classe dominante. Afirmações como essa dizem respeito tanto à forma como ao conteúdo 
da democracia. “São as instituições democráticas, nessa sociedade, pela forma e pelo conteúdo, 
simples instrumentos dos interesses da classe dominante” (LUXEMBURGO, 2015, p. 59).
Para Luxemburgo (2015), na história do surgimento da sociedade burguesa, a reforma 
legal foi necessária ao desenvolvimento e à consolidação da burguesia como classe dominante. 
Assim sendo, há períodos em que a reforma e a revolução podem estar postas às classes 
trabalhadoras, mas não no sentido de elas escolherem o que é melhor ou pior, mas dadas as 
condições de desenvolvimento das relações de produção capitalistas nas quais se expressa a luta 
de classes. O que importa diferenciar é que a revolução social tem o objetivo de instaurar uma 
nova sociedade; já as reformas objetivam alterações superficiais no capitalismo.
Assim, partindo das concepções políticas do revisionismo, a conclusão é a 
mesma a que se chegou tendo partido de suas teorias econômicas, isto é, que 
no fundo, não tendem elas à realização da ordem socialista, mas unicamente à 
reforma da ordem capitalista, não à supressão do assalariado, mas à diminuição 
da exploração, em suma, a supressão dos abusos do capitalismo e não do próprio 
capitalismo (LUXEMBURGO, 2015, p. 102).
A partir dessas exposições de Luxemburgo (2015), notam-se divergências entre 
formulações que incidem em posições políticas no movimento operário internacional, no qual 
as críticas em oposição ao revisionismo de Bernstein constituem-se na vertente do reformismo, 
sobretudo durante e a partir da Segunda Internacional. Mas ele não era o único. Pelo contrário, 
ele foi um expoente e se destacou por sua influência no movimento operário. Outro destacado 
dirigente igualmente muito criticado, não mais por Rosa, mas por Lênin (1980), foi Kautsky, “[...] 
a maior autoridade da II Internacional foi também responsável pela deturpação do marxismo” 
(LÊNIN, 1980, p.5).
Lênin (1980) atribui a Kautsky o equívoco ao se tratar da ditadura do proletariado, voltando 
ao século XVIII, com o objetivo de analisar a democracia burguesa com relação ao absolutismo, 
e dando as costas ao século XX. O que estava posto no século XX é a “[...] questão da relação do 
Estado proletário com o Estado burguês, da democracia proletária com a democracia burguesa” 
(LÊNIN, 1980, p. 7). É precisamente nisso que Kaustsky se perde: ao falar em democracia, refere-
se ao plano geral, e não à democracia burguesa nas condições do século XX. 
À medida que Lênin (1980) vai desenvolvendo suas críticas direcionadas a Kaustsky, 
evidenciou divergências que tiveram influência no proletariado. 
Se Kaustsky consagra até dezenas de páginas a ‘demonstrar’ a verdade de que 
a democracia burguesa é progressiva em comparação com a Idade Média e 
de que o proletariado deve obrigatoriamente utilizá-la na sua luta contra a 
burguesia, isto é precisamente charlatanice de liberal, destinada a enganar os 
operários (LÊNIN, 1980, p. 15, grifo do autor).
O problema se localiza em alimentar esperanças no proletariado, com sua inserção nas 
instituições do Estado, diluindo o conteúdo da democracia, como se ela fosse “pura”, ou seja, 
desconsiderando seu caráter de classe. Tão logo no Estado burguês a democracia será restrita, 
pois capitalismo, pela sua própria natureza, concentra a riqueza e o poder político nas mãos de 
poucos. Frente a isso, a democracia representará essa pequena quantidade de pessoas. A exemplo: 
as eleições são formas democráticas de manifestação da sociedade em geral, em que, por meio 
do voto, elegem-se seus representantes no Estado; contudo, isso em nada garante que os eleitos 
governarão para a maioria, para quem os elegeu.
16WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A democracia, como forma de organização do Estado, estará vinculada à classe dominante 
de cada época. Esse é o sentido da formulação marxista de que a república democrática é a 
melhor crosta possível do capitalismo. Isso porque, no capitalismo, especialmente em sua fase 
imperialista, a democracia “[...] firmou seu poder de maneira tão sólida, tão segura, que nenhuma 
mudança, de pessoas, instituições ou partidos, na república democrática burguesa, é suscetível 
de abalar esse poder” (LÊNIN, 2007, p. 33). Isso não exclui o fato de a democracia conviver com 
outras formas de organização do Estado. 
Com isso, Lênin (2007, p. 34) explicita a democracia como forma de Estado burguês, 
a qual tem vários “instrumentos” e meios para manter seu domínio. Um deles é abordado por 
Engels, citado por Lênin (2007), “[...] o sufrágio universal de forma categórica: um instrumento 
de dominação da burguesia”.Contudo a democracia, enquanto categoria política, também é 
percebida como forma política do estado transitório após a tomada do poder pelo proletariado. A 
democracia operária é, fundamentalmente, diferente da democracia burguesa, embora o referido 
autor deixe claro o seu limite. A democracia proletária é apenas a forma política da ditadura do 
proletariado, etapa transitória até à completa extinção das classes e do Estado, portanto, também 
da democracia.
Há algumas análises de Marx e Engels com relação à democracia proletária, enquanto 
classe dominante, o que contribui para a conformação da ditadura do proletariado. Sob esse 
aspecto,
[...] o proletariado aproveitará a sua supremacia política para arrancar, pouco 
a pouco, todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos 
de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe 
dominante, e para aumentar o mais rápido possível a quantidade das forças 
produtoras (LÊNIN, 2007, p. 44). 
Assim como Marx e Engels, Lênin (2007) vai além da defesa da democracia, pois o que 
está abordando é a ditadura do proletariado. Dessa forma, o referido dirigente revolucionário 
classifica o marxismo como sendo “[...] aquele que estende o reconhecimento da luta de classes 
ao reconhecimento da ditadura do proletariado” (LÊNIN, 2007, p. 55), ficando explícito que a 
ditadura proletária vai além da democracia. Vale notar que a ditadura do proletariado significa 
“[...] um Estado democrático (para os proletários e os não possuidores em geral) inovador e um 
Estado ditatorial (contra a burguesia) igualmente inovador” (LÊNIN, 2007, p. 55).
Assista ao vídeo disponível em 
https://www.youtube.com/watch?v=PFAC9CgfSIc.
17WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O Estado sob o controle da classe operária, agora como classe dominante, passa a 
adotar medidas realmente democráticas. Para expor com exemplos, Lênin (2007) 
lembra de medidas tomadas pela Comuna de Paris, analisadas por Marx. Algumas 
delas são: “[...] supressão dos privilégios pecuniários dos funcionários, redução 
de ‘todos’ os ordenamentos administrativos ao nível do salário operário” (LÊNIN, 
2007, p. 64). Essas medidas expressaram a possibilidade de uma transição de um 
Estado democrático burguês para um Estado sob direção do proletariado, cuja 
democracia justifica-se exatamente pelo fato de o proletariado ter em suas mãos 
a capacidade de dirigir suas organizações etc., e não se subordinar a organizações 
que estão sob a direção da burguesia. É precisamente nesse sentido que a 
democracia operária é um elemento que compõe a ditadura do proletariado. 
Verifica-se outro exemplo de medidas democráticas quando Lênin (2007) ressalta 
uma das análises de Engels sobre a Comuna.
Ela [a Comuna de Paris] submeteu todos os cargos - na 
administração, na justiça e no ensino – à escolha, dos 
interessados, por eleições, por sufrágio universal. Depois 
retribuiu esses serviços, superiores e inferiores, com um 
salário igual ao que recebem os outros trabalhadores 
(ENGELS apud LÊNIN, 2007, p. 96). 
Mais uma vez, a Comuna de Paris é objeto de análise de um evento que apresentou 
alternativas significativas do ponto de vista da democracia operária. Porém, a 
democracia tem data de validade, assim como o Estado. Se “o Estado”, como afirma 
Lênin (2007), de acordo com Engels, “[...] não é outra coisa senão uma máquina 
de opressão de uma classe por outra, e isso tanto numa república democrática 
quanto numa monarquia” (LÊNIN, 2007, p. 98), cabe ao proletariado ir para além 
da democracia, enquanto movimento de tomada e destruição do Estado burguês, 
para instaurar a ditadura do proletariado conformada no Estado operário. 
Recomenda-se a leitura das seguintes obras:
- HOBSBAWM, J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. 2. ed. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2015. 
- HOBSBAWM, J. A era das revoluções. 37. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016.
18WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Nota-se que ao longo das análises realizadas por Lênin (2007), a democracia é 
sempre vista como uma das formas de Estado. Como a proposta é clara, tomar 
o Estado burguês e destruí-lo; assim, construir o Estado Operário, em uma 
perspectiva de colocá-lo em condições de definhamento. Logo, a democracia 
tem validade, tendo a sua duração enquanto existir Estado. Isso fica explícito 
quando Lênin (2007), pautado nas análises de Engels, afirma que “[...] esquece-se 
de que a supressão do Estado é igualmente a supressão da democracia e que o 
definhamento do Estado é o definhamento da democracia” (LÊNIN, 2007, p. 100). 
Esse processo de destruição e definhamento do Estado terá como consequência 
a eliminação das classes sociais que são fundadas na propriedade privada dos 
meios de produção capitalista, eliminação da opressão de uma classe sobre a 
outra, da exploração do homem pelo próprio homem etc. Por esses e tantos outros 
motivos, a democracia, mesmo com conteúdo da classe operária, mais depressa, 
tornar-se-á supérflua e, por isso, desaparecerá.
Evidentemente, o debate acerca das críticas às reformas e à democracia como 
meio para o socialismo vai além. O período caracterizado como stalinismo teve 
outra importante influência e se destacou pela postulação do socialismo em um 
só país refletindo numa posição pacífica.
19WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 1
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível inferir que, ao longo do desenvolvimento do Estado burguês, a democracia 
constituiu uma das formas de organização das instituições estatais, como o parlamento, viável 
para assegurar a grande propriedade privada capitalista.
A partir de meados do século XIX, o Estado, em sua forma democrática, constituiu-
se como resultado das lutas de classes e de choques internos à burguesia. A luta pelo sufrágio 
universal demonstrou às massas trabalhadoras, ao longo do século XIX, sua importância à medida 
que permitiu aos trabalhadores perceber o caráter de classe do Estado quando em confronto, 
defendendo-se os direitos trabalhistas.
A própria experiência histórica do movimento operário explicitou a inviabilidade 
para atingir seu objetivo, que foi sendo colocado pelo movimento operário internacional, não 
mais apenas de direitos trabalhistas, mas da destruição da própria ordem burguesa e, com 
ela, a exploração da força de trabalho das classes sociais e da propriedade privada dos meios 
de produção. Evidenciou-se que o “governo do povo”, eleito pelo sufrágio, na prática, serve a 
interesses muitos específicos: os da burguesia.
 A partir desse momento, não era colocada apenas a forma democrática que o Estado 
burguês deveria assumir, mas sua própria sobrevivência como instituição a serviço do capitalismo. 
Essa orientação política foi sendo difundida pelo movimento operário internacional ao longo 
do século XIX. No entanto, por volta de 1890, houve uma orientação contrária à destruição do 
capitalismo e, com ele, seu Estado na forma democrática burguesa. Uma orientação de promover 
reformas para, supostamente, destruir o Estado no futuro. Essa corrente foi denominada 
reformismo, duramente combatida pelos marxistas, em virtude da inviabilidade de se reformar 
o capitalismo.
2020WWW.UNINGA.BR
U N I D A D E
02
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
1. AS CLASSES SOCIAIS DISPUTAM OS ESPAÇOS POLÍTICOS NO ESTADO .........................................................5
1.1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS IMPULSIONAM O SUFRÁGIO UNIVERSAL PARA DEMOCRATIZAR O ESTADO 
BURGUÊS ......................................................................................................................................................................9
1.2 O DEBATE:DA PERSPECTIVA REVOLUCIONÁRIA À CRÍTICA AO REFORMISMO NO SEIO DO MOVIMENTO 
OPERÁRIO ................................................................................................................................................................... 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 19
DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA, CLASSES TRABALHADORAS 
E AS IMPLICAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS 
SOCIAIS NO BRASIL A PARTIR DO SÉCULO XX
PROF. ME. LOURIVAL SOUZA FELIX
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS
21WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Durante o período compreendido entre o fim do século XIX e início do XX, ocorreu a 
transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista. É nesse último que se 
colocam, de forma mais acentuada, as contradições do capitalismo que norteiam a exploração 
da classe trabalhadora. “Essa nova organização do capitalismo em monopólios permite o 
acréscimo dos lucros do capital através do controle dos mercados” (NETTO, 2011, p. 20). Existe, 
nesse momento, uma tendência em relação ao acréscimo dos preços das mercadorias e o forte 
investimento em novas tecnologias, contribuindo para a diminuição dos postos de trabalhos nas 
fábricas.
No capitalismo monopolista, há uma maior concentração de riqueza. Intensificam-se 
as contradições entre as classes antagônicas no capitalismo, pois há um ápice de incoerências 
entre a socialização da produção e a apropriação privada dos meios de produção. Permanecem 
os proletários sendo os produtores diretos, mas a eles não pertence a produção. 
Consoante a visão de Braverman (1980), na era dos monopólios, ocorre a centralização do 
capital, juntamente ao processo de condensação de vários pequenos capitais em poucos grandes 
capitais. Assim sendo, ultrapassa-se sua forma pessoal limitada e limitadora, passando-se a uma 
forma institucional. Dessa forma, prevaleceu a lógica do grande capital, no qual o processo de 
formação dos monopólios ocorre na medida em que os pequenos capitais são sugados, isto é, 
com o processo de monopolização, aglutina-se a propriedade privada em um pequeno grupo que 
se torna dominante. 
Com o advento dos monopólios, a produção no interior das empresas capitalistas foi se 
modernizando, com os avanços das tecnologias empregadas na maquinaria. Em fins do século 
XIX, ocorreu uma substituição da maquinaria do capital, na medida em que as novas tecnologias 
vão sendo implementadas nas máquinas e em equipamentos elétricos. Similarmente ao processo 
de produção, que implica maior resultado, exige-se dos trabalhadores uma qualificação maior e 
uma função exercida de forma específica de cada operário.
22WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO E 
SEUS DESDOBRAMENTOS PARA AS CLASSES 
TRABALHADORAS
O movimento da sociedade capitalista, como aponta Braverman (1980), ao impulso 
de inovar produtos diversos no aspecto econômico, em novos serviços e em novas indústrias, 
implica novos processos de trabalho, como o surgimento do rádio e da televisão, que acarretam 
novas alterações nos instrumentos de produção das novas mercadorias. Além disso, determina 
o surgimento de novas categorias de trabalhadores, como é o caso dos radialistas e técnicos em 
televisão, dentre muitas outras. Essas necessidades e determinações de novos ramos ocorreram 
de forma generalizada. É por isso que o mercado se torna universal a partir da expansão das 
mercadorias, com as prestações de serviços que são exemplos típicos do capitalismo de monopólios. 
Na fase do capitalismo monopolista, o primeiro passo na criação do mercado 
universal é a conquista de toda a produção de bens sob forma de mercadoria; o 
segundo passo é a conquista de uma gama crescente de serviços e sua conversão 
em mercadorias; e o terceiro é um ‘ciclo de produto’, que inventa novos produtos 
e serviços, alguns dos quais se tornam indispensáveis à medida que as condições 
de vida moderna mudam para destruir alternativas (BRAVERMAN, 1980, p. 
239). 
Segundo Braverman (1980), em tempos de dominação monopólica, é prioridade 
transformar todos os bens e serviços em mercadorias. Esse processo de mercadologização 
determina tornar também a força de trabalho em mercadoria, passível de compra e venda pelo 
capitalista, entendido como o seu proprietário. Isso possibilita ao capitalista uma posição de “chefe” 
no processo de produção; logo, como proprietário da força de trabalho, é sobre seu domínio que 
se torna mercadoria. O capitalismo, mais precisamente a partir do século XX, expande, assim, 
segundo Braverman (1980), o monopólio, impondo-se como forma dominante por praticamente 
todo o globo.
Para tanto, de acordo com Netto (2011), para o capitalismo se organizar na era de 
monopólios, são necessários mecanismos extraeconômicos, como a contribuição do Estado para 
reproduzir a lógica do capital. Lucrar constantemente sobre a produção e, principalmente, sobre 
o seu produtor - o proletário - é a lógica do capitalismo monopolista.
[...] a intervenção estatal incide na organização e na dinâmica econômica desde 
dentro, e de forma contínua e sistemática. Mais exatamente, no capitalismo 
monopolista, as funções políticas do Estado imbricam-se organicamente com 
suas funções econômicas (NETTO, 2011. p. 25). 
A intervenção do Estado incide, essencialmente, na questão econômica. O Estado burguês 
intervém com funções diretas e indiretas. Vejamos as funções diretas. 
No capitalismo monopolista, o Estado é orientado para que, quando “empresas” estatais 
entram em dificuldades, a solução seja privatizá-las e subsidiar com dinheiro de fundos públicos 
o financiamento aos monopólios para a empresa, antes estatal, sair da ruína. Permite-se, daí, cada 
vez melhores condições para a empresa aumentar sua produtividade. 
23WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Já nas funções indiretas, o Estado contribui para o crescimento do capital por meio das 
encomendas-compra que 
[...] o Estado realiza com as empresas privadas, com os investimentos públicos 
em meios de transportes e infraestrutura, com a preparação institucional da força 
de trabalho ao capital e com os gastos com investigação e pesquisa (NETTO, 
2011, p. 25). 
O Estado oportuniza ao capital as possibilidades de gerar lucros maiores, atuando 
explicitamente como instrumento de organização da economia capitalista. Em épocas de crise, 
essa intervenção se torna mais explícita.
Além de o Estado qualificar a força de trabalho para servir ao capital com instalações de 
centros de ensino, de qualificação profissional, dentre outras, ele tem a responsabilidade de zelar 
pelas boas condições dos trabalhadores, proporcionando atendimento médico e unidades básicas 
de saúde. 
Nesse processo de consolidação do capitalismo monopolista, com o Estado obviamente 
apoiando a iniciativa privada, a produção se desenvolverá com um processo específico: o fordismo, 
que foi uma das formas de acumulação que o capital encontrou por via de novas alterações da 
produção no interior das indústrias. 
O fordismo é compreendido a partir do início do século XX. De acordo com Bihr 
(2010), o fordismo iniciou um processo de substituição da mão de obra não especializada pela 
especializada. Tal substituição impõe aos operários uma identidade ideológica, pois uma das 
razões para o sucesso do fordismo deve-se ao trabalho, na perspectiva de promoção da ética e do 
amor ao oficio. Esses foram os argumentos usados por ideólogos burgueses, no sentido de que, 
caso não acabe, ao menos se possa controlar a classe trabalhadora. 
Sob essa ótica, o processo de trabalho é imposto de forma hierarquizada nas relações de 
trabalho, juntamentecom a mecanização e a parcialização. Por essa razão é que ocorreu um novo 
fenômeno tão relevante quanto os demais. Reduz-se (para não se dizer que cessa) a produção 
doméstica; aumenta-se a produção capitalista industrial. 
Esse fato provoca agravantes no interior da classe explorada, transferindo a produção 
doméstica para a produção industrial, aumentando a produção industrial e, mais ainda, o 
consumo pelo proletariado. Por isso, Bihr (2010) explica que, ideologicamente, é elaborada e 
internalizada a ideia de consumo individual. Isso gera problemas gravíssimos aos proletariados, 
como a promoção da individualidade, competição para o operário ter emprego, receber um 
salário e, posteriormente, ter poder de compra. Agora, resta ao trabalhador a venda da sua força 
de trabalho, já que ela se tornou sua única forma de sobrevivência.
Como aponta Antunes (2010), ao longo do século XX, dá-se a prevalência do fordismo 
enquanto processo de trabalho industrial, na indústria automobilística. Sob esse regimento, a 
produção se dá de forma fragmentada, parceirizando a produção de determinados produtos, 
funções específicas que o operário deve seguir, promovendo uma nítida separação entre as 
atividades de ordem intelectual (elaboração) e as de execução. 
Na indústria de produção em que impera o fordismo, tem-se poucos homens a fazer parte 
da “elite pensante” na elaboração dos produtos (denominadas funções de gerência) e um grande 
contingente da classe trabalhadora empregada sendo responsável pela execução, pela realização 
propriamente dita, dos produtos. 
Juntamente com a proposta de Keynes, agregou-se o pacto fordista, o qual, na ótica de 
Behring e Boschetti (2008), acarretou uma produção em massa para um consumo e acordos 
coletivos com os trabalhadores do setor monopolista em termos de ganhos de produtividade do 
trabalho. O fordismo representou mais que mudanças técnicas na produção: ele representou uma 
nova forma de relações sociais.
24WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Esse novo processo de produção tem suas bases no início do século XX; contudo, teve 
sua implementação de forma generalizada a partir de meados da década de 1940. Do ponto de 
vista das autoras, é evidente, desde o início do século XX até 1945, uma elaboração das ideias de 
Keynes sobre a posição do Estado e o pacto fordista com sua inovação no processo de produção. 
Entretanto, a concretização em benefício de uma maior produtividade ao capital e melhorias nas 
condições da classe trabalhadora só ocorre, de fato, no período considerado “os anos de ouro,” 
compreendido entre 1945 e o início da década de 1970. 
O marco decisivo em destaque, exposto por Behring e Boschetti (2008), foram as 
tecnologias implementadas no esforço da Segunda Guerra Mundial, gerando a necessidade de 
se produzirem carros e armamentos, atrelada a um processo de produção fordista que chega a 
sua fase madura, juntamente com a intervenção estatal. O resultado, obviamente, só poderia ser 
o seguinte:
[...] o keynesianismo e o fordismo, associados, constituem os pilares do processo 
de acumulação acelerada de capital no pós-1945, com forte expansão da 
demanda efetiva, altas taxas de lucros, elevação do padrão de vida das massas 
no capitalismo central, e um alto grau internacionalização do capital, sob o 
comando da economia norte-americana, que sai da guerra sem grandes perdas 
físicas e com imensa capacidade de investimento e compra de matérias-primas, 
bem como de dominação militar (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p. 88).
O fordismo domina o processo de produção até, aproximadamente, a década de 1970, 
havendo um acúmulo de produção, por fatores advindos das novas tecnologias, e o consumo 
com um grande contingente da classe trabalhadora empregada, cujos salários propiciaram 
a consumação. Casos explícitos são os dos trabalhadores que adquiriram bens como rádios e 
televisores. Porém, a década de 1970 é marcada por uma crise do capital acerca da queda da 
taxa de lucros, causada pelo aumento do preço da força de trabalho. Outro agravante, também 
decisivo para a crise ocorrer, foram as altas taxas de desemprego, que acarretarem diminuição do 
consumo.
Esses apontamentos característicos do Fordismo subsidiam fundamentos para 
compreendermos o impacto das mudanças no capitalismo sobre os proletários. A transição ao 
capitalismo de monopólios foi realizada paralelamente ao movimento operário. No momento em 
que há um movimento de organização, inicia-se o aparecimento de partidos operários de massas. 
O Estado, os representantes do capital e a burguesia unida realizam intervenções seja de caráter 
coercitivo seja de garantias de direitos, conseguindo impor seus objetivos sobre os trabalhadores, 
que permaneceram na continuação da exploração sobre a força de trabalho. 
Netto (2011) aponta que o capitalismo e o Estado, ao se articularem, efetivam uma 
proposta de aumento à produção do capital, cuja finalidade é de trabalhar para neutralizar a classe 
operária, trabalho que pretende estabelecer “consenso” entre classes antagônicas (burgueses e 
proletários), com garantias mínimas de direitos à classe trabalhadora. 
25WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1.1 O Estado de Bem Estar Social como Alternativa ao Capi-
talismo
Análises elaboradas acerca do Estado de bem-estar social compreendem seu ápice a 
partir do pós-Segunda Guerra Mundial de 1945, até aproximadamente fins da década de 1960. 
A princípio, o Estado de bem-estar social ocorre nos países capitalistas centrais da Europa. A 
abordagem teórica deve compreender os fundamentos históricos para a consolidação e crise na 
forma do Estado, como uma nova configuração da posição do Estado frente às relações de capital 
e trabalho. 
Verificamos, do ponto de vista de Behring e Boschetti (2008), os fundamentos sócio-
históricos do Estado de bem-estar social. As ideias do Keynesianismo se pautavam em estratégias 
de superar as crises do capital a partir da grande depressão de 1929-1932. Para tanto, ele se 
voltava à redefinição da posição do Estado frente ao capital. O fundamento da teoria de Keynes, 
de o Estado ser “ampliado”, é, de fato, resultante em se recolocar, agora como esfera produtora e 
reguladora. Em relação a essa “inovação” do papel do Estado, salientamos a seguinte premissa:
 
Segundo Keynes, cabe ao Estado, a partir de sua visão de conjunto, o papel de 
restabelecer o equilíbrio econômico, por meio de uma política fiscal, creditícia e 
de gastos, realizando investimentos ou inversões reais que atuem nos períodos 
de depressão como estimulo à economia (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p.85). 
Implica ao Estado uma intervenção que sustente um aumento na demanda, resistindo às 
crises econômicas, intervindo na relação capital e trabalho, estabelecendo uma política salarial, 
isto é, o “controle dos preços”, que são características de que o Estado, segundo o Keynesianismo, 
deve promover formas de “superação” da crise do capitalismo e, ainda, do próprio modo de 
produção vigente. 
De acordo com Behring e Boschetti (2008), tal intervenção e mecanismos para “superar” 
as crises no capitalismo tiveram sua efetividade, de certa forma, no setor de empresariado, em uma 
perspectiva centrada em dois pilares: pleno emprego e igualdade social, o que seria consequência 
da ação do Estado, gerando empregos via produção de serviços públicos, além dos gerados pela 
propriedade privada.
Outro pilar dessa proposta seria, também, por consequência de se ter uma classe 
trabalhadora, em grande parte, inserida no mercado de trabalho, aumentando a renda e 
promovendo a “igualdade” social com serviços públicos, gerando empregos. Isso denota que o 
Estado se posiciona de forma diferente, sendo agora uma instituição que produz. Isso, em termos, 
implica um Estado “ampliado”, com um papel mais presente nas relações de produção.
Um aspecto importantea mencionar é que o Estado intervém com a promoção de 
emprego, surgindo novas necessidades que devem ser supridas. Além da população ativa, existe 
a população não ativa. Segundo Behring e Boschetti (2008), para esses seguimentos como os 
das pessoas idosas, deficientes e crianças, o Estado dispõe de políticas sociais específicas para 
subsidiar sua sobrevivência, como os benefícios a idosos, a aposentadoria e as pensões para 
pessoas com deficiência.
Ao nos reportarmos ao Estado enquanto instrumento de dominação da classe trabalhadora, 
é relevante a posição de Lessa (2007). Segundo ele, o Estado de bem-estar possibilitou um 
campo fértil para promover a domesticação e o adestramento dos sindicatos e subordiná-los 
às imposições do capital, rumo a todo um movimento do capitalismo para, posteriormente, 
estabelecer o neoliberalismo, conformando o Estado mínimo.
26WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
[...] o Estado de Bem-Estar se desenvolveu na sequência da derrota do 
movimento operário pós II Guerra Mundial e em um período de domesticação e 
adestramento das estruturas sindicais aos ditames do capital. Este adestramento 
será um elemento importante para que, décadas depois, a transição ao 
neoliberalismo não provocasse uma reação sindical mais importante (LESSA, 
2007, p. 285). 
Conforme o momento histórico vivenciado, o Estado altera sua posição frente às classes 
fundamentais, burguesia e proletariado. Contudo, o Estado não altera sua essência em nada, 
permanecendo como o comitê gestor dos interesses do capital. É nesse sentido que Lessa (2007) 
fundamenta sua posição analítica, pois o que mudou foram as necessidades para a reprodução do 
capital. O autor aborda, também, que “[...] o capital nos países centrais da Europa e nos Estados 
Unidos logrou anos de produtividade sem precedentes na história durante o período dos ‘anos de 
ouro’” (LESSA, 2007, p. 290). 
Os altos lucros do capital possibilitaram a absorção das crises capitalistas, as greves e as 
insatisfações da classe trabalhadora, empregando parte dos trabalhadores. Isso, de certa forma, 
extraiu a essência dos movimentos organizados e a centralidade da luta de classes, fazendo com 
que adestrassem os lucros para formar, em suas ações, melhorias a fim de adotar uma posição de 
negociação, não mais uma posição de confronto. 
Com o Estado de bem-estar intervindo na produção, o fordismo, com grande poder 
de produção, no fim dos anos de 1960, mostra indícios de esgotamento, pois a produção é 
demasiadamente desproporcional ao consumo. Nesse sentido, Lessa (2007) aponta que houve um 
agravamento pela saturação do mercado de vários produtos-chave, como é o caso dos automóveis.
A partir da década de 1970, como o fordismo não era mais viável como processo de 
trabalho, nota-se a necessidade de “flexibilizar” esse processo. Há uma nova configuração do 
capital e, certamente, os impactos sobre a classe trabalhadora foram, e ainda são, profundos. 
27WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
2. A CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL E O 
NEOLIBERALISMO 
Nesse momento histórico, junto à análise de Behring e Boschetti (2008), com destaque a 
Mandel (1982), o capitalismo se torna maduro, pois se esgotam todas as possibilidades de o capital 
ter um papel civilizatório. Na perspectiva de que o capitalismo não promovesse o desenvolvimento 
do indivíduo, em uma perspectiva humana, Mészáros (2007) identifica que, no pós-1970, a crise 
do capitalismo é estrutural.
[...] não estamos mais diante de subprodutos ‘normais’ e voluntariamente 
aceitos do ‘crescimento e do desenvolvimento’, mas de seu movimento 
em direção a um colapso; nem tampouco diante de problemas periféricos 
dos ‘bolsões de subdesenvolvimento’, mas diante de uma contradição 
fundamental do modo de produção capitalista como um todo, que 
transforma até mesmo as últimas conquistas do ‘desenvolvimento’, 
da ‘racionalização’ e da ‘modernização’ em fardos paralisantes de 
subdesenvolvimento crônico. E o mais importante de tudo é que 
quem mais sofre as consequências não mais é a multidão socialmente 
impotente, apática e fragmentada das pessoas ‘desprivilegiadas’, mas todas 
as categorias de trabalhadores qualificados e não-qualificados: ou seja, 
obviamente, a totalidade da força de trabalho da sociedade (MÉSZÁROS, 
2007, p. 143).
 
O sentido da crise estrutural do capital, nesse momento, é devastador pelo aumento 
desenfreado do desemprego, atingindo diversas categorias da classe trabalhadora, tanto as 
categorias compostas por trabalhadores qualificados quanto as compostas por não qualificados. 
Não somente sob as orientações de outros autores (ANTUNES, 2009; NETTO, 2001; SOARES, 
2002; ANDERSON, 2008), mas em especial de Mandel e Mészáros, é que prosseguiremos neste 
processo analítico do capitalismo tardio, e, por conseguinte, o caráter incontrolável, incorrigível 
e desumanizador do capitalismo, com vistas à crise estrutural do capital para nos aproximarmos 
das condições da classe trabalhadora frente a todo esse processo de crises existente. 
De acordo com Mandel (1982), o capitalismo tardio não é uma nova época no 
desenvolvimento capitalista, mas se conforma a partir da década de 1970, no modo de produção 
que entra em crise profunda. Assim, Mandel (1982) se propõe a esclarecer a crise do capitalismo e 
sua defesa acerca das implicações sobre a saturação do desenvolvimento de técnicas de produção, 
propiciando lugar a uma crise de superprodução. É nesse sentido que elaboramos este tópico 
referente ao capitalismo tardio, essencialmente nos apoiando na análise de Mandel. 
Tratando-se de capitalismo tardio, Mandel (1982) abarca em sua análise o processo de 
grande implementação das tecnologias na produção, tendo suas expressões a partir da Segunda 
Guerra Mundial. Esse estágio tardio do modo de produção capitalista é caracterizado, também, 
como terceira revolução tecnológica. Dessa revolução, o autor destaca algumas características 
assumidas a partir de 1970. Todavia, interessam-nos, em especial, certas características e seus 
impactos no mundo do trabalho. 
A aceleração qualitativa do aumento na composição orgânica do capital, isto é, o 
deslocamento do trabalho vivo pelo trabalho morto. Nas empresas plenamente 
automatizadas esse deslocamento é quase total (MANDEL, 1982, p. 136).
28WWW.UNINGA.BR
CL
AS
SE
S 
E 
M
OV
IM
EN
TO
S 
SO
CI
AI
S 
 | U
NI
DA
DE
 2
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Primeiramente, vale notar que “[...] a composição orgânica do capital diz respeito às 
relações técnicas e físicas, entre o conjunto das máquinas, matérias-primas e trabalho necessário 
para produzir mercadorias” (MANDEL, 1982, p. 412).
A inserção de tecnologias avançadas no processo de produção promoveu, e promove, uma 
substituição do trabalho humano por funções executadas por máquinas. Isso implica desempregos 
em larga escala; logo, com grande parte da classe trabalhadora desempregada, diminui o poder de 
consumo da população, o que acarreta menor taxa de lucro do capital. 
A terceira revolução tecnológica, nas palavras de Mandel (1982), traz a crescente 
importância da reprodução da força de trabalho em um nível superior de qualificação intelectual 
e técnica. Esse processo exige maior planejamento econômico das empresas, ou seja, a 
desvalorização do trabalho manual em detrimento do trabalho intelectual e de formação técnica. 
De forma pontual, podemos dizer que os elementos apontados incidem a partir dos 
anos 1970, com alterações no modo de produção dominante. Contudo, sua essência permanece 
intacta. A lógica do capital em lucrar sobre tudo e todos impõe, a partir da implementação de 
novas tecnologias, uma precarização da vida da classe trabalhadora, pois existe aumento das 
taxas de desemprego, acarretando, na vida de trabalhadores, a insatisfação de suas necessidades 
básicas, inclusive de alimentação, moradia adequada

Outros materiais