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LEIS ESPECIAIS – CEFC 1 AUTORIDADES Governador do Estado do Rio de Janeiro LEIS ESPECIAIS – CEFC 2 Exmº Sr Cláudio Bomfim de Castro e Silva Secretário de Estado de Polícia Militar Exmº Sr Coronel PM Luiz Henrique Pires Subsecretário de Estado de Polícia Militar Ilmº Sr Coronel Carlos Eduardo Sarmento da Costa Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel PM Marco Aurelio C. Guarabyra Vollmer Comandante do CFAP 31 de Voluntários Ilmº Sr Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares LEIS ESPECIAIS – CEFC 3 APRESENTAÇÃO Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , formar e especializar os Cabos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade à Distância, pois as disciplinas ocorrerão no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância Cel Carlos Magno Nazaré Cerqueira (CEADPM) e as avaliações de forma presencial no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças ( CFAP 31 Vol.). É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa jornada, pois alcançar o sucesso depende do esforço coletivo e também individual, objetivando que nossos policiais sejam cada vez mais qualificados, bem treinados e especializados, para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações. O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência. Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade e seus companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. Desejamos a todos bons estudos! Marco Aurelio Ciarlini Guarabyra Vollmer - Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução Marcelo André Teixeira da Silva – CoronelPM Comandante do CFAP LEIS ESPECIAIS – CEFC 4 Desenvolvedores CFAP Supervisão e Coordenação Pedagógica CAP PM Ped. Patrícia Kalife Paiva 3ºSGT Rodrigo Barroso Candido CB PM Juliana Pereira de Carvalho CB PM Fernanda Belísio Oliveira dos Santos SD PM Eduarda Vasconcellos Dias de Oliveira Conteudista Jormar Sarkis – Policial civil – delegacia supervisora 2º SGT PM Márcio Batista dos santos CEADPM Supervisão Geral EAD MAJ PM Rodrigo Fernandes Ferreira Equipe Técnica SUBTEN PM Willian Jardim de Souza 3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos SD PM Lucas Almeida de Oliveira SD PM Diogo Ramalho Pereira Diagramação 2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira CB PM Vanessa Souza Rino Bahia Design Instrucional 1º SGT PM Eloisa Cláudia Clemente de Almeida CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira Filmagem e Edição de Vídeo CB PM Renan Campos Barbosa SD PM Alessandra Albuquerque da Silva Designer Gráfico / Diagramação Interativa 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes SD PM Leonardo da Silva Ramos Suporte ao Aluno CB PM Vanessa Souza Rino Bahia LEIS ESPECIAIS – CEFC 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................... 6 CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE.......................................... 8 LEI DE CRIMES HEDIONDOS: LEI 8.072/90 ........................... 12 LEI DE DROGAS E O TRÁFICO TRANSNACIONAL/INTERNACIONAL ...................................... 30 CRIMES DO ECA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE) .............................................................................................. 33 CRIMES DE CONTRAVENÇÃO PENAL....................................... 37 LEI DE ARMAS: LEI 10.826/03 .............................................. 38 CRIME CONTRA O CONSUMIDOR ........................................... 59 CONCLUSÃO ........................................................................... 64 REFERÊNCIAS DE NORMAS JURÍDICAS, DE PUBLICAÇÕES DA PMERJ E WEB ......................................................................... 65 LEIS ESPECIAIS – CEFC 6 INTRODUÇÃO Ao Iniciar os estudos deste Curso Especial de Formação de Cabos, vejamos o que pode se entender por Legislação Penal Especial. Vejamos a seguir: De acordo com Fanchin (2015), “Lei especial é a que a Constituição confia à disciplina de matéria determinada, v.g.: art. 37, IX: lei estabelecerá casos de contração por tempo determinado; art. 37, XIX: somente por lei específica criam- se entes da administração indireta. Merece destaque, suscitado pelo vínculo com o tema aqui abordado, a alusão expressa às leis especiais, contida no art. 5º, XLIII: os crimes de tortura, de tráfico de drogas, os hediondos e o de terrorismo serão classificados como inafiançáveis e insuscetíveis de anistia quando esta espécie normativa disciplinar os respectivos delitos. Sua formação se dá pelo quórum comum (art. 47).” Segundo o clássico Miranda apud. Fanchin (2015),“A exigência de lex specialis é expediente de técnica legislativa, pelo qual o legislador constituinte, ou o legislador ordinário, que a si mesmo traça ou traça a outro corpo legislativo linhas de competência, subordinada a validade das regras jurídicas sobre determinada matéria à exigência de unidade formal e substancial (= de fundo). Determinada matéria, em virtude de tal exigência técnica, tem de ser tratada em toda sua inteireza e à parte das outras matérias. A lex specialis concentra e LEIS ESPECIAIS – CEFC 7 isola, liga e afasta, consolida e distingue. Tal concentração e tal isolamento implicam: Que toda regra jurídica, que deveria, para validamente se editar, constar de lex specialis, dessa não sendo parte, não é regra jurídica que se possa considerar feita de acordo com as regras jurídicas de competência; Que a derrogação ou abrogação da lex specialis tem de ser em lex specialis, porque exigir-se a lex specialis para a edição, e não se exigir para a derrogação ou ab-rogação seria contradição”. (Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda n. 1, de 1969, Forense, 1987, Tomo I, p. 378). LEIS ESPECIAIS – CEFC 8 CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE Crime de abuso de autoridade Sobre o tema, devem ser feitas algumas considerações: Esse crime no entendimento do STJ é de competência do JECRIM estadual (juizado especial criminal, como regra), pois a pena máxima de seis meses de detenção; Esse crime, para parte da doutrina (entendimento minoritário, tal como Nucci e Cezar RobertoBitencourt) entende de forma diversa: que não é competência do JECRIM considerando que o sistema acusatório do crime de abuso de autoridade é incompatível com a justiça consensual dos juizados. Se o autor do abuso for o funcionário público federal, a competência é federal se ele estiverno exercício das suas funções. Se for em razão da função, será competência da justiça estadual. https://www.google.com.br/search?biw=1366&bih=677&q=Cezar+Roberto+Bitencourt&spell=1&sa=X&ei=nFD6UrrpKcKW0QH6yYH4BA&ved=0CCYQvwUoAA LEIS ESPECIAIS – CEFC 9 Exemplo: funcionário público federal (delegado) queria acessar um prontuário em um hospital e fez o conhecido ato de “carteirada” e “sabe com quem está falando?” para a funcionária do hospital quando ela não deixou o homem ter acesso ao prontuário. A médica, assim, sofreu abuso de autoridade, mas o crime ocorreu em razão do cargo e, assim, seria da competência estadual julgar esse crime. Vale ressaltar, que, se o crime for cometido em face de funcionário público federal, deve-se aplicar a súmula 147. Exemplo1: uma defensoria pública federal, em vistoria a um presídio, encontrou uma irregularidade (presos nus, sem roupas algumas). Assim, ela e sua equipe registraram a situação por meio de máquina fotográfica para fazer uma denúncia. Quando do registro das imagens, a defensora e sua equipe foram presos pelo funcionário responsável do presídio. Esse atentado a liberdade de locomoção da defensora decorreu de um abuso de autoridade pelo funcionário do presídio. Como a defensora estava no exercício das suas funções, o crime deve ser julgado pela justiça federal. LEIS ESPECIAIS – CEFC 10 Exemplo2: defensor público federal, saindo de seu trabalho, é abordado por policiais para revista íntima e acusação que o defensor escondia drogas, agindo com violência e não acreditando que se tratava mesmo de um defensor (apesar do mesmo ter apresentado sua carteira profissional). Competência para julgar o crime de abuso de autoridade ao defensor é a competência da justiça estadual, pois o defensor não estava no exercício de suas funções. Observação: referente ao exemplo acima citado deve-se notar uma diferença quando se trata de crime de abuso de autoridade cometido contra juiz federal. O STJ entende que esse crime, quando for contra juiz federal, deve ser de competência da justiça federal e não estadual, mesmo que o juiz não esteja no exercício de suas funções. Neste caso, como o juiz federal é entendido como órgão da justiça federal, o abuso ocorre com a própria União. Neste caso, a restrição da súmula 147 deve ser afastada e deve ser aplicado o art. 106, inciso II, CRFB. Art. 106. São órgãos da Justiça Federal: II - os Juízes Federais. Vale dizer que, para outros crimes comuns contra juiz federal, não existe jurisprudência que afirme que a competência deve ser da justiça federal, assim, em regra, não deve ser aplicada a observação acima citada quanto aos crimes comuns cometidos contra juiz federal. LEIS ESPECIAIS – CEFC 11 Ainda sobre a competência da justiça federal em razão da matéria, vale dizer que a súmula 151, STJ afasta a regra do art. 70 do CPP. STJ Súmula nº 151- Competência - Contrabando ou Descaminho - Processo e Julgamento – Prevenção- A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens. Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. § 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. § 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. § 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção. Assim, a regra para determinar a competência, no caso acima citado, é a prevenção do juízo do local da apreensão dos bens e objetos do crime e não o local da consumação do crime. Ademais, nesse caso, ensina-se que a competência deve ser da justiça federal. LEIS ESPECIAIS – CEFC 12 LEI DE CRIMES HEDIONDOS: LEI 8.072/90 Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, XLIII, da CRFB. A tortura, o tráfico e o terrorismo são crimes equiparados a hediondos pela própria Constituição Federal. Esse diploma determinou que o legislador elaborasse um elenco dos crimes que seriam considerados hediondos. –– LEI N.º 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990 Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências Federal, e determina outras providências Art. 5º (...)XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá- los, se omitirem. Diante Do Mandamento constitucional, além dos crimes de tráfico de entorpecentes, do terrorismo e da tortura, o legislador adotou um CRITÉRIO LEGAL PARA A DEFINIÇÃO DOS CRIMES HEDIONDOS. LEIS ESPECIAIS – CEFC 13 Critério Legal Adotou-se, portanto, o critério legal, isto é, é hediondo o crime que estive no rol taxativo do art. 1º da lei 8.072/90, que será analisado de forma pormenorizada adiante. Dessa forma, não se adotou o critério judicial, tampouco o critério misto, no qual a lei estabeleceria alguns delitos e o juiz também teria a liberdade de apontar como hediondas determinadas condutas. Dessa forma, a técnica utilizada pelo nosso sistema é a do etiquetamento. O estupro na esfera militar, por exemplo, não é hediondo, pois não foi assim definido pela lei. ROL DE CRIMES HEDIONDOS Homicídio Lei 8.072/90, Art. 1º, I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI e VII); Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:(…) LEIS ESPECIAIS – CEFC 14 CP, Homicídio Simples Art. 121 - Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Homicídio Qualificado § 2º - Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa,ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. O caput do art. 1º da lei 8.072/90 deixa claro que os crimes constantes do rol serão considerados hediondos tanto na forma consumada quanto na forma tentada (Redação dada pela lei 13.964, de 2019). Grupo de Extermínio A lei não definiu o que seria grupo de extermínio. A doutrina entende, inicialmente, que deve haver, ao menos, mais de uma pessoa em associação estável, mesmo que esta não constitua quadrilha ou associação criminosa. Extermínio não se confunde com genocídio, constituindo uma atividade homicida coletiva. Dessa forma, deve haver pelo menos duas vítimas, ainda que não ao mesmo tempo. Portanto, o homicídio simplespraticado por grupo de extermínio, ainda que por um só agente, exige pluralidade de pessoas e pluralidade de vítimas. Não se exige, nesse caso, que o homicídio seja qualificado. LEIS ESPECIAIS – CEFC 15 O §6º do art. 121 do CP recentemente trouxe um aumento de pena para o homicídio praticado por grupo de extermínio. Trata-se de majorante aplicada tanto para o delito na sua forma simples quanto qualificada. CP, Art. 121, § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Homicídio Qualificado Privilegiado A maioria entende que é compatível o homicídio qualificado privilegiado, desde que as qualificadoras sejam objetivas, que são aquelas constantes dos incisos III e IV do art. 121, §2º, do CP. De acordo com o entendimento majoritário, o homicídio qualificado privilegiado não é considerado hediondo. Lei 8.072/90, Art. 1º, I-A - lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015); Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o) Federal, e determina outras providências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13142.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13142.htm#art3 LEIS ESPECIAIS – CEFC 16 Latrocínio Lei 8.072/90, Art. 1º, II - latrocínio (art. 157, § 3º, in fine); CP, Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: (…) § 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa. Somente o roubo com resultado morte é considerado hediondo, quando o sujeito emprega violência física, produzindo esse resultado. Se a morte resulta da ameaça, não há latrocínio. Não importa, no caso, se a morte é produzida a título de dolo ou culpa. Vale, ainda, observar a súmula 610 do STF, que afirma estar consumado o latrocínio quando houver morte, ainda que não se efetue a subtração dos bens da vítima. STF, Súmula 610 – Há crimes de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima. O latrocínio seria tentado se, no contexto da subtração, o sujeito deseja matar, mas a vítima sobrevive e ele não consegue subtrair os bens. Por outro lado, se a subtração é consumada e, após, o sujeito pratica uma violência homicida sem sucesso, entende o STF que há roubo consumado cumulado com homicídio tentado. Nessa hipótese, se consegue destacar dois momentos: a subtração já consumada e a violência praticada em momento subsequente para garantir a posse do bem. LEIS ESPECIAIS – CEFC 17 Extorsão Qualificada pela Morte ou Mediante Sequestro Lei 8.072/90, Art. 1º, III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); IV - Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º); CP, Art. 157, § 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa. Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. Extorsão Mediante Sequestro Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1º - Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 20 (vinte) anos. § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 16 (dezesseis) a 24 (vinte e quatro) anos. § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) anos. Na extorsão qualificada pela morte, aplica-se o mesmo raciocínio do latrocínio. Toda extorsão mediante sequestro é hedionda, seja simples ou qualificada. Já a extorsão genérica só será hedionda quando qualificada pela morte. LEIS ESPECIAIS – CEFC 18 Sequestro Relâmpago CP, Art. 158, § 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente. Trata-se de extorsão qualificada pela restrição da liberdade. Na segunda parte, o dispositivo traz uma norma penal em branco, aplicando as penas do art. 159, §§ 2º e 3º. Surge, então, a polêmica a respeito da hediondez desse delito: 1ª corrente: o delito é hediondo, assim como toda extorsão com morte. Se o delito menos grave, a extorsão genérica com resultado morte, é hediondo, também a qualificada pela restrição da liberdade deve ser. 2ª corrente: não é crime hediondo, pois o legislador adotou o critério legal, não tendo esse delito sido incluído no rol. Não se pode utilizar da analogia in malam partem. Não há jurisprudência clara quanto ao tema. LEIS ESPECIAIS – CEFC 19 Estupro e Estupro de Vulnerável Lei 8.072/90, Art. 1º, V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º); CP, Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze)anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 2º (vetado) § 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. A lei 12.015/09 veio logo após a lei do “sequestro relâmpago” eo legislador inseriu no texto da lei 8.072/90 o delito do estupro de vulnerável. Isso reforça a 2ª corrente acerca da polêmica do “sequestro relâmpago”, que defende que, quando o legislador deseja, insere o delito no rol. LEIS ESPECIAIS – CEFC 20 Antes da lei 12.015/09, havia controvérsia a respeito da hediondez dos delitos de estupro e atentado violento ao pudor, na sua forma simples e nas hipóteses de violência presumida. Prevalece o entendimento no sentido de que eram delitos hediondos, sendo essa posição pacífica na jurisprudência. STJ, informativo 505 - DIREITO PENAL. NATUREZA HEDIONDA. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR COMETIDOS ANTES DA LEI N. 12.015/2009. FORMA SIMPLES. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. N. 8/2008-STJ). Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor cometidos antes da edição da Lei n. 12.015/2009 são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples. O bem jurídico tutelado é a liberdade sexual, não a integridade física ou a vida da vítima, sendo irrelevante que a prática dos ilícitos tenha resultado lesões corporais de natureza grave ou morte. As lesões corporais e a morte são resultados que qualificam o crime, não constituindo, pois, elementos do tipo penal necessários ao reconhecimento do caráter hediondo do delito, que surge da gravidade dos crimes praticados contra a liberdade sexual e merecem tutela diferenciada, mais rigorosa. Ademais, afigura-se inequívoca a natureza hedionda do crime de estupro praticado sob a égide da Lei n. 12.015/2009, que agora abarca, no mesmo tipo penal, a figura do atentado violento ao pudor, inclusive na sua forma simples, por expressa disposição legal, bem assim o estupro de vulnerável em todas as suas formas, independentemente de que a conduta venha a resultar lesão corporal ou morte. Precedentes citados do STF: HC 101.694- RS, DJe 2/6/2010; HC 89.554-DF, DJ 2/3/2007; HC 93.794-RS, DJe23/10/2008 ; do STJ: AgRg no REsp 1.187.176-RS, DJe 19/3/2012, e REsp 1.201.911-MG, DJe LEIS ESPECIAIS – CEFC 21 24/10/2011. REsp 1.110.520-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012. Epidemia com Resultado Morte Lei 8.072/90, Art. 1º, VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). CP, Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos. § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. Esse delito é preterdoloso. Epidemia é crime de perigo comum e o resultado morte o qualifica. Trata-se de crime hediondo e, portanto, inafiançável. Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Produto Destinado a Fins Terapêuticos ou Medicinais Lei 8.072/90, Art. 1º, VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). CP, Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância LEIS ESPECIAIS – CEFC 22 sanitária competente; - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; V - de procedência ignorada; VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. Diante dessa previsão, a falsificação de um batom e a produção de uma escova progressiva, por exemplo, seriam considerados delitos hediondos. Dessa forma, a doutrina aponta a necessidade de razoabilidade e de proporcionalidade no momento desse enquadramento. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável Lei 8.072/90, Art. 1º, VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014) Genocídio Lei 8.072/90, Art. 1º, Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. Lei 2.889/56, Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12978.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12978.htm#art2 LEIS ESPECIAIS – CEFC 23 física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do art. 270, no caso da letra c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; Com as penas do art. 148, no caso da letra e; Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes mencionados no artigo anterior: Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos. Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos crimes de que trata o art.1º: Pena: Metade das penas ali cominadas. § 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se consumar. § 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida pela imprensa. Esses delitos trazem tanto o genocídio propriamente dito quanto a quadrilha para a sua prática, que também é considerada crime hediondo. Diversamente, a quadrilha para a prática de crimes hediondos em geral não é hedionda, uma vez que esse delito não está incluído no rol do art. 1º da lei 8.072/90. Crimes Equiparados a Hediondos: Tráfico, Terrorismo e Tortura Tráfico Privilegiado O tráfico privilegiado está disciplinado no art. 33, §4º, da lei 11.343/06. LEIS ESPECIAIS – CEFC 24 Lei 11.343/06, Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta,traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria- prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Surgiu teoria alegando que, se o homicídio qualificado privilegiado não é hediondo, o tráfico privilegiado também não é. No STF, o tema foi afetado ao Plenário. IV STF, Informativo 690 - Tráfico privilegiado e crime hediondo V A 2ª Turma acolheu proposição formulada pelo Min. Celso de Mello no sentido de afetar ao Plenário julgamento de habeas corpus em que se discute a hediondez no crime de tráfico privilegiado previsto no parágrafo 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 (...). Alega-se que o tráfico http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Congresso/RSF-05-2012.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Congresso/RSF-05-2012.htm LEIS ESPECIAIS – CEFC 25 privilegiado não seria hediondo porque não estaria expressamente identificado no art. 2º da Lei 8.072/90 (“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança”),a prever tão somente a figura do tráfico de entorpecentes do caput do mencionado art. 33 da Lei de Drogas. Sustenta-se, ademais, que esse fato seria bastante para que o paciente não sofresse as restrições impostas pela Lei dos Crimes Hediondos. HC 110884/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 27.11.2012. (HC-110884) Na verdade, essa não é uma figura privilegiada, mas prevê uma mera minorante. O STJ, diversamente do STF, já consolidou o entendimento no sentido de considerar o “tráfico privilegiado” crime hediondo. O Tribunal utiliza a expressão entre aspas, por não se tratar de delito autônomo. STJ, AgRg no HC 249.249 - AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. 1. INCIDÊNCIA DA MINORANTE DO § 4º DO ART. 33 DA LEI Nº 11.343/06. AFASTAMENTO DA HEDIONDEZ DO CRIME. IMPOSSIBILIDADE. 2. MODIFICAÇÃO DE REGIME PRISIONAL. NÃO CABIMENTO. 3. RECURSO IMPROVIDO. 1. É firme a jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n.º 11.343/2006 não implica no afastamento da equiparação existente entre o delito de tráfico ilícito de drogas e os crimes hediondos, dado que não há a constituição de novo tipo penal, distinto da figura descrita no caput do mesmo artigo, não sendo, portanto, o 'tráfico privilegiado' tipo autônomo. (…) LEIS ESPECIAIS – CEFC 26 Lei de Tortura: Lei 9.455/97 Bem Jurídico Tutelado O principal bem jurídico tutelado pela lei de tortura é a dignidade humana. Esse crime é suplicante, através do qual a vítima é reduzida a menos que um ser humano. Não se limita ao caráter físico, havendo também a tortura mental, através de violência moral. Também envolve a tutela dos bens integridade física, psíquica e a própria vida. Sujeito Ativo e Passivo Para a maioria da doutrina, em geral, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Não se exige a qualidade de agente público para que ocorra, não se tratando de crime funcional. A legislação não seguiu as convenções internacionais que vinculam o delito à condição de agente público. O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa. LEIS ESPECIAIS – CEFC 27 Figuras Típicas Núcleo Constranger Lei 9.455/97, Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; As espécies de tortura disciplinadas no art. 1º, I, consistem em constranger alguém, atingindo sua liberdade de autodeterminação. Constranger é forçar, coagir. Mas não se trata de um constrangimento ilegal qualquer, sendo necessário que cause sofrimento físico ou mental, o que constitui elemento normativo do tipo. Assim, o delito é consumado quando a vítima sofre. Ademais, devem estar presentes uma das finalidades das alíneas a, b e c. O inciso I do art. 1º traz três modalidades de tortura: Tortura probatória ou inquisitiva ou inquisitorial; Tortura-crime; Tortura discriminatória. LEIS ESPECIAIS – CEFC 28 O tipo subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de infligir sofrimento físico ou mental na vítima, através de violência ou grave ameaça. As alíneas a e b trazem um especial fim de agir. Por isso esses tipos são classificados pela doutrina como delitos de intenção ou de tendência interna transcendente. Ademais, são crimes de resultado cortado, consumando-se independentemente de se concretizar a intenção. A tortura probatória e a tortura- crime são crimes formais, cujo resultado não precisa ocorrer para que se consumem. Tortura Probatória Também chamada de tortura inquisitiva ou inquisitorial. A doutrina faz uma distinção pouco relevante, afirmando que informação é a comunicação ou notícia acerca de fato; enquanto declaração é o esclarecimento, explicação ou revelação referente a algum fato; já confissão é a admissão da prática de fato. O crime de tortura não traz nenhuma qualificadora de violência doméstica. O agente responderá pela tortura, sem prejuízo de ser responsabilizado por conduta presente na lei Maria da Penha. ESPÉCIES deTORTURA ART. 1º, I PROBATÓRIA TORTURA- CRIME DISCRIMINATÓRIA LEIS ESPECIAIS – CEFC 29 A tortura castigo exige uma relação de cuidado, guarda, vigilância, o que não está presente entre o traficante e o irmão de seu ex-comparsa. Tampouco constitui tortura do art. 1º, I. Trata-se, portanto, de mera lesão corporal. Tortura-Crime Nessa modalidade, o torturado é utilizado como instrumento do torturador, que será o autor mediato do crime. Há controvérsia a respeito de ser a vítima utilizada como instrumento para a prática de contravenção penal: 1ª corrente: quando o dispositivo fala em ação ou omissão de natureza criminosa, refere-se ao gênero, estando incluída a contravenção. Essa posição traz clara analogia in malampartem. 2ª corrente: só admite a prática de crime. Assim, se a vítima for utilizada para a prática de contravenção penal, o delito será de constrangimento ilegal, de acordo com o art. 146 do CP, sem prejuízo de o autor mediato responder pela contravenção. CP, Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. LEIS ESPECIAIS – CEFC 30 Tortura Discriminatória Também chamada de tortura preconceituosaou racista, na qual o agente, por motivo discriminatório, tortura a pessoa. Não há qualquer resultado pretendido. A discriminação sexual, por exemplo, não caracteriza o crime de tortura. A lei só fala em discriminação racial ou religiosa. Esse é o motivo determinante exigido legalmente. Esse delito consuma-se com o sofrimento físico ou mental. A doutrina diverge quanto à sua natureza formal ou material. LEI DE DROGAS E O TRÁFICO TANSNACIONAL/INTERNACIONAL O art. 70 da lei de drogas (Lei 11.343/2006) é um crime de competência federal mesmo que a droga não chegue ao seu destino. Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal. Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva. LEIS ESPECIAIS – CEFC 31 Citam-se aqui os artigos mencionados no art. 70, para fins didáticos: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. § 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI nº 4.274) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=4274&processo=4274 LEIS ESPECIAIS – CEFC 32 Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa. Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei. Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias- multa. Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Congresso/RSF-05-2012.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Congresso/RSF-05-2012.htm LEIS ESPECIAIS – CEFC 33 Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal. Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva. Conforme visto no parágrafo único acima citado, atualmente a regra deve ser outra: se esse crime praticado no local onde não houver sede de vara federal, o crime deverá ser julgado na vara federal da circunscrição respectiva. CRIMES DO ECA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE) Vale dizer que neste artigo 70, o mais importante a ser observado é o parágrafo único visto que até 2006 se esse crime praticado no local onde não houvesse sede de vara federal, o juízo competente era o juízo estadual. LEIS ESPECIAIS – CEFC 34 Referente à adoção por estrangeiros sem a regularidade brasileira, o assunto está disposto no art. 239 do ECA (Lei nº 8.069/90) e este crime é de competência federal. Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência. Outro crime previsto pelo ECA é o de pornografia infantil mas este caso nem sempre será de competência federal. No caso de ser uma troca de e-mails com pornografia infantil entre dois adultos, isso não caracteriza crime federal. No entanto, esse cenário muda se essas mensagens são trocadas entre pessoas dentro e fora do Brasil, pois, neste caso, o crime será considerado de competência federal. E as imagens de menores são divulgadas também em sites de relacionamento ou redes sociais (mesmo que haja acesso restrito por senhas) o crime de pornografia infantil aqui também será de competência federal. O assunto está previsto do art. 241 ao art. 241-C do ECA. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.764.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art1 LEIS ESPECIAIS – CEFC 35 Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar,transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) § 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) § 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 LEIS ESPECIAIS – CEFC 36 ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241- A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) § 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11829.htm#art2 LEIS ESPECIAIS – CEFC 37 CRIMES DE CONTRAVENÇÃO PENAL Esses crimes não são julgados na justiça federal, mas sim na justiça estadual. Sobre o tema, deve-se ler a súmula 38 do STJ. STJ Súmula nº 38 - Competência - Contravenção Penal - Detrimento da União ou de Suas Entidades - Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades. Observação: se um juiz federal cometer esse crime, ele deverá ser julgado no TRF (Tribunal Regional Federal) por questão de prerrogativa de função e não em razão da infração em si. Isso vale para qualquer pessoa que, por prerrogativa de função, deva ser julgada no TRF. LEIS ESPECIAIS – CEFC 38 LEI DE ARMAS: LEI 10.826/03 Bem Jurídico Tutelado e Sujeitos O bem jurídico tutelado por essa lei é a incolumidade pública, ou seja, a segurança da coletividade. Não se protege diretamente a integridade física. Desse modo, via de regra, o sujeito passivo será o Estado. O sujeito ativo, a princípio, é qualquer pessoa, mas algumas figuras da lei irão exigir autoria determinada. Competência A priori, a competência é da justiça comum estadual. Excepcionalmente, algumas situações adentrarão a competência da justiça federal, como o tráfico internacional de armas, diante da transnacionalidade e de disposição em tratado no sentido de que o Brasil se compromete a combater sua prática. Mesmo quando o delito envolve indígenas, a competência, a princípio, será da justiça estadual. Recentemente, porém, o STJ analisou caso em que indígena portava arma de caça e excepcionou a LEIS ESPECIAIS – CEFC 39 súmula 140, por entender que caça é costume, que, por sua vez, é direito indígena, o que atraía a competência para a justiça federal. STJ, Súmula 140 – Compete à justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figura como autor ou vítima. Outro caso recente, veiculado no informativo 507, envolvia conflito de competência diante de conduta envolvendo porte de arma de fogo e contrabando. Entendeu o STJ que competia à justiça estadual o julgamento, uma vez que não havia conexão entre os delitos. A mera ocorrência dos delitos no mesmo contexto não enseja conexão. STJ, Informativo 507 - DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO E CONTRABANDO. Compete à Justiça estadual processar e julgar crime de porte ilegal de arma de fogo praticado, em uma mesma circunstância, com crime de contrabando – de competência da Justiça Federal –, se não caracterizada a conexão entre os delitos. A mera ocorrência dos referidos delitos no mesmo contexto não enseja a reunião dos processos na Justiça Federal. Precedentes citados: CC 105.005-MG, DJe 2/8/2010, e CC 68529-MT,DJe 24/4/2009. CC 120.630-PR, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 24/10/2012. Norma Penal em Branco A lei de armas é norma penal em branco, complementada pelo decreto 3.665/00 e pelo decreto 5.123/04. Cabe ressaltar que a norma complementar integra a principal para todos os efeitos. LEIS ESPECIAIS – CEFC 40 Sendo assim, alterado o complemento, será alterado o principal. Por exemplo, retirando-se uma arma do rol das armas de fogo, ocorrerá a abolitio criminis quanto a essa. O mesmo vale para as regras envolvendo o registro e o porte de armas. Registro e Porte Registro é o documento que autoriza o proprietário a manter a arma em sua residência ou local de trabalho. Porte, por sua vez, é a autorização para que o proprietário conduza consigo a arma municidada. O art. 3ºda lei trata da obrigatoriedade do registro. Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente. Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei. O art. 5º, por sua vez, esclarece que o registro só permite ao proprietário manter a arma de fogo exclusivamente em sua residência, domicílio ou local de trabalho. Seu §1o prevê que o órgão responsável para efetuar esse registro é o Sinarm. Art. 5 o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. § 1 o O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm. De sua vez, o art. 4o trata da arma de fogo de uso permitido. O LEIS ESPECIAIS – CEFC 41 interessado, nesse caso, deve se habilitar para que o Sinarm expeça a autorização de compra. Art. 4 o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: 1 - Comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; 2 – Apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; 3 – Comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo,atestadasnaformadispostanoregulamentodestaLei. § 1 o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. § 2 o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. Posse Irregular de Arma de Fogo de Uso Permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. É punida a posse e a manutenção sob guarda, sendo necessário o contato com a arma. A posse é sempre intra muros, sendo esse um elemento espacial do tipo penal. Nesse delito, a posse é irregular, pois o sujeito, em que pese ter adquirido a arma licitamente, não tem o registro ou está com esse vencido. Mesmo nesses casos, a aquisição pode ter sido lícita, como LEIS ESPECIAIS – CEFC 42 por herança, por exemplo. Aquele que herda a arma e não a registra, mantendo-a guardada no seu armário, comete esse delito. Assim, é pressuposto do art. 12 a aquisição lícita. A manutenção da arma no local de trabalho, para configurar esse crime, deve ser pelo responsável pelo local. Caso contrário, se a manutenção for por mero funcionário de uma empresa, por exemplo, o delito será o do art. 14, a ser estudado mais adiante. Em recente julgado no STJ, caminhoneiro foi flagrado com arma de uso permitido e alegou que o veículo era seu local de trabalho. O art. 150, §4o, do CP equipara à casa o local onde a pessoa exerce sua profissão e, assim, a intenção era descaracterizar o crime de porte para o de posse, que ocorre intra muros. CP, Art. 150, § 4º - A expressão "casa " compreende: III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. STJ, Informativo 496 - APREENSÃO DE ARMA EM CAMINHÃO. TIPIFICAÇÃO. O veículo utilizado profissionalmente não pode ser considerado “local de trabalho” para tipificar a conduta como posse de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da O STJ entendeu que o aspecto espacial do crime do art. 12 tem como pressuposto residência ou local de trabalho fixos, com endereço determinado. O caminhão é, na verdade, um instrumento de trabalho. O mesmo raciocínio se aplica a outros tipos de veículo. LEIS ESPECIAIS – CEFC 43 Lei n. 10.826/2003). No caso, um motorista de caminhão profissional foi parado durante fiscalização da Polícia Rodoviária Federal, quando foram encontrados dentro do veículo um revólver e munições intactas. Denunciado por porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 14 do Estatuto do Desarmamento), a conduta foi desclassificada para posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12 do mesmo diploma), reconhecendo-se, ainda, a abolitio criminis temporária. O entendimento foi reiterado pelo tribunal de origem no julgamento da apelação. O Min. Relator registrou que a expressão “local de trabalho” contida no art. 12 indica um lugar determinado, não móvel, conhecido, sem alteração de endereço. Dessa forma, a referida expressão não pode abranger todo e qualquer espaço por onde o caminhão transitar, pois tal circunstância está sim no âmbito da conduta prevista como porte de arma de fogo. Precedente citado: HC 116.052-MG, DJe 9/12/2008. REsp 1.219.901-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2012. O crime do art. 12 é de mera conduta, de perigo abstrato e permanente. Assim, com a edição de lei nova mais gravosa, aplica-se o raciocínio da súmula 711 do STF. STF, Súmula 711 – A lei penal mis grave aplica- se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cesação da continuidade ou permanência. Em se tratando de um trailer, se esse for fixo, adentrará o conceito de casa. Se o sujeito, por outro lado, mora no seu carro, esse não é fixo e, para efeito da lei de armas, não caracteriza residência. LEIS ESPECIAIS – CEFC 44 Abolitio Criminis Temporária Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4 o desta Lei. Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto no caput deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamentode Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na forma do § 4o do art. 5o desta Lei. STJ, Informativo 506 - DIREITO PENAL. POSSE DE MUNIÇÃO. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA. É atípica a conduta de possuir munição, seja de uso permitido ou restrito, sem autorização ou em desconformidade com determinação legal ou regulamentar, no período abrangido pela abolitio criminis temporária prevista no art. 30 da Lei n. 10.826/2003, na redação anterior à Lei n. 11.706/2008. O prazo legal para a regularização do registro de arma previsto na Lei n. 10.826/2003, prorrogado pelas Leis ns. 10.884/2004, Essa abolitio criminis temporária aplica-se à figura do art. 12. Foi concedido um prazo para que aqueles que haviam adquirido suas armas de fogo de uso permitido de forma lícita regularizassem essa situação através do registro. A questão também foi chamada de vacatio legis indireta. LEIS ESPECIAIS – CEFC 45 11.118/2005 e 11.191/2005, permitiu a devolução das armas e munições até 23 de outubro de 2005. Assim, nesse período, houve a descriminalização temporária no tocante às condutas delituosas relacionadas à posse de arma de fogo ou munição. Incabível a interpretação de ser aplicada apenas aos casos que envolvam arma de fogo e munição de uso permitido com base na Lei n. 11.706/2008, pois a nova redação é aplicável apenas aos crimes praticados após 24 de outubro de 2005, uma vez que a redação anterior, conferida pela Lei n. 11.191/2005, era mais benéfica em razão de não conter tal restrição. Precedentes citados: HC 164.321-SP, DJe 28/6/2012, e HC 78.481-RJ, DJe 23/8/2010. HC 187.023-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em9/10/2012. Como foi concedido um prazo para o registro, até esse termo, não se poderia considerar que haveria o dolo para que o crime se aperfeiçoasse. Por isso a hipótese foi denominada de abolitio criminis temporária. Como tal, entendem os tribunais que ela não retroage, tampouco tem efeitos ultrativos, aplicando-se o mesmo raciocínio dasleistemporárias.Assim,sóseaplicanaqueleperíododetempodetermin ado. O art. 31, por sua vez, aplica-se a qualquer arma de fogo, visando incentivar o desarmamento, sem a fixação de prazo. Nas edições anteriores, permitia-se inclusive a regularização de armas de uso restrito. Nessa edição, contudo, a autorização legal restringiu-se somente àquelas de uso permitido. Isso é importante para fins de aplicação da lei penal no tempo, visto que as leis anteriores foram mais benéficas. LEIS ESPECIAIS – CEFC 46 Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização, nos termos do regulamento desta Lei. Já a arma quebrada, uma vez demonstrada sua imprestabilidade pela perícia, torna o fato atípico. A presunção de perigo pode ser ilidida por meio de perícia. STF, HC 96.099 - EMENTA: ROUBO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO. APREENSÃO E PERÍCIA PARA A COMPROVAÇÃO DE SEU POTENCIAL OFENSIVO. DESNECESSIDADE. CIRCUNSTÂNCIA QUE PODE SER EVIDENCIADA POROUTROS MEIOS DE PROVA. ORDEM DENEGADA. I - Não se mostra necessária a apreensão e perícia da arma de fogo empregada no roubo para comprovar o seu potencial lesivo, visto que tal qualidade integra a própria natureza do artefato. II - Lesividade do instrumento que se encontra in re ipsa. III - A qualificadora do art. 157, § 2º, I, do Código Penal, pode ser evidenciada por qualquer meio de prova, em especial pela palavra da vítima - reduzida à impossibilidade de resistência pelo agente - ou pelo depoimento de testemunha presencial. IV - Se o acusado alegar o contrário ou sustentar a ausência de potencial lesivo da arma empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova, nos termos do art. 156 do Código de Processo Penal. V-A arma de fogo, mesmo que não tenha o poder de disparar projéteis, pode ser empregada como instrumento contundente, apto a produzir lesões graves. VI - Hipótese que não guarda correspondência com o roubo praticado com arma de brinquedo. VII - Precedente do STF. VIII - Ordem indeferida. De modo semelhante, a arma de brinquedo não é considerada arma, não sendo englobada por nenhuma conduta típica da lei, uma vez que não possui qualquer potencialidade lesiva. A arma de brinquedo empregada no roubo não pode majorar a pena, ao contrário do que ocorre com a arma desmuniciada. Se o réu alega que a arma não tem potencialidade lesiva, caberá a ele comprovar, invertendo-se o ônus da prova. A arma de brinquedo configura o roubo, por LEIS ESPECIAIS – CEFC 47 representar ameaça, mas não pode majorá-lo. Portanto, entendem os tribunais que não há necessidade de realização de perícia para a comprovação da potencialidade lesiva da arma. Nesse caso, inverte-se o ônus da prova, podendo o réu se utilizar de perícia em seu favor, para desconstituir essa potencialidade lesiva. Omissão de Cautela O caput do art. 13 traz um crime culposo, o único da lei de armas. Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. O caput requer o resultado naturalístico do apoderamento da arma pelo menor de dezoito ou pela pessoa portadora de deficiência mental, por apresentar risco para a incolumidade pública. Como o delito é de perigo abstrato, pouco importa se essa pessoa é ajuizada o suficiente para vir a causar lesão efetiva. Se o indivíduo é negligente com sua arma, mas ninguém a pega, o resultado naturalístico não ocorre e o delito não se configura. Para esse fim, considera-se qualquer arma, tanto de uso restrito quanto permitido. Se o menor ou deficiente mental pega a arma e efetivamente a utiliza, cometendo um homicídio, o possuidor da arma, a princípio, responderá pelo resultado, por ser um garantidor, nos termos do art. 13, §2o, c, do CP, visto que, com sua conduta anterior, criou o risco do resultado. LEIS ESPECIAIS – CEFC 48 Naturalmente, a pessoa não responderá se não podia impedir o resultado. CP, Art. 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. O parágrafo único do art. 13 traz tipo penal equiparado que pouco se assemelha à figura do caput. A lei exige das pessoas nele elencadas que comuniquem à Polícia Federal e registrem a ocorrência de qualquer espécie de extravio de arma. Se não o fizerem no prazo de 24 horas, esses agentes responderão pela figura do art. 13, parágrafo único. Nesse caso, porém, a inércia deve ser dolosa, não podendo decorrer de meranegligência. Art. 13, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sobsuaguarda,nasprimeiras24(vintequatro)horasdepoisdeo corridoofato. Esse sujeito deve tanto registrar a ocorrência quanto comunicar a Polícia Federal. Se deixar de fazer uma dessas coisas, responderá pelo fato. Esse delito admite a transação penal, visto que apresenta pena máxima de dois anos. Além disso, cabe a suspensão condicional do processo. Os delitos do art. 13, tanto do caput quanto do parágrafo único, são figuras próprias, visto que só as pessoas neles elencadas podem cometer os delitos. LEIS ESPECIAIS– CEFC 49 Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome doagente. O art. 14, em que pese ser conhecido como “porte”, traz vários outros núcleos verbais. Trata-se de tipo misto altertivo, isto é, de crime de conteúdo variado. A prática de vários núcleos configura apenas um crime. O parágrafo único foi declarado inconstitucional na ADIn 3.112, publicada no informativo 465. O delito possui pena de até quatro anos, sendo de gravidade média, além de não ser violento. A princípio, caberia, inclusive, a substituição da pena. O STF entendeu, assim, que o legislador violou o princípio da proporcionalidade ao vedar a fiança de forma absoluta nesse caso. Núcleos Típicos Portar – o porte ocorre extra muros. Portar é trazer a arma consigo. O art. 6o elenca as pessoas que podem portar arma, sem prejuízo de legislação especial. A autorização, contudo, é para arma determinada. O porte de arma diversa configura o crime do art. 14. Deter – conservar a arma em seu poder, ainda que não seja extra muros. Não há necessidade de ser possuidor ou proprietário; Adquirir – naturalmente, a aquisição deve ser LEIS ESPECIAIS – CEFC 50 ilícita. Inclui a aquisição através da prática de furto; Fornecer – envolve a entrega da arma. Não se trata de comércio, mas o agente funciona como uma fonte. A doutrina reconhece a possibilidade de venda da arma, desde que não configure ato de comércio, mas conduta esporádica; Receber – tomar, entrar na posse da arma. Configura-se com a tradição; Ter em depósito – manter a arma armazenada; Transportar – deslocar a arma de um local a outro. Portar é trazer a arma junto de si, enquanto o transporte não exige esse fator, como levar a arma no banco do carro, por exemplo. O fato é típico ainda que a arma esteja desmuniciada, visto que se trata de crime de perigo abstrato. O STF aplicava a pronta disponibilidade nesse caso, entendendo que a arma municiada só seria típica se o sujeito tivesse a pronta disponibilidade da munição para utilizá-la. Hoje, isso não é mais exigido pelos Tribunais. Ceder – ainda que gratuitamente; Exemplo: dois policiais trocam suas armas. Nesse caso, um fornece e o outro adquire. Trata-se de aquisição ilícita. Na atividade efetiva, isso eventualmente pode ser meramente irregular, não havendo o ânimo de fornecer ou adquirir. LEIS ESPECIAIS – CEFC 51 Emprestar – confiar a coisa a alguém,gratuitamente. O aluguel é entendido pela doutrina como comércio, incidente no art. 17, a ser estudado adiante. Remeter – encaminhar,enviar. Difere do transporte, pois não é a própria pessoa que leva a arma; Empregar-Se a arma é empregada para a prática de homicídio, por exemplo, o sujeito não responde pelo art. 14, aplicando-se o princípio da consunção. Ademais, o disparo da arma de fogo, apesar de também ser uma forma de “empregar”, configura o delito do art. 15. O disparo é mais grave, sendo a questão resolvida pela especialidade. Dessa forma, se o sujeito emprega a arma, sem disparar, e sem o cometimento de crime mais grave, responderá pelo art. 14. Trata-se, portanto, de figura subsidiária. Se o emprego for utilizado para o cometimento de crime menos grave, como a ameaça, do art. 146 do CP, haverá concurso formal. No caso do constrangimento ilegal com emprego de armas, o §1o do art. 146 apresenta acréscimo de pena menor que a punição prevista no art. 14. O §1o será, portanto, aplicado residualmente, quando houver o emprego de outros tipos de armas. Assim, se o sujeito constrange com arma de fogo, responde pelo art. 146, caput, do CP, em concurso formal próprio com o art. 14 da lei; se constrange com outro tipo de arma, responde com o aumento do §1o do art. 146. a) Manter sob guarda – nesse caso, há vigilância direta, contato com a arma. Essa expressão difere do núcleo “ter em depósito” em razão desse contato LEIS ESPECIAIS – CEFC 52 Além disso, a manutenção sob guarda do art. 14 distingue-se daquela do art. 12 em razão do elemento espacial. No art. 12, a posse é irregular, mas ocorre em residência ou em local de trabalho pelo qual o agente seja responsável. Nos demais casos, a manutenção sob guarda configurará o delito do art. 14. b) Ocultar – esconder, disfarçar,encobrir. Quando o delito de receptação tiver como objeto arma de fogo, o agente responde pelo art. 14, aplicando-se o princípio da especialidade. Se, além da arma de fogo, houver outros objetos, responderá por ambos em concurso formal. O art. 14 é crime de mera conduta e de perigo abstrato. Assim, se configura mesmo estando a arma desmuniciada, bem como com o porte da munição. Houve caso em que o sujeito foi encontrado com apenas uma munição, que pegou de lembrança do quartel, caracterizando-se, a princípio, o tipo penal. Em outro caso, o sujeito cometeu o crime de ameaça somente com a munição vazia, tendo o tribunal entendido que somente subsistiu esse último delito, esvaziada a potencialidade lesiva com relação à munição. Disparo de Arma de Fogo Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. Disparar é atirar projéteis. Teoricamente, é possível acionar munição sem arma. LEIS ESPECIAIS – CEFC 53 A conduta engloba qualquer arma de fogo ou munição. O crime envolve um elemento espacial, devendo ocorrer em lugar habitado ou adjacências, isto é, onde residam ou se encontrem pessoas. Requer-se, portanto, a presença humana, mas não há necessidade da efetiva presença no momento do disparo, visto que se trata de crime de perigo abstrato. Pode ser também cometido em via pública ou em direção a ela, consistindo em local de acesso a qualquer pessoa. O sujeito que efetua disparos em local privado, isolado, totalmente inabitado, não comete esse delito. Deve haver o risco para um número indeterminado de pessoas. O crime é doloso, sendo punido o disparo consciente de arma de fogo. A lei não pune o disparo acidental, sem prejuízo da punição de eventual resultado decorrente da conduta. O art. 15 prevalece em relação ao art. 14, mas sucumbe em face do art. 16. O delito é de mera conduta e instantâneo, consumando-se com o disparo. Admite-se a tentativa, visto que é permitido o fracionamento do iter criminis. Não procede a afirmação de que o crime de mera conduta não admite tentativa. Exemplo: alguém segura a mão do sujeito ou a arma falha no momento do disparo. De acordo com a parte final do art. 15, caput, esse só se configura se a conduta não tiver como finalidade a prática de outro crime. Na redação anterior, a subsidiariedade era expressa; na nova redação, contudo, o dispositivo não especificou se a finalidade era para a prática de crime mais ou menos grave. A doutrina entende que, ainda assim, só se exclui o art. 15 se o objetivo for de cometer crime mais grave. Se o outro crime for menos grave, haverá concurso formal. O tema, contudo, não é pacífico. LEIS ESPECIAIS – CEFC 54 Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer,
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