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E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 1 É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital Resumo O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que um dos requisitos do testamento particular é que ele seja assinado pelo testador. Vale ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que: É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. Caso concreto: a falecida deixou um testamento particular elaborado por meio mecânico; o testamento foi lido na presença de três testemunhas, que o assinaram; vale ressaltar, no entanto, que esse testamento não foi assinado pela testadora em razão de ela se encontrar hospitalizada na época e estar com uma limitação física que a impedia assinar; para suprir essa falta de assinatura, a testadora colocou a sua impressão digital no testamento; as testemunhas, ouvidas em juízo, confirmaram o cumprimento das demais formalidades e, sobretudo, que aquela era mesmo a manifestação de última vontade da testadora; o STJ considerou válido o testamento. STJ. 2ª Seção. REsp 1633254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Info 667). Por outro lado, não se admite o cumprimento de testamento PÚBLICO que não foi assinado por tabelião: Embora a jurisprudência do STJ admita que, para a preservação da última vontade do autor do testamento, é possível flexibilizar alguns requisitos formais no registro do documento, a assinatura do tabelião, ou de seu substituto legal, é requisito indispensável de validade. Isso porque o notário (tabelião) é quem possui fé pública para dar autenticidade ao testamento. A ausência da assinatura e identificação do tabelião que teria presenciado ou lavrado o instrumento é vício externo grave que compromete a higidez do testamento e não permite aferir, com segurança, a real vontade do testador. Logo, não pode ser considerado juridicamente eficaz. STJ. 3ª Turma. REsp 1703376/PB, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 06/10/2020. Comentários Conceito e características do testamento Testamento é um... - negócio jurídico - unilateral (traz obrigações somente para quem elabora), - solene (deve obedecer formalidades previstas em lei, - personalíssimo (ato elaborado exclusivamente pelo testador) e - revogável, - por meio do qual o testador, - observada a legislação vigente, - determina quem irá ficar com seu patrimônio depois que ele vier a falecer - podendo ainda prever outras regras de caráter não patrimonial. Espécies E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 2 Quanto à forma, os testamentos podem ser classificados em ordinários e especiais: ORDINÁRIOS (COMUNS, VULGARES) ESPECIAIS (EXTRAORDINÁRIOS) São aqueles elaborados em condições normais, isto é, sem qualquer situação que possa implicar vício na vontade. São aqueles elaborados em situação de anormalidade. Espécies de testamento ordinário: a) Testamento público; b) Testamento cerrado (místico); c) Testamento particular (hológrafo); Espécies de testamento extraordinário: a) Testamento marítimo; b) Testamento aeronáutico; c) Testamento militar. Testamento particular As regras sobre o testamento particular estão previstas nos arts. 1.876 a 1.880 do Código Civil. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho (“a mão”) ou mediante processo mecânico (ex: digitado no computador e impresso). ++ (Cartório TJ/AC 2012 FMP) O testamento particular deve ser escrito de próprio punho pelo testador, sendo vedada a utilização de processo mecânico. (errado) Testamento particular deve ser assinado pelo testador O Código Civil afirma que um dos requisitos do testamento particular é que ele seja assinado pelo testador: Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico. § 1º Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever. § 2º Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o subscreverão. Imagine agora a seguinte situação adaptada: Maria deixou um testamento particular elaborado por meio mecânico. O testamento foi lido na presença de três testemunhas, que o assinaram. Vale ressaltar, no entanto, que esse testamento não foi assinado pela testadora em razão de ela se encontrar hospitalizada na época e estar com uma limitação física que a impedia assinar. Para suprir essa falta de assinatura, a testadora colocou a sua impressão digital no testamento. As testemunhas, ouvidas em juízo, confirmaram o cumprimento das demais formalidades e, sobretudo, que aquela era mesmo a manifestação de última vontade de Maria. No caso concreto, esse testamento pode ser considerado válido? SIM. É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Info 667). E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 3 Quando falamos em sucessão testamentária, deve-se ter em mente que o objetivo principal a ser alcançado é o de garantir que seja respeitada a manifestação de última vontade do falecido. Assim, as formalidades previstas em lei para os testamentos devem ser examinadas à luz dessa diretriz máxima, sopesando-se, sempre, no caso concreto, se a ausência de uma delas é suficiente para comprometer a validade do testamento em confronto com os demais elementos de prova produzidos, sob pena de ser frustrado o real desejo do testador. Em caso de descumprimento de alguma formalidade do testamento, o STJ afirmava que, para saber se este testamento era ou não válido, seria necessário analisar se o vício detectado era sanável ou insanável. Desse modo, o critério para a validade do testamento era o da possibilidade de o vício ser sanado. Segundo a Min. Nancy Andrighi, esse critério é insuficiente, devendo a questão ser verificada sob diferente prisma. Para ela, o que deve ser levado em consideração é se a ausência da formalidade exigida em lei efetivamente gera alguma dúvida quanto à vontade do testador. Em uma sociedade que é comprovadamente menos formalista, na qual as pessoas não mais se individualizam por sua assinatura de próprio punho, mas sim por meio de tokens, chaves, logins e senhas, ID's, certificações digitais, reconhecimentos faciais, digitais, oculares e, até mesmo, pelos seus hábitos profissionais, de consumo e de vida, captados a partir da reiterada e diária coleta de seus dados pessoais, e na qual se admite a celebração de negócios jurídicos complexos e vultosos até mesmo por redes sociais ou por meros cliques, o papel e a caneta esferográfica perdem diariamente o seu valor e a sua relevância, devendo ser examinados em conjunto com os demais elementos que permitam aferir ser aquela a real vontade do contratante. Desse modo, a regra segundo a qual a assinatura de próprio punho é requisito de validade do testamento particular traz consigo a presunção de que aquela é a real vontade do testador, tratando-se, todavia, de uma presunção juris tantum, admitindo- se, ainda que excepcionalmente, a prova de que, se porventura ausente a assinatura nos moldes exigidos pela lei, ainda assim era aquela a real vontade do testador. É preciso, portanto, repensar o direito civil codificado à luz da nossa atual realidade social, sob pena de se conferirem soluções jurídicas inexequíveis, inviáveis ou simplesmenteultrapassadas pelos problemas trazidos pela sociedade contemporânea. No caso, a despeito da ausência de assinatura de próprio punho do testador e de o testamento ter sido lavrado a rogo e apenas com a aposição de sua impressão digital, não havia dúvida acerca da manifestação de última vontade da testadora que, embora sofrendo com limitações físicas, não possuía nenhuma restrição cognitiva. Por outro lado, não se admite o cumprimento de testamento público que não foi assinado por tabelião E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 4 Embora a jurisprudência do STJ admita que, para a preservação da última vontade do autor do testamento, é possível flexibilizar alguns requisitos formais no registro do documento, a assinatura do tabelião, ou de seu substituto legal, é requisito indispensável de validade. Isso porque o notário (tabelião) é quem possui fé pública para dar autenticidade ao testamento. A ausência da assinatura e identificação do tabelião que teria presenciado ou lavrado o instrumento é vício externo grave que compromete a higidez do testamento e não permite aferir, com segurança, a real vontade do testador. Logo, não pode ser considerado juridicamente eficaz. STJ. 3ª Turma. REsp 1703376/PB, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 06/10/2020. O indivíduo que recebeu um imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade pode transferir esse imóvel por meio de testamento, considerando que a cláusula de inalienabilidade vitalícia dura apenas enquanto o beneficiário estiver vivo Resumo As cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade não tornam nulo o testamento, que dispõe sobre transmissão causa mortis do bem gravado. STJ. 4ª Turma. REsp 1641549-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 13/08/2019 (Info 654). Comentários Cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade As cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade são restrições voluntárias ao direito de propriedade. Podem ser estipuladas de duas formas: a) por ato de liberalidade inter vivos (doação); b) por ato relacionado com a morte – causa mortis (testamento). Cláusula de inalienabilidade É uma restrição imposta ao beneficiário, de forma que ele fica impedido de dispor da coisa, não podendo transferi-lo a terceiros, seja a título gratuito ou oneroso. Essa restrição pode ser imposta por tempo determinado (ex: 5 anos) ou de forma vitalícia. Cláusula de impenhorabilidade Consiste na proibição de constrição judicial do bem gravado para pagamento de débitos do herdeiro/beneficiário. Cláusula de incomunicabilidade Proíbe que o bem seja transferido para a fração ideal do cônjuge (companheiro) em caso de casamento ou união estável. Em outras palavras, se uma pessoa possui um imóvel com cláusula de incomunicabilidade, mesmo que se case com regime de comunhão de bens, esse imóvel não participará da comunhão dos bens do casal. Imagine agora a seguinte situação hipotética: E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 5 Em 2005, João, por meio de testamento, deixou para Henrique, um de seus filhos, dois imóveis (dois galpões) gravados com as cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade. Em 2015, Henrique fez um testamento e nele constou que, quando morresse, esses galpões deveriam ser transmitidos para Carla, uma amiga do testador. Em 2017, Henrique morreu. A esposa e os filhos de Henrique questionaram o testamento, afirmando que ele seria nulo porque transmitiu para uma estranha os bens imóveis que estavam gravados com as cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade. Segundo alegaram, o objetivo de João, ao deixar os imóveis para Henrique, foi o de garantir o patrimônio não só do seu filho, mas também dos seus netos. Por isso, ele gravou os imóveis com essas cláusulas. A tese dos herdeiros de Henrique foi acolhida pelo STJ? É nulo o testamento que dispôs sobre bens gravados com cláusula de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade? NÃO. Vamos relembrar em que consiste a cláusula de inalienabilidade A cláusula de inalienabilidade “consiste na proibição de alienar o bem clausulado. Assim é que o proprietário fica impedido de praticar qualquer ato de disposição pelo qual o bem passe a pertencer a outrem. Em síntese, não pode transferi-lo voluntariamente, ou seja, por sua livre e espontânea vontade. Portanto, o proprietário não pode vendê-lo, permutá-lo ou doá-lo.” (MALUF, Carlos Alberto Dabus. Cláusulas de Inalienabilidade, Incomunicabilidade e Impenhorabilidade. 4ª ed., São Paulo: RT, 4ª ed. 2006, p. 49). A cláusula de inalienabilidade pode ser “para sempre”? NÃO. Por força do princípio da livre circulação dos bens, não é possível a inalienabilidade perpétua. A cláusula de inalienabilidade até pode ser vitalícia, mas não pode ser perpétua (para sempre). Assim, se a cláusula de inalienabilidade não tiver um prazo específico, ela será considerada vitalícia. Isso significa que ela terá vigência durante toda a vida do beneficiário. Depois que ele morrer, o bem volta a ficar livre e desembaraçado, sem nenhuma restrição. Logo, a cláusula de inalienabilidade incidente em relação ao imóvel deixado para Henrique é vitalícia e, portanto, tem vigência durante toda a vida do beneficiário (Henrique). Depois que ele falecer, a cláusula deixa de existir. O STJ já decidiu nesse mesmo sentido: A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação ou testamento só produz efeitos enquanto viver o beneficiário, sendo que, após a morte deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do referido bem, observada a ordem de vocação hereditária. STJ. 4ª Turma. REsp 1.552.553-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/11/2015 (Info 576). E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 6 Desse modo, com o falecimento do beneficiário, acaba a eficácia da cláusula de incomunicabilidade. Ela deixa de produzir efeitos. O STJ afirma que “a cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem não se relaciona com a vocação hereditária”. Em outras palavras, o que se quer dizer é que a cláusula de incomunicabilidade não interfere nas regras do Código Civil sobre a sucessão causa mortis. Assim, se o indivíduo recebeu, por doação ou testamento, algum bem imóvel com cláusula de incomunicabilidade, quando este morrer, o seu herdeiro ou o legatário irá receber normalmente o bem. Testamento só passa a produzir efeitos com a morte do testador O testamento é um negócio jurídico que somente produz efeito após a morte do testador, quando, de fato, ocorre a transferência do bem. Assim, a mera elaboração do testamento não acarreta nenhum ato de alienação da propriedade em vida. Isso evidencia apenas e tão somente a declaração de vontade do testador, revogável a qualquer tempo. Logo, quando Henrique fez o testamento, os imóveis ainda estavam com cláusula de inalienabilidade. Ocorre que, nesse momento, não houve transferência dos bens. Estes somente foram transferidos para o patrimônio da beneficiária quando o testador morreu. Em suma: As cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade não tornam nulo o testamento, que dispõe sobre transmissão causa mortis do bem gravado. STJ. 4ª Turma. REsp 1.641.549-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 13/08/2019 (Info 654). Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento Resumo O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega. Exige-se: a) que o testamento seja público; b) que sejam realizadasduas leituras do testamento (se não for cego, basta uma); c) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego. Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um testamento público. O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da condição de cego do testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade. O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador. STJ. 3ª Turma. REsp 1677931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610). E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 7 Comentários Testamento. Conceito e características Testamento é um... -negócio jurídico -unilateral (traz obrigações somente para quem elabora), -solene (deve obedecer formalidades previstas em lei, -personalíssimo (ato elaborado exclusivamente pelo testador) e -revogável, -por meio do qual o testador, -observada a legislação vigente, -determina quem irá ficar com seu patrimônio depois que ele vier a falecer, -podendo ainda prever outras regras de caráter não patrimonial. Espécies Quanto à forma, os testamentos podem ser classificados em ordinários e especiais: ORDINÁRIOS (COMUNS, VULGARES) São aqueles elaborados em condições normais, isto é, sem qualquer situação que possa implicar vício na vontade. ESPECIAIS (EXTRAORDINÁRIOS) São aqueles elaborados em situação de anormalidade. Espécies de testamento ordinário: a) testamento público; b) testamento cerrado (místico); c) testamento particular (hológrafo). Espécies de testamento extraordinário: a) testamento marítimo; b) testamento aeronáutico; c) testamento militar. Testamento público O testamento público (também chamado de aberto) é aquele no qual o testador faz as suas declarações de última vontade peranteo tabelião de notas (ou seu substituto legal) ouo agente consular, na presença de duas testemunhas, devendo a autoridade lavrar (redigir) o testamento e registrá-lo em livro próprio. Requisitos (art. 1.864) São requisitos essenciais do testamento público: 1) o testamento deve ser escrito pelo tabelião (ou por seu substituto legal) em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador. O testador pode servir-se de minuta, notas ou apontamentos. Em outras palavras, o testador pode levar as suas declarações por escrito (levar uma “cola”) e com base nesse texto ir declarando para o testador. Obs1: o art. 18 da LINDB autoriza que as autoridades consulares brasileiras, fora do território nacional, celebrem testamento público. Obs2: o testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma. 2) depois que o tabelião terminar de lavrar (escrever) o instrumento, ele deverá ser lido em voz alta pelo tabelião para o testador e para as duas testemunhas, a um só tempo. O testador poderá também preferir ler ele próprio em voz alta na presença das testemunhas e do oficial do tabelionato. E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 8 3) depois da leitura, o instrumento deverá ser assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião. 4) Se o testador não souber assinar (ex: analfabeto) ou não puder (ex: sofre de alguma doença que o impede), quem assinará pelo testador será uma das testemunhas instrumentárias (art. 1.865). O indivíduo que for SURDO pode fazer testamento público? SIM. O indivíduo inteiramente surdo pode fazer testamento público. Neste caso, como ele não poderá ouvir a leitura feita pelo tabelião, o próprio testador surdo é quem irá ler o seu testamento. Se ele não souber ler, ou seja, for surdo e analfabeto, ele irá designar (escolher) alguém para ler em seu lugar, presentes as testemunhas (art. 1.866). O indivíduo que for CEGO pode fazer testamento público? SIM. Na verdade, a única modalidade de testamento que o cego pode fazer é o testamento público. Em outras palavras, se uma pessoa for cega e quiser fazer testamento, este obrigatoriamente terá que ser público. Caso o cego faça um testamento público, a lei exige que este testamento seja lido para ele, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião (ou seu substituto legal) e a outra por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento (art. 1.867). Cego fez testamento público, mas houve apenas uma leitura e não se declarou que o testador era cego O Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega: Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento. Desse modo, exige-se: a) duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma); b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego. Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um testamento público. O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da condição de cego do testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade, mantendo válidas as declarações do testador. O testamento deve ser mantido, mesmo que descumprida alguma formalidade, desde que esteja demonstrado que o instrumento reproduz a manifestação de vontade do testador. Isso porque as formalidades foram pensadas pelo legislador com uma única finalidade: garantir a vontade do testador. Se esta foi garantida, cumpriu-se a finalidade da norma. E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 9 O testamento possui três pressupostos que são essenciais (indispensáveis): a) capacidade do testador; b) respeito aos limites do que o testador poderia; c) lídima declaração de vontade. Estando presentes esses três pressupostos básicos, entende-se que a ausência de umas das outras formalidades exigidas por lei, pode e deve ser superadacom o objetivo de se preservar a vontade do testador. Em suma: O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador. STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610). Cumprimento do testamento Quando há o falecimento do testador, é necessário que o testamento público seja levado a juízo para que seja determinado o seu registro e cumprimento. Este procedimento é previsto no art. 736 do CPC/2015: Art. 736. Qualquer interessado, exibindo o traslado ou a certidão de testamento público, poderá requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento, observando-se, no que couber, o disposto nos parágrafos do art. 735. Qual é o juízo competente para o cumprimento do testamento? O juízo competente para o inventário. Quanto à competência territorial, será competente o foro do domicílio do autor da herança (falecido), nos termos do art. 48 do CPC: Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, apartilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Flexibilização das formalidades do testamento particular Resumo Na elaboração de testamento particular, é possível sejam flexibilizadas as formalidades prescritas em lei na hipótese em que o documento foi assinado por testador e por testemunhas idôneas. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1521371/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 28/03/2017. Comentários É possível flexibilizar as formalidades prescritas em lei no tocante ao testamento particular, de modo que a constatação de vício formal, por si só, não enseja a invalidação do ato, mormente quando demonstrada, por ocasião do ato, a capacidade mental do testador para livremente dispor de seus bens. Nos termos do art. 1.879 do CC, permite-se seja confirmado, a critério do juiz, o testamento particular realizado de próprio punho pelo testador, sem a presença de E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 10 testemunhas, quando há circunstância excepcional declarada na cédula. Nesse sentido: STJ. 3a Turma. AgRg no AREsp 773.835/SP, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, julgado em 23/02/2016. As formalidades estabelecidas em lei para os testamentos possuem por finalidade precípua assegurar a higidez da manifestação de última vontade do testador e prevenir o testamento de posterior infirmação por terceiros. Assim, os requisitos formais, no caso dos testamentos, destinam-se a assegurar a veracidade e a espontaneidade das declarações de última vontade. Todavia, se, por outro modo, for possível constatar, suficientemente, que a manifestação externada pelo testador deu- se de forma livre e consciente, correspondendo ao seu verdadeiro propósito, válido o testamento, encontrando-se, nessa hipótese, atendida a função dos requisitos formais, eventualmente inobservados (STJ. 3a Turma. REsp 1419726/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/12/2014). Princípio da soberania da vontade do testador (art. 1.899 do Código Civil) Resumo Na existência de cláusula testamentária duvidosa, que remete a interpretações distintas, deve-se compreendê-la de modo que melhor se harmonize com a vontade manifestada pelo testador, em atenção ao princípio da soberania da vontade desse, insculpido nos arts. 112 e 1.899 do Código Civil. Para a aplicação do princípio da soberania da vontade do testador na interpretação dos testamentos deverão ser adotadas as seguintes premissas: a) naquelas hipóteses em que o texto escrito ensejar várias interpretações, deverá prevalecer a que melhor assegure a observância da vontade do testador; b) na busca pela real vontade do testador, deve ser adotada a solução que confira maior eficácia e utilidade à cláusula escrita; c) para poder aferir a real vontade do testador, torna-se necessário apreciar o conjunto das disposições testamentárias, e não determinada cláusula que, isoladamente, ofereça dúvida; e d) a interpretação buscada deve ser pesquisada no próprio testamento, isto é, a solução deve emergir do próprio texto do instrumento. STJ. 4ª Turma. REsp 1532544/RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 08/11/2016. É possível que o herdeiro testamentário suceda o autor da ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade de partilha Resumo Ocorrido o falecimento do autor da ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade da partilha antes da prolação da sentença, sem deixar herdeiros necessários, detém o herdeiro testamentário, que o sucedeu a título universal, legitimidade e interesse para prosseguir com o feito, notadamente, pela repercussão patrimonial advinda do potencial reconhecimento do vínculo biológico do testador. STJ. 3ª Turma. REsp 1392314-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/10/2016 (Info 592). Comentários E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 11 Imagine a seguinte situação hipotética: João morreu e a herança ficou para as suas duas únicas filhas: Bianca e Laura. Alguns meses depois, Carlos ajuizou ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade de partilha contra Bianca e Laura. Na ação, Carlos alega que é fruto de relacionamento amoroso mantido entre a sua mãe biológica e o pai das rés (João). Diante disso, o autor requereu a procedência do pedido para que fosse reconhecida a paternidade vindicada, com a consequente decretação de nulidade da partilha realizada nos autos da ação de inventário. O processo estava tramitando normalmente, com a designação de audiência de instrução e julgamento. Ocorre que Carlos, o autor, morreu. O juiz determinou a suspensão do processo, nos termos do art. 313, I, do CPC: Art. 313. Suspende-se o processo: I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; Veio, então, aos autos Fábio, alegando que Carlos era solteiro, não convivia em união estável e não tinha filhos, razão pela qual, por meio de testamento, deixou a totalidade do seu patrimônio para ele (Fábio), cuja cláusula expressamente descreve a extensão desse ato de liberalidade: "tudo o que possui e o que venha a possuir ou que tenha direito". Desse modo, Fábio, como herdeiro testamentário, requereu a sucessão processual no polo ativo da ação, na forma do art. 687 do CPC: Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo. As rés manifestaram-se contrariamente ao pedido de Fábio, argumentando que o direito de reconhecimento de paternidade é personalíssimo e intransmissível, razão pela qual a ação deveria ser julgada extinta, conforme determina o art. 485, IX, do CPC: Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e A questão chegou até o STJ. Afinal de contas, Fábio, como herdeiro testamentário, tem legitimidade para suceder o autor da ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade da partilha? SIM. Ocorrido o falecimento do autor da ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade da partilha antes da prolação da sentença, sem deixar herdeiros necessários, detém o herdeiro testamentário, que o sucedeu a título universal, legitimidade e interesse para prosseguir com o feito, notadamente, pela repercussão patrimonial advinda do potencial reconhecimento do vínculo biológico do testador. E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 12 STJ. 3ª Turma. REsp 1.392.314-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/10/2016 (Info 592). Prescreve o art. 1.606 do Código Civil: Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz. Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o processo. Do artigo supra depreende-se que, de fato, a ação de investigação de paternidade é personalíssima. Porém, o parágrafo único afirma que, falecendo o autor no curso do processo, é possível que haja a sucessão processual pelos herdeiros. Vale ressaltar que o legislador autoriza esta sucessão processual de forma genérica, sem especificar que espécies de herdeiros poderão se habilitar como sucessor do de cujus, o que permite concluir que tanto os necessários quanto os testamentários poderão fazê- lo. O objetivo pretendido pelo habilitante (Fábio) é a participação na herança do suposto pai do autor falecido como seu herdeiro testamentário, de forma que o fato de não ter vínculo com o investigado não lhe retira o interesse de agir.Logo, tendo ocorrido o falecimento do autor após o ajuizamento da ação, não há nenhum óbice de que o herdeiro testamentário ingresse no feito dando-lhe seguimento. Ele é autorizado a fazer isso pelo testamento e também pelo art. 1.606 do CC, que permite o prosseguimento da ação de investigação de paternidade pelos herdeiros, independentemente de serem eles sucessores pela via legítima ou testamentária. Testamento particular redigido de próprio punho não é válido se não for assinado pelo testador Resumo É inválido o testamento particular redigido de próprio punho quando não for assinado pelo testador. A assinatura do testador no testamento particular, além de requisito legal, é mais que mera formalidade, consistindo verdadeiro pressuposto de validade do ato, que não pode ser relativizado. Assim, a sua ausência é um vício muito grave e insuperável. Isso porque, não havendo assinatura, o próprio testamento é apócrifo, não sendo, portanto, possível concluir, de modo seguro, que o testamento redigido de próprio punho exprime a real vontade do testador. STJ. 3ª Turma. REsp 1444867-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/9/2014 (Info 551). Comentários Conceito e características do testamento Testamento é um... - negócio jurídico - unilateral (traz obrigações somente para quem elabora), - solene (deve obedecer formalidades previstas em lei, - personalíssimo (ato elaborado exclusivamente pelo testador) e E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br Julgados DCVII – Sucessão Testamentária Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 13 - revogável, - por meio do qual o testador, - observada a legislação vigente, - determina quem irá ficar com seu patrimônio depois que ele vier a falecer, - podendo ainda prever outras regras de caráter não patrimonial. Espécies Quanto à forma, os testamentos podem ser classificados em ordinários e especiais: ORDINÁRIOS (COMUNS, VULGARES) São aqueles elaborados em condições normais, isto é, sem qualquer situação que possa implicar vício na vontade. ESPECIAIS (EXTRAORDINÁRIOS) São aqueles elaborados em situação de anormalidade. Espécies de testamento ordinário: a) testamento público; b) testamento cerrado (místico); c) testamento particular (hológrafo). Espécies de testamento extraordinário: a) testamento marítimo; b) testamento aeronáutico; c) testamento militar. Testamento particular As regras sobre o testamento particular estão previstas nos arts. 1.876 a 1.880 do CC. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho (“a mão”) ou mediante processo mecânico (ex.: digitado no computador e impresso). Se o testamento tiver sido escrito de próprio punho, a lei prevê que são requisitos essenciais à sua validade que ele seja lido e assinado por quem o escreveu (testador), na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever (§ 1º do art. 1.876). Em uma situação examinada pelo STJ, o testamento particular não foi assinado pelo testador nem lido na presença das testemunhas. Nesse caso, esse testamento poderá ser considerado válido? NÃO. É inválido o testamento particular redigido de próprio punho quando não for assinado pelo testador. O STJ, em diversas situações, flexibiliza o rigorismo da lei e admite a validade do testamento particular mesmo quando não estão preenchidos todos os requisitos legais. Ex.: já se admitiu a validade de um testamento particular que não foi lido para as três testemunhas, mas no qual havia a assinatura do testador e não se tinha nenhuma dúvida de que ele realmente o subscreveu de plena vontade e no pleno gozo de suas capacidades (REsp 828.616⁄MG, julgado em 05⁄09⁄2006). No entanto, a assinatura do testador no testamento particular, além de requisito legal, é mais que mera formalidade, consistindo verdadeiro pressuposto de validade do ato, que não pode ser relativizado. Assim, a sua ausência é um vício muito grave e insuperável. Isso porque, não havendo assinatura, o próprio testamento é apócrifo, não sendo possível, portanto, concluir, de modo seguro, que o testamento, ainda que redigido de próprio punho, exprime a real vontade do testador. É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital Resumo Comentários O indivíduo que recebeu um imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade pode transferir esse imóvel por meio de testamento, considerando que a cláusula de inalienabilidade vitalícia dura apenas enquanto o beneficiário estiver vivo Resumo Comentários Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento Resumo Comentários Flexibilização das formalidades do testamento particular Resumo Comentários Princípio da soberania da vontade do testador (art. 1.899 do Código Civil) Resumo É possível que o herdeiro testamentário suceda o autor da ação de investigação de paternidade cumulada com nulidade de partilha Resumo Comentários Testamento particular redigido de próprio punho não é válido se não for assinado pelo testador Resumo Comentários
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