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Direito Ambiental e Crimes Ambientais Aula 6: Dano, responsabilidade ambiental e responsabilidade civil Apresentação Nesta aula, vamos estudar o dano, seu conceito e as diferenças entre dano ambiental e comum. O dano ambiental tem peculiaridades próprias que merecem ser compreendidas face à dimensão que ocasiona. Também será nesta aula que você aprenderá as formas de responsabilidade para aquele que degrada o meio ambiente, que pode ocorrer em três esferas, de forma individual ou cumulativamente: responsabilidade civil, penal e administrativa. Objetivo Conceber o conceito de dano; Analisar as peculiaridades do dano ambiental; Apreciar as formas de responsabilidade ambiental. Dano ambiental Fonte: pixabay. Dano é toda lesão causada a um bem jurídico tutelado, ofensa a bens ou interesses alheios protegidos pela ordem jurídica, decorrente da violação de um interesse juridicamente protegido. O dano causado ao meio ambiente está ligado à racionalidade do desenvolvimento econômico do Estado fruto de uma sociedade industrializada. Efeito estufa, mudanças climáticas, desastres naturais e danos invisíveis são nitidamente sinais de que a ação humana está destruindo os recursos naturais de forma desastrosa. O meio ambiente é um direito difuso, diretamente ligado à qualidade de vida, em que o indivíduo tem o direito de usufruir do bem ambiental de forma a preservá-lo para as presentes e futuras gerações. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental, que garante a qualidade de vida de todos, estando diretamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana, artigo 3º, inciso III da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988. A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei n. 6.938/1981, em seu artigo 3º, inciso I, além de conceituar meio ambiente como sendo o conjunto de condições, leis, in�uências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, também conceituou degradação da qualidade ambiental, poluição e poluidor, em seus incisos II, III e IV, respectivamente. Segundo a norma, degradação da qualidade ambiental é a alteração adversa das características do meio ambiente. A poluição é uma degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. javascript:void(0); Fonte: pixabay. Ainda segundo a norma, poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. Em uma análise simpli�cada, degradação ambiental é qualquer alteração adversa das características do meio ambiente. Poluição é uma forma de degradação ambiental, e poluidor é a pessoa física ou jurídica que provoca degradação ao meio ambiente. Saiba mais No ordenamento jurídico nacional, não há uma de�nição expressa do termo dano ambiental, então utilizam-se como de�nição os termos degradação da qualidade ambiental, poluição e poluidor. No direito ambiental, o bem jurídico protegido consiste no meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito de todos, conforme o disposto no artigo 225, caput da Constituição Federal de 1988. Milaré (2018) escreve que dano ambiental é: “toda interferência antrópica in�igida ao patrimônio ambiental (natural, cultural, arti�cial) capaz de desencadear, imediata ou potencialmente, perturbações desfavoráveis (in pejus) ao equilíbrio ecológico, à sadia qualidade de vida ou a quaisquer outros valores coletivos ou de pessoas”. Esse termo apresenta características diferentes do dano tradicional, principalmente porque é considerado um bem de uso comum do povo, incorpóreo, imaterial, autônomo e insuscetível de apropriação exclusiva. O dano ao meio ambiente apresenta certas especi�cidades, que são: 1. As consequências decorrentes da lesão ambiental são, via de regra, irreversíveis, podendo ter seus efeitos expandidos para além da delimitação territorial de um Estado; 2. A limitação de sua extensão e a quanti�cação do quantum reparatório é uma tarefa complexa e difícil, justamente em função do caráter difuso, transfronteiriço e irreversível dos danos ambientais. O dano ao meio ambiente apresenta características próprias, pois as consequências decorrentes da lesão ambiental são, via de regra, irreversíveis, podendo ter seus efeitos expandidos para além da delimitação territorial de um Estado. Além disso, a limitação de sua extensão e a quanti�cação do quantum reparatório é uma tarefa complexa e difícil, justamente em função do caráter difuso, transfronteiriço e irreversível dos danos ambientais. Características do dano ambiental: Ênfase na prevenção, em vez da reparação: o objetivo aqui é evitar que o dano ambiental ocorra; Indeterminação das vítimas: como o meio ambiente é um bem de uso comum do povo, o dano ambiental se caracteriza pela pulverização de vítimas, isto é, afeta uma pluralidade difusa de vítimas; Efeitos transfronteiriços: muitas vezes, quando há dano ao meio ambiente, este pode extrapolar a fronteira de um município, estado ou até mesmo de um país; Di�culdade em sua valorização: por ser o meio ambiente um bem difuso, não há como se ter uma concreta valoração econômica ou �nanceira. 1. O dano ambiental, segundo a sua dimensão, pode ser coletivo ou individual. 2. Segundo a natureza do interesse lesado, o dano se divide em: patrimonial ou extrapatrimonial. 3. O dano ambiental futuro. Dano ambiental, segundo a natureza do interesse lesado e dano ambiental futuro Clique no botão acima. Dano ambiental segundo a sua dimensão A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei n. 9.638/81, em seu artigo 14, §1° consagra o dano e a responsabilidade ambiental. Destaca a norma que: A parte da redação do texto legal, que diz que “a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros”, claramente reconhece as modalidades de dano ambiental individual e coletivo. O dano ambiental signi�ca que houve uma lesão a um bem ambiental, mas também pode afetar interesses pessoais, legitimando, desta forma, as pessoas lesadas a uma reparação pelos prejuízos patrimoniais ou extrapatrimoniais que lhes foram causados. Continua Milaré: Dano ambiental coletivo é aquele que pode afetar o interesse da coletividade, uma vez que que é um "bem de uso comum do povo", conforme estabelecido no art. 225, caput da Constituição Federal, sendo ainda de natureza difusa, atingindo um número indeterminado de pessoas. Dano ambiental individual é aquele que pode ser dar na esfera individual. Trata-se do dano que atinge pessoas certas, através da sua integridade moral ou de seu patrimônio particular. Neste caso, quando este ocorre, autoriza o indivíduo a exigir a reparação do dano, seja ela extrapatrimonial ou patrimonial, para recompor o prejuízo individual sofrido. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. Isso signi�ca dizer que o dano ambiental, embora sempre recaia diretamente sobre o ambiente e os recursos e elementos que o compõem, em prejuízo da coletividade, pode, em certos casos, re�etir-se, material ou moralmente, sobre o patrimônio, os interesses ou a saúde de uma certa pessoa ou de um grupo de pessoas determinadas ou determináveis. Dano ambiental segundo a natureza do interesse lesado Explica Milaré: O dano patrimonial ocorre quando há a obrigação de reparar um bem ambiental que foi degradado. Este repercute sobre o próprio bem ambiental, devendo restabelecê-lo ao seu status quo ante, ou ainda por meio de uma compensaçãoou indenização. Constituem lesões patrimoniais ao bem ambiental o desequilíbrio ecológico, a diminuição da qualidade de vida, os incômodos físicos ou lesões à saúde, dentre outros. O dano extrapatrimonial ou moral é aquele que: O dano ambiental moral se identi�ca da mesma forma que o individual, pelo sentimento de dor, constrangimento, angústia, sofrimento. A diferença está apenas no titular desses sentimentos: no dano moral individual, o lesado será o sujeito unitário, e no dano moral ambiental, estes sentimentos constam em todos aqueles que foram afetados pela atividade lesiva ao meio ambiente. Sob o prisma da natureza do interesse lesado, aponta-se o que a doutrina tem chamado de dano patrimonial ou material – para destacar a lesão ocasionada aos interesses relativos a bens que ensejam repristinação, reparação ou equivalência econômica -, e dano extrapatrimonial ou moral, para identi�car o interesse jurídico objeto da lesão que, pela sua própria essência, não enseja uma quanti�cação econômica. (...) quando um dano patrimonial é cometido, a ocorrência de relevante sentimento coletivo de dor, sofrimento e/ou frustração resulta na con�guração do dano ambiental extrapatrimonial ou moral. À evidência, este dano não decorre da impossibilidade de retorno ao status quo ante, mas sim da evidência desses sentimentos coletivos de dor. (MILARÉ, 2018) Também há o prejuízo extrapatrimonial ou moral no âmbito individual. Este trata-se do prejuízo não econômico; o dano ao meio ambiente está con�gurado na lesão subjetiva. O Dano Ambiental Futuro O dano ambiental futuro é aquele fruto de um evento imperceptível ao senso comum. O dano ambiental futuro ultrapassa o momento em que ocorreu o dano, pois ele perdura no tempo. Exemplos deste dano ambiental: 1. O desastre ambiental que ocorreu em 11 de março de 2011, na usina nuclear de Fukushima, no Japão, com o vazamento de radiação oito vezes maior do que o limite de segurança permitido. A catástrofe ambiental ocorreu após um uma onda gigante (tsunami) invadir a região. Tempos depois, a região onde ocorreu o desastre ambiental ainda sofre as consequências; 2. A barragem do Fundão que se rompeu em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, Minas Gerais. A degradação ao meio ambiente foi tamanha que até hoje, e durante muitos anos, a população sentirá os seus efeitos, reverberando, inclusive, para outras regiões. O mesmo acontece com a barragem de córrego de Feijão, que se rompeu em 25 de janeiro de 2019, em Brumadinho, também em Minas Gerais. A devastação ambiental foi gigantesca, e mais de 240 pessoas morreram. Esse dano ambiental irá perdurar no tempo e alcançar pessoas e localidades externos ao ambiente degradado. Os danos causados ao meio ambiente podem ser tutelados por diversos instrumentos jurídicos processuais, com, por exemplo, a ação civil pública (LEI n. 7.347/85). No caso do rompimento da barragem de Fundão que ocorreu no distrito de Bento Rodrigues, na cidade de Mariana, em 2015, o Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil pública, pelos danos ambientais causados pelas empresas Samarco, Vale do Rio Doce e BHP Billiton Brasil. A ação civil pública, junto com a Política Nacional do Meio Ambiente (LEI n. 6.938/81) e a Constituição Federal de 1988, artigo 225, aprimorou a defesa jurisdicional do dano ambiental nacional e facilitou a responsabilização do seu agente causador. (...) só se revelando quando concretizado em um dano ambiental propriamente dito, em geral de dimensões e efeitos catastró�cos e inestimáveis. (MILARÉ, 2018) Responsabilidade A palavra responsabilidade tem sua origem etimológica no verbo latino respondere (responder, pagar), de spondeo, ou seja, é a primitiva obrigação de natureza contratual do Direito Romano, pela qual o devedor se vinculava ao credor nos contratos verbais, havendo a ideia e concepção de responder por algo. Atenção Sob o ponto de vista jurídico, a ideia de responsabilidade adota um sentido obrigacional. É a obrigação que tem o autor de um ato ilícito de indenizar a vítima pelos prejuízos que foram causados a esta. A regra estabelecida pelo Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, é a da responsabilidade civil subjetiva. Nesta, caso exista a comprovação de culpa ou o dolo do agente causador do dano, este pode reparar o dano que cometeu. Contudo, o Código Civil, sem prejuízo da responsabilidade subjetiva, acrescentou em seu texto legal, artigo 927, parágrafo único, a responsabilidade civil objetiva, ou seja, a obrigação de reparar o dano ocorre independentemente da existência de dolo ou culpa, que, como veremos a seguir, é a responsabilidade a que se pauta o artigo 14, §1°, da Lei nº 6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente. A responsabilidade e o dano estão intrinsecamente vinculados. No Direito Ambiental, o dano decorre de uma degradação causada ao meio ambiente, que acarretará na responsabilização ao poluidor, pessoa física ou jurídica, pela lesão produzida. Responsabilidade Ambiental Fonte: pixabay. No Direito Ambiental, o objetivo maior é a prevenção, isto é, não deixar que o dano ambiental ocorra. Não se deve chegar necessariamente à concretização do dano ambiental para que, por consequência, haja a responsabilização do agente, até porque, em se tratando de meio ambiente, o mais importante é impedir que o dano ambiental aconteça. Atenção No pátrio Direito Ambiental, o bem jurídico a ser protegido é o meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este um direito de todos, conforme consagrado no artigo 225, caput da Constituição Federal. Como vimos, a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6938/81 foi a primeira norma ambiental a de�nir o conceito de meio ambiente, degradação ambiental, poluição e poluidor. Assim, qualquer ação ou omissão de pessoa física ou jurídica que cause degradação ao meio ambiente causa um dano ambiental. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, §3º, estabelece como forma de reparação do dano ambiental três tipos de responsabilidade: civil, penal e administrativa, todas independentes e autônomas entre si. Isso signi�ca dizer que, com uma única ação ou omissão, podem-se cometer os três tipos de ilícitos autônomos e também receber as sanções cominadas para cada uma das responsabilidades ambientais. É consagrada a regra da cumulatividade das sanções penais, civis e administrativas em sede de Direito Ambiental. Estas, além de protegerem objetos distintos, estão sujeitas a regimes jurídicos diferentes. A regra contida no art. 225, § 3º da Constituição Federal deixa cristalino que, no âmbito da tutela do meio ambiente, as condutas e atividades consideradas lesivas ao bem ambiental sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Atenção Esse “independentemente da obrigação de reparar os danos causados” refere-se a perdas e danos, isto é, indenização. Signi�ca dizer: indenizar pelos danos ambientais que foram causados é a base para a responsabilidade civil ambiental. Portanto, haverá responsabilidade na esfera penal, administrativa e civil, sendo esta última de natureza objetiva, sem a necessidade de exigir comprovação de dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano ao meio ambiente. Veri�cada a responsabilidade ambiental, a reparação mais indicada é a reconstituição (recuperação) do meio ambiente agredido, cessando-se a atividade lesiva e revertendo-se a degradação ambiental. Fonte: pixabay. A reconstituição, por tentar retornar a situação ambiental ao seu status quo ante (como era antes do dano ou da alteração sofrida), sem dúvida é a mais almejada, porém muitas vezes, devido à extensão do dano, a mais difícil de ocorrer. No dano ambiental causado pelo rompimento das barragens da Mariana e Brumadinho, voltar a natureza destruída ao estado que era antes é praticamente impossível. Apenas quando a recuperação ao status quo ante não for viável é que se admite aindenização em dinheiro. Dentro da responsabilidade ambiental, para que esta efetivamente ocorra, o principal é a identi�cação dos sujeitos envolvidos. Uma das formas de garantir uma maior prudência, com vista a evitar a ocorrência de danos ambientais, é impor responsabilidades às pessoas físicas ou jurídicas cujas atividades possam acarretar lesão ao meio ambiente. Isto é, quando uma atividade provoca efetivamente dano ambiental, aquele que degrada deve suportar as sanções cabíveis e assumir os custos da reparação. Princípios ambientais que coadunam com a responsabilidade ambiental Swiper (slider) Navigation 2 Imagem horizontal Fonte: pixabay. Princípio da responsabilidade ou da responsabilização: Este princípio refere-se à responsabilidade do poluidor, pessoa física ou jurídica, que deverá responder pelos danos causados ao meio ambiente, através de suas ações ou omissões em prejuízo do meio ambiente, �cando sujeito a sanções cíveis, penais ou administrativas. A responsabilidade ambiental encontra-se amparada no § 3º do art. 225 da Constituição Federal e ainda no art. 14, § 1º da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), principalmente quando se trata da responsabilidade civil objetiva. Fonte: unsplash. Princípio do poluidor pagador: Quando se fala em responsabilidade civil ambiental, que é objetiva, faz-se imperioso olhar para o princípio do poluidor pagador, segundo o qual quem polui o meio ambiente deve arcar com as despesas que seu ato produziu. O princípio pretende internalizar no valor a ser pago as externalidades produzidas, o que se denomina custo ambiental. Tal expressão refere-se à imposição ao sujeito causador da lesão ao bem ambiental em sustentar �nanceiramente a diminuição ou o afastamento do dano. Este princípio objetiva também impedir a socialização dos prejuízos decorrentes dos produtos inimigos ao meio ambiente A responsabilidade estimula a proteção ao meio ambiente, uma vez que faz o possível poluidor investir na prevenção do risco ambiental decorrente de sua atividade. Fonte: pixabay. Princípio da prevenção: A degradação ambiental deve ser prevenida através de medidas que a evitem, em vez de esperar que aconteça o dano ambiental para depois tentar combatê-lo e exigir a tutela jurisdicional para a sua reparação. Assim, é bem mais e�ciente e barato prevenir danos ambientais do que repará-los, até porque �ca muito difícil fazer que o meio ambiente volte ao status quo ante. De maneira prática, este princípio tem o objetivo de impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente, adotando-se medidas acautelatórias prévias à instalação, obra ou implantação de determinado empreendimento ou atividade considerada efetiva ou potencialmente poluidora. Responsabilidades em matéria ambiental É forçoso lembrar que o Direito Ambiental tem três esferas de atuação, que são: Fonte: Adaptado de shutterstock. Preventiva (como exemplo, tem-se o procedimento administrativo licenciamento ambiental); Reparatória (seria a hipótese da responsabilidade civil ambiental); Repressiva (sanções penais e administrativas). Responsabilidades Administrativa, Penal e Civil Clique no botão acima. Responsabilidade administrativa A responsabilidade administrativa resulta da infração a normas administrativas, sujeitando o infrator a uma sanção de natureza também administrativa. Toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente consiste em uma infração administrativa ambiental, tornando o infrator passível a sanções administrativas, artigo 70, Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98). A Lei 9.605/98, em seu artigo 72 e seus incisos, e o Decreto 6.514, de 22 de julho de 2008, artigo 3o e incisos, dispõem sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, sendo que este último regulamento também estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções: Advertência; Multa simples; Multa diária; Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e �ora e instrumentos, apetrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; Destruição ou inutilização do produto; Suspensão de venda e fabricação do produto; Embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas; Demolição de obra; Suspensão parcial ou total das atividades; Pena restritiva de direitos. A administração pública, nos limites de suas competências, exerce o poder administrativo. Dentre os poderes, merece destaque o poder de polícia administrativo ambiental dos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Um dos instrumentos preventivos da responsabilidade administrativa ambiental é o licenciamento ambiental. Entre os instrumentos repressivos, tem-se a imposição de sanções administrativas, disciplinadas na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), no artigo 72. Responsabilidade penal ambiental ou responsabilidade criminal A responsabilidade penal surge com a ocorrência de uma conduta omissiva ou comissiva que, ao violar uma norma de direito penal, pratica crime ou contravenção penal, �cando o infrator sujeito à pena de perda da liberdade ou à pena pecuniária. Os crimes contra o meio ambiente ou crimes ambientais só existem na forma de�nida em lei. O bem jurídico protegido consiste no meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, conforme previsto pelo artigo 225, caput da Constituição Federal, que abrange o meio ambiente natural, cultural e arti�cial. Como veremos na próxima aula, o legislador tornou expressa a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, conforme consta no artigo 3° da Lei 9.605/98, desde que a infração ambiental tenha sido originada de decisão de seu representante e que tenha por motivação bene�ciá-la. Cabe ainda esclarecer que a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato, parágrafo único, artigo 3º. A Lei nº 9.605/98 veio para sistematizar o regime sancionatório ambiental, tipi�car novas condutas degradadoras e adequar os instrumentos punitivos aos objetivos próprios do direito ambiental. Caberá ao Ministério Público, quando ocorrer a responsabilidade penal por dano ou crime ambiental, propor a ação penal pertinente ao caso, na forma prevista no Código de Processo Penal. Responsabilidade civil ambiental O crescente processo de industrialização, fruto do desenvolvimento econômico, somado à crise ambiental trouxe a necessidade de uma melhor proteção ao bem ambiental, uma vez que as atividades danosas ao meio ambiente se proliferam. Nesse sentido, a responsabilidade civil ambiental tem como objetivo traçar os parâmetros para a veri�cação do dano causado e a responsabilização do agente causador, seja ele pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. O Direito Ambiental apresenta três esferas de atuação: preventiva, reparatória e repressiva. Na responsabilidade civil ambiental, tem-se a reparação do dano, que se opera por meio das normas de responsabilidade civil. A recomposição do dano pode se dar pela obrigação de fazer (status quo ante) e/ou através de uma importância em dinheiro (indenização), que seria obrigatória. O Superior Tribunal de Justiça, em 18 de dezembro de 2018, aprovou a Súmula nº 629, que a�rma que o dano ambiental admite a condenação do réu à obrigação de fazer ou de não fazer, cumulando ainda com indenização. Em matéria ambiental, a responsabilidade civil tem alguns critérios que a diferenciam de outros ramos do Direito. Em matéria ambiental, a responsabilidade civil tem alguns critérios que a diferenciam de outros ramos do Direito. Isso ocorre porque normalmente, quando há danos a terceiros, se impõe a obrigação de reparar o dano que causou a este. Trata-se do resultado de uma conduta antijurídica, seja de uma ação, seja de uma omissão, que se origina um prejuízo a ser ressarcido. Em sede de responsabilidadecivil ambiental, vigora a teoria da responsabilidade civil objetiva, onde “é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”, conforme expressamente prevê o artigo 14, §. 1º da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei 6.938/81. Assim, é desnecessária a comprovação do dolo ou culpa para a caracterização da responsabilidade civil, bastando a prova do dano e o nexo causal para impor ao infrator o dever de indenizar pelo dano a que deu causa. O nexo causal é a relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o dano. Esclarece Milaré: Comprovada a lesão ambiental, torna-se indispensável que se estabeleça uma relação de causa e efeito (nexo causal) entre o comportamento do agente (ação) e o dano dele advindo, sem exigir-se a comprovação de culpa ou dolo. Existindo um dano ambiental, haverá o dever de repará-lo. A reparação pode ser: recuperação in natura ou restauração natural do estado anterior (status quo) do bem ambiental afetado, e quando esta não for possível, recairá sobre o poluidor a indenização com a condenação de um quantum pecuniário (indenização), que é a recomposição efetiva e direta do ambiente lesado através de uma importância em dinheiro, pelo poluidor. Também há na esfera ambiental a reparação através da compensação ambiental, que é uma forma alternativa de reparação. A compensação ambiental é um mecanismo �nanceiro que visa contrabalançar os impactos ambientais previstos ou que já ocorreram na implantação de um empreendimento, obra ou atividade. Então, a reparação ambiental pode ocorrer de três formas: recuperação in natura, indenização (condenação em dinheiro) e compensação ambiental. A responsabilidade civil também apresenta seus pressupostos, que são: 1. Ação lesiva: é a interferência na esfera de valores de outrem, decorrente de ação ou omissão; 2. Dano: pode ser patrimonial ou extrapatrimonial (moral); 3. Nexo causal: consiste na relação de causa e efeito entre o dano e a ação do agente. É su�ciente a existência da ação lesiva do dano e do nexo com a fonte poluidora ou degradadora para a atribuição do dever de reparação civil, conforme preceitua o art. 225, § 3º, da Constituição Federal de 1988. Teoria do risco integral: É a teoria adotada pela doutrina e jurisprudência ambiental majoritária no que tange à responsabilidade civil ambiental. Trata-se de uma responsabilidade objetiva agravada, extremada, que não admite a existência de excludentes do nexo causal, isto é, não se admite falar em culpa exclusiva da vítima, fato de terceiros, caso fortuito ou força maior. A teoria do risco integral traz como consequências principais a facilitar o dever ressarcitório: 1. A prescindibilidade de investigação de culpa: há a desnecessidade de se apurar a culpa do agente causador do dano ao meio ambiente; Em matéria de dano ambiental, a Lei 6.938/1981, como dito, ao adotar o regime da responsabilidade civil objetiva, afasta a investigação e a discussão do elemento interno (dolo ou culpa), mas não prescinde do nexo causal, isto é, da relação de causa e efeito entre a atividade (= fonte poluidora) e o dano dela advindo. Mesmo porque, impensável atribuir-se a outrem, alheio ao fato, a obrigação de indenizar um dano a que não deu causa, por ação própria ou de terceiro pela qual responde. 2. A irrelevância da licitude da atividade: Uma atividade lícita pode dar causa a um dano ambiental, “assim como uma atividade ilícita não necessariamente enseja o seu desenlace. É dizer: tão somente a lesividade é su�ciente à responsabilização do poluidor” (Milaré); 3. A inaplicabilidade de excludentes na danosidade própria ou típica da atividade: é a não aplicação das excludentes: caso fortuito, força maior, ação exclusiva da vítima, fato de terceiro e risco do desenvolvimento como fator de exoneração do dano ambiental, ou seja, o nexo causal deve relacionar o dano (fato) à atividade (que gera risco). Solidariedade em matéria de responsabilidade civil ambiental O que é solidariedade? De acordo com o Código Civil, a solidariedade existe quando em uma mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda (artigo 264 do Código Civil). A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. A responsabilidade civil ambiental é objetiva e também solidária, pois todos os causadores do dano ao meio ambiente, sejam eles diretos e indiretos, respondem pelos prejuízos ocorridos, isto é, a obrigação pode ser reclamada a qualquer um dos poluidores, e ainda, independe a sua veri�cação da licitude ou ilicitude da conduta do agente poluidor. Desta forma, todos os causadores respondem solidariamente pelos prejuízos ao meio ambiente. Na existência de múltiplos agentes poluidores, não existe obrigatoriedade de todos estarem no polo passivo da demanda, como réus, uma vez que a responsabilidade é solidária pela reparação integral do dano ambiental. O artigo 275 do Código Civil corrobora com esse entendimento, ao a�rmar que: O que é uma obrigação de natureza propter rem? Signi�ca “por causa da coisa”. Obrigação em razão (propter) da coisa (rem). Trata-se de uma obrigação decorrente do domínio ou da posse de um bem, relacionada a um direito real, isto é, a uma determinada coisa da qual o devedor é proprietário ou possuidor. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Atenção O devedor que satisfez a dívida do credor por inteiro tem o direito de exigir de cada um dos codevedores a sua quota parte na dívida (artigo 283 do CC/02). Saiba mais Recentemente o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula nº 623, que estabelece que “as obrigações ambientais têm natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor. Atividades 1. Em 25 de janeiro de 2019, a barragem da mina de córrego do Feijão da Mineradora Vale do Rio Doce rompeu, devastando toda a biodiversidade da região de Brumadinho, município de Minas Gerais. Mais de 240 pessoas morreram. É o segundo desastre ambiental fruto de rompimento de barragens da Vale do Rio Doce no estado de Minas Gerais, em menos de cinco anos. A primeira foi em Bento Rodrigues, em 2015, quando houve o rompimento da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, município de Mariana, Minas Gerais. Nesses dois desastres, a biodiversidade foi devastada e várias pessoas morreram. Brumadinho, antes e depois da catástrofe ambiental. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/antes-depois-veja-imagens-da-area-destruida- em-brumadinho-23401795. Acesso em: 19 ago. 2019. Bento Rodrigues, antes e depois da catástrofe ambiental. javascript:void(0); Diante desses dois enormes danos causados ao meio ambiente, explique com as suas palavras o que você entendeu sobre as peculiaridades do dano ambiental. 2. Dentro do estudo da aula, o dano ambiental consiste: a) Em toda lesão intolerável, causada por qualquer ação humana ao meio ambiente. b) No sofrimento humano, que é causado por uma perda pecuniária. c) Abrange todo atentado à reputação da vítima, à sua segurança e tranquilidade. d) Na lesão culpável causada ao particular. e) Nenhuma das opções. 3. Quando se estuda dano ambiental, sabe-se que pode existir até três formas de responsabilizar o agente. Essas responsabilidades são conhecidas como __________________, ___________________ e ___________________. Questão 4: I. O dano ambiental tem peculiaridades próprias que o diferenciam do dano comum. II. A pessoa jurídica pode ser responsabilizada por degradar o meio ambiente. a) As duas afirmativas estão incorretas. b) Apenas a afirmativa I está correta. c) As duas afirmativas estão corretas. d) Apenas a afirmativa II está correta. 5. Sobre a responsabilidadecivil ambiental, é correto a�rmar: a) Prevalece na responsabilidade civil ambiental a teoria do risco. b) A responsabilidade civil ambiental é objetiva, sendo essencial a comprovação da culpa. c) A responsabilidade civil ambiental é objetiva, sendo essencial a comprovação do dolo. d) A responsabilidade civil ambiental é objetiva, não sendo necessária a configuração da culpa ou do dolo. e) A responsabilidade civil ambiental é subjetiva, não sendo necessária a configuração da culpa ou do dolo. 6. Quando se degrada o meio ambiente, cabe indenização na esfera civil pelos danos ambientais causados. No caso da degradação ambiental que ocorreu no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana, fruto do rompimento da barragem de Fundão, o Ministério Público Federal ajuizou ______________ em face da Samarco, Vale e BHP Billiton Brasil. Notas Arbitragem texto modal Referências BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: //www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 5 ago. 2019. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponível em: //www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm. Acesso em: 5 ago. 2019. BRASIL. Lei n. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Disponível em: //www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm. Acesso em: 19 ago. 2019. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 18. ed. Revistas dos Tribunais. 2018. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. SIRVINKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. Próxima aula As características do Direito Penal Ambiental; Ação penal e suspensão condicional do processo. Explore mais Leia os textos: Breves considerações sobre a responsabilidade civil ambiental A questão da responsabilidade solidária no Direito Ambiental javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);