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- -1 FUNDAMENTOS DOS ESTUDOS JURÍDICOS EM SEGURANÇA PÚBLICA A VIOLÊNCIA E SUAS VARIAÇÕES NO CONTEXTO SOCIAL - 2ª PARTE - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1- Reconhecer os principais aspectos das organizações criminosas e da Lei n° 11.343/06 (Lei de Drogas), temas que, na atualidade, representam uma problemática bastante complexa e de difícil solução no âmbito da Segurança Pública. 1 As organizações criminosas e a lei n° 9.034/95 Uma das questões que desafiam o agente policial na importante missão de manutenção da ordem pública diz respeito aos crimes relacionados às organizações criminosas, que constituem um fator de grande instabilidade no contexto social. Neste sentido, o estudo dos principais aspectos que envolvem este tipo de violência, bem como dos meios legais disponíveis para regular a ação estatal que visa coibi-la, é importante para que o agente de segurança pública atue de forma consciente e eficaz. Para que se possa estabelecer uma caracterização adequada de cada conceito, vamos primeiro compreender as noções de quadrilha ou bando e de associações criminosa. Saiba mais A Lei n° 9.034/95 dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas, definindo e regulando meios de prova e procedimentos investigatórios que versam sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo. Cabe destacar que este diploma legislativo foi alterado, posteriormente, pela Lei n° 10.217 de 2001, que modificou os dispositivos que tratavam sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Destaca-se, também a recente Lei n° 12.694, de 24 de julho de 2012, que finalmente apresentou uma definição expressa de organização criminosa, que será abordada a seguir. - -3 2 Quadrilha ou bando O conceito de quadrilha ou bando encontra-se disposto no do Código Penal Brasileiro, constituindo aart. 288 associação entre mais de três pessoas para o fim de cometerem crimes. Art. 288 do Código Penal Brasileiro Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos. Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado. 3 Associações criminosas O conceito de associações criminosas está disposto no art. 35 da Lei n° 11.343 de 2006, constituindo a associação entre duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos , caput e § , e da Lei.art. 33 1º art. 34 Art. 33, Lei n° 11.343/06: Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (...). § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. Art. 34, Lei n° 11.343/06: Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. - -4 O art. 2º da Lei n° 2.889 de 1956 (Lei do Genocídio) também trata das associações criminosas quando determina como crime a associação entre mais de três pessoas para a prática dos crimes de genocídio determinados pelo art. 1º. Art. 1º, Lei n° 2.889/56: Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo. 4 Organizações criminosas Não havia lei tipificando o que constituía organização criminosa, apenas conceitos doutrinários definindo-a como sendo a estrutura hierárquica e escalonada de pessoas, com divisão de funções e subordinação. Extraía-se o conceito de organização criminosa da interpretação do , caput e do Código Penalart. 29 art. 62 Brasileiro, ao definirem a prática de delitos por mais de um agente de forma coordenada ou estruturada. - -5 Art. 29, CPB: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Art. 62, CPB: A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II - coage ou induz outrem à execução material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. Na Convenção de Palermo (2009), as organizações criminosas foram definidas pelo art. 2º-A como grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo, atuando concertadamente e com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na Convenção, com a intenção de obter direta ou indiretamente um benefício econômico ou material. Só mais recentemente, na Lei n° 12.694, de 24 de julho de 2012, que dispõe sobre o processo e o julgamento colegiado em 1º grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas, foi estabelecido um conceito expresso de organizações criminosas. Assim, o art. 2º deste diploma legal considera organização criminosa a associação, de três ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a quatro anos ou que sejam de caráter transnacional. É possível reconhecer essas organizações criminosas através de algumas características. Características das Organizações Criminosas Alto grau de lesão ao patrimônio público; Utilização de meios tecnológicos; Conexões locais, regionais internacionais; Estrutura hierárquica; Alto poder de intimidação e violência; Prestação de ofertas sociais; Alto poder de corrupção; - -6 Alto poder econômico de seus membros. 5 Crime de milícia O crime de constituição de milícia privada foi incluído no Código Penal Brasileiro pela Lei nº 12.720, de 27 de setembro de 2012, que acrescentou o: Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar,milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: Pena - reclusão, de 4 a 8 anos. É importante destacar que esta nova norma não se aplica aos crimes cometidos anteriormente à sua vigência, por força do do Código Penal Brasileiro.art. 1º Art. 1º: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 6 Aspectos penais e processuais penais da Lei 9.034/1995 Primeiramente, deve-se observar que ao procedimento penal da Lei n° 9.034/95 aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Penal (art. 11). Veja ao lado algumas peculiaridades da Lei. O art. 5º da Lei determina que o autor envolvido em crime organizado deva ser identificado criminalmente, independente de o ser civilmente. Essa identificação consiste na colheita de material datiloscópico do autor para o confronto de suas impressões digitais. A Lei determina, ainda, que, nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria (art. 6º). Pelo art. 7º, a liberdade provisória, com ou sem fiança, é vedada somente ao agente que tiver “intensa e efetiva participação” nas infrações. Por força do art. 9º, o réu não poderá apelar em liberdade. Os prazos para o encerramento da instrução processual (art. 8º) são: • 81 dias com o réu preso; • 120 dias com o réu solto. Os condenados por envolvimento em organização criminosa devem iniciar suas penas privativas de liberdade no regime fechado (art. 10 da Lei), sendo facultado o progresso de regimes de cumprimento da pena, cumpridos 1 /6 desta. • • - -7 Se a condenação for por crime hediondo e ficar evidenciado seu envolvimento em organização criminosa, associação à quadrilha ou bando, a progressão seguirá o disposto no da Lei de CrimesParágrafo 2º do art. 2º Hediondos, em que a redação foi determinada pela Lei 11.464/2007, ou seja, deve-se cumprir 2/5 da pena se primário e 3/5 se reincidente. Art. 2º (...) § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for primário, e de 3/5, se reincidente. É importante que o agente de segurança pública, diante do tratamento diferenciado conferido pela legislação aos crimes praticados por organizações criminosas, saiba identificar quais grupos que estão incluídos no âmbito de abrangência da lei (tarefa facilitada pela Lei n° 12.694, que determinou um conceito expresso de organizações criminosas) e quais são as ações permitidas pelo ordenamento jurídico nesses casos. A dificuldade que o Poder Público possui de controlar essas organizações é evidenciada no cotidiano do agente policial, que se vê, muitas vezes, submetido a situações de confronto e de violência provocadas por esses grupos. É visível, também, que este tema possui uma relação bastante estreita com a questão do tráfico de entorpecentes, que, em muitos estados do país, gera a criação de facções criminosas que acabam por constituir um verdadeiro “poder paralelo”, provocando medo e insegurança no contexto social. Atenção A questão das drogas será abordada no próximo tópico da aula, que vai tratar da Lei n° 11.343/06, conhecida como “Lei de Drogas”, desenvolvendo seus aspectos mais relevantes. - -8 7 A Lei n° 11.343/06 - Lei de Drogas A questão das drogas é um tema bastante abordado na atualidade. A Lei n° 11.343/06, conhecida como “Lei de Drogas”, institui o (Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas); prescreve medidas paraSisnad prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. De acordo com o parágrafo único do art. 1º da Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. As drogas são proibidas em todo o território nacional, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais elas possam ser extraídas ou produzidas. Há exceções, no caso de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso (art. 2º). A Lei possibilita que a União autorize o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais dos quais possam ser extraídas drogas, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização. 7.1 Dos crimes e das penas Pela Lei de Drogas, o indivíduo que adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas (art. 28 da Lei): Advertência sobre os efeitos das drogas; Prestação de serviços à comunidade; Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Atenção Também está submetido a essas medidas aquele que, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Você deve estar se perguntando como saber se a droga destina-se a consumo pessoal... - -9 Para isso, o juiz deverá atentar para natureza e a quantidade da substância apreendida, o local e as condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias sociais e pessoais, bem como a conduta e aos antecedentes do agente. 7.2 Apreensão e destinação de bens do acusado O da Lei de Drogas determina que o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou medianteart. 60 representação da autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos na Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prática. O possibilita que os bens apreendidos sejam utilizados pelos órgãos ou pelas entidades que atuam naart. 61 prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você estudará sobre os seguintes assuntos: • A avaliação dos envolvidos nas questões de Direito e Justiça no contexto da Segurança Pública, que se apresentam no dia a dia; • O reconhecimento da busca pela Justiça no âmbito da Segurança Pública. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Reconheceu os principais aspectos das organizações criminosas e da Lei n° 11.343/06 (Lei de Drogas), temas que, na atualidade, representam uma problemática bastante complexa e de difícil solução no âmbito da Segurança Pública. • • • Olá! 1 As organizações criminosas e a lei n° 9.034/95 2 Quadrilha ou bando 3 Associações criminosas 4 Organizações criminosas 5 Crime de milícia 6 Aspectos penais e processuais penais da Lei 9.034/1995 7 A Lei n° 11.343/06 - Lei de Drogas 7.1 Dos crimes e das penas 7.2 Apreensão e destinação de bens do acusado O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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