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SÍNTESE, ARMAZENAMENTO E SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE A tireoide secreta três hormônios: tiroxina (T4 ), tri-iodotironina (T3 ) e calcitonina. O T4 e o T3 têm importância crítica para o crescimento e desenvolvimento normais, e para controle do metabolismo energético. A calcitonina está envolvida no controle do cálcio plasmático [Ca 2+ ] e é utilizada para o tratamento de osteoporose e outras alterações metabólicas ósseas A unidade funcional da tireoide é o folículo ou ácino. Cada folículo consiste em uma camada única de células epiteliais ao redor de uma cavidade, a luz do folículo, repleta de um coloide espesso que contém tireoglobulina. A tireoglobulina é sintetizada, glicosilada e, em seguida, secretada na luz do folículo, onde ocorre a iodação dos resíduos de tirosina. Em torno dos folículos, há uma densa rede capilar, e o fluxo sanguíneo através da glândula é muito intenso CAPTAÇÃO DE IODETO PLASMÁTICO PELAS CÉLULAS FOLICULARES A captação do iodeto precisa ocorrer contra um gradiente de concentração O iodeto é captado do sangue e transportado até a luz por dois transportadores: o cotransportador de Na + /I − (NIS, do inglês, Na + /I − symporter), localizado na superfície basolateral dos tireócitos (sendo a energia fornecida pela Na + /K+ - ATPase), e a pendrina 1 (PDS), um transportador de I − /Cl − das membranas apicais OXIDAÇÃO DO IODETO E IODAÇÃO DOS RESÍDUOS DE TIROSINA A oxidação do iodeto e sua incorporação à tireoglobulina (chamada de organificação do iodeto) é catalisada pela tireoperoxidase, uma enzima encontrada na superfície interna da célula na interface com o coloide. A reação requer a presença de peróxido de hidrogênio (H2O2) como agente oxidante. A iodação, que acontece dentro do folículo, ocorre depois que a tirosina é incorporada à tireoglobulina Os resíduos de tirosina são iodados inicialmente na posição 3 do anel, TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DOS DISTÚRBIOS DA TIREOIDE originando a monoiodotirosina (MIT) e, em seguida, em algumas moléculas, na posição 5, originando a di- iodotirosina (DIT). Ainda incorporadas à tireoglobulina, essas moléculas são unidas em pares: MIT com DIT, formando o T3, ou duas moléculas de DIT, formando o T4 . Acredita-se que o mecanismo de união envolva um sistema de peroxidase semelhante àquele envolvido na iodação A tireoglobulina iodada na tireoide forma um grande estoque de hormônio tireoidiano dentro da glândula, com reciclagem (turnover) relativamente lenta. SECREÇÃO DO HORMÔNIO TIREOIDIANO A molécula de tireoglobulina é captada pela célula folicular por endocitose. Em seguida, as vesículas endocíticas se fundem com os lisossomos, e enzimas proteolíticas atuam sobre a tireoglobulina, liberando T4 e T3 para serem secretados no plasma. O excesso de MIT e DIT, liberadas ao mesmo tempo, é captado pela célula, onde o iodeto é enzimaticamente removido e reutilizado REGULAÇÃO DA FUNÇÃO TIREOIDIANA O hormônio de liberação de tireotrofina (TRH), liberado pelo hipotálamo em resposta a diversos estímulos, induz a liberação do hormônio estimulante da tireoide (TSH; tireotrofina) da hipófise anterior O TSH atua em receptores na membrana das células do folículo da tireoide através de mecanismo que envolve AMPc e fosfatidilinositol 3- quinase. Ele possui ação trófica sobre as células da tireoide e controla todos os aspectos da síntese de hormônio tireoidiano, incluindo: I: Captação de iodeto pelas células do folículo, através do estímulo da transcrição dos genes do transportador de iodeto; este é o principal mecanismo pelo qual ele regula a função tireoidiana e controla todos os aspectos da síntese de hormônios tireoidianos, incluindo: A produção de TSH também é regulada por efeito de retroalimentação (feedback) negativa dos hormônios tireoidianos na hipófise anterior, sendo o T3 mais ativo que o T4 nesse aspecto Outro fator importante que influencia a função tireoidiana é a concentração plasmática de iodeto. A ingestão reduzida de iodo, com concentração plasmática de iodeto reduzida, resulta em diminuição da produção de hormônio e aumento da secreção de TSH. A concentração plasmática elevada de iodeto tem o efeito oposto. OBS: O TSH estimula todas as etapas para síntese e secreção de T3 e T4: aumenta a atividade da bomba de iodeto, aumenta a organificação da tireoglobulina, aumenta a proteólise da tireoglobulina e aumenta o número, o tamanho e a atividade das células secretoras da tireóide. OBS: Há flutuação dos níveis hormonais. Stress, trauma e frio podem levar à maior liberação dos hormônios tireoidianos, com aumento de sua quantidade basal. Tem-se que o TRH é pouco modulado por feedback negativo; o principal deles é a liberação de TSH pelo tireotrófo, controlado pelo aumento de T3 e T4 AÇÕES DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS EFEITOS SOBRE O METABOLISMO Os hormônios tireoidianos produzem aumento geral do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas e regulam esses processos na maioria dos tecidos, sendo que o T3 é de três a cinco vezes mais ativo que o T4 nesse aspecto Ocorre aumento no consumo de oxigênio e na produção de calor, que se manifesta como aumento da taxa metabólica basal. Isso reflete a ação desses hormônios em tecidos como coração, rim, fígado e músculo, mas não em outros, como gônadas, cérebro ou baço. A ação termogênica é importante como parte da resposta a ambientes frios. A administração de hormônio tireoidiano resulta no aumento da frequência e do débito cardíacos e em maior tendência a arritmias do tipo fibrilação atrial. OBS: Há regulação da expressão gênica, associada à metabolismo basal, à metabolismo de glicose e à metabolismo de geração de energia EFEITOS SOBRE O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Os hormônios da tireoide têm efeito crítico no crescimento, em parte por ação direta nas células, e também indiretamente, por influenciarem a produção de hormônio do crescimento e potencializarem seus efeitos nos tecidos-alvo. No adulto, este não ocorre, já que a diferenciação celular está realizada TRANSPORTE E METABOLISMO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Ambos os hormônios tireoidianos são transportados na corrente sanguínea ligados principalmente à globulina de ligação da tiroxina (TBG) Ambos são finalmente metabolizados nos tecidos-alvo, por desiodação, desaminação, descarboxilação e conjugação com os ácidos glicurônico e sulfúrico. O fígado é o principal local de metabolismo, e as formas livres e conjugadas são eliminadas em parte na bile e em parte na urina ANOMALIAS DA FUNÇÃO TIREOIDIANA HIPERTIREOIDISMO (TIREOTOXICOSE) Na tireotoxicose, há secreção e atividade excessivas dos hormônios tireoidianos, o que resulta em taxa metabólica elevada, aumento da temperatura da pele e da sudorese e sensibilidade ao calor. Sintomas como nervosismo, tremor, taquicardia e aumento do apetite vêm associados à perda de peso. Há vários tipos de hipertireoidismo, mas apenas dois são frequentes: bócio tóxico difuso (também chamado de doença de Graves 5 ou bócio exoftálmico) e bócio tóxico nodular. DOENÇA DE GRAVES O bócio tóxico difuso é uma doença autoimune órgão-específica causada por autoanticorpos ao receptor de TSH, que o ativa, aumentando a secreção de tiroxina. Também pode haver mutações ativas na constituição do receptor de TRH. Como indica o nome da doença, os pacientes com bócio exoftálmico apresentam protrusão do globo ocular. A patogênese desse sinal ainda não é totalmente compreendida, mas imagina-se que ele seja causado pela inflamação persistente na região retrocular. O mesmo anticorpo que estimula o TSH se liga a uma proteína específica nesta região, por meio de uma ligação cruzada e, assim, induz processo inflamatóriono local Pode ser feita uma terapia de corticoide à resolução, porém nem sempre é utilizada BÓCIO TÓXICO NODULAR O bócio tóxico nodular é causado por neoplasia benigna ou adenoma, e pode desenvolver-se em pacientes com bócio simples de longa duração. Essa condição, em geral, não apresenta exoftalmia concomitante. O fármaco antiarrítmico amiodarona é rico em iodo e pode causar tanto hipertireoidismo quanto hipotireoidismo. BÓCIO SIMPLES NÃO TÓXICO O consumo prolongado de dieta deficiente em iodo leva ao aumento do TRH plasmático e, por fim, ao aumento no tamanho da glândula. Essa condição é conhecida como bócio simples ou não tóxico. Outra causa é a ingestão de alimentos causadores de bócio (p. ex., mandioca). Em geral, a tireoide aumentada produz quantidades normais de hormônio tireoidiano, embora, na deficiência grave de iodo, possa haver hipotireoidismo. HIPOTIREOIDISMO A atividade reduzida da tireoide resulta em hipotireoidismo e, nos casos graves, em mixedema. Essa doença também tem origem imunológica, e as manifestações incluem taxa metabólica baixa, fala arrastada, voz rouca e profunda, letargia, bradicardia, sensibilidade ao frio e comprometimento mental. Os pacientes também desenvolvem espessamento característico da pele (causado pela deposição subcutânea de glicosaminoglicanos), o que originou o termo mixedema. TIREOIDITE DE HASHIMOTO A tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune crônica na qual ocorre reação imune contra a tireoglobulina ou algum outro componente do tecido da tireoide, pode levar ao hipotireoidismo e ao mixedema. Os fatores genéticos desempenham papel importante. O tratamento dos tumores da tireoide com iodo radiativo é outra causa de hipotireoidismo. HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO A deficiência da função tireoidiana durante o desenvolvimento, que é a alteração endócrina mais prevalente no recém-nascido (um em 3.000- 4.000 nascimentos) causa hipotireoidismo congênito, caracterizado pelo acentuado retardo do crescimento e deficiência mental CRETINISMO Refere-se à agenesia de tireoide ou de tireotrofos, em que há ausência de T3 e de T4 Esta condição cursa com subdesenvolvimento e deficiência cognitiva, mixedema, descamação e pele enrugada FÁRMACOS USADOS EM DOENÇAS DA TIREOIDE HIPERTIREOIDISMO O hipertireoidismo pode ser tratado farmacológica ou cirurgicamente. Em geral, a cirurgia atualmente é usada apenas quando há problemas mecânicos decorrentes da compressão da traqueia pela tireoide Embora o quadro de hipertireoidismo possa ser controlado com agentes antitireoidianos, esses fármacos não alteram os mecanismos autoimunes ou melhoram a exoftalmia associada à doença de Graves. IODO RADIOATIVO O iodo radiativo é o tratamento de primeira linha do hipertireoidismo. O isótopo usado é o 131 I Quando administrado por via oral, é captado e processado pela tireoide da mesma maneira que a forma estável de iodeto, sendo, por fim, incorporado à tireoglobulina. O isótopo emite tanto radiação β quanto γ. As emissões γ passam através do tecido sem causar danos. Já as partículas β têm alcance muito curto; elas são absorvidas pelo tecido e exercem poderosa ação citotóxica, restrita às células dos folículos da tireoide, resultando em destruição significativa do tecido É administrado em dose única, mas o início do efeito citotóxico sobre a glândula ocorre em 1-2 meses e ainda leva mais 2 meses para atingir o efeito máximo Depois do tratamento com iodo radiativo, ocorrerá hipotireoidismo, particularmente em pacientes com doença de Graves, mas esse distúrbio é facilmente controlado pela terapia de reposição com T4. O iodo radiativo não deve ser usado em crianças nem em gestantes; nestas últimas, em razão do risco de danos ao feto A captação de 131 I e outros isótopos do iodo também é utilizada para diagnóstico, no teste da função da tireoide. Uma dose de rastreamento do isótopo é administrada por via oral ou intravenosa. Outro uso desse fármaco é no tratamento do câncer da tireoide OBS: Anteriormente à terapia, põe-se o paciente em restrição de iodo, para que a tireoide crie muito transportador de iodo à sua captação. Assim, ao prover a ele a dose de iodo radioativo, há rápida incorporação deste na tireoide na cintilografia. TIOUREILENOS O grupo de fármacos Tioureilenos compreende o Carbimazol, o Metimazol e a Propiltiouracila Mecanismo de Ação Os Tioureilenos reduzem a liberação de hormônios tireoidianos e causam redução gradual dos sinais e sintomas da tireotoxicose, sendo que a taxa metabólica basal e a frequência cardíaca retornam ao normal em período de 3-4 semanas. Seu mecanismo de ação não é completamente compreendido, mas há evidências de que eles inibem a iodação dos resíduos de tirosil na tireoglobulina. Imagina-se que eles paralisem as reações de oxidação catalisadas pela tireoperoxidase (são inibidores desta) por atuarem como substratos para o suposto complexo peroxidase-iodo, inibindo competitivamente a interação com a tirosina. Por meio de tal, espera-se menor organificação do iodo e menos quantidade de hormônios Aspectos Farmacocinéticos Os Tioureilenos são administrados por via oral. O Carbimazol é rapidamente convertido em Metimazol, seu metabólito ativo, e se distribui pela água corporal, possuindo meia-vida plasmática de 6-15 horas. Uma dose média de Carbimazol produz mais de 90% de inibição da incorporação de iodo à tireoide em 12 horas. Entretanto, a resposta clínica completa a esses e a outros fármacos antitireoidianos pode levar várias semanas, em parte porque o T4 tem meia-vida longa e também porque a tireoide pode ter grandes estoques do hormônio, que devem ser esgotados antes que a ação do fármaco possa manifestar-se por completo. A Propiltiouracila age, supostamente, um pouco mais depressa devido ao seu efeito adicional de inibidor da conversão periférica de T4 em T3. É a medicação de escolha para grávidas Tanto o Metimazol, quanto a Propiltiouracila, atravessam a placenta, e também são detectados no leite, mas esse efeito é menos pronunciado com a Propiltiouracila, porque esse fármaco se liga mais fortemente às proteínas plasmáticas. Após a degradação, os metabólitos são eliminados na urina, sendo a Propiltiouracila excretada mais depressa que o Metimazol. Os Tioureilenos podem acumular-se na tireoide. Efeitos Adversos Os principais efeitos adversos dos fármacos Tioureilenos são a neutropenia e a agranulocitose Os pacientes devem ser instruídos para avisar imediatamente caso apresentem algum sintoma (principalmente dor de garganta) e devem fazer hemogramas periódicos. Podem ocorrer também rashes (2%- 25%) e outros sintomas incluindo cefaleias, náuseas, icterícia e dor articular IODO/IODETO O iodo é convertido, in vivo, em iodeto (I − ), que inibe temporariamente a liberação de hormônios tireoidianos. Este é utilizado de forma transitória. Quando doses elevadas de iodo são administradas a pacientes com tireotoxicose, os sintomas desaparecem em 1-2 dias. (efeito paradoxal) Ocorre inibição da secreção dos hormônios tireoidianos e, por período de 10-14 dias, intensa redução da vascularização da glândula, que fica menor e com consistência mais firme. Em geral, o iodo é administrado por via oral em solução com iodeto de potássio (“iodo de Lugol”). Com administração contínua, o efeito alcança seu máximo em 10-15 dias e, em seguida, diminui. O mecanismo de ação não está totalmente esclarecido; pode inibir a iodação da tireoglobulina, possivelmente por reduzir a geração de H2O2, necessária para o processo. As principais indicações do iodo/iodeto são o preparo de pacientes com hipertireoidismo para a ressecção cirúrgica da glândula e como parte do tratamentoda crise tireotóxica grave (tormenta tireoidiana). Também, é utilizado após exposição ao derrame acidental de iodo radioativo de reatores nucleares, para reduzir a captura dos isótopos radioativos na tireoide. Podem ocorrer reações alérgicas, que incluem angioedema, erupções cutâneas e febre medicamentosa. Lacrimejamento, conjuntivite, dor nas glândulas salivares e sintomas de resfriado são efeitos adversos relacionados com a dose, e estão ligados à concentração de iodeto pelos mecanismos de transporte nas lágrimas e saliva. HIPOTIREOIDISMO Não existem fármacos que aumentem, especificamente, a síntese ou liberação dos hormônios tireoidianos. O único tratamento efetivo para o hipotireoidismo, a menos que a alteração seja causada pela deficiência de iodo (tratada com iodeto), é administrar os hormônios tireoidianos em si, como terapia de reposição. O T4 (nome oficial: Levotiroxina) e T3 (nome oficial: Liotironina) sintéticos, idênticos aos hormônios naturais, são administrados por via oral. A Levotiroxina, como sal de sódio em doses de 50-100 µg/dia, é o fármaco de primeira linha normalmente escolhido. A ação da Liotironina tem início mais rápido, mas duração menor. Esse fármaco é reservado, geralmente, para emergências como o coma mixedematoso, condição rara em que suas propriedades são vantajosas. Em casos de superdosagem podem ocorrer efeitos adversos, que incluem, além dos sinais e sintomas de hipertireoidismo, o risco de ocorrência de angina pectoris, arritmias cardíacas ou até insuficiência cardíaca. Os efeitos das superdosagens menos intensas são mais insidiosos; o paciente sente-se bem, mas ocorre aumento da reabsorção óssea, levando à osteoporose OBS: De forma geral, o tratamento contínuo é com T4. Porém, caso trata-se de uma situação mais grave, associada à diminuição de temperatura basal e de pressão, além de retenção de líquido, pode-se entrar com T3 até estabilizar com T4
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