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Brasília-DF. Ética cristã Elaboração Paulo Lima Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i OPÇÕES ÉTICAS .................................................................................................................................... 9 CAPítulo 1 EnTrE A ÉTICA E A mOrAl ....................................................................................................... 9 CAPítulo 2 SISTEmATIzAÇãO HISTórICA E COnCEITuAÇÕES .................................................................... 17 CAPítulo 3 VAlOrES mOrAIS ObjETIVOS E SuAS OrIgEnS ....................................................................... 25 CAPítulo 4 APrOfundAndO-SE Em ÉTICA CrISTã ................................................................................... 30 unidAdE ii QuESTÕES bIOÉTICAS .......................................................................................................................... 40 CAPítulo 1 QuESTÕES bIOÉTICAS mAIS COnHECIdAS .............................................................................. 40 CAPítulo 2 QuESTÕES bIOÉTICAS nA bíblIA .............................................................................................. 55 CAPítulo 3 QuESTÕES ÉTICAS dOS dIrEITOS ............................................................................................ 63 CAPítulo 4 fIlOSOfIA dA CIênCIA (APlICAÇãO TEórICA) ....................................................................... 81 PArA (não) finAlizAr ..................................................................................................................... 84 rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 85 AnExoS .......................................................................................................................................... 87 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução A ética, tão difundida ao longo dos séculos nas mentes das mais proeminentes figuras que têm sua importância marcada e devidamente alocada em prateleiras bem definidas na história da humanidade, será discutida em termos de pensamentos éticos voltados para similaridades para com a cultura cristã, obedecendo-se ao tema proposto. As opções éticas serão apresentadas para que facilite o pensamento e posicionamento, uma vez que possuem caráter didático-informativo. Tais apresentações não se darão apenas em uma weltanschauung cristã, pois terá que se expandir em certo grau para contextos éticos filosóficos, retornando, contudo, mais a frente com opções éticas cristãs, principalmente oferecendo as diferentes visões não absolutistas, representadas pelo antinomismo, situacionismo, generalismo e, absolutistas, que os absolutistas não qualificados, conflitantes e qualificados se convergem e divergem entre si em diversos pontos. Serão abordadas, posteriormente, as questões éticas decorrentes da ética e moral. Dentro de uma cosmovisão cristã serão esboçadas essas visões com suas principais alegações e argumentações de defesas, bem como até mesmo embasamento bíblico para apoiá-las, contudo, também serão expostas argumentações cristãs em favor daquilo que é considerado bom e moral não somente para a sociedade em geral, mas sim aquilo que é tratado e abordado nas Sagradas Escrituras – as quais aqui são consideradas revelações divinamente inspiradas para a humanidade – dos contextos ética e moral. Tais questões, oriundas de assuntos atuais ou mais antigos, trazem importantes debates e embates delicados como aborto, eutanásia, homossexualidade e pena de morte. Serão tratados de modo sectário para que o pensamento e posicionamento do aluno não se tornem tentado a obedecer às ideias de terceiros, mas sim de maneira que estude, pesquise e se posicione por si mesmo frete às questões que têm enchido os noticiários contemporâneos de conteúdo. 8 objetivos » Analisar conceituação ética e moral secular e cristã. » Despertar e instigar o pensamento e posicionamento.» Compreender as opções éticas. » Compreender e posicionar frente às questões éticas. » Correlacionar opções éticas às questões éticas. » Demonstrar argumentações a favor e contrárias dentro de contextos bioéticos. 9 unidAdE ioPçÕES ÉtiCAS Nesta unidade, isto é, dentro de opções éticas serão tratados, serão abordados temas e pensamentos filosóficos que discorrem analogamente em sua maioria com assuntos que trataremos sobre conceituações e questões posicionais éticas e bioéticas cristãs. A importância desta unidade está em oferecer um melhor conteúdo intelectual lógico, dentro das mentes mais importantes da história humana, com contextos autoexplicativos que facilitarão o processo de absorção e aprendizagem. CAPítulo 1 Entre a ética e a moral Antes de começarmos qualquer explanação e estudos sobre o que queremos, devemos ter em mente muito bem claro as “possíveis” diferenças entre os termos ética e moral. Tugendhat em sua obra Lições sobre Ética nos explica as diferenças não partem de simploriamente apelar para afirmação de que a ética é mais abrangente do que a moral, ele afirma que tampouco existe tal elucidação, para ele “soa como se a gente quisesse perguntar sobre a diferença entre veados e cervos” (TUGENDHAT, 1996, p.35). Um tipo de enunciado, para ele, são os enunciados morais que expressam juízos morais, isto é, muito mais importa a discussão filosófica sobre o que representam as terminologias do que de fato sua origem exegética. Contudo, ainda sim é-nos importante não deixar dúvidas quanto isso, pois certamente iremos usar, mesmo que de modo inconsciente, tais definições adiante de nosso estudo. Realmente os termos “ética” e “moral” não são particularmente apropriados para nos orientarmos. Cabe aqui uma observação sobre sua origem, talvez em primeiro lugar curiosa. Aristóteles tinha designado suas investigações teórico-morais – então denominadas como “éticas” – como investigações “sobre o ethos”, “sobre as propriedades do caráter”, porque a apresentação das propriedades do caráter, boas ou más (das assim denominadas virtudes e vícios) era uma parte integrante essencial destas investigações. A procedência do termo “ética”, portanto, nada tem a ver com aquilo que entendemos 10 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS por “ética”. No latim o termo grego éthicos foi então traduzido por moralis. Mores significa: usos e costumes. Isto novamente não responde a nossa compreensão da ética, nem de moral. Além disso, ocorre aqui um erro de tradução. Pois na ética aristotélica não apenas ocorre o termo éthos (com e longo), que significa propriedade do caráter, mas também o termo éthos (com e curto) que significa costume, e é para este segundo termo que serve a tradução latina (TUGENDHAT, 1996, pp.33-34). Para fins didáticos, não entraremos com profundidade no campo da filosofia ética, tampouco a estudaremos em demasia, contudo, não podemos ser refém desse conhecimento lá na frente, deste modo, continuaremos na tentativa de diagnosticar possíveis diferenças no pensamento kantiano, o qual se norteia em grande parte a cosmovisão cristã da ética. As duas obras de Kant Crítica da razão pura (1781) e Crítica a razão prática (1788) são tidas como fundamentais para a ética contemporânea, dada a sua influência até mesmo no meio cristão protestante. O cerne do pensamento kantiano é a autonomia da razão, pois age moralmente aquele que é capaz de se autodeterminar. Então perguntas como o que devo saber? O que devo fazer? O que é lícito esperar? O que é o homem? Kant remonta a concepção e atribui a fatores metafísicos, morais, religiosos e antropológicos, sendo que convergem todos para a antropologia como questões últimas da ética. O que nos é válido elucidar, Marcondes (2007, pp.94-95) encontra em a Fundamentação da metafísica dos costumes de Kant o princípio fundamental racional ético kantiano sobre o imperativo categórico, que de acordo com este conceito “os deveres morais são válidos incondicionalmente, isto é, princípios que não admitem exceção.” Estamos entrando na zona dos valores morais objetivos, mas trataremos deles mais adiante. Immanuel Kant, não se utilizou do termo restrito e técnico moralis, na visão de Tugendhat, mas sim de mores, como pretensa tradução da palavra grega. Dentro da razão existem algumas regras (são os imperativos de Kant) assim como no jogo de xadrez, você até pode jogar do jeito que quiser, mas estará jogando qualquer coisa, menos xadrez, contudo não podemos afirma que alguém imoral é também irracional, simplesmente ele não está jogando conforme as regras. Para nos posicionarmos, segue para efeitos didáticos o quadro abaixo de maneira resumida: Quadro 1. Conceituações. Moral Tem a ver com “ter de” fazer/não fazer... “deve”, “para quê?” fazer/não fazer... Juízos Morais Tem a ver com o “bom” ou “ruim”. Ética Tem a ver com a filosofia da moral e seu sentido. Possui argumentos universais onde o que é ético para um grupo, pode não se para outro. Espécie de doutrina do caráter. fonte: baseado em Tugendhat (1996). 11 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I De maneira genérica, o iluminismo moderno tem trilhado dois caminhos. O primeiro deles se dá em Hume1, onde em sua concepção a filosofia simplesmente precisa fazer uma junção sistemática supostamente a qual todos aprovam ou criticam, deixando de lado toda a pretensão de fundamentação. Já em Kant, a segunda linha, enxerga-se somente uma consciência moral, devendo ser fundamentada. Desta forma, em linhas gerais, o pensamento kantiano tem mais a ver com a ética cristã do que demais filósofos que atribuem ao posicionamento cristão que todo fim da linha lógica cai no valor absoluto das Sagradas Escrituras, portanto na vontade absoluta e perfeitamente verdadeira de Deus. Muitos críticos, filósofos discordam da analogia que é feita da fundamentação absoluta kantiana (nascida em Aristóteles) com critérios absolutos que o cristão deve satisfazer (ou o homem natural em geral) como àquele guiado pelos estatutos absolutos divinos. Em uma weltanschauung da crítica kantiana e do posicionamento cristão frente à fundamentação absoluta é a de que não necessariamente é a Bíblia é a verdade-fim das coisas, tampouco Deus, mas que se deve filosoficamente procurar alternativa ética dos valores morais para se atribuir relatividade às coisas, portanto, temas como a cosmovisão cristã sobre o absolutismo é tido por parte dos críticos algo repugnante e contorcido da ética. Por fim, o “ter de” não necessariamente deve seguir o caráter normativo da Bíblia, tampouco de preceitos divinos, mas que deve haver normas que satisfaçam àquela sociedade, naquele determinado tempo situacionista (veremos mais sobre situacionismo adiante). Vejamos em Tugendhat o resumo do modo como às diversas posições filosóficas modernas compreendem o ser-fundamentado de um juízo moral: Quadro 2. Posições filosóficas sobre o ser-fundamentado. Em Hume A pergunta pelo ser-bom é respondida exclusivamente com recurso à efetiva aceitação geral. Em Kant O ser-bom deve ser fundamentado absolutamente com recurso a uma razão com “R” maiúsculo. Em Schopenhauer Dá uma base à ética, que a fundamenta não como ela é compreendida – como obrigação – e trata-se aqui também apenas de um fundamento e não de uma fundamentação (os juízos morais não têm em Shopenhauer uma pretensão de fundamentação; a palavra “bom” desaparece). No contratualismo Anuncia uma fundamentação em um ser-bom relativo para cada um. Não podem existir no contratualismo, sendo ele consequente, juízos de valor com pretensão de fundamentação, mas fundamenta-se (apenas) porque é bom para o indivíduo seguir tais regras. fonte: baseado em Tugendhat (1996, pp.82-83). Portanto, dentro de uma cosmovisão cristã, temos em Kant o que mais nos aproxima daquilo que é proposto pelo cristianismo desde Jesus, não excluindo obviamente a lei 1 Filósofo deísta escocês David Hume. 12 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS (Torah) mosaica (veremos mais adiante esse contexto).A proposta então, em Kant, é a de que como se deve entender o bem, deste modo, para o filósofo prussiano o bem reside no fato de ser bom, o que para Aristóteles esse bom tem a ver tão puro e simplesmente com a felicidade subjetiva de cada um e ainda na visão aristotélica ética está sujeita à política. Principais filósofos da História Depois de termos em mente as definições básicas entre ética e moral e como Kant se aproxima de uma weltanschauung cristã, e ainda, antes de entrarmos no contexto ético cristão ou teologia da moral, importante nos é esboçar um breve panorama dos filósofos e seus respectivos pensamentos sobre ética. Para que o assunto não fique maçante, mas de uma maneira didática recorramos à tabela do tempo para termos claro quais ideias nortearam quem, quando e o que pensavam: Quadro 3. filósofos e pensamentos éticos. FILOSOFIA CLÁSSICA Sócrates Sócrates via leis absolutas na mente universal, e por isso concebia princípios morais imutáveis, sem ter de apelar para qualquer revelação divina. Ele tinha certeza disso, e ainda afirmava que a ética é uma virtude e como tal, para Péricles, não pode ser ensinada. Ele condensava o conhecimento como virtude máxima das virtudes temperança, fortaleza, justiça e sabedoria. Foi o fundador da Filosofia Ética. Platão Acreditava que os padrões éticos derivam-se do mundo espiritual dos universais e não mediante as experiências deste mundo físico. A sua ética, pois, estava calcada sobre valores do outro mundo. Contribuiu relativamente pouco para a definição de moral. Aristóteles Localizava a conduta humana neste mundo, para benefício da vida neste mundo. A felicidade teudemoniai era o seu alvo. E ele dizia que esse alvo seria atingido quando cada pessoa desenvolvesse a sua função particular, com a qual pudesse servir a si mesma e à sociedade. Toda conduta, para ele, deveria ser governada pelo princípio da moderação, o imortal princípio grego. Para Aristóteles a ética é subordinada à política e o bem supremo humano é a busca da felicidade. Portanto, não seria uma ética ou teoria moral, mas uma teoria da felicidade, considerando como alicerce o prazer e o gozo, estudados massivamente por filósofos contemporâneos. FILOSOFIA ANTIGA Epicuro Representante do hedonismo grego enfatizava os prazeres; mas visava especialmente, se não mesmo exclusivamente, os prazeres mentais, e não os carnais. Nesta cosmovisão, o prazer carnal é a causa da ansiedade e sofrimento, sendo que, ao contrário do pensamento aristotélico, a vida se resume à busca pela vida virtuosa, pois neste sentido sim, faz-se um meio para se chegar à felicidade, portanto, a mortificação do corpo regia o pensamento do hedonismo. FILOSOFIA MEDIEVAL Agostinho Embora, Agostinho possuísse suas raízes platônicas, como absolutista não qualificado 2 foi um dos mais importantes mestres de teologia de todos os tempos. Agostinho de Hipona insistia na necessidade de regeneração para que o homem fosse capaz de seguir uma conduta ideal, uma vez que o homem não regenerado se torna completamente incapaz de seguir uma conduta correta aos olhos de Deus. Como é óbvio, ele seguia cegamente as ideias paulinas. Agostinho aprovava certa dose de ascetismo, como um meio de disciplina, a fim do crente poder servir mais perfeitamente a Deus. Contudo, a moderação, o grande ideal grego, que também é representado nas epístolas paulinas, com frequência é melhor do que a abstinência. Agostinho não concordava com Pelágio, – que dizia que Deus nos criou humanos, mas que nós mesmos nos tornamos retos. Antes, ele descobria esse princípio no poder de Cristo, na regeneração, por meio do princípio da graça divina. Ainda afirmava que a doutrina da fé é a mais perfeita, pois assemelha-se ao conhecimento divino. Tomás de Aquino Misturava as ideias de Platão, Aristóteles e Agostinho, introduzindo ainda o motivo da lei natural. Mas principalmente Aquino usava, adaptava e modificava as ideias de Aristóteles. Em sua abordagem ética geral, na Suma Teológica, ele aborda a felicidade, a virtude, as ações e emoções humanas. Ele deu ao catolicismo romano sua teoria ética básica, que ele também depende em muito de Aristóteles. O homem possui livre-arbítrio, podendo fazer escolhas genuínas, pelas quais também torna-se responsável. A vontade de Deus é ativa quanto ao homem, e ajuda-o a fazer as escolhas certas. Sem isso, o homem nada poderia fazer. Contudo, há um esforço cooperativo envolvido em toda a ética. O homem não é um autômato. 2 Veja Capítulo sobre Sistemas Éticos. 13 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I Descartes Ele acreditava que se pode obter certa dose de conhecimentos, mas sentia que, para tanto, é mister o estudioso ultrapassar os limites do ceticismo. Seu alvo era desenvolver uma filosofia que conferisse um perfeito conhecimento e uma conduta ideal, servindo de meio para ajudar no progresso das ciências. Ele procurava criar um sistema que possuísse a certeza da matemática, e não dependesse dos sistemas· escolástico e dogmático. Desconfiava do método empírico de obter conhecimentos, no que dizia respeito à obtenção da certeza no conhecimento, e preferia aplicar o racionalismo. Spinoza A obtenção da sabedoria é um dos fatores importantes da ética de Spinoza. Para ele, a ética depende de leis fixas, e não da tentativa humana de constituir sistemas que dependam de fatores variáveis em constante mutação. A ética seria algo tão fixo como a geometria e as leis do mundo físico. Os princípios éticos são atingidos mediante a razão, a intuição e as experiências místicas. Esses princípios são descobertos por esses meios, e não produzidos por eles. Quando um homem é governado por suas paixões, é apenas um escravo. A pessoa verdadeiramente boa é alguém capaz de controlar sua vida e suas circunstâncias. A sabedoria liberta- nos, e a sabedoria é a essência da bondade de Deus. O indivíduo é um modo de Deus. Deus é conhecido no pensamento puro; e quando chegamos a isso, também temos a moralidade de Deus. Não existem em Deus o bem e o mal, o certo e o errado; mas o homem, em sua experiência corrompida das coisas, força essas ideias sobre Deus. A bondade, a maldade, o certo e o errado existem somente em relação aos interesses humanos. As coisas que tendem por beneficiar-nos são boas; e as coisas que tendem por prejudicar-nos são más. O maior bem, para o homem, consiste no autocumprimento, na direção do amor de Deus. Albert Einstein se inclinava para as concepções de Spinoza como a nenhum outro filósofo. FILOSOFIA MODERNA Hegel Não se preocupava com as limitações salientadas por Kant, mas supunha que em sua Triada-tese, antítese e síntese ele podia discutir de forma inteligente aos problemas éticos. Alterou significativamente a filosofia do idealismo alemão. Pensava que com a dialética podia mostrar como o Espírito absoluto manifesta-se de forma ética. A principal triada hegelíana, sobre a moralidade, tem como sua tese, propósito, como sua antítese, intenção e bem-estar, e, como sua síntese, bondade e iniquidade. Hume David Hume mesclava o conceito de senso moral de Hutcheson com a simpatia (outro nome para o amor), com o hedonismo e com o utilitarismo como diretrizes. Kant Kant estabeleceu o seu imperativo categórico, ele promoveu uma regra ética que reside na razão humana, sem qualquer apelo ao ser divino. Nunca se deve fazer qualquer coisa que não se queira tornar em uma lei universal. Kant acreditava na existência de leis universais, absolutas e éticas, as quais podem ser compreendidas pela razão e pela intuição humanas. Se deve fazer qualquer. Veremos mais adiante seu posicionamento como absolutista não qualificado. Kierkegaard Rejeitava a ideia inteira de que pode haver uma síntese que ultrapassa toda antítese. Antes, muitas grandes questões terminam em paradoxos, nos quais o intelecto humano fica inteiramente perplexo, derrotado por qualquer tentativa de chegar a uma definição final e a uma compreensão última. O Deus homem, na pessoa de Jesus, é um exemplo disso. Osparadoxos fazem os homens aproximarem-se da fé, afastando-os da pura racionalidade. Um homem corresponde internamente a uma pergunta, e é dotado de discernimento intuitivo, mas não é capaz de dar solução aos grandes paradoxos. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA Karl Marx A dialética de Hegel (com suas triadas) foi modificada por Marx a fim de obter dali uma filosofia para suas teorias políticas. Marx preferia pensar que este mundo é guiado por fatores econômicos, Assim, as forças espirituais foram substituídas por um materialismo mecânico. E essa mecânica envolveria uma triada. Marx reduziu um princípio espiritual a triadas materialistas, assim também a chamada Teologia da Libertação reduz a teologia cristã a uma sociologia materialista, tipo marxista. Influenciou diversos movimentos deterministas. Nietzsche Objetava às regras éticas, eternas e fixas, postuladas por Kant, Para ele, os nossos processos de aprendizagem não passam de expedientes práticos para manipular as situações humanas. Não há casos idênticos na natureza, pelo que a ética estaria sempre em estado de fluxo, de constante flutuação. Usamos a nossa inteligência para fazer avaliações e para agir de acordo com as mesmas. Nietzsche ensinava a força da vontade, traduzida em uma excelência acima do normal quanto às definições do bem e do mal. Para ele, esse seria o alvo dos sábios. Freud A ética de Freud estava inteiramente assentada sobre o homem. Freud desenvolveu uma hipótese sobre a natureza humana. A psicoterapia precisa levar em conta vários níveis da consciência humana. Os elementos da psique são o Id, o Ego e o Superego. Freud antecipava o fim das religiões, uma vez que a humanidade chegasse a ultrapassar seus preconceitos, projeções e falsa maturidade infantis. Com o tempo, o positivismo lógico de Comte tomou conta da mente do jovem cientista. Os padrões do homem residiriam essencialmente em seu superego, de que partem repressões. Nada tendo a ver, necessariamente, com a verdade. Os padrões morais seriam criações humanas; e uma consciência perturbada surgiria simplesmente porque não vivemos à altura dos ilusórios padrões estabelecidos pela sociedade. Weber Para Weber a ética da convicção não é necessariamente religiosa3: uma vez que se caracteriza essencialmente pelo compromisso com um conjunto de valores associados a determinadas crenças. A ética da responsabilidade, por sua vez, valoriza, sobretudo, as consequências da ação e a relação entre meios e fins, com base nas quais um ato deve ser julgado como bom ou mau. Elas podem entrar em conflito, deste modo uma decisão deve ser tomada e uma das duas, prevalecer. Weber foi um defensor da ética da responsabilidade. 3 Muito embora em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo Weber usa de maneira prolongada e vasta a sobre o protestantismo e o cristianismo, considerando o Sermão do Monte o cerne da cultura cristã. Mas afirma que “o único resultado ético eram, pois, algo de negativo: a submissão dos deveres seculares ascéticos da situação existente (WEBER, 2008, p.46). 14 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS Paul Tillich O filósofo existencialista opinava que a ética cristã precisa reter elementos reflexivos, dialéticos e paradoxais, uma vez que, afinal de contas, a ética cristã faz parte da teologia, e a teologia encerra esses elementos. Karl Barth e Emil Brunner Desenvolveram a conhecida teologia dialética, como reação que tomou forma contra os conservadores, bem como os liberais, os quais insistem em fazer assertivas não qualificadas sobre Deus (veremos mais sobre este contexto adiante). Para Brunner, a fé ocupa lugar primordial, tal como dizia Kierkegaard, visto que os objetos da fé com frequência parecem absurdos e paradoxais. Desse modo à própria revelação divina é paradoxal. fonte: baseado Enciclopédia de bíblia, Teologia e filosofia et. al. Após tal análise, vimos que a cosmovisão mesmo de mentes brilhantes como estas se convergem e divergem muitas vezes sobre pontos específicos de um mesmo assunto. O grande problema talvez que tenhamos seja o de definir se existem e quais são os valores morais objetivos. Na concepção copernicana em Kant trata-se do objetivismo e subjetivismo da filosofia ética, bem como no historicismo de Hegel, ressalta ainda Kreeft e Tacelli (2008, pp.573-574): Kant ficaria horrorizado se nos visse classificar a sua teoria sob o título de subjetivismo. Ele achava que sua revolução copernicana era o único caminho que dava conta do nosso conhecimento científico sobre o universo. Também acreditava que todas as mentes fossem constituídas da mesma forma, então, sua teoria certamente não seria um individualismo ou relativismo [...]. O historicismo de Hegel afirma que toda a realidade é um processo histórico, até Deus e a verdade. A verdade muda com a história, da mesma forma que nós, seus sujeitos, mudamos [...]. Como o kantismo, o historicismo é uma meia verdade, mas não pode ser universalmente verdadeira sem se contradizer. É parcialmente verdadeira, pois o significado de cultura avançada na Idade da Pedra, poderia ser a mesma que o significado de primitivismo inculto na Idade Moderna. Vemos no modo crítico do texto acima uma posição confrontadora dos pensamentos de Kant e Hegel para adaptação à ética cristã, uma vez que as verdades absolutas não mudam em função do tempo, mas o que muda é o nosso conhecimento de Deus. Teorias refutadas não significam leis universais alteradas, mas potencialmente caracterizadas como leis universais. Tal aprofundamento em filosofia da ciência não nos é de extrema importância neste momento, veremos no fim deste material superficialmente as posições de Thomas Kuhn, Karl Popper e Ernst Nagel, mas principalmente em Kuhn teremos atributos que nos ajudarão na compreensão de decisões bioéticas. teologia Moral Muito embora a teologia da moral (ou ética cristão) tenha se dado no Ocidente4, reconheceu-se esta vertente teológica somente após o século XVI. Ainda antes deste 4 Ver mais detalhes sobre a Igreja do Ocidente e a do Oriente no material Ecumenismo de nosso curso. 15 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I século a terminologia theologia moralis, já se fazia presente que por sua vez, se espalhou após a Reforma e Contrarreforma5. Deste modo é óbvio que objetivou-se a partir dessa nova cosmovisão guiar a consciência do cristão para fins psicológicos de julgamento, como sempre, possuindo raízes em Tomás de Aquino e agostinianas. Os puritanos foram os principais a contribuírem para a teologia da moral, sendo que todo o protestantismo fora atraído para esse novo modo de ver, e ainda Ferguson, Wright e Packer em seu bom Novo Dicionário de Teologia continuam: A validade da teologia moral tradicional tem sido matéria de controversa. É típica, de muitos modos, do século XVII, em que floresceu: é individualista em sua concepção de agente consciente, orientada de modo leigo, em sua preocupação pela vida no mundo; todavia, procura impor ordem sobre as percepções morais subjetivas [...]. Não obstante, essa teologia contribui enormemente para uma compreensão do tipo de discernimento que se requer à interpretação de situações particulares de decisão moral, apontando, assim, para um pensamento cristão moral não legalista nem subjetivo. Essa tradição, contudo, cairia em perda de reputação nos círculos protestantes no século XVIII. No catolicismo romano, alcançou seu ápice no começo do século XVIII, com a obra de Alphonsus Liguori (1696-1787), e vigor renovada no século XIX, vindo a perder apoio somente no século XX (FERGUSON, 2009, p.1085). Kant teve influência direta na visão moral protestante desde o final do século XVIII, movimento que estudou como sua ética autônoma pode ser aplicada ao contexto cristão. Tal influência tem principalmente nos temas conduta ética na guerra, prática ética médica e relações trabalhistas no mundo hodierno. Abaixo, estão os principais pontos recomendativos da teologia moral: Quadro 4. Pontos recomendativos para a teologiamoral. 1. A teologia moral se distingue da “teologia espiritual” e da “teologia pastoral” (estudo das tarefas do ministério cristão), por se preocupar com questões mais mundanas que a primeira citada e mais orientada para o leigo que a segunda. Todavia, haverá sempre interação entre as três. 2. A tarefa primordial da teologia moral é deixar claros os conceitos morais cristãos, mostrando os diversos modos cristãos de apresentar as questões morais — em termos de mandamento de Deus, amor pelo próximo, liberdade de fé, santificação do crente, formas de ordem criadas etc. — , que emergem das Escrituras, e comparando-os com outras formas em que as questões morais possam ser colocadas. 3. A teologia moral deve desenvolver em detalhes certos aspectos da doutrina cristã da natureza humana, especialmente da sociedade e do governo, da sexualidade e da vida e morte. Isso dá continuidade à obra da teologia sistemática nessas áreas, ao levar as ordenanças e os mandamentos bíblicos relevantes a alcançar uma visão sistemática. 5 Também melhor explanada no material acima cita, contudo, o bom aluno, caso tenha pouco conhecimento ou queira aprimorá-los com detalhes pertinentes, fará pesquisas mais aprofundadas frente a um tema demasiadamente vasto. 16 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS 4. A teologia moral deve se voltar para questões decisórias enfrentadas pelos indivíduos e pela sociedade, de tal modo que ela seja aplicável do melhor modo possível. Essas questões costumam se apresentar de três maneiras: a) questionando-se sobre que atitude deve assumir o crente individual que tenha de tomar uma decisão (perspectiva de agente); b) indagando-se de que modo o crente ou a Igreja pode ou deve aconselhar pessoas que tenham decisões a tomar (perspectiva de aconselhamento); c) questionando-se sobre a adoção de uma regra social adequada que poderia orientar a prática (perspectiva legislativa). Todavia, se essas três formas de questionamento não forem mantidas distintas e separadas, poderá resultar em confusão. 5) Não há proveito algum na divisão de teologia moral em “ética pessoal” e “ética social”, divisão essa que promove o conceito errôneo de que o pessoal e o social constituem campos separados da investigação moral, quando, na verdade, assuntos decisórios contêm tanto aspectos pessoais quanto sociais a ela ligados. fonte: fergosun et. al. (2009, pp.1086-1087). Com base nessas informações, daremos continuidade ao conteúdo, uma vez que se fez necessário apenas delimitar os posicionamentos teológicos morais. 17 CAPítulo 2 Sistematização Histórica e Conceituações A Cultura Moral na lei Com grande frequência o termo syneidesis6 aparece nas cartas de Paulo, posteriormente a reflexão escolástica definiu uma dupla concepção entre syndéresis como capacidade originária de percepção dos valores (consciência habitual), e a aplicação desses valores às situações concretas (consciência atual), de acordo com Azpitarte (1995, p.196), ainda segundo o autor “a obediência da lei aparecia então como o remédio mais eficaz para a superação desses perigos”, perigos os quais representados pela culpabilidade ou não da consciência errônea. Tal consciência que na lei reside todos os atributos objetivos e norma última da moralidade aplicou-se de modo mecanicista à realidade humana antes de Cristo. Após Jesus, tudo tornou-se um tanto quanto mais complexo, “como então agradar a Deus e fazer suas vontades se a lei mosaica e, portanto a Torah, tem validade direta somente ao povo daquela aliança?” Ao contrário do que se pensa, em uma cosmovisão cristã, não se tem o laxismo no cristianismo dentro de um sistema comparativo com a rigidez da lei, uma vez que tal sistema torna-se cada vez mais complexo em um emaranhado de suposições hipotéticas se tomar-se como norte as Sagradas Escrituras e a vida de Jesus. É-nos importante diferenciar o legalismo, antinomismo e o situacionismo nas palavras de Azpitarte (1995, pp.205-206), veremos mais adiante a respeito do situacionismo, porém já se faz importante tê-los bem claro antes de continuarmos: A relação lei-consciência poderia ser vivida segundo três estilos ou modalidades diferentes. Para o legalista, a lei mantém sempre a primazia absoluta, até quando a consciência não vê suficientemente sua obrigatoriedade. A obediência ratifica a objetividade da decisão e é o critério mais seguro para não cair no subjetivismo. O antinomista anula a importância da lei e prefere seguir, ao menos em algumas circunstâncias, os ditames de sua consciência, até com o risco de equivocação. Ele prefere sacrificar a objetividade da lei ao seu próprio juízo e autonomia. E, entre ambos os extremos, o situcionista – eliminando o sentido pejorativo 6 Consciência. 18 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS e antinomista que teve em seus primeiros tempos – aceita a validade e a obrigatoriedade da lei, mas a subordina, em algumas ocasiões, às exigências mais altas de sua consciência, quando se vê diante dos valores mais importantes, que pedem cumprimento prioritário [...]. Assim, ainda que defendamos uma posição intermediária, não há dúvida de que a deontologia tem tendência maior para o legalismo, enquanto a teleologia se inclina mais para o subjetivismo, se bem que ambas pretendam superar seus próprios riscos. Culturas diversas e a Ética Cristã De certo a ética cristã não possui influência apenas bíblica, uma vez que se considerarmos a infalibilidade das Escrituras Sagradas e a falibilidade interpretativa subjetiva antropológica das destas, veremos que doutrinas e culturas diversas subverteram o cristianismo desde os primórdios dos tempos (veja mais sobre sincretismo religioso em Ecumenismo, material de nosso curso). Portanto, concretamente houve ação direta de costumes, crenças gostos e modos de vida, expressões populares e artísticas, conhecimentos seculares e ocultos, tradições dos mais diversos fins, civilizações pseudo-primatas, sistemas sociais e instituições sagradas ou pagãs, culturas greco-romanas e greco-latinas, ocidentais, africanas e modernas em todo sistema religioso cristão. A avaliação ética cristã não independe completamente da ação de interferentes externos, daí surgem as frequentes injustiças e incompreensões nos elementos de juízos trazidos à nossa vida cotidiana. O fato de residir em Deus os valores morais objetivos, para o cristão e tão somente em uma cosmovisão do cristianismo, exacerba que somente nas Sagradas Escrituras e na busca pelo Cristo ressurreto faz-se possível à ocorrência correta de julgamento ético e moral humano. A Ética Cristã, o relativismo e Aspectos normativos Não se pode descartar o relativismo do diálogo ético cristão. Muito embora, as mudanças éticas não tenham sido tão profundas como se imagina, haja vista os valores morais objetivos, as normas tem sido fonte de debates acirrados, pois por meio delas muitos grupos humanos se submetem e se rebelam de acordo e em função de seu ponto de vista relativo. Azpitarte (1995, pp.161-162) nos dá um panorama geral: As normas constituem, com efeito, os instrumentos concretos para a consecução de qualquer objetivo ético, e, por estarem vinculadas 19 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I aos fatores complexos da realidade, a possibilidade de mudança se torna maior. As condições históricas e culturais de cada época ou povo produzem uma variedade de expressões que buscam a defesa de um mesmo valor e são a melhor maneira de protegê-lo, de acordo com as circunstâncias, conhecimentos e sensibilidade da época [...]. A análise das “constantes históricas” nas diversas épocas e culturas elimina em grande parte a impressão desconcertante de relativismo absoluto. Muito embora a verdade possua caráter definitivamente absoluto, em si mesma, o ser humano não consegue chegar nela de forma absoluta, sempre há um entrave que o separa desta verdade, a consciência pré-reflexiva aprimora o pensamento humano, porém de modo progressivo e intermitente. A ética margeiao subjetivismo por diversos fatores que interagem com o ser, e deste modo inalcançável se faz o absoluto verdadeiro. A ética normativa aduz ao que é moral e justo, o caminho a se trilhar, as normas objetivas de orientação, trazidas ao longo da história, contudo, a reflexão casuística se faz maior, dada a enormidade da complexidade da vida. O aspecto deontológico da norma está inserido na natureza de alguma função ou estuda o significado de determinada faculdade (tal relação nos faz importante para termos uma clara e correta interpretação dos modelos bioéticos e seus respectivos problemas posteriormente em nosso material). Existem três elementos que são tidos como tradicionais os quais influenciam a moralidade: » a natureza; » o fim; » as circunstâncias. Tendo isso mente, veremos em absolutismo qualificado maiores detalhes, pois exatamente neste momento se chocam absolutos morais dos mais diversos fins, onde o incorreto é sempre errado, veremos mais adiante a concepção do “mal menor”, pois por muitos anos acreditava-se no absolutismo do aborto, não poupando a vida da própria mãe, onde neste sentido, ocorria-se duplo homicídio, mas discorreremos mais sobre dentro do tema aborto. 20 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS o Princípio do duplo Efeito Mesmo tratando mais sobre isto e o mesmo ficando mais evidente sob o tema absolutismo qualificado faz-nos importante ter em mente a definição proposta por Azpitarte (1995, pp.176-177) sobre o bem moral: O bem moral consiste então em se discernir com lucidez e objetividade qual é a alternativa que se apresenta como a mais humana evangélica: defender o valor que se consegue com a ação, apesar de suas consequências negativas, ou deixar de fazê-la, para se evitarem os males que se julgam mais importantes do que a não consecução do valor desejado. O que é decisivo para o bel ou o mal moral é a referência dessa ação polivalente à realização humana e sobrenatural da pessoa. Essa capacidade máxima de humanização cristã, dentro do possível, a qual encerra determinado comportamento, é que converte em tolerável o que, em outras circunstâncias, seria condenado como ilícito. Qual valor se deveria, portanto, buscar acima de tudo? Existiriam dentro do julgamento da eticidade consequências morais ao ser? Pergunta as quais o modo de ver secular dificilmente tem respostas contundentes, pois se não há um Deus que reside aos valores morais objetivos, segue-se que a consequência de qualquer ato, independente da sua objetividade, é tido como subjetivo. Ética Cristã e outras conceituações Primeiramente, precisamos considerar as diferenças etimológicas dos termos, ética e moral. Veja abaixo, as considerações em Fundamentação da Ética Cristã: O ethos e o pathos são duas faces opostas ou duas dimensões do mesmo sujeito. Na acepção de pathos entre tudo o que nos foi dado pela natureza, sem intervenção nem colaboração ativa de nossa parte. Chamamos a isso pathos porque o recebemos passivamente, sem a decisão de nossa vontade. O que recebemos assim da natureza constitui nosso modo natural, nossa maneira instintiva de ser, que padecemos como algo imposto, e que, como vimos, não serve para dirigir nossa conduta [...]. Para exprimir esse esforço ativo e dinâmico, que não se deixa vencer pelo pathos recebido, o grego usava a palavra éthos, mas com dois significados, conforme se escrevesse com eta ou com épsilon. No primeiro caso – além de exprimir a residência, a moradia ou o lugar de habitação – essa palavra indicava fundamentalmente o caráter, o 21 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I modo de ser, o estilo de vida que cada pessoa quer dar à sua existência. Na segunda opção, ela fazia referência aos atos concretos e particulares pelos quais se leva a efeito esse projeto (AZPITARTE, 1995, p.50). Esses conceitos nos serão demasiadamente úteis no tocante aos assuntos que iremos abordar sequencialmente. Tenha tais termos em mente, principalmente o fator inalterável de pathos, uma vez que, quando se é dado naturalmente, deve-se agir naturalmente ao fato, a fim de contorná-lo e conviver com ele, seja de qual magnitude ou gravidade for. Assim como temos nas ideias gerais de Martin Heidegger em sua obra Ser e Tempo, em suma afirma que as angústias existem pelo simples fato de se estar no mundo (esse contexto ficará também mais claro no subtema Filosofia da Ciência). Na idade média havia uma renúncia exacerbada à dialética que impediam a inserção da metafísica na teologia e na moral, contudo ao passo que os estudos bíblicos aumentava, tal assunto, passou a ser cada vez menos discriminado no meio teológico e com isto tomou forma. Os sistemas morais aplicáveis ainda enquanto não existia na conduta unanimidade suficiente sobre a liceidade, discutia-se mais sobre a quantidade e autoridade do autor do que de fato pelo seu raciocínio lógico. Hodiernamente muito se fala da interrogação que o marxismo coloca sobre a ética, bem como sobre a religião por meio de argumentos econômicos, na qual o mito de Prometeu toma forma como o primeiro santo do calendário de Marx, representando o gênio humano que supera limites, questiona privilégios de deuses e ainda protesta contra um terrível engano de uma religião infantil e dominadora e ainda, por fim, estabelece o homem como cerne do universo e o único responsável por ele. Azpitarte (1995, p.28) nos dá mais informações: Hoje em dia se discute se o marxismo é uma ciência que elimina a base da moral, pela denúncia que faz de certas exposições como falsas justificações de interesses econômicos, ou se, ao contrário, constitui uma cosmovisão cheia de humanismo e eticidade, uma vez que nem todos os marxistas creem que a ética seja deformação ideológica. Não obstante, e apesar de todas as discussões atuais, o marxismo denunciou com força os critérios e as avaliações da moral comumente aceita [...]. Deus se transforma então para o povo numa droga, numa felicidade ilusória, sem a qual não valeria a pena viver [...]. Portanto, o único caminho para a superação de semelhantes alienações é a mística revolucionária. O reducionismo da moral é feito por psicanálise, assim como reduz-se a mesma por meio das estruturas econômicas em Marx. Já em Nietzsche vê-se claramente a raiz de denúncia da moral como máscara, a qual alega que usa o cristianismo como forma 22 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS de aliviar tensões humanitárias do ser. O existencialismo e o secularismo sempre persistirão no caráter autônomo e independente da norma ética. O Concílio Vaticano II pressupôs o reinício da tarefa histórica do “aggiornamento” cristão, consistindo principalmente no diálogo fecundo da fé com o mundo. A constituição pastoral Gaudium et spes veio a ser o símbolo deste diálogo de reconciliação e de nova síntese. A teologia moral dos anos pós-conciliares realizou, como poucas áreas da teologia, trabalho ingente e globalmente positivo de “aggiornamento” interno e de diálogo com o mundo. Houve disparidades interpretativas da contribuição do concílio para com o tema da teologia moral. Onde de acordo com Vidal (1993, p.31) Congar, no III Congresso Internacional do Apostolado dos Leigos em Roma (1967), colocando em debate o que fora tratado no concílio, constatou deficiência no que tange o tema sobre moral, contudo, Häring, antagonicamente, viu de modo positivo a contribuição feita. Para o próprio autor, ambas as visões estão corretas, uma vez que o tema central não era a moral, mas sim Ecumenismo (tema o qual é visto na matéria você verá mais detalhes sobre isto na apostila Ecumenismo deste curso). Para Vidal, a compreensão da moral cristã baseia-se na responsabilidade moral humana, ainda afirma que não existe moral sem responsabilidade; deste modo, ainda segundo o autor, pode-se afirma que “ser livre” e “agir moralmente” são termos iguais em realidade. Comportamento Moral Vidal (1993, p.55), existe a dualidade esquemáticas para a formulação das expressõesdo comportamento moral, que divergem o esquema aristotélico-escolástico-casuístico e esquema atual personalista. O primeiro trabalha com potências, seguidas de hábitos (virtudes, vícios etc.), seguido de atos. Não entraremos em profundos detalhes, contudo, sabemos que por muito tempo a moral cristã se foi baseada no esquema aristotélico-escolástico-casuístico. Quais potências constituem a primeira estrutura contundente do comportamento humano, onde a “alma” não é imediatamente operante. O início do ato moral se dá na conjunção de ambas as potências. Tratando-se de hábitos, estes constituem uma estrutura intermediária entre as potências e os atos, podendo ser bons ou ruins, Vidal os classificam como “princípios intrínsecos da ação humana”. Já quanto ao esquema atual personalista, tem-se a opção fundamental, seguida da atitude a qual precede o ato. Neste esquema, o conhecimento do homem é que deve 23 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I proporcionar as estruturas expressivas do comportamento humano. Um esquema dinâmico que coloca a pessoa e não mais o objeto no centro do conjunto moral. identificando o que vem primeiro Existem diversas discussões do que vem primeiro, para muitos cristãos que dizem-se maduros na fé confundem valores e princípios assim como se confunde roxo com lilás. Alguns constitutivos históricos do valor moral em determinado sistema moral: Quadro 5. O Constitutivo do valor moral segundo diversos sistemas morais. CONSTITUINTE CARACTERÍSTICAS Na obrigação externa Obediência a princípio exterior legislante (sistemas morais obrigacionistas, legalistas, heterônomos, tabuísticos etc.). No prazer É bom o que origina prazer e à medida que o causa (existem variantes notáveis: hedonismo crasso, epicurismo, hedonismo elitista, hedonismo do gozo tranquilo e compartilhado etc.). Na felicidade (eudemonia) O ideal ético consiste na realização feliz do homem (mediante o exercício de suas funções superiores: ética aristotélica; mediante a consecução do fim último humano: ética tomista; mediante a realização integral da pessoa: versão moderna da ética eudemônica etc.). Na harmonia interior O ideal ético está na “ataraxia” e na “apatia” (estoicismo clássico), ou na realização do “sustineet abstine” (= “suporta e abstém-te”) (estoicismo popular). No dever pelo dever Vivência ética partindo da autonomia da vontade (ética kantiana). Na utilidade O bem reside em tirar a máxima utilidade para o maior número possível de sujeitos (utilitarismo clássico), ou em conseguir o máximo proveito para a vida individual e social (neo-utilitarismo). No altruísmo (mesclado com certa dose de egoísmo) O ideal ético está em olhar sempre pelos outros, sabendo que deste modo se dá atenção também a si mesmo. Na liberdade Entendida como absurdo (ética sartriana), como luta contra os valores vigentes (éticas revolucionárias), ou como fator de destruição (éticas de cunho niilista). No exercício da razão Agindo lucidamente em um mundo em que, diante de todas as inseguranças inevitáveis e diante de todos os motivos reais de desespero, a racionalidade é o último recurso do homem. fonte: baseado em Vidal (1993, pp.72-73). Por meio de Glaudium et spes7 15, sobre dignidade da consciência moral e de 27-31 sobre a responsabilidade do homem para com ele mesmo, traça-se um contexto que compreende a correlação entre cristianismo e o mundo moderno em geral ainda dentro do Concílio Vaticano II e, portanto, em uma weltanschauung católico-romana. Para Vidal (1993, p.77) dentro do tema descrição da consciência moral em um enfoque geral, entende-se que consciência moral engloba: » Sensibilidade moral: nesta acepção, a consciência moral se identifica com o “sentido moral”; » O núcleo de valores que constituem a moral objetiva: nesta acepção, a consciência moral vem a ser o mesmo que a objetivação dos valores morais; 7 Vale apena conferir na íntegra no site oficial do vaticano: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/ documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html>. 24 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS » A responsabilidade objetiva: nesta acepção, a consciência moral se refere à implicação da responsabilidade subjetiva no comportamento moral. Dentro deste contexto entendemos consciência moral objetiva: assassinato, abuso infantil, estupro, roubo e furto, entre outros fatores, são tratados unanimemente em uma mente sã e normal como errado tanto aqui como em qualquer parte do mundo, bem como em qualquer cultura, uma vez que, mesmo que se admita tais atos em alguns rituais africanos e de origens desconhecidas, o ser humano possui dentro de si uma aversão absoluta contra tais absurdos, é disso que trataremos agora. 25 CAPítulo 3 Valores Morais objetivos e suas origens Valores Morais objetivos Se nós sabemos que tais atos são errados e o antagônico, por sua vez, certo, pergunta-se, qual o padrão? A moral cristã, portanto, confronta veementemente a ideia da pós-modernidade em busca do “nada”, pois segundo ela, tudo tem um sentido, valor e propósito, de acordo com o argumento teleológico, o qual se dá que todas as coisas tendem a um fim objetivo, seja ele um ciclo ou finalização do processo, quer seja aceito ou não, estes conceitos de fato estão presentes e cabe ao homem optar em buscá-los ou permanecer ignorante. Craig (2012, p.100) indaga porque o ceticismo atribui os valores morais: “bom” ao certo e “ruim” ao errado, seguindo-se que não há consequência alguma futura. Cita ainda “Porque sabemos o que é certo e o que é errado? Onde reside o valor moral objetivo?” – William Sorley (1855 – 1935). A alegação ateísta traz consigo a ideia que “tudo o que contribui para o bom andamento da vida é bom, o que não contribui é ruim, e ponto”. Levante-se, contudo, tais perguntas: o peixe rouba a comida de outro ou o faz por extinto? Um determinado ser assassina outro animal ou por necessidade natural o faz? Estupra ou acasala em favor da vida? Ainda segundo o autor: “se Deus não existe, segue-se que a moralidade, em última análise é subjetiva e não coercitiva” – (CRAIG, 2012, p.167). Para darmos correlação mais aprofundada em uma weltanschauung apologética cristã8, existem premissa argumentativas contundentes que são utilizadas em demasia pelos conhecedores do tema apologético cristão, através de silogismo9 argumentativos de Leibniz: 1. Se Deus não existe, também não existem valores e obrigações morais objetivos. 2. Valores e deveres morais objetivos existem. 3. Logo, Deus existe. 8 Defesa da fé cristã. 9 S.m. Lógica. Raciocínio que se pauta na dedução, composto basicamente por duas premissas ou preposições (maior e menor), a partir das quais se alcança uma conclusão. 26 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS Acreditando-se que as premissas acima são em geral autoexplicativas, não será ocupado espaço em demasia para explicá-las individualmente em minúcias, tampouco todos os silogismos apresentados serão explanados individualmente, uma vez que se trata de sequências lógicas as quais por vezes explicam-se por si mesmas; portanto, as premissas serão utilizadas somente como ferramentas para dar maior força às colocações argumentativas. Cabe-nos aqui somente apresentar um contexto de uma cosmovisão cristã em defesa de sua fé. Para aprofundar-se no tema: Apologética Cristã, indicamos as seguintes leituras: Apologética Contemporânea: a veracidade da fé cristã. 2a Ed. São Paulo: Vida Nova, 2012, do Dr. William Lane Craig, filósofo apologético cristão internacionalmente reconhecido, proferindo acalorados debates até mesmo com o ateu evolucionista Richard Dawkins. E de uma maneira mais didática e de linguagem acessível: Em Guarda, do mesmo professor. Por ora sabe-se que matar, roubar, dar falso testemunho de outrem entre outros são obrigações morais que ferem princípios do Estado, tornando-se em sua maioria (salvo culturas indígenas, africanas canibalistas e outras tendo tais atos legalmente normais, antagonizando-se com o sentimentopopular em geral, como já dissemos), que são passíveis de punição, seja em qual religião e cultura for. Azpitarte (1995, p.135) nos esclarece um pouco mais quanto ao subjetivismo feito por muitos da moral objetiva: O vínculo obrigatório que nasce da verdade moral deve ser formalizado em proposições concretas e determinadas. Os valores mais universais [...], gozam de evidência tão grande que ninguém pode negar-lhes firmeza permanente. Todos concordamos em que se deve fazer o bem, praticar a justiça, viver de acordo com a razão, respeitar a dignidade da pessoa, dizer a verdade e defender a vida humana; nenhum código ético ou civil defende o assassínio e o roubo, nem permite a injustiça e a mentira. É uma defesa dos bens e valores fundamentais do ser humano e da sociedade na qual ele vive. Sem eles não seriam possíveis nem a vida social nem a civilização, porque então só imperaria a lei da força. Nesse sentido tais valores têm caráter universal, enquanto constituem o patrimônio ético da humanidade e se revestem de dimensão absoluta, uma vez que oferecem a primeira orientação necessária e estável para todos os tempos e circunstâncias. Fazer o mal ou cometer crime não podem ser justificados. 27 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I A Filosofia da Ciência trata do assunto por meio de Thomas Kuhn, o qual infere que o primeiro mundo de fato é o mundo visível, o mundo material, já o segundo é o mundo da consciência, da alma, e por fim o terceiro o mundo das proposições, que residem os valores morais objetivos. Qualquer semelhança com Terceiro Céu de Paulo é mera coincidência! William Sorley (1855-1935) citado por Craig (2012, p.100), indaga: “porque sabemos em boa parte que bom é certo e que mal é errado, porque não o contrário, e porque essas coisas são assim?”. Segue-se, portanto, poder-se-á enquadra-se devidamente a causa primeira (Deus) em um quadro natural de realidade, tal como: 1. Sentido – Tem a ver com a importância, o porquê de algo importar. 2. Valor – Tem a ver com o bem e o mal, o certo e o errado. 3. Propósito – Ter a ver com um objetivo, uma razão para algo. Não existe sentido em viver uma vida que tem um fim sem retorno ou sem sequência, segue-se que não se precisa importar-se com nada que neste mundo é feito, desejado ou executado, pois não há padrões, não um pano de fundo para se basear, o quebra-cabeça pode ser montado de qualquer maneira, pois não há uma foto para se embasar, não há um padrão único. Os valores podem ser invertidos inadvertidamente ser qualquer ônus, pode-se roubar, matar, estuprar e adulterar sem qualquer penitência futura. Já quanto ao propósito, qual a razão, mesmo que não haja fé neste propósito, de ser bom neste mundo se independe após a morte se o indivíduo optou por ser um assassino de aluguel e um adúltero sua vida inteira? Vidal (1993, p.94), aprofunda-nos em uma ótica ainda cristã, porém de outro prisma, a gênese da consciência mora: Existem diversas teorias para explicar o surgimento da consciência moral na pessoal: teoria biologicista, sociologicista, freudiana, piagetina, skinneriana etc. Levando em conta um enfoque interdisciplinar do problema, julgamos que a “etização” do indivíduo humano se vai estabelecendo através do jogo dialético entre processos de “adaptação” e processos de “autodescoberta”. A maturidade ética do indivíduo alcança-se mediante o equilíbrio tensional entre a “originalidade” e a “confrontação”. Os processos de originalidade e de confrontação passam por diferentes estágios, que vão, de um lado, da anarquia da psicomotricidade inicial à subjetividade autocontrolada e, do outro lado, da total constrição exterior à reciprocidade compartilhada. 28 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS Para promover melhor o exposto, se ainda parecer obscuro tais informações, as mesmas não se fazem com sua condensação: Quadro 6. gênese da consciência moral. (1) Processos de CONSISTÊNCIA (2) Processos de ABERTURA (3) Processos de OBJETIVAÇÃO 1. Aquisição da psicomotricidade (esquemas senso motores). 1. Relação de dependência e de constrição. 1. Domínio das funções fisiológicas. 2. Capacidade de assumir e de repelir “o que vem de fora”.. 2. Relação de identificação e de repulsa. 2. Aceitar as ações de outros e ater-se a elas. 3. Independência, como fonte de originalidade. 3. Relação de respeito, de colaboração e de cooperação. 3. Assumir a realidade de ações conjuntas do “eu” e dos “outros”. 4 SUBJETIVIDADE 4. RECIPROCIDADE 4. COMPROMISSO SOCIAL fonte: Vidal (1993, p.95) Em a dignidade da consciência moral (GS 16 – Gaudium et spes), a “consciência é o núcleo secretíssimo do homem, no qual este se sente a sós com Deus, cuja voz ecoa no recinto mais íntimo daquela”. A visão teleológica de mundo pela ciência se torna cada dia mais subjetiva, isto é, qual o fim? Para onde estamos nos encaminhando? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida, pois se não haverá consequências futuras, em uma weltanschauung cristã, segue-se que não se faz necessário agir de modo correto, pois independente do que se faça, o fim da linha é igual tanto para Hitler como para Tereza de Calcutá. Azpitarte (1995, p.64) traz um fulcro comentário, para finalizarmos, ainda dentro do tema: Algo parecido como poder-se-ia dizer sobre o sentido egocêntrico, aparentemente defendido. Se a salvação eterna interessa, é porque com ela está em jogo nossa felicidade. Até a desobediência e a submissão a Deus seriam motivadas pelo interesse pessoal, porque a única coisa que importa, acima de tudo, é não sermos condenados a uma desgraça que, além de tudo, é eterna. Deus e seus mandamentos chegam a ser vividos como peso molesto, mas inevitável, como simples meios utilitários para se conseguir o objetivo desejado. A frase de Dostoievski, “se Deus não existe, tudo é permitido”, exprimiria então a nostalgia de uma impossibilidade que nos teria abandonado: a de podermos viver como quiséssemos e sem necessidade de nenhuma coação. Weber, por fim, de modo assertivo resume a weltanschauung ética protestante do sentido igualitário dos bens. Em sua notável obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, considerada por muitos no campo acadêmico como ‘o livro do século’: 29 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I [...] a verdadeira objeção moral refere-se ao descanso sobre a posse, ao gozo da riqueza, com a sua consequência de ócio e de sensualidade, e, antes de mais nada, à desistência da procura de uma vida “santificada”. E apenas é condenável porque a riqueza traz consigo este perigo de relaxamento, pois o “eterno descanso da santidade” encontra-se no outro mundo; na Terra, o Homem deve, para estar seguro de seu estado de graça, “trabalhar o dia todo em favor do que foi destinado”. Não é, pois, o ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para exaltar a glória de Deus, de acordo com a inequívoca manifestação da Sua vontade (WEBER, 2008, p.86). 30 CAPítulo 4 Aprofundando-se em Ética Cristã Sistemas éticos A partir deste momento, nos aprofundaremos especificamente em nosso tema inicial, uma vez que temos as principais informações globais sobre ética em caráter secular. Genericamente podemos dividir os sistemas éticos entre absolutistas e não absolutistas. Deste modo: Quadro 7. Sistemas éticos. NÃO ABSOLUTISTAS ABSOLUTISTAS Antinomismo Absolutismo não qualificado Situacionismo Absolutismo conflitante Generalismo Absolutismo graduado Falaremos em detalhes não exaustivos de cada um, já que nos é insofismavelmente importante aos debates éticos hodiernos. Basearemos fortemente em na obra do teólogo e filósofo Norman Geisler Ética Cristã para compreendermos tais sistemas éticos e é o que melhor classifica cosmovisões individuais de grandes pensadores. não absolutistas Antinomismo Nesta visão de mundo não há leis morais, portanto mentir não é certo nem errado: não existem leis. O antinomismo expõe sua visão excluindo todas as leis morais objetivas. Em um sistema“antilei” tudo se torna relativo. O filósofo e teólogo Dr. Norman Geisler destaca os principais pontos antinômicos e dividi-os em períodos: Quadro 8. Antinomismo em períodos. MUNDO ANTIGO Heraclitismo Heráclito cria que todas as coisas estavam em fluxo constante, já Cráticlo, acreditava que neste fluxo nada tinha a mesma qualidade, de modo imutável. Hedonismo Os epicureus acreditavam que o que é bom para um pode não ser bom para outro, a relatividade aqui pertencia ao gosto e cosmovisão do ser (como vimos em seu mentor Epicuro no breve comentário sobre o mesmo na unidade anterior). Ceticismo A suspensão do juízo em todos os seus sentidos aqui é o cerne da visão ceticista. Sexto Empírico no período antigo e David Hume na modernidade são famosos representantes dessa weltanschauung. Aqui nada é absoluto, por enquanto nenhuma forma de pensamento está completamente errada, tampouco completamente correta. 31 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I MUNDO MEDIEVAL Intencionalismo Aqui, prima facie, tudo está envolto à intenção, torna-se bom um ato quando a intenção é boa e mau quando a intenção é má e tão somente, de acordo com Pedro Abelardo (século XII). Voluntarismo Para Guilerme de Ockham (século XIV), os princípios morais estão contidos em Deus. Aqui a moralidade podia ser completamente inconstante, uma vez que Deus poderia mudar atos corretos para errôneos e errados como bons; não havia certeza de que Deus não agiria desta forma, encaminhando-se para o pensamento antinômico. Nominalismo Ainda em Ockham, a negação dos universais ou nominalismo. Atos individuais nesta cosmovisão são reais, porém, formas universais residem apenas na mente humana, isto é, um caráter imaginativo da “essência humana”. MUNDO MODERNO Utilitarismo Aqui o intuito era favorecer beneficamente o maior número de pessoas possível. Sua base é hedonista, estabelecida por Jeremy Bentham (1748-1832). Ainda sim não existem valores morais absolutos, tudo é vislumbrado essencialmente naquilo que traz maior prazer, variando de pessoa pra pessoa em determinadas situações e localizações. Existencialismo Nós falamos de Kierkegaard (1813-1855), o pai do existencialismo na era moderna. Aqui o dever mais elevado ultrapassa a lei moral, para Jean-Paul Sartre (1905-1980) nenhum ato ético possuía significado real. Evolucionismo É cediço que o nascimento desta linha de pensamento se deu em Darwin o que levou e leva cientistas até hoje a crerem na ideia de que tudo o que corre para o bom andamento da vida é bom e o que o atrapalha é mau e ponto. Adolf Hitler seguiu uma visão deturpada evolucionista da seleção natural e sobrevivência dos mais aptos entre os grupos étnicos humano. MUNDO CONTEMPORÂNEO Emotivismo Para A.J. Ayer (1910-1989) as fundamentações éticas são dadas por aspectos emotivos. Aqui não há leis morais obrigatórias a ninguém, pois decerto o homem não mata porque “não gosta de matar” e “sente que matar é errado”. Niilismo Os valores morais objetivos aqui estão mortos juntos com Deus, segundo Friedrich Nietzsche (1844-1900). Corroborado por Fiódor Dostoiévski (1821-1881) onde afirma que se Deus está morto, de fato, tudo é válido! Nietzsche argumenta que prefere querer o nada a nada querer, destarte niilismo ou redução a nada. Situacionismo Aqui tudo se torna relativo frente a uma situação determinada. Joseph Fletcher (1905-1991) afirma que se devem evitar termos como nunca e sempre, uma vez que não existem princípios morais que possam aplicar-se a todos o tempo todo. Deste modo, as decisões éticas baseiam-se em sua utilidade de acordo com as circunstâncias. fonte: baseado em geisler (2010, pp.24-38) Em suma, o antinomismo é uma forma radical de ética relativista. “Sem lei”. Enfatizam o valor do indivíduo em tomar decisões éticas, bem como o valor dos relacionamentos pessoais. Aqueles que negam todos os valores, certamente valorizam o direito de negá-los. De certo mentes prodigiosas e conhecidas no campo filosófico não poderiam ser completamente irracionais dentro do contexto antinômicos, portanto contribuições positivas existem, são elas: a ênfase nas responsabilidades individuais e nos aspectos emocionais, bem como nas relações pessoais e nas dimensões finitas da ética. Contudo, os críticos atribuem para esta visão características autodestrutivas, subjetivas, individualistas, ineficazes e irracionais. Situacionismo Afirma que existe uma lei absoluta. Por exemplo, mentir é certo algumas vezes: existe somente uma lei universal e ainda sustenta a existência de um único absoluto moral excluindo todos os outros. Inserido no antinomismo, Joseph Fletcher (1905-1991) é tido 32 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS como principal referência, uma vez que em sua obra, não opondo-se veementemente ao pensamento antinômico, existem algumas leis. Emil Brunner e John A. T. Robison também são representantes desta cosmovisão. Esta lei absoluta de Fletcher se resume em uma só lei: a lei do amor. Deste modo, não está totalmente divergente da ética cristã, porém possui características controversas em seus princípios funcionais, os quais para Fletcher resumem-se em quatro grandes pontos: Quadro 5. Princípios funcionais do situacionismo. Pragmatismo Aqui tudo o que corre em prol do amor deve funcionar ou satisfazer. A prática é preferível à teoria, deste modo, soluções verbais e abstratas são rejeitáveis. Relativismo Aqui todas as coisas são relativas, pois para ele há somente apenas um absoluto. A imutabilidade reside no fato do amor ser imutável, destarte o situacionismo cristão corre em favor deste critério, intitulado de ‘amor ágape’. Positivismo Em oposição ao naturalismo, aqui se defende os valores oriundos de um caráter voluntário e não racional. Possui características emotivistas. Nas afirmações éticas, não busca-se confirmação, mas somente justificativas. Personalismo Aqui as pessoas e tão somente elas representam o valor moral último e definitivo. Somente as pessoas têm valor, portanto as ‘coisas’ somente têm valor porque as pessoas dão valor às coisas. Deste modo, tudo converge em favor do bem para as pessoas que são boas por si mesmas. fonte: baseado em geisler (2010, pp.42-44) Em resumo, segundo o professor Geisler (2010, p.44) o situacionismo é uma ética com estratégia pragmática, tática relativista, atitude positivista e centro de valor personalista. É uma ética com um único absoluto, sob o qual tudo se torna relativo e se direciona para o fim pragmático de fazer o bem às pessoas. Ele mesmo ainda se posiciona quanto à amplitude que poder-se-á dar das aplicações práticas do situacionismo, alegando que adultério altruísta, prostituição patriótica, suicídio sacrificial, aborto aceitável, assassinato misericordioso podem ser, de um certo ponto de vista situcionista, aceitáveis. O Dr. Azpitarte assim enxerga o situacionismo ético: A consciência não pode ser submetida a nenhuma norma externa; isso equivaleria a tirar-lhe sua autonomia e dignidade. A liberdade humana não tem, portanto, nenhum limite no seu agir. A única exigência é o direito de exercê-la de acordo com a decisão pessoal, direito que é ao mesmo tempo o critério único e fundamental da conduta. Cada um encontra e determina por si mesmo as normas concretas de sua ação [...]. A negação absoluta de todo valor objetivo, para se fazer da consciência individual o único fundamento da moralidade, levou logicamente a um subjetivismo impressionante, com todas as suas lamentáveis consequências e contradições (AZPITARTE, 1995, p.202). Ainda sim, o situacionismo possui seu aspecto positivo, como em qualquer cosmovisão, o qual é uma oposição normativa em sua abordagem, e não tão somente, também é 33 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I absolutista, haja vista o amor; soluciona as questões referentes às normas conflitantes e atribui o valor devido a diferentes circunstâncias. Norman Geisler em a Ética Cristã critica sob os pontos de vista de que (1) uma norma só é algo muito geral, (2) a situação não determina o significadodo amor, (3) a possibilidade de muitas normas universais, (4) uma norma universal diferente é possível, (5) uma ética de muitas normas é defensável e (6) que Fletcher na realidade é utilitarista (GEISLER, 2010, pp.52-59). generalismo Reivindica que existem algumas leis gerais, mas não existe absoluta. Por exemplo, mentir é normalmente errado: não existem leis universais. Afirma que existem exceções às leis morais. Os utilitaristas são os adeptos tradicionais dessa visão de mundo. Até agora, isso não significa que utilitaristas não possuem absolutos. Eles podem ter fins absolutos, mas reivindicam não possui normas absolutas. Eles podem possuir um absoluto ou resultado último mediante o qual eles julgam todas as ações, mas eles não confessam possuir nenhuma regra absoluta que capacita o indivíduo a realizar esse fim supremo de produzir o maior bem para o maior número de pessoas (GEISLER, 2010, p.61). Quadro 6. representantes utilitaristas Jeremy Bentham (1748-1832) Utilitarismo quantitativo: oriundo do hedonismo, o generalismo também crê que o prazer é o maior bem do homem. Bentham calculou o prazer. Deste modo, nenhum ato ou palavras possuem qualquer significado ético à parte de suas consequências. Aqui deve-se buscar o prazer e evitar a dor e ainda possui seis fatores: intensidade, duração, certeza ou incerteza, proximidade ou distância, fecundidade e pureza; um sétimo ainda extensão quando aplicado a um grupo de pessoas. John Stuart Mill (1806-1873) Utilitarismo quantitativo, porém em Mill a abrangência é vista ao considerar leis morais gerais. Para ele o prazer é definido qualitativamente. Aqui prazeres sofisticados e intelectuais são maiores que não sofisticados e sensuais. Esta posição também possui caráter normativo, porém de regras não universais. A verdade, deste modo, torna- se uma regra geral (porém com exceções) aplicada para guiar a pessoa a executar àquilo que trará maior bem a maior quantidade de pessoas. G.E. Moore Ele combina abordagens conhecidas como utilitarismo de regras, as quais nunca devem ser quebradas e, utilitarismo de ato que sustenta que cada ato ético particular precisa ser julgado por suas consequências. Aqui também as regras possuem valor geral, mas algumas não devem ser quebradas. Justificam-se apenas por seus resultados, não são deontológicas, muito menos o ato possui valor intrínseco, pois devem ser julgado por seus resultados. John Austin Ele ultrapassa a visão de Moore quanto às regras inquebráveis, pois somente não podem ser quebradas devido seu aspecto geral e a incerteza de uma exceção legítima. Aqui as regras são justificadas pelos resultados gerais e por isso a obediência universal às regras é justificada fonte: baseado em geisler (2010, pp.61-70). Ainda sim, como de costume, vemos seus valores positivos como a necessidade de normas, a solução para normas conflitantes e ainda que alguns generalistas possuem uma norma “universal”. Suas impropriedades são que (1) o generalismo não possui 34 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS normas universais, (2) os fins não justificam os meios, (3) atos utilitaristas não possuem valor intrínseco, (4) a necessidade de uma norma absoluta, uma vez que é confusa a ideia de norma relativa de um fim, portanto (5) o “fim” é um termo ambíguo e ainda (6) a necessidade de normas éticas absolutistas. Geisler (2010, p.75) assim resume e o conclui: Em contraposição ao antinomismo, o generalismo argumenta que há alguns princípios morais obrigatórios. Em contraposição ao absolutismo, o generalismo insiste que nenhuma dessas leis morais é realmente absoluta. Uma vez que todo princípio moral admite exceções, o generalista possui um princípio moral absoluto, sua visão tende a ser reduzida a uma espécie de antinomismo. A menos que existam algumas prescrições morais objetivas de conteúdo substancial, obrigatórias a todas as pessoas durante todo o tempo, a qualquer tempo torna-se possível que qualquer tipo de ação possa ser justificada. Absolutistas Absolutismo não qualificado Acredita em muitas leis absolutas que nunca são conflitantes. Por exemplo, mentir é sempre errado: existem muitas leis não conflitantes. Insiste em que existe sempre uma saída para o conflito aparente entre as leis morais absolutas. Quadro 7.Absolutistas não qualificados. Agostinho (354-430) É confundido por muitos com um situacionista, porém não se baseava somente no amor em seu sistema ético. Para ele somente falsificações feitas com a intenção de enganar podem ser qualificadas como mentiras, como contar uma mentira com o intuito que o ouvinte entenda algo verdadeiro. Aqui, indica Geisler, “cometer um pecado para evitar outro pecado ainda é pecado”. Como mentir para fugir de um estupro ou assalto, essa mentira é pecado. Immanuel Kant (1724-1804) Como já vimos, para Kant existe apenas um dever moral universal em seu imperativo categórico. Seu comprometimento está para a ética deontológica (centrada no dever). Ele não acreditava na existência de exceções nos deveres morais. Em A Crítica da Razão Prática Kant defende que não se minta para um bandido para evitar um roubo, pois coisas como o vizinho chamar a polícia e não encontro do assassino com a vítima podem acontecer. John Murray (1898-1975) Pretendia manter a “santidade da verdade” mesmo em meio a situações que parecem exigir a prática de uma mentira justificável. Para mentir é sempre errado. fonte: baseado em geisler (2010, pp.77-84) Segue ainda que na concepção deontológica o resultado não determina a regra em oposição ao generalismo, já os absolutistas não qualificados, acreditam que Deus sempre mostra uma terceira alternativa para dilemas morais aparentes. 35 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I As premissas básicas que regem o absolutismo não qualificado de acordo ainda com Norman são: 1. O caráter de Deus é a base dos absolutos morais. 2. Deus manifestou seu caráter moral na sua lei. 3. Deus não pode contradizer a si mesmo. 4. Por esse motivo, duas leis morais absolutas não podem realmente conflitar. 5. Todos os conflitos morais são aparentes e não reais. Como já sabemos, o caráter de aspectos positivos existem, quando mais se falamos de Agostinho, um dos pais da igreja, os quais são o de que (1) o absolutismo não qualificado baseia-se na natureza imutável de Deus, (2) enfatiza a regra sobre o resultado, (3) demonstra confiança na providência de Deus e (4) há sempre uma forma de evitar o pecado. Contudo, como ponto de divergência os quais críticos a esta cosmovisão mais se apoiam e indagam é que (1) algumas premissas falsas ou discutíveis, (2) pode a mentira para salvar vidas ser separada da misericórdia? (3) Os atos são intrinsecamente bons? (4) Uma mentira pode ser definida como algo não intencional? (5) A mentira destrói toda certeza? (6) Há uma escolhe entre permissão e comissão? (7) Sonegar parte da verdade, como fez Abraão, é mentir? Portanto, como opositor ao absolutismo qualificado, Geisler (2010, p.95) conclui: Apesar dos aspectos positivos do absolutismo não qualificado e de seus nobres esforços em preservar absolutos sem modificação, há algumas sérias deficiências nessa visão. Ela é não realista, é não misericordiosa (chega a ser legalista algumas vezes) e não consegue ser bem-sucedida em evitar a inevitável modificação de seus absolutos em busca de alcançar uma resposta adequada aos inúmeros conflitos relacionados aos mandamentos divinos que encontramos na Bíblia e na vida real. Apesar de sabermos que não é um ideal de Deus a existência de reais conflitos morais, também entendemos que este mundo em que vivemos não é um mundo ideal. É um mundo real e caído. E se a ética cristã for adequada a este mundo real no qual vivemos, ele não deve se refugiar por trás de absolutos não qualificados. Ela precisa encontrar uma forma aceitável de preservar os absolutos ao mesmo tempo em que procura uma maneira honesta e adequada de suprir uma resposta para cada situação moral. 36UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS Absolutismo conflitante Defende a ideia de que há muitas normas absolutas que algumas vezes são conflitantes. Por exemplo, mentir é perdoável: existem muitas leis conflitantes. Defende que, quando há conflito entre leis morais, o ato de fazer o menos de dois males é desculpável, porém considera a pessoa culpada, independente da posição que tomar. Suas raízes provêm do mundo grego e foi incorporado no pensamento da Reforma como “eu fiz o menor de dois males”, isto é, o “mal menor”. Martinho Lutero: “peque descaradamente”, pois nesta concepção um pecado redimido é um pecado perdoado, uma vez que no mundo não há como não pecar. Há quatro premissas básicas no absolutismo conflitante, de acordo com Geisler (2010, pp.100-102) são as crenças básicas do absolutismo conflitante: 1. A lei de Deus é absoluta e não pode ser quebrada. 2. Conflitos inevitáveis entre os mandamentos de Deus irão ocorrer em um mundo caído. 3. Quando conflitos morais acontecem, nós devemos fazer o mal menor. 4. O perdão está disponível se nós confessarmos os nossos pecados. Como aspectos positivos desse modo absolutista de pensamento, temos que (1) o absolutismo conflitante preserva os absolutos morais, (2) possui um realismo moral, (3) apresenta uma solução sem exceções e (4) vê os conflitos morais arraigados na queda. Contudo as críticas são latentes e veementes quanto a (1) um dever moral de pecar é moralmente absurdo, (2) a inevitabilidade não é moralmente culpável, (3) Jesus deve ter pecado, pois Cristo teve que enfrentar conflitos morais. Para Azpitarte, a saída seria a ética normativa, como tratamos à luz do subtema a ética cristã, o relativismo e aspectos normativos deste material. Segue abaixo, sua concepção ideológica: A ética normativa, mais do que uma lei, é vista então como uma espécie de modelo que a ética pessoal tenta reproduzir na realidade [...]. Por isso, nessa visão não há lugar também para relativismo arbitrário, que induza cada um a comportar-se como bem lhe parecesse. A objetividade de uma conduta não depende da simples obediência à lei, mas da submissão concreta àquele valor que, em tais circunstâncias, deve prevalecer a ser respeitado acima de tudo. Trata-se de encontrar a melhor resposta possível às diferentes exigências éticas que se acumulam numa 37 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I situação. Quando a pessoa opta assim em função do valor prevalente, a sua decisão é plenamente objetiva, embora não seja talvez sempre a mesma, se as circunstâncias variarem seu projeto anterior. É tida por muitos como uma visão um tanto quanto idealista, mas aplicável em alguns casos que de fato situem-se os valores morais objetivos, contudo, incerto em muitas situações até mesmo corriqueiras do cotidiano. Na concepção absolutista conflitante, para Geisler, por fim, acredita-se nos diversos absolutos morais e que estes inevitavelmente a qualquer momento entram em conflito. Tem-se que o mundo é caído e desta forma haverá pecado; os valores morais são absolutos, uma vez que são criados em Deus, desta forma, a obrigação é a de executar e escolher o mal menor quando no conflito moral. No entanto, críticos alegam que faz-se um absurdo moral dizer que há um dever moral de pecar ou culpar outrem por aquilo que é inevitável. Absolutismo graduado Diz que muitas leis absolutas são conflitantes, e nós somos responsáveis por obedecer àquela que for mais elevada. Por exemplo, mentir é certo algumas vezes: existem leis maiores. Afirma que quando leis morais conflitam, Deus nos dispensa da obrigação de obedecer à lei menos em função do nosso dever de obedecer à maior. Para o professor Geisler há problemas em se optar pelo pensamento absolutista graduado e o conflitante. Um dos nossos objetivos neste material é o instigar o pensamento e posicionamento do cristão frente a temas controversos cheios de dificuldades interpretativas e, ainda, se o cristão pouco informado dialogar com alguém cuja opção secular seja latente, certamente não terá onde se apoiar e terá problemas em defender sua fé (I Pe 3, 15). Vejamos a abordagem resumida de Geisler quanto aos principais defensores do absolutismo graduado, como de costume, enquadrado didaticamente para facilitar seu processo de absorção de nosso tema: Quadro 8. Absolutistas graduados. Agostinho (354-430) Muito embora tenhamos veementemente a defesa optativa de Agostinho pelo absolutismo não qualificado existem alguns pontos em sua concepção que convergem a o pensamento graduado. Como a hierarquização de pecados, onde um é mais grave que o outro, tal como Deus deve ser mais amado do que as pessoas ou coisas, pois mesmo que o mandamento é de nos amar, ainda sim, amar a Deus é um bem maior e amá-lo menos do que coisas e pessoas é um pecado de prioridades. Ele cria nos diferentes deveres, pensamento que dá base ao absolutismo graduado. Portanto, aqui, quando dois deveres morais se chocam, escolhe-se o dever maior e o cristão está isento do dever menor. 38 UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS Charles Hodge (1797-1878) Acredita que às vezes é correto falsificar a verdade de maneira intencional. Como exemplo, o irmão mais novo tem o dever de proteger a irmã mais velha, se um suspeito estuprador bate na porta perguntando pela moça na ausência de seus pais e ele mente, qual mal é menor? Kierkegaard (1813-1855) Geisler nota neste representante sua visão da obediência de Abraão à instrução de Deus para fazer de seu filho um cordeiro, portanto, a obediência do dever maior não necessariamente é a negação do dever menor, o qual matar ainda continuava sendo errado, quanto mais o próprio filho. W. David Ross (1877-1971) Existe sempre um sentido deontológico não utilitarista. Para ele é sempre uma obrigação absoluta seguir os deveres maiores acima dos menos. fonte: baseado em geisler (2010, p.113-117) Percebe-se que, dentro dos absolutos morais ainda há linhas de pensamentos que convergem e divergem entre si, se tornando até mesmo um absurdo moral a concepção de um para com o outro. Segue-se que o absolutismo não qualificado está associado com a tradição anabatista. O absolutismo conflitante com a tradição luterana. Absolutismo graduado com a tradição reformada (GEISLER, 2010, 113). Dentre os elementos essenciais do absolutismo graduado: (1) Existem leis morais maiores e menores, veja principalmente em Mt 23, 23 e 5, 19, sobre assuntos maiores e menores10. (2) Existem conflitos morais inevitáveis, como no caso de Abraão e Isaque. (3) Nenhuma culpa é imputada por aquilo que é inevitável, como no caso do irmão que mentiu para proteger a irmã mais velha. (4) O absolutismo graduado é verdadeiro, por guardar o maior dever moral, Abraão se houvesse concretizado a ação diante de Deus do assassinato de Isaque, por obedecer a Deus em primeiro lugar à lei “não matarás” não teria sido culpado de homicídio. Como exemplo, o filósofo e teólogo cristão Geisler insere (1) o amor de Deus está acima do amor para com o ser humano, (2) a obediência a Deus está acima da obediência ao governo e (3) a misericórdia está acima da veracidade. Jesus de fato enfrentou conflitos morais, mas em todos eles sabia exatamente como agir como é o caso do shabat (Mc 2), seus pais biológicos (Lc 2) e governo (Mt 22). Jesus é o exemplo supremo de como lidar diretamente com pecados maiores (veja a nota de rodapé acima). Os conflitos não deixaram de existir, pois, como seres humanos passíveis de falhas de modo integral, temos a tendência natural enfrentar qualquer caráter normativo com equívocos, quanto mais absolutos morais em conflito. Muito interessante nos é estudar o resumo de Geisler (2010, pp.134-135): O absolutismo graduado se distingue do antinomismo, do situacionismo e do generalismo, porque acredita em absolutos morais. As leis morais são absolutas em sua fonte; absolutas em sua própria esfera, em que não existe conflito; e absoluta em sua ordem de prioridade quando existe um conflito. Em contrastecom o absolutismo conflitante, ele mantém que, nessas circunstâncias, o indivíduo não é culpado por 10 Não deixe de ler também Mt 22, 34-40; Jo 19, 11; 1Co 13, 13; Jo 15, 13; Tg 2, 10; Mt 5, 22 e 28; Rm 2, 6; Ap 20 12; 1 Co 3 11-15; 1Co 5; 1Co 11, 30; Mc 3, 29; Mt 10, 37; como também Pv 6, 16-18; 1Tm 1, 15;1Jo 5, 16. 39 OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I subordinar o dever menor a um dever maior. Os princípios essenciais do absolutismo graduado são: há muitos princípios morais arraigados no caráter moral absoluto de Deus; há deveres morais maiores e outros menores – por exemplo, amar a Deus é um dever maior do que amar outras pessoas; as leis morais, algumas vezes, entram em conflitos inevitáveis; quando estes acontecem, nós estamos obrigados a seguir à lei moral maior; quando seguimos a lei moral maior nós não somos considerados responsáveis por não guardar as leis menores. Trouxemos aqui, de maneira geral, o enquadramento dos sistemas éticos nos pensamentos de grandes mestres. De fato muitos podem não se rotular como tal, mas sua posição favorece sua colocação em tais sistemas. Na atualidade, Norman L. Geisler se destaca como um dos maiores nomes, douto em filosofia e teologia há mais de cinquenta anos, deste modo o uso intensivo de seu trabalho. Com efeito, o que prezamos aqui são a posição e abordagem intelectual que o bom aluno dará para as concepções acima apresentadas, e instigamos, não deixe de adotar uma delas de maneira categórica e contundente, estando firme quando indagado por terceiros o porquê sua fé (I Pe 3, 15). 40 unidAdE iiquEStÕES BioÉtiCAS Trataremos de um assunto de extrema notoriedade e polêmico tanto em caráter profissional, quanto amador, uma vez que é de interesse científico, porém também social, por enquanto, simplesmente, envolve vida e suas barreiras éticas. Na primeira unidade tratamos das opções éticas, já aqui trataremos das questões éticas. Esta unidade não tem por objetivo esgotar o tema, considerando que a medicina, bem como toda a ciência, é muito mais ampla do que contemplaremos, tampouco de maneira exaustiva cada assunto será tratado, contudo, nosso objetivo é incentivar o pensamento e posicionamento e a contínua busca da verdade dentro de contextos delicados, porém posicionáveis; principalmente aos cristãos. CAPítulo 1 questões Bioéticas mais conhecidas Começamos com ideia concisa, mas objetiva de Meilaender (2009, p.151): A bioética não trata só dos problemas morais difíceis [...] nem só das decisões que precisamos tomar em um momento ou outro. De modo mais fundamental, ele nos convida a pensar acerca da maneira pela qual vivemos em direção à morte em um mundo marcado pela doença e pelo sofrimento [...]. Para onde quer que nos voltemos, é provável que nos confrontemos com doenças e sofrimentos, e se somos abençoados com uma boa saúde, a disparidade entre nossa condição e a dos outros pode tornar o próprio fato do sofrimento ainda mais contundente. Precisamos pensar acerca do significado da doença na vida humana. Eutanásia Eutanásia basicamente significa “boa (ou feliz) morte ou morte sem dor”. Pode ser voluntária ou involuntária, o paciente consente com a morte ou não consente. Pode ser 41 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II autodeterminada ou determinada por outra pessoa, contudo no primeiro caso: suicídio e segundo caso: homicídio. Como veremos o termo infanticídio é utilizado para criança/jovens e eutanásia para adultos ou idosos. Subdivide-se em eutanásia ativa ou passiva e tem como argumentos favoráveis, tomaremos como base Geisler (2010, p.194-197) que (1) há um dever moral de morrer com dignidade; (2) a eutanásia é um ato de misericórdia para com aquele que sofre; (3) é um ato de misericórdia para com a família sofredora; (4) alivia a família de um grande esforço financeiro; (5) alivia a sociedade de um grande peso social; (6) é um ato “humano” a ser feito; (7) deve-se dar autonomia para os sofredores; (8) há distinção entre vida biográfica e biológica, que o indivíduo mantém certas aspirações biograficamente é considerado bom, se a vida somente se dá em caráter biológico e não biográfico simultaneamente, ruim. O maior problema, no entanto, é que não se encaixa, e esse possivelmente é o maior dos entraves, em nenhuma situação corriqueira cotidiana, pois simplesmente se escolhe vida ou morte e tão somente. Ainda dentro de uma weltanschauung cristã, se a decisão for desligar os aparelhos temos um nome para isso, por mais que queiramos apelidá-lo ou mascará-lo, seu nome é homicídio (Ex 20, 13). Caso de alguma forma haja racionalidade por parte do agente com a enfermidade e decide racionalmente tirar a própria vida, também não se pode abrandar, o nome dado é suicídio. Muito embora as Sagradas Escrituras não tratem de suicídio especificamente e diretamente, temos em Saul (I Sm 17, 23); Zinri (I Re 16. 18) e Judas (Mt 27, 5) exemplos que se faz cediça a inferência não agradaram de fato a Deus. O auto-homicídio, se assim podemos utilizar o termo, se torna um homicídio duplamente qualificado, com duas intenções insofismavelmente perversas. Vejamos em Vidal (1989, p.201) ainda sob o tema valor da vida humana: Quadro 9. Valor da vida humana. 1. A vida humana tem valor por si mesma; possui inviolabilidade axiológica de caráter apriorístico; 2. A vida humana não adquire nem perde valor ético por situar-se em condições de aparente “descrédito”: velhice, “inutilidade” social etc.; 3. O valor da vida humana é a base fundamental e, ao mesmo tempo, o sinal privilegiado dos valores éticos e dos direitos sociopolíticos da pessoa; 4. A vida humana, assim como a pessoa, não pode ser instrumentalizada com relação a outros fins distintos de si mesma. Concretamente: não se pode estabelecer autêntico conflito ético entre valor da vida humana (também do paciente próximo do desenlace final) e um valor social; 5. A vida humana não pode ser instrumentalizada pelo próprio indivíduo que dela goza. Concretamente: não se pode estabelecer autêntico conflito ético entre o valor da vida do paciente e outro bem do próprio paciente que não englobe a totalidade valorizada da pessoa. fonte: baseado em Vidal (1989, p.201). Não conseguiremos nos estender em demasia sobre o assunto, mas bem sabemos que a geração de debates sobre eutanásia vai além da lógica e da emoção, haja vista diversas 42 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS capas de jornais e revistas que dão vazão ao tema. Em 12 de agosto de 2014, no jornal The New York Times International Weekly, a França ainda opõe-se a retirada da vida, enquanto em muitos países da Europa aderem ao fato de que os poderes de decisão são dados aos médicos e pacientes. Em o Estado de S. Paulo11 de 14 de Fevereiro de 2014 (Ed. 14, p.16) também há uma matéria eutanásia, porém infantil, onde informa que a Bélgica legalizou a ação. Quando chegarmos ao tema Filosofia da Ciência possivelmente se fará mais claro e melhor para posicionamento frente à eutanásia. Se considerarmos como ser no mundo de Martin Heidegger uma causa de efeitos devastadores da natureza, grosso modo, são passíveis de aceitação quaisquer turbulências, muito embora o cristão creia em milagres divinos que quando devidamente tratados o natural como natural e o sobrenatural como sobrenatural, são metafisicamente lógicos de ocorrência. Azpitarte (1995, p.67) nos traz um interessante comentário: A ordem moral forma parte da ordem divina, que rege o universo. O homem, que vive nesse cosmo sagrado, deve submeter-se também aos imperativos da natureza, os quais revelam um querer superior. A norma suprema consiste na conformidade com essa lei soberana, que nos governa e à qual toda a criação está sujeita [...]. A moralidade não consiste em se conformar com uma ordem superior, e sim na obediência e docilidade à sua mensagem. Para que nossa visão sobre o assunto se torne um tanto quanto mais ampla, vale analisarmos as palavras do já membro do conselho consultivo em questõesrelacionadas à bioética da presidência dos EUA: Se a autodeterminação é realmente tão importante ao ponto de termos o direito de ajudar alguém a pôr fim a própria vida, como então podemos insistir em que esse auxílio só se justifica quando concedido a quem esteja passando por um grande sofrimento? Há indivíduos que, embora não estejam sofrendo, não veem nenhum sentido na vida, pessoas para quem o esforço de continuar vivendo não vale a pena. Trata-se de seres igualmente autônomos e, se a autonomia é tão importante como afirma o argumento, segue-se então que as pessoas que, em sua autonomia, desejam a eutanásia, devem ser respeitadas, mesmo que não estejam acometidas de dores insuportáveis [...] a eutanásia não é simplesmente uma extensão da autonomia pessoal [...]. É igualmente verdadeiro que aumentará a pressão para que se pratique a opção; 11 Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20140214-43949-nac-16-mrt-a16-not/busca/eutan%C3%A1sia>. 43 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II para que se opte pelo “heroísmo ponderado”, não permanecendo vivo tanto tempo nem gastando recursos que poderiam ser mais úteis em outras coisas. Se, ou quando, a eutanásia tiver aprovação da sociedade, é provável que a suposta liberdade mostre-se menor. Em suma, existem bons motivos para não concordarmos com o argumento da autonomia. (MEILAENDER, 2009, pp.84-85). Como já vimos em ética à vida sem Deus pode ser facilmente sem sentido, valor e propósito. Não existe padrão moral sem Deus, o sofrimento é simplesmente um mar de sentimentos e situações sem objetivos, torna-se algo que serve para esmagar a vida de outrem, circunstâncias que definham o ser, antagonicamente isso é visto na Bíblia. O deserto é citado em praticamente toda a Escritura Sagrada como algo em que Deus se revela sobremaneira ao homem, e aquele é o lugar onde Deus mais trabalha, forja-o, corrige-o e, portanto, cabe ao homem permitir-se as operações que muitas vezes são literalmente cirúrgicas de Deus, para retomar o caminho correto de acordo com a perfeita, agradável e boa vontade dele. Poderíamos utilizar diversos argumentos em favor da eutanásia, uma vez que somente pensando sobre o delicado tema facilmente nosso raciocínio emocional nos leva a seu favorecimento. Deste modo, é válido ressaltar alguns posicionamentos embasados que nos farão refletir melhor sobre o tema, bem como instigar (um dos propósitos principais deste material) o pensamento e posicionamento. Quando falamos da “morte digna” incorre-se antes da inferência deduzível de possíveis argumentos, a pergunta quanto vale uma vida em moeda local? Qual o valor da vida humana? De forma insipiente (ou logicamente racional, dependendo da cosmovisão posicional) pode-se até mesmo pensar que naquele estágio aquela vida custa o valor dos gastos para custear sua manutenção em aparelhagem, honorários médicos, medicamentos diversos, bem como demais custos. Vale a pena, por fim, verificarmos a posição cristã conclusiva de Norman Geisler: Eutanásia passiva é o ato de permitir a ocorrência da morte, de modo natural, mediante a suspensão de meios artificiais de manutenção da vida, tais como equipamentos que substituem as funções do coração e dos pulmões. Meios naturais de manutenção da vida incluem comida, água e ar. A suspensão deliberada destes últimos constitui o que chamamos de eutanásia passiva não natural; esta prática, na perspectiva cristã, é moralmente inaceitável. Mesmo no caso moralmente aceitável da eutanásia passiva natural, há algumas decisões difíceis a serem tomadas. Essa prática deve ser exercida somente quando um indivíduo 44 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS estiver com uma doença irreversível em fase final; e, ainda assim, isso nunca deve ser feito contra a vontade expressa do paciente. Além do mais, essa decisão deve ser tomada mediante consenso do pastor, dos médicos, do advogado e dos familiares. Deus deve ser buscado em primeiro lugar por meio de orações constantes feitas em favor da cura do enfermo. Quando o curso da doença se torna irreversível do ponto de vista médico, e não houver nenhuma intervenção divina, é moralmente justificado para todos os esforços artificiais que visam prolongar o processo de morte (GEISLER, 2010, p.211). infanticídio Tratamos da “morte feliz” para um ser humano depois do nascimento, vejamos quando se trata de crianças, a qual a terminologia infanticídio é adotada. Geisler (2010, pp.188-190), os entende em dois grandes grupos, o (1) infanticídio passivo: simplesmente permite a morte de um infante por abstenção do tratamento necessário e (2) infanticídio ativo: procedimentos são adotados para tirar-lhes a vida. Os principais argumentos favoráveis, segundo ainda o autor, são o de que (1) crianças recém-nascidas com risco iminente de morte e que os pais têm o direito de escolha em casos de deficiência qualquer e que (2) essas crianças não são pessoas. (3) Dificilmente essa criança terá uma qualidade de vida adequada aos padrões humanos, bem como (4) a qualidade de vida dos terceiros que cuidarão dessa criança será prejudicada. De certo são argumentos no mínimo instigantes, contudo os contrários e críticos provocam que (1) os direitos dos pais não implicam em direitos absolutos, (2) crianças com risco iminente de morte ainda são pessoas, alegam também que (3) matar um sofredor não é um ato de misericórdia, bem como (4) não é misericordioso matar o outro para aliviar o peso de minha responsabilidade. Geisler (2010, pp.193-194) conclui seus argumentos contrários ao infanticídio de modo contundente12: Os argumentos contra o infanticídio são os mesmos que são usados contra o homicídio. A criança é um ser humano inocente, e é moralmente errado matar com intenção um ser humano inocente. Duas razões são suficientes. Em primeiro lugar, seres humanos são feitos à imagem de Deus. Matá-los é matar Deus em efígie [...]. A segunda razão para não se matar um ser humano inocente é que Deus é soberano sobre a vida. Somente Deus dá a vida (Gn 1, 21), e somente Deus tem o direito de 12 Veja os textos bíblicos Gn 9, 6; 1, 27 e Ex 20, 13. 45 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II tomá-la (Dt 32, 39; Jó 1, 21). O fato de a criança não ser plenamente desenvolvida não significa que ela não seja plenamente humana [...] argumentos que se oponham a isso são falaciosos porque se baseiam em diferenças acidentais, e não em diferenças substanciais. Um humano infante é um humano por essência, não por características acidentais. Aqui, o infanticídio intencional é uma forma moralmente culpável de homicídio. Aborto Das questões éticas, as mais urgentes são aquelas que tratam da vida e da morte. Quando falamos de aborto de um nascituro, o espanto é geral, o asco toma conta da qualquer um somente em pensar na possibilidade, contudo, ainda sim, existem questões que geram debates acalorados quando o nascituro não é fecundado de maneira natural e de acordo com o esperado. Uma em cada três crianças nos EUA, segundo Craig (2010, pp.123-124) é abortada, são estes os principais motivos citados por ele: 1. O assassinato deve ter um motivo maldoso. 2. Há muitas crianças indesejadas no mundo, e casais brancos não gostam de adotar crianças de minorias. 3. A população do mundo está explodindo muito rapidamente. 4. A maioria dos casais sem filhos não quer ter filhos ou adotá-los. 5. O corpo de uma mulher é problema dela; não deveria ser uma questão pública. 6. Se as pessoas em nações não desenvolvidas são instruídas a adotar meios de controle de natalidade ou praticar o aborto, as mesmas políticas deveriam se aplicar em nações desenvolvidas. São argumentos que no mínimo causam incômodo naquele que ouve e desfavorece a prática do aborto, desta forma, de acordo com nosso tema, nos restam duas questões de acordo com Craig (2010, p.124): (1) Os seres humanos possuem valor moral intrínseco? (2) O feto em desenvolvimento é um ser humano? Para o cristãominimamente conhecedor das Sagradas Escrituras, certamente eliminará, de modo instantâneo, mais da metade desses argumentos por meio de princípios e verdades bíblicas. Antes de prosseguirmos, tenham em mente as três abordagens sobre o aborto: 46 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Quadro 10 : Três abordagens sobre o aborto. Condição do nascituro Plenamente humano Humano em potencial Subumano Aborto Nunca Algumas vezes A qualquer momento Fundamento Santidade da vida Surgimento da vida Qualidade de vida Direitos da mãe Vida acima de privacidade Combinação de direitos Privacidade acima do direito à vida fonte: geisler (2010, p.153) Existem argumentos bíblicos para os que são favoráveis ao aceite de que o feto é subumano por meio de interpretações controversas e questionáveis13, a qual Cortes de direito ao sinalizar a legalidade da prática abortiva só pode se basear em um só argumento, que o feto é um subumano, ou seja, o nascituro não é considerado uma pessoa real, do contrário se o fosse, alterar-se-ia o termo aborto para homicídio. Deste modo nos é demasiadamente válido, novamente para efeitos didáticos aplicados em favor do nosso pensamento e posicionamento, ver os argumentos e contra argumentos que o professor Geisler (2010, pp.155-158) nos traz de forma ampla, seguida pela interpretação de nosso material de estudo em caráter unitário: Quadro 11. Argumentos e contra argumentos pró-escolha. ARGUMENTOS PRÓ-ESCOLHA CONTRA ARGUMENTOS 1. Argumento da autoconsciência. Onde o bebê não é um ser humano até possuir autoconsciência. 1. A autoconsciência não é necessária para caracteriza um ser humano. Aqui se alega que em estado de sono profundo e em coma também não podem ser considerados seres humanos, tampouco crianças até um ano e meio. 2. Argumento da dependência física. Aqui o bebê é uma extensão do corpo da mãe, dando-lhe todo o direito de fazer o que quiser com ele. 2. Um embrião não é a extensão de sua mãe. Aqui se alega que o nascituro é outro ser humano, com seu próprio sexo e tipo sanguíneo. 3. Argumento da transmissão de sinais hormonais. Aqui o bebê é um subumano até a implantação (aproximadamente um ou duas semanas após a concepção). 3. Alega-se que nenhuma informação é transmitida ao ser humano após a concepção. O “rádio é rádio mesmo sem estar ligado na tomada”, o bebê é um bebê mesmo antes de ser amamentado. 4. Argumento da dependência do zigoto de moléculas materiais para ser desenvolvimento. Aqui a mãe tem o direito de escolher deixar o zigoto existir ou não. 4. O zigoto é uma substância viva e um ser unificado, que tem em si mesmo a capacidade de ser influenciado a conduzir-se em direção à sua causa final. Os seres humanos que tem recorrido a qualquer fonte molecular material exterior também não podem ser considerados humanos. 5. Argumento da segurança da mãe. Aqui pede-se a legalização para a prática, uma vez que a ilegal e irregular gera grandes riscos à vida da mãe se decidir praticar o aborto mesmo não autorizada. 5. O abordo legalizado não salva vidas. Em 1973 nos EUA a legalização do aborto não impediu a morte de milhares de mulheres, mas dizimou dezenas de bebês. 6. Argumento de autonomia da mãe sobre seu corpo. Sua autonomia sobre o corpo está acima do direito do nascituro à vida. 6. O direito à vida tem preferência ao direito do próprio corpo. 7. Argumento baseado no abuso e na negligência. Aqui indaga-se porque permitir que a criança nasça mesmo com má formação como também a grande estatística de abuso infantil. 7. Estudos apontam que 91% dos abusos infantis eram de crianças desejadas. Quanto à má formação, pessoas com deficiência física adquirida também deveriam ser assassinadas, o que é considerado crime. 8. Argumento do direito à privacidade. Aqui alega-se que a privacidade dá o direito de tirar um estranho de dentro de casa a hora que quiser, assim ocorre também para um nascituro indesejado. 8. A privacidade não dá o direito de matar, tampouco em legítima defesa, pois se trata de um inocente. 13 Veja: Gn 2, 7; Jó 34, 14-15; Is 57, 16; Ec 6, 3-5 e Ec 9, 10; Mt 26, 24. 47 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II 9. Argumento do estupro. Aqui alega-se a imoralidade da obrigação da mulher em gerar um filho de atos ilícitos. 9. Compreensivelmente emocionante, contudo um estupro não justifica um assassinato (veja lei menor e maior). Devido a fatores psicológicos e físicos, poucas gravidezes ocorrem, Geisler traz o número de menos de 1% de ocorrência. Além disso, a adoção futura da criança “indesejada” (pois mais da metade desse 1%, decide criar a criança) é uma melhor alternativa. 10. Argumento da incapacidade de saber quando a vida começa. Aqui os defensores da pró-escolha alegam que seria um dogmatismo tolo acreditar que o feto é um ser humano. 10. Se o organismo é uma pessoa e sabemos (pela ciência) disso, segue-se que o ato é homicida. Se o organismo é uma pessoa e não sabemos, é homicídio culposo. Se o organismo não é uma pessoa e não sabemos, ainda sim decorre de uma incerteza, portanto, homicídio culposo. Se organismo não é uma pessoa e nós sabemos, segue-se lícito, porém nenhuma ciência detém essa verdade, portanto uma certeza surreal ainda sim é culposa. 11. Argumento referente aos direitos de autonomia da mãe e ao seu consentimento para o sexo. 11. Se o sexo é concedido, segue-se que é sabido da possibilidade de ocorrência da fecundação, portanto, culposo em caso de prática abortiva. 12. Argumento de que a sociedade decide quando a vida começa. Aqui se alega que a criança somente é considerada um ser humano quando a sociedade a vê como tal. 12. A maior parte das culturas creem que a vida começa na concepção e celebram por isso, ainda sim há ideias de que a criança somente é considerada após os 13 anos (Bar Mitzvah dos judeus) e quando batizadas, nem por isso deixam de ser humanas. O feto não muda geneticamente, simplesmente ganha forma e tamanho, ainda sim é um humano. 13. Argumento de que os valores intrínsecos são insuficientes para determinar o valor humano. Aqui o valor intrínseco do nascituro é potencial e não real. 13. A natureza não se apresenta em graus. Com esta ideia diferentes pessoas deveriam ter diferentes valores intrínsecos, portanto, desiguais perante a lei, o que é inconstitucional. fonte: baseado em geisler (2010, pp.155-167) Ainda sim, alega-se que o nascituro é um ser humano em potencial, por meio de que (1) a personalidade humana se desenvolve de forma gradual e que (2) o desenvolvimento humano está conectado ao desenvolvimento físico. As críticas quanto à abordagem de que o feto é um humano em potencial de maneira compactada temos que (1) a personalidade é diferente do ser humano, (2) nem uma manga nem um embrião representam vida em potencial e (3) os nascituros são protegidos pela constituição. Se a vida da mãe estiver ameaçada temos os respaldo do absolutismo graduado. Neste sub-tópico aborto terapêutico (veja definição a seguir), o professor americano de assuntos éticos cristãos Gilbert Meilaender, membro do conselho consultivo em questões relacionadas à bioética da presidência dos EUA, afirma que se for para escolher entre mãe e filho, não se faz possível pedir à mãe que morra para que se dê prosseguimento à raça humana, mas não com ela no mundo, tampouco quando o nascituro possui chances irrisórias de sobrevivência (MEILAENDER, 2009, p.53). Metade de todas as concepções resulta em abortos espontâneos (o Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor! (Jó 1, 21). Ainda sim Gêmeos provam que a vida começa na concepção. Na obra de Vidal (1989, pp.195-197) a tipologia do aborto divide-se o espontâneo e o provocado e define-se os termos: 48 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS » Chame-se aborto espontâneo quanto à interrupção da gravidez se dá por causas naturais, sem a livre intervenção humana. » O aborto provocado é o que se deve à intervenção livre do homem. » O aborto terapêutico é o aborto provocado quando o prosseguimentoda gravidez põe em risco a vida da gestante. » Aborto eugênico. Aborto provocado quando existe o risco, e às vezes a certeza, de que o novo ser nasça com anomalias ou malformações congênitas (muitas vezes na literatura médica faz-se inapropriado chamar aborto terapêutico). » Aborto humanitário. Aborto provocado quando a gravidez veio como consequência de ação violenta, como, por exemplo, o estupro (às vezes chama-se aborto “ético”). » Aborto psicossocial. Aborto provocado quando a gravidez é “indesejada” por razões de caráter social ou psíquico: problemas econômicos ou de moradia, gravidez em mulheres solteiras, ou como consequência de relações extraconjugais, motivos psicológicos na mulher etc. Para Meilaender (2009, p. 47), como falamos o já conselheiro de assuntos bioéticos da presidência do EUA “depois da fertilização, é difícil localizar alguma outra ruptura igualmente decisiva no processo de desenvolvimento”, e ainda nos faz interessante continuar em sua linha de raciocínio para nos posicionarmos de maneira mais contundente frente ao assunto: Uma alternativa possível, alguma vezes proposta, é a de que a vida pode ou não iniciar no momento em que a “geminação” ocorre. Sabemos que é possível que o blastócito em desenvolvimento pode “segmentar-se” nos primeiros quatorze dias após a fertilização. Isto é, a “geminação” pode ocorrer se o blastócito dividir-se em dois (ou mais) do mesmo genótipo. Portanto, alguém pode argumentar que não podemos dizer com confiança que o ser humano como indivíduo exista antes desse momento. Esse argumento que, a meu ver, já foi mais persuasivo, perdeu agora toda sua força – em parte, porque o fundamento filosófico é questionável, e, em parte, porque a base de nosso conhecimento sobre o desenvolvimento embrionário torna-se cada vez mais incerta (MEILAENDER, 2009, p.48). 49 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II figura 1. fecundação. fonte: <http://4.bp.blogspot.com/_dxnS147nlwo/SedpgYkufxI/AAAAAAAAAAk/Hv0IaO8gAdw/s400/segmentacao+holoblastica+igual+2.jPg>. A origem da vida, segundo as Sagradas Escrituras se dá em Deus (leia Sl 139, 13-16), especialmente em “teus olhos viram a minha substância ainda sem forma”, e ainda, em uma weltanschauung cristã temos que se considerarmos um feto com forma de algo, tem-se que este já é um ser humano e dentro de assuntos constitucionais já possui seus direitos. Já se considerarmos que o nascituro é informe segue-se que Deus já lhe deu vida e a ama como tal, isto é, um ser humano vivo como qualquer outro, porém informe, em qualquer período onde o espermatozoide penetrou no óvulo. O embrião, em seus momentos primordiais, assim parece, é mais que apenas um amontoado de células indistintas; ele é um organismo integrado capaz de autodesenvolvimento, e também capaz (se tudo ocorrer bem) do desenvolvimento contínuo que caracteriza a vida humana [...]. A afirmação de uma mulher grávida, “Posso fazer do meu corpo o que eu quiser; posso abortar se quiser”, torna-se obviamente menos persuasiva a partir do momento em que rejeitamos o argumento da pessoalidade. Se seu corpo está agora alimentando outra vida humana cuja dignidade é igual à dela ou à nossa, será muito mais difícil o aborto [...]. O argumento da privacidade, porém, é útil de certo ângulo. Ao passo que o argumento da pessoalidade dirige nossa atenção unicamente para o feto, cuja condição procura determinar, esse argumento traz à nossa atenção o vínculo entre mãe e filho (MEILAENDER, 2009, p.49, 51 e 52). Podemos ver esse processo de geração de vida ou iniciação em todas as áreas sociológicas, patológicas, na fauna, na flora e em toda sua biodiversidade; em processos químicos e orgânicos, físicos e matemáticos, tal verificação pode ser feita. Acreditava-se em no passado na ideia do flogisto para ocorrência da combustão, contudo após a descoberta do oxigênio por Lavoisier descobriu-se que é somente em contato com o oxigênio é que se ocorre a combustão, portanto, seguindo a analogia, faz-se um tanto quanto ilógico dizer que o fogo é tão somente considerado fogo apenas após ter incendiado a casa toda. O fogo é fogo instantaneamente após o contato do comburente (gasolina, álcool etc.), com a fonte de ignição (ou elétrica) para geração de combustão. Assim, o serve para bomba quando explode, um semente em contato com o solo que fertiliza, ao tomar a decisão de saltar de um paraquedas e no meio desistir (você já pulou). Enfim, “seja, 50 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna” (Mt 5, 37). Anencefalia Em um aspecto jurídico, dentro do Código Penal Brasileiro, de acordo com o doutor Antonio Telmo de Toni, dentro do livro organizado por Hoch e Wondracek (2006, p. 52) afirma que não há legislação específica sobre anencefalia, mas somente sobre o aborto, e o traz como ilegal14. Segundo o autor, a anencefalia é frequente, muito mais que do que o imaginado (veja os números abaixo), ele explica e dá alguns números: Consiste em malformação congênita caracterizada pela ausência total ou parcial do encéfalo e da calota craniana, proveniente de defeito de fechamento do tubo neural durante a formação embrionária, entre os dias 23 e 28 da gestação. Ocorre com maior frequência em fetos femininos, pois parece estar ligada ao cromossomo X [...]. As estimativas apontam para a incidência de, aproximadamente, 1 caso a cada 1.600 nascidos vivos. Anualmente o número de registros de crianças nascidas vivas no Brasil oscila entre 2,7 e 3.0 milhões/ano [...]. O risco de incidência de anencefalia aumenta 5% nos casos de gravidez subsequente. As mães diabéticas têm 6 vezes maior probabilidade de gerarem filhos com este problema. Da mesma forma, há maior incidência de casos de anencefalia em mães muito jovens ou nas de idade avançada (HOCH; WONDRACEK, 2006, p.50). Por fim, mesmo anencefálico, o nascituro não pode ser abortado sem autorização judicial. Segundo Toni ainda, os documentos necessários devem ser entregues, não se admitindo qualquer hipótese futura de vida da criança, mas com total comprovação de que nascerá morta. Cita que os documentos necessários são: (1) relatório médico, que informe ao Juiz da Vara, objetivando o suprimento judicial, a constatação de que a patologia é letal em 100%; (2) exames de ultrassom morfológico com avaliação de idade gestacional e descrição da patologia; (3) avaliação psicológica e (4) assinatura do casal. Em uma weltanschauung cristã, pode-se aplicar, de modo leigamente aproximado, com o aborto natural, pois se estamos no mundo, existem riscos e eles são iminentes para cristãos ou não, portanto, de acordo com as Sagradas Escrituras: “nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor me deu e o Senhor tomou; 14 Arts. 124,126, caput e 128, I e II do Código Penal. 51 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1, 21). O que não quer dizer que o cristão deva estar plenamente conformado com a situação (Rm 12, 2), mas que o importante é continuar a jornada (Mt 5, 1-11). Exames Ainda sim, persistiremos nos estudos e pensamentos de homens referenciais bioéticos cristãos, e seguimos a arguição de Meilaender (2009, p.66): O objeto do exame de recém-nascidos consiste na detecção de doenças adquiridas por meio de herança recessiva, as quais, se detectadas com suficiente antecedência, podem ser tratadas com sucesso. A amostra de sangue que se tira do calcanhar dos recém-nascidos é o exemplo mais trivial desse exame. Essa amostra é testada para detecção da fenilcetonúria, uma deficiência enzimática, herdada recessivamente, que impede a fragmentação da fenilalanina, um aminoácido. Disso decorre uma grave deficiência mental. Se, porém, uma criança com fenilcetonúria for submetida imediatamente a uma dieta de pouca fenilalanina, podem-se evitar as consequências. Embora, a dieta seja bastante restrita, suas vantagenssão tão óbvias que se torna difícil não classificar o exame de fenilcetonúria como um sucesso. A decisão da aplicação de exames extremamente promissores como Tay Sachs, fibrose cística e a doença de Gauche leva tentadoramente após sua detecção à decisão abortiva do nascituro. Pergunta-se, portanto, até que ponto é válido saber de possíveis doenças do filho ocorrerão? Uma questão delicada, porém facilmente contornada por um cristão que possui seus olhos voltados para aquilo que é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Hoje em dia, tal seleção pré-natal, por meio da amniocentese, vem ocorrendo com certa frequência como recurso médico para justificar o aborto. Se sua vida [do agente cristão que abortará] possui valor, sentido e propósito, saberá que mesmo em meio a uma vida futura possivelmente conturbada, passível de todos os problemas e mesmo assim venha a se concretizar o aborto, terá ciência que a intenção homicida, portanto homicídio doloso; pois certamente não se assassinaria um ser humano somente porque após um grave acidente este fica tetraplégico e decreta-se, “Vamos matá-lo, pois se nós sofremos, quanto mais ele”, ou ainda, trazendo para nosso contexto, detecta-se a ploriferação de células cancerígenas malignas no corpo de um indivíduo e diz-se, “Ide, vamos matá-lo para que se reduza sua dor e também nossos gastos futuros”. De fato isso não ocorre. Para um cristão tal atitude além de insana é homicida, simplesmente porque acredita que ainda nos poucos dias ou meses (e até mesmo anos!) 52 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS em que aquela vida estará na Terra, poderá ser edificadora e motivadora de dezenas de milhares de mentes suicidas e contrárias à beleza e à dádiva da vida por parte de Deus. Iremos continuar tratando de temas delicados, existem diversos autores, posições e pensamentos sobre todos os temas abordados aqui de maneira vasta. Escolhemos os que mais se adéquam em nosso material, deste modo, não deixe de, ao passar por cada tema aqui proposto, pesquisar externamente mais detalhes para que com isto, seu estudo fique mais rico e seu posicionamento mais firme. Controle de natalidade Basicamente, temos na Igreja Católica Romana a incipiência deste pensamento. Até agora, vimos dentro de caráter éticos que, após a concepção (veja Anexo I), qualquer tentava abortiva é homicídio. Porém aqui, a controversa está em simplesmente não permitir que se bloqueie a fecundação por nenhuma forma, isto é, dentro de contextos protestantes não se dá nenhum problema, pois o mal aqui é simplesmente a não geração de um nascituro, deste modo, não se configura assassinato, pois simplesmente ele não foi gerado. Argumentos da posição em favor do controle de natalidade, de acordo com Geisler (2010, pp.467-469) é que (1) o controle de natalidade é desobediência ao mandamento divino de propagar a espécie; (2) é intenção de assassinato incipiente; (3) o único propósito do sexo é a procriação; (3) a Bíblia condenou uma tentativa específica de controle de natalidade15. Contudo, como de praxe, existem os contra argumentos, os quais invertem o ônus da prova em que (1) o mandamento divino de propagar a espécie é geral, e não específico16, haja vista a aprovação de Jesus quanto aos eunucos por opção; (2) o controle de natalidade não é um assassinato insipiente, pois existe total diferença entre impedir o nascimento de uma criança e tirar sua vida após a concepção. Limitar a quantidade de filhos no mundo não necessariamente é pecado; (3) a procriação não é o único propósito do sexo17 (GEISLER, 2010, pp.469-473). Claramente temos que, o argumento que se usa contraceptivos para relações extraconjugais e fora do casamento, não se faz favorável ao pensamento cristão, tampouco quando esse controle de natalidade causa abortos. Mas o argumento favorável ao controle alega que é correto para adaptar aos custos familiares18; adiar esse nascimento por conta da 15 Vide texto: Gn 38, 9-10 (consideravelmente utilizado como argumento contra a masturbação); 16 Vide Mt 19, 12; 1Co 7, 17; 1Co 7, 5 e Gn 1, 28. 17 Vide Pv 5, 18 e 1Tm 6, 17. 18 1Tm 5, 8 e Lc 14, 28. 53 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II imaturidade dos recém-casados e ainda é facilmente descontrolada a fertilização de muitos, uma vez que existem casais mais férteis que outros. reprodução Assistida ou fecundação In Vitru e Eugenia Na reprodução in vitro também utiliza-se o esperma e o óvulo do marido e da mulher caso não haja participação de terceiros19. Meilaender (2009, p.34) trata da questão instrumentalista do corpo, o que passa a ser bem interessante para efeitos didáticos: De certo modo, na inseminação artificial e, muito mais na fertilização in vitro, fazemos de nosso corpo um instrumento para a realização de nossos fins. Não damos simplesmente nosso corpo no ato do amor, nós o instrumentalizamos e o utilizamos para a produção de um filho. Em certo sentido, é claro, trata-se de um exercício de nossa liberdade em nada diferente de outros em que fizemos uso de objetivos. Evidencia- se assim o exercício do domínio dado pelo Criador à humanidade. Todavia, é preciso cautela quando o “objeto”usado é o corpo humano, lócus da presença pessoal. Ao instrumentalizar desse maneira o corpo, somos tentados a ver a nós mesmos unicamente como espírito livres dissociados do corpo. O “eu” verdadeiro torna-se a vontade livre e ilimitada que assume a direção até mesmo do corpo de que faz uso. Corremos aqui o risco de separar a pessoa do corpo, diminuindo-lhe a importância e transformando-o em uma “coisa”. O res nullius (coisa de ninguém) é um marco na história humana. Desde primórdios dos tempos sabe-se que o homem se dá às concupiscências da carne até mesmo como forma de adoração a outros deuses20. A instrumentalização do corpo humano torna em vão, bem como anula insofismavelmente o que aduz a Palavra de I Co 6, 19 “ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois vós mesmos?”. Vidal (1993, p.239) define bem o termo eugenia: Foi Francis Galton o criador, em 1883, da palavra “eugenia” (eugenics). Conforme indicam os dois elementos gregos que o compõe, o termo criado por Galton tem o significado de “boa origem”, “boa herança” ou “boa linhagem”. A eugenia tem vertente teórica e vertente prática, é ao 19 Pedimos no fim Para (Não) Finalizar que o aluno se envolva também com assunto terceiros na reprodução. 20 Em nosso material Ecumenismo você poderá encontrar maiores detalhes sobre o pacto de sangue misturado com orgia e assassinatos por entretenimento de cristãos que se faziam antigamente, na idade média e certamente ainda ocorre em muitas culturas e credos secretos ao redor do mundo hodiernamente. 54 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS mesmo tempo estudo e ação. Esta dupla função se concretiza nas ações sob controle social que podem melhorar as qualidades hereditárias das gerações humanas, tanto no aspecto físico quanto mental. Em outras palavras, trata-se de melhorar geneticamente as populações humanas. A eugenia se apresenta como ciência aplicada, cuja função específica é a de conservar, preservar e melhorar o patrimônio genético da humanidade. Existe tanto a eugenia negativa, quanto à positiva. Aquela subdivide-se em evitar a descendência defeituosa (na tentativa de evitar casamentos com risco genético) e eliminar a descendência defeituosa (o aborto propriamente dito ou matando o recém- nascido). Enquanto que esta, a positiva, procura o aumento proporcional de genes e genótipos desejáveis. Grosso modo, podemos pensar na eugenia positiva como algo bom, controlando os casais e indivíduos reprodutores, dando-se principalmente por meio de crivo genético e passando por conselhos genéticos. Tratando-se de Ética Cristã tal visão não favorece a visão divina do ser, obviamente não se dando mediante o retrocesso de pensamento para com o desenvolvimento da ciência, entretanto, aforma engessada de pensar de que todo casal deveria procurar avaliação genética para gerar filhos cai no absurdo estatístico, o que obviamente não ocorre quando há relação parental entre familiares. A intenção, como sempre, é incentivar o acréscimo e possível decréscimo que tal contexto nos trás para o mundo contemporâneo ideológico e geneticista. De maneira superlativa, podemos inferir que a manipulação de fato genética nos leva, em termos práticos, à terapia genética, engenharia genética e clonagem humana, assunto que será abordado adiante. 55 CAPítulo 2 questões Bioéticas na Bíblia Homossexualidade Grande, abrangente e gerador de acaloradas fontes de debates e polêmicas, muito provavelmente o assunto do ano de 2014, assim como passamos uma década atrás (baseado no ano de 2014) sobremaneira sobre o tema clonagem humana, sendo a mídia e respectivos programas televisivos as fontes de tais celeumas, segue, portanto, que hodiernamente os holofotes estão voltados aos contrários e favoráveis ao homossexualismo, termo controverso, preferível aos prós, homossexualidade. A definição para Vidal (1993, p. 266) da condição homossexual também é válida de enfoque: O termo “homossexualidade” foi introduzido por um médico húngaro no século XIX. Apesar da inicial conotação clínica, passou a significar a realidade humana total das pessoas cuja pulsão se orienta para indivíduos do mesmo sexo [...]. Com efeito, se na realidade da sexualidade se distinguem três níveis – “sexus”, “eros” e “filia” –, pode-se falar de: homogenitalidade” (assim como de “heterogenitalidade”), com referência aos aspectos biológicos do sexo; de “homoerotismo” (assim como de “heteroerotismo”), com relação aos aspectos emotivos; e de “homofilia” (assim como de “heterofilia”), para aludir aos aspectos relacionais. O termo que engloba adequadamente a realidade é o de homossexualidade. Tal definição do termo nos faz importante, uma vez que podemos ver casuisticamente em até mesmo em entrevistas, reportagens e conversas informais a geração de conflito no uso indevido da expressão. Tendo isso em mente, vejamos alguns argumentos favoráveis à homossexualidade: Vamos aos argumentos favoráveis à homossexualidade. Alega-se que (1) o pecado de Sodoma não era a prática de homossexualidade, mas que era o egoísmo21; (2) a lei levítica não mais se aplica22; (3) a esterilidade era uma maldição entre as mulheres judias23; (4) a homossexualidade estava conectada com a idolatria, destarte a desaprovação divina 21 Gn 19.5 e8; Sl.139.1; Ez 16.49. 22 Lv 18.22; At 10.15; Mc 7.19. 23 Gn 16.1; 1Sm 1.3-8; Gn 3.15; Sl.127.3. 56 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS não era para com ela, mas sim contra a adoração a outros deuses24; (5) as condenações paulinas são apenas opiniões pessoais25; (6) Paulo também condenou o uso do cabelo cumprido por homens26; (7) 1Coríntios 6.9 fala apenas contra ofensas praticadas; (8) a heterossexualidade não é natural para os homossexuais; (9) Isaías previu a existência de homossexuais no reino27; (10) Davi e Jônatas eram homossexuais28; (11) não deve existir nenhum tipo de constrangimento sexual entre adultos que consentem com a prática; (12) o direito à privacidade protege a homossexualidade; (13) os homossexuais também têm direitos civis; (14) tendências sexuais são herdadas; (15) os padrões morais têm mudado ao longo dos anos; (16) muitos outros mamíferos são homossexuais (GEISLER, 2010, pp.332-336). De certo são argumentos válidos e não divagados pelo professor Geisler, desta forma, consideramos que ainda sim existe teístas homossexuais, os quais possuem de fato todo o direito, uma vez que somos todos criaturas de Deus. Como apologista veterano em debates, haja vista os feitos defendendo a fé até mesmo com Richard Dawkins, Craig (2010.p.146) traz as seguintes premissas lógicas: 1. Temos obrigação de fazer a vontade de Deus. 2. A vontade de Deus está expressa na Bíblia. 3. A Bíblia condena a prática homossexual. 4. Logo, a prática homossexual é contrária à vontade de Deus, ou seja, é errada. Vemos que, dentro da lógica, para que a prática homossexual diante de Deus seja aceita, faz-se necessário negar (2), isto é, Deus não se revelou nas Sagradas Escrituras, portanto, não há critérios para atribuir verdade ou falsidade a nenhuma prática, não somente a homossexual, desta forma, a vontade de Deus se torna objetiva e retoma-se o ciclo relativista do bom e ruim, onde “o que é certo para você, não é certo para mim”. Não há padrão moral, tampouco valores morais objetivos, mas sim decorre o pensamento evolucionista que “tudo que corre para o bem da vida é bom e o atrapalha é ruim, e ponto”. Tabelamos as contra argumentações dos primeiros argumentos em favor da homossexualidade: 24 Dt. 23.17; 1Rs 14.24. 25 1 Co 7.12 e 25; 1 Co 6.9. 26 1Co 11.14. 27 Is.56.3-5. 28 1Sm 18 a 20, mas principalmente em 18.3 e 4, 20.41; 2Sm 1.26. 57 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II Quadro 12. resposta aos argumentos a favor da homossexualidade. 1 e 2 O pecado de Sodoma e Gomorra era a homossexualidade, pois a palavra conhecer tem conotação sexual e não somente de se ‘fazer conhecido’. Os pecados sexuais são uma forma de egoísmo (Ez.16.49 não exclui a homossexualidade). Sodomia sempre se refere às perversões sexuais29. A proibição contra a homossexualidade é moral, não apenas cerimonial. 3 A esterilidade não é a razão pela qual a homossexualidade não é aceitável30. 4 A prática homossexual não é aceitável na Bíblia independente da idolatria31. Os 10 mandamentos fazem divisão dos pecados de idolatria (primeira tábua) dos sexuais (segunda tábua). 5 O ensinamento paulino possui autoridade divina32. 6 A homossexualidade não é equivalente ao comprimento do cabelo. 7 A prática sexual homossexual é uma ofensa a Deus. 8 As práticas homossexuais são contrárias à natureza33. 9 Isaías refere-se aos eunucos34. 10 Davi e Jônatas não eram homossexuais, haja vista a atração de Davi por Bete-Seba e, seu amor por Jônatas não era sexual (eros), mas sim fraternal (philia). Eles de fato choraram, sem conotação alguma sexual35. 11 O consentimento adulto mútuo não torna o ato correto. 12 O direito à privacidade não dá direito à violação de princípios bíblicos. 13 Todos possuem direitos civis. 14 Não existem evidências unânimes da aceitação de herança genética ou alteração genética homossexual36. 15 A moralidade de Deus é imutável37, pois princípios bíblicos do novo e velho testamento existem mesmo após quatro mil anos. 16 O comportamento de animais não é normativo para seres humanos. fonte: baseado em geisler (2010, pp.336-343) Uma terceira alternativa a qual pode não ter sido comentado pelo filósofo e teólogo Dr. Norman Geisler refere-se ao argumento determinista, o sentido aqui é o caráter normativo do nascimento mecanicista automático, com ações predeterminadas e idênticas às que se observam no mundo dos animais. Destarte, o ser humano está regulamentado por “leis” prévias – biológicas, psicológicas e sociais – que discorrem rumo às ações determinadas independente de suas escolhas. Nenhuma escola psicológica tem dificuldade na aceitação da indeterminação da espécie humana, uma vez que sua plasticidade é muito maior e mais complexa do que a fauna em geral. Comportamentos aparentemente homossexuais dos animais não servem de contra argumentação em favor da homossexualidade, pois entraríamos em um modo reducionista das ações humanas, ausentando o homem de ser consciente de si mesmo, livre e autônomo. 29 Gn 4.1,17 e 25; 19.8; 24.16; 38.26; Ez 16.49-51; Jd 7 / Lv 18.6-14; cap.22 e 23. 1Rm 1.26,27; 1Co 6.9; 1Tm 1.10. 30 Lv 18.24; Mt 19.11,12; 1Co 7.8. 31 Lv 18.22; Rm 1.26,27; Os 3.1; 4.12; Rm 1.22-27. 32 Gl 1.11,12; Rm 1; 1Co 1; 2Co 12.12; 1Co 2.13; 1Co 14.37; Jo.16.13. 33 Rm 1; Gl 2.24. 34 Is 56.3-5; Mt 19.11,12 35 2Sm 11; 1Sm 18.4; 20.41. 36 Sl 51.5; Ef 2.3; Rm 1.26,27. 37 Ml 3.6; Hb.6.18. 58 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Um dos maiores filósofos e teólogos vivosdo mundo contemporâneo é o americano Ph. D. William Lane Craig, como bom apologista cristão, Craig ressalta que Deus jamais condenou tendências homossexuais, uma vez que a biologia genética tem procurado enaltecer o fato de que os genes provocam essas tendências, o que de fato é ressaltado pelos homossexuais a vida em cativeiro psicológico que muitos têm de viver por conta da não aceitação da sociedade em geral. O que é condenado, portanto na Bíblia, tão puro e simplesmente é o efeito da prática38 homossexual. Com grande cuidado, Craig (2010, p.154) traz alguns números importantes que fogem do velho argumento que homossexuais tiveram problemas de pedofilia e por isto assumiram a prática, mas sim na instabilidade sobremaneira de relação duradoura, portanto, na maior parte dos casos, promíscua: A média dos homens homossexuais tem mais de 20 parceiros num ano [...]. Associado a essa promiscuidade compulsiva, difunde-se, entre os homossexuais, o uso de drogas como um meio de intensificar suas experiências homossexuais. Em geral, os homossexuais representam um número três vezes maior do que a população que tem problemas com alcoolismo. Estudos mostram que 47% dos homossexuais masculinos têm em seu histórico de vida o uso excessivo de álcool, e 51% uso excessivo de drogas. Há uma correlação direta entre o número de parceiros e a quantidade de drogas consumidas [...]. Por exemplo, 40% dos homens homossexuais apresentam um histórico de depressão profunda. Esse número ainda se torna mais impressionante quando comparado com o dado de que apenas 3% dos homens em geral enfrentam o problema de depressão profunda. De modo semelhante, 37% das mulheres homossexuais apresem um histórico de depressão. Tal fato, por sua vez, resulta no aumento das taxas de suicídio. Os homossexuais são 3 vezes mais inclinados a praticar o suicídio do que a população em geral [...] 75% dos homens homossexuais são portadores de uma ou mais doenças sexualmente transmissíveis [...]. Também são bem comuns entre os homossexuais as infecções virais como a herpes e a hepatite B (que afligem 65% dos homens homossexuais), que são incuráveis, e como a hepatite A e as verrugas anais, que afligem 40% dos homens homossexuais [...] a expectativa de vida é de aproximadamente 45 anos [...], se incluir aqueles que morrem de AIDS, cuja estatística é de 30% dos homens homossexuais, a expectativa de vida cai para 39 anos. Em resumo, diferem-se diversos estudos em prol e contra a homossexualidade, portanto, conclui-se que (tendo claro que o argumento está baseado em um pensamento, concepção e cosmovisão cristã que contra argumenta alegações em favor da homossexualidade de 38 Veja Gn.2.24; Lv.18.22 e 20.13; 1Co 6.9-10; 1Tm 1.10; Rm.1.24-28. 59 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II acordo com a Bíblia) se ela caracteriza-se como uma tendência genética, é passível de cuidados e não se pode privar o direito de busca pela luta contra essa tendência (assim como nascemos com tendências ao alcoolismo), seja ela científica ou religiosa, bem como o indivíduo, quando contradito, não se obriga, tampouco é obrigado a aceitar. Se for simplesmente uma opção, ele pode escolher também não ser, tão simplesmente. O entrave está em achar que o indivíduo não escolhe e deve ser aceito desta maneira, enquanto o cristianismo afirma que Jesus pode o libertar, assim como o faria em qualquer outro caso, pois a libertação vem somente e tão somente por intermédio da aceitação e confissão do senhorio de Jesus Cristo e a busca contínua em conhecê-lo. Deste modo, o cuidado e zelo pela vida dos homossexuais não está em convencê-los, pois quem convence é o Espírito Santo (Jo.16.7-11), mas sim o ide e pregai o evangelho da ordenança de Cristo, bem como o bom cristão não deve ser esquecer que, como bem ressalta Craig (2010) “no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade” (Mt.10.15; 11.24). Pornografia É bem sabido que a grande oferta de conteúdo pornográfico dá-se a grande demanda necessária para essa produção. Os argumentos desfavoráveis, nesse sentido, não provêm somente dos cristãos, mas também de psicólogos e sociedade em geral. Vejamo-los em Geisler (2010, p.450-455) que (1) a pornografia estimula agressão e violência entre as pessoas; (2) cria um tipo de comportamento animal em seres humanos; (3) afeta o aspecto neuropsíquico em seres humanos; (3) cria vício e dependência semelhantes aos das drogas, no cérebro humano; (4) está relacionada com outros crimes (como pedofilia, assédio sexual, abuso sexual, estupro, abuso do conjugue, homicídio etc.); (5) produz famílias disfuncionais; (6) permite que a disfuncionalidade sexual seja a norma da sociedade; (7) a pornografia enquanto meio de satisfazer fantasias sexuais leva a comportamentos anormais; (8) inibe namoro e relacionamentos conjugais normais; (9) impõe restrições financeiras à sociedade, pois bilhões são gastos anualmente para manter esse “negócio” em forte expansão; (10) reduz o sexo a um ato meramente animal, portanto, ação reducionista do ponto de vista filosófico; (11) leva à degradação da atividade sexual. Por desonrar o casamento39 conforme a Bíblia40, a pornografia promove práticas pecaminosas na vida do cristão41, bem como de cultiva a lascívia e o adultério na alma42. 39 Rm 1.32; Gn 2.22-25; Hb 13.4; cap.17. 40 Hb 13.4; Gn 2.24; 1Co 7; 1Tm 4.3; Ef 5.3-6. 41 1Pe 5.8,9; 1.13;4.7; 1Co 6.18; 1Jo 2.15-17; Ef 6.10-20; Mt 4.1-11; 1Jo 1.6-10; Lc 22.3; 2Co 4.3,4; Gl. 5.19-21; Hb 11.25. 42 Mt 5.27-30; Mt 15.17-19; Tg 1.14; Rm 13.14. 60 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Corrompe o coração43 e a mente do servo de Deus, obscurecendo-os44 a modo tal que pode levar a um resfriamento espiritual sem precedentes. Autoerotismo A masturbação ou autoerotismo (dever-se-iam evitar os termos “onanismo” ou “vício solitário”) é variação psíquica que afeta todo o ser do sujeito. Não é exclusivamente problema “sexual”, tem significado mais amplo, que afeta a estrutura psíquica do ser humano. Dentro do significado antropológico global, o aspecto psicológico é o que mais se destaca. Examinada neste nível, a masturbação é realidade psíquica de grande complexidade. Não obstante, existe nela algo comum que a define como entidade psicológica. Enquanto o ser humano amadurece na abertura para os outros, a masturbação é ação que o enclausura em si mesmo. (VIDAL, 1993, p.269). Na visão secular frente a este contexto, afirma-se ser até mesmo saudável o ato de se masturbar, com pornografia ou não, diante do parceiro ou não, o que na verdade importa, é o sentimento de prazer e satisfação através da liberação principalmente dos hormônios endorfina (hormônio que tranquiliza), ocitocina (diminui dores em função das contrações musculares, reduz perda sanguínea entre outros) e serotonina (que possui como principal função a sensação de bem-estar). Se considerarmos a alegação evolucionista ateísta que “tudo que corre para o bem da vida é bom e o que for contrário a isto é ruim” pode-se dizer que não há mal nenhum mesmo no autoerotismo. Em uma cosmovisão cristã (Gn.38.9) este ato não agrada a Deus por diversos motivos, conforme listamos abaixo: » É uma “relação sexual” egoísta, pois somente o próprio agente sente prazer; » É uma “relação sexual” psicologicamente prejudicial, uma vez que as chances do parceiro (ou não, este pode ser solteiro) estar pensando em outra pessoa(as) é muito grande, o que Jesus aduziu como pecado em seu coração (Mt.5.28). » É uma “relação sexual” oculta e hostil. Muitas vezes (na maioria dos casos na realidade), o agente que pratica o autoerotismo tem vergonha 43 1 Co 5.6-8; Ef 4.22; Cl 3.5,9; Ef 4.23,24; Cl 3.10. 44 Mt 5.22,23; Mt 7.17-20; Tg 3.11,12; Gl 5.19-21; Ef 5.3-5. 61 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II e medo de que terceiros descubram, principalmente se estiver dentro de seu matrimônio; isto o aterroriza comprometendo profundamente sua confiança em si mesmo,porquanto na maior parte dos casos o agente deseja se libertar do hábito/vício e não consegue, se sentindo extremamente frustrado e desmotivado com a situação. » É uma “relação sexual” viciante. Não há um fim. Jamais aquele agente se satisfará por completo, pois não há possiblidade dele/dela desejar e imaginar todos os parceiros existentes no mundo! » É uma “relação sexual” potencialmente instigante. O agente por vezes desejará praticar o ato a qualquer momento e lugar em que seus olhos se depararem com situações estimulantes. Mesmo que o indivíduo não queira pensar, ele se vê preso e imerso àquele mundo de fantasias obscenas que jamais ocorrerão em um mundo real. Muitos cristãos acreditam que esta será a maior batalha espiritual da igreja. Os espíritos ali envolvidos são os mesmo de milênios atrás, e eles sabem como atuar para cativar de forma mórbida, principalmente adolescentes, os quais cultivam tais vícios e entram no matrimônio com tantos fatores espirituais adversos que vemos o que temos hoje, divórcios uns atrás dos outros como se não houvesse nenhum compromisso assumido e aliançado com Deus. Para os que possuem fé solidifica nas Sagradas Escrituras e anda conforme princípios éticos cristãos não há o que se preocupar quando solteiro referente à liberação dos hormônios acima mencionados. Toda tensão é liberada de maneira involuntária naturalmente pelo organismo quando acumuladas sobremaneira, por meio da polução noturna, podendo ocorrer também em mulheres, sem envolver, portanto, intenções lascivas e formadores de hábito, conforme Dt 23.10. Não conseguiremos tratar de maneira aprofundada tais contextos, mas para ambos os assuntos, pornografia e autoerotismo, indicamos que assista ao vídeo: Campanha contra o vicio da pornografia entre cristão Josh McDowell no link: <https:// www.youtube.com/watch?v=FJ96U-R68oU>. Não deixe também de pesquisar mais profundamente sobre polução noturna. Sexo Tudo é permitido desde que se pratique com o consenso de dois adultos. Esse é o lema que rege a sociedade secular, obviamente, não se restringido a somente duas pessoas. De fato, e não de modo inocente e idealista de concepção, tem-se que a prática do sexo 62 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS nos seus mais promíscuos e obscuros modos, não vem de hoje, contudo, nos últimos séculos houve uma revolução sexual quase retomando as práticas antigas de orgias a céu aberto e públicas. Fatores que deram origem a essa visão secular e relativista a respeito do sexo moderno e contemporâneo se deu por meio de alguns pensamentos, veja a seguir: Quadro 13. Surgimento da revolução sexual. PENSAMENTO SECULAR REPRESENTANTES E CONCEPÇÕES Niilismo Nietzsche (1844-1900): “Deus está morto e fomos nós que o matamos”. A verdade é que, quando matamos o Legislador moral, não resta fundamento para a lei moral. Emotivismo A.J. Ayer (1910-1989). Aqui as declarações éticas foram reduzidas ao nível do sentimento. Não há leis morais objetivas, pois não existem imperativos divinos. Existencialismo Jean-Paul Sartre (1905-1980). Sem ninguém para dar ordens, tudo se torna relativo. Situacionismo Joseph Fletcher (1905-1991). Aqui somente os fins justificam os meios, portanto, o prazer do orgasmo com terceiros é superior à moral matrimonial. Humanismo secular Manifesto Humanista Secular I (1933) e II (1973). Onde o universo é autoexistente e incriado, aqui também não há Legislador da moral. Darwinismo Charles Darwin (1809-1882). A liberdade sexual está acima da lei moral por extinto de sobrevivência do mais forte. Zen-budismo Aqui também existe o relativismo da moral, pois rege o argumento “aproveite a vida com moderação em todos os sentidos”. fonte: baseado em geisler (2010, pp.311-314) Se não existem absolutos morais, portanto, absolutamente qualquer coisa que se faça é válida. Não é o que está de acordo com princípios bíblicos e cristãos como é óbvio, entretanto usa-se a Bíblia até mesmo para provocar a alegação que práticas sexuais sem freios estão respaldadas sobre a alegação de liberdade do ser humano45. Geisler (2010, pp.314-331) ressalta a posição bíblica frente às questões sexuais que praticamente em todo Gêneses Deus condena atos sexuais ilícitos, bem como o é especificado como proibidos dentro da lei mosaica atos como o adultério46, incesto47, sexo no período menstrual48, homossexualismo49, bestialidade50 e fornicação51. A maior parte das doenças sexualmente transmissíveis incuráveis do mundo atual se dá pelo fato da bestialidade e sexo sem compromisso, e isso é ciência. Vidal (1993, p. 263) traz que a liceidade das relações sexuais pré-matrimoniais possui fatores que mais prejudicam do que contribuem para uma união estável dentro do matrimônio, considerando uma dádiva a relação pós-casamento. 45 Jo 8.36. 46 Ex 20.14; Lv 18.20; 20.10; Gn 20.9; Gn 39.9; Mt 5.27; Tg 2.11. 47 Lv 18.6-18. 48 Lv 18.19. 49 Lv 18.22; 28; Rm 2.12-15. 50 Ou união sexual com animais também era proibida, vide Lv 18.23; Ex 22.19; Lv 20.15,16; Dt 27.21. 51 Lv 19.29; Is 23.17; Ez 16.15,26,29; Lv 21.7; Dt 23.18. 63 CAPítulo 3 questões Éticas dos direitos Casamento e divórcio De acordo com Vidal (1993, p.297) o matrimônio equivale a afirmar que é um “estado” e com isto possui algumas instâncias éticas. De acordo com as Sagradas Escrituras é a única forma de conceber família no sentido de multiplicação e procriação, pois somente pela relação entre homem e mulher é que tem a continuidade da vida e, a família, por sua vez, é um bem patriarcal. Os matrimônios civil, cristão e meramente civil se divergem e convergem em alguns sentidos. Para princípios éticos cristãos o mesmo deve se dar de modo sociológico jurídico, uma vez que de acordo com a Bíblia o cristão deve cumprir o estatuto do Estado, bem como anunciar à sociedade sua união, isto é, uma aliança terrena; cumprir a subordinação à autoridade espiritual, concretizando sua aliança espiritual (Mt.18.18). Separando-se em última instância, dando-lhe [ao cristão] como motivação somente por meio da fornicação do parceiro (Mt.5.32). Sob o ponto de vista ético cristão a reformulação da dimensão institucional do casal e o equilíbrio entre “pessoa” e “instituição” na vida do casal conjugal são alternativas quando na instabilidade matrimonial (VIDAL, 1993, pp.329-330). De acordo com as Sagradas Escrituras, o divórcio não é permitido por qualquer motivo, tampouco é um projeto de Deus, pois não há fundamento52 para o divórcio, entretanto a infidelidade dá o direito à vítima desta infidelidade de divorciar-se53, uma vez que o próprio Deus “divorciou-se” de Israel54, contudo para Geisler (2010) “Jesus não disse o pecado do adultério era imperdoável55”, para o inocente (vítima), de acordo com Geisler (2010, p.368) ainda há uma justificação do segundo casamento, pois há uma má compreensão dos termos adultério e infidelidade, veja o comentário abaixo: A má compreensão da cláusula da exceção. No Evangelho de Mateus, Jesus é citado, por duas vezes, dizendo que o divórcio é errado “a não ser por causa de infidelidade [porneia]” (Mt 5.32; 19.9) [...]. Uma palavra grega diferente para designar o adultério é usada no Novo Testamento. 52 Mt 19.6; Rm 7.2. O voto diante do Senhor: Pv 2.17; Ml 7.2; Ec 5.5. Jesus acerca do divórcio (sem fundamentos): Mc 10.1-11; Lc 16.18; Mt 19.1-9; 5.32; Mt 1.18-25; Lc 16.18; Jo 4.16,18. Paulo acerca do divórcio (sem fundamento): 1Co 7.10-13; 1Tm 3.2. 53 At 15.20; Rm 1.29; Mt 5.32; Mc 10.1-9; Lc 16.18;1Co 7.10; 2.13; 7.12,40; 14.37; 1Co 7.15. 54 Jr 3.8; Is 50.1. 55 Jr 3.1,11,14.; 1Jo 1.9; Mt 5.32. 64 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Trata-se do termo grego moikeia. Se Mateus tivesse a intenção de se referir a adultério (prática sexual ilícita envolvendo uma pessoa casada), ele teria usado essa palavra, e não “infidelidade” (porneia). Mateus usa a palavra moikeia, quando descreve o adultério (Mt 5.27,28; 19.18). Outros autores do Novo Testamento fazem uso regular das palavrasmoikeiae moikeuδ para descrever o adultério (e.g., Mc 7.21; Lc 16.18; Jo 8.4; Rm 2.22; Tg 2.11; Ap 2.22). Em algumas passagens, as duas palavras “infidelidade” (porneia) e “adultério” (moikeia) são usadas de forma recorrente e distinta uma da outra. Por exemplo, Jesus disse: “Porque do coração é que saem [...] adultérios, imoralidade sexual” (Mt 15.19; ver também Mc 7.21; Gl 5.19). Para o autor, Jesus de fato não afirma que o inocente, de fato, comete adultério, tampouco em caso de falência do conjugue seguido do casamento do que ficou, este não é acometido de adultério. Cita ainda que a Confissão de Fé de Westminster vê uma espécie de morte da pessoa da parte ofensora, bem como o perdão mediante a confissão pode ser aceitado pelo ofendido56. A alegação de que em caso de divórcio, nenhum dos conjugues pode casar-se novamente está sob efeito das passagens Mc 10.11; Lc 16.18; Mt 19.9; contudo, para Geisler (2010, p.369) não há problema o segundo casamento (logicamente com o intuito de matrimônio para a vida toda) sob o ponto de vista de infidelidade, e ainda sim, embora o divórcio nunca seja justificável, é algumas vezes permissível e sempre perdoável. Pena de Morte Na obra Ética Cristã de Vidal (1989, pp.211-212), seu posicionamento faz-se claro frente a esse contexto: A pena de morte é inútil. As estatísticas demonstram que sua permanência ou supressão não influem na proporção de delitos cometidos. Aliás, a morte delinquente não serve para ninguém e não repara nada [...]. Ela é imoral. Isto quer dizer que ela desmoraliza, que dá mau exemplo [...]. Ela é desnecessária. Porque, para defender a sociedade, basta pôr o delinquente em reclusão e, ainda assim, somente durante o tempo indispensável para recuperá-lo, dando-lhe tratamento adequado [...]. Ela é pessimista. Não se crê que tenhamos hoje meios para ajudar um homem a regenerar-se completamente, a melhorar pelo menos, para o mínimo tentar fazer isto. Esta lei prefere solução taxativa, 56 1Jo 1.9; Jr 3.1,14. 65 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II que extirpe o mal com execução do delinquente, como se o mal pudesse hipostasiar-se [...]. Ela é injusta [...]. Ela é anticristã. Geisler (2010, p.237), contudo, vai mais a fundo e desmembra as terminologias dos pensamentos em favor e contra a pena de morte, que admite três abordagens frente ao tema; cita-se o (1) reconstrucionismo, que insiste na aplicação da pena de morte; (2) reabilitacionismo, que não permite a aplicação da pena de morte para nenhum crime e; (3) retribucionismo, que recomenda a pena de morte em alguns crimes (capitais). reabilitacionismo Como de costume, de maneira didática para facilitar a compreensão, pensamento e o devido e imprescindível posicionamento, observe com atenção na leitura o quadro abaixo: Quadro 14. reabilitacionismo. Argumentos favoráveis Argumentos bíblicos favoráveis e contrários Argumentos morais Contra argumentos morais O propósito da justiça é a reforma e não a punição. O princípio primário da justiça não é reabilitação57 A pena de morte é aplicada de forma injusta. A desigualdade na justiça não nega a necessidade de justiça. A pena de morte foi abolida junto com Lei de Moisés.58 A pena de morte existia antes da lei mosaica.59 A pena de morte não funciona como meio de intimidação de crimes. A pena de morte funciona como meio de intimidação de crimes. O padrão da pena de morte ensinado por Moisés não é praticado nos dias de hoje. As leis de Moisés não são efetivas nos dias de hoje.60 A pena de morte é anti-humanitária. A pena de morte reafirma a dignidade humana. Jesus aboliu a pena de morte para o adultério.61 A resposta de Jesus dada à mulher adúltera não revogou a pena de morte.62 Criminosos deve ser curados, não mortos. Criminosos devem ser tratados como pessoas, e não como pacientes. Caim não foi punido com a pena de morte.63 A pena de Caim implica a pena de morte.64 A pena de morte manda os incrédulos para o inferno.65 A pena de morte não condena as pessoas ao inferno.66 Davi não recebeu a pena de morte.67 Há razões específicas por que Davi não foi punido com a pena de morte.68 O amor ensinado no Novo Testamento rejeita a pena de morte.69 Amor e pena de morte não são contrários.70 A cruz representou a pena de morte para todas as pessoas.71 A cruz não aboliu a pena de morte.72 fonte: baseado em geisler (2010, pp.237-244). 57 Êx 20.5; Ez 18.4,20; Gn 9.6; Êx 21.12; 1Pe 3.18; Rm 6.23. 58 Ez 18.23 59 Mt 5.17; Rm 10.4; Gn 9.6; Êx. 20; Hb 7.8; Rm 2.2-14; Rm 13.4; At 25.11; Jo 19.10-11. 60 Pesquise mais sobre “crimes capitais” e “não capitais”; ofensas religiosas e deveres cerimoniais do Velho Testamento. 61 Lv 20.10; Jo 8.11; 1Co. 5 62 Jo 8; Nm 35.30; Jo 8.10-11; Jo 8.10,11. 63 Gn 4; 4.15. 64 Gn 4.14,15; Gn 4; Dt 32.39; Jó 1.21. 65 Mt 25.41-46; 2Ts 1.7-9; Ap 20.11-15. 66 Jo 3.36. 67 Sl 51; 32; 2 Sm 18,19. 68 Dt 17.6; 2Sm cap.12 e 16. 69 Jo 15.13. 70 Jo 3.16; Jo 15.13; Lv 17.11; 2Co 5.21; 1Pe 3.18. Sem falar de Abraão e Isaque que não se concretizou por propósitos celestiais. 71 Rm 6.23; 5.12-18. Veja ainda Gn 1.27; Dt 32.39. 72 Rm 13.2; At 25.11; Rm 5.12. 66 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Foram apresentados os principais argumentos expostos pelo professor Geisler em a Ética Cristã. Deste modo, a importância de acompanhar os textos bíblicos para não se tornar indiferente junto aos pensamentos apresentados. A adoção do reabilitacionismo como a fiel atitude cristã está firmemente baseada em que Jesus quando na Terra em momento nenhum aprovou ou deu qualquer indício de que corroborava com o assassinato de outrem, tampouco mandou fazer, muito menos com as próprias mãos, como Moisés o fez. Vejamos mais uma weltanschauung a seguir. reconstrucionismo Muitos se deixam enganar sobre a abolição das leis mosaicas, contudo Jesus veio mostrar que não veio para revogá-la, mas para cumpri-la (Mt 5.17). A única diferença é que Jesus por ser judeu a tinha que cumprir, e não os gentios da nova aliança, definição de graça e lei tão bem explanada por Paulo em sua carta aos Romanos. A lei, deste modo, ainda vale para os da velha aliança, portanto, os judeus, o que os gentios não cumprem e simplesmente são impedidos de cumprir por serem estrangeiros (vide Êx 12.40-51). Veja a seguir, as mortes necessárias de acordo com seu crime: Quadro 15. reconstrucionismo. CRIMES GRAVES REFERÊNCIAS BÍBLICAS 1 Assassinato Êx 21.12 2 Atitude arrogante para com um juiz Dt 17.12 3 Indução de um aborto fatal Êx 21.22-25 4 Falso testemunho em um crime passível de pena de morte Dt 19.16-19 5 Negligência do dono de um boi agressivo, que resulta na morte de uma pessoa Êx 21.29 6 Idolatria Êx 22.20 7 Blasfêmia Lv 24.15-16 8 Feitiçaria ou magia Êx 22.18 9 Falsa profecia Dt 18.20 10 Apostasia Lv 20.2 11 Quebra do sábado Êx 31.14 12 Homossexualismo Lv 18.22,29 13 Bestialidade Lv 20.15-16 14 Adultério Lv 20.10 15 Estupro Dt 22.25 16 Incesto Lv 20.11 17 Amaldiçoar os pais Êx 21.17; Lv 20.9 18 Rebeldia dos filhos Dt 21.18-21; Êx 21.15 19 Sequestro Êx 21.16 67 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II 20 Embriaguez do sacerdote Lv 10.8-9 21 Tocar em coisas sagradas do templo sem ser um indivíduo consagrado Nm 4.15 22 Agressão aos pais Êx 21.15 23 Ter relações sexuais durante o período menstrual Lv 18.19,29 fonte: geisler (2010, p.245). O reconstrucionismo, por sua vez, possui sua perspectiva favorável e contrária, como praticamente qualquer cosmovisão e posição; deste modo ainda se discute a aplicação da lei de Moisés, as 613 Mitzvot, uma vez que, se justificado pela lei (Torah) será condenado por ela (Rm 3.20), ainda sim, se tropeçar em um só ponto dela, é culpado por toda ela (Tg 2.10). O cuidado aqui, portanto, é saber se ainda a necessidade faz-se necessária ou não. O professor filósofo e teólogo Geisler (2010, pp.246-255) continua a nos trazer os diferentes argumentos, iniciando pelos favoráveis ao reconstrucionismo, o qual alega que (1) a lei de Deusreflete seu caráter imutável73; (2) os Dez Mandamentos são repetidos no Novo Testamento74; (3) o Antigo Testamento era a Bíblia da igreja primitiva75; (4) Jesus disse que não veio para abolir a lei76; (5) A pena de morte é repetida no Novo Testamento77; (6) a lei mosaica foi aplicada aos gentios. Como segue, ainda na mesma referência, os contra argumentos iniciam-se em afirmar que (1) a lei de Deus não torna obrigatória toda a Lei de Moisés78; (2) nem todos os Dez Mandamentos são repetidos no Novo Testamento79; (3) o Antigo Testamento pode ser usado pela igreja, mas não foi escrito para ela80; (4) Jesus aboliu as leis do Antigo Testamento81; (5) nem todas as aplicações de pena de morte do Antigo Testamento são repetidas no Novo Testamento82. E continua com críticas mais acentuadas como (1) a separação entre categorias cerimoniais e morais é problemática83; (2) os apóstolos deixaram de lado a lei84; (3) Tiago afirmou a unidade da lei85; (4) Paulo disse que os cristãos não estão sob a lei86; (5) os Dez Mandamentos foram dissipados87; (6) Cristo é o fim da lei88, pois a lei devia existir até Cristo chegar89; (7) a lei mosaica foi dada somente ao povo de Israel90; nós não podemos remover a lei sem remover suas maldições91. 73 Lv 11.44; Ez 18.5,6. 74 Rm 13.9; Ef 6.2-3. 75 2Tm 3.15, 16; 1.5. 76 Mt 5.17-18. 77 Rm 13.4; Jo 19.10,11; At 25.11. 78 1Co 5.7; Mc 7.19; At 10.15; Rm 1.32; 6.23;. 79 At 20.7; 1Co 16.2; Rm 14.5; Cl 2.16; 1Co 5.5. 80 At 2.42; Ef 2.20; 2Co 12.12; Hb 2.3-4. 81 Mt 5.17-18; Rm 10.2-3; 2Co 3.7, 11,12, 25; 8.3; Jr 31.31; Rm 6.15; 2.14. 82 Jo 19.11; At 25.11; Rm 13.4; 1Co 5.5; 2Co 2.6; Rm 2.12-15. 83 Mc 7.19; At 10.15; 1Tm 4.3-4; Lv 11.27; At 15.29; Gn 9.4; Lv 11.45. 84 Gn 9.4; At 15.28. 85 Tg 2.10. 86 Rm 6.14; Jo 1.17. 87 2Co 3.7,11; Hb 7.12; Ef 2.15; Rm 8.1. 88 Rm 10.4; Mt 3.15; Rm 8.3-4; Mt 5.17-18. 89 Gl 3.24-25. 90 Hb 7.11, 12, 18; 8.9,10-13; Sl 147.19-20; Lv 20.1-2; Rm 2.15, Êx 12.48. 91 Gl 3.10, 13, 21; Dt 27. 68 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Coloque seus pensamentos em ordem com a aplicação das leituras das referências de rodapé das argumentações e contra argumentações acima expostas. De fato é cansativo buscar ler todas e promovem no mínimo um desafio para acompanhar seu raciocínio, no entanto, é justamente deste modo – sectário – instigando seu pensamento e posicionamento é que este material tem por objetivo. Portanto, não deixe de lê-los, bem como buscar referências das mais atuais possíveis para que, sua pesquise enriqueça e se torne produtiva, focando, dentro do contexto reconstrucionismo, a lei (para os judeus?) e a graça (para os gentios?). retribucionismo Aqui, como na introdução sobre pena de morte foi falado, tem-se que alguns crimes de fato são passíveis de punição e transcorrem por meio de, somente, os crimes capitais. O criminoso aqui é um pecador, e não uma pessoa doente, na exposição de Geisler (2010), ainda sim, ele nos traz, por fim, as posições frente a esta weltanschauung: Quadro 16. retribucionismo. RETRIBUCIONISMO PRÓ CONTRA Argumento Referência Argumento Referência A necessidade da pena de morte está implícita na natureza humana. Gn 1.27; Dt 32.39; Gn 9.6. A pena de morte não diminui a incidência de crimes. Dt 17.13; Ec 8.11. Caim merecia e esperava receber a pena de morte. Gn 4.10; Gn 4.14,15. A pena de morte não é bíblica, pela menos os dias de hoje. Gn 9.6; Jo 19.10,11; At 25.11; Rm 13.4. A pena de morte foi incorporada à lei mosaica. Êx 21; Gn 4; Gn 9.6; Êx 19; Sl 147.19,20; Êx 31.14. A pena de morte é contrária ao conceito de perdão. Rm 1.32; 6.23; Gn 4. Deus deu o poder de aplicar a pena de morte ao governo humano. Gn 4.14; Gn 9.6. A pena de morte é rearfirmada no Novo Testamento. Dt 4.8; Sl 147.19,20; Gn 9.6,11; Cap. 9 e 10; Rm 13.4; At 25.11; Jo 19.11. OUTROS ARGUMENTOS (1) A pena de morte baseia-se em uma compreensão elevada de humanidade; (2) a pena de morte trata o criminoso com respeito; (3) a pena de morte funciona com base em uma visão correta de justiça; (4) a pena de morte diminui a prática de crimes; (5) a pena de morte protege vidas inocentes. (1) O criminoso não deve morrer, mas curar-se; (2) A pena de morte é uma forma de punição cruel e incomum; (3) a pena de morte é aplicada de modo injusto; (4) alguns assassinos não são responsáveis do ponto de vista racional; (5) a pena de morte ignora os que são insanos. fonte: baseado em geisler (2010, pp.256-260). Paulo afirma que não conheceríamos pecado se não o fosse a lei (Rm 7.7), de modo que afirma no versículo seguinte que a concupiscência não seria errada se não fosse o mandamento “não cobiçarás” (Êx 20.17). Não se pode, contudo, deixar de lado 69 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II a morte espiritual92 do homem. Nenhum homem pode ser privado dos direitos de conhecimento de Cristo para sua reconciliação com Ele, como também não pode ser obrigado a aceitá-la (e este é mais argumento em favor do retribucionismo, que alega que a pena de morte chega a tratar com respeito àquele que não deseja tratamento, mas a morte). desobediência Civil As observações contidas neste contexto, facilmente podem ser analogamente aplicadas para temas como guerra civil, fria, anarquista; posição do cristão frente à política e assuntos governamentais, bem como quaisquer contextos que exigem pensamento e posicionamento do cristão para com assuntos complexos político-sociais, muito embora, claramente, não esgotando-os de nenhuma forma. Geisler (2010, p.291-294), referência bastante utilizada não só por este material, mas referência mundial em contextos filosóficos cristãos; dá-nos alguns bons argumentos em favor desobediência civis em alguns casos específicos como a que (1) Deus ordenou o governo, e não a maldade praticada pelo governo93; (2) a obediência ao governo não é irrestrita94; (3) não precisamos obedecer às maldades do governo95. Contudo ressalta que a monarquia é melhor que a anarquia, uma vez que os governos são instituídos pelo próprio Deus e nesta lei inviolável de submissão é que garantem que os planos dEle sejam executados96. Portanto, ainda segundo o autor, as revoluções são sempre injustas, pois (1) Deus deu a espada ao governo para governar97; (2) Deus exorta contra a aliança com revolucionários98; (3) de forma constante, as revoluções são condenadas por Deus99; Moisés foi julgado por seu ato violento no Egito100; (4) Israel não lutou contra Faraó, mas fugiu dele101; (5) Jesus exortou contra o uso da espada102; (6) Jesus falou contra a retaliação103. Tem-se claro desta maneira que, qualquer posição do governo contrária aos estatutos imutáveis divinos, de acordo e em função dos valores morais objetivos contidos na Bíblia – dentro de uma cosmovisão cristã – que provoquem atitudes imorais do cristão, este tem aprovação divina de se contrapor a tal imposição governamental. 92 Mortos para o pecado, vivos em Cristo: Rm 6.; Jo 3.1-21 93 Rm 13.4; Ob; Jn 1; Na 2; Is 10.1. 94 At 4.19; Ap 13; Êx 1; Dn 3 e 6. 95 Êx 1; Dn 3. 96 Rm 13.1-7; 1Pe 2.13. 97 Rm 13.4; Gn 9.6. 98 Pv 24.21. 99 Nm 16; 2Sm cap. 15 e 18; 1Rs 12; 1Rs 11; Js 10; 2Cr 23.14, 21. 100 Êx 2.12; Êx 12. 101 Êx 12; Dn 4.17. 102 Mt 26.51, 52; Êx 22.2. 103 Mt 5.38,39; Rm 12.19. 70 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Veja tabela a seguir: Quadro 17. duas visões sobre o momento em que se deve desobedecer ao governo. Posição contrária à promulgação Posição contrária à compulsão Quando se permite o mal Quando se ordena o mal. Quando se promulgam leis perversas Quando se obriga a prática de ações perversas. Quando se limita a liberdade Quando se nega a liberdade. Quando se faz uma política opressiva Quando se faz uma religião opressiva. fonte: geisler (2010, p.296). Ao longo dos séculos se tem na comunidade cristã a confrontação frontal às leis e estatutos perversos governamentais que se opuseram a princípios bíblicos, como tirania homicida, opressiva religiosa, retirada da Bíblia das mãos dos cristãos,obrigações imorais terríveis, torturas e demais ocorrências conhecidas e não conhecidas pela história; não oferecendo, portanto, escolha ao cristão ao não ser simplesmente se opor ao sistema imperialista ou imperialista adaptado. drogas e Jogos de Azar Tais temas estão intersubjetivamente ligados, uma vez que ambos são viciantes e nocivos (veja os números abaixo) para processos cógnitos humanos. Muitos ainda praticam, uma vez que o liberalismo extremo (libertinagem) e a indisciplina não foram sanados, veja em Fundamentação da Ética Cristã, o que Azpitarte comenta: Em estágios posteriores e mais conscientes, o sentimento de culpa se alimenta do próprio narcisismo. A culpa é fato que destrói o eu ideal, com o Qual o indivíduo se identifica. Para esse eu ele encaminhou uma multidão de esforços, com a ilusão de conseguir um dia sua plena realização. O desajuste entre esse ideal e a sua execução prática cria os sentimentos de condenação, de rejeição, de degradação. É insatisfação de fundo por causa da incapacidade de obter a meta sonhada, na qual estavam depositadas tantas esperanças pessoais e expectativas dos outros. É inconformismo egocêntrico, fomentado pela urgência da autossatisfação. O insucesso é doloroso, não porque esteja em jogo o bem dos outros, mas por se ter desfeito de novo a imagem narcisista, o que humilha e abate. É também inconformismo estéril e infecundo, porque toda a energia foi posta a serviço de “perfeição” que, até na hipótese de ser atingida, não teria sentido humano nem evangélico, uma vez que não nasce do altruísmo e da doação. (AZPITARTE, 1995, p.323). 71 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II Temos em Geisler (2010, pp.442-445) os argumentos prós e contra as jogatinas, que os favoráveis alegam que (1) lançar sortes era prática na Bíblia104; (2) os soldados apostaram pela vestes de Jesus e (3) a palavra “aposta” sequer aparece na Bíblia. Em contrapartida, os desfavoráveis argumentam que (1) a aposta é uma forma de cobiça ou ganância105; (2) a aposta é uma forma de roubo; (3) a aposta é uma forma de idolatria; (4) a aposta é uma forma de opressão ao pobre106; (5) a aposta é uma falta de fé na provisão de Deus107; (6) a aposta é má mordomia dos recursos dados por Deus108; (7) a aposta despreza a maneira designada por Deus o ganha-pão109; (8) a aposta destrói a dignidade humana; (9) a aposta tem influência corrosiva sobre a sociedade. Destarte vemos nos jogos de azar pecados que sem essas observações poderiam passar de largo do pensamento. Ainda sim, existem diversos aspectos análogos à utilização de entorpecentes, os quais a Bíblia condena e traz suas consequências: Quadro 18. Os resultados do uso de entorpecentes na bíblia. 1 Desaceleram o processo de pensamento Pv 3.4,5 2 Deixam atordoada e cambaleante a pessoa Jó 12.25 3 Associam-se ao egocentrismo Hc 2.5 4 Causam enjoo e mal-estar Jr 25.27 5 Provocam esquecimento Pv 31.6,7 6 Produzem sonhos e visões delirantes Pv 23.33 7 Resultam em sonolência Gn 9.20-25 8 Geram complacência e preguiça Sf 1.12 9 Entorpecem os sentidos Pv 23.31-35 10 Conduzem à pobreza Pv 21.17 11 Levam à fraqueza Jr 23.9 12 Resultam em tristeza e depressão Is 16.9,10 13 Causam angústia Pv 23.29,30 14 Produzem amnésia temporária Gn 19.33-35 15 Conduzem à imoralidade Jl 3.3 16 Estimulam a perversão sexual Hc 2.15 17 Resultam em culpa Is 24.20 18 Causam ferimentos Pv 23.55 19 Podem resultar em insanidade Jr 51.7 20 Tornam a pessoa vulnerável a seus inimigos 2Sm 13.28 fonte: baseado em geisler (2010, p.426) 104 Js 14.2; At 1.26; Pv 16.33. 105 Êx 20.17; 1Tm 6.10. 106 Is 3.13-15; 4.1. 107 Mt 6.24. 108 Sl 24.1; 2Co 4.2; Mt 25.21; 1Co 6.19,20. 109 Gn 3.19; 2Ts 3.10. 72 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS A utilização das drogas ilícitas já é comum saber seus malefícios diversos, problemas psíquicos e químicos os quais não entraremos em pormenores científicos, contudo, o “beber socialmente” nunca esteve tão em alta, resultando em boa parte dos casos em vício. A maior incidência de morte no trânsito, de avião no ato de suicídio entre outros males, está associada ao consumo de álcool. Sem contar bilhões que são gastos com recursos para resgate, serviços médicos, mortes prematuras, doenças relacionados ao seu consumo, tratamentos diversos, acidentes, incêndios, crimes entre outros. Beber ou não beber? Observamos com sobriedade essa questão. Qual é a reposta? Simplesmente diga “não!” Por quê? A ingestão de bebidas alcoólicas é antibíblica, viciante, prejudicial à saúde, dispendiosa, não exemplar, não edificante e desnecessária. Evidentemente, a abstinência total é a política mais segura em relação ao álcool e a outras drogas que causam dependência [...] Mark Twain afirmou em relação à aposta e à jogatina que o melhor modo de jogar dados é jogá-los para bem longe (GEISLER, 2010, p.440) Meio Ambiente Ecológico A degradação ambiental desmoraliza o chamado estado de direito [...]. Entre as bases da sustentabilidade do subdesenvolvimento, grassam um baixo nível de conhecimento e gritante insensibilidade social na maioria dos legisladores [...], tais fatos não livram o Poder Legislativo e Judiciário do danoso regime do clientelismo que gera, além de leis injustas, leis inconstitucionais. Noutras palavras, leis ilegais (PROCÓPIO, 2008, p.23). Exploração dos recursos naturais até seu total esgotamento, danos irreversíveis à natureza e respectivamente ameaça à própria existência e sobrevivência humana na Terra, desmatamento caótico e desenfreado, utilização fatídica dos recursos hídricos e bens de consumo mal providos, superpopulação e as revoluções industriais, “exploração racional” da terra, dos recursos naturais renováveis e não renováveis; contaminação do solo, lençol freático e todo meio ambiente aquático. Com efeito, o aspecto e impacto ambiental negativo é denominado degradação do meio ambiente. Segundo Milaré (2011, p.141), a expressão “meio ambiente” (milieuambient) poderia ter sido utilizada em sua primeira vez pelo naturalista francês Geoffroy de Saint-Hilaire na obra Études Progressives d´unnaturaliste, em 1835, tendo sido adotada por Augusto Comte em seu curso de filosofia positiva. 73 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II Nessa perspectiva ampla, o meio ambiente seria a “interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas” (MILARE, 2011, p.143). São estes alguns dos exemplos de um contexto ôntico de crise ambiental que ocorre hodiernamente no planeta (se considerado os milhões de anos dado pela ciência evolucionista). O filósofo alemão Martin Heidegger [1889-1976] traduz de maneira assertiva o valor subjetivo do homem frente ao desenvolvimento tecnológico no enunciado “esvaziamento do ser” (HEIDEGGER, 1999, p.182). A humanidade, em larga escala, ainda dentro desta cosmovisão antropocêntrica, considera sagazmente o meio ambiente, seu habitat natural e tudo o que nele naturalmente há como res nullius (coisas de ninguém) antagonizando qualquer noção sadia de sociedade, economia e direito do ambiente ao não adotar o conceito de res communes omnium (coisas comum a todos), terminologias utilizadas por Milaré (2011, pp.249-306), deste modo deflagra-se um consenso entre todos e alastra-se como uma chama nas mentes dantes preocupadas com seu oikos (casa), independentemente se outrem possui a mesma dedicação ou não. O teólogo alemão Jürgen Moltmann em sua obra “Deus na Criação” traz consigo uma abordagem interessante sobre o homem e sua relação com a crise ambiental: É certo que com o conceito “crise ecológica” a questão também é caracterizada de forma muito fraca e inexata, pois trata-se na verdade de uma crise de todo o sistema de vida do mundo industrializado moderno, dentro da qual as próprias pessoas se colocaram a si e ao seu meio-ambiente natural e dentro da qual continuam imergindo cada vez mais (MOLTMANN, 1992, p.46).Ainda na ideia de Moltmann (1992, p.47), em um pensamento genérico, o autor discorre sobre se, uma determinada sociedade não consegue mudar fundamentalmente seu sistema de valores, não podem modificar-se e não podem pôr fim à destruição que provocam, no entanto, a própria destruição natural do meio age de forma destruidora sobre elas próprias, provocando crises de sentidos e perda de valores. Neste mesmo sentido, o filósofo e teólogo contemporâneo William Lane Craig, em sua metafisica, critica veementemente a noção da não aceitação de Deus na criação como um todo, sendo que a vida humana de fato, corroborando com Moltmann, sem Deus, em Craig (2012, p.71) não possui Valor, Sentido e Propósito, especificamente (como já estudados e aplicados ao longo de todo nosso material). 74 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Não aprofundando-se na celeuma dualista radical de Descartes sobre corpo-mente, mas usando-a como suporte, com efeito, segue-se que se em Heidegger o res cogitans fundir-se factualmente com a percepção do res communes omnium ter-se-á um meio ambiente ecologicamente mais equilibrado, pois a mente e processos cognitivos atuaram sobre a ética e moral ambiental, entretanto, se ainda res extensa atuar sem parada, dentro do conceito metafisico de corpo material inferior à mentalidade espiritual, a concepção de res nullius ganhará força tal que, somente através de uma calamidade pública da matéria em si, passível de instaurar centenas de milhares de mortes, é que se dará efetivamente um plano de ação imediato. A ética ambiental também não poderá sobremaneira ser esquecida, uma vez que rege por vezes ações humanas contra o meio ambiente, porquanto a ética é tida neste caso como a ideia de ethos do grego, o habitar humano e seu respectivo descuro com o meio ambiente, haja vista seu desiderato e ingente sentimento peremptório da satisfação pessoal sem precedentes na história. No livro Introdución a la Economía Ecológica de Michael Common, há um interessante comentário: La ética, o filosofía moral, esel estúdio de losprincipios que debenregirlaconducta humana [...]. Segúnlasteoríasdeontolotógicas, lacorreción moral es una cuestón de cumplir com obligaciones, uma cuestón de deber. Segúnlasteoríasconsecuencialistas, lacorreción moral se debejuzgar em términos de lasconsecuencias que derivan de una acción determinada. (COMMON, 2008, p.7). O termo desenvolvimento sustentável dado pela ciência ambiental está perdendo espaço para tão somente sustentabilidade, incorrendo na pergunta, sustentar o quê? Pense sobre isso! O que de fato a espécie humana quer sustentar? Uma árvore ou um carro? Um peixe ou um litro de petróleo no mar? Sustentar a família atual ou também as gerações futuras? Não deixe de fazer sua pesquisa sempre necessária frente a este contexto. Para Heidegger (1993, p.224) este mesmo ser [humano] que fala pouco, que não dá vazão aos instintos de defesa ambiental, mesmo falando pouco, deve falar: “e, como o mudo, aquele que, por natureza, fala pouco, também ainda não mostra que silencia e pode silenciar. Quem nunca diz nada também não pode silenciar num dado momento”. Em economia verde esta ideia surge como uma verdade inerente ao plano do homem como consumidor capitalista, uma vez que pesquisas do setor aferem números específicos, veja o que nos traz Makower (2009, 33 e 36): Pesquisas de 2008 apontam que 64% dos consumidores em todo o mundo dizem estar dispostos a pagar um preço mais alto – em média 75 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II 11% a mais – por produtos e serviços que produzem menores emissões dos gases de efeito estufa, de acordo com um estudo da Accenture. Entretanto, dos 63% que se dizem “muito preocupados” com os efeitos da mudança climática ou aquecimento global, dois terços não sabem como a maior parte da eletricidade é produzida, de acordo com outro estudo do SheltonGroup Energy Pulse, e ainda, menos de 4% conseguiram apontar corretamente a produção de eletricidade pela queima de carvão como a maior responsável pela alteração climática. 37% dos consumidores sentem-se “altamente preocupados” com o ambiente, mas apenas um em cada quatro se acha amplamente consciente de tais problemas [...]. Somente 22% acham que podem fazer diferença quando se trata do ambiente. Por fim, numa ótica cristã, Geisler (2010, p.395) diz que há três visões principais com respeito ao meio ambiente: 1. Materialista: vê o meio ambiente como uma fonte ilimitada de energia. Ao longo dos tempos, essa fonte tem produzido seres humanos, que se encontram no comando do mundo ao seu redor, pela virtude do seu estado evolucionário mais elevado. Mediante o uso da tecnologia, os seres humanos podem modificar seu meio ambiente a fim de satisfazer suas próprias necessidades. 2. Panteístas: acreditam que a natureza é divina. Por esse motivo, nós temos a obrigação de reverenciar o mundo natural e de protegê-lo contra as intrusões da tecnologia. 3. Cristianismo: não acredita nem na exploração tecnológica e nem na aforação mística. O cristianismo sustenta que Deus é o criador e que a humanidade é a guardiã deste mundo magnificente e glorioso. É de nosso dever manter a não corromper, preservar e não poluir. A natureza não é Deus, mas a natureza é o jardim de Deus (Sl.24.1). A natureza não deve ser venerada; em vez disso, os humanos devem cuidar dela. direitos dos Animais As visões acima podem ser aplicadas também aos direitos dos animais, exortado pelas Sagradas Escrituras que o “justo cuida de seus animais” (Pv 12.10). A tabela baseada em informações contidas em A Ética Cristã: opções e questões contemporâneas do filósofo e teólogo Norman Geisler, nos traz argumentações importantes: 76 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS Quadro 19 - direitos dos animais. ARGUMENTOS MATERIALISTA PANTEÍSTA TEÍSTA NEO- ORTODOXAS TEÍSTA CRISTÃ EVANGÉLICA Diferença em grau pode, por fim, tornar-se diferença em natureza. A natureza é um organismo vivo (animismo) Os homens e os animais recebem a mesma benção110. A humanidade foi criada à imagem de Deus111. Muitos cientistas acreditam que diferenças aparentes em natureza entre as espécies são sempre redutíveis a diferenças em grau. As espécies viventes são manifestações de Deus Toda a criação possui valor intrínseco112. A humanidade foi criada com uma alma vivente113. Tanto seres humanos quanto animais podem resolver problemas. Os seres humanos são um com a natureza. Todos os seres humanos possuem glória e partilham da glória divina. Os seres humanos possuem características singulares114. Os animais associam-se socialmente da mesma forma que os seres humanos. O próprio cristianismo já foi panteísta. A intenção divina original para a criação consistia em ordem e harmonia. Os seres humanos ocupam lugar único na criação115. Insanidade neurótica pode ser vista em seres humanos e animais. Adão não utilizou nem utilizaria as criaturas do mesmo modo como o fazem as pessoas hoje em dia. A ordem divina para a criação é disposta hierarquicamente116. Os humanos diferem dos animais somente em grau, pois não existe algo como uma alma racional. Cristo redimiu toda a criação117. Não se proíbem a domesticação e o uso agrícola dos animais118. CONTRA ARGUMENTOS AO MATERIALISMO: (1) Diferença em grau não se torna diferença em natureza; (2) as diferenças entre homens e animais não são meramente superficiais; (3) a racionalidade especial de humanos (raciocínio discursivo) não se desenvolveu de modo evolucionário; (4) animais são se associam em grupos sociais da mesma maneira que humanos; (5) insanidade neurótica em humanos e animais não provam semelhança racional; (6) evidências de uma alma racional mostram diferença em natureza entre humanos e animais. AO PANTEÍSMO: As espécies viventes não são manifestações de Deus119; (2) os humanos não são um com a natureza120; (3) o cristianismo acreditou na ressurreição e não reencarnação e de fato, é teocêntrica.A Bíblia fala de paz e ordem mútua entre Deus, seres humanos e animais121. Não se proíbe comer animais122. Em suas parábolas, Cristo falou do valor dos animais. Deus requer o fim do sacrifício de animais123. Ordenou-se, originalmente, que os homens fossem vegetarianos124. fonte: baseado em geisler (2010, p.398-418) Portanto, não deixe de conferir os referenciais bíblicos para se posicionar frente a um tema que torna-se, dependendo da época, mais ou menos intenso. 110 Gn 1.11,26-28; Ec 3.19; 1Co 11.7; Tg 3.9; Ef 1.18; 4.18; Rm 2.15; Gn 41.9; Jó 32.8,9 – Contra argumento bíblico: Mt 6.26; 10.31; 12.12; Jó 35.11; Gn 2.19,20. 111 Gn 1.26,27; Gn 9.6; Rm 8.29; Cl 3.10; Tg 3.9. 112 Gn 1.31; Sl 19.1; Gn 1.28; 2.15; Lv 25.7; Nm 22.27-32; Dt 25.4. Contra argumento bíblico: Sl 8.5; Hb 2.7; Mt 12.11,12; Gn 1.26, 28; Sl 8.7; Rm 1.23. 113 Gn 2.7; Jó 33.4; Sl 49.12-15; 2Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9. 114 Sl 49.12-15; Jo 5.25-29; 1Co 15.51-55; Ef 1.18; 4.18; 1Co 9.17; 2Pe 1.21; Rm 2.15; 1Tm 4.2. 115 Gn 1.26,27; Sl 8.5; Hb 2.7; Mt 6.26; 10.31; 12.12; Sl 32.9; 73.22; Jd 10; Gn 1.29; Gn 2.19,20; Tg 3.7; Lv 25.7; Dt 25.4; Gn 3.21; Jó 31.20; Gn 9.2. 116 1Tm 6.15,16; Êx 20.3-6; Rm 1.18-23; Hb 2.7; Gn 1.30; Mt 13.4. 117 Contra argumento bíblico: Rm 8.20; Gn 3.17-19; Hb 2.14-16; Ap 21. 118 Lv 25.7; Tg 3.7; Dt 25.4; Sl 36.6; 104.10-12,26-30; Nm 22.27-32; Pv 12.10; Gn 9.4; Dt 12.16,23,24; Êx 22.31; Lv 17.15; 22.8; Gn 36.6; 45.17; Ez 5.17. 119 Rm 1.18-32; 1.20-23,25. 120 Gn 1.26,27; Sl 49.12-15; 2Pe 2.16. 121 Rm 8.18-23; Is 9.6; Is 11.6. 122 Mc 7.19; At 11.9; 1Tm 4.4; Gn 9.2-4; Dt 12.16,23,24; Êx 22.31; Lv 17.15; Mc 7.19; Rm 14.14; At 10.15; 1Tm 4.3-5; Tt 1.15; Mt 14.13- 21; 15.32-39; At 10.13-15; Mt 26.17-23; Jo 13.1,2; Lc 24.41-43; Jo 21.9-13; At 15.19-29; Rm 14; 1Co 8; Cl 2.21-23; 1Tm 4.3-5. 123 1Sm 15.22. Contra argumento bíblico: Is 53.4-6; Gl 3.10-13; 1Pe 2.24. 124 Contra argumentos bíblicos: Mt 14.13-21; 15.32-39; Lc 24.41-43; At 10.13; Tg 1.12-18; Gn 9.1-3; Mc 7.19; At 11.9. 77 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II direitos Humanos No Anexo II incluímos a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948125, onde trata de todos os direitos que como seres humanos têm uns para com os outros. A igreja católica se posicionou de várias maneiras através das conclusões do Vaticano II, tal como já vimos a Declaração Dignitatis Humanae 126sobre a liberdade religiosa. Vejamos dentro de uma ótica ética filosófica, a visão de Tugendhat: A pergunta diretiva desta é, portanto: o que significa que às obrigações morais correspondem direitos morais. Isto então acrescenta algo novo? E o que é este novo? Esta questão também nos conduzirá ao conceito dos direitos humanos, que é um conceito central da moral política. Por juízos de moral política compreendo aqueles nos quais se decide sobre o ser-bom e ser-mau de um Estado, de maneira análoga como em juízos morais sobre indivíduos [...]. Também estes juízos são de maneira análoga fundamento para emoções morais, ao menos para o sentimento de indignação [...]. Direitos desse tipo são em si e por si pré- morais e pré-legais. Agora porém podemos esclarecer que os diversos tipo de obrigações podem sobrepor-se. Se considerarmos moralmente mau quebrar uma promessa, então significa que existe uma obrigação moral não relativa (TUGENDHAT, 1996, pp.363- 367). Para o filósofo alemão os direitos humanos estão totalmente ligados a tudo o que temos tratado, porém de maneira diplomática e oficial127. O direito de outrem é, portanto, fortalecido por um direito moral? O autor discorre mediante um artigo de H. Bedau International Human Rights três modelos de sociedade: 1. Uma sociedade na qual de modo algum se falaria de direitos gerais, mas somente de obrigações, como no Antigo Testamento. 2. Conhecedora dos diretos gerais, os quais, contudo são concedidos pela ordem jurídica e estão vinculados a peculiaridades e papéis específicos das pessoas em questão. 3. Todos os seres humanos, independente de todas as peculiaridades e dos papéis específicos, teriam determinado direitos simplesmente enquanto são seres humanos. Se trazermos tais considerações para nosso contexto ético cristão veremos que mesmo antes de Cristo a concepção teleológica da lei mosaica fazia-se tão presente 125 Pode ser conferida também na íntegra: < http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. 126 Dignitatis Humanae: < http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_ dignitatis-humanae_po.html>. 127 Leia o Anexo II integralmente antes de prosseguir. 78 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS quanto a jurisprudência mais atual hodierna, uma vez que se tem em ambos condenações, uma sofrível na Terra a outra no céu, porém ambas passíveis de punição. Deste modo, ulterior a Jesus, é tido que somente o ato de pensar a respeito de ferir o direito de terceiros já o é considerado ato pecaminoso, haja a vista a cobiça e lascívia. Existem três objeções standard contra o reconhecimento dos direitos sociais de acordo com Tugendhat (1996, p.389): 1. Enuncia que estes já não podem ser garantidos incondicionalmente, porque isto depende da riqueza da nação. 2. Apontar-se-á que os direitos fundamentais têm que ser claros, uma vez que precisam oferecer condições para ser cobrados juridicamente. Os direitos sociais fundamentais, por exemplo, o direito a um mínimo de existência humana digna, exigem, contudo determinações arbitrárias. 3. Se os direitos fundamentais fossem assumidos na constituição, então “a economia doméstica seria, em suas partes essenciais, constitucionalmente estabelecida”; isto conduziria a “um deslocamento da política social da competência do parlamento para a competência do tribunal constitucional”. Precisamos avaliar dentro de tais direitos sociais distributivos igualitários a objetividade e subjetividade de cada um. A distribuição, dessa forma, impossibilita que ela seja comum a todos em tudo, haja vista as incertezas que decorrem do comunismo e socialismo. Existem boas razões para não descurar de um deficiente físico do que de outro ser humano sem essa deficiência, porém se o caso de outrem for câncer em seu caráter terminal se desconfigura-se a urgência do deficiente e passa a ser de interesse comum ajudar ao humano com câncer, assim como a fome na África, guerras no oriente médio e outros aspectos que exigem maior esforço altruísta. O mérito ficaria aonde então ainda dentro deste contexto. A ética contemporânea discute assuntos que já são verdades absolutas nas Sagradas Escrituras, as quais jamais escondem o favorecimento de Deus àquele que procura em maior grau o bem, se livra da preguiça (Pv.6.6-11) e sabe multiplicar talentos (Mt.25.14-30). Teríamos muito a tratar, contudo nos é necessário apenas entender o processo que o mundo secular vê dos direitos humanos, os quais estão muito bem definidos e delimitados na Declaração dos Direitos Humano (veja anexo II), neste sentido, de modo genérico, estão de acordo e em função da liberdade humana, o que globalmente analogias à cosmovisão cristã. 79 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II fanatismo O significado exegético de nosso assunto agora é oriundo do latim fanumcujo literal é templo. Para Vidal (1993, p.484) o fanatismo constitui uma patologia do comportamento humano. É forma desviada do comportamento que se caracteriza pelos três aspectos seguintes: 1. crer-se de posse de toda a verdade; pelo menos com relação a um âmbito da realidade; 2. viver esta posse de modo exaltado, quase místico, como se fosse enviado; 3. sentir um imperativo irresistível para impor a verdade aos outros como missão imprescindível. Ainda em sua obra ele afirma que o fanatismo alimenta-se e expressa-se mediante conjunto de fatores que são seus elementos concomitantes inevitáveis: » a convicção irracional mais do que a busca sincera; » a consciência descomedida da própria grandeza; » a intolerância como forma de relação interpessoal e intergrupal: o fanáticose alimenta com zelo inquisitorial e age como fiscal ou comissário da verdade; o fanatismo se identifica com a práxis da unidimensionalidade. Com certa frequência o fanatismo tem ocupado o meio evangélico e ramificações da igreja, bem como católico-romanos não se excluem do meio cristão, que está envolto a um mar fanático hodierno. Dessa maneira ainda, a igreja é vista e tida como irracional hipotético-indutiva, onde somente se crê mediante a tradição, na qual o pai ensina sua religião para o filho e que por sua vez ensina à sua descendência. Tira-se, portanto, a autoridade nos assuntos considerados científicos e produtivos ao “desenvolvimento” social, uma vez que os evangélicos não podem ser vistos como excelência de padrão moral frente àqueles que buscam se posicionar para com temas de profundas diversificações argumentativas. Vidal (1993, p.485), traz mais um importante comentário: Com relativa frequência, o fanatismo constitui a patologia da debilidade e do ressentimento; indivíduos incapazes de viver e de agir, lançam-se ao descomedimento do fanatismo como tábua de salvação. A busca de segurança fictícia, que vença a insegurança pessoal, está na origem de muitos comportamentos fanáticos. Encarando com base nas teorias 80 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS da personalidade social, o fanático se configura mediante os seguintes fatores: o autoritarismo, a intransigência e a exaltação. Para qualquer ateu, agnóstico ou semeadores de asco evangélico, dar-se-ão comentários de extrema indignação. Tais circunstâncias obviamente se misturam nitidamente com a busca da verdade e defesa da Palavra de Deus, que um cristão genuíno jamais se voltará contra, tampouco deturpará a verdade em mentira, contudo, momentos inoportunos, situações inadequadas, palavras mal proferidas e colocações desajeitadas, bem como outros fatores, trazem à imagem do crente (cristão ético em nosso tema) uma espécie de criadores de discórdia mútua. A falta de busca pela informação (até mesmo bíblica!) e a fé irracional tem levado muitos não cristãos a caminhos imprudentes res nullius (coisa de ninguém), pois de fato, já que não há um Deus, não há padrão moral, não há o que seja melhor ou pior para se fazer, desde que seja bom. O cristão aprofundado nas Escrituras Sagradas sabe que precisa mais do que sua própria fé para contra argumentar, e isto é um estatuto divino (I Pe.3.15). 81 CAPítulo 4 filosofia da Ciência (aplicação teórica) filosofia da Ciência na Ótica Anômala Trouxemos este contexto para inserir apenas um esboço do que a Filosofia da Ciência nos pode trazer de ajuda e suporte em possíveis aplicações bioéticas. Os principais nomes deste braço da filosofia, possivelmente de todos os tempos, sejam dos americanos Thomas Kuhn e Ernst Nagel, bem como de Sir Karl Popper. As ideias de refutabilidade em A Lógica da Pesquisa Científica e de Ernst Nagel em La Estructura de la ciencia possuem fundamental importância para esse campo, as quais divergem e convergem com Kuhn em diferentes pontos e sentidos, contudo, ainda sim ficaremos com a abordagem e pensamento de Kuhn para efeitos didáticos e mais adequada aplicação ao tema proposto. Se tratarmos que a maioria dos casos, tal como aborto, anencefalia e outros se aplica à ciência, pode ser claramente vistos e constatados como anomalias. E é esse o principal entrave da tão famosa, aclamada e criticada ciência normal de Thomas Kuhn. Para ele, em A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), a ciência é dirigida pela rotina intensiva dos cientistas, onde os mesmos apenas revolucionam quando há alguma anomalia dentro de alguma teoria, hipótese ou concepção. Dessa maneira, podemos aplicar a bioética que tudo corre em favor da normalidade da vida, contudo, pois como vimos, uma em cada 1600 crianças têm problemas anômalos de anencefalia. Na concepção kuhniana tem-se a ideia de que constatada anomalia, a ciência entrará em um estágio de crise científica, onde cientistas tentarão tratar aquele problema para que se mantenha o paradigma existente, ocorrendo de três formas distintas, começando por (1) capaz de tratar [a ciência normal] do problema que provoca a crise; (2) se o problema resistir, este é posto de lado para ver se futuras gerações o podem resolver; (3) caracteriza-se como emergencial e um novo paradigma é estudado para ser aceito pela comunidade científica (KUHN, 1962, p.115). O que isso nos traz, portanto, é que de qualquer anomalia deve ser tratada com propostas de novas teorias que tentem refutar paradigma anômalo por completo, por isto é chamado de incomensurável. Após a crise e constatado a necessidade de mudança de paradigma, a teoria entra de vez em colapso, este estágio é chamado de ciência 82 UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS extraordinária, a qual Kuhn afirma que aquele paradigma já não mais tem utilidade (KUHN, 1962, p.125). Verificado que o novo paradigma é capaz de solucionar o problema extraordinário e que não causará mais problemas, ele é aceito, ocorrendo de fato revolução científica não desejada (extremamente divergente das concepções popperianas de falseabilidade, bem como do aproveitamento de teorias de Nagel), instaurando conseguintemente a retomada da ciência normal (KUHN, 1962, pp.213-214). Aplica-se, por fim, a todas as teorias científicas tais concepções, que novamente afirma- se, possuem divergência e convergência com muitos filósofos da ciência, contudo e desta forma, não cabe à ciência se acomodar em deixar “normalizar” pelos fatos ocorridos, mas procurar sempre alternativas das mais tecnológicas possíveis a fim de sanar e/ou mitigar o máximo possível tais questões éticas. Trouxemos, portanto, uma aplicação teórica extremamente sucinta e objetiva para um tema [filosofia da ciência] tão demasiadamente vasto! Somente estas três notáveis obras inicialmente citadas, gerarão dezenas de centenas de livros criticando-as de modo a se contrapor ou se posicionar a favor. Segue-se que, com isto, apresentou-se a ‘fórmula’ e não somente a questão resolvida, cabendo ao aluno desenvolver-se dentro do tema e por que não, efetuar a leitura das literaturas até aqui tão fortemente utilizadas (vide referências bibliográficas). Considerações finais Procurou-se não se utilizar pesados jargões técnicos, tampouco de todo arcabouço legal pertinente a cada contexto aqui explanado, uma vez que procurou-se dar cadência ao material de forma a obedecer o tema proposto Ética [Cristã]. Se deste modo o é, segue-se que sua base teria que ser fundamentada mais nas Sagradas Escrituras do que em códigos penais ou leis confederativas internacionais. Destarte modo, ressalta-se, o abordamos não esgota o assunto, tampouco abrange cada tema profundamente, mas sim, apresentar um grau norteador ao estudante dedicado para que siga adiante em suas posições, pesquisas e pensamentos. Poderíamos ter resumido a posição do Cristão simplesmente no Sermão do Monte, onde Jesus aborda sobre questões delicadas da vida, sem, contudo, perder a esperança. Ali, muitas traduções diretamente do original trazem que as famosas “bem-aventuranças” tem conotação duvidosa quando traduzido para o português, ali Jesus não se utiliza de makarioi (bem-aventurado), mas para manter a formação quiasmática utilizou-se de 83 QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II ashréi que significa “em marcha”, e tem como radical ashar que certamente não nos leva a nenhuma conotação “feliz”. Portanto, se o Senhor deu, mas tomou (Jó 1.21), uma vez que “em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos (2Co 4.8,9), no coração do cristão não deve haver dúvidas em fazer o bem absoluto que vem de Deus, mesmo que, em total tribulação. Já que se está no mundo, não há mais o que fazer, é viver e entregar, o que vier em Deus pode ser contornado, e ainda, em uma cosmovisão cristã, uma vida sem Deus se torna além de vazia, sem sentido, sem valor e propósito.84 Para (não) finalizar Seria uma ilusão e pretensão sem precedentes acreditarmos que mesmo com todo o conteúdo percorrido, consideramos e damos todos os assuntos como esgotados, tampouco é válido nos enganar que absolutamente todos os contextos éticos e bioéticos foram abordados. Portanto, para que sua pesquisa e estudos não parem por aqui, sugerimos que comece por alguns temas específicos, percorra suas vertentes de conteúdo e parta para assuntos menos esclarecidos pela ciência, para que, como sempre, seu posicionamento se afirme e seu pensamento afie-se em caráter progressivo. São eles: Esterilidade; suicídio assistido e coletivo; tenha clara a diferença do nível ôntico do nível ético; inseminação artificial; reprodução assistida; ética cristã na política; moral subjetiva da expressão artística; terrorismo; clonagem humana; posição cristã frente à greve trabalhista, reprodução assistida, terapia da célula somática, clonagem de embriões para pesquisa; postura cristã diante do serviço militar, desarmamento, guerra nuclear, guerra fria e guerra convencional como “mal menor” entre outros. Não conseguimos abordar esses temas em detalhes, pois, partimos de um pressuposto que (1) vida e morte (física ou espiritual) possuem maior peso, (2) decisões sociais estão em maior número estatístico do que decisões governamentais em decorrência do valor subjetivo (por exemplo, não temos controle se aceitamos ou não a guerra, terrorismo e/ou alistaremo-nos ou não o exército; (3) assuntos previamente lógicos de posição de acordo e em função da adoção de uma postura cristã (como suicídio assistido e política). Portanto, continue. Como diria Ovídio (43 a.C -18 d.C), Finis coronat Opus128. 128 O fim coroa a obra! 85 referências AZPITARTE, Eduardo L. Fundamentação da ética cristã. São Paulo: Paulus, 1995. BENTES, J.M.; CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 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Para conhecer a ética cristã. São Paulo: Paulinas, 1993. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. 87 Anexos Anexo i fecundação e primeiras fases do desenvolvimento do embrião figura 1. fecundação. fonte: <http://teovida.wikispaces.com/file/view/Imagem1.jpg/97903481/469x641/Imagem1.jpg>. 88 anexos Anexo ii declaração universal dos direitos Humanos – 1948 Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do homem. Considerando que é essencial à proteção dos direitos humanos por meio de um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão. Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações. Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla. Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso. A Assembleia Geral Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efetivos tanto entre as populações dos próprios Estados-Membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição. 89 anexos Artigo I – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo II 1 – Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2 – Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, que se trate de umterritório independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. Artigo III – Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V – Ninguém será submetido à tortura ou castigo cruel desumano ou degradante. Artigo VI – Todo ser humano tem direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa humana perante a lei. Artigo VII – Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo VIII – Todo ser humano tem direito a receber, dos tribunais nacionais competentes, remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo IX – Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo X – Todo ser humano tem direito a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo XI 1 – Todo ser humano acusado de ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 90 anexos 2 – Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela quem no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo XII – Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. Artigo XIII 1 – Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência, dentro das fronteiras de cada Estado. 2 – Todo ser humano tem direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo XIV 1 – Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e gozar asilo em outros países. 2 – Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV 1 – Todo o ser humano tem direito a uma nacionalidade. 2 – Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVI 1 – Os homens e as mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direito em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2 – O casamento não será válido senão com o livre consentimento dos nubentes. 3 – A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. 91 anexos Artigo XVII 1 – Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2 – Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo XVIII – Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular. Artigo XIX – Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir, informações e ideias por quaisquer meio e independentemente de fronteiras. Artigo XX 1 – Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. 2 – Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo XXI 1 – Todo ser humano tem direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2 – Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3 – A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universa, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade do voto. Artigo XXII – Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis a sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade. Artigo XXIII 1 – Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2 – Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3 – Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 92 anexos 4 – Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses. Artigo XXIV – Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. Artigo XXV 1 – Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. 2 – A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social. Artigo XXVI 1 – Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2 – A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3 – Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. Artigo XXVII 1 – Todo ser humano tem direito a participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios. 2 – Todo ser humano tem direito à proteção de seus interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor. Artigo XXVIII – Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. 93 anexos Artigo XXIX 1 – Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade. 2 – No exercício de seus direitos e liberdades, todo homem está sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigênciasda moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. 3 – Esses direitos e liberdade não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas. Artigo XXX – Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer direitos e liberdades aqui estabelecidos.